Eclipse
STEPHENIE MEYER
Terceiro livro da série
‘Crepúsculo’.
‘Crepúsculo’.
esta é a Parte 4
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"Bem lembrado", ele concordou.
Eu me virei pra olhar pra ele, olhando-o criticamente.
"É
realmente impossível usar roupas, Jake?" Eu perguntei.
Mais uma
vez, Jake estava com o peito nú, usando nada além de um
jeans
velho rasgado. Secretamente, eu me perguntei se ele estava
tão
orgulhoso dos seus novos musculos que não conseguia
cobrí-los.
Eu tinha que admitir, eles eram impressionantes - mas eu
nunca
pensei nele como vaidoso.
"Eu quero dizer, eu sei que você não fica mais com
frio, mas
mesmo assim".
Ela passou uma mão pelo seu cabelo molhado; ele estava
caindo
em seus olhos.
"É mais fácil", ele explicou.
"O que é mais fácil?"
Ele sorriu condescendentemente. "Já é incômodo
suficiente
carregar um par de shorts comigo, imagina uma roupa
completa.
O que eu pareço, uma mula de carga?"
Eu fiz uma careta. "Do que você está falando,
Jacob?"
A expressão dele era superior, como se eu estivesse deixando
passar algo óbvio. "As minhas roupas não desaparecem
simplesmente quando eu me transformo - eu tenho que
carregá-las comigo enquanto eu corro. Perdoe-me por esconder a luz do
meu fardo".
Eu mudei de cor. "Eu não tinha pensado nisso", eu
murmurei.
Ele riu e apontou para uma tira de couro preto, fina como
uma
fita de estame, que estava amarrada três vezes no tornozelo
dele, como uma tornozeleira. Eu não havia notado antes que
ele
estava de pés descalços também. "Isso é mais do que
apenas uma
tendência de moda - é muito ruim carregar jeans na
boca".
Eu não sabia o que dizer.
Ele sorriu. "O meu semi-nú te incomoda?"
"Não".
Jacob riu de novo, e eu me virei de costas pra ele pra me
concentrar nos pratos. Eu esperei que ele se desse conta de
que
eu estava corada porque estava envergonhada com a minha
própria estupidez, e que isso não tinha nada a ver com a
pergunta
dele.
"Bem, eu acho que devia começar a trabalhar" Ele
suspirou. "Eu
não quero que ele tenha nenhuma desculpa pra dizer que há
desleixo do meu lado".
"Jacob, não é seu trabalho -"
Ele levantou as mãos pra me cortar. "Eu estou
trabalhando como
voluntário aqui. Agora, onde o cheiro do intruso é mais
forte?"
"Meu quarto, eu acho".
Os olhos dele estreitaram. Ele não parecia ter gostado disso
mais que Edward.
"Eu volto em um minuto".
Eu esfreguei metodicamente o prato que eu estava segurando.
O
único som era o da escova de plástico arranhando a cerâmica
de
novo e de novo. Eu tentei escutar alguma coisa lá de cima,
um
rangido do chão, o clique da porta. Não houve nada.
Eu me dei conta de estava lavando o mesmo prato por mais
tempo
que o necessário, e tentei prestar atenção no que eu estava
fazendo.
"Whew!", Jake disse, centímetros atrás de mim, me
assustando
de novo.
"Nossa, Jake, pára com isso!"
"Desculpe. Aqui -" Jacob pegou a toalha a removeu
o novo meu
molhado. "Eu vou me desculpar com você. Você ensaboa,
eu lavo e
seco".
"Tá bom", eu dei o prato a ele.
"Bem, o cheiro foi suficientemente fácil de sentir.
Aliás, o seu
quarto está fedendo".
"Eu vou comprar um purificador de ar".
Ele riu.
Eu lavei e ele secou em um silêncio de companheirismo por
alguns
minutos.
"Posso te perguntar uma coisa?"
Eu dei outro prato a ele. "Isso depende do que você
quer saber".
"Eu não vou ser um idiota nem nada assim - eu estou
honestamente curioso", Jacob me assegurou.
"Tá bom. Vá em frente".
Ele pausou por meio segundo. "Como é - ter um vampiro
como
namorado?"
Eu revirei meus olhos. "É o máximo".
"Eu estou falando sério. Essa idéia não te incomoda -
isso nunca
te assusta?"
"Nunca".
Ele estava em silêncio enquanto pegou a tigela das minhas
mãos.
Eu dei uma olhada para o rosto dele - ele estava fazendo
careta,
o lábio inferior dele estava pra fora.
"Mais alguma coisa?", eu perguntei.
Ele enrugou o nariz de novo. "Bem... eu estava me
perguntando...
você... você sabe, beija ele?"
Eu rí. "Sim".
Ele estremeceu. "Ugh".
"Cada um tem o que merece".
"Você não se preocupa com as presas?"
Eu batí no braço dele, molhando ele com a água dos pratos.
"Cala
a boca, Jacob! Você sabe que ele não tem presas!"
"Chega bem perto", ele murmurou.
Eu apertei meus dentes e esfreguei uma faca com mais força
do
que o necessário.
"Posso perguntar mais uma?" ele pergutou
suavemente quando eu
passei a faca pra ele. "Só curiosidade, de novo"
"Tá", eu disparei.
Ele virou e virou a faca nas mãos embaixo do jato de água.
Quando ele falou, era apenas um cochicho. "Você disse
algumas
semanas... Quando, exatamente...?" Ele não conseguiu
terminar.
"Formatura", ei cochichei de volta, observando o
rosto dele
cautelosamente. Isso ia tirar ele do sério de novo?
"Tão cedo", ele respirou, seus olhos fechando.
Isso não parecia
ser uma pergunta. Parecia com um lamento. Os musculos dele
se
apertaram e seus ombros estavam rígidos.
"OW!" Ele gritou; tudo havia ficado tão quieto na
cozinha que eu
dei um pulo de um metro por causa da explosão dele.
A mão direita dele tinha se encurvado tensamente no pulso na
lâmina da faca - ele abriu a mão e a faca resvalou no
balcão. Na
palma dele, havia um corte longo, profundo. O sangue correu
pelos dedos dele e pingou no chão.
"Droga! Ai!", ele reclamou.
Minha cabeça rodou e meu estômago revirou. Eu me agarrei no
balcão com uma mão, respirei fundo pela boca, e me forcei a
ficar bem pra poder cuidar dele.
"Oh, não, Jake!Oh, droga! Aqui, feche com isso
aqui!", Eu joguei a
toalha de pratos pra ele, pegando a mão dele. Ele se afastou
de
mim.
"Não é nada, Bella, não se preocupe com isso".
A cozinha começou a tremer um pouquinho nas beiras.
"Eu respirei fundo de novo. "Não se preocupe?!
Você fatiou a sua
mão!"
Ele ignorou a toalha que eu havia jogado pra ele. Ele
colocou a
mão embaixo da torneira e deixou a água correr pela ferida.
A
água ficou vermelha. A minha cabeça girou.
"Bella", ele disse.
Eu tirei os olhos da ferida, olhando pra rosto dele. Ele
estava
fazendo uma careta, mas a expressão dele estava calma.
"O quê?"
"Você está com cara de quem vai desmaiar, e você vai
arrancar o
seu lábio. Pare com isso. Relaxe. Respire. Eu estou
bem".
Eu inalei pela minha boca e removí os meus dentes do meu
lábio
inferior. "Não seja corajoso".
Ele revirou os olhos.
"Vamos lá. Eu vou te levar para o pronto socorro"
eu tinha
certeza de que estava bem pra dirigir. As paredes estavam
paredas agora, pelo menos.
"Não é necessário" Jacob fechou a água e pegou a
toalha das
minhas mãos. Ele a passou folgadamente pela palma.
"Espere", eu protestei. "Deixe eu dar uma
olhada". Eu agarrei o
balcão com mais força, pra me manter de pé se a ferida me
deixasse tonta de novo.
"Você tem algum diploma de medicina do qual nunca me
contou?"
"Só me dê uma chance de decidir se eu vou ou não dar um
piti pra
te levar pro hospital".
Ele fez uma cara de horror de brincadeira. "Por favor,
um piti
não!"
"Se você não me deixar ver a sua mão, um piti está
garantido".
Ele inalou profundamente, e deixou a respiração sair num
suspiro
forte. "Tá bom".
Ele retirou a toalha e, quando eu me inclinei pra tirar ela,
ele
colocou a mão na minha.
Eu levei alguns segundos. Eu até virei a mão dele, apesar de
ter
certeza de que ele hava cortado a mão. Eu virei a mão dele
pra
cima de novo, finalmente me dando conta de que a linha
inchada,
num cor de rosa forte, era tudo o que havia restado da
ferida.
"Mas... você estava sangrando... tanto"
Ele puxou a mão de volta, seus olhos diretos e sombrios nos
meus.
"Eu saro rápido".
"Eu que o diga", eu murmurei.
Eu tinha visto o longo corte claramente, tinha visto o
sangue que
fluía na pia. O cheiro de sal e ferrugem dele quase me fez
desmaiar. Ele devia precisar de pontos. Aquilo devia ter
levado
dias pra fechar e depois levado semanas pra se transformar
naquela linha rosada que agora marcava a pele dele.
Ele rasgou a boca pra cima num meio sorriso no rosto e bateu
com o pulso uma vez no peito. "Lobisomem, lembra?"
Os olhos dele seguraram os meus por um momento imensurável.
"Certo", eu disse finalmente.
Ele riu da minha expressão. "Eu te disse isso. Você viu
a cicatriz
de Paul".
Eu balancei minha cabeça pra limpá-la. "É uma pouco
diferente,
ver a ação em sequência em primeira mão".
Eu me ajoelhei e puxei o desinfetante do gabinete embaixo da
pia. Então, eu coloquei um pouco no esfregão e comecei a
esfregar o chão. O cheiro forte do desinfetante limpou o
resto
da tontura da minha cabeça.
"Deixe eu limpar", Jacob disse.
"Deixa comigo. Jogue a toalha na máquina, tá?"
Quando eu tive certeza que o chão não cheirava a mais nada
além
de desinfetante, eu me levantei e limpei o lado direito da
pia com
desinfetante também. Aí eu fui para o armário da lavanderia
ao
lado da dispensa, e despejei um copinho dele dentro da
máquina
antes de ligá-la. Jacob me observou com um olhar de
desaprovação no rosto.
"Você tem transtorno obcessivo compulsivo?" ele
perguntou
quando eu acabei.
Huh. Talvez. Mas pelo menos dessa vez eu tinha uma boa
desculpa. "Nós somos um pouco sensíveis a sangue por
aqui. Eu
tenho certeza que você pode entender isso".
"Oh", ele enrugou o nariz de novo.
"Porque não fazer tão fácil quanto for possível pra
ele? O que ele
está fazendo já é difícil o suficiente".
"Claro, claro. Porque não?"
Eu puxei o ralo e deixei a água suja descer pela pia.
"Posso te perguntar uma coisa, Bella?"
Eu suspirei.
"Como é - ter um lobisomem como melhor amigo?"
Essa pergunta me pegou fora de guarda. Eu ri alto.
"Isso te assusta?", ele pressionou antes que eu
pudesse
responder.
"Não. Quando o lobisomem está sendo legal", eu qualifiquei.
"é o
máximo".
Ele deu um sorriso largo, os dentes dele brilhando contra a
pele
ruiva. "Obrigado, Bella", ele disse, e depois
pegou a minha mão e
me puxou pra mais um dos seus abraços de quebrar os ossos.
Antes que eu tivesse tempo de reagir, ele me soltou de seus
braços e se afastou.
"Ugh", ele disse, seu nariz enrugando. "O seu
cabelo está
fedendo mais que o seu quarto".
"Desculpe", eu murmurei. De repente eu entendí do
que Edward
estava rindo mais cedo, depois de respirar em mim.
"Um dos muitos riscos de se socializar com
vampiros", Jacob
disse, levantando os ombros. "Faz você cheirar mal. Um
risco
menor, em comparação".
Eu encarei ele. "Eu só cheiro mal pra você, Jake".
Ele sorriu largamente. "Te vejo por aí, Bells"
"Você vai embora?"
"Ele está esperando que eu vá. Eu posso ouví- lo lá
fora".
"Oh".
"Eu vou por trás", ele disse, e então pausou.
"Espere um pouco - ei, você acha que pode ir até La
Push hoje à
noite? Nós vamos fazer uma festa de fogueira. Emily estará
lá, e
você podia conhecer Kim... E eu sei que Quil quer ver você.
Ele
está bem irritado porque você descobriu o que ele fez".
Eu sorrí disso. Eu bem que podia imaginar como isso tinha
afetado Quil - o amiguinho humano de Jacob estava andando
entre lobisomens sem sequer saber. E aí eu suspirei.
"É, Jake, eu
não sei. Entenda, as coisas estão um pouco tensas
agora..."
"Vamos, você acha que alguém vai conseguir passar por
cima - por
cima de nós seis?"
Houve uma pausa estranha e ele estremeceu no fim da sua
pergunta. Eu me perguntei se ele tinha problemas em dizer a
palavra lobisomem em voz alta, do mesmo jeito que eu
frequentemente tenho dificuldade com vampiro.
Os grandes olhos dele estavam cheios de rogo desavergonhado.
"Eu vou pedir", eu disse duvidosamente.
Ele fez um barulho no fundo de sua garganta. "Agora ele
é seu
carcereiro também? Sabe, eu ví essa história no jornal
semana
passada sobre relacionamentos adolescentes controladores,
abusivos e -"
"Tá legal!" Eu cortei ele, e depois batí em seu
braço. "Hora do
lobisomem dar o fora!"
Ele sorriu. "Tchau, Bells. Tenha certeza de que pediu
permissão".
Ele se abaixou pra sair pela porta da cozinha antes que eu
pudesse encontrar alguma coisa pra jogar nele. Eu rosnei
incoerentemente para a cozinha vazia.
Segundos depois que ele foi embora, Edward entrou lentamente
na cozinha, gotas de chuva reluzindo como diamantes no seu
cabelo cor de bronze. Os olhos dele estavam cautelosos.
"Vocês dois brigaram?", ele perguntou.
"Edward!" eu cantei, antes de me jogar em cima
dele.
"Oi, aí". Ele riu e jogou seus braços ao meu
redor. "Você está
tentando me distrair? Está funcionando".
"Não, eu não briguei com Jacob. Muito. Porque?"
"Eu só estava me perguntando porque você esfaqueou ele.
Não
que eu me oponha". Com o queixo, ele fez um gesto para
a faca
em cima do balcão.
"Droga! Eu pensei que tivesse limpado tudo".
Eu me separei dele e corrí pra colocar a faca na pia antes
de
lavá-la com o desinfetante.
"Eu não esfaqueei ele", eu expliquei enquanto
trabalhava. "Ele
esqueceu que estava com a faca na mão".
Edward gargalhou. "Não é nem de perto tão engraçado
quanto o
jeito que eu imaginei".
"Seja bonzinho".
Ele pegou um grande envelope de dentro do casaco dele e o
jogou
no balcão. "Você recebeu correspondência".
"Alguma coisa boa?"
"Eu acho que sim".
______________________1
Os meus olhos se estreitaram suspeitosamente com o tom dele.
Eu fui investigar.
Ele havia dobrado o grande envelope no meio. Eu o abrí,
surpresa
com o peso do papel caro, e lí o endereço do remetente.
"Dartmouth? Isso é uma piada?"
"Eu tenho certeza que é uma aceitação. É exatamente
igual ao
meu".
"Belo consolo, Edward - o que você fez?"
"Eu mandei a sua inscrição, só isso".
"Eu posso até não ser material pra Dartmouth, mas eu
não sou
estúpida o suficiente pra acreditar nisso".
"Dartmouth parece pensar que você é material pra
Dartmouth".
Eu respirei fundo e contei lentamente até dez. "Isso é
muito
generoso da parte deles", eu disse finalmente. "No
entanto,
aceita ou não, esse ainda é o menor problema com a
instituição.
Eu não posso pagar, e eu não vou deixar você gastar o
dinheiro de
outro carro esporte só para fingir que eu vou pra Dartmouth
ano
que vem".
"Eu não preciso de outros carros esporte. E você não
precisa
fingir nada", ele murmurou. "Só um ano de
faculdade não vai te
matar. Talvez você até gostasse. Pense nisso, Bella. Imagine
o
quanto Renée e Charlie ficariam excitados..."
A voz de veludo dele pintou um quadro na minha cabeça antes
que
eu pudesse bloqueá-lo. É claro que Charlie ia explodir de
orgulho
- ninguém em Forks seria capaz de escapar da explosão dessa
alegria. E Renée ficaria histérica de alegria pelo meu
triunfo -
apesar de que ela ia jurar que não estava surpresa...
Eu tentei sacudir a imagem da minha cabeça. "Edward. Eu
já
estou preocupada em sobreviver até a formatura, imagine até
o
próximo inverno ou verão".
Os olhos dele se fecharam ao meu redor. "Ninguém vai te
machucar. Você tem todo o tempo do mundo".
Eu suspirei. "Eu vou enviar o extrato da minha conta
para o
Alaska amanhã. Esse é o único álibi que eu preciso. Isso é
longe o
suficiente pra que Charlie não espere que eu venha visitá-lo
até o
Natal pelo menos. Até lá eu tenho certeza que consigo pensar
em
uma desculpa. Sabe", eu brinquei sem muita vontade.
"esse
segredo todo e essa coisa de decepção é um pouco
chata".
A expressão de Edward endureceu. "Fica mais fácil.
Depois de
alguma décadas, todos que você conhece terão morrido.
Problema
resolvido".
Eu enrigecí.
"Desculpe, isso foi duro".
Eu olhei para o grande envelope branco, sem vê-lo. "Mas
ainda é a
verdade".
"Se eu resolver isso, o que quer que seja com o que
estamos
lidando, você por favor consideraria esperar?"
"Não".
"Sempre tão teimosa".
"Sim".
A máquina de lavar fez um barulho e parou de funcionar.
"Pedaço de lixo estúpido", eu murmurei enquanto me
afastava
dele. Eu retirei a toalha que era a única peça na máquina, e
a
liguei de novo.
"Isso me lembra", eu disse. "Será que dá pra
você perguntar a
Alice o que ela fez com as coisas que ela limpou no meu
quarto?
Eu não conseguí encontrar em lugar nenhum".
Ele me olhou com olhos confusos. "Alice limpou o seu
quarto?"
"É, eu acho que era isso que ela estava fazendo. Quando
ela veio
pegar os meus pijamas e o meu travesseiro e essas coisas pra
me
fazer de refém. "Eu encarei ele brevemente. "Ela
pegou tudo que
estava jogado, as minhas camisas, minhas meias, e eu não sei
onde ela os colocou".
Edward continou a parecer confuso por um breve momento, e
depois, abruptamente, ele ficou rígido.
"Quando você reparou que as suas coisas estavam
faltando?"
"Quando eu voltei da falsa festa do pijama.
Porque?"
"Eu não acho que Alice pegou nada. Nem as suas roupas,
nem o
seu travesseiro. Essas coisas são coisas que você havia
usado... e
tocado... e dormido?"
"Sim. O que é, Edward?"
A expressão dele estava repuxada. "Coisas com o seu
cheiro".
"Oh!"
Nos olhamos nos olhos um do outro por um longo momento.
"O meu visitante", eu murmurei.
"Ele estava juntando pistas... provas. Pra provar que
ele havia te
encontrado?"
"Porque?" eu sussurrei.
"Eu não sei. Mas, Bella, eu juro que eu vou descobrir.
Eu vou".
"Eu sei que vai", eu disse, colocando a minha mão
no peito dele.
Inclinada alí, eu sentí o telefone dele vibrar no bolso
dele.
Ele puxou o telefone e olhou para o número. "Exatamente
a
pessoa com quem eu precisava falar", ele murmurou e
abriu o
telefone. "Carlisle, eu -" Ele parou e escutou, o
rosto dele ficou
enrugado de concentração por alguns minutos. "Eu vou
checar
isso. Ouça..."
Ele explicou sobre as coisas desaparecidas, mas do lado que
eue
estava ouvindo, parecia que Carlisle não tinha intuições pra
nós.
"Talvez eu vá..."Edward disse, parando quando os
seus olhos
passaram pra mim. "Talvez não. Não deixe Emmett ir
sozinho,
você sabe como ele fica. Peça a Alice que fique de olho nas
coisas. Nós vamos descobrir isso depois".
Ele fechou o telefone. "Onde está o jornal?", ele
me perguntou.
"Um, eu não tenho certeza. Porque?"
"Eu preciso ver uma coisa. Charlie já o jogou
fora?"
"Talvez..."
Edward desapareceu.
Ele estava de volta em meio segundo, novos diamantes em seus
cabelos, um jornal molhado nas mãos. Ele o espalhou na mesa,
os
olhos dele passando rapidamente pelas manchetes. Ele se
inclinou, atento em alguma coisa que ele estava lendo, um
dedo
passando sobre as passagens que mais o interessavam.
"Carlisle estava certo... sim... muito espirradinho.
Jovem e
enlouquecido? Ou procurando a morte?" ele murmurou pra
sí
mesmo.
Eu fui espionar por cima do ombro dele.
A manchete do Seattle Times dizia: "Epidemia de
Assassinatos
Continua - Polícia Não Tem Novas Pistas".
Era quase a mesma história sobre a qual Charlie estava
reclamando semanas atrás - a violência das grandes cidades
que
estava colocando Seattle no topo da lista nacional de
assassinatos.
No entanto, não era exatamente a mesma história. Os números
eram muito mais altos.
"Está ficando pior", eu murmurei.
Ele fez uma careta. "Completamente fora de controle.
Isso não
pode ser trabalho de apenas um vampiro recém nascido. O que
esta acontecendo? É como se eles nunca tivessem ouvido falar
dos Volturi. O que é impossível, eu acho. Ninguém explicou
as
regras pra eles... então quem os está criando?"
"Os Volturi?", eu repetí, estremecendo.
"Esse é exatamente o tipo de coisa que eles
rotineiramente
exterminam - imortais que ameaçam nos expor. Eles limparam
uma bagunça exatamente igual a essa ha alguns anos em
Atlanta,
e aquilo não tinha sido nem de perto tão ruim. Eles vão
interferir
em breve, muito em breve, a não ser que nós encontremos uma
forma de acalmar a situação. Eu realmente preferiria que
eles
não viessem a Seattle por enquanto. Enquanto eles estiverem
tão
perto... eles podem decidir dar uma olhada em você".
Eu estremecí de novo. "O que nós podemos fazer?"
"Nós precisamos saber mais antes de decidir isso.
Talvez, se nós
conseguirmos falar com esses jovens, explicar as regras,
isso se
resolva pacificamente". Ele fez uma careta, como se não
achasse
que as chances disso acontecer fossem boas. "Nós vamos
esperar
até que Alice tenha alguma idéia do que está acontecendo...
Nós
não queremos nos meter até que seja absolutamente
necessário.
Afinal, não é nossa responsabilidade. Mas é bom que tenhamos
Jasper", ele acrescentou quase pra si mesmo. "Se
nós estamos
lidando com recém nascidos, ele vai ajudar".
"Jasper? Porque?"
Edward sorriu obscuramente. "Jasper é uma espécie de
expert
em vampiros recém nascidos".
"O que você quer dizer, um expert?"
"Você vai ter que perguntar a ele - a história dele
está
envolvida".
"Que confusão", eu murmurei.
"É isso que parece, não é? Como se isso estivesse nos
atingindo
por todos os lados ultimamente". Ele suspirou.
"Você já pensou
que a sua vida podia ser mais fácil se você não estivesse
apaixonada por mim?"
"Talvez. Porém,não seria exatamente uma vida"
"Pra mim", ele emendou baixinho. "E agora, eu
acho" ele continuou
com um sorriso torto, "Você tem alguma coisa pra
perguntar pra
mim?"
Eu olhei pra ele sem entender. "Tenho?"
"Ou talvez não", ele sorriu. "Eu estava com a
impressão de que
você havia me prometido que pediria permissão pra ir a algum
tipo de festa de lobisomens hoje à noite".
"Ouvindo escondido de novo?"
Ele sorriu. "Só um pouquinho, no final".
"Bem, eu não ia te pedir do mesmo jeito. Eu entendí que
você já
tem bastante coisas pra se estressar".
Ele colocou a mão embaixo do meu queixo, e segurou o meu
rosto
pra que ele pudesse ver meus olhos. "Você gostaria de
ir?"
"Não é nada demais. Não se preocupe".
"Você não tem que me pedir permissão, Bella. Eu não sou
o seu
pai - graças aos céus por isso. No entanto, talvez você
devesse
pedir a Charlie".
"Mas você sabe que Charlie vai dizer sim".
"Eu tenho um pouco mais de intuição sobre a resposta
dele do
que outras pessoas teriam, é verdade".
Eu olhei pra ele, tentando entender o que ele queria, e
tentando
tirar da minha mente a vontade que eu estava de ir à La Push
pra
que eu não fosse enganada pelos meus próprios desejos. Era
estupidez querer sair com um monte de garotos-lobos
estúpidos
quando haviam muito mais coisas assustadoras e inexplicadas
acontecendo. É claro, isso era exatamente o motivo pelo qual
eu
queria ir. Eu queria escapar das ameaças de morte, só por
algumas horas... ser menos madura, ser mais a Bella
irresponsável
que podia rir com Jacob, mesmo que brevemente. Mas isso não
importava.
"Bella", Edward disse. "Eu disse que ia ser
razoável e confiar no
seu julgamento. Eu falei sério. Eu confio nos lobisomens,
então eu
não vou me preocupar com eles".
"Uau", eu disse, como havia dito na noite passada.
"E Jacob está certo - sobre uma coisa, pelo menos - uma
bando
de lobisomens deve ser o suficiente pra te proteger até você
por
uma noite".
"Você tem certeza?"
"É claro. Só..."
Eu me segurei.
"Eu espero que você não se importe em tomar algumas
precauções? Me deixando te levar até a linha da fronteira,
pra
começar. E também levando um celular, pra que eu saiba
quando
ir te buscar".
"Isso soa... muito razoável".
"Excelente".
Ele sorriu pra mim, e eu não pude ver nenhum traço de
apreensão
em seus olhos que parecia, jóias.
Para a surpresa de ninguém, Charlie não teve problema nenhum
em me deixar ir à La Push pra um fogueira. Jacob gritou com
uma
exultação indisfarçavel quando eu liguei pra ele pra dar as
notícias, e ele pareceu suficientemente ansioso pra aceitar
as
medidas cautelosas de Edward. Ele prometeu nos encontrar na
linha que dividia os territórios às seis.
Eu havia decidido, depois de um curto debate interno, que eu
não
ia vender a moto. Eu ia levá-la de volta à La Push, onde ela
pertencia, e quando eu não precisasse mais dela... bem, aí,
eu
insistiria que Jacob ele cuidasse do seu trabalho de alguma
forma. Ele podia vendê-la ou dar a uma amigo. Eu não me
importava.
Essa noite parecia ser uma boa pra devolver a moto para a
garagem de Jacob. Me sentindo sensível como eu estava nos
últimos dias, todo dia parecia ser possivelmente o último.
Eu não
tinha tempo para adiar nenhuma tarefa, não importava o quão
pequena fosse.
Edward apenas balançou a cabeça quando eu expliquei o que eu
queria, mas eu pensei ter visto uma faísca de consternação
nos
olhos dele, e eu sabia que ele não estava mais feliz com a
idéia da
moto do que Charlie estava.
Eu o seguí de volta para casa dele, para a garagem onde eu
havia
deixado a moto. Não foi até que eu estacionei a caminhonete
e
descí que eu percebí que talvez dessa vez a consternação não
fosse em relação a minha segurança.
Ao lado da minha moto antiga, obscurecendo-a, havia outro
veículo. Chamar esse outro veículo de moto não parecia muito
justo, já que ela não parecia pertencer a mesma família que
a
minha moto, repentinamente rota.
Essa era grande e esguia e prateada - e mesmo totalmente
imóvel - ela parecia rápida.
"O que é isso?"
"Nada", Edward murmurou.
"Isso não parece ser nada".
A expressão de Edward estava casual; ele parecia determinado
a
esquecer isso. "Bem, eu não sabia se você ia perdoar o
seu amigo,
e nem ele a você, e eu me perguntei se você ia querer andar
na
sua moto mesmo assim. Parecia ser algo que você gostava de
fazer. Eu pensei que eu podia ir com você, se você
quisesse". Ele
levantou os ombros.
Eu encarei a linda máquina. Ao lado dela, a minha moto
parecia
ser um tricíclo quebrado. Eu me sentí repentinamente triste
quando me dei conta de que essa provavelmente era uma
analogia
à forma como eu parecia ao lado de Edward.
"Eu não seria capaz de te acompanhar", eu
sussurrei.
Edward colocou sua mão embaixo do meu queixo e puxou o meu
rosto pra que ele pudesse vê-lo direito. Com um dedo, ele
tentou
puxar o canto da minha boca pra cima.
"Eu vou acompanhar você, Bella"
"Isso não seria muito divertido pra você".
"É claro que seria, se estivéssemos juntos".
Eu mordí o meu lábio e imaginei isso por um momento.
"Edward,
se você pensasse que eu estava indo rápido demais ou
perdendo o
controle da moto ou algo assim, o que você faria?"
Ele hesitou, obviamente tentando encontrar a resposta certa.
Eu
sabia a verdade: ele ia tentar encontrar uma forma de me
salvar
antes que eu caísse.
Aí ele sorriu. Pareceu ser sem esforço, exceto pelo pequeno
aperto defensivo que havia nos olhos dele.
"Isso é uma coisa que você faz com Jacob. Agora eu
entendo".
"É só que, bem, eu não quero ele tão triste, sabe. Eu
podia
tentar, eu acho..."
Eu olhei para a moto prateada duvidosamente.
"Não se preocupe com isso", Edward disse, e aí ele
sorriu
levemente. "Eu ví Jasper admirando ela. Talvez seja
hora dele
descobrir um novo jeito de viajar. Afinal, agora Alice tem o
Porsche dela".
"Edward, eu -"
Ele me interrompeu com um beijo rápido. "Eu disse pra
não se
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preocupar. Mas você faria uma ciosa por mim?".
"Qualquer coisa que você precise", eu prometí
rapidamente.
Ele soltou o meu rosto e se inclinou ao lado da moto grande,
retirando alguma coisa que ele havia colocado lá.
Ele voltou com um um objeto que era preto e sem forma, e com
outro que era vermelho e com um formato facilmente
indentificavel.
"Por favor?" ele pediu, mostrando o sorriso torto
que sempre
destruía as minhas defesas.
Eu peguei o capacete vermelho, medindo o peso em minhas
mãos.
"Eu vou parecer estúpida".
"Não, você vai parecer esperta. Esperta o suficiente
pra não se
machucar." Ele jogou a coisa preta, o que quer que
fosse, por
cima do braço e pegou o meu rosto nas mãos. "Existem
coisas
entre minhas mãos agora sem as quais eu não posso viver.
Você
podia cuidar delas".
"Tudo bem, tá certo. Qual é a outra coisa?", eu
perguntei
suspeitosamente.
Ele sorriu e desenrolou uma espécie de jaqueta. "É uma
jaqueta
de montaria. Eu sei que estradas molhadas são bem
desconfortaveis, não que eu mesmo pudesse saber".
Ele a segurou pra mim. Com um profundo suspiro, eu coloquei
o
meu cabelo pra trás e coloquei o capacete na cabeça. Aí eu
passei
os meus braços pelas mangas da jaqueta. Ele fechou o zíper,
um
sorriso brincando nos cantos da boca dele, e deu um passo
pra
trás.
Eu me sentí boba.
"Seja honesto, quão odiosa eu estou?"
Ele deu outro passo pra trás e torceu os lábios.
"Ruim assim, hein?" eu murmurei.
"Não, não, Bella. Na verdade..." ele pareceu estar
lutando pra
encontrar a palavra certa. "Você está... sexy".
Eu rí alto. "Certo".
"Muito sexy, na verdade".
"Você só está dizendo isso pra que eu use", eu
disse. "Mas está
tudo bem. Você está certo, é mais inteligente".
Ele passou os braços ao meu redor e me trouxe para o peito
dele.
"Você é boba. Eu acho que isso é parte do seu charme.
No
entanto, eu tenho que admitir, esse capacete tem suas
desvantagens".
Então ele retirou o capacete pra poder me beijar.
Enquanto Edward me levava até La Push algum tempo mais
tarde,
eu me dei conta de que a falta de precedentes dessa situação
parecia estranhamente familiar. Eu levei algum tempo pra
entender a fonte
Eu levei algum tempo pra entender qual era a fonte do déjà
vu.
"Sabe do que isso me lembra?" eu perguntei.
"É igual a quando eu
era criança e Renée me deixava com Charlie pra passar o
verão.
Eu me sinto como se tivesse sete anos".
Edward riu.
Eu não mencionei isso em voz alta, mas a única diferença
entre as
duas situações era que Renée e Charlie se davam bem.
A cerca de meio caminho de La Push, nós fizemos um curva e
encontramos Jacob enconstado do lado do seu Volkswagen
vermelho que ele havia construído sozinho desde as peças. A
expressão cuidadosamente neutra de Jacob se dissolveu em um
sorriso quando eu acenei no banco da frente.
Edward estacionou o Volvo a uns trinta metros de distância.
"Me ligue quando você quiser voltar pra casa", ele
disse. "E eu
estarei aqui".
"Eu não vou demorar", eu prometí.
Edward puxou a minha moto e minhas novas vestimentas do
porta-malas do seu carro - eu fiquei bem surpresa por tudo
ter
entrado. Mas isso não era tão difícil de conseguir quando
você é
forte o suficiente pra levanta vans, quanto mais pequenas
motos.
Jacob observou, sem fazer nenhum movimento pra se aproximar,
o sorriso dele tinha obscurecido e os olhos dele eram
indecifraveis.
Eu coloquei o capacete embaixo do braço e joguei a jaqueta
no
acento.
"Você pegou tudo?", Edward perguntou.
"Sem problema", eu o assegurei.
Ele suspirou e se inclinou pra mim. Eu virei meu rosto pra
cima
pra um beijo de despedida, mas Edward me pegou de surpresa,
passando seus braços ao meu redor com força e me beijando
com
tanto entusiasmo quanto ele havia feito na garagem - em
pouco
tempo, eu estava sem ar.
Edward riu baixinho de alguma coisa, e depois me soltou.
"Tchau", ele disse. "Eu realmente gostei da
jaqueta".
Enquanto eu virei de costas pra ele, eu pensei ter visto um
flash
de alguma coisa nos olhos dele que não era pra eu ter visto.
Eu
não podia dizer com certeza o que era. Preocupação, talvez.
Por
um segundo, eu pensei que fosse pânico. Mas provavelmente eu
estava imaginando algo que não existia, como sempre.
"O que é isso tudo?", Jacob perguntou, sua voz
cautelosa,
observando a moto com uma expressão enigmática.
"Eu achei que eu devia colocar isso de volta onde ela
pertence"
eu disse a ele.
Ele pensou nisso por um segundo, e aí um sorriso se abriu no
rosto dele.
Eu sabia exatamente que estávamos em território de
lobisomens
porque Jacob se afastou rapidamente do seu carro e veio pra
cima de mim, fechando a longo distância com apenas três
passos
longos. Ele pegou a moto de mim, colocando-a no tripé, e me
pegou em outro abraço de urso.
Eu ouví o motor do Volvo roncar, e lutei pra ficar livre.
"Pare com isso, Jake!" eu ofeguei, sem ar.
Ele riu e me colocou no chão. Eu me virei pra acenar um
adeus,
mas o carro prateado já estava desaparecendo na curva da
estrada.
"Legal", eu comentei, deixando que um pouco de
ácido escapasse
na minha voz.
Os olhos dele se arregalaram com falsa inocência. "O
que foi?"
"Ele está sendo muito tolerânte com essa coisa toda;
você não
precisa testar sua sorte".
Ele riu de novo, mais alto que antes - ele realmente achou o
que
eu disse muito engraçado. Eu tentei ver qual era a piada
enquanto
ele arrodeava o Rabbit pra abrir a porta pra mim.
"Bella", ele disse finalmente - ainda gargalhando
- enquanto
fechava a porta atrás de mim. "Você não pode testar
aquilo que
você não tem"
11.Lendas
“Você vai comer esse cachorro quente?” Paul perguntou a
Jacob,
os olhos dele permaneceram grudados nos últimos vestígios de
uma enorme refeição que os lobisomens haviam consumido.
Jacob se encostou nos meus joelhos e brincou com o cachorros
quente que estava enfiado num fio de aço esticado, as chamas
nas beiras da fogueira lambiam a sua pele empolada. Ele
suspirou
com força e deu um tapinha no estômago. De alguma forma, ele
ainda estava plano, apesar de eu já ter perdido as contas de
quantos cachorros quentes ele havia comido depois do décimo.
Sem mencionar um saco gigante de batatas e duas garrafas de
cerveja preta.
“Eu acho”, Jacob disse lentamente. “Eu estou tão cheio que
estou
prestes a vomitar, mas eu acho que ainda posso forçá-lo a
descer. No entanto, eu não vou gostar disso nem um pouco”.
Ele
disse de novo tristemente.
Apesar do fato de que Paul havia comido pelo menos tanto
quanto
Jacob, ele ficou com raiva e as mãos dele fincaram nos
pulsos.
“Nossa”, Jacob riu. “Brincando, Paul. Aqui”.
Ele jogou a comida feita em casa através do círculo, eu
esperei
que o cachorro quente caísse na areia, mas Paul o pegou pela
direita sem dificuldade.
Andar por aí com ninguém além de pessoas destras o tempo
todo
ia acabar me deixando com complexo.
“Valeu, cara”, Paul disse, já superando o seu breve acesso
de
raiva.
A fogueira de partiu, baixando mais na areia. Faíscas
brilharam
numa nuvem repentina de um laranja brilhante contra o céu
preto. Engraçado, eu não tinha reparado que o sol tinha se
posto.
Pelo primeiro vez, eu me perguntei quão tarde era. Eu perdi
completamente a noção do tempo.
Era mais fácil ficar com os meus amigos Quileute do que eu
tinha
esperado.
Enquanto Jacob e eu deixávamos a minha moto na garagem – e
ele admitia sem vontade que o capacete era uma boa idéia e
que
ele devia ter pensado nisso – eu comecei a me preocupar em
aparecer com ele na fogueira, imaginando que os lobisomens
iam
me considerar uma traidora agora.
Será que eles ficariam com raiva de Jacob por ter me
convidado? Será que eu arruinaria a festa?
Mas quando Jacob me acompanhou pela floresta para o topo dos
penhascos no local do encontro – onde o fogo já queimava
mais
brilhante do que o sol obscurecido pelas nuvens – tudo
estava
muito leve e casual.
“Ei, garota vampira!”, Embry me cumprimentou alto. Quil
tinha
levantado pra bater na minha mão e me beijar na bochecha.
Emily
apertou a minha mão quando eu me sentei no chão frio de
pedra
ao lado dela e de Sam.
Além das reclamações de brincadeira – em maioria de Paul –
sobre estar com fedor de sugadores de sangue, eu fui tratada
com alguém que pertencia ali.
E também não foi só uma festa de jovens. Billy estava lá,
sua
cadeira de rodas estacionada no que parecia ser a cabeça
natural
do círculo. Ao lado dele, numa cadeira dobrável, parecendo
bastante frágil, estava o velho avô de Quil, de cabelos
brancos, o
Velho Quil. Sue Clearwater, viúva de Harry o amigo de
Charlie,
estava numa cadeira do outro lado; os dois filhos dela, Leah
e
Seth, também estavam lá, sentados no chão como o resto de nós.
Isso me surpreendeu, mas claramente eles três faziam parte
do
segredo agora. Pelo jeito que Billy e o velho Quil falavam
com
Sue, parecia que ela tinha tomado o lugar de Harry no
conselho.
Será que isso fazia os filhos dela membros automáticos da
sociedade mais secreta de La Push?
Eu me perguntei o quanto devia ser horrível pra Leah se
sentar
num círculo com Sam e Emily. Seu rosto adorável traía a
emoção,
mas ela nunca desviou o rosto das chamas.Olhando para a
perfeição do rosto de Leah, eu não pode deixar de compara-lo
com o rosto arruinado de Emily. O que Leah pensava das
cicatrizes de Emily, agora que ela sabia a verdade por trás
delas? Será que elas pareciam com justiça nos olhos dela?
O pequeno Seth Clearwater já não era mais pequeno. Com o seu
enorme sorriso feliz atravessando seu rosto, feito sem
força,
ele me lembrava de um Jacob muito mais novo.
Essa semelhança me fez sorrir, e depois suspirar. Será que
Seth
estava predestinado a ter a sua vida tão drasticamente
mudada
quanto as do resto dos rapazes? Seria esse o futuro pelo
qual ele
e sua família tinham permissão de ficar aqui?
O bando inteiro estava lá: Sam com a sua Emily, Paul, Embry,
Quil, Jared com a sua Kim, a garota com a qual ele tinha
tido uma
impressão.
A minha primeira impressão de Kim foi de que ela era uma
garota
legal, um pouco tímida, um pouco normal. Ela tinha um rosto
largo,
as maçãs do rosto grandes, com olhos pequenos demais pra
equilibra-los. Seu nariz e boca eram largos demais pra se
ajustarem ao padrão tradicional de beleza. Seu cabelo liso
era
fino e assanhado com o vento que nunca parecia parar no topo
do
penhasco.
Essa foi a minha primeira impressão. Mas depois de algumas
horas observando Jared e Kim, eu não conseguia ver mais nada
de normal na garota.
O jeito que ele olhava pra ela! Era como um homem cego vendo
o
sol pela primeira vez. Como um colecionador achando um Da
Vinci
desconhecido, como uma mãe olhando para o rosto do filho
recém-nascido.
Seus olhos sonhadores me fizeram ver coisas novas sobre ela-
a
pele de cor ruiva dela parecia seda na luz do fogo, como a
forma
dos lábios dela eram uma curva dupla perfeita, como os
dentes
dela eram brancos em contraste com eles, como os cílios dela
eram longos, varrendo suas bochechas quando ela olhava pra
baixo.
As vezes a pele de Kim escurecia quando ela encontrava o
olhar
fascinado de Jared, e os olhos dela baixavam como se fosse
por
vergonha, mas ela tinha dificuldade em manter os olhos longe
dele por muito tempo.
Observando eles, eu senti que podia entender melhor o que
Jacob havia me dito antes sobre a impressão – é difícil
resistir a
esse nível de comprometimento e adoração.
Kim estava balançando a cabeça no peito de Jared, os braços
dele ao redor dela. Eu imaginei que ela devia estar bem
aquecida
ali.
“Está ficando tarde”, eu murmurei pra Jacob.
“Não comece com isso ainda” Jacob murmurou de volta – apesar
de que certamente metade do círculo tinha ouvidos sensíveis
o
bastante pra nos ouvir mesmo assim. “A melhor parte está
chegando”
“Qual é a melhor parte? Você vai engolir uma vaca inteira?”
Jacob riu seu riso baixo, gutural. “Não. Esse é o final. Nós
não
nos encontramos só pra comer a comida equivalente a uma
semana inteira. Isso é tecnicamente uma reunião do conselho.
Essa é a primeira vez de Quil, e ele ainda não ouviu as
histórias.
Bem, ele havia ouvido elas, mas essa é a primeira vez que
ele
sabe que elas são verdadeiras. Isso tende a fazer um cara
prestar mais atenção. É a primeira vez de Kim e Seth e Leah
também”.
“Histórias?”
Jacob inclinou pra trás ao meu lado, onde eu me encostava
num
cume baixo da pedra. Ele passou o braço pelos meus ombros e
falou ainda mais baixo no meu ouvido.
“As histórias que sempre pensamos que fossem lendas”, ele
disse. “As histórias de como chegamos a existir. A primeira
história sobre os espíritos guerreiros”.
Era quase como se Jacob estivesse sussurrando a introdução.
A
atmosfera mudou de repente ao redor da fogueira baixa. Paul
e
Embry se sentaram mais eretos. Jared cutucou Kim e então
puxou ela gentilmente pra cima.
Emily pegou um caderno de espiral e uma caneta, parecendo
exatamente com uma estudante que havia sido escolhida para
uma palestra importante. Sam se virou apenas um pouco ao
lado
dela – até que ele estivesse olhando na mesmo direção que o
velho Quil, que estava do seu outro lado – e de repente eu
me dei
conta de que os anciões do conselho não eram três, mas
quatro
em número.
Leah Clearwater, o rosto dela ainda era uma linda máscara
sem
emoção, fechou os olhos- não como se ela estivesse cansada,
mas
como se fosse pra ajudar na concentração. O irmão dela se
inclinou ansiosamente na direção dos anciões.
A fogueira partiu, mandando outra explosão de faíscas
brilhando
na noite.
Billy limpou sua garganta, e, sem nenhuma outra introdução
além
do sussurro dos seu filho, começou a contar a história com
sua
voz rica, profunda. As palavras fluíam com precisão, como se
ele
as soubesse com o coração, mas também com sentimento e um
subto ritmo. Como uma poesia recitada pelo seu autor.
“Os Quileute têm sido poucas pessoas desde o início”, Billy
disse.
“E ainda somos poucas pessoas, mas nós nunca desaparecemos.
Isso é porque sempre houve a mágica em nosso sangue. Não era
a
mágica de mudar de forma – isso veio depois. Primeiro, nós
______________________3
éramos espíritos guerreiros”.
Eu nunca havia reconhecido antes a realeza que havia na voz
de
Billy, apesar de que agora eu me dava conta de que a autoridade
sempre esteve lá.
Emily escrevia nas folhas de papel enquanto tentava
acompanhar
ele.
“No começo, a tribo se assentou nesse porto e se
transformaram
em habilidosos construtores de barco e pescadores. Mas a
tribo
era pequena, e o porto era rico em peixes. Haviam outros que
desejavam as nossas terras, e nós éramos poucos pra
enfrenta-los. Uma tribo maior se moveu contra nós, e nós entramos em
nossos navios pra escapar deles.
“Kaheleha não foi o primeiro espírito guerreiro, mas nós não
lembramos de outras histórias que venham antes dessa. Nós
não
lembramos de quem foi o primeiro a descobrir esse poder, ou
como ele havia sido usado antes dessa crise. Kaheleha foi o
primeiro grande Espírito Chefe na nossa história. Nessa
emergência, Kaheleha usou a sua magia pra defender as nossas
terras.
“Ele e todos os seus guerreiros abandonaram o navio – não
seus
corpos, mas seus espíritos. As suas mulheres cuidaram de
seus
corpos e das ondas,e os homens levaram seus espíritos de volta
ao nosso porto.
“Eles não podiam tocar fisicamente a tribo inimiga, mas eles
tinham outros meios. As histórias nos contam que eles
puderam
fazer um vento feroz soprar nos acampamentos inimigos; eles
podiam fazer um grande grito no vento que aterrorizou seus
inimigos. As histórias também nos contam que os animais
podiam
ver os espíritos guerreiros e compreende-los; os animais os
licitavam.
“Kaheleha levou o seu exército de espíritos e criou o caos
entre
os intrusos. Essa tribo invasora tinha grandes bandos de
cães
grandes, furiosos que eles usavam pra puxar seus trenós no
norte congelado. Os espíritos guerreiros fizeram com que os
cães se virassem contra seus mestres e trouxessem uma
poderosa infestação de morcegos das cavernas no penhascos.
Eles usaram o vento gritante pra ajudar os cães a confundir
os
homens. Os cães e os morcegos venceram. Os sobreviventes
fugiram, dizendo que o porto era amaldiçoado. Os cachorros
correram livres quando os espíritos guerreiros os
libertaram. Os
Quileute retornaram pra seus corpos e suas esposas,
vitoriosos.
“As outras tribos vizinhas, os Hoh e os Makah, fizeram
acordos
com os Quileute. Eles não queriam nada com a nossa magia.
Nós
vivemos em paz com eles. Quando um inimigo vinha contra nós,
os
espíritos guerreiros os afastavam.
“Gerações se passaram. Então veio o primeiro grande Espírito
Chefe, Taha Aki. Ele era conhecido por sua sabedoria, e por
ser
um homem de paz. As pessoas viviam bem e contentes sob seus
cuidados.
“Mas haviam um homem, Utlapa, que não estava contente.”
Um assobio correu pela fogueira. Eu era lenta demais pra
descobrir de onde ele tinha vindo. Billy ignorou e continuou
com a
lenda.
“Utlapa era um dos espíritos guerreiros mais fortes do Chefe
Taha Aki – um homem poderoso, mas um homem ganancioso
também. Ele achava que as pessoas deviam usar sua magia pra
expandir suas terras, escravizar os Hoh e os Makah e
construir
um império.
“Agora, quando os guerreiros se transformavam em seus
espíritos, eles podiam ouvir os pensamentos uns dos outros.
Taha
Aki viu o que Utlapa sonhava, e ficou bravo com Utlapa.
Utlapa
foi ordenado a deixar o povo, e nunca usar o seu espírito de
novo.
Utlapa era um homem poderoso, mas os guerreiros do chefe
eram um número que ele. Ele não teve escolha a não ser ir
embora. O furioso excluído se escondeu na floresta nas
proximidades, esperando pela chance pra se vingar de seu
chefe.
“Mesmo em tempo de paz, o Chefe Espírito era vigilante na
proteção ao seu povo. Frequentemente ele ia para um lugar
secreto, sagrado, nas montanhas. Ele deixava o seu corpo pra
trás e andava pelas florestas e pela costa, pra ter certeza
de
que nenhuma ameaça se aproximava.
“Um dia, quando o Chefe Taha Aki saiu pra fazer o seu
trabalho,
Utlapa o seguiu. No início, Utlapa apenas planejava matar o
chefe, mas seu plano tinha suas desvantagens. Com certeza os
espíritos guerreiros iam procura-lo e destruí-lo, e eles
podiam
persegui-lo mais rápido do que ele podia fugir. Enquanto ele
se
escondia nas rochas o observava o chefe se preparar pra
deixar
seu corpo, outro plano ocorreu a ele.
“Taha Aki deixou seu corpo no local secreto e voou com os
ventos
pra manter a vigilância sobre seu povo. Utlapa esperou até
que
ele tivesse certeza de que o chefe havia viajado certa
distância
com seu ser espírito.
“Taha Aki soube o instante em que Utlapa se juntou a ele no
mundo dos espíritos, e também soube do plano de assassinato
de
Utlapa. Ele correu de volta para o seu local secreto, mas
mesmo
os ventos não foram rápidos o suficiente pra salva-lo.
Quando ele
retornou, o seu corpo já tinha ido embora. O corpo de Utlapa
estava abandonado, mas Utlapa não tinha deixado Taha Aki com
uma escolha – ele havia cortado a garganta do seu próprio
corpo
com as mãos de Taha Aki.
“Taha Aki seguiu o seu prórpio corpo pela montanha. Ele
gritou
com Utlapa, mas Utlapa o ignorou como se ele fosse apenas o
vento.
“Taha Aki observou com desespero enquanto Utlapa pegava o
seu
lugar como chefe dos Quileute. Por algumas semanas, Utlapa
não
fez nada além de se certificar de que todos acreditavam que
ele
era Taha Aki. Aí as mudanças começaram – a primeira ordem de
Utlapa foi que qualquer guerreiro entrasse no mundo dos
espíritos. Ele clamou que tinha uma visão do perigo, mas na
verdade ele estava com medo. Ele sabia que Taha Aki estaria
esperando pela chance de contar a sua história. O próprio
Utlapa
estava com muito medo de entrar no mundo dos espíritos,
sabendo que Taha Aki rapidamente clamaria seu corpo. Então
seus sonhos de conquista com um exército de espíritos
guerreiros era impossível, e ele teve que se contentar em
reinar
sobre a tribo. Ele se tornou um fardo – procurando
privilégios
que Taha Aki nunca havia pedido, se recusando a trabalhar
junto
dos seus guerreiros, se casando com uma segunda jovem
esposa,
e depois uma terceira, apesar da esposa de Taha Aki ainda
viver
– em algum lugar desconhecido da tribo. Taha Aki observou
furioso sem poder fazer nada.
“Eventualmente, Taha Aki tentou matar seu próprio corpo pra
salvar a tribo dos desmandos de Utlapa. Ele trouxe um lobo
feroz das montanhas, mas Utlapa se escondeu atrás de seus
guerreiros. Quando o lobo matou um jovem que estava
protegendo seu falso chefe, Taha Aki sentiu um terrível
pesar.
Ele ordenou que o lobo fosse embora.
“Todas as histórias nos contam que não eram fácil ser um
espírito guerreiro. Era mais assustador do que excitante
estar
fora do seu próprio corpo. Era por isso que eles só usavam
sua
magia em tempos de necessidade. As viagens solitárias do
chefe
pra manter guarda eram um fardo e um sacrifício. Ficar sem
corpo era desorientador, desconfortável, aterrorizante. Taha
Aki esteve longe de seu corpo por tanto tempo que chegou um
ponto que ele sentiu agonia. Ele sentiu que estava
sentenciado – a
nunca cruzar a linha para a terra final onde todos os seus
ancestrais esperavam, preso naquele nada torturante pra
sempre.
“O grande lobo seguiu o espírito de Taha Aki se contorcia e
se
estorcia em agonia pelas florestas. O lobo era muito grande
para
a sua espécie, e lindo. Taha Aki de repente ficou com inveja
do
animal. Pelo menos ele tinha um corpo. Pelo menos ele tinha
uma
vida. Até a vida como um animal seria melhor do que essa
horrível
consciência vazia.
“E aí Taha Aki teve a idéia que mudou todos nós. Ele pediu
ao
lobo que dividisse o espaço com ele, pra compartilharem. O
lobo
permitiu. Taha Aki entrou no corpo do lobo com alívio e
gratidão.
Não era o seu corpo humano, mas era melhor do que o buraco
negro do mundo dos espíritos.
“Pra começar, o homem e o lobo voltaram à vila no porto. As
pessoas correram com medo, gritando pra que os guerreiros
viessem. Os guerreiros correram pra encontrar o lobo com
suas
lanças. Utlapa, é claro, ficou seguramente escondido.
“Taha Aki não atacou seus guerreiros. Ele se afastou
lentamente
deles, falando com seus olhos e tentando uivar as canções do
seu
povo. Os guerreiros começaram a notar que o lobo não era um
animal qualquer, que havia uma influência espiritual nele.
Um
guerreiro ancião, uma homem chamado Yut, decidiu desobedecer
a ordem do falso chefe e tentar se comunicar com o lobo.
“Assim que Yut cruzou para o mundo espiritual, Taha Aki saiu
do
lobo – o animal esperou pacientemente pelo seu retorno – pra
falar com ele. Yut compreendeu a verdade em um instante, e
deu
as boas vindas ao lar a seu chefe.
“A essa hora, Utlapa veio ver se o lobo havia sido
derrotado.
Quando ele viu Yut caído sem vida no chão, cercado por
guerreiros protetores, ele se deu conta do que estava
acontecendo. Ele pegou sua faca e correu pra matar Yut antes
que ele pudesse retornar ao seu corpo.
“Traidor’, ele gritou, e os guerreiros não sabiam o que
fazer. O
Chefe havia proibido viagens espirituais, e era a decisão do
chefe como punir aqueles que desobedecessem.
“Yut pulou de volta para o seu corpo, mas Utlapa estava com
a
faca em seu pescoço em com uma mão em sua boca. O corpo de
Taha Aki era forte, e Yut era fraco com a idade. Yut nem
sequer
pôde dizer uma palavra pra alertar os outros antes que
Utlapa o
silenciasse pra sempre.
“Taha Aki observou enquanto o espírito de Yut ia embora para
as
terras finais das quais Taha Aki havia sido barrado pra
sempre.
Ele sentiu uma grande raiva, mais poderosa do que qualquer
coisa
que ele já havia sentido. Ele entrou no lobo novamente, com
a
intenção de rasgar a garganta de Utlapa. Mas, enquanto ele
se
juntava ao lobo, uma grande mágica aconteceu.
“A raiva de Taha Aki era a raiva de um homem. O amor que ele
tinha pelo seu povo e o ódio que ele sentia pelo seu
opressor era
vasto demais para o corpo do lobo, humano demais. O lobo
estremeceu, e – ante os olhos dos guerreiros chocados e de
Utlapa – ele se transformou em homem.
“O novo homem não se parecia com o corpo de Taha Aki. Ele
era
muito mais glorioso. Ele era uma interpretação fresca do
espírito
de Taha Aki. Os guerreiros reconheceram ele imediatamente,
no
entanto, pois eles conheciam o espírito de Taha Aki.
“Utlapa tentou correr, mas Taha Aki tinha a força de um lobo
em
seu novo corpo. Ele agarrou o ladrão e arrancou o espírito
dele
antes que ele pudesse pular do corpo roubado.
“As pessoas ficaram muito felizes quando se deram conta do
que
estava acontecendo. Taha Aki rapidamente arrumou as coisas,
trabalhando novamente com o seu povo e devolvendo as jovens
esposas às suas famílias. A única mudança que ele não desfez
foi
a proibição das viagens espirituais. Ele sabia que isso era
muito
perigoso, agora que a idéia de roubar uma vida estava por
ali. Os
espíritos guerreiros já não existiam.
“Desse ponto em diante, Taha Aki eram mais do que apenas um
lobo ou um homem. Eles chamavam ele, Taha Aki, de o Grande
Lobo. Ele liderou a tribo por muitos, muitos anos, pois ele
não
envelhecia. Quando o perigo ameaçava, ele reassumia seu eu
lobo
pra lutar ou assustar o inimigo.
As pessoas viviam em paz. Taha Aki foi pai de muitos filhos,
e
alguns deles descobriram que, depois que eles atingiam a
maturidade, eles também podiam se transformar em lobos. Os
lobos eram todos diferentes, porque eles eram espíritos
lobos e
refletiam o que o homem era por dentro.”
“Então é por isso que Sam é preto”, Quil murmurou por baixo
do
fôlego, sorrindo, “Coração negro, pêlo negro”.
Eu estava tão envolvida na história, que foi um choque
voltar ao
presente, para o círculo ao redor do fogo morrendo. Com
outro
choque, eu me dei conta de que o círculo já feito dos netos
– não
importava em que graus – de Taha Aki.
O fogo jogou uma salva de faíscas para o céu, e elas
tremeram e
dançaram, fazendo formas que eram quase indecifráveis.
“E o seu pêlo cor de chocolate reflete o que?” Sam sussurrou
de
volta pra Quil. “O quanto você é doce?”
Billy ignorou as piadas deles. “Alguns dos filhos se
tornaram
guerreiros com Taha Aki, e não mais envelheceram. Os outros,
que não gostaram da transformação, se recusaram a se juntar
ao
bando de homens lobos. Esses começaram a envelhecer
novamente, e a tribo descobriu que os homens lobo podiam
envelhecer como qualquer outra pessoa, se desistissem de
seus
espíritos guerreiros. Taha Aki viveu o tempo de vida de três
homens. Ele havia se casado com uma terceira esposa depois
da
morte das duas primeiras, e encontrou nela a sua verdadeira
esposa espiritual. Apesar dele ter amado as outras, essa era
algo
mais. Ele decidiu desistir de seu espírito lobo pra morrer
quando
ela morreu.
“Foi assim que a mágica veio até nós, mas esse não é o fim
da
história...”
Ele olhou pra o Velho Quil Atearra, que mudou de posição em
sua
cadeira, ajeitando seus ombros frágeis. Billy deu um gole
numa
garrafa de água e enxugou sua testa. A caneta de Emily nunca
hesitava enquanto ela escrevia furiosamente no papel.
"Essa foi a história dos espíritos guerreiros", o
Velho Quil
começou num voz de tenor. "Essa é a história do
sacrifício da
terceira esposa."
"Muitos anos depois de Taha Aki ter desistido de seu
espírito
lobo, quando ele já era um homem velho, um problema começou
ao
norte, com os Makah. Várias mulheres jovens da tribo deles
havia desaparecido, e eles colocaram a culpa nos lobos das
redondezas, a quem eles temiam e desconfiavam. Os
homens-lobo
ainda podiam ouvir os pensamentos uns dos outros enquanto em
sua forma de lobo, assim como seus ancestrais haviam feito
enquanto estavam na forma de espíritos. Eles sabiam que
nenhum
em seu grupo era o culpado. Taha Aki tentou pacificar o
chefe de
Makah, mas havia medo demais. Taha Aki não queria ter uma
guerra em suas mãos. Ele já não era um guerreiro pra liderar
seu
povo. Ele encarregou seu filho lobo mais velho, Taha Wi, de
encontrar o verdadeiro culpado antes que as hostilidades
começassem.
"Taha Wi liderou os outro cinco lobos em seu bando em
uma
procura pelas montanhas, procurando por alguma evidência
sobre
o desaparecimento das Makah. Eles se depararam com uma coisa
que eles nunca haviam visto antes - um cheiro doce, estranho
na
floresta que queimava seus narizes a ponto de doer."
Eu fui um pouco mais pro lado de Jacob. Eu ví o canto da sua
boca vibrar com o humor, e o braço dele se apertou ao meu
redor.
"Eles não sabiam que criatura podia ter deixado aquele
cheiro,
mas eles o seguiram", O Velho Quil continuou. Sua voz
tremendo
não era tão majestosa como a de Billy, mas havia um stranho
tom
de urgência penetrante nela. O meu pulso acelerou quando as
palavras saíram mais rápidas.
"Eles acharam traços fracos de cheiro humano, e de
sangue
humano, pela trilha. Eles estavam certos de que esse era o
inimigo que eles estavam procurando.
"A jornada deles os levou pra tão longe ao norte que
Taha Wi
mandou metade do bando, os mais novos, devolta pra o porto
pra
avisar Taha Aki.
"Taha Wi e seus dois irmãos não retornaram.
"Os irmãos mais novos procuraram pelos seus ancestrais,
mas só
encontraram silêncio. Taha Aki lamentou por seus filhos. Ele
desejava vingar a morte dos filhos, mas ele já era
velho." ______________________4
"Eles foi ao chefe de Makah ainda com as roupas da
manhã e o
contou o que havia acontecido. O chefe de Makah acreditou em
seu pesar, e as tensões acabaram entre as tribos.
"Um ano depois, duas donzelas de Makah desapareceram de
suas
casas na mesma noite. Os Makah chamaram os lobos Quileute
imediatamente, que encontraram o mesmo fedor doce em todo
lugar no vilarejo dos Makah. Os lobos foram caçar de novo.
"Apenas um retornou. Ele era Yaha Uta, o filho mais
velho da
terceira esposa de Taha Aki, e o mais novo no bando. Ele
trouxe
algo consigo que nunca havia sido antes pelos Quileute - um
cadáver estranho, frio de pedra, que ele carregava aos
pedaços.
Todos aqueles que tinham o sangue de Taha Aki, até mesmo
aqueles que não eram lobos, podiam sentir o cheiro forte da
criatura morta. Esse era o inimigo dos Makah.
"Yaha Uta descreveu o que havia acontecido: ele e seus
irmãos
haviam encontrado a criatura, que se parecia com um homem
mas
era duro como um pedra de granito, com duas filhas de Makah.
Uma garota ja estava morta, branca e sem sangue no chão. A
outra estava nos braços da criatura, a boca dele em seu
pescoço.
Ela podia estar viva quando eles chegaram na cena odiosa,
mas a
criatura rapidamente quebrou seu pescoço e jogou seu corpo
sem
vida no chão enquanto eles se aproximavam. Seus lábios
brancos
estavam cobertos com o sangue dela, e seus olhos brilhavam
vermelhos.
"Yaha Uta descreveu a força feroz e a velocidade da
criatura.
Um de seus irmãos rapidamente se tornou uma vítima quando
subestimou aquela força. A criatura o partiu como se fosse
um
boneco. Yaha Uta e seus irmãos foram mais cautelosos. Eles
trabalharam juntos, chegando nas criaturas pelos seus lados,
manobrando-a. Eles tiveram que atingir o limite de sua força
e de
sua velocidade de lobo, coisa que eles jamais haviam testado
antes. A criatura era dura como pedra e fria como gelo. Eles
descobriram que seus dentes podiam machucá-lo. Eles
começaram a rasgar a criatura em pequenos pedaços enquanto
lutavam com ela.
"Mas a criatura aprendeu com velocidade, a logo estava
compativel com as manobras deles. Ele pôs as mãos no irmão
de
Yaha Uta. Yaha Uta encontrou uma abertura em seu pescoço, e
atacou. Os dentes dele arrancaram a cabeça da criatura, mas
as
mãos continuaram apertando o seu irmão.
"Yaha Uta rasgou a criatura em pedaços irreconhecíveis,
rasgando os pedaços numa tentativa desesperada de salvar seu
irmão. Ele estava atrasado, mas, no final, a criatura foi
destruída.
"Ou assim eles pensaram. Yaha Uta espalhou os pedaços
para os
anciões examinarem. Uma mão destroçada estava ao lado de um
pedaço do braço de granito da criatura. Dois pedaços se
tocaram
quando os anciões os uniram com pontos, e a mão foi em
direção
ao braço, tentanto se unir novamente.
"Aterrorizados, os anciões tocaram fogo no que restou.
Uma
grande nuvem de fumaça forte, vil, poluiu o ar. Quando ja não
haviam nada além das cinzas, eles separeram as cinzas em
pequenos sacos e os separou a grandes espaços uns dos outros
-
uns no oceano, alguns na floresta, alguns nas cavernas dos
penhascos. Taha Aki usava um dos saquinhos em seu pescoço,
pra
que ele pudesse ser avisado se um dia a criatura tentasse se
juntar de novo".
O Velho Quil pausou e olhou pra Billy. Billy puxou uma fita
de
couro do seu pescoço. Preso na ponta havia um velho
saquinho,
escurecido com o tempo. Algumas pessoas ofegaram. Eu posso
ter sido uma delas.
"Eles o chamaram de O Frio, O Bebedor de Sangue, e
viveram
com medo de que ele não estivesse sozinho. Eles só tinham
mais
um lobo protetor, o jovem Yaha Uta.
"Eles não tiveram que esperar muito. A criatura tinha
uma
parceira, outra bebedora de sangue, que veio até os Quileute
em
busca de vingança.
"As histórias dizem que A Mulher Fria era a coisa mais
linda que
os olhos humanos já haviam visto. Ela parecia com a deusa do
alvorecer quando entrou na vila naquela manhã; o sol estava
brilhando pelo menos dessa vez, e ele cintilava na pele
branca
dela e iluminava seu cabelo loiro que chegava nos
joelhos."
"O rosto dela era mágico em sua beleza, os olhos eram
pretos em
seu rosto. Alguns caíram de joelhos pra adorá-la.
"Ele perguntou alguma coisa em uma voz alta,
penetrante, em uma
linguagem que ninguém nunca tinha ouvido. As pessoas ficaram
abobalhadas, sem saber o que dizê-las. Não havia ninguém com
o
sangue de Taha Aki entre as testemunhas a não ser um
garotinho. Ele se apertou a sua mãe e gritou que o cheiro
estava
machucando o nariz dele. Um dos anciões, que estava a
caminho
do conselho, ouviu o garoto e se deu conta do que havia
chegado
pra eles. Ele gritou pra que as pessoas corressem. Ela o
matou
primeiro.
"Haviam vinte testemunhas da chegada da Mulher Fria.
Dois
sobreviveram, apenas porque ela ficou destraída com o
sangue, e
parou pra saciar sua sede. Eles correram pra Taha Aki, que
estava no conselho com os outros anciões, seus filhos, e sua
terceira esposa.
"Yaha Uta se transformou em seu espírito lobo assim que
ele
ouviu as notícias. Ele foi sozinho combater a bebedora de
sangue.
Taha Aki, e sua terceira esposa, e seus anciões seguiram
ele.
"No inicio eles não conseguiram encontrar a criatura,
só as
evidências de seu ataque. Corpos estavam quebrados, alguns
completamente sem sangue, espalhados pela estrada por onde
ela
havia aparecido. Aí eles ouviram os gritos e correram para o
porto.
"Vários Quileute haviam corrido para os navios para se
refugiarem. Ela nadou atrás deles como um tubarão, e quebrou
o
casco do navio deles com sua incrível força. Quando o navio
afundou, ela agarrou aqueles que tentaram fugir a nado, e
quebrou eles também.
"Ela viu o grande lobo na costa, e esqueceu dos
nadadores
flutuando. Ela nadou tção rápido que se transformou num
vulto,
pingando e gloriosa, ela veio ficar de pé na frente de Yaha
Uta.
Ela apontou para ele uma vez com seu dedo branco e fez outra
pergunta incompreensível. Yaha Uta esperou.
"Foi uma luta apertada. Ela não era tão boa lutadora
quanto o seu
parceiro havia sido. Mas Yaha Uta estava sozinho - não havia
ninguém pra distraí-la da fúria com ele.
"Quando Yaha Uta perdeu, Taha Aki gritou em desafio.
Ele
tropeçou para a frente e se transformou em um lobo ansião,
com
pêlo branco. O lobo era velho, mas esse era o Espírito Homem
de
Taha Aki, e sua raiva o tornou forte. A luta recomeçou.
"A terceira esposa de Taha Aki havia acabado de ver seu
filho
morrer diante de seus olhos. Agora o seu marido lutava, e
ela não
tinha esperanças de que ele pudesse vencer. Ela havia ouvido
cada palavra que a vítima havia dito no conselho. Ela havia
ouvido
a história da primeira vitória de Yaha Uta, e ela sabia que
a
distração de seus irmãos haviam salvado ele.
"A terceira pegou uma faca do cinto de um dos filhos
que estava
ao seu lado. Eles eram todos filhos jovens, ainda não eram
homens, e ela sabia que eles morreriam quando o seu marido
falhasse.
"A terceira esposa correu em direção à Mulher Fria com
a adaga
erguida. A Mulher Fria sorriu, pouco destraída da sua luta
com o
lobo velho. Ela não tinha medo de uma mulher humana fraca e
nem da faca que não causaria nenhum arranhão em sua pele, e
ela
estava prestes a dar o golpe de misericórdia em Taha Aki.
"E aí, a terceira esposa fez algo que A Mulher Fria não
estava
esperando. Ela caiu de joelhos aos pés da bebedora de sangue
e
enfiou a faca em seu próprio coração.
"O sangue escorreu pelos dedos da terceira esposa e
espirrou na
Mulher Fria. A bebedora de sangue não pôde resistir à
luxuria do
sangue fresco que estava deixando o corpo da terceira
esposa.
Instintivamente, ela se virou para a mulher que estava
morrendo,
por um segundo inteiramente consumida pelo sangue.
"Os dentes de Taha Aki se fecharam no pescoço dela.
"Aquele não foi o fim da batalha, mas agora, Taha Aki
não estava
mais sozinho. Vendo a mãe deles morrer, dois filhos mais
novos
sentiram tanta raiva que se lançaram para a frente como seus
espíritos lobos, apesar de ainda não serem homens. Com seu
pai,
eles exterminaram a criatura.
"Taha Aki nunca se reuniu à tribo. Ele nunca se
transformou em
homem de novo."
"Ele deitou por um dia ao lado do corpo da terceira esposa,
rosnando toda vez que alguém tentava encostar nela, e aí ele
foi
para a floresta e nunca mais retornou.
"Problemas com os frios eram raros e aconteciam de vez
em
quando. Os filhos de Taha Aki guardaram a tribo até que seus
filhos fossem velhos o suficiente pra ficarem em seu lugar.
Nunca houveram mais de três lobos de cada vez. Era o
suficiente. Ocasionalmente um bebedor de sangue aparecia por
essas terras, mas eles eram pegos de surpresa, sem esperar
os
lobos. De vez em quando um lobo morria, mas eles nunca foram
dezimados de novo como da primeira vez. Eles haviam
aprendido
como lutar com os frios, e eles passaram o conhecimento de
lobo
pra lobo, de mente de lobo pra mente de lobo, de espírito
pra
espírito, de pai pra filho.
"O tempo passou, e os descendentes de Taha Aki já não
se
transformavam mais em lobos quando atingiam a idade adulta.
Só
muito raramente, se um frio estava por perto, os lobos
retornavam, e o bando continuava pequeno.
"Um grupo maior chegou, e os seus próprios bisavôs se
prepararam pra lutar contra eles. Mas o líder falou com
Ephraim
Black como se fosse um homem, e prometeu não machucar os
Quileute. Os seus estranhos olhos amarelos davam alguma
espécie de prova do que ele dizia sobre eles não serem
iguais aos
outros bebedores de sangue.
Os lobisomens estavam em menor número; não havia necessidade
dos frio pedirem um acordo sendo que eles podiam ter vencido
a
batalha. Ephraim aceitou. Eles cumpriram com a sua parte,
apesar de que a presença deles tendia a puxar outros.
"E o número deles forçou o bando a atingir um número
que a
tribo nunca havia visto", o Velho Quil disse, e por um
momento
em seus olhos pretos, afundados nas rugas e na pele dobrada
ao
redor deles, pareceram parar em mim. "Exceto, é claro,
no tempo
de Taha Aki", ele disse, e então suspirou. "E
então os filhos da
nossa tribo carregam novamente o fardo e dividem o
sacrifício
que seus pais suportaram antes deles".
Tudo ficou em silêncio por um longo momento. Os descendentes
vivos da magia e das lendas olharam uns para os outros
através
do fogo com tristeza nos olhos. Todos menos um.
"Fardo", ele zombou em uma voz baixa. "Eu
acho que é legal", o
lábio inferior de Quil ficou um pouco pra fora.
Do outro lado do fogo que estava morrendo, Seth Clearwater -
seus olhos estavam arregalados de adulação pela fraternidade
dos irmãos protetores da tribo - balançou a cabeça
concordando.
Billy gargalhou, baixa e longamente, e a mágica pareceu
desaparecer nas brasas brilhantes. De repente, era apenas um
círculo de amigos de novo. Jared jogou uma pedra pequena em
Quil, e todo mundo sorriu quando isso fez ele pular.
Conversas
baixas murmuravam ao nosso redor, zombeteiras e casuais.
Os olhos de Leah Clearwater não se abriram. Eu achei ter
visto
alguma coisa como uma lágrima brilhando na bochecha dela,
mas
quando eu olhei de volta um momento depois já não estava
mais
lá.
Nem Jacob nem eu falamos. Ele estava tão imóvel ao meu lado,
a
respiração dele tão profunda e uniforme, que eu pensei que
ele
devia estar perto de dormir.
A minha mente estava hà um milhão de anos de distância. Eu
não
estava pensando em Yaha Uta ou em outros lobos, ou na linda
Mulher Fria - eu podia imaginar ela bem demais. Não, eu
estava
pensando em algum de fora de toda essa magia. Eu estava
tentando o rosto da mulher sem nome que havia salvado a
tribo
inteira, a terceira esposa.
Só uma mulher humana, sem nenhum dom ou poder especial.
Fisicamente mais fraca e lenta do que qualquer dos outros
monstros na história. Mas ela havia sido a chave, a solução.
Ela
havia salvado seu marido, seus filhos, a tribo inteira.
Eu queria que eles lembrassem do nome dela...
Alguma coisa balançou meu braço.
"Vamos, Bells", Jacob disse. "Estamos
aqui".
Eu pisquei, confusa porque o fogo parecia ter desaparecido.
Eu
olhei para a inexperada escuridão, tentando entender as
minhas
redondezas. Eu levei um minuto pra me dar conta que eu já
não
estava mais no penhasco.
Eu ainda estava nos braços dele, mas não estava mais no
chão.
Como é que eu cheguei no carro de Jacob?
"Oh, droga!", eu sufoquei enquanto me dava conta
de que havia
pego no sono. "Que horas são? Droga, onde está aquele
telefone
estúpido?" eu tateei meus bolsos, frenética, e
encontrando eles
vazios.
"Fácil. Ainda não é nem meia noite. E eu já liguei pra
ele por você.
Olhe - ele está esperando alí".
"Meia noite?" eu respondí estupidamente, ainda
desorientada. Eu
olhei para a escuridão, e as batidas do meu coração
aceleraram
quando os meus olhos encontraram as formas do Volvo, a
trinta
metros de distância. Eu encontrei a maçaneta da porta.
"Aqui", Jacob disse, e colocou um coisa pequena na
minha mão. O
telefone.
"Você ligou pra Edward por mim?"
Os meus olhos estavam ajustados o suficiente pra ver o
brilho
cintilante do sorriso de Jacob. "Eu achei que se
bancasse o
bonzinho, eu teria mais tempo com você".
"Obrigada, Jake", eu disse, tocada. "Mesmo,
obrigada. E
obrigada por me convidar essa noite. Aquilo foi... "As
palavras me
faltaram. "Uau. Aquilo foi algo mais".
"E você nem sequer ficou acordada pra me ver engolir
uma vaca".
Ele riu. "Não. Eu estou feliz por você ter gostado.
Foi... legal pra
mim. Ter você aqui".
Houve um movimento à distância na escuridão - alguma coisa
pálida estava flutuando entre as árvores. Vagando?
"É, ele não é tão paciente, é?" Jacob disse,
reparando na minha
distração. "Vá em frente. Mas volte logo, tá
legal?"
"Claro, Jake", eu prometí, abrindo a porta. O ar
frio bateu nas
minhas pernas e me fez estremecer.
"Durma bem, Bells. Não se preocupe com nada - eu vou
estar te
observando essa noite".
Eu pausei, um pé no chão. "Não, Jake. Descance um
pouco, eu vou
estar bem".
"Claro, claro", mas ele parecia mais estar
aceitando do que
concordando.
"Boa noite, Jake. Obrigada"
"Boa noite, Bella", ele sussurrou enquanto eu
corria para a
escuridão.
Edward me pegou na linha da fronteira.
"Bella", ele disse, o alívio estava forte na voz
dele; seus braços
fortemente ao meu redor.
"Oi. Desculpa por eu ter me atrasado. Eu caí no sono e
-"
"Eu sei. Jacob explicou". Ele começou a ir na
direção do carro, e
eu tropecei cambaleante ao lado dele. "Você está
cansada? Eu
podia te carregar".
"Eu estou bem".
"Você te levar pra casa e te colocar na cama. Você se
divertiu?"
"Sim - foi incrível, Edward. Eu queria que você tivesse
vindo. Eu
nem posso explicar. O pai de Jake nos contou algumas
histórias e
elas eram como... como magia."
"Você vai ter que me contar. Depois que você
dormir".
______________________5
"Eu não vou contar direito", eu disse, e aí
bocejei enormemente.
Edward gargalhou. Ele abriu a minha porta pra mim, me
levantou
me colocando lá dentro, e prendeu o cinto de segurança ao
meu
redor.
Luzes claras brilharam e bateram em nós. Eu acenei na
direção
dos faróis de Jacob, mas eu não sabia de ele tinha visto o
gesto.
Naquela noite - depois que eu passei por Charlie que não me
deu
tantos problemas quanto eu esperava porque Jacob havia
ligado
pra ele também - ao invés de colidir na cama imediatamente,
eu
me inclinei pra abrir a janela enquanto eu esperava que
Edward
voltasse. A noite estava surpreendentemente fria, quase
invernal. Eu não tinha reparado nisso nos penhascos; eu
imaginei
que isso tinha menos a ver com a fogueira e mais a ver com o
fato de estar sentada ao lado de Jacob.
Pedacinhos de gelos se espalharam pelo meu rosto quando a
chuva começou.
Estava escuro demais pra ver alguma coisa além dos
triângulos
das samambaias se inclinando e balançando com o vento. Mas
eu
forcei os meus olhos mesmo assim, procurando por outras
formas
na tempestade. Uma silhueta pálida, se movendo feito um
fantasma pela escuridão... ou talvez as linhas sombradas de
um
enorme lobo... Os meus olhos estava fracos demais.
Então, houve um movimento na noite, bem ao meu lado. Edward
entrou pela minha janela aberta, suas mãos mais frias que a
chuva.
"Jacob está lá fora?", eu perguntei, tremendo
enquanto Edward
me puxava para o círculo dos seus braços.
"Sim... em algum lugar. E Esme está indo pra
casa".
Eu suspirei. "Está tão frio e molhado. Isso é
bobagem". Eu tremí
de novo.
Ele gargalhou. "Só está frio pra você, Bella"
Estava frio nos meus sonhos também, talvez porque eu tenha
dormido nos braços de Edward. Mas eu sonhei que estava lá
fora
na tempestade, o vento fazendo o meu cabelo bater em meu
rosto e cegando os meus olhos. Eu estava na roche crescente
da
praia, tentando entender os movimentos das formas rápidas
que
eu mal podia enxergar direito na escuridão da beira da
costa.
Primeiro, não havia nada além de um flash de branco e preto,
indo na direção um do outro e dançando pra longe. E então,
quando a lua repentinamente apareceu entre as nuvens, eu
pude
ver tudo.
Rosalie, com seus cabelos molhados se movimentando e
dourados,
na altura do joelho, estava se jogando na direção em um lobo
enorme - os dentes dele brilhavam prateados - que eu
reconhecí
como sendo Billy Black.
Eu comecei a correr, mas me encontrei me movendo
frustramentemente devagar no sonho. Eu tentei gritar pra
eles,
dizer que eles paressem, mas a minha voz era roubada pelo
vento, e eu não conseguia fazer um som. Eu balancei os
braços,
espérando chamar a atenção deles. Alguma coisa brilhou na
minha
mão, e eu reparei pela primeira vez que a minha mão não
estava
vazia.
Eu estava segurando uma longa lâmina, velha e prateada, suja
com sangue seco e empretecido.
Eu me afastei da faca, e os meus olhos se abriram na
escuridão
do quarto. A primeira coisa que eu reparei foi que eu não
estava
sozinha, e eu virei meu rosto pra enterrá-lo no peito de
Edward,
sabendo que o doce cheiro da pele dele afastaria o pesadelo
com
mais eficácia do que qualquer outra coisa.
"Eu te acordei?", ele sussurrou. Houve o som de
papeis, páginas
virando, e um fraco thump quando alguma coisa leve caiu no
chão
de madeira.
"Não", eu murmurei, suspirando de contentamento
quando os
braços dele me apertaram. "Eu tive um pesadelo".
"Você não quer me contar sobre ele?"
Eu balancei minha cabeça. "Cansada demais. Talvez de
manhã, se
eu lembrar".
Eu sentí um riso silencioso balançar ele.
"De manhã", ele concordou.
"O que você estava lendo?", eu murmurei, não
completamente
acordada.
"O Morro dos Ventos Uivantes", ele disse.
Eu fiz uma careta sonolenta. "Eu pensei que você não
gostasse
desse livro".
"Você me fez mudar de idéia", ele murmurou, sua
voz suave me
lançando para a inconsciencia. "Além do mais... quanto
mais tempo
eu passo com você, mais emoções humanas se tornam
compreensíveis pra mim. Eu estou descobrindo que sinto
simpatia
por Heathcliff de maneiras que eu não julgava possíveis
antes".
"Mmm", eu suspirei.
Ele disse mais alguma coisa, alguma coisa baixa, mas eu já
tinha
adormecido.
A manhã seguinte acordou cinzenta e perolada. Edward me
perguntou sobre o meu sonho, mas eu não conseguí lembrar
dele.
Eu só me lembrei que estava frio, e que fiquei feliz quando
acordei porque ele estava lá. Ele me beijou, por tempo suficiente
pra acelerar o meu pulso, e depois foi pra casa pra trocar
de
roupa de pegar seu carro.
Eu me vestí rapidamente, com poucas opções. Quem quer que
tenha pego as minhas coisas havia diminuido o meu
guarda-roupa
criticamente. Se isso não fosse assutador, seria seriamente
incômodo.
Quando estava prestes a descer pra o café da manhã, eu ví a
minha cópia já gasta de O Morro dos Ventos Uivantes caída no
chão onde Edward havia derrubado ela na noite passada,
deixando a capa envelhecida do jeito que eu sempre deixava.
Eu o peguei com curiosidade, tentando lembrar do que ele
havia
dito. Algo sobre estar sentindo simpatia por Heathcliff,
entre
todas as pessoas. Isso não podia estar certo; eu devo ter
sonhado com essa parte.
As palavras na página aberta me chamaram a atenção, e eu me
inclinei pra ler o parágrafo mais de perto. Era Heathcliff
falando, e eu conhecia bem aquela passagem.
E aí você vê a distinção entre os nossos sentimentos: se ele
estivesse no meu lugar e eu no dele, apesar de eu odiá-lo
com um
ódio que esfolou a minha vida, eu jamais teria erguido a mão
contra ele. Você pode não acreditar, se assim o desejar! Eu
jamais o teria banido da sociedade dela enquanto ela
desejasse a
dele. No momento em que a consideração dela tivesse cessado,
eu teria arrancado o coração dele fora, e bebido seu sangue!
Mas, até lá - se você não me acredita, não me conhece - até
lá, eu
teria morrido a poucos centímetros antes de tocar um fio
sequer
da cabeça dele!
As três palavras que me chamaram a atenção foram
"Bebido seu
sangue".
Eu estremecí.
Sim, eu certamente havia sonhado com Edward dizendo alguma
coisa positiva sobre Heathcliff. E essa página provavelmente
não
era a que ele estava lendo. O livro devia ter caído aberto
em
qualquer página.
12. Tempo
"Eu tinha previsto...", Alice começou num tom
ominoso.
Edward jogou o cotovelo nas costelas dela, que ela desviou
por
pouco.
"Tá", ela rosnou. "Edward está me fazendo
fazer isso. Mas eu
preví que seria mais difícil se eu surpreendesse você".
Nós estávamos caminhando para o carro depois da escola, e eu
não tinha a mínima idéia do que ela estava falando.
"Em Inglês?", eu quis saber.
"Não seja um bebê sobre isso. Nada de acessos de
raiva".
"Então você - quer dizer, nós - vamos ter uma festa de
formatura. Não é nada grande. Nada com o que se preocupar.
Mas eu ví que você ia enlouquecer se eu tentasse fazer uma
festa surpresa" - ela dançou fora do caminho quando
Edward se
aproximou pra bagunçar o cabelo dela - "e Edward disse
que eu
tinha que te contar. Mas não é nada. Prometo."
Eu suspirei com força. "Existe alguma necessidade de
discussão?".
"Absolutamente não".
"Está bem, Alice. Eu estarei lá. E eu vou odiar cada
minuto dela.
Prometo".
"Esse é o espírito! Aliás, eu adorei o meu presente.
Não
precisava".
"Alice, eu não dei!"
"Oh, eu sei disso. Mas você vai".
Eu revirei o meu cérebro, tentando lembrar do que eu havia
decidido dar pra ela como presente de formatura que ela
pudesse ter visto.
"Incrível", Edward murmurou. "Como é que
alguém tão pequeno
pode ser tão irritante?"
Alice riu. "É um talento".
"Será que você não podia ter esperado umas semanas pra
me
contar sobre isso?", eu perguntei petulantemente.
"Agora eu vou
ficar estressada com isso por muito mais tempo".
Alice fez uma careta pra mim.
"Bella", ela disse pra mim. "Você sabe que
dia é hoje?"
"Segunda?"
Ela revirou os olhos. "Sim. É Segunda... dia quatro".
Ela puxou
meu cotovelo, me virou, e apontou para um grande pôster
amarelo
pregado na porta do ginásio. Lá, em letras pretas pontudas,
estava o dia da formatura. A exatamente uma semana de hoje.
"Dia quatro? De Junho? Você tem certeza?"
Nenhum dos dois respondeu.
Alice apenas balançou a cabeça tristemente, fingindo estar
desapontada, e as sobrancelhas de Edward se ergueram.
"Não pode ser! Como foi que isso aconteceu?" Eu
tentei fazer as
contas na minha cabeça, mas eu não conseguia descobrir pra
onde
os dias haviam ido.
Eu sentí como se alguém tivesse chutado as minhas pernas de
baixo de mim. As semanas de estresse, de preocupação... de
alguma forma, no meio de toda a minha obcessão com o tempo,
o
tempo tinha desaparecido. O meu espaço pra resolver tudo,
pra
fazer planos, havia desaparecido. Eu estava sem tempo.
E eu não estava preparada.
Eu não sabia como fazer isso. Como dizer adeus à Charlie e à
Renée... pra Jacob... a ser humana.
Eu sabia exatamente o que eu queria, mas de repente eu
estava
morrendo de medo de pegar.
Em teoria, eu estava ansiosa, e até apressada pra trocar a
mortalidade pela imortalidade. Afinal, ela era a chave pra
ficar
com Edward pra sempre. E aí havia o fato de que eu estava
sendo
caçada por inimigos conhecidos e desconhecidos. Eu
preferiria
não ficar sentada, desamparada e deliciosa, esperando que
eles
viessem me encontrar.
Em teoria, isso tudo fazia sentido.
Na prática... ser humana era tudo o que eu conhecia. O
futuro
além disso era um grande abismo escuro que eu não podia
conhecer até me jogar nele.
O simples conhecimento, a data de hoje - que era tão óbvia
que
eu devia estar repreendendo-a subconscientemente - fez com
que o prazo final pelo qual eu estive esperando tão
impacientemente, parecesse um encontro com um esquadrão de
tiro.
De uma maneira vaga, eu estava consciente de Edward
segurando
a porta aberta do carro pra mim, de Alice tagarelando no
banco
de trás, da chuva batendo no pára-brisa. Edward pareceu
reparar que eu só estava lá em corpo; ele não tentou me
tirar da
minha abstração. Ou talvez ele tentou, e eu não reparei.
Nós acabamos em minha casa, onde Edward me levou até o sofá
e
me puxou pra baixo com ele. Eu olhei pela janela, para a névoa
cinza líquida, e tentei descobrir pra onde a minha resolução
havia
ido.
Porque eu estava entrando em pânico agora? Eu sabia que o
prazo
estava acabando. Porque devia me assustar que ele já
estivesse
aqui?
Eu não sei por quanto tempo ele me deixou olhar para a
janela em
silêncio. Mas a chuva já estava desaparecendo na escuridão
quando foi demais pra ele.
Ele colocou suas mãos frias em ambos os lados do meu rosto e
fixou seus olhos dourados em mim.
"Será que você poderia por favor me dizer o que você
está
pensando? Antes que eu fique louco?"
O que eu podia dizer pra ele? Que eu era covarde? Eu
procurei
pelas palavras.
"Seus lábios estão brancos. Fale, Bella"
Eu exalei em uma grande rajada. Por quanto tempo eu estive
prendendo a respiração?
"A data me pegou fora de guarda", eu sussurrei.
"Isso é tudo".
Ele esperou, seu rosto cheio de preocupação e ceticismo.
Eu tentei explicar. "Eu não tenho certeza... do que
dizer à
Charlie... o que dizer... como dizer..." A minha voz
escapou.
"Isso não é por causa da festa?"
Eu fiz uma careta. "Não. Mas obrigada por me
lembrar".
A chuva estava mais alta enquanto ele leu o meu rosto.
"Você não está pronta", ele sussurrou.
"Eu estou", eu mentí imediatamente, uma reação de
reflexo. Eu
pude notar que ele viu isso, então eu respirei fundo, e
contei a
verdade. "Eu tenho que estar".
"Você não tem que estar nada".
Eu podia sentir o pânico surgindo em meus olhos enquanto eu
falava as razões. "Victoria, Jane, Caius, quem quer que
fosse que
estava no meu quarto...!"
"Muito mais razões pra esperar".
"Isso não faz sentido, Edward!"
Ele pressionou as mãos com mais força no meu rosto e falou
deliberadamente devagar.
"Bella. Nenhum de nós teve a escolha. Você viu o que
isso fez...
com Rosalie, especialmente. Nós todos lutamos, tentando
reconciliar a nós mesmos por uma coisa sobre a qual nunca
tivemos controle. Não será assim pra você. Você vai ter uma
escolha".
"Eu já fiz a minha escolha".
"Você não vai passar por isso porque tem um espada
erguida
sobre a sua cabeça. Nós vamos tomar conta dos problemas, e
eu
vou tomar conta de você", ele prometeu.
"Quando não estivérmos passando por isso, não houver
nada
forçando a sua decisão, ai você pode decidir se unir à mim,
se
você ainda quiser. Mas não porque você está com medo. Você
não
será forçada a isso".
"Carlisle prometeu", eu murmurei, contrariando só
pelo hábito.
"Depois da formatura".
"Não até que você esteja pronta", ele disse com
uma voz segura.
"E definitivamente não enquanto você se sentir
ameaçada".
Eu não respondí. Eu não conseguia encontrar nada pra
discutir; no
momento eu não parecia encontrar o meu comprometimento.
"Ai", ele beijou a minha testa. "Nada com o
que se preocupar".
Eu rí um riso estremecido. "Nada além da distruição
iminente."
"Confie em mim".
"Eu confio".
Ele ainda estava observando o meu rosto, esperando que eu
relaxasse.
"Posso te perguntar uma coisa?", eu disse.
"Qualquer coisa".
Eu hesitei, mordendo o meu lábio, e aí fiz uma pergunta
diferente daquela que estava me preocupando.
"O que eu vou dar à Alice como presente de
formatura?"
______________________6
Ele riu silenciosamente. "Parecia que você ia dar a nós
dois
ingressos para um show-"
"Isso mesmo!" eu estava tão aliviada que quase
sorrí. "O show em
Tacoma. Eu ví o anúncio em um jornal na semana passada, e eu
pensei que seria uma coisa que você gostaria, já que você
disse
que o CD era bom".
"É uma ótima idéia. Obrigado".
"Eu espero que já não esteja lotado".
"É o pensamento que conta. Eu bem sei".
Eu suspirei.
"Tem outra coisa que você está querendo
perguntar", ele disse.
Eu fiz uma careta. "Você é bom".
"Eu tenho bastante prática em ler o seu rosto. Me
pergunte".
Eu fechei os olhos e me inclinei pra ele, escondendo o meu
rosto
no peito dele. "Você não quer que eu seja
vampira".
"Não, eu não quero.", ele disse suavemente.
"Isso não é uma
pergunta", ele testou depois de um momento.
"Bem... eu estava me preocupando com... porque você se
sente
assim".
"Se preocupando?" Ele escolheu as palavras com
surpresa.
"Você pode me dizer porque? Toda a verdade, sem poupar
meus
sentimentos?"
Ele hesitou um momento. "Se eu vou responder a sua
pergunta,
você vai me explicar a sua pergunta?"
Eu balancei a cabeça, o meu rosto ainda escondido.
Ele respirou fundo antes de responder. "Você podia
fazer coisa
muito melhor, Bella. Eu sei que vocêacredita que eu tenho
uma
alma, mas eu não estou inteiramente convencido nesse
aspecto, e
isso te arrisca..." Ele balançou a cabeça lentamente.
"Pra que eu
permita isso - deixar que você se torne o que eu sou só pra
que
eu nunca tenha que te perder - é o ato mais egoísta que eu
posso
imaginar. Eu quero isso mais do que qualquer outra coisa,
por mim
mesmo. Mas pra você, eu quero tão mais. Permitir isso -
parece
um crime. É a coisa mais egoísta que eu jamais terei que
fazer,
mesmo se eu viver pra sempre.
"Se houvesse uma forma de eu me transformar em humano
pra
você - não importa qual fosse o preço, eu pagaria".
Eu me sentei muito rígida, absolvendo isso.
Edward pensava que ele estava sendo egoísta.
Eu sentí o sorriso cruzar lentamente pelo meu rosto.
"Então... não é porque você está com medo de... não
gostar tanto
de mim quando eu for diferente - quando eu não for mais
macia e
quente e quando não tiver o mesmo cheiro? Você realmente me
quer, não importa no que eu me transforme?"
Ele exalou agudamente. "Você estava preocupada que eu
não
fosse gostar de você?" ele quis saber. Então, antes que
eu
pudesse responder, ele estava rindo. "Bella, pra uma
pessoa tão
intuitiva, você consegue ser tão obtusa!"
Eu sabia que ele pensava que era bobagem, mas eu estava
aliviada. Se ele realmente me queria, eu podia passar pelo
resto...
de alguma forma. Egoísta, de repente pareceu ser uma palavra
linda.
"Eu não acho que você se dá conta do quão mais fácil
isso será
pra mim, Bella", ele disse, o eco do seu humor ainda
estava em
sua voz. "quando eu não tiver mais que me concentrar o
tempo
todo em te matar. Crtemente, haverão coisas das quais eu
sentirei falta. Isso pra começar..."
Ele me olhou nos olhos enquanto alisava a minha bochecha, e
eu
sentí o sangue correr e colorir o meu rosto. Ele riu
gentilmente.
"E o som do seu coração", ele continuou, mais
sério, mas ainda
sorrindo um pouco. "É o som mais significante no mundo.
Eu estou
tão conectado a ele agora, que eu juro que poderia
identificá-lo à
milhas de distância. Mas nenhum dessas coisas importa.
Isso",
ele disse pegando o meu rosto nas mãos. "Você. É isso
que eu vou
guardar. Você sempre será a minha Bella, só que você só será
um
pouco mais durável".
Eu suspirei e deixei os meus olhos se fecharem de
contentamento, descansando nas mãos dele.
"Agora, você vai responder uma pergunta pra mim? A
verdade,
sem poupar os meus sentimentos?" ele perguntou.
"É claro", eu respondí imediatamente, meus olhos
se abrindo com
a surpresa.
Ele falou as palavras lentamente. "Você não quer ser
minha
esposa".
O meu coração parou e depois começou a saltar. Um suor frio
se
acumulou na minha nuca e as minhas mãos se transformaram em
gelo.
Ele esperou, observando e escutando a minha reação.
"Isso não é uma pergunta", eu finalmente
sussurrei.
Ele olhou pra baixo, seu cílios formando grandes sombras nas
maçãs de seu rosto, e ele deixou as mãos caírem do meu rosto
pra pegar a minha mão esquerda congelada. Ele brincou com os
meus dedos enquanto falava.
"Eu estava me preocupando com porque você sente desse
jeito"
Eu tentei engolir. "Isso também não é uma
pergunta", eu
cochichei.
"Por favor, Bella?"
"A verdade?", eu perguntei, apenas formando as
palavras com a
boca.
"É claro. Eu posso aguentar, seja lá o que for".
Eu respirei fundo. "Você vai rir de mim".
Ele virou se olhar pra mim, chocado. "Rir? Eu não posso
imaginar
isso".
"Você vai ver", eu murmurei, e depois suspirei. O
meu rosto foi
de branco para um repentino tom escarlate com o pesar.
"tá,
tudo bem. Eu tenho certeza que isso tudo vai soar como uma
grande piada pra você, mas realmente! É tão... tão...
embaraçoso!", eu confessei, e escondí meu rosto no
peito dele de
novo.
Houve uma breve pausa.
"Eu não estou te entendendo".
Eu levantei a minha cabeça de volta e encarei ele, a
vergonha me
deixou brava, agressiva.
"Eu não sou aquela garota, Edward. Aquela que se casa
logo
quando sai da escola como se fosse uma garota de interior
que se
apaixonou pelo namorado! Você sabe o que as pessoas iriam
dizer? Você sabe que século é esse? As pessoas não se casam
aos
dezoito anos! Não as pessoas inteligentes, não as pessoas
responsáveis, não as pessoas maduras! Eu não ia ser aquela
garota! Essa não sou eu..." Eu parei, pendendo a
trilha.
O rosto de Edward era impossível de ler enquanto ele pensava
na
minha resposta.
"Isso é tudo?", ele perguntou finalmente.
Eu pisquei. "Já não é o suficiente?"
"Não é porque você estava mais ansiosa... com a
imoralidade em sí
do que apenas por mim?"
E aí, apesar de eu ter previsto que ele ia rir, de repente
era eu
que estava ficando histérica.
"Edward!", eu ofeguei entre os paradoxismos das
risadas. "E
aqui... eu sempre... pensei que... você fosse... tão mais...
inteligentes que eu!"
Ele me pegou em seus braços, e eu podia sentir que ele
estava
rindo comigo.
"Edward", eu disse, conseguindo falar mais
claramente com certo
esforço. "não há necessidade de viver pra sempre sem
você. Eu
não ia querer um dia sem você".
"Bem, isso é um alívio", ele disse.
"Ainda assim... isso não muda nada".
"No entanto, é bom entender. E eu compreendo a sua
perspectiva, Bella, eu realmente compreendo. Mas eu gostaria
muito so você considerasse a minha".
Até aí eu já estava sóbria, então eu balancei a cabeça e lutei
pra
não fazer uma careta.
Seus olhos dourados líquidos ficaram hipnóticos enquanto
seguravam os meus.
"Entenda, Bella, eu era aquele garoto. No meu mundo, eu
já era
um homem. Eu não estava procurando por amor - não, eu estava
ansioso demais por ser soldado pra me preocupar com isso; eu
não pensava em nada além do ideal de glória de guerra que
eles
estavam vendendo para os cadetes na época - mas se eu
tivesse
descoberto..." Ele pausou, pendendo a cabeça para o
lado. "Eu ia
dizer: se eu tivesse encontrado alguém, mas isso não basta.
Se
eu tivesse encontrado você, não há dúvida na minha cabeça
sobre
o que eu teria feito. Eu era aquele garoto, que teria -
assim que
eu tivesse descoberto que era por você que eu estava
procurando
- ficaria de joelhos e seguraria a sua mão. Eu iria querer
você
pela eternidade, mesmo se essa palavras não tivesse as
mesmas
conotações".
Ele sorriu seu sorriso torto pra mim.
Eu encarei ele com os meus olhos arregalados congelados.
"Respire, Bella", ele me lembrou, sorrindo.
Eu respirei.
"Você pode ver o meu lado, Bella, um pouquinho?"
E por um segundo, eu pude. Eu ví eu mesma com uma saia longa
e
com uma blusa de gola alta, com o meu cabelo preso em um
coque
em cima da minha cabeça. Eu ví Edward vindo na luz do sol
com
um buquê de flores do campo na mão, se sentando ao meu lado
num balanço na varanda.
Eu balancei minha cabeça e engoli seco. Eu estava tendo
flashbacks com Anne of Green Gables.
"O negócio é, Edward" eu disse com minha voz
tremendo,
evitando a pergunta. "na minha cabeça, casamento e
eternidade
não são conceitos mutuamente exclusivos ou mutualmente
inclusivos. E já que estamos vivendo no meu mundo no
momento,
nós devíamos seguir o tempo, se você entende o que eu quero
dizer".
"Mas por outro lado", ele contrariou. "em
breve você estara
deixando o tempo completamente pra trás. Então porque esse
costumes transitórios de cultura local deveriam afetar tanto
essa decisão?"
Eu torcí os lábios. "Quando em Roma?"
Ele riu de mim. "Você não tem que dizer sim ou não
hoje, Bella. É
bom entender ambos os lados, no entanto, você não
acha?"
"Então a sua condição...?"
"Ainda está em efeito. Entendo o seu ponto, Bella, mas
se você
quer que eu mesmo te mude..."
"Dum, dum, dah-dum", eu sofejei por baixo do
fôlego. Eu ia fazer
uma marcha nupcial, mas pareceu mais com um canto.
O tempo continuou a se mover muito rápido.
A noite se passou sem sonhos, e aí amanheceu e a formatura
estava me encarando. Eu tinha uma pilha de coisas pra
estudar
para as minhas provas finais e eu sabia que não conseguiria
estudar nem a metade com os poucos dias que eu tinha de
sobra.
Quando eu descí para o café da manhã, Charlie já tinha ido
embora. Ele tinha deixado o jornal em cima da mesa, e isso
me
lembrou que eu tinha compras a fazer. Eu esperava que o
anuncio
do show ainda estivesse rolando; eu precisava do número de
telefone pra comprar as estúpidas entradas. Não parecia mais
um bom presente agora que não era mais surpresa. É claro,
tentar surpreender Alice não era o plano mais brilhante, pra
começo de história.
Eu esperava ir diretamente para a seção de entretenimento,
mas
a machete em letras grossas e pretas me chamou a atenção. Eu
sentí uma pontada de medo enquanto chegava mais perto pra
ler
a primeira página da história.
SEATTLE ATERRORIZADA POR ASSASSINATOS
Fazem menos de dez anos desde que a cidade de Seattle estava
caçando o mais perigoso dos serial-killers da história dos
E.U.
Gary Ridgeway, o assassino de Green River, foi condenado
pelo
assassinato de 48 mulheres. E agora, a assediada Seattle tem
que lidar com a possibilidade de estar lidando com um
monstro
ainda mais aterrorizante dessa vez.
A polícia não acha que a recente onda de homicídios e
desaparecimentos seja trabalho de um serrial-killer. Pelo
menos,
ainda não. Este assassino - se, na verdade, for apenas uma
pessoa
- teria sido acusada por 39 homicídios qualificados e
desaparecimentos apenas em menos de três meses.
Em comparação, a onda de 48 assassinatos provocada por
Ridgeway foi espalhada num período de mais de 21 anos. Se
essas
mortes puderem ser ligadas a apenas um homem, então, esse
seria o mais violento ataque de um assassino em série da
história
Americana.
A polícia, no entanto, está inclinada na teoria de um
involvimento
com atividade de gangues. Ele teoria é apoiada pelo grande
npumero de vítimas, e pelo fato de que não parece haver um
padrão de escolha entre as vítimas.
De Jack o Estripador à Ted Bundy, os alvos de serial-killers
estão geralmente conectados por similaridades em idade,
gênero,
raça, ou uma combinação dos três. As vítimas desse ataque de
crimes têm idades entre a da estudante Amanda Reed de 15
anos, ao carteiro aposentado, Omar Janks, de 67 anos de
idade.
Os assassinatos qualificados incluem cerca de 18 mulheres e
21
homens. As vítimas tinham raças diversas: Caucasianos,
Afro-Americanos, Hispânicos e Asiáticos.
A seleção parece ser randômica. O motivo parece não ter
outra
razão a não ser simplesmente matar.
Então porque considerar a idéia de um serrial-killer?
Existem similaridades suficiente no modo de operação dos
crimes para selecioná-los como crimes não relacionados.
Todos as
vítimas descobertas foram queimadas a tal ponto que foi
necessário um exame de arcada dentária para identificá-los.
O
uso de algum acelerante, gasolina ou álcool, parece ser um
indicativo das conflagrações; nos entanto, nenhum traço de
acelerantes parecem ter sido encontrado ainda. Todos os corpos
foram enterrados negligentemente, sem tentativa de
encobrimento.
Mais horrível ainda, a maioria dos restos parece conter
sinais de
violência brutal - ossos quebrados e esmagados por algum
tipo de
pressão tremenda - que os médicos examinadores acreditam
haver ocorrido antes da hora da morte, apesar de se ser
difícil
ter certeza sobre essas conclusões, considerando o estado
das
evidências.
Outra similaridade que aponta para a possibilidade de um
serrial:
todos os crimes estão perfeitamente limpos de evidências,
além
dos restos por sí só. Nenhuma impressão digital, nenhuma
marca
de pneu ou um fio de cabelo é deixado pra trás. Não houve
nenhuma testemunha oculares para nenhum suspeito nos
desaparecimentos.
E então temos os próprios desaparecimentos - altamente
sigilosos em todos os aspectos. Nenhuma das vítimas podia
ser
considerada um alvo fácil. Nenhum deles era um fugitivo ou
sem
teto, que desaparecem tão facilmente e que dificilmente têm
seus desaparecimentos reportados. Vítimas desapareceram de
suas casas, de um apartamento de quatro andares, de um spa,
de
uma recepção de casamento. Talvez o mais impressionante: o
boxeador amador de 30 anos de idade, Robert Walsh, entrou em
um cinema com sua acompanhante; depois de poucos minutos no
cinema, a mulher se deu conta de que ele não estava em seu
lugar. O corpo dele foi encontrado apenas três horas depois
quando os bombeiros foram chamados à cena de um lixão em
incêndio, a vinte quilômetros de distância.
Outro padrão presente nos assassinatos: todas as vítimas
desapareceram à noite.
E o padrão mais alarmante? Aceleração. Seis homicídios foram
cometidos no primeiro mês, 11 no segundo. Vinte e dois
ocorreram apenas nos últimos dois dias. E a polícia não está
mais
perto de encontrar o responsável do que estavam quando o
primeiro corpo carbonizado foi encontrado.
A evidência é conflitante, os pedaços são aterrorizantes.
Uma
nova gangue viciada ou um serial-killer selvagemente ativo?
Ou
alguma outra coisa que a polícia ainda não tenha levado em
consideração?
Uma única conclusão é indesputável: algo horrível está
perseguindo Seattle.
______________________7
Eu precisei tentar três vezes pra ler a última frase, e eu
me dei
conta de que o problema era o estremecimento das minhas
mãos.
"Bella?"
Focada como eu estava, a voz de Edward, apesar de baixa e
não
totalmente inexperada, me fez ofegar e girar.
Ele estava inclinado na porta, com as sobrancelhas juntas.
Então,
de repente ele estava ao meu lado, segurando a minha mão.
"Eu assustei você? Eu lamento. Eu não batí..."
"Não, não", eu disse rapidamente. "Você já
viu isso?" Eu apontei
para o jornal.
Uma careta enrugou a testa dele.
"Eu ainda não ví as notícias de hoje. Mas eu sabia que
estava
piorando. Nós vamos ter que fazer alguma coisa...
rapidamente".
Eu não gostei disso. Eu odiava qualquer um deles tentando a
sorte, e o que quer ou quem quer que estivesse em Seattle
estava realmente começando a me assutar. Mas a idéia dos
Volturi voltando era igualmente assutadora.
"O que Alice diz?"
"Esse é o problema" A careta dele endureceu.
"Ela não consegue
ver nada... apesar de já termos decidido um milhão de vezes
que
nós vamos investigar. Ela está começando a perder a
confiança.
Ela sente como se estivesse perdendo muito esses dias, que
alguma coisa está errada. Talvez as visões dela estejam
desaparecendo".
Meus olhos arregalaram. "Isso pode acontecer?"
"Quem sabe? Ninguém nunca fez um estudo... mas eu realmente
duvido. Essas coisas tendem a intensificar com o tempo. Olhe
pra
Aro e Jane".
"Então o que ha de errado?"
"Profecias auto-realizáveis, eu acho. Nós continuamos
esperando
que Alice veja alguma coisa pra que possamos ir... e ela não
vê
nada porque nós não iremos até que ela veja alguma coisa.
Então
ela não pode nos ver lá. Talvez nós tenhamos que fazer isso
às
cegas".
Eu estremecí. "Não".
"Você tem um forte desejo de assitir aula hoje? Nós só
estamos
a dois dias das provas finais; eles não vão nos ensinar nada
novo".
"Eu posso viver sem escola por um dia. O que vamos
fazer?"
"Eu quero falar com Jasper".
Jasper se novo. Isso era estranho. Na família Cullen, Jasper
estava sempre um pouco de lado, parte das coisas, mas nunca
no
centro delas. A minha assunção silênciosa era de que ele só
estava lá por Alice. Eu tinha a sensação de que ele seguiria
Alice
pra onde quer que fosse, mas esse estilo de vida não era sua
primeira escolha.
O fato de que ele tinha menos comprometimento do que os
outros era provavelmente o motivo pelo qual ele tinha mais
dificuldade de se ajustar.
De qualquer forma, eu nunca havia visto Edward se sentir
dependente de Jasper. Eu me perguntei de novo o que ele
queria
dizer sobre Jasper ser um expert. Eu realmente não sabia
muito
sobre a história de Jasper, só que ele tinha vindo de algum
lugar
no sul antes de Alice encontrar ele. Por alguma razão,
Edward
sempre se esquivava de perguntas sobre seu irmão mais novo.
Eu
sempre me sentí intimidada demais pelo alto vampiro loiro
que
parecia mais com um astro de cinema em ascenção pra
perguntá-lo diretamente.
Quando estávamos na casa, nós encontramos Carlisle, Esme, e
Jasper assistindo atentamente o noticiário, apesar do som estar
tão baixo que era impossível pra mim ouvir. Alice estava
sentada
no topo da grande escadaria, o rosto nas mãos com uma
expressão desencorajada. Enquanto entrávamos, Emmett entrou
pela porta da cozinha, parecendo perfeitamente tranquilo.
Nada
nunca incomodava Emmett.
"Ei, Edward. Faltando aula, Bella?" Ele sorriu pra
mim.
"Nós dois estamos", Edward lembrou ele.
Emmett riu. "Sim, mas é a primeira vez dela no
colegial. Ela pode
perder alguma coisa".
Edward rolou os olhos, de outra maneira ignorando seu irmão
favorito. Ele jogou o jornal pra Carlisle.
"Você viu que agora eles estão considerando um
serial-killer?",
ele perguntou.
Carlisle suspirou. "Eles estavam com dois especialistas
no CNN
debatendo essa possibilidade hoje".
"Nós não podemos continuar assim".
"Vamos agora", Emmett disse com um entusiasmo
repentino. "Eu
estou morto de chateação".
Um assobio ecoou de cima das escadas até embaixo.
"Ela é tão pessimista", Emmett murmurou pra sí mesmo.
Edward concordou com Emmett. "Não vamos ter que ir
alguma
hora".
Rosalie apareceu no topo das escadas e desceu lentamente. O
rosto dela estava suave, sem expressão.
Carlisle estava balançando a cabeça. "Eu estou
preocupado. Nós
nunca nos envolvemos nesse tipo de coisa antes. Não somos
Volturi".
"Eu não quero que os Volturi venham aqui", Edward
disse. "Isso
nos dá muito menos tempo de reação".
"E todos aqueles humanos inocentes em Seattle",
Esme
murmurou. "Não pe certo deixá-los morrer desse
jeito".
"Eu sei", Carlisle disse.
"Oh", Edward disse repentinamente, virando sua
cabeça um
pouco pra olhar pra Jasper. "Eu acho que não tinha
pensado
nisso. Eu entendo. Você está certo, tem que ser isso. Bem,
isso
muda tudo".
Eu não fui a única que o encarou confusa, mas eu devo ter
sido a
única que não pareceu nem um pouco incomodada.
"Eu acho que é melhor você explicar aos outros",
Edward disse
pra Jasper. "Qual seria o propósito disso?",
Edward começou a
andar de um lado pro outro, olhando para o chão, perdido em
pensamentos.
Eu não tinha visto ela se levantar, mas Alice já estava lá
ao meu
lado. "Porque ele está vagando?" ela perguntou a
Jasper. "O que
você está pensando?"
Jasper não pareceu gostar de toda a atenção. Ele hesitou,
lendo
cada um dos rostos no círculo - já que todo mundo tinha se
aproximado pra ouvir o que ele tinha a dizer - e então os
olhos
dele pausaram no meu rosto.
"Você está confusa", ele disse pra mim, sua voz
profunda estava
muito baixa.
Não havia pergunta em sua suposição. Jasper sabia o que eu
estava sentindo, o que todos estavam sentindo.
"Nós estamos todos confusos", Emmett murmurou.
"Vocês têm tempo pra ser pacientes", Jasper disse
a ele. "Bella
devia entender isso também. Ela é uma de nós agora".
As palavras dele me pegaram de surpresa. Tão pouco que eu
havia
lidado com Jasper, especialmente desde o meu último
aniversário
quando ele tentou me matar, eu não havia me dado conta de
que
ele pensava em mim desse jeito.
"Quanto você sabe sobre mim, Bella?", Jasper
perguntou.
Emmett suspirou teatralmente, e se atirou no sofá pra
esperar
com exagerada impaciência.
"Não muito", eu admití.
Jasper olhou pra Edward, que olhou pra cima pra encontrar
seu
olhar.
"Não", Edward respondeu o seu pensamento. "Eu
tenho certeza
que você entende porque eu nunca contei essa história pra
ela.
Mas eu acho que ela precisa saber agora".
Jasper balançou a cabeça pensativamente, e aí começou a
enrolar
pra cima a manga do seu suéter marfim.
Eu observei, curiosa e confusa, tentando entender o que ele
estava fazendo. Ele segurou o seu pulso embaixo de uma
luminária que estava ao lado dele, perto da luz da lâmpada,
e
passou o dedo em uma marca crescente em sua pele pálida.
Eu levei um segundo pra entender porque aquela forma me
parecia estranhamente familiar.
"Oh", eu respirei quando a realização bateu.
"Jasper, você tem
uma cicatriz exatamente igual a minha".
Eu levantei minha mão, a protuberância prateada era mais
proeminente na minha pele cor de creme do que na sua, cor de
alabastro.
Jasper sorriu fracamente. "Eu tenho muitas cicatrizes
como as
suas, Bella".
O rosto de Jasper estava ilegível enquanto ele puxava a
manga
do seu suéter mais pra cima. No início, os meus olhos não
conseguiram entender a textura grossa que estava marcada na
pele dele. Meias luas cruzadas umas por cimas das outras em
um
padrão que só era visível, branco no branco como era, porque
o
forte brilho da lâmpada ao lado dele fazia com que as marcas
ficassem um pouco em relevo, com uma leve sombra marcando as
formas. E então eu entendí que o padrão era feito com meias
luas
individais como a no pulso dele... como a da minha mão.
Eu olhei de volta para a minha cicatriz pequena, solitária -
e me
lembrei de como eu a recebí. Eu olhei para a forma dos
dentes de
James, embossada pra sempre na minha pele.
E aí eu sufoquei, olhando pra ele. "Jasper, o que
aconteceu com
você?"
13. Recém-nascido
“A mesma coisa que aconteceu na sua mão”, Jasper respondeu
numa voz baixa. “Repetido mil vezes”. Ele sorriu um pouco
amargamente e esfregou seu braço. “O nosso veneno é a única
coisa que deixa cicatriz”.
“Porque?, eu respirei horrorizada, me sentindo rude mas me
sentindo incapaz de desviar os olhos da sua pele subitamente
castigada.
“Eu não tive a mesma... criação que os meus irmãos adotivos
aqui.
O meu começo foi uma coisa inteiramente diferente”. A voz
dele
estava dura quando ele terminou.
Eu abri uma brecha pra ele, intimidada.
“Antes que eu te conte a minha história”, Jasper disse.
“Você
precisa entender que existem lugares no nosso mundo, Bella,
onde o tempo de vida daqueles que não envelhecem é medida em
semanas, e não em séculos”.
Os outros já tinham ouvido isso antes. Carlisle e Emmett
viraram
sua atenção para a TV de novo. Alice havia se movido um
pouco
pra se sentar aos pés de Esme. Mas Edward estava tão
absolvido
quando eu; eu podia sentir os olhos dele no meu rosto, lendo
cada
mudança de emoção.
"Pra entender realmente o porque, você tem que olhar
pra o
mundo por uma perspectiva diferente. Você tem que imaginar o
jeito como ele parece para os poderosos, os gananciosos...
os
perpetuamente sedentos.
"Entenda, existem lugares no mundo que são mais
desejáveis pra
nós do que outros. Lugares onde nós podemos ter menos
restrições, e ainda evitar a detecção.
"Imagine, por exemplo, um mapa do hemifério oeste.
Imagine
cada vida humana como um pequeno ponto vermelho. Quanto mais
vermelho, mas facilmente nós - bem, aqueles que vivem desse
jeito - podem se alimentar sem atrair atenção".
Eu estremecí com a imagem na minha cabeça, com a palavra
alimentar. Mas Jasper não estava preocupado em me assustar,
ele não era super protetor como Edward era. Ele continuou
sem
uma pausa.
"Não que os grupos ao sul liguem muito se os humanos
vão notar
ou não. São os Volturi que mantêm um olho nisso. Eles são os
únicos que os grupos do sul temem."
"Se não fossem os Volturi, o resto de nós seria
rapidamente
exposto".
Eu fiz uma careta pelo jeito que ele pronunciou o nome - com
respeito, quase gratidão. A idéia dos Volturi como os
mocinhos
de qualquer maneira era difícil de aceitar.
"O Norte é, em comparação, muito civilizado. A maioria
de nós
daqui são nômades que gostam do dia tanto quanto da noite,
que
permitem que os humanos interajam conosco sem levantar
suspeitas - anonimato é muito importante pra todos nós.
"É um mundo diferente no Sul. Os imortais de lá só saem
à noite.
Eles passam o dia planejando seu próximo passo, antecipando
seu
inimigo. Como houve guerra no Sul, guerra constante por
séculos,
sem nenhum momento de trégua. Os grupos de lá mal reparam na
existência dos humanos, a não ser como soldados que notam um
rebanhos de vacas no lado de uma pista - comida pra pegar.
Eles
só se escondem do conhecimento do rebanho por causa do
Volturi".
"Mas pelo quê eles estão lutando?" eu perguntei.
Jasper sorriu. "Lembra do mapa com os pontos
vermelhos?"
Ele esperou, então eu balancei a cabeça.
"Eles lutam pelo controle do maior número de pontos
vermelhos.
"Veja, se ocorresse que uma pessoa, se ele fosse o
único vampiro,
digamos no Novo México, então, ele poderia se alimentar toda
noite, duas vezes, três vezes, e ninguém nunca repararia.
Ele
planeja as formas certas pra se livrar da competição.
"Outros tiveram a mesma idéia. Alguns apareceram com
táticas
mais efetivas do que outros.
"Mas a tática mais efetiva foi inventada por um vampiro
bastante jovem chamado Benito. Da primeira vez que qualquer
um
ouviu falar nele, ele tinha vindo de algum lugar à norte de
Dallas
e massacrou dois grupos pequenos que dividiam uma área perto
de Houston. Duas noites depois, ele pegou um clã muito mais
forte de aliados que controlava Monterrey no norte no
México.
De novo, ele venceu."
"Como foi que ele venceu?" eu perguntei com
curiosidade
cautelosa.
"Benito havia criado um exército de vampiros recém nascidos.
Ele foi o primeiro a pensar nisso, e, no começo, ele era
impossível
de parar. Vampiros jovens são muito voláteis, selvagens, e
quase
impossíveis de controlar. É possível ser razoável com um
recém-nascido, ensiná-lo a se controlar, mas dez, quinze juntos são um
pesadelo. Eles vão se virar um contra o outro com tanta
facilidade como se fosse um inimigo para o qual você aponta.
Benito teve que ficar fazendo mais à medida que eles se
destruíam, e os grupos que ele derrotava matavam metade de
sua
força antes de perderem a luta.
"Veja, apesar dos recém-nascidos serem perigosos, eles
ainda
são possíveis de derrotar se você souber o que está fazendo.
Eles são incrívelmente poderosos fisicamente, pelo primeiro
ano
ou coisa assim, e se eles forem permitidos a usar a força
pra
aguentar, eles podem derrotar um vampiro mais velho com
facilidade. Mas eles são escravos de seus instintos, e por
isso
são previsíveis. Geralmente, eles não tem nenhuma habilidade
com luta, apenas musculos e ferocidade. E nesse caso, maior
número.
"Os vampiros ao Sul do México se deram conta do que
estava
vindo pra eles, e fizeram a única coisa que podiam pra
enfrentar
Benito. Eles mesmos fizeram exércitos...
"E o inferno correu solto - e eu estou falando da forma
mais
literal que você possa imaginar. Nós imortais temos as
nossas
histórias também, e essa guerra em particular nunca será
esquecida. É claro, também não era uma época muito boa pra
se
ser humano no México".
Eu estremecí.
"Quando a contagem dos corpos tomou proporções
epidêmicas -
de fato, as suas histórias culpam as doenças pela baixa na
população - os Volturi finalmente interviram. A guarda
inteira
______________________8
veio junta e acabou com todos os recém-nascidos na metade de
cima da América do Norte. Benito estava escondido em Puebla,
construindo seu exército o mais rápido que podia pra poder
tomar o seu prêmio - a Cidade do México. Os Volturi
começaram
com ele, e depois passaram pro resto."
"Qualquer um que fossem encontrado com vampiros
recém-nascidos era executados imediatamente, e, já que todos estavam
tentando se proteger de Benito, México ficou esvaziada de
vampiros por algum tempo.
"Os Volturi ficaram limpando a casa por quase um ano.
Esse é
outro capítulo da nossa história que será sempre lembrado,
apesar de que houveram poucas testemunhas restantes pra
falar
de como foi. Eu falei com uma pessoa que uma vez tinha, à
distância, observado o que aconteceu quando eles visitaram
Culiancán".
Jasper estremeceu. Eu me dei conta de que eu nunca havia
visto
ele com medo ou aterrorizado antes. Essa era a primeira vez.
"Isso foi o suficiente pra que a febre de conquista não
se
espalhasse pelo Sul. O resto do mundo ficou são. Nos devemos
aos Volturi pelo nosso estilo de vida atual.
"Mas quando os Volturi voltaram para a Itália, os
sobreviventes
foram rápidos pra apostar em suas posses ao Sul.
"Não demorou muito tempo pra que os grupos começassem a
disputar novamente. Havia muito sangue ruim, se você perdoa
a
expressão. Vinganças por todo lado. A idéia dos
recém-nascidos
já estava lá, e alguns não foram capazes de resistir. Porém,
os
Volturi ainda não haviam sido esquecidos, e os grupos do sul
foram mais cuidadosos dessa vez. Os recém-nascidos eram
escolhidos entre os humanos com mais cuidado, e eram mais
treinados. Eles eram usados circunspectamente, e os humanos
continuaram, em grande parte, sem saber de nada. Os
criadores
deles não deram aos Volturi nenhum motivo pra voltar.
"As guerras foram reassumidas, mas em uma escala menor.
De
vez em quando, se alguém ia muito longe, especulações
começavam a aparecer nos jornais dos humanos, e os Volturi
voltavam pra limpar a cidade. Mas eles deixavam os outros,
os
mais cuidadosos, continuarem..."
Jasper estava olhando para o espaço.
"Foi assim que você foi transformado". A minha
realização foi um
sussurro.
"Sim", ele concordou. "Quando eu era humano,
eu viví em
Houston, Texas. Eu estava quase com dezessete anos quando eu
me juntei ao Exército Confederado em 1861. Eu mentí pra os
recrutadores e disse que tinha vinte anos. Eu era alto o
suficiente pra escapar com a mentira.
"A minha carreira militar foi curta, mas muito
promissora. As
pessoas sempre... gostaram de mim, escutaram o que eu tinha
a
dizer. O meu pai dizia que era carisma. É claro, agora eu
sei que
provavelmente era algo mais. Mas, qualquer que fosse a
razão, eu
fui rapidamente promovido entre as patentes, acima de homens
mais velhos, mais experientes. O Exército Confederado era
novo
e estava começando a se organizar, então, isso também
promoveu
oportunidades. Na primeira batalha em Galveston - bem, foi
mais
um desfarce, na verdade - eu era o Major mais novo do Texas,
se
que sequer soubessem minha verdadeira idade.
"Eu fiquei com a responsabilidade de evacuar as
mulheres e as
crianças da cidade quando os barcos do morteiro Union
atracaram no porto. Eu levei um dia pra prepará-los, e então
eu
partí com o primeiro grupo de civis pra carregá-los até
Houston.
"Eu me lembro daquela noite muito claramente.
"Nós chegamos à cidade quando já estava escuro. Eu só
fiquei
por tempo suficiente pra ter certeza se o grupo inteiro
estava
seguramente situado. Assim que isso foi feito, eu peguei um
cavalo novo pra mim, e voltei pra Galveston. Não havia tempo
pra
descansar.
"A apenas um metro fora da cidade, eu encontrei três
mulheres
a pé. Eu pensei que elas estavam perdidas e desmontei
imediatamente pra oferecê-las meu auxílio. Mas, quando eu
conseguí ver o rosto delas na luz difusa da lua, eu fiquei
silenciosamente fascinado. Elas eram, sem dúvida, as três
mulheres mais bonitas que eu já havia visto.
"Elas tinham uma pele tão pálida, que eu me lembro de
ficar
maravilhado. Mesmo a garota pequena de cabelos pretos, de
quem as feições era claramente mexicanas, pareciam porcelana
à
luz da lua."
"Elas pareciam jovens, todas elas, ainda jovens o
suficiente pra
serem chamadas de garotas. Eu sabia que elas não eram
membros
perdidos do nosso grupo. Eu teria me lembrado de vez aquelas
três.
"Ele está sem voz' disse a garota mais alta com uma voz
adorável, delicada - era como uma brisa de vento. Ela tinha
bastante cabelo, e a pele dela era branca como neve.
"A outra era mais loira e mesmo assim, sua pele era
igualmente
branca. O rosto dela era como o de um anjo. Ela inclinou na
minha
direção com os olhos meio fechados e inalou profundamente.
"Mmm' ela suspirou. 'Adorável'.
"A menor, uma morena pequena, colocou a mão no braço da
outra
e falou rapidamente. A voz dela estava muito suave e musical
pra
ser ríspida, mas isso parecia ser o que ela pretendia.
"Se concentre, Nettie', ela disse.
"Eu sempre tive uma boa sensação de como as pessoas se
relacionam umas com as outras, e ficou claro imediatamente
que
a morena estava no comando das outras. Se elas fossem
militares, eu diria que ela se sobressaía às outras.
"Ele parece ser certo - jovem, forte, um oficial...' a
morena
pausou, e eu tentei falar sem sucesso. 'E tem mais alguma
coisa...
vocês estão sentindo?' ela perguntou às outras duas. 'Ele
é...
coagente'.
"Oh, sim' Nettie concordou rapidamente, se inclinando
na minha
direção de novo.
"Paciencia', a morena avisou ela. 'Eu quero ficar com
esse'.
"Nettie fez uma careta, ela pareceu aborrecida.
"É melhor você fazer isso, Maria', a loira mais alta
falou de novo.
'Se ele é importante pra você. Eu os mato duas vezes mais do
que os crio'.
"'Sim, eu vou fazer isso', Maria concordou. 'Eu
realmente gosto
desse. Leve Nettie pra longe, tá? Eu não quero ter que
proteger
as minhas costas enquanto estou tentando me concentrar.'
"O meu cabelo estava arrepiando na minha nuca, apesar
não se eu
não entender o significado de nada do que aquelas lindas
criaturas estavam falando."
"Os meus instintos me diziam que eu estava em perigo,
que
aquele anjo estava falando sério quando falou em matar, mas
meu
julgamento dominou os meus instintos. Eu nunca fui ensinado
a
temer mulheres, e sim a protegê-las.
"Vamos caçar', Nettie concordou entusiasticamente,
pegando a
mão da garota alta. Elas foram embora - elas eram tão
graciosas!
- e saíram em direção à cidade. Elas pareciam prestes a
levantar
vôo, de tão rápidas que eram - seus vestidos brancos
esvoaçavam
atrás delas como se fossem asas. Eu pisquei pasmificado, e
elas
foram embora.
"Eu me virei pra encarar Maria, que estava me olhando
com
curiosidade.
"Eu nunca havia sido supersticioso em minha vida. Até
aquele
segundo, eu nunca havia acreditado em fantasmas e nessas
bobagens. De repente, eu não tinha certeza.
"Qual é o seu nome, soldado?' Maria me perguntou.
"Major Jasper Withlock, madame', eu gaguejei, incapaz
de ser
mal educado com a mulher, mesmo se ela fosse um fantasma.
"Eu realmente espero que você sobreviva, Jasper'. Ela
disse com
uma voz gentil. 'Eu tenho um bom sentimento sobre você.'
"Ela deu um passo mais pra perto, e inclinou a cabeça
como se ela
fosse me beijar. Eu fiquei congelado no lugar, apesar dos
meus
instintos estarem gritando pra que eu corresse."
Jasper pausou, seu rosto estava pensativo. "Alguns dias
depois",
ele finalmente disse, e eu não pude ter certeza se ele havia
editado a história pro meu bem ou porque ele estava
respondendo à tensão que até eu podia sentir exalando de
Edward. "Eu fui apresentado à minha nova vida.
"Os nomes delas eram Maria, Nettie, e Lucy. Elas não
estavam
juntas ha muito tempo - Maria havia encontrado as outras
duas -
todas as três eram sobreviventes de batalhas recentemente
perdidas. A parceria delas era de conveniência. Maria queria
vingança, e ela queria seus territórios de volta. As outras
duas
estavam ansiosas pra aumentar suas... terras de rebanho, eu
acho
que você pode dizer. Elas estavam criando um outro exército,
e
iam ser mais cuidadosas com isso do que o normal."
"Foi idéia de Maria. Ela queria um exército superior,
então ela
escolhia humanos específicos que tivessem potencial. Aí ela
nos
deu muito mais atenção, muito mais treinamento do que outra
pessoa tinha se incomodado em fazer. Ela nos ensinou a
lutar, e
nos ensinou a ser invisíveis para os humanos. Quando nós
fazíamos direito, nós éramos recompensados..."
Ele parou, editando de novo.
"No entanto, ela estava com pressa. Maria sabia que a
força
massiva dos recém-nascidos ia diminuindo no período de um
ano,
e ela queria agir enquanto éramos fortes.
"Haviam seis de nós quando eu me juntei ao bando de
Maria. Ela
fez mais quatro no período de uma noite. Nós éramos todos
homens - Maria queria soldados - e isso fez com que fosse um
pouco mais dificil não brigarmos entre nós mesmos. Eu lutei
minhas primeiras batalhas contra os meus próprios camaradas
no
exército. Eu era mais rápido que os outros, melhor no
combate.
Maria estava satisfeita comigo, apesar de ter que continuar
repondo aqueles que eu destruía. Eu era recompensado com
frequência, e isso me deixava mais forte.
"Maria era uma boa juíza de caráter. Ela decidiu me
colocar no
comando dos outros - como se eu estivesse sendo promovido.
Isso servia perfeitamente com a minha natureza. As brigas
diminuiram dramaticamente, e o nosso número aumentou até que
éramos cerca de vinte.
"Esse era um número considerável levando em
consideração os
tempos cuidadosos em que vivíamos. A minha habilidade, ainda
que indefinida, de controlar a atmosfera emocional ao meu
redor
era vitalmente efetiva. Em breve nós começamos a trabalhar
juntos de uma forma que os vampiros recém-nascidos jamais
haviam cooperado antes. Até Maria, Nettie, e Lucu eram
capazes
de trabalhar juntas com mais facilidade.
"Maria ficou muito apegada a mim - ela começou a
depender de
mim. E, de algumas formas, eu adorava o chão em que ela
pisava.
Eu não fazia idéia de que outra vida era possível. Maria nos
disse
que esse era o jeito como as coisas eram, e nós
acreditamos".
"Ela pediu que eu dissesse a ela quando os meus irmãos
e ela
estivéssemos prontos pra lutar, e eu estava ansioso pra me
provar. Eu havia juntado um exército de vinte e três no
final -
vinte e três vampiros inacreditavelmente fortes, organizados
e
habilidosos com nenhum outro antes. Maria estava estasiada.
"Nós nos movemos em direção à Monterrey, sua antiga
casa, e ela
no soltou em cima de seus inimigos. Naquela hora eles só
tinham
nove recém-nascidos, e um par de vampiros mais velhos
controlando eles. Nós os derrotamos mais facilmente do que
Maria podia acreditar, perdendo apenas quatro no processo.
Eu
estava na ponta da margem de vitória.
"E nós éramos todos bem treinados. Nós fizemos isso sem
atrair
atenção. Naquele primeiro ano, ela estendeu seu controle pra
controlar a maior parte do Texas e do norte do México. Então
os
outros vieram do Sul pra enfrentar ela."
Ele passou dois dedos nas fracas marcas das cicatrizes no
braço
dele.
"A luta foi intensa. Muitos começaram a se preocupar
que os
Volturi fossem voltar. Dos vinte e três originais, eu fui o
único a
sobreviver nos primeiros oito meses. Nós tanto perdemos
quanto
vencemos. Eventualmente Nettie e Lucy se viraram contra Maria
- mas essa nós vencemos.
"Maria e eu fomos capazes de segurar Monterrey. As
coisas de
acalmaram um pouco, apesar das guerras continuarem. A idéia
de
conquista estava morrendo; agora a maioria era por vingança
e
por terras. Muitos deles haviam perdido seus parceiros, e
isso é
uma coisa que a nossa espécie não perdoa.
"Maria e eu sempre mantínhamos cerca de doze
recém-nascidos
prontos. Eles significavam pouco pra nós - eles eram moeda
de
troca, eram descartáveis. Quando eles não eram mais úteis,
nós
mesmos nos livrávamos deles. A minha vida continuou o mesmo
padrão violênto e o ano se passou. Eu já estava de saco
cheio de
tudo muito antes das coisas mudarem...
"Décadas depois, eu desenvolví uma amizade com um
recém-nascido que continuou sendo útil e sobreviveu aos seus três
primeiros anos, apesar das chances."
"O nome dele era Peter. Eu gostava de Peter; ele era...
civilizado
- eu acho que essa é a palavra correta. Ele não gostava de
lutar,
apesar de ser bom nisso.
"Ele foi encarregado de lidar com os recém-nascidos -
ser babá
deles, pode-se dizer. Era um trabalho de tempo integral.
"E aí era hora de fazer uma limpeza de novo. Os
recém-nascidos
iam perdendo a força; eles precisavam ser repostos. Era pra
Peter me ajudar com isso. Nós cuidávamos deles
individualmente,
entende, um por um... Era sempre uma noite muito longa.
Dessa
vez, ele tentou me convencer de que alguns tinham potencial,
mas
Maria havia me dado instrunções pra me livrar deles. Eu
disse
não a ele.
"Nós estavamos quase na metade, e eu podia sentir que
isso
estava exigindo uma grande carga de Peter. Eu estava
decidindo
se eu devia ou não mandá-lo embora e acabar com tudo sozinho
enquanto eu chamava a próxima vítima. Pra minha surpresa,
ele
ficou com raiva de repente, furioso. Eu suportei o que quer
que
fosse que o humor dele queria dizer - ele era um bom
lutador,
mas não era páreo pra mim.
"O recém-nascido que eu havia chamado era uma fêmea,
que
havia acabado de completar um ano. O nome dela era
Charlotte.
Os sentimentos dele mudaram quando ela apareceu; eles o
traíram. Ele gritou pra que ela corresse, e ele mesmo correu
atrás dela. Eu podia ter perseguido eles, mas não perseguí.
Eu
sentí... aversão a destruí-lo.
"Maria ficou irritada comigo por isso.
"Cinco anos depois, Peter voltou pra me ver. Ele
escolheu um bom
dia pra aparecer.
"Ela estava confusa com o meu humor já deteriorado. Ela
nunca
sentia uma depressão momentânea, e eu me perguntei porque eu
era diferente. Eu comecei a notar a diferença nas emoções
dela
quando ela estava perto de mim - as vezes ela ficava com
medo...
e com malícia. Eu estava me preparando pra distruir a minha
única aliada, a semente da minha existência, quando Peter
retornou.
"Peter me contou sobre sua nova vida com Charlotte, me
contou
sobre opções que eu nunca sonhei que tivesse."
"Em cinco anos, eles nunca tiveram uma briga, apesar
deles
haverem conhecido muitos outros no norte. Outros que podiam
co-existir sem viverem em um caos constante.
"Em uma conversa, ele convenceu. Eu estava pronto pra
ir
embora, e um pouco aliviado por não ter que matar Maria. Eu
fui
companheiro dela por tantos anos quantos Carlisle e Edward
estiveram juntos, e mesmo assim, o laço entre nós nem de
perto
era tão forte quanto o deles. Quando você vive para a luta,
para
o sangue, os relacionamentos que você forma são tenazes e
facilmente quebrados. Eu fui embora sem olhar pra trás.
"Eu viajei com Peter e Charlotte por alguns anos, tento
uma
sensação desse mundo novo, mas pacífico. Mas a depressão não
foi embora. Eu não entendia o que havia de errado comigo,
até
que Peter começou a reparar que eu sempre ficava pior depois
de
caçar.
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