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Eclipse (Português) Parte 3





Eclipse
STEPHENIE MEYER
Terceiro livro da série
 ‘Crepúsculo’.
esta é a Parte 2



como Ben lidaria com isso?" ela meditou.
Eu dei um meio sorriso. "Provavelmente como qualquer outro
garoto".
Ela riu. "Provavelmente"
Aí ela mudou de assunto. Angela não era de forçar a barra, e ela
pareceu pressentir que eu não ia - que eu não podia - dizer mais
nada.
"Eu peguei a minha inscrição para o dormitório hoje. O prédio
mais afastado do campus, naturalmente".
"Ben já sabe onde ele vai ficar?"
"No dormitório mais próximo do campus. Ele ficou com toda a
sorte. E quanto a você? Você já decidiu pra onde vai?"
Eu olhei pra baixo, me concentrando nos garranchos da minha
caligrafia. Por um segundo eu me distraí com o pensamento de
Angela e Ben na Universidade de Washington. Será que a ameaça
de vampiros mais jovens já teria se mudado pra outro lugar?
Haveria outro lugar, alguma outra cidade tremendo com as
manchetes de filmes de terror?
Seriam essas manchetes por minha causa?
Eu tentei deixar isso pra lá e respondí a pergunta dela um pouco
atrasada. "Alaska, eu acho. A universidade lá de Juneau".
eu podia ouvir a surpresa na voz dela. "Alaska? Oh. Mesmo? Quer
dizer, isso é ótimo. Eu só achei que você fosse pra um lugar
mais... quente".
Eu rí um pouco, ainda olhando para o envelope. "É. Forks
realmente mudou a minha perspectiva de vida".
"E Edward?"
Apesar do nome dele ter feito borboletas flutuarem no meu
estômago, eu olhei pra cima e sorrí pra ela. "Alaska também não
é frio demais pra Edward."
Ela sorriu de volta. "É claro que não" E depois ela suspirou. "É
longe demais. Você não será capaz de voltar pra casa com muita
frequência. Eu vou sentir sua falta. Você me manda e-mails?"
Uma onda de tristeza silenciosa passou por mim; talvez fosse um
erro me aproximar de Angela agora. Mas não seria ainda mais
triste perder essas últimas chances? Eu deixei pra lá os
pensamentos tristes, pra poder responder a ela com zombaria. 
"Se eu puder digitar de novo depois disso" Eu acenei com a
cabeça em direção à pilha de envelopes que eu havia feito.
Nós rimos, e depois foi fácil conversar sobre alegremente sobre
as aulas e os formandos enquanto terminávamos o resto - Tudo o
que eu tive que fazer foi não pensar nisso. De qualquer forma,
haviam coisas mais urgentes com as quais me preocupar hoje.
Eu ajudei ela a colocar os selos também. Eu estava com medo de
ir embora.
"Como está a sua mão?" ela perguntou.
Eu flexionei os meus dedos. "Eu acho que recuperarei
completamente o uso... algum dia".
A porta bateu lá embaixo, e nós duas olhamos pra cima.
"Ang?", Ben chamou.
Eu tentei sorrir, mas os meus lábios tremeram. "Eu acho que essa
é a minha deixa pra ir embora".
"Você não precisa ir. Apesar de que ele provavelmente vai
descrever o filme pra mim... em detalhes".
"De qualquer maneira Charlie vai ficar se perguntando onde eu
estou."
"Obrigada por me ajudar".
"Na verdade, eu me divertí. Nós devíamos fazer algo assim de
novo. É legal ter um tempo de garotas".
"Definitivamente".
Houve uma batida de leve na porta do quarto.
"Entre, Ben", Angela disse.
Eu me levantei e me estiquei.
"Hey, Bella! Você sobreviveu", Ben me saudou rapidamente antes
de ir tomar o meu lugar ao lado de Angela. Ele olhou o nosso
trabalho. "Belo trabalho. Que pena que não tem mais nada pra
fazer, eu teria..." Ele deixou o pensamento parar, e recomeçou
excitadamente. "Ang, eu não acredito que você perdeu isso! Foi
ótimo. Houve essa sequência de luta no final - a coreografia foi
inacreditável! Esse cara - bem, você vai vai ter que ver pra saber
o que eu estou falando -"
Angela revirou os olhos pra mim.
"Te vejo na escola", eu disse com uma risada nervosa.
Ela suspirou. "A gente se vê".
Eu estava inquieta na caminho até a caminhonete, mas a rua
estava vazia. Eu passei toda a viagem olhando ansiosamente em
todos os meus espelhos, mas nunca havia nenhum sinal do carro
prateado.
O carro dele também não estava na frente de casa, apesar de
que isso significava pouco.
"Bella?" Charlie perguntou quando eu abrí a porta.
"Oi, pai"
Eu o encontrei na sala de estar, na frente da TV.
"Então, como foi o seu dia?"
"Bom", eu disse. Eu podia ter contado tudo a ele - ele ouviria isso
de Billy em breve. Além do mais, isso ia deixá-lo feliz. "Eles não
precisaram de mim no trabalho, então eu fui até La Push".
Não houve surpresa suficiente no rosto dele. Billy já tinha falado
com ele.
"Como está Jacob?" Charlie perguntou, tentando soar
indiferente.
"Bem", eu disse, igualmente indiferente.
"Você foi à casa dos Weber?"
"Sim. Nós endereçamos todos os anúncios dela".
"Isso é legal" Charlie deu um sorriso largo. Ele estava
estranhamente concentrado, considerando o fato de que estava
passando um jogo. "Eu estou feliz que você tenha passado tempo
com os seus amigos hoje".
"Eu também".
Eu segui em direção a cozinha, procurando algo em que trabalhar.
Infelizmente, Charlie já tinha limpado o seu almoço. Eu fiquei lá,
olhando para a trilha brilhante que o sol fez no chão. Eu sabia
que não podia adiar isso pra sempre.
"Eu vou estudar", eu anunciei sem entusiasmo enquanto eu ia para
a escada.
"Te vejo mais tarde", Charlie chamou.
Se eu sobreviver, eu pensei comigo mesma.
Eu fechei a porta do meu quarto cuidadosamente antes de me
virar para enfrentar o meu quarto.
É claro que ele estava lá. Ele estava contra a parede na minha
frente, na sombra ao lado da janela aberta. O rosto dele estava
duro e a postura dele estava tensa. Ele me encarou sem dizer
nada.
Eu aguentei, esperando pela tempestade, mas ela não veio. Ele só
continuou a encarar, possivelmente com raiva demais pra falar.
"Oi", eu disse finalmente.
O rosto dele podia ter sido cravado em uma pedra. Eu contei até
cem na minha cabeça, mas não houve mudança.
"Er... então, eu ainda estou viva", eu comecei.
Um rugido se fez ouvir baixinho no peito dele, mas a expressão
dele não mudou.
"Nenhum dano causado", eu insistí, encolhendo os ombros.
Ele se moveu. Os olhos dele se fecharam, e ele segurou a base do
nariz entre os dedos da mão direita dele.
"Bella", ele sussurrou. "Você tem alguma idéia do quanto eu
estive perto de cruzar a linha hoje? De quebrar o acordo e ir
atrás de você? Você sabe o que isso teria significado?"
Eu ofeguei e ele abriu os olhos. Eles estavam tão frios e duros
como a noite.
"Você não pode!" eu disse alto demais. Eu trabalhei em modular o
volume da minha voz pra que Charlie não ouvisse, mas eu queria
gritar as palavras. "Edward, eles não vão usar nenhuma desculpa
para uma briga. Eles adorariam isso. Você não pode quebrar as
regras nunca!"
"Talvez eles não sejam os únicos que gostariam de uma luta".
"Não comece" eu soltei. "Vocês fizeram o acordo - obedeça ele".
"Se ele tivesse machucado você -"
"Chega!" eu cortei ele. "Não há nada com o que se preocupar.
Jacob não é perigoso".
"Bella" ele revirou os olhos. "Você não é exatamente a melhor
juíza do que é ou não perigoso".
"Eu sei que eu não preciso me preocupar com Jake. E nem você".
Ele apertou os dentes. As mãos dele estavam transformadas em
bolas nos pulsos dos lados dele. Ele ainda estava contra a parede,
e eu odiava o espaço entre nós.
Eu respirei fundo e atravessei o quarto. Ele não se moveu quando
eu passei os meus braços ao redor dele. Perto do resto do calor
do fim do sol da tarde que passava pela janela, a pele dele estava
especialmente gelada. Ele parecia gelo também, congelado do
jeito que estava.
"Eu sinto muito por ter te deixado ansioso", eu murmurei.
Ele suspirou e relaxou um pouco. Os braços dele seguraram a
minha cintura.
"Ansioso é uma indicação bem incompleta", ele murmurou. "Esse
dia foi bem longo".
"Não era pra você saber sobre isso" eu lembrei ele. "Eu pensei
que você passaria mais tempo caçando".
Eu olhei para o rosto dele, para os seus olhos defensivos; eu não
reparei no estresse do momento, mas eles estava escuros
demais. Os círculos embaixo deles eram roxo-escuros. Eu fiz uma
careta de desaprovação.
"Quando Alice te viu desaparecer, eu voltei", ele explicou.
"Você não devia ter feito isso. Agora você vai ter que ir de novo".
A minha careta se intensificou.
"Eu posso esperar".
"Isso é ridículo. Quer dizer, eu sabia que ela não podia me ver
com Jacob, mas você devia saber que -"
"Mas eu não sabia" ele interrompeu. "E você não pode esperar
que eu -"
"Oh, sim, eu posso" eu interrompí ele. "Isso é exatamente o que
eu espero".
"Isso não vai acontecer de novo".
"Exatamente! Porque você não vai ser exagerado da próxima
vez".
"Porque você não vai outra vez".
"Eu entendo quando você precisa ir embora, mesmo que eu não
goste -"
"Isso não é o mesmo. Eu não estou arriscando a minha vida".
"E nem eu".
"Lobisomens constituem um risco".
"Eu discordo".
"Eu não estou negociando isso, Bella"
"Nem eu".
As mãos dele estavam nos pulsos de novo. Eu podia sentí-las nas
minhas costas.
As palavras saíram sem que eu pensasse. "Isso se trata
realmente da minha segurança?"
"O que você quer dizer?" ele quis saber.
"Você não está..." A teoria de Angela parecia mais boba agora do
que antes. Foi difícil concluir o pensamento. "Eu quero dizer,
você sabe que não precisa sentir ciúme, certo?"
Ele ergueu uma sobrancelha. "Eu sei?"
"Fale sério".
"Facilmente - não há nada remotamente engraçado nisso".
Eu fiz uma careta de suspeita. "Ou... isso é mais alguma coisa?
Uma daquelas bobagens sobre vampiros e lobisomens serem
inimigos? Ou isso é só cheio de testosterona -"
Os olhos dele brilharam. "Isso é só sobre você. Tudo com o que
eu me importo é que você esteja em segurança".
Era impossível duvidar do fogo negro dos olhos dele.
"Tudo bem", eu suspirei. "Eu acredito nisso. Mas eu quero que
você saiba de uma coisa - quando se trata dessa bobagem de
inimigos, eu estou fora. Eu sou um país neutro. Eu sou a Suíça. Eu
me recuso a participar de disputas territoriais entre criaturas
místicas. Jacob é da família. Você é... bem, você não é
exatamente o amor da minha vida, porque eu espero te amar por
muito mais tempo que isso. O amor da minha existência. Eu não
me importo com quem é o lobisomem e que é o vampiro. Se Angela
virar uma bruxa, ela pode se juntar a festa também".
Ele olhou pra mim silenciosamente por entre olhos apertados.
"Suíça", eu repetí de novo pra dar ênfase.
Ele fez uma careta pra mim, e depois suspirou. "Bella...", ele
começou, mas depois parou, e o nariz dele enrugou de desgosto.
"O que foi agora?" 
"Bem... não se ofenda, mas você está cheirando como um
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cachorro", ele me disse.
E depois ele deu um sorriso torto, então eu sabia que a briga
tinha acabado. Por enquanto.
Edward teria que ajeitar as coisas por ter perdido a viagem de
caça, então ele ia na Sexta à noite com Jasper, Emmett e
Carlisle para atacar alguma reserva ao Norte da Califórnia que
estivesse com problemas com leões da montanha.
Nós não chegamos ao um acordo no problema com os lobisomens,
mas eu não me senti culpada por ligar para Jake - durante a
minha pequena janela de oportunidade quando Edward levou o
Volvo pra casa antes de entrar de novo pela minha janela - pra
deixá-lo saber que eu estaria voltando no Sábado de novo. Eu não
ia ficar me escondendo. Edward sabia como eu me sentia. E se
ele quebrasse a minha caminhonete de novo, então eu pediria que
Jake viesse me buscar. Forks era neutra, assim como a Suíça -
assim como eu.
Então, quando eu saí na Quinta e era Alice quem estava me
esperando no Volvo no lugar de Edward, eu não suspeitei
inicialmente. A porta do passageiro estava aberta, e uma música
que eu não reconhecia estava fazendo as estruturas tremerem
quando o baixo soava.
"Ei, Alice", eu gritei por cima do som enquanto eu entrava. "Onde
está o seu irmão?"
Ela estava acompanhando a música, a voz dela estava um oitavo
mais alta do que a melodia, seguindo ela com uma harmonia
complicada. Ela acenou pra mim com a cabeça, ignorando a minha
pergunta enquanto se preocupava em acompanhar a música.
Eu fechei a porta e coloquei as mãos em cima dos ouvidos. Ela
sorriu, e baixou o volume até que a música estava apenas no
fundo. Então ela travou as portas e pisou no acelerador no
mesmo segundo.
"O que está acontecendo?" Eu perguntei, começando a me sentir
inquieta. "Onde está Edward?"
Ela levantou os ombros. "Eles foram mais cedo".
"Oh", eu tentei controlar a minha decepção absurda. Se ele tinha
ido embora antes, significava que ele estaria de volta mais cedo,
eu lembrei a mim mesma.
"Todos os garotos foram, e nós vamos ter uma festa do pijama!"
ela anunciou em uma voz alegre, cantante.
"Uma festa do pijama?" eu repetí, a suspeita finalmente estava
entrando.
"Você não está excitada?" ela gritou de alegria.
Eu encontrei o olhar animado dela por um segundo.
"Você está me sequestrando, não está?"
Ela sorriu e balançou a cabeça. "Até Sábado. Esme falou com
Charlie; você vai ficar comigo por duas noites, e eu vou te levar e
te trazer da escola amanhã".
Eu virei o meu rosto para a janela, os meus dentes se apertando.
"Desculpa", Alice disse sem soar nem um pouco arrependida. "Ele
me pagou".
"Como?" eu assobiei por entre os dentes.
"O Porsche. É exatamente como o que eu roubei na Itália". Ela
suspirou alegremente.
"Eu não devo dirigí-lo em Forks, mas se você quiser, nós podemos
ver quanto tempo leva pra ir daqui até Los Angeles - eu aposto
que te traria de volta antes de meia noite".
Eu respirei fundo. "Eu acho que vou passar", eu suspirei,
reprimindo um tremor.
Nós continuamos, sempre rápido demais, pelo longo caminho.
Alice parou na garagem, e eu rapidamente olhei para os carros.
O jipe grande de Emmett estava lá, com um brilhante Porsche
amarelo cor de canário entre ele e o conversível vermelho de
Rosalie.
Alice saiu graciosamente e foi passar a mão no suborno dela. "É
bonito, não é?"
"Bonito até demais", eu murmurei, incrédula. "Ele te deu isso só
pra você me manter prisioneira por dois dias?"
Alice fez uma cara.
Um segundo depois, a compreensão veio e eu sufoquei de horror.
"É por todo o tempo que ele esteve longe, não é?"
Ela acenou com a cabeça.
Eu batí a minha porta e marchei em direção à casa. Ela dançou ao
meu lado o tempo inteiro, ainda sem se arrepender.
"Alice, você não acha que isso é um pouco controlador demais?
Um pouquinho psicótico, talvez?"
"Na verdade não", ela fungou. "Você não parece compreender o
quanto um lobisomem jovem pode ser. Especialmente quando eu
não consigo vê-los. Edward não tem nenhuma forma de saber se
você está segura. Você não devia ser tão irresponsável".
Minha voz se tornou ácida. "Sim, porque uma festa do pijama de
vampiro é pináculo de um comportamento conscientemente
seguro".
Alice riu. "Eu vou ser sua pedicure e tudo", ela prometeu.
Não foi tão ruim, exceto pelo fato de que eu estava sendo
segurada contra a minha vontade. Esme comprou comida Italiana
- coisas boas, diretamente de Port Angeles - e Alice estava
preparada com os meus filmes favoritos. Até Rosalie está lá,
silenciosamente no fundo. Alice insistiu em ser pedicure, e eu me
perguntei se ela tinha feito uma lista - talvez uma coisa que ela
tenha inventado depois de assitir seriados ruins.
"Quão tarde você quer ficar acordada?" ela perguntou quando as
minhas unhas estavam brilhando um vermelho sangue. O
entusiasmo dela continuou a não mexer com o meu humor.
"Eu não quero ficar acordada. Nós temos escola amanhã".
Ele fez beicinho. 
"Onde é que eu vou dormir, afinal?" eu medí o sofá com os meus
olhos. Ele era um pouco curto. "Será que eu não posso dormir sob
vigilância em minha casa?"
"Que espécie de festa do pijama seria esta?" Alice balançou a
cabeça exasperada.
"Você vai dormir no quarto de Edward".
Eu suspirei. O sofá de couro preto dele era mais longo do que
esse. Na verdade, o carpete dourado do quarto dele
provavelmente era grosso o suficiente pra que o chão também
não fosse uma má idéia.
"Posso ir à minha casa pra pegar as minhas coisas, pelo menos?"
Ela sorriu. "Já cuidei disso".
"Eu tenho permissão de usar o seu telefone?"
"Charlie sabe que você está aqui"
"Eu não ia ligar pra Charlie". Eu fiz uma careta. "Aparentemente,
eu tenho planos pra cancelar".
"Oh", ela pensou. "Eu não tenho certeza quanto a isso".
"Alice!" eu choraminguei alto. "Vamos!"
"Tá bom, tá bom", ela disse, saindo do quarto. Ela estava de volta
em menos de meio segundo, com o celular na mão.
"Ele não proibiu isso especificamente..." ela murmurou pra sí
mesma enquanto passava ele pra mim.
Eu disquei o número de Jacob, esperando que ele não estivesse
fora caçando com os amigos esta noite. A sorte estava ao meu
lado - foi Jacob que atendeu.
"Alô?"
"Ei, Jake, sou eu" Alice me olhou com olhos inexpressívos por um
segundo, antes de e se virar e ir se sentar ao lado de Rosalie e
Esme no sofá.
"Oi, Bella", Jacob disse, cuidadoso de repente. "O que foi?"
"Nada de bom. No fim das contas eu não vou poder ir no Sábado".
Ficou silencioso por um segundo. "Sugador de sangue estúpido",
ele finalmente murmurou. "Eu pensei que ele ia embora. Será que
você não pode ter uma vida quando ele está longe? Ou ele te
tranca no caixão dele?"
Eu rí.
"Eu não achei engraçado".
"Eu só estou rindo porque você está perto", eu disse a ele. "Mas
ele vai estar aqui no Sábado, então isso não importa".
"Ele vai estar se alimentando em Forks então?" Jacob perguntou
curtamente.
"Não" eu não me deixei ficar irritada com ele. Eu não estava tão
longe de estar com tanta raiva quanto ele estava. "Ele foi mais
cedo".
"Oh. Bem, ei, venha agora, então", ele disse com entusiasmo
repentino. "Não está tão tarde. Ou eu vou te buscar na casa de
Charlie".
"Eu queria. Eu não estou na casa de Charlie", eu disse
amargamente. "Eu estou meio que sendo mantida prisioneira".
Ele ficou em silêncio enquanto isso se encaixava, e então ele
rosnou. "Nós vamos buscar você", ele prometeu numa voz vazia,
passando rapidamente pelo plural.
Um tremor percorreu a minha espinha, mas eu respondí num voz
leve e zombeteira. "Tentador. Eu estou sendo torturada - Alice
pintou as unhas dos meus pés".
"Estou falando sério".
"Não fale. Eles só estão tentando me manter segura".
Ele rosnou de novo.
"Eu sei que é bobagem, mas o coração deles está no lugar certo".
"O coração deles!" Jacob zombou.
"Eu lamento por Sábado", eu me desculpei. Eu tenho que ir para a
cama" - o sofá, eu corrigí mentalmente - "mas eu te ligo de novo
em breve".
"Você tem certeza que eles vão deixar?" ele perguntou num tom
severo.
"Não completamente", eu suspirei. "Boa noite, Jake".
"A gente se vê por aí".
Alice estava abruptamente ao meu lado, a mão dela estava
erguida para o telefone, mas eu já estava discando. Ela viu o
número.
"Eu acho que ele não está com o telefone dele", ela disse.
"Eu vou deixar uma mensagem"
O telefone tocou quatro vezes, seguidas por um bipe. Não havia
nenhuma saudação.
"Você está com problemas" eu disse lentamente, enfatizando
cada palavra. "Problemas enormes. Ursos pardos raivosos não
serão nada perto do que está te esperando em casa".
Eu fechei o telefone e o coloquei na mão dela que estava
esperando. "Eu acabei".
Ela sorriu. "Essa coisa de refém é divertida".
"Eu vou dormir agora", eu anunciei, indo para as escadas. Alice
veio junto.
"Alice", eu suspirei. "Eu não vou escapulir. Você saberia se eu
estivesse planejando isso, e você me pegaria se eu tentasse".
"Eu só vou te mostrar onde as suas coisas estão", ela disse
inocentemente.
O quarto de Edward ficava no fim do corredor do terceiro andar,
difícil de me enganar mesmo se a casa enorme fosse menos
familiar. Mas quando eu acendí a luz, eu parei, confusa. Eu tinha
escolhido o quarto errado?

Era o mesmo quarto, eu reparei rapidamente; só que os móveis
haviam sido re-arrumados. O sofá tinha sido empurrado para a
parede norte e o som estava enfiado contra as vastas prateleiras
de CD's - pra dar espaço à cama colossal que agora dominava o
espaço no centro.
A parede de vidro ao sul refletia a cena como um espelho,
fazendo ela parecer duas vezes pior.
Ela combinava. A colcha era de um dourado fraco, um pouco mais
claro que as paredes; a armação era preta, feita com um aço
forte e patenteado. Rosas esculpidas de metal se espalhavam em
vinhas pelo alto poste e formavam um entrelaçado gracioso em
cima. Os meus pijamas estavam cuidadosamente dobrados no pé
da cama, e a minha bolsa de coisas de toilete estava ao lado.
"Que diabos é tudo isso?" eu disparei.
"Você não achou realmente que ele fosse te deixar dormir no
sofá, pensou?"
Eu murmurei inteligivelmente enquanto marchava para arrancar
as minhas coisas da cama.
"Eu vou te dar um pouco de privacidade", Alice riu. "Te vejo de
manhã".
Depois que os meus dentes estavam escovados e eu estava
vestida, eu peguei um travesseiro de penas fofo da cama e
arrastei a coberta dourada até o sofá. Eu sabia que estava sendo
boba, mas não me importava. Porsches de suborno e camas King-size em casas onde ninguém dormia - era irritante ao extremo.
Eu desliguei as luzes e me curvei no sofá, me perguntando se
estava chateada demais para dormir.
No escuro, a parede de vidro não era mais um espelho escuro,
duplicando o quarto. A luz da lua brilhava nas nuvens do lado de
fora da janela. Enquanto os meus olhos se ajustavam, eu podia
ver um brilho difuso destacando o topo das árvores, e fazendo
um pequeno pedaço do rio cintilar. Eu olhei a luz prateada,
esperando que os meus olhos ficassem pesados.
Houve uma batida de leve na porta.
"O que, Alice?" eu assobiei. Eu estava na defensiva, imaginando a
diversão dela quando ela visse a minha cama improvisada.
"Sou eu", Rosalie disse suavemente, abrindo a porta o suficiente
pra que eu pudesse ver o brilho prateado tocar o seu rosto
perfeito. "Posso entrar?"
7 Final Infeliz
Rosalie hesitou na porta, seu rosto arrebatador estava incerto.
“É claro” eu respondi, minha voz estava um oitavo mais alta com a
surpresa. “Entre”.
Eu sentei, escorregando para o fim do sofá pra dar espaço. O
meu estômago revirou nervosamente enquanto a única Cullen que
não gostava de mim se moveu silenciosamente pra se sentar no
espaço aberto. Eu tentei pensar numa razão pela qual ela ia
querer me ver, mas a minha mente estava vazia até o momento.
“Você se importa de conversar comigo por alguns minutos?” ela
perguntou. “Eu não te acordei nem nada, acordei?” Os olhos dela
passaram da cama desforrada e de volta para o meu sofá.
“Não, eu estava acordada. Claro, nós podemos conversar” Eu me
perguntei se ela podia ouvir o alarme na minha voz tão
claramente quanto eu.
Ela sorriu levemente, e o som pareceu com sinos tocando. “Ele
tão raramente te deixa sozinha”, ela disse. “Eu achei que seria
melhor que eu tirasse o melhor dessa oportunidade”.
O que ela queria dizer que não podia ser dito na frente de
Edward? As minhas mãos torceram e destorceram na porta da
colcha.
“Por favor não pense que eu estou interferindo horrivelmente”,
Rosalie disse, a voz dela estava gentil e quase implorativa. Ela
cruzou as mãos no colo e olhou pra elas enquanto falava. “Eu
tenho certeza que já magoei os seus sentimentos o suficiente no
passado, e eu não quero fazer isso de novo”.
“Não se preocupe com isso, Rosalie. Os meus sentimentos estão
ótimos. O que é?”
Ela riu de novo, parecendo estranhamente envergonhada. “Eu vou
tentar te dizer porque eu acho que você devia permanecer
humana – porque eu permaneceria humana se eu fosse você”.
“Oh”. 
Ela sorriu com o tom chocado da minha voz, e então suspirou.
“Edward te contou o que levou a isso?” ela perguntou, fazendo um
gesto para o seu glorioso corpo imortal.
Eu balancei a cabeça lentamente, repentinamente sombria. “Ele
disse que foi perto do que aconteceu comigo em Port Angeles, só
não havia ninguém lá pra salvar você”.
Eu tremi com a memória.
“Isso é realmente tudo o que ele te contou?” ela perguntou.
“Sim”, eu disse, a minha voz estava pasma de confusão. “Havia
mais?”
Ela olhou pra mim e sorriu; era uma expressão dura, ácida – mas
ainda estonteante.
______________________2
“Sim”,ela disse. “Havia mais”.
Eu esperei enquanto ela olhava pela janela. Ela parecia estar
tentando se acalmar.
“Você gostaria de ouvir a minha história, Bella? Ela não tem um
final feliz – mas qual das nossas tem? Se nós tivéssemos finais
felizes, nós estaríamos embaixo de lápides agora”.
Eu balancei a cabeça, apesar de estar assustada com o tom na
voz dela.
“Eu vivi em um mundo diferente de você, Bella. O meu mundo
humano era um lugar muito mais simples. Era mil novecentos e
trinta e três. Eu tinha dezoito, e era linda. A minha vida era
perfeita”.
Ela olhou pelas janelas para as nuvens prateadas, a expressão
dela estava distante.
“Os meus pais eram inteiramente classe média. O meu pai tinha
um emprego estável num banco, algo de que agora eu percebo que
ele era presumido – ele viu a sua prosperidade como uma
recompensa pelo seu talento e trabalho duro, e não
reconhecendo a sorte que envolvia isso. Nessa época eu achava
que tudo estava garantido; na minha casa, era como se a Grande
Depressão fosse apenas um rumor problemático. É claro que eu
via as pessoas pobres, aquelas que não tinham tanta sorte. O meu
pai me passou a impressão de que eles haviam trazido os
problemas para si mesmos.
“Era trabalho da minha mãe manter a nossa casa – e eu mesma e
os meus dois irmãos mais jovens – para mantê-la impecável. Era
claro que eu era tanto a sua prioridade como também a sua
favorita. Eu não entendia completamente na época, mas eu estava
sempre vagamente consciente que os meus pais não estavam
satisfeitos com os que eles tinham, mesmo que isso fosse tão
mais do que a maioria tinha. Eles queriam mais. Eles tinham
aspirações sociais – escalas sociais, eu acho que você chamaria. A
minha beleza era como um presente pra eles. Eles viam muito
mais potencial nela do que eu.
“Eles não estavam satisfeitos, mas eu estava. Eu estava muito
feliz por ser eu, por ser Rosalie Hale. Agradada porque os olhos
dos homens me observavam onde quer que eu fosse, desde o ano
que eu fiz doze anos. Deliciada porque as minhas amigas
suspiravam de inveja quando elas tocavam o meu cabelo. Feliz
porque a minha mãe estava orgulhosa de mim e que o meu pai
gostava de me comprar vestidos bonitos.
“Eu sabia o que eu queria da vida, não parecia que haveria uma
forma de eu não conseguir o que eu queria. Eu queria ser amada,
ser adorada. Eu queria ter um casamento enorme, todo florido,
onde todos na cidade ia me observar entrar na igreja de braço
dado com o meu pai e pensar que eu era a garota mais bonita que
eles já tinham visto. Admiração era como ar pra mim, Bella. Eu
era boba e superficial, mas eu era feliz.” Ela sorriu, divertida
com sua própria avaliação.
“A influência dos meus pais tinha sido tanta que eu também
queria coisas materiais da vida. Eu queria uma casa grande com
móveis elegantes que outra pessoa limparia e uma cozinha
moderna na qual outra pessoa cozinharia. Como eu disse,
superficial. Jovem e muito superficial. E eu não via nenhuma
razão pela qual eu não conseguiria essas coisas.
“Haviam algumas coisas que eu queria que eram mais
significantes. Uma em particular. A minha amiga mais próxima
era uma garota chamada Vera. Ela se casou jovem, apenas aos
dezessete.
Ela se casou com um homem que os meus pais jamais
considerariam pra mim – um carpinteiro. Um ano depois ela teve
um filho, um lindo menino com covinhas nas bochechas e cabelos
pretos encaracolados. Foi a primeira vez na minha vida inteira
que eu senti inveja de outra pessoa.”
Ela olhou pra mim com olhos insondáveis. “Era uma época
diferente. Eu estava com a mesma idade que você, mas eu já
estava pronta pra tudo isso. Eu desejava ter o meu próprio bebê.
Eu queria ter a minha própria casa e um marido que me beijasse
quando chegasse do trabalho – como Vera. Só que eu tinha um
tipo diferente de casa em mente...”
Era difícil pra mim imaginar o tipo de mundo que Rosalie havia
conhecido. A história dela parecia mais como um conto de fadas
pra mim. Com um pequeno choque, eu me dei conta de que esse
estava muito aproximado do tipo de mundo que Edward havia
experimentado quando ele era humano, o mundo no qual ele havia
crescido. Eu imaginei – enquanto Rosalie sentou em silêncio por
um momento – será que meu mundo parecia tão confuso pra ele
como o que Rosalie parecia pra mim?
Rosalie suspirou, e quando ela falou de novo a voz dela estava
diferente, a saudade tinha ido embora.
“Em Rochester, havia uma família real – Os King, ironicamente o
suficiente. Royce King era dono do banco onde meu pai
trabalhava, e de praticamente todos os negócios bem sucedidos
da cidade. Foi assim que o filho dele, Royce King Segundo” –
aboca dela torceu com o nome, e ele saiu por entre os dentes
dela – “me viu pela primeira vez. Ela ia herdar o banco, e então
ele começou a vigiar diferentes posições. Dois dias depois, a
minha mãe convenientemente esqueceu de mandar o almoço do
trabalho pro meu pai. Eu me lembro de ter ficado confusa quando
ela insistiu que eu usasse o meu vestido branco de organza e
prendesse o meu cabelo só pra ir até o banco” Rosalie sorriu sem
humor.
“Eu não reparei em Royce me observando particularmente. Todos
me observavam. Mas naquela noite, a primeira das rosas veio.
Todas as noites da nossa corte, ele me mandava um buquê de
rosas. O meu quarto estava sempre transbordando com elas. Eu
cheguei ao ponto de ficar com cheiro de rosas quando saía de
casa.
“Royce era bonito também. O cabelo dele era mais claro que o
meu, e olhos azuis claros. Ele disse que os meus olhos eram como
violetas, e aí elas começaram a aparecer junto às rosas.
“Os meus pais aprovaram – pra dizer o mínimo. Isso era tudo com
o que eles haviam sonhado. E Royce era tudo com o que eu havia
sonhado. O príncipe dos contos de fada, que veio me transformar
em princesa. Tudo o que eu queria, e mesmo assim não era nada
além do que eu esperava. Nós estávamos noivos dois meses
depois que eu o conheci.
“Nós não passávamos muito tempo juntos. Royce me disse que ele
tinha muitas responsabilidades no trabalho, e, que quando
estávamos juntos, ele gostava que as pessoas olhassem pra nós,
que me vissem nos braços dele. Eu gostava disso também. Haviam
muitas festas, danças, e belos vestidos. Quando você eram um
King, todas as portas estavam abertas pra você, todos os tapetes
vermelhos rolavam pra te saudar.
“Não foi um noivado longo. Os planos foram em frente para o
casamento mais pródigo. Ia ser tudo o que eu havia desejado. Eu
estava completamente feliz. Quando eu ligava pra Vera, eu não
estava mais com inveja. Eu imaginava as minhas próprias crianças
cabeludas brincando nos enormes gramados da propriedade dos
King, e eu senti pena dela”.
Rosalie parou de repente, apertando os dentes. Isso me tirou da
história, e eu me dei conta de que o terror não estava muito
longe. Não haveria um final feliz, como ela havia prometido. Eu
me perguntei se era por isso que ela era tão mais amarga do que
o resto deles – porque ela esteve ao alcance de tudo o que queria
quando a vida dela foi interrompida.
“Eu estava na casa de Vera naquela noite”, Rosalie sussurrou. O
rosto dela estava suave como mármore, e tão duro quanto. “O
pequeno Henry era realmente adorável, todo sorrisos e covinhas
– ele já estava se sentando sozinho. Vera me acompanhou até a
porta quando eu estava indo embora, seu bebê nos braços e o
marido a seu lado, o braço dele estava na cintura dela. Ele beijou
ela na bochecha quando pensou que eu não estava vendo. Aquilo
me incomodou. Quando Royce me beijava, não era a mesma coisa
– de alguma forma, não era tão doce... Eu coloquei esse
pensamento de lado. Royce era o meu príncipe. Alguma dia, eu
seria rainha”.
Era difícil dizer na luz da lua, mas parecia que o seu rosto branco
estava mais pálido.
“As ruas estavam escuras, as lâmpadas já estavam acesas. Eu não
tinha me dado conta do quanto era tarde.” Ela continuou a
sussurrar quase inaudivelmente. “Estava frio também. Frio
demais pra um final de Abril. O casamento seria em apenas uma
semana, e eu estava preocupada com o clima enquanto me
apressava pra ir pra casa – eu me lembro disso claramente. Eu me
lembro de cada detalhe daquela noite. Eu me apeguei a isso com
tanta força... no inicio. Eu não pensava em nada mais. E então eu
me lembro disso, quando tantas outras memórias agradáveis
haviam desaparecido completamente...”
Ela suspirou, e começou a sussurrar de novo. “Sim, eu estava me
preocupando com o clima... eu não queria ter que passar o
casamento pra um lugar fechado...
“Eu estava a algumas ruas da minha casa quando eu ouvi eles. Uma
corja de homens embaixo de uma lâmpada quebrada na rua, rindo
alto demais. Bêbados. Eu desejei ter ligado para o meu pai pra
que ele me acompanhasse até em casa, mas o caminho era tão
curto, e me pareceu bobagem. E então ele chamou o meu nome.
“Rose!’ ele gritou, e os outros riram estupidamente.
“Eu não tinha percebido que os bêbados estavam tão bem
vestidos. Eram Royce e alguns outros amigos, filhos de outros
homens ricos.
“’ Aqui está a minha Rose!’ Royce gritou, rindo com eles, soando
igualmente estúpido. ‘Você está atrasada. Nós estamos com frio,
por causa do tempo que você nos fez esperar’”.
“Eu nunca havia visto ele bêbado antes. Um brinde, de vez em
quando, nas festas. Ele me disse que não gostava de champagne.
Eu não tinha me dado conta de que ele gostava de algo muito mais
forte.
“Ele tinha um novo amigo – o amigo de um amigo, vindo de
Atlanta.
“O que eu te disse, John” Royce gritou alegremente, agarrando o
meu braço e me puxando pra perto. ‘Ela não é mais adorável do
que os seus pêssegos de Geórgia?’
“O homem chamado John tinha cabelos escuros e era bronzeado
do sol. Ele me olhou como se eu fosse um cavalo que ele estivesse
comprando.
‘É difícil dizer’ ele disse lentamente. ‘Ela está toda coberta”.
“Eles riram, Royce riu como o resto.
“De repente, Royce arrancou o casaco dos meus ombros – foi um
presente dele – arrancando fora os botões. Eles saíram de
espalhando pela rua.
“Mostre a ele como você é, Rose!’ Ele riu de novo, e então ele
arrancou o meu chapéu da minha cabeça. Os broches estavam
presos nas raízes dos meus cabelos, e eu chorei de dor. Eles
pareceram gostar disso – do som da minha dor...”
Rosalie olhou para mim de repente, como se ela tivesse esquecido
que eu estava lá. Eu estava certa que o meu rosto estava tão
branco quanto o dela. A não ser que ele estivesse verde.
“Eu não vou te fazer ouvir o resto”, ela disse baixinho. “Eles me
deixaram na rua, ainda rindo enquanto eles iam embora
tropeçando. Eles pensaram que eu estivesse morta. Eles estavam
zombando de Royce dizendo que ele teria que arrumar uma nova
noiva. Ele riu e disse que antes ele teria que aprender a ter
paciência.
“Eu esperei pra morrer na rua. Estava frio, apesar de eu estar
sentindo tanta dor que eu me surpreendi por isso estar me
incomodando. Começou a nevar, e eu me perguntei porque eu não
estava morrendo. Eu estava impaciente para a morte chegar, e
acabar com a dor. Estava demorando tanto...
“Aí Carlisle me achou. Ele sentiu o cheiro do sangue, e veio
investigar. Eu me lembro de ficar vagamente irritada enquanto
ele trabalhava em mim, tentando salvar a minha vida. Eu nunca
gostei do Dr. Cullen ou de sua esposa e o irmão dela – como
Edward fingia ser na época. Eu ficava aborrecida por eles serem
mais bonitos do que eu era, especialmente os homens. Mas eles
não se misturavam com a sociedade, então eu só os tinha visto
uma ou duas vezes.
“Eu pensei que tinha morrido quando ele me tirou do chão e
começou a correr comigo – por causa da velocidade – eu senti
como se estivesse voando. Eu me lembro de ter ficado
horrorizada quando a dor não parou...
“Então eu estava nunca sala clara, e estava quente. Eu estava
ficando inconsciente, e eu fiquei grata pois a dor estava
começando a diminuir. Mas de repente alguma coisa afiada estava
me cortando, minha garganta, meus pulsos, meus tornozelos. Eu
gritei com o choque, pensando que ele havia me trazido pra me
machucar mais. Então o fogo começou a me queimar, e eu não me
importei com mais nada. Eu implorei que ele me matasse. Quando
Esme e Edward voltaram pra casa, eu implorei que eles me
matassem também. Carlisle se sentou comigo. Ele segurou a
minha mão e disse que sentia muito, prometendo que aquilo
acabaria.
Ele me disse tudo, e as vezes eu escutava. Ele me disse o que ele
era, e o que eu estava me tornando. Eu não acreditei nele. Ele
pedia perdão toda vez que eu gritava.
“Edward não ficou feliz. Eu lembro de ouvi-los discutindo sobre
mim. Eu parava de gritar as vezes. Gritar não adiantava de nada.
“No que você estava pensando, Carlisle?’ Edward disse. ‘Rosalie
Hale?” Rosalie imitou o tom de Edward com perfeição. “Eu não
gostava do jeito como ele dizia o meu nome, como se houvesse
alguma coisa errada comigo.
“’ Eu não podia simplesmente deixa-la morrer’ Carlisle disse
baixinho. ‘Foi demais – horrível demais, muito desperdício.”
“’ Eu sei’, Edward disse, eu pensei que ele parecia estar
desinteressado. Isso me irritou. Nessa época eu não sabia que
ele podia ver exatamente o que Carlisle havia visto.
‘Era desperdício demais. Eu não podia abandona-la’ Carlisle
repetiu em um sussurro.
“É claro que você não podia’, Esme concordou.
“Pessoas morrem o tempo todo’ Edward lembrou ele com uma voz
dura. ‘No entanto, você não acha que ela é um pouco reconhecível
demais? Os King vão fazer uma enorme procura – não que alguém
suspeite daquele demônio’, ele rugiu.
“Eu fiquei satisfeita por eles parecerem saber que Royce era o
culpado.
“Eu não me dei conta de que já estava quase acabado – que
estava ficando mais forte e que eu era capaz de me concentrar
no que eles estavam dizendo. A dor estava começando a
desaparecer das pontas dos meus dedos.
“O que nós vamos fazer com ela?’ Edward disse, enojado – ou pelo
menos, foi assim que soou pra mim.
“Carlisle suspirou. ‘Isso depende dela, é claro. Ela pode querer
seguir seu próprio caminho’.
“Eu acreditei o suficiente nele para as suas palavras me
deixarem aterrorizada. Eu sabia que a minha vida estava
acabada, e que não havia volta pra mim. Eu não conseguia
suportar a idéia de ficar sozinha...
“A dor finalmente passou e eles me explicaram de novo o que eu
era. Dessa vez eu acreditei. Eu senti a sede, a dureza da minha
pele; eu vi meus olhos vermelhos brilhantes.
“Superficial como eu era, eu me senti melhor quando vi minha
reflexão no espelho pela primeira vez. Apesar dos olhos, eu era a
coisa mais bonita que eu já havia visto” Ela riu de si mesma por
um momento. “Levou algum tempo até que eu começasse a culpar
a beleza pelo que havia me acontecido – pra que eu pudesse ver a
maldição por trás dela. Eu desejei ser... bem, não feia, mas
normal. Como Vera. Assim eu teria sido capaz de casa com alguém
que me amasse, e ter belos bebês. Era isso que eu realmente
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queria, o tempo inteiro. Isso ainda não parece ser demais pra
pedir.”
Ela ficou pensativa por um momento, e eu me perguntei se ela
havia esquecido a minha presença de novo. Mas então, ela sorriu
pra mim, a expressão dela repentinamente triunfante.
“Sabe, o meu histórico é quase tão limpo quanto o de Carlisle”,
ela me disse. “Melhor que Esme. Mil vezes melhor que Edward. Eu
nunca experimentei sangue humano”, ela anunciou
orgulhosamente.
Ela entendeu a minha expressão confusa enquanto eu me
perguntava porque o histórico dela era quase tão limpo.
“Eu matei cinco humanos”, ela me disse com um tom complacente.
“Se e´que você pode chama-los de humanos. mas eu tive bastante
cuidado pra não derramar o sangue deles – eu sabia que não seria
capaz de resistir a isso, e eu não queria nenhuma parte deles em
mim, sabe.
“Eu deixei Royce por último. Eu esperei que ele tivesse ouvido as
mortes dos seus amigos e compreendesse, soubesse o que estava
pra acontecer com ele. Eu esperava que o medo fosse tornar o
fim pior pra ele. E eu acho que funcionou. Ele estava se
escondendo num quarto sem janelas atrás de uma porta tão
grossa quanto a de um cofre de banco, protegida por fora por
homens armados, quando eu o peguei. Oops – sete assassinatos”,
ela se corrigiu. “Eu esqueci dos guardas dele. Eles só levaram um
segundo”.
“Eu fui extremamente teatral. Foi meio infantil, na verdade. Eu
estava usando um vestido de noiva que eu havia roubado para a
ocasião. Ele gritou quando me viu. Ele gritou bastante aquela
noite. Deixar ele por último foi uma boa idéia – isso facilitou o
meu auto-controle, me ajudou a faze-lo mais devagar –“
Ela parou de repente, e olhou pra mim. “Me desculpe”, ela disse
com uma voz pesarosa. “Eu estou te assustando, não estou?”
“Eu estou bem”, eu menti.
“Eu me deixei levar”.
“Não se preocupe com isso”.
“Eu estou surpresa por Edward não ter te contado mais sobre
isso”.
“Ele não gosta muito de contar as histórias dos outros – ele se
sente como se estivesse traindo confidências, já que ele ouve
tantas coisas sobre você que ele não deveria ter ouvido”.
Ela sorriu e balançou a cabeça. “Eu provavelmente devo dar mais
crédito a ele. Ele realmente é muito decente, não é?”
“Eu acho que sim”.
“Dá pra notar”. Então ela suspirou. “Eu também não fui justa com
você, Bella. Ele te disse porque? Ou isso era confidencial
demais?”
“Ele disse que era porque eu era humana. Ele disse que era mais
difícil pra você ter alguém de fora que você não conhecia”.
A risada musical de Rosalie me interrompeu. “Agora eu realmente
me sinto culpada. Ele foi muito, muito mais bonzinho comigo do
que eu merecia”, ela pareceu mais cálida enquanto sorria, como se
ela tivesse baixado uma guarda que nunca esteve ausente na
minha presença. “Que mentiroso aquele garoto é”. Ela riu de
novo.
“Ele estava mentindo?” eu perguntei, repentinamente cautelosa.
“Bom, provavelmente essa palavra seja forte demais. Ele só não
te contou a história inteira. O que ele te contou era verdade,
ainda mais verdadeira agora do que era antes. No entanto,
naquela época...” Ela se deteve, gargalhando nervosamente. “Isso
é vergonhoso. Veja, no início, eu estava em grande parte, mais
enciumada porque ele queria você e não eu”.
As palavras dela mandaram uma onda de medo por mim. Sentada
lá, na luz prateada, ela era mais bonita do que qualquer coisa que
eu pudesse imaginar. Eu não podia competir com Rosalie.
“Mas você ama Emmett...” eu murmurei.
Ela balançou a cabeça pra frente e pra trás, divertida. “Eu não
quero Edward desse jeito, Bella. Eu nunca quis – eu amo ele como
irmão, mas ele me irritou desde o primeiro momento que eu o
ouvi falando. Você tem que entender, porém... eu estava
acostumada às pessoas querendo a mim. E Edward não estava
nem um pouco interessado. Isso me frustrou, e até me ofendeu
no início. Mas ele nunca quis ninguém, então isso não me
incomodou por muito tempo. Mesmo quando Edward encontrou o
clã de Tânia pela primeira vez em Denali – todas aquelas fêmeas!
– Edward nunca demonstrou nem a mínima preferência. E aí ele
conheceu você”. Ela me olhou com olhos confusos. Eu só estava
prestando atenção pela metade. Eu estava pensando em Edward
e Tânia e todas aquelas fêmeas, e os meus lábios se pressionaram
em uma linha dura.
“Não que você não seja bonita, Bella”, ela disse, se enganando
com a minha expressão. “Mas é só que isso significava que ele
tinha te achado mais atraente do que eu. Eu sou vaidosa o
suficiente pra me importar”.
“Mas você disse ‘no início’. Isso não te incomoda... ainda,
incomoda? Quer dizer, nós duas sabemos que você é a pessoa
mais bonita no planeta”.
Eu ri por ter que dizer as palavras – isso era tão óbvio. Que
estranho que Rosalie precisasse ter desse tipo de segurança.
Rosalie riu também. “Obrigada, Bella. E não, isso realmente não
me incomoda mais. Edward sempre foi um pouco estranho”. Ela
riu de novo.
“Mas você ainda não gosta de mim”, eu sussurrei.
O sorriso dela desapareceu. “Eu lamento por isso”.
Nós sentamos em silêncio por algum tempo, e ela não parecia
inclinada a continuar.
“Você pode me dizer porque? Eu fiz alguma coisa...?” Será que ela
estava zangada por eu ter colocado a família dela – o Emmett
dela – em perigo? De novo e de novo. James, e agora Victoria...
“Não, você não fez nada”, ela murmurou. “Ainda não”.
Eu olhei pra ela, perplexa.
“Você não vê, Bella?” A voz dela estava repentinamente mais
apaixonada do que antes, mesmo quando ela me contou a sua
história infeliz. “Você já tem tudo. você tem uma vida inteira à
sua frente – tudo o que você quer. E você simplesmente vai jogar
tudo fora. Será que você não vê que eu trocaria tudo o que eu
tenho pra ser você? Você tem a escolha que eu não tive, e você
está fazendo a escolha errada!”.
Eu enrijeci por causa da expressão penetrante dela. Eu me dei
conta de que a minha boca estava aberta e eu a fechei.
Ela me encarou por um longo momento, e lentamente, o fervor
nos olhos dela diminuiu. De repente, ela estava envergonhada.
“E eu tinha tanta certeza de que poderia fazer isso com calma”,
ela balançou a cabeça, parecendo confusa com a fluência das
emoções. “É só que é mais difícil agora do que era antes, quando
isso não passava de vaidade”.
Ela encarou a lua silenciosamente. Levaram alguns minutos até
que eu fosse corajosa o suficiente pra quebrar o devaneio dela.
“Você ia gostar mais de mim se eu continuasse humana?”
Ela se virou pra mim, os lábios dela estavam tremendo com a
sombra de um sorriso. “Talvez”.
“No entanto, você conseguiu o seu final feliz”, eu lembrei ela.
“Você tem Emmett”.
“Eu tenho a metade”. Ela riu. “Você sabe que eu salvei Emmett do
urso que estava atacando ele, e o carreguei até Carlisle. Mas
será que você pode adivinhar porque eu não permiti que o urso
comesse ele?”
Eu balancei minha cabeça.
“Com os cachos escuros... as covinhas que apareciam mesmo
quando ele estava fazendo caretas de dor... a estranha inocência
que parecia tão incomum no rosto de um homem adulto... ele me
lembrou do pequeno Henry de Vera. Eu não queria que ele
morresse – tanto que, mesmo odiando essa vida, eu fui egoísta o
suficiente pra pedir que Carlisle transformasse ele.
“Eu tive mais sorte do que merecia. Emmett é tudo o que eu
pediria se eu conhecesse a mim mesma bem o suficiente pra
saber o que pedir. Ele é exatamente o tipo de pessoa que alguém
como eu precisa. E, estranhamente o suficiente, ele precisa de
mim também. Essa parte funcionou melhor do que eu podia ter
esperado. Mas nunca haverá mais do que apenas nós dois. Eu
nunca vou me sentar em uma varanda em algum lugar, com ele
grisalho ao meu lado, cercados pelos nossos netos.”
O sorriso dela era gentil agora. “Isso soa um tanto bizarro pra
você, não é? De algumas maneiras, você é muito mais madura do
que eu era aos dezoito anos. Você é jovem demais pra saber o
que você vai querer daqui a dez anos, quinze anos – e jovem
demais pra desistir de tudo sem pensar. Você não vai querer se
apressar sobre coisas permanentes, Bella”, ela deu um tapinha na
minha mão, mas o gesto não pareceu condescendente.
Eu suspirei.
“Só pense nisso um pouco. Uma vez que isso esteja feito, não
pode ser desfeito. Esme nos tem como substitutos... e Alice não
lembra nada do que é ser humana, então ela não pode sentir falta
disso... você, porém, irá se lembrar. É muita coisa pra abrir mão”.
Mas muito mais coisas pra receber, eu não disse isso em voz alta.
“Obrigada, Rosalie. É bom entender... te conhecer melhor”.
“Eu peço perdão por ser uma monstra”. Ela sorriu. “Eu vou tentar
me comportar de agora em diante”.
Eu sorri de volta pra ela.
Nós não éramos amigas ainda, mas eu tinha certeza de que ela já
não me odiava tanto.
“Eu vou te deixar dormir agora”. Os olhos de Rosalie passaram
para a cama, e os lábios dela se torceram. “Eu sei que você está
frustrada por ele ter te trancado assim, mas não o castigue
muito quando ele voltar. Ele te ama mais do que você imagina. Ele
fica aterrorizado por ficar longe de você”. Ela se levantou
silenciosamente e deslizou até a porta. “Boa noite, Bella”, ela
sussurrou enquanto fechava a porta atrás de si mesma.
“Boa noite, Rosalie”, eu disse um segundo tarde demais.
Eu levei um longo tempo pra dormir depois disso.
Quando eu dormi, eu tive um pesadelo. Eu estava me arrastando
no escuro, as pedras frias de uma ruas desconhecida, embaixo da
neve que caia levemente, deixando uma trilha de sangue atrás de
mim. Um anjo sombrio em um longo vestido branco observou o
meu progresso com olhos ressentidos.
Na manhã seguinte, Alice me levou para a escola enquanto eu
olhava inexpressivamente pelo pára-brisa. Eu estava sentindo a
falta de sono, e isso deixou a minha irritação por ser prisioneira
ainda mais forte.
“Hoje à noite nós vamos à Olympia ou alguma coisa assim”, ela
prometeu. “Isso seria divertido, não é?”
“Porque você simplesmente não me tranca no porão?”, eu sugeri
“e esquece a cota de açúcar?”
Alice fez uma careta. “Ele vai pegar o Porsche de volta. Eu não
estou fazendo um trabalho muito bom. Era pra você estar se
divertindo”.
“Não é sua culpa”, eu murmurei. Eu não conseguia acreditar que
realmente estava me sentindo culpada. “Eu te vejo no almoço”.
Eu fui para a aula de Inglês. Sem Edward, o dia dava garantias de
ser insuportável. Eu fiquei amuada durante a minha primeira aula,
bem consciente de que a minha atitude não estava ajudando em
nada.
Quando o sino tocou, eu me levantei sem muito entusiasmo. Mike
estava lá na porta, segurando ela aberta pra mim.
“Edward está caminhando esse fim de semana?” ele perguntou
socialmente enquanto caminhávamos para a leve chuva.
“É”.
“Você quer fazer alguma coisa essa noite?”
Como é que ele ainda podia ter tantas esperanças?
“Não posso. Eu vou a uma festa do pijama”, eu rosnei. Ele me deu
uma olhada estranha enquanto processava o meu humor.
“Com quem você –“
A pergunta de Mike foi cortada quando um ronco alto de um
motor emergiu atrás de nós no estacionamento. Todo mundo na
calçada se virou pra olhar, encarando sem acreditar, a moto
preta que parou bruscamente na beira do concreto, com o motor
ainda roncando.
Jacob acenou pra mim urgentemente.
“Corra, Bella!” ele gritou por cima do ronco do motor.
Eu fiquei congelada por um segundo antes de entender.
Eu olhei pra Mike rapidamente. Eu sabia que só tinha alguns
segundos.
Até onde Alice iria pra me restringir em público?
“Eu fique doente e fui pra casa, tudo bem?” eu disse para Mike, a
minha voz cheia com excitação repentina.
“Ta bom”, ele murmurou.
Eu dei um beijo rápido na bochecha de Mike. “Obrigada, Mike. Eu
te devo uma!”, eu falei enquanto saía correndo.
Jacob acelerou o motor, sorrindo. Eu pulei atrás do seu banco,
passando os meus braços com força na cintura dele.
Eu vi Alice, congelada perto do refeitório, os olhos dela
brilhando de fúria, os lábios dela curvados em cima dos dentes.
Eu lancei um olhar de piedade pra ela.
Então estávamos correndo na rua com tanta velocidade que o
meu estômago se perdeu em algum lugar atrás de mim.
“Se segure”, Jacob gritou.
Eu escondi meu rosto nas costas dele enquanto ele aumentava a
velocidade na pista. Eu sabia que ele diminuiria quando atingisse a
fronteira dos Quileute. Eu só tinha que me segurar até lá. Eu
rezei silenciosamente e ferventemente pra que Alice não nos
seguisse, e que Charlie não me visse...
Foi óbvio quando nós chegamos à zona segura. A moto diminuiu de
velocidade, e Jacob se endireitou e rosnou de rir. Eu abri os
meus olhos.
“Nós conseguimos!” ele gritou. “Nada mal pra uma fuga da prisão,
não é?”
“Belo pensamento, Jake”.
“Eu me lembrei do que você disse sobre a sanguessuga vidente
não ser capaz de prever o que eu vou fazer. Eu estou feliz que
você não tenha pensado nisso – ela não teria deixado você ir para
a escola”.
“Foi por isso que eu não levei isso em consideração”.
Ele sorriu triunfantemente. “O que você quer fazer hoje?”
“Qualquer coisa!” eu ri de volta. Era ótimo me sentir livre.
Nós acabamos na praia de novo, andando sem rumo. Jacob ainda
estava cheio de si por ter arquitetado a minha fuga.
“Você acha que eles vão vir aqui te procurando?” ele perguntou,
soando esperançoso.
“Não”, eu tinha certeza disso. “No entanto, eles vão estar
furiosos comigo essa noite”.
Ele pegou uma pedra e a atirou nas ondas. “Então não volte”, ele
sugeriu de novo.
“Charlie ia amar isso”, eu disse sarcasticamente.
“Eu aposto que ele não ia se incomodar”.
Eu não respondi. Jacob estava certo, e isso me fez apertar os
meus dentes. A preferência clara que Charlie tinha pelos meus
amigos Quileute era tão injusta. Eu me perguntei se ele pensaria
a mesma coisa se soubesse que a escolha de verdade estava
entre vampiros e lobisomens.
“Então qual é o último escândalo do bando?” eu perguntei
levemente.
Jacob parou no ato, e olhou pra mim com olhos chocados.
“O que? Isso foi uma piada”.
“Oh”, ele olhou pra longe.
Eu esperei que ele falasse de novo, mas ele pareceu perdido em
pensamentos.
“Há um escândalo?” eu imaginei.
Jacob gargalhou uma vez. “Eu tinha esquecido como é, estar
perto de uma pessoa que sabe de tudo o tempo inteiro. Ter um
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lugar quieto, privado, na minha cabeça”.
Nós caminhamos lado a lado na praia cheia de pedras por alguns
minutos.
“Então o que é?” eu perguntei finalmente. “Que todo mundo na
sua cabeça já sabe?”
Ele hesitou por um momento, como se ele não estivesse muito
certo de como me dizer. Aí ele suspirou, e disse “Quil teve uma
impressão. Agora são três. O resto de nós está começando a
ficar preocupado. Talvez seja mais comum do que nas histórias
que elas contam...” Ele fez uma careta, e aí se virou pra me
encarar
Ele me olhou nos olhos sem falar, as sobrancelhas dele estavam
enrugadas de concentração.
"O que você tá olhando?" eu perguntei, me sentindo intimidada.
Ele suspirou. "Nada".
Jacob começou a caminhar de novo. Sem parecer pensar no que
fazia, ele pegou a minha mão. Nós andamos silenciosamente pelas
rochas.
Eu pensei no que estávamos parecendo caminhando de mãos
dadas pela praia - com um casal, certamente - e me perguntei se
eu deveria me opor. Mas as coisas sempre foram desse jeito com
Jacob... Não havia razão pra ficar preocupada com isso.
"Porque Quil tendo uma impressão é um escândalo tão grande?"
eu perguntei, quando não parecia que ele ia continuar. "É porque
ele é o mais novo?"
"Isso não tem nada a ver".
"Então qual é o problema?"
"É outra daquelas coisas de lenda. Eu me pergunto, quando é que
vamos parar de nos surpreender por elas serem todas
verdadeiras?" ele murmurou pra sí mesmo.
"Você vai me contar? Ou eu vou ter que adivinhar?"
"Você nunca adivinharia. Entenda, Quil não tem saído muito
conosco, sabe, até recentemente. Então, ele não tinha estado na
casa de Emily com frequência".
"A impressão de Quil foi com Emily também?" eu ofeguei.
"Não! Eu disse que você não ia adivinhar. Emily está recebendo as
duas sobrinhas em visita... e Quil conheceu Claire."
Ele não continuou. Eu pensei nisso por um momento.
"Emily não quer a sobreinha dela com um lobisomem? Isso é um
pouco de hipocrisia", eu disse.
Mas eu podia entender porque ela, entre todas as pessoas, se
sentia dessa forma. Eu pensei de novo nas longas cicatrizes que
marcavam o rosto dela e que se estendiam em todo o seu braço
direito. Sam só havia perdido o controle uma vez quando estava
perto demais dela. Uma vez foi tudo o que precisou... Eu tinha
visto a dor nos olhos de Sam quando ele olhou o que ele havia
feito com Emily. Eu podia entender porque Emily ia querer
proteger a sobrinha dela daquilo.
"Será que você pode parar de tentar adivinhar por favor? Você
está errada. Emily não se importa com essa parte, é só que, bem,
é um pouco cedo".
"O que você quer dizer com cedo?"
Jacob me olhou com os olhos apertados. "Tente não fazer
julgamentos, tudo bem?"
Eu balancei a cabeça cautelosamente.
"Claire tem dois anos", Jacob me disse.
A chuva começou a cair. Eu pisquei furiosamente enquanto as
gotas caíam no meu rosto.
Jacob esperou em silêncio. Ele não estava usando casaco, como
sempre; a chuva deixou uma trilha de pontos escuros na camisa
preta dele, e encharcou o seu cabelo que estava pingando. O
rosto dele estava sem expressão enquanto ele observava o meu.
"Quil... teve um impressão... com uma garota de dois anos de
idade?" eu finalmente fui capaz de perguntar.
"Isso acontece", Jacob levantou os ombros. Ele abaixou pra
pegar outra pedra e a fez sair voando através da baía. "Ou pelo
menos isso é o que as histórias dizem".
"Mas ela é um bebê", eu protestei.
Ele olhou pra mim com um divertimento negro. "Quil não vai
envelhecer", ele me lembrou, com um pouco de ácido em seu tom.
"Ele só vai ter que ser paciente por algumas décadas".
"Eu... não sei o que dizer".
Eu estava fazendo o meu melhor pra não ser crítica, mas, na
verdade, eu estava horrorizada. Até agora, nada sobre os
lobisomens haviam me incomodado desde o dia que eu descobrí
que não eram eles que estavam cometendo os assassinatos como
eu havia suspeitado.
"Você está fazendo julgamentos", ele acusou. "Eu posso ver no
seu rosto".
"Me desculpe", eu murmurei. "Mas isso soa muito esquisito".
"Não é bem assim, você entendeu tudo errado" Jacob defendeu o
amigo, repentinamente veemente. "Eu ví como é, pelos olhos dele.
Não ha absolutamente nada romântico nisso, não pra Quil, não
por enquanto." Ele respirou fundo, frustrado.
"É difícil descrever. Não é como se fosse amor à primeira vista,
na verdade. É mais como... ação da gravidade. Quando você vê
ela, de repente não é mais a terra que está te segurando aqui.
Ela te segura. E nada importa mais do que ela. E você faria
qualquer coisa por ela, seria qualquer coisa por ela... Você se
torna qualquer coisa que ela precisa que você seja, seja o
protetor dela, ou um amante, ou um amigo, ou um irmão.
"Quil será o melhor irmão mais velho e o mais gentil que alguém
já teve. Não existe um bebê que seja mais bem cuidado do que
aquela garotinha será. E depois, quando ela for mais velha e
precisar de um irmão, ele será mais compreensívo, confiavel e
presente do que qualquer pessoa que ela conheça. E depois,
quando ela for adulta, eles serão tão felizes quanto Emily e
Sam".
"Claire não tem uma escolha aqui?"
"É claro. Mas porque ela não escolheria ele, afinal? Ele será o par
perfeito pra ela. Como se ele tivesse sido inventado só pra ela".
Nós caminhamos em silêncio por um momento, até que eu parei
pra atirar uma pedra no oceano. Ela caiu na praia ha muitos
metros antes da água. Jacob riu.
"Nós não podemos ser todos sinistramente fortes" eu murmurei.
Ele suspirou.
"Quando você acha que isso vai acontecer com você?" eu
perguntei rapidamente.
A resposta dele foi vazia e imediata. "Nunca".
"Isso não é uma coisa que você pode controlar, é?"
Ele ficou em silêncio por alguns minutos. Inconscientemente, nós
dois caminhamos mais devagar, quase sem nos mover.
"Não deve ser", ele admitiu. "Mas você tem que ver ela - aquela
que supostamente foi feita pra você."
"E você acha que só porque você não a viu ainda, que ela não está
por aí?" eu pergutei ceticamente. "Jacob, você não viu muito do
mundo - menos que eu, até".
"Não, eu não ví", ele disse em uma voz baixa. Ele olhou para os
meus olhos com olhos repentinamente penetrantes.
"Mas eu nunca vou ver mais ninguém, Bella. Eu só vejo você.
Mesmo quando eu fecho os meus olhos e tento pensar em outra
coisa. Pergunte a Quil e Embry. Isso deixa eles loucos".
Eu deixei os meus olhos caírem para as pedras.
Nós não estávamos caminhando mais. O único som vinha das
ondas se batendo nas costas de rochas. Eu não conseguí ouvir a
chuva acabar com o seu ronco.
"Talvez seja melhor eu ir pra casa", eu sussurrei.
"Não!" ele protestou, surpreso com essa conclusão.
Eu olhei pra ele e os seus olhos estavam ansiosos agora.
"Você tem o dia inteiro de folga, não tem? O sugador de sangue
não vai estar em casa ainda".
Eu encarei ele.
"Sem intenção de ofender", ele disse rapidamente.
"Sim, eu tenho o dia todo. Mas, Jake..."
Ele levantou as mãos. "Perdão", ele se desculpou. "Eu não vou ser
mais assim. Eu vou só ser Jacob".
Eu suspirei. "Mas isso é o que você está pensando..."
"Não se preocupe comigo" ele insistiu, sorrindo com alegria
proposital, brilhante demais. "Eu sei o que eu estou fazendo. É só
me dizer se eu estiver aborrecendo você".
"Eu não sei..."
"Vamos, Bella. Vamos voltar pra casa e pegar as nossas motos.
Você tem que andar na moto regularmente pra não perder o
costume".
"Eu realmente não acho que eu tenho permissão".
"De quem? De Charlie ou do sugador - dele?"
"De ambos".
Jacob sorriu o meusorriso, e de repente ele era o Jacob do qual
eu mais tinha saudade, ensolarado e cálido.
Eu não pude deixar de rir de volta.
A chuva diminuiu, se transformou em um chuvisco.
"Eu não vou contar pra ninguém", ele prometeu.
"Exceto a todos os seus amigos".
Ele balançou a cabeça sobriamente e ergueu a mão direita. "Eu
prometo que não vou pensar nisso".
Eu sorrí. "Se eu me machucar, foi porque eu tropecei".
"O que você disser".
Nós andamos nas nossas motos nas estradas de La Push até que a
chuva as deixou com muita lama e Jacob insistiu que ia desmaiar
se não comesse nada rápido.
Billy me saudou facilmente quando nós chegamos na casa, como
se a minha aparição repentina não significasse nada mais
complicado do que eu querendo passar um dia com o meu amigo.
Depois que nós comemos os sanduíches que Jacob fez, nós
saímos para a garagem e eu o ajudei a limpar as motos. Eu não
tinha estado aqui ha meses - desde que Edward havia retornado -
mas não havia nenhuma sensação de importância nisso. Era só
uma outra tarde na garagem.
"Isso é legal" eu comentei quando ele tirou os refrigerantes
quentes do saco de papel da mercearia. "Eu senti falta desse
lugar".
Ele sorriu, olhando para as telhas de plástico juntas acima das
nossas cabeça. "É. Eu posso entender isso. Todo o esplendor do
Taj Mahal, sem a incoveniência das dispesas de uma viagem à
India".
"Ao pequeno Taj Mahal de Washington", eu brindei, levantando a
minha lata.
Ele tocou a sua lata na minha.
"Você se lembra do último Dia dos Namorados? Eu acho que
aquela foi a última vez que você esteve aqui - a última vez em que
as coisas estavam... normais, eu quero dizer."
Eu rí. "É claro que eu me lembro. Eu troquei uma vida de servidão
por uma caixinha em formato de coração. Isso não é uma coisa
que eu ache provavel esquecer".
Ele riu comigo. "É isso aí. Hmm, servidão. Eu vou ter que pensar
em alguma coisa boa". Aí ele surpirou. "Parece que já fazem anos.
Uma outra era. Uma era mais feliz".
Eu não podia concordar com ele. Essa era a minha era feliz agora.
Mas eu fiquei surpresa por me dar de quantas coisas eu sentia
falta das minhas próprias eras negras. Eu olhei para a abertura
na floresta cheia de musgos. A chuva estava mais forte de novo,
mas estava quente na pequena garagem, sentada perto de Jacob.
Ele era tão bom quanto uma lareira.
Os dedos dele alisaram a minha mão. "As coisas realmente
mudaram"
"É" Eu disse, e aí eu me inclinei e dei um tapinha no pneu de trás
da minha moto. "Charlie costumava gostar de mim. Eu espero que
Billy não o conte nada sobre hoje..." eu mordí o meu lábio.
"Ele não vai. Ele não fica esquentado com as coisas do jeito que
Charlie fica. Ei, eu nunca me desculpei oficialmente por aquele
lance estúpido com as motos. Eu realmente sinto muito por ter te
dedurado pro Charlie. Eu queria não ter feito isso".
Eu revirei os meus olhos. "Eu também".
"Eu realmente, realmente sinto muito".
Ele olhou pra mim esperançosamente, seu cabelo preto molhado,
emaranhado, estava em todo canto no rosto implorativo dele.
"Oh, tá legal! Você está perdoado".
"Obrigado, Bells!"
Nós rimos um pro outro por um segundo, e então o rosto dele
sombreou.
"Sabe aquele dia, quando eu levei as motos... Eu estava esperando
te perguntar uma coisa", ele disse lentamente. "Mas também...
não queria".
Eu fiquei muito imóvel - uma reação ao estresse. Esse era um
hábito que eu havia pego de Edward.
"Você estava só sendo teimosa porque estava com raiva de mim,
ou você estava realmente falando sério?" ele sussurrou.
"Sobre o que?" eu sussurrei de volta, apesar de eu ter certeza
de que sabia sobre o que ele estava falando.
Ele me encarou. "Você sabe. Quando você disse que não era da
minha conta... se - se ele te mordesse". Ele enrijeceu
visivelmente no final.
"Jake" a minha garganta parecia inchada. Eu não conseguí
terminar.
Ele fechou os olhos e respirou fundo. "Você estava falando
sério?"
Ele estava tremendo bem de leve. Os olhos dele ficaram
fechados.
"Sim" eu sussurrei.
Jacob inalou, devagar e profundo. "Eu acho que sabia disso".
Eu olhei para o rosto dele, esperando que seus olhos se abrissem.
"Você sabe o que isso vai significar?" ele perguntou de repente.
"Você entende isso, não entende? O que vai acontecer se eles
quebrarem o acordo?"
"Nós vamos embora primeiro", eu disse com uma voz pequena.
Os olhos dele se abriram, as profundidades pretas estavam
cheias de raiva e de dor.
"Não havia um limite geográfico para o acordo, Bella. Os nossos
avôs só concordaram em manter a paz porque os Cullen juraram
que eles eram diferentes, que os humanos não estariam em
perigo por causa deles. Eles prometeram que nunca iam matar ou
transformar alguém de novo. Se eles derem pra trás com a sua
palavra, o acordo não tem valor, e eles não serão diferentes dos
outros vampiros. Uma vez que isso está estabelecido, quando nós
os acharmos -"
"Mas, Jake, você já não quebrou o acordo", eu perguntei, me
segurando á palha. "Não era parte do acordo que você não
poderiam contar ás pessoas sobre os vampiros? E você me
contou. Então o acordo não pode ser debatido, de alguma
forma?"
Jake não gostou do lembrete; a dor dos olhos dele endureceu até
se transformar em animosidade. "É, eu quebrei o acordo - antes,
quando eu não acreditava em nada disso. E eu tenho certeza de
que eles estão informados disso", ele olhou amargamente para a
minha testa, sem encontrar o meu olhar envergonhado. "Mas não
é como se isso os desse uma colher de chá. Não há um castigo
para uma falta. Eles só têm uma opção de se opor ao que eu fiz. A
mesma opção que nós teremos se eles quebrarem o acordo:
atacar. Começar a guerra."
Ele fez com que isso soasse inevitável. Eu tremí.
"Jake, as coisas não têm que ser assim".
Os dentes dele se apertaram. "É assimque é"
O silêncio depois da declaração dele pareceu muito alto.
"Você nunca vai me perdoar, Jacob?", eu sussurrei. Assim que eu
disse as palavras, eu desejei não ter dito. Eu não queria ouvir a
resposta dele.
"Você não será mais Bella", ele me disse. "A minha amiga não vai
existir. Não haverá ninguém pra perdoar".
______________________5
"Isso soa como um não". Eu sussurrei.
Nós encaramos um ao outro por um momento sem fim.
"Isso é adeus, então, Jake?"
Ele piscou rapidamente, a expressão penetrante dele derretendo
com a surpresa. "Porque? Nós ainda temos alguns anos. Nós não
podemos ser amigos até que não haja mais tempo?"
"Anos? Não, Jake, não anos". Eu balancei a minha cabeça e rí uma
vez sem humor. "Semanas é mais preciso".
Eu não estava esperando a reação dele.
De repente ele estava de pé, e houve um alto pop quando a lata
de refrigerante estorou na mão dele. Voou refrigerante pra todo
lado, me molhando, como se ele estivesse saindo de uma
magueira.
"Jake!" eu comecei a reclamar, mas eu fiquei em silêncio quando
eu percebi que o corpo inteiro dele estava tremendo de raiva. Ele
me encarou selvagemente, um rosnado nascendo no peito dele.
Eu congelei no lugar, chocada demais pra lembrar de como me
mexer.
A tremedeira passava por ele, ficando mais rápida, até que
pareceu que ele estava vibrando. O corpo dele parecia um vulto...
E aí Jacob apertou os dentes, e os rosnados pararam. Ele
apertou a mão com força de concentrando; a tremedeira parou
até que apenas as mãos dele estavam tremendo.
"Semanas", Jacob disse num tom vazio.
Eu não conseguí responder; eu ainda estava congelada.
Ele abriu os olhos. Eles estavam além da fúria agora.
"Ele vai te transformar em uma sugadora de sangue suja em
apenas algumas semanas!" Jacob assobiou por entre os dentes.
Pasma demais pra me importar com o insulto nas palavras dele, eu
só balancei a cabeça, muda.
O rosto dele ficou verde por baixo da pele ruiva.
"É claro, Jake" eu sussurrei, depois de um longo minuto de
silêncio. "Ele tem dezessete, Jacob. E eu estou mais próxima dos
dezenove a cada dia. Além do mais, qual é a necessidade de
esperar? Ele é tudo o que eu quero. O que mais eu posso fazer?"
Essa pergunta era pra ser retórica.
As palavras dele saíram como se fossem um chicote. "Qualquer
coisa. Qualquer outra coisa. Era melhor que você estivesse
morta. Eu preferiria se você estivesse".
Eu dei um passo pra trás como se ele tivesse me batido. A dor
foi pior do que se ele tivesse batido.
E aí, enquanto a dor passou por mim, a minha própria raiva se fez
em chamas.
"Talvez você tenha sorte", eu disse, vazia, ficando de pé. "Talvez
eu bata em um caminhão no meu caminho de volta".
Eu peguei a minha moto e a arrastei para a chuva. Ele não se
moveu quando eu passei por ele. Assim que eu cheguei no pequeno
caminho lamacento, e me inclinei e dei partida na moto. O pneu
traseiro espirrou uma fonte de lama em direção à garagem, e eu
esperei que sujasse ele.
Eu fiquei absolutamente encharcada enquanto corria pela
estrada na direção à casa do Cullen. O vento parecia estar
congelando a chuva no meu corpo, e os meus dentes estavam
batendo antes que eu estivesse a meio caminho de lá.
Motos eram impráticas demais para Washington. Eu ia vender a
coisa estúpida quando tivesse a primeira oportunidade. Eu levei a
moto até a garagem cavernosa dos Cullen e não me surpreendí ao
encontrar Alice esperando por mim, encostada levemente no capô
do seu Porsche. Alice alisou a pintura amarela brilhante.
"Eu nem tive a chance de dirigí-lo". Ela suspirou.
"Desculpa", eu cuspi por entre os dentes.
"Você parece estar precisando de um banho quente", ela disse,
improvisando, enquanto se colocava levemente de pé.
"É".
Ela torceu os lábios, olhando cuidadosamente para a minha
expressão. "Você quer falar sobre isso?"
"Não".
Ela assentiu com a cabeça, mas os olhos dela ainda estavam
inquietos de curiosidade.
"Você quer ir à Olympia essa noite?"
"Na verdade não. Eu não posso ir pra casa?"
Ela fez uma careta.
"Deixa pra lá, Alice", eu disse. "Eu fico, se isso facilita as coisas
pra você".
"Obrigada", ela suspirou aliviada.
Eu fui dormir cedo naquela noite, me dobrando no sofá de novo.
Ainda estava escuro quando eu acordei. Eu estava grogue, mas eu
sabia que ainda não estava perto de ser manhã. Os meus olhos se
fecharam e eu me estiquei, rolando. Eu levei um segundo pra
perceber que o movimento devia ter me derrubado no chão. E eu
estava muito mais confortável.
Eu rolei de volta, tentando enxergar.
Estava mais escuro que na noite passada - as nuvens estavam
grossas demais para a lua brilhar através delas.
"Desculpe" ele murmurou tão suavemente que as palavras dele
pareciam parte da escuridão. "Eu não queria te acordar".
Eu fiquei tensa, esperando pela fúria - tanto a dele quanto a
minha - mas só estava calmo e quieto na escuridão do quarto
dele. Eu quase podia sentir a doçura da reunião no ar, uma
fragrância separada do perfume da respiração dele; o vazio de
quando estávamos separados deixou um gosto amargo. uma coisa
que eu não percebia conscientemente até que ele era removido.
Não havia fricção no espaço entre nós. A imobilidade era
apaziguadora - não como a calma depois da tempestade, mas
como uma noite clara que não foi nem tocada com o sonho de uma
tempestade.
E eu não me importei se eu devia estar com raiva dele. Eu não me
importava se eu devia estar com raiva de todo mundo. Eu me
inclinei pra ele, encontrei a sua mão na escuridão, e me puxei pra
mais perto dele. Os braços dele me circundaram, me segurando
contra o peito dele. Os meus lábios procuraram, caçando na
garganta dele, no seu queixo, até que eu finalmente encontrei os
lábios dele.
Edward me beijou suavemente por um momento, e então ele
gargalhou.
"Eu estava todo preocupado por causa da briga que ia
envergonhar os ursos pardos, e é isso que eu ganho? Eu devia te
deixar furiosa mais vezes".
"Me dê um minuto pra ajeitar isso", eu caçoei, beijando ele de
novo.
"Eu espero o quanto você quiser", ele sussurrou nos meus lábios.
Os dedos dele se entrelaçaram nos meus cabelos.
A minha respiração estava ficando desigual. "Talvez de manhã".
"O que você preferir".
"Bem vindo ao lar" eu disse enquanto os lábios frios dele se
pressionaram na minha mandíbula. "Eu estou feliz por você ter
voltado".
"Isso é uma coisa muito boa".
"Mmm", eu concordei, apertando mais os meus dedos no pescoço
dele.
A mão dele se curvou no meu cotovelo, descendo lentamente pelo
meu braço, através das minhas costelas e pela minha cintura,
traçando o meu quadril e descendo pela minha perna, ao redor do
meu joelho. Ele parou aí, a mão dele circulando o meu tornozelo.
Ele puxou a minha perna pra cima de repente, passando ela pelo
quadril dele.
Eu parei de respirar. Esse não era o tipo de coisa que ele
permitia. Apesar das mãos frias dele, eu me sentí quente de
repente. Os lábios dele se moveram na base da minha garganta.
"Não é pra trazer a ira prematuramente", ele sussurrou. "Mas
será que você pode me dizer o que há nessa cama a que você se
opõe?"
Antes que eu pudesse responder, antes que eu sequer pudesse
me concentrar o suficiente pra entender o significado das
palavras dele, ele rolou para o lado, me colocando em cima dele.
Ele segurou o meu rosto com as mãos, angulando ele para que a
sua boca pudesse alcansar a minha garganta. A minha respiração
estava muito alta - era quase embaraçoso, mas eu não conseguia
me importar o suficiente pra ficar envergonhada.
"A cama?" ele perguntou de novo. "Eu acho ela legal".
"É desnecessária", eu consegui botar pra fora.
Ele puxou o meu rosto de volta pra o dele, e os meus lábios se
encaixaram nos dele. Lentamente dessa vez, ele rolou até estar
em cima de mim. Ele se segurou cuidadosamente pra que eu não
sentisse nada do peso dele, mas eu podia sentir a frieza de
mármore do seu corpo pressionado no meu. O meu coração estava
batendo tão alto que foi difícil ouvir o riso baixo dele.
"Isso é debatível", ele discordou. "Isso ia ser difícil no sofá".
Fria como gelo, a língua dele traçou os cortornos dos meus lábios.
A minha cabeça estava girando - o ar estava vindo rápido demais
e muito superficialmente.
"Você mudou de idéia?" eu perguntei sem fôlego. Talvez ele
tivesse repensado as suas regras cuidadosas. Talvez houvesse
mais significância nessa cama do que eu havia pensado
originalmente. O meu coração bateu quase dolorosamente
enquanto eu esperava pela resposta dele.
Edward suspirou, rolando de novo até que estávamos de novo dos
nossos lados.
"Não seja ridícula, Bella", ele disse, a desaprovação estava forte
na voz dele - claramente ele entendeu do que eu estava falando.
"Eu só estava tentando ilustrar os benefícios de uma cama da
qual você não parece gostar. Não se deixe levar".
"Tarde demais", eu murmurei. "E eu gosto da cama", eu
acrescentei.
"Bom", eu podia ouvir o sorriso na voz dele enquanto ele beijava a
minha testa. "Eu também gosto".
"Mas eu ainda acho que é desnecessário", eu continuei. "Se nós
não vamos nos deixar levar, qual é o ponto?"
Ele suspirou de novo. "Pela centésima vez, Bella - é perigoso
demais".
"Eu gosto de perigo", eu insistí.
"Eu sei", havia um tom amargo na voz dele, e eu me dei conta de
que ele devia ter visto a moto na garagem.
"Eu vou te dizer o que é perigoso", eu disse rapidamente, antes
que ele pudesse passar para um novo tópico da discussão. "Eu vou
entrar em combustão espontânea um dia desses - e você não vai
poder culpar ninguém além de sí mesmo".
Ele começou a me afastar.
"O que você está fazendo?", eu reclamei, me apertando a ele.
"Te protegendo da combustão. Se isso for demais pra você..."
"Eu posso aguentar", eu insistí.
Ele deixou que eu me recolocasse no círculo dos braços dele.
"Eu lamento por ter te dado a impressão errada", ele disse. "Eu
não queria te deixar infeliz. Aquilo não foi legal".
"Na verdade, foi muito, muito legal".
Ele respirou fundo. "Você não está cansada? Eu devia te deixar
dormir".
"Não, eu não estou. Eu não me importo se você me ser a
impressão errada de novo".
"Essa provavelmente é uma má idéia. Você não á a única que se
deixa levar".
"Sou sim", eu murmurei.
Ele gargalhou. "Você não tem idéia, Bella. E também não ajuda
muito que você esteja tão determinada a quebrar o meu auto-controle".
"Eu não vou me desculpar por isso".
"Posso eupedir desculpa?"
"Pelo quê?"
"Você estava com raiva de mim, lembra?"
"Oh, isso".
"Eu lamento. Eu estava errado. É muito mais fácil pensar nas
perspectivas com clareza quando você está segura aqui" Os
braços dele se apertaram ao meu redor. "Eu fico um pouco
frenético quando eu tento te deixar. Eu não acho que vou tão
longe de novo. Não vale a pena".
Eu sorrí. "Você não achou nenhum leão da montanha?"
"Sim, na verdade eu achei. Mas ainda não vale a ansiedade. Eu
sinto muito por ter feito Alice te fazer de refém. Isso foi uma
má idéia".
"Sim", eu concordei.
"Eu não vou fazer de novo".
"Tá certo", eu disse facilmente. Ele já estava perdoado. "Mas
festas do pijama têm suas vantagens..." Eu cheguei mais perto,
pressionando os meus lábios na clavícula dele. "Você pode me
fazer de refém sempre que quiser".
"Mmm", ele suspirou. "Eu posso me aproveitar disso".
"Então é minha vez agora?"
"Sua vez?" a voz dele estava confusa.
"De pedir desculpas".
"Pelo que você vai pedir desculpas?"
"Você não está com raiva de mim?" eu perguntei sem entender.
"Não".
Ele soou como se estivesse falando sério.
Eu sentí as minhas sobrancelhas se juntando. "Você não viu Alice
quando chegou em casa?"
"Sim - Porque?"
"Você vai pegar o Porsche dela de volta?"
"É claro que não. Foi um presente".
Eu desejei poder ver a expressão dele.
"Você não quer saber o que eu fiz?" eu perguntei, começando a
ficar confusa com a aparente falta de preocupação dele.
Eu sentí ele erguer os ombros. "Eu sempre estou interessado no
que você faz - mas você não tem que me contar a menos que você
queira".
"Mas eu estive em La Push".
"Eu sei".
"E eu faltei à escola"
"Eu também".
Eu encarei na direção da voz dele, traçando o rosto dele com os
meus dedos, tentando entender o humor dele. "De onde foi que
veio toda essa tolerância?", eu quis saber.
Ele suspirou.
"Eu decidí que você estava certa. O meu problema antes era mais
com... o meu preconceito com os lobisomens do que por outra
coisa. Eu vou tentar ser mais razoável e confiar no seu
julgamento. Se você diz que é seguro, então eu acredito em
você".
"Uau".
"E... o mais importante... eu não estou a fim de deixar isso
construir uma ponte entre nós".
Eu descansei a minha cabeça no peito dele e fechei os meus
olhos, totalmente contente.
"Então" ele murmurei em um tom casual. "Você fez planos pra ir à
La Push em breve?"
Eu não respondí. A pergunta dele trouxe as palavras de Jacob de
volta à minha mente, e de repente a minha garganta estava
apertada.
Ele entendeu mal a minha falta de palavras e a rigidez no meu
corpo.
"Só pra que eu possa fazer os meus próprio planos", ele explicou
rápido. "Eu não quero que você sinta que precisa se apressar só
porque eu estou sentado por aqui te esperando".
"Não" eu disse numa voz que pareceu estranha pra mim. "Eu não
tenho planos pra voltar".
"Oh. Você não tem que fazer isso por mim".
"Eu não acho que sou mais bem vinda", eu sussurrei.
"Você atropelou o gato de alguém?" ele perguntou levemente. Eu
sabia que ele não queria me forçar a contar a história, mas eu
podia ouvir a curiosidade queimando por baixo das palavras dele.
______________________6
"Não", eu respirei fundo, e depois murmurei rapidamente a minha
explicação. "Eu pensei que Jacob tivesse se dado conta... Eu não
pensei que isso fosse surpreendê-lo".
Edward esperou enquanto eu hesitei.
"Ele não estava esperando... que fosse ser tão cedo".
"Ah", Edward disse baixinho.
"Ele disse que preferiria me ver morta" A minha voz quebrou na
última palavra.
Edward ficou parado demais por um momento, controlando
qualquer que fosse a reação que ele não queria me deixar ver.
Então ele me apertou gentilmente no peito dele. "Eu lamento
muito".
"Eu pensei que você ficaria feliz", eu murmurei.
"Feliz por uma coisa que machucou você?" ele murmurou no meu
cabelo. "Eu acho que não, Bella".
Eu suspirei e relaxei, me encaixando no formato de pedra dele.
Mas ele estava imóvel de novo, tenso.
"Qual é o problema?" eu perguntei.
"Não é nada".
"Você pode me dizer".
Ele pausou por um momento. "Isso pode te deixar com raiva".
"Eu ainda quero saber".
Ele suspirou. "Eu literalmente bem que podia matar ele por dizer
isso pra você. Eu quero matar ele".
Eu rí sem muita vontade. "Eu acho que é uma coisa boa que você
tenha tanto auto-controle"
"Eu podia escorregar" O tom dele estava pensativo.
"Se você vai ter um lapso de controle, eu posso pensar em um
lugar melhor pra isso". Eu alcancei o rosto dele, tentando me
levar pra cima pra dar um beijo nele. Os braços dele me
seguraram com mais força, me restringindo.
Ele suspirou. "Será que eu preciso ser sempre o responsável?"
Eu sorri para a escuridão. "Não. Me deixa ficar no controle da
responsabilidade por alguns minutos... ou horas"
"Boa noite, Bella."
"Espere - Havia algo mais sobre o que eu queria te perguntar".
"O que é?"
"Eu estava falando com Rosalie na noite passada..."
O corpo dele ficou tenso de novo. "Sim. Ela estava pensando
nisso quando eu entrei. Ela te deu muitas coisas pra levar em
consideração, não foi?"
A voz dele estava ansiosa, e eu me dei conta de que ele pensou
que eu queria falar nas razões que Rosalie havia me dado pra
continuar humana. Mas eu estava interessada em outra coisa
muito mais grave.
"Ela me contou um pouco... sobre a época que a sua família viveu
em Denali".
Houve uma curta pausa; esse começo havia pego ele de surpresa.
"Sim?"
"Ela mencionou algumas coisas sobre um monte de fêmeas
vampiras... e você".
Ele não respondeu, apesar de eu ter esperado por um longo
tempo.
"Não se preocupe" eu disse, depois que o silêncio ficou
desconfortável. "Ela me disse que você não... demonstrou nenhum
preferência. Mas eu só estava me perguntando, sabe, se alguma
delas demonstrou. Demonstrou preferência por você, eu quero
dizer".
De novo ele não disse nada.
"Qual delas?" eu perguntei, tentando manter a minha voz casual,
e sem conseguir. "Ou havia mais de uma?"
Nenhuma resposta. Eu desejei poder ver o rosto dele, pra que
assim eu pudesse tentar adivinhar o que o silêncio significava.
"Alice vai me dizer", eu disse. "Eu vou perguntar a ela agora".
Os braços dele se apertaram; eu fui incapaz de me mover um
centímetro.
"Está tarde", ele disse. A voz dele estava com um tom que era
algo novo. Meio nervosa, talvez um pouco envergonhada. "Além do
mais, eu acho que Alice saiu..."
"É ruim" eu adivinhei. "É realmente ruim, não é?" eu comecei a
entrar em pânico, o meu coração acelerando enquanto eu
imaginava a linda rival imortal que eu nunca imaginei que tivesse.
"Se acalme, Bella", ele disse, beijando a ponta do meu nariz.
"Você está sendo absurda".
"Estou? Então porque você não me diz?"
"Porque não ha nada pra dizer. Você está colocando isso fora de
proporção".
"Qual delas"? eu insisti.
Ele suspirou. "Tânia expressou um pouco de interesse. Eu deixei
ela saber, de uma maneira muito cortês, cavalheiresca, que eu
não retornava o interesse. Fim da história".
Eu mantive a minha voz o mais uniforme possível. "Me diga uma
coisa - como Tânia se parece?"
"Exatamente como o resto de nós - pele branca, olhos dourados",
ele respondeu rapidamente demais.
"E, é claro, extraordinariamente linda".
Eu sentí ele erguer os ombros.
"Eu acho, para os olhos humanos", ele disse, indiferente. "No
entanto, quer saber?"
"O que?" a minha voz estava petulante.
Ele colocou os lábios no meu ouvido direito; a respiração gelada
dele fez cócegas. "Eu prefiro as morenas".
"Ela é loira. Não é de estranhar".
"Loira morango - absolutamente não faz o meu tipo".
Eu pensei nisso por um momento, tentando me concentrar
enquanto os lábios dele se moviam lentamente pela minha
bochecha. Ele fez o circuito três vezes antes que eu falasse.
"Eu acho que está tudo bem, então", eu decidí.
"Hmm", ele sussurrou na minha pele. "Você é adorável quando
está com ciúmes. É surpreendentemente agradável".
Eu fiz uma careta no escuro.
"Está tarde", ele disse de novo, murmurando, quase sofejando
agora, a voz dele era mais macia que seda. "Durma, minha Bella.
Tenha sonhos felizes. Você é a única que já tocou meu coração.
Ele será sempre seu. Durma, meu único amor".
Ele começou a cantar a minha canção de ninar, e eu sabia que
seria apenas uma questão de tempo até que eu sucumbisse, então
eu fechei os meus olhos e me aconcheguei mais no peito dele.
9. Alvo
Alice me deixou em casa de manhã, pra manter a charada da
festa do pijama. Não demoraria muito até que Edward
aparecesse, oficialmente retornando da sua viagem de
“caminhada”. Todas as farsas estavam começando a me cansar.
Eu não ia sentir falta dessa parte de ser humana.
Charlie espiou pela janela da frente quando ele me viu bater a
porta do carro. Ele acenou pra Alice, e depois foi abrir a porta
pra mim.
“Você se divertiu?” Charlie perguntou.
“Claro, foi ótimo. Muito... garotas”.
Eu carreguei as minhas coisas pra dentro, amontoei todas elas no
pé da escada, e fui para a cozinha pra procurar um lanche.
“Você tem uma mensagem”, Charlie falou atrás de mim.
No balcão da cozinha, o bloco de mensagens telefônicas estava
aberto conspicuosamente contra uma panela de molho.
Jacob ligou, Charlie havia escrito.

Ele disse que não teve a intenção, e que ele sente muito. Ele quer
que você ligue pra ele. Seja boazinha e dê uma chance a ele. Ele
parecia chateado. 

Eu fiz uma careta. Geralmente Charlie não editava as minhas
mensagens.
Jacob podia ir em frente e ficar chateado. Eu não queria falar
com ele. Da última vez que eu tive notícias, eles não eram bons
em aceitar ligações do outro lado. Se Jacob me preferia morta,
então talvez ele devesse começar a se acostumar com o silêncio.
O meu apetite evaporou. Eu quase fiz uma careta e fui guardar
as minhas coisas.
“Você não vai ligar pra Jacob?” Charlie perguntou. Ele estava se
inclinando ao redor da parede da sala de estar, me observando
recolher as coisas.
“Não”
Eu comecei a subir as escadas.
“Esse não é um comportamento muito atraente, Bella”, ele disse.
“Perdoar é divino”.
“Cuide dos seus assuntos”, eu murmurei por baixo do fôlego,
baixo demais pra ele ouvir. 
Eu sabia que as roupas sujas estavam se acumulando, então,
depois que eu guardei a minha pasta de dentes e joguei as minhas
roupas sujas no cesto, eu fui desforrar a cama de Charlie. Eu
deixei os lençóis dele em uma pilha no topo das escadas e fui
buscar os meus.
Eu parei ao lado da cama, pendendo a minha cabeça de lado.
Onde estava o meu travesseiro? Eu fiz um círculo, vasculhando o
quarto. Nada de travesseiro. Eu reparei que o meu quarto estava
estranhamente arrumado. A camisa do meu moletom não tinha
sido jogada no poste baixo da cama no encosto de pés? E eu
podia jurar que havia um par de meias sujas atrás da cadeira de
balanço, junto com uma blusa vermelha que eu tinha
experimentado a duas manhãs atrás, mas eu decidi que era
arrumada demais para a escola, e pendurei ela no braço... eu me
virei de novo. O meu cesto não estava vazio, mas não estava
transbordando, do jeito que eu pensava que estava.
Charlie estava lavando a roupa? Isso era fora do comum.
“Pai, você começou a lavar as roupas?”, eu gritei pela minha porta.
“Um, não”, ele gritou de volta, soando culpado. “Você queria que
eu começasse?”
“Não, eu faço isso. Você estava procurando alguma coisa no meu
quarto?”
“Não. Porque?”
“Eu não consigo encontrar... uma camisa...”
“Eu não estive aí”
E aí eu me lembrei que Alice havia estado aqui pra pegar os meus
pijamas. Eu não percebi que ela havia levado o meu travesseiro
também – provavelmente porque eu tinha evitado a cama. Parecia
que ela tinha feito uma limpeza quando passou. Eu corei por causa
da minha desorganização.
Mas a blusa vermelha não estava realmente suja, então eu fui
salva-la do cesto.
Eu esperava encontra-la perto do topo, mas ela não estava lá. Eu
escavei a pilha inteira e mesmo assim não consegui encontra-la.
Eu sabia que provavelmente eu estava ficando paranóica, mas
parecia que mais alguma coisa estava faltando, ou talvez mais de
uma coisa. Ele não estava cheio nem pela metade.
Eu tirei os meus lençóis e fui para o armário da lavanderia,
pegando os de Charlie no caminho. A máquina de lavar estava
vazia. Eu chequei a secadora também, meio que esperando
encontrar roupas lavadas esperando por mim, cortesia de Alice.
Nada. Eu fiz uma careta, confusa.
“Você encontrou o que estava procurando?” Charlie gritou.
“Ainda não”.
Eu voltei lá pra cima pra procurar em baixo da minha cama. Nada
além de coelhinhos de poeira. Eu comecei a procurar na minha
cômoda. Talvez eu tivesse guardado a camisa vermelha e tivesse
esquecido.
Eu desisti quando a campainha tocou. Devia ser Edward.
“A porta” Charlie me informou do sofá enquanto eu passei
correndo por ele.
“Não fique tenso, pai”.
Eu abri a porta com um grande sorriso no rosto.
Os olhos dourados de Edward estavam arregalados, as narinas
estavam infladas, seus lábios estavam puxados pra cima dos
dentes.
“Edward?” a minha voz estava afiada com o choque enquanto eu li
a expressão dele. “O que -?”
Ele colocou seus dedos nos meus lábios. “Me dê dois segundos”,
ele sussurrou. “Não se mova”.
Eu fiquei congelada na porta e ele... desapareceu. Ele se moveu
tão rapidamente que Charlie nem viu ele passar.
Antes que eu pudesse me recompor o suficiente pra contar até
dois, ele estava de volta. 
Ele colocou o braço ao redor da minha cintura e me puxou
rapidamente em direção à cozinha. Os olhos dele vasculharam o
espaço, e ele me segurou contra o seu corpo como se estivesse
me protegendo de alguma coisa.
Eu joguei um olhar na direção de Charlie no sofá, mas ele estava
estudiosamente nos ignorando.
“Alguém esteve aqui”, ele murmurou no meu ouvido depois de me
puxar para o fundo da cozinha. A voz dele estava tensa; era
difícil ouvi-lo com o barulho da máquina de lavar pratos.
“Eu juro que nenhum lobisomem –“ eu comecei a dizer.
“Não um deles” ele me interrompeu rapidamente, balançando a
cabeça. “Um de nós”.
O tom na voz dele deixou claro que não estava falando de um
membro da família dele.
Eu senti o sangue escapando do meu rosto.
“Victoria?” eu botei pra fora.
“Não é um cheiro que eu reconheço.”
“Um dos Volturi”, eu adivinhei.
“Provavelmente”
“Quando?”
“É por isso que eu acho que foi um deles – não foi a muito tempo,
cedo hoje de manhã enquanto Charlie estava dormindo. E quem
quer que tenha sido não tocou nele, então deve ter sido por outro
propósito”.
“Procurando por mim”.
Ele não respondeu. O corpo dele estava congelado, uma estátua.
“Sobre o que vocês dois estão cochichando?” Charlie perguntou
suspeitosamente, virando na esquina com uma tigela de pipoca
vazia nas mãos.
Eu fiquei verde. Um vampiro havia estado dentro de casa
procurando por mim enquanto Charlie estava dormindo. O pânico
me dominou, fechou minha garganta. Eu não consegui responder,
eu só encarei ele horrorizada.
A expressão de Charlie mudou. Abruptamente, ele estava
sorrindo. “Vocês dois estão brigando... bem, não me deixem
interromper.”
Ainda sorrindo, ele colocou a sua tigela na pia e saiu da cozinha.
“Vamos”, Edward disse num voz dura e baixa.
“Mas Charlie!” O medo estava apertando o meu peito, tornando
difícil respirar.
Ele pensou por um breve segundo, e então o telefone dele estava
em sua mão.
“Emmett”, ele murmurou no receptor. Ele começou a falar tão
rápido que eu não conseguia entender as palavras. Ele começou a
me puxar em direção à porta.
“Emmett e Jasper estão a caminho”, ele sussurrou quando sentiu
a minha resistência. “Eles vão vasculhar a floresta. Charlie está
bem”.
Aí eu deixei ele me arrastar junto, em pânico demais pra pensar
com clareza. Charlie encontrou os meus olhos amedrontados com
um sorriso presumido, que de repente se transformou em
confusão. Edward já tinha me levado porta afora antes que
Charlie pudesse dizer qualquer coisa.
“O que nós vamos fazer?” eu não pude deixar de sussurrar,
mesmo depois que já estávamos dentro do carro.
“Nós vamos falar com Alice” ele me disse, o volume de sua voz
estava normal mas ela estava vazia.
______________________7



“Você acha que talvez ela tenha visto alguma coisa?”
Ele olhou para a pista com os olhos apertados. “Talvez”.
Eles já estavam esperando por nós, alertados pela ligação de
Edward. Era como entrar num museu, todos estavam imóveis
como estátuas em várias poses de estresse.
“O que aconteceu”, Edward quis saber assim que passamos pela
porta. Eu fiquei chocada ao ver que ele estava encarando Alice,
as mãos dele nos pulsos com raiva.
Alice continuou com os braços cruzados no peito com força. Só
os lábios dela se moveram. “Eu não falo idéia. Eu não vi nada”.
“Como isso é possível?”, ele assobiou.
“Edward” eu disse, uma baixa reprimenda. Eu não gostava dele
falando com Alice desse jeito.
Carlisle interrompeu com um voz calmante. “Não é uma ciência
exata, Edward”.
“Ele estava no quarto dela, Alice. Ele podia ainda estar lá –
esperando por ela”.
“Eu teria visto isso”.
Edward jogou as mãos pra cima em exasperação. “Mesmo? Você
tem certeza?”
A voz de Alice estava fria quando ela respondeu. “Você já me
tem observando as decisões dos Volturi, observando a volta de
Victoria, observando cada passo de Bella. Você quer acrescentar
mais alguma coisa? Eu tenho que observar Charlie, ou o quarto de
Bella, ou a casa, ou a rua inteira também? Edward, se eu fizer
muita coisa, as coisas vão começar a sair do meu controle”.
“Parece que elas já estão”, Edward disparou.
“Ela nunca esteve em perigo. Não havia nada pra ver”.
“Se você estava vigiando a Itália, porque você não os viu mandar
–“
“Eu não acho que sejam eles”, Alice insistiu. “Eu teria visto isso”.
“Quem mais teria deixado Charlie vivo?”
Eu estremeci.
“Eu não sei”, Alice disse.
“Ajudou”.
“Pare com isso, Edward”, eu sussurrei.
Ele virou pra mim, seu rosto ainda estava lívido, seus dentes
estavam trincados. Ele me encarou por meio segundo, e depois,
de repente, ele exalou. Os olhos dele arregalarem e a mandíbula
dele relaxou.
“Você está certa, Bella. Me desculpe”, Ele olhou pra Alice. “Me
perdoe, Alice. Eu não devia estar descontando em você. Isso foi
indesculpável”.
“Eu entendo”, Alice o assegurou. “Eu também não estou feliz com
isso”.
Edward respirou fundo. “Tudo bem, vamos ver isso logicamente.
Quais são as possibilidades?”
Todo mundo pareceu descongelar ao mesmo tempo. Alice relaxou
e se encostou nas costas do sofá. Carlisle caminhou lentamente
em direção a ela, com os olhos distantes. Esme estava sentada no
sofá em frente a Alice, cruzando as pernas no acento. Apenas
Rosalie continuou sem se mover, de costas pra nós, olhando pela
parede de vidro.
Edward me puxou para o sofá e eu me sentei perto de Esme, que
mudou de posição pra passar o braço por mim. Ele segurou uma
das minhas mãos apertada entre as duas dele.
“Victoria?” Carlisle perguntou.
Edward balançou a cabeça. “Não. Eu não conhecia o cheiro. Ele
devia ser dos Volturi, alguém que eu nunca conheci..”
Alice balançou a cabeça. “Aro ainda não pediu a ninguém pra
procurar por ela. Eu vou ver isso. Eu estou esperando por isso”.
Edward levantou a cabeça. “Você está esperando por uma ordem
oficial”.
“Você acha que alguém está agindo por conta própria? Porque?”
“Idéia de Caius.” Edward sugeriu, o rosto dele endurecendo.
“Ou de Jane...”, Alice disse. “Os dois têm recursos para mandar
um rosto desconhecido...”
Edward fez uma carranca. “E a motivação”.
“No entanto, isso não faz sentido”, Esme murmurou, alisando meu
cabelo.
“Mas então qual é a intenção?” Carlisle meditou.
“Checar pra ver se eu ainda sou humana?”, eu adivinhei.
“Possível”, Carlisle disse.
Rosalie deu um suspiro, alto suficiente pra que eu ouvisse. Ela
tinha descongelado, e o rosto dela estava virado
expectantemente na direção da cozinha. Edward, por outro lado,
parecia desencorajado.
Emmett entrou pela porta da cozinha, Jasper bem atrás dele.
“Foi embora há tempo, horas atrás”, Emmett anunciou,
desapontado. “A trilha ia para o Leste, e depois para o Sul, e
desaparecia ao lado da estrada. Um carro estava esperando”.
“Que falta de sorte”, Edward murmurou. “Se ele tivesse ido para
o oeste... bem, seria bom para aqueles cachorros se fazerem
úteis”.
Eu estremeci, e Esme esfregou o meu ombro.
Jasper olhou pra Carlisle. “Nenhum de nós reconheceu ele. Mas
aqui”. Ele segurou uma coisa verde e amassada. Carlisle pegou
dele e levou até o seu rosto. Eu vi, enquanto ele trocava de mãos,
que era uma folha de samambaia partida. “Talvez você conheça o
cheiro”.
“Não”. Carlisle disse. “Não é familiar. Não é alguém que eu já
tenha conhecido”.
“Talvez nós estejamos olhando para isso da forma errada. Talvez
seja uma coincidência...” Esme começou, mas parou quando viu as
expressões incrédulas nos rostos dos outros.
“Eu não estou dizendo que é uma coincidência que um estranho
tenha escolhida a casa de Bella pra fazer uma visita ao acaso. Eu
quis dizer que talvez alguém esteja só curioso. O nosso cheiro
está nela inteira. Será que ele estava se perguntando o que havia
nos levado lá?”
“Porque ele não viria aqui, então? De ele estava curioso?” Emmett
quis saber.
“Você viria”, Esme disse com repentino sorriso de afeição. “O
resto de nós não é tão direto. A nossa família é muito grande –
ele ou ela pode ter estado assustado. Mas Charlie não foi ferido.
Esse não precisa ser um inimigo”.
Só curioso. Como James e Victoria haviam estado curiosos, no
começo? O pensamento de Victoria me fez estremecer, apesar
de que a única coisa da qual eles tinham certeza era de que não
era ela. Não dessa vez. Ela manteria o padrão obsessivo dela.
Esse era outra pessoa, um estranho.
Eu estava lentamente me dando conta de que ao vampiros eram
muito mais participantes desse mundo do que eu havia pensado.
Quantas vezes os humanos normais passavam por eles,
completamente inconscientes? Quantas mortes, obviamente
reportadas como crimes e acidentes, eram realmente devido à
sede deles? Quão lotado seria esse novo mundo quando eu me
juntasse a ele?
O futuro sombrio mandou um frio pela minha espinha.
Os Cullen ponderaram as palavras de Esme com várias
expressões. Eu podia ver que Edward não havia aceitado a teoria,
e que Carlisle queria muito aceitar.
Alice torceu os lábios. “Eu não acho. O senso de horário foi
perfeito demais... O visitante foi cuidadoso demais pra não
estabelecer contato. Quase como se ele ou ela soubesse que eu
podia ver...”
“Ele podia ter outras razões pra não fazer contato”, Esme
lembrou ela.
“É realmente importante quem ele é?” eu perguntei. “Só a chance
de que alguém estavaprocurando por mim... isso já não é razão
suficiente? Nós não devíamos esperar até a formatura.”
“Não, Bella”, Edward disse rapidamente. “Isso não é tão ruim. Se
você realmente estiver em perigo, nós vamos saber”.
“Pense em Charlie”, Carlisle me lembrou. “Pense em como iria
machuca-lo se você desaparecesse”.
“Eu estou pensando em Charlie! É com ele que eu estou
preocupada! E se o meu convidado estivesse com sede ontem?
Enquanto eu estiver ao lado de Charlie, ele é um alvo também. Se
alguma coisa acontecesse com ele, isso seria minha culpa!”
“Dificilmente, Bella”, Esme disse, alisando o meu cabelo de novo.
“E nada vai acontecer com Charlie. Nós só teremos que ser mais
cuidadosos”.
“Mais cuidadosos?”, eu repeti sem acreditar.
“Tudo vai ficar bem, Bella”, Alice prometeu; Edward apertou
minha mão.
Eu podia ver, olhando pra todos os seus lindos rostos um a um,
que nada que eu pudesse dizer ia fazê-los mudar de idéia.
A viagem pra casa foi silenciosa. Eu estava frustrada. Contra o
meu melhor julgamento, eu ainda era humana.
“Você não estará sozinha por um segundo”, Edward prometeu
enquanto me levava pra casa de Charlie. “Sempre haverá alguém
lá. Emmett, Alice, Jasper...”
Eu suspirei. “Isso é ridículo. Eles vão ficar tão chateados, que
eles mesmos terão que me matar, só pra ter algo pra fazer”.
Edward me deu um olhar amargo. “Hilário, Bella”.
Charlie estava de bom humor quando nós voltamos. Ele podia ver
a tensão entre eu e Edward, e ele estava distorcendo as coisas.
Ele me observou preparar o jantar dele com um sorriso
presumido no rosto. Edward se desculpou por um momento, pra
fazer um pouco de vigilância, eu presumi, mas Charlie esperou
até que ele estivesse de volta pra me passar as minhas
mensagens.
“Jacob ligou de novo”, Charlie disse assim que Edward estava na
sala. Eu mantive o meu rosto tão vazio quanto o prato na frente
dele.
“Isso é um fato?”
Charlie fez uma careta. “Não seja petulante, Bella. Ele parecia
bem pra baixo”.
“Jacob está te pagando pra ser R.P, ou você é voluntário?”
Charlie murmurou incoerentemente pra mim até que a comida
cortou o sua reclamação ranzinza.
Apesar dele não ter se dado conta, ele encontrou sua marca.
Minha vida estava parecendo muito com um jogo de dados agora –
será que a próxima rodada traria olhos de cobra? E se alguma
coisa acontecesse comigo? Parecia pior do que ser petulante,
deixar Jacob se sentir culpado pelo que ele disse.
Mas eu não queria falar com ele com Charlie por perto, pra ter
que observar cada uma das minhas palavras pra que nada
escorregasse. Pensar nisso me fez ter inveja do relacionamento
entre Jacob e Billy. Como devia ser fácil quando você não tinha
segredos com a pessoa com a qual você vive.
Então eu ia esperar pela manhã. Eu provavelmente não ia dormir
essa noite, afinal, e não ia doer deixar que ele se sentisse
culpado por mais doze horas. Isso ia ser bom pra ele.
Quando Edward oficialmente foi embora pela noite, eu me
perguntei quem estava lá fora de guarda, mantendo um olho em
Charlie e eu. Eu me senti horrível por Alice ou quem quer que
pudesse ser, mas ainda assim confortada. Eu tinha admitir que
era legal, saber que eu não estava sozinha. E Edward voltou em
tempo recorde.
Ele cantou pra que eu dormisse de novo e – consciente até mesmo
na inconsciência de que ele estava lá – eu dormi livre de
pesadelos.
De manhã, Charlie foi pescar com o Deputado Mark antes que eu
estivesse acordada. Eu decidi fazer com que essa falta de
supervisão fosse divina.
“Eu vou tirar Jacob do gancho”, eu avisei Edward depois que comi
o meu café da manhã.
“Eu sabia que você ia perdoa-lo”, ele disse com um sorriso fácil.
“Guardar rancores não é um dos seus muitos talentos”.
Eu revirei meus olhos, mas eu estava agradada. Realmente
parecia que Edward havia superado aquela coisa de anti-lobisomem.
“Alô?”, uma voz sem graça disse.
“Jacob?”
“Bella!”, ele exclamou. “Oh, Bella, eu sinto muito!”, ele tropeçou
nas palavras enquanto se apressava pra faze-las sair. “Eu juro
que não quis dizer aquilo. Eu só estava sendo estúpido. Eu estava
com raiva – mas isso não é desculpa. Foi a coisa mais estúpida que
eu já disse em toda a minha vida e eu sinto muito. Não fique com
raiva de mim, por favor? Por favor. Eu ofereço servidão eterna –
tudo o que você tem que fazer é me perdoar”.
“Eu não estou com raiva. Você está perdoado”.
“Obrigado”, ele disse ferventemente. “Eu não consigo acreditar
que fui tão idiota”.
“Não se preocupe com isso – eu já estou acostumada”.
Ele riu, exuberante de alívio. “Venha aqui me ver”, ele implorou.
“Eu quero acertar as coisas com você”.
Eu fiz uma careta. “Como?”
“Qualquer coisa que você quiser. Mergulho do penhasco”, ele
sugeriu, rindo de novo.
“Oh, aí está uma idéia brilhante”.
“Eu te manteria segura”, ele prometeu. “Não importa o que você
queira fazer”.
Eu olhei pra Edward. O rosto dele estava calmo, mas eu sabia que
essa não era a hora.
“Agora não”.
“Ele não está muito feliz comigo, está?”, pelo primeira vez, a voz
de Jacob estava mais envergonhada do que amarga.
“Esse não é o problema. Há... bem, há outro problema que é um
pouco mais preocupante do que um lobisomem adolescente com
mal humor...” eu tentei manter o meu tom de piada, mas isso não
o enganou.
“O que há de errado?” ele quis saber.
“Um” eu não estava certa do que eu devia contá-lo.
Edward levantou a mão para o telefone. Eu olhei para o rosto
dele cuidadosamente. Ele parecia calmo o suficiente. 
“Bella?”, Jacob perguntou.
Edward suspirou, trazendo a mão mais pra perto. 
“Você se importa em falar com Edward?” eu perguntei
apreensivamente. “Ele quer falar com você”.
Houve uma longa pausa.
“Tudo bem”, Jacob concordou. “Isso vai ser interessante”.
Eu passei o telefone para Edward; eu esperei que ele pudesse ler
o aviso nos meus olhos.
“Olá, Jacob”, Edward disse, perfeitamente educado.
Houve um silêncio. Eu mordi o meu lábio, tentando adivinhar o que
Jacob iria responder.
“Alguém esteve aqui – não é um cheiro que eu conheço”, Edward
explicou. “O seu bando encontrou algo novo?”
Outra pausa enquanto Edward acenava com a cabeça para si
mesmo, sem surpresa.
“Aqui está o ponto crucial, Jacob. Eu não vou deixar Bella sair da
minha vista até que eu tenha cuidado disso. Não é nada pessoal –“
Jacob interrompeu ele aí, e eu pude ouvir o ruído da voz no
receptor. O que quer que fosse que ele estivesse dizendo, ele
estava mais interessando do que antes. Eu tentei sem sucesso
compreender as palavras.
“Você pode estar certo –“, Edward começou, mas Jacob estava
discutindo de novo. Nenhum dos dois parecia estar com raiva,
pelo menos.
“Essa é uma sugestão interessante. Nós estamos bastante
interessados em renegociar. Se Sam for maleável”.
A voz de Jacob estava mais baixa agora. Eu comecei a morder a
unha do meu polegar enquanto eu tentava ler a expressão no
rosto de Edward.
“Obrigado”, Edward respondeu.
Aí Jacob disse alguma coisa que fez um expressão de surpresa
atravessar o rosto de Edward.
“Eu havia planejado ir sozinho, na verdade”, Edward disse,
respondendo a pergunta inesperada. “E deixar ela com os
outros”.
A voz de Jacob cresceu como um beliscão, pra mim pareceu que
ele estava tentando ser persuasivo.
“Eu vou tentar considerar isso objetivamente”, Edward
prometeu. “Tão objetivamente quanto eu for capaz.”
A pausa foi mais curta dessa vez.
“Essa não é uma idéia muito ruim. Quando?... não, isso está bem.
Eu gostaria de ter uma chance de seguir a trilha pessoalmente,
do mesmo jeito. Dez minutos... Certamente”. Edward disse. Ele
segurou o telefone pra mim. “Bella?”
Eu o peguei lentamente, me sentindo confusa.
“O que foi tudo isso?”, eu perguntei a Jacob, minha voz irritada.
Eu sabia que era infantil, mas eu me senti excluída.
“Uma trégua, eu acho. Ei, me faça um favor”, Jacob sugeriu.
“Tente convencer o seu sugador de sangue que o lugar mais
seguro pra você ficar – especialmente quando ele vai embora – é
na reserva. Nós seremos capazes de lidar com qualquer coisa”.
“Era isso que você estava tentando dizer pra ele?”
“Sim. Faz sentido. Charlie provavelmente também vai ficar
melhor aqui. Tanto quanto for possível”.
“Coloque Billy na história”, eu concordei. Eu odiei estar colocando
Charlie ao alcance encruzilhadas que sempre pareciam me ter no
centro. “O que mais?”
“Só re-arrumando algumas fronteiras, pra que possamos pegar
qualquer um que se aproxime de Forks. Eu não tenho certeza de
que Sam vai aceitar isso, mas até que ele apareça, eu vou manter
um olho nas coisas”.
“O que você quer dizer com ‘manter um olho nas coisas’?”
“Significa que se você vir um lobo correndo ao redor da sua casa,
não atire nele”.
“É claro que não. Você realmente não deva fazer nada...
arriscado, porém”.
Ele bufou. “Não seja estúpida. Eu posso tomar conta de mim
mesmo”.
Eu suspirei.
“Eu também tentei convencê-lo a te deixar nos visitar. Ele tem
preconceitos, então não deixe ele te convencer com aquela
bobagem de segurança. Ele sabe tão bem quanto eu que você
ficará segura aqui”.
“Eu manterei isso em mente”.
“Te vejo daqui a pouco”, Jacob disse.
“Você vai vir aqui?”
“É. Eu vou sentir o cheiro do seu visitante pra que nós possamos
rastreá-lo quando ele voltar”.
“Jake, eu realmente não gosto da idéia de você caçando –“
“Oh, por favor, Bella”, ele interrompeu. Jacob riu, e aí desligou.
10. Cheiro
Tudo foi muito infantil. Porque nesse mundo Edward precisava ir
embora pra que Jacob viesse? Nós não havíamos superado esse
tipo de imaturidade?
"Não é que eu sinta algum antagonismo pessoal em relação a ele,
Bella, é só que é mais fácil pra nós dois", Edward me disse na
porta. "Eu não estarei longe. Você estará segura".
"Eu não estou preocupada com isso".
Ele sorriu , e então um olhar astuto apareceu em seus olhos. Ele
me puxou mais pra perto, enterrando o rosto no meu cabelo. Eu
podia sentir a respiração dele fazer meu cabelo flutuar enquanto
ele exalava; isso fez o meu pescoço arrepiar.
"Eu volto logo", ele disse, e depois riu alto como se tivesse
acabado de contar uma piada.
"O que é tão engraçado?"
Mas Edward só sorriu e saiu em direção às árvores sem
responder.
Murmurando pra mim mesma, eu fui limpar a cozinha. Antes
mesmo que a pia estivesse cheia de água, a campainha da porta
soou. Era difícil me acostumar com quão mais rápido Jacob era
sem o seu carro. Como todo mundo parecia muito mais rápido que
eu...
"Entre, Jake!", eu gritei.
Eu estava me concentrando em empilhar os pratos na água com
sabão, e eu tinha me esquecido que Jacob se movia como um
fantasma nesses dias. Então quando de repente eu ouví a voz
dele por trás de mim, isso me fez pular.
"Você devia mesmo deixar a porta destrancada desse jeito? Oh,
desculpe".
Eu espirrei a água com sabão em mim mesma quando ele me
assustou.
"Eu não estou preocupada com ninguém que seria detido por uma
porta", eu disse enquanto enxugava a frente da minha camisa
com uma toalha de pratos.

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