Eclipse
STEPHENIE MEYER
Terceiro livro da série
‘Crepúsculo’.
‘Crepúsculo’.
esta é a Parte 2
planos. Ele devia ter pedido pra ela ficar me vigiando.
"Ela ficou nervosa quando o seu futuro desapareceu
abruptamente ha cinco minutos atrás".
Meus olhos, já arregalados de surpresa, abriram ainda mais.
"Porque ela não consegue ver os lobisomens, sabe"
ele explicou
com o mesmo murmúrio baixo. "Você tinha esquecido isso?
Quando você resolve juntar o seu destino ao deles, você
desaparece também. Você não podia saber dessa parte, eu me
dou conta disso. Mas será que você pode entender que isso
pode
me deixar um pouco... ansioso? Alice te viu desaparecer, e
ela
nem podia me dizer se você voltaria pra casa ou não. O seu
futuro ficou perdido, assim como o deles.
"Nós não temos certeza de porque isso acontece. Alguma
defesa
natural com a qual eles nasceram?" Ele falava como se
estivesse
falando sozinho agora, ainda olhando para o pedaço do motor
da
minha caminhonete enquanto ele o girava nas mãos.
"Isso não parece ser inteiramente provável, já que eu
não tive
nenhum problam em ler a mente deles. Da de Black, pelo
menos."
A teoria de Carlisle é de que a vida deles é muito governada
pela
transformação. É mais uma reação involuntária do que uma
decisão. É altamente imprevisível, e isso muda tudo neles.
Naquele instante quando eles se transformam de um para
outro,
eles nem sequer existem. O futuro não pode
mantê-los..."
Eu escutei os pensamentos dele em silêncio de pedra.
"Eu vou reconcertar o seu carro a tempo para a escola
amanhã,
no caso de você querer ir sozinha", ele me assegurou
depois de
um minuto.
Com os meus lábios grudados um no outro, eu retirei as
minhas
chaves rapidamente e saí da cabine rigidamente.
"Feche a janela se você quiser que eu fique longe essa
noite. Eu
vou entender", ele sussurou bem antes de eu bater a
porta.
Eu entrei em casa, batendo a porta também.
"Qual é o problema?" Charlie quis saber do sofá.
"A caminhonete não quer ligar", eu rosnei.
"Quer que eu dê uma olhada?"
"Não. Eu vou tentar de manhã".
"Quer usar o meu carro?"
Eu não devia dirigir a viatura policial dele. Charlie devia
estar
muito desesperado pra eu ir à La Push. Quase tão desesperado
quanto eu estava.
"Não. Eu estou cansada", eu murmurei. "Boa
noite".
Eu subí as escadas me arrastando, e fui direto para a minha
janela. Eu puxei e estrutura de metal com força - ela bateu
quando fechou e o vidro tremeu.
Eu olhei para o vidro negro tremendo por um longo momento,
até
que ele parou. Aí eu suspirei e abrí a janela o máximo que
ela
podia abrir.
3. Motivos
O sol estava tão profundamente enterrado atrás das nuvens
que
não havia jeito de dizer se ele havia se posto ou não.
Depois de
um longo vôo – perseguindo o sol em direção ao oeste até que
ele
pareceu nem se mover no céu – isso foi especialmente
desorientador; o tempo parecia estranhamente variável. Eu
fui
pega de surpresa quando a floresta deu lugar aos primeiros
prédios, sinalando que estávamos quase em casa.
“Você estava muito quieta”, Edward observou. “O avião te
deixou
enjoada?”
“Não, eu estou bem”
“Você está triste por ir embora?”
“Mais aliviada do que triste, eu acho”
Ele ergueu uma sobrancelha pra mim. Eu sabia que era inútil
– e
mesmo que eu não gostasse de admitir – desnecessário pedir
que
ele mantivesse os olhos na estrada.
“Renée é muito mais... perceptiva do que Charlie de algumas
maneiras. Isso estava me deixando inquieta”.
Edward riu. “A sua mãe tem uma mente muito interessante.
Quase infantil, mas muito intuitiva. Ela vê as coisas
diferente
das outras pessoas”.
Intuitiva. Essa era uma boa descrição da minha mãe – quando
ela
estava prestando atenção. Na maior parte do tempo Renée
estava tão perplexa com a sua própria vida que ela não
reparava
muito nas outras coisas. Mas esse fim de semana ela esteve
prestando bastante atenção em mim.
Phil estava ocupado – o time colegial de baseball que ele
estava
treinando estava nas semi finais – e estando sozinha com
Edward
e eu apenas aguçou os sentidos de Renée. Assim que os
abraços e
os gritinhos de deleite dela estavam fora do caminho, Renée
começou a prestar atenção. E enquanto ela prestava atenção,
seus grandes olhos azuis ficaram primeiro confusos e depois
preocupados.
Essa manhã nós havíamos saído pra fazer uma caminhada na
praia. Ela queria mostrar as belezas do novo lar dela, ainda
esperando, eu acho, que o sol pudesse me atrair a sair de
Forks.
Ela também queria falar comigo a sós, e isso foi facilmente
arranjado. Edward havia inventado um trabalho de termologia
para dar a si mesmo uma desculpa pra ficar dentro de casa
durante o dia.
Na minha cabeça, eu repassei a conversa de novo...
Renée e eu andamos pela calçada, tentando ficar ao alcance
das
sombras inconstantes que vinham das palmeiras. Apesar de ser
cedo, o calor estava começando a se acumular. O ar estava
tão
pesado com a umidade que simplesmente inspirar e expirar já
era
um exercício para os meus pulmões.
“Bella?”, minha mãe perguntou, olhando através da areia para
as
ondas quebrando enquanto falava.
“O que é, mãe?”
Ela suspirou, sem me olhar nos olhos. “Eu estou
preocupada...”
“O que é?” eu perguntei, ficando imediatamente ansiosa. “O
que
eu posso fazer?”
“Não sou eu”. Ela balançou a cabeça. “Eu estou preocupada
com
você... e Edward”.
Renée finalmente olhou pra mim quando disse o nome dele, o
rosto dela estava apologético.
“Oh”, eu murmurei, fixando o meu olhar num par de corredores
enquanto eles passaram por nós, molhados de suor.
“Vocês dois são mais sérios do que eu estive pensando”, ela
continuou.
Eu fiz uma careta, rapidamente revendo os últimos dois dias
na
minha cabeça. Edward e eu mal nos tocamos – ns frente dela,
pelo menos. Eu me perguntei se Renée ia me passar um sermão
sobre responsabilidade também. Não me importava como com o
de Charlie. Com a minha mãe isso não era vergonhoso. Afinal,
era
eu quem vivia passando esse sermão nela de vez em quando
pelos
últimos dez anos.
“Há alguma coisa... estranha com o jeito de vocês dois
juntos”,
ela murmurou, a testa dela estava enrugando sobre os seus
olhos
confusos. “O jeito como ele olha pra você – é tão...
protetor.
Como se ele estivesse prestes a se jogar na frente de uma
bala
pra te salvar ou algo assim”.
Eu ri, apesar de ainda não ser capaz de olha-la nos olhos.
“Isso é
uma coisa ruim?”
“Não”, ela fez uma careta enquanto lutava pra encontrar as
palavras. “Só é diferente. Ele é muito intenso com você... e
muito
cuidadoso. Eu sinto como não entendesse realmente o
relacionamento de vocês. Como se houvesse um segredo que eu
estou perdendo...”
“Eu acho que você está imaginando coisas, mãe”. Eu disse
rapidamente, lutando pra manter minha voz leve. Havia um
friozinho no meu estômago. Eu havia esquecido o quanto a
minha
mãe via. Alguma coisa na sua forma simples de ver o mundo
ultrapassava todas as distrações e penetrava diretamente na
verdade das coisas. Isso nunca foi um problema antes. Até
agora,
nunca houve um segredo que eu não pudesse contar pra ela.
“Não é só ele”. Ela juntou os lábios em defesa. “Eu queria
que
você pudesse ver como se move perto dele”.
“O que você quer dizer?”
“A forma como você se move – você se orienta ao redor dele
sem
nem sequer pensar nisso. Quando ele se move, mesmo que um
pouco, você ajusta a sua posição ao mesmo tempo. Como
imãs... ou
gravidade. Você é como um satélite, ou algo assim. Eu nunca
vi
nada parecido”.
Ela torceu os lábios e olhou pra baixo.
“Não me diga”, eu zombei, forçando um sorriso. “Você está
lendo
mistérios de novo, não está? Ou dessa vez é ficção
científica?”
Renée corou em um rosa delicado. “A questão vai além disso”.
“Achou algo bom?”
“Bom, houve um – mas isso não importa. Nós estamos falando
de
você agora”.
“Você devia continuar nos romances, mãe. Você sabe que você
enlouquece”.
Os lábios dela torceram pra cima nos cantos. “Eu estou sendo
boba, não estou?”
Por meio segundo, eu não pude responder. Renée era tão
facilmente distraída. As vezes isso era uma coisa boa,
porque
nem todas as idéias dela eram práticas. Mas me machucou ver
o
quão rapidamente ela se rendia às minhas perguntas,
especialmente já que ela estava absolutamente certa dessa
vez.
Ela olhou pra cima, e eu controlei a minha expressão.
“Boba não – só sendo mãe”.
Ela sorriu e depois fez um gesto largo na direção das areias
brancas que se estendiam para a água azul.
“E tudo isso não é suficiente pra fazer você voltar a morar
com a
sua mãe boba?”
Eu bati a minha mãe dramaticamente na minha testa, e depois
fingi estar torcendo os meus cabelos.
“Você se acostuma com a umidade”, ela prometeu.
“Você também pode se acostumar á chuva”, eu apontei.
Ela me acotovelou de brincadeira e depois pegou a minha mãe
enquanto caminhávamos de volta para o carro.
Apesar das preocupações dela comigo, ela parecia feliz o
suficiente. Contente. Ela ainda olhava para Phil com olhos
abobalhados, e isso era reconfortante. Com certeza a vida
dela
era plena e satisfatória. Com certeza ela não sentia a minha
falta
tanto assim, mesmo agora...
Os dedos gelados de Edward alisavam a minha bochecha. Eu
olhei
pra cima, piscando, voltando para o presente. Ele se
inclinou e me
deu um beijo na testa.
“Você está em casa, Bela Adormecida. Hora de acordar”.
Nós estávamos parados na frente da casa de Charlie. A luz da
varanda estava acesa e a viatura estava parada na entrada de
carros. Enquanto eu examinava a casa, eu vi a cortina se
mexer
na janela da sala de estar, jogando uma linha de luz amarela
através da grama escura.
Eu suspirei. É claro que Charlie estava esperando para
reclamar.
Edward deve ter pensado a mesma coisa, porque a expressão
dele estava rígida e os olhos dele estavam remotos enquanto
ele
vinha abrir a porta pra mim.
“Quão ruim?”, eu perguntei.
“Charlie não vai ser difícil”, Edward prometeu, o nível de
voz dele
não continha humor. “Ele sentiu a sua falta”.
Os meus olhos se estreitaram duvidosamente. Se esse era o
caso, então porque Edward estava tenso como se para
batalhar?
A minha mala era pequena, mas ele insistiu em carrega-la até
em
casa. Charlie segurou a porta aberta para nós.
“Bem vinda ao lar, guria!” Charlie gritou como se estivesse
falando sério. “Como foi Jacksonville?”
“Úmido. E com insetos”.
“Então Renée não te convenceu a ir para a universidade da
Flórida?”
“Ela tentou. Mas eu prefiro beber água do que inalá-la”.
Os olhos de Charlie se moveram sem vontade para Edward.
“Você
se divertiu?”
“Sim”, Edward respondeu numa voz serena. “Renée foi muito
hospitaleira”.
“Isso é... hum, bom. Fico feliz que você se divertiram”.
Charlie
virou de costas pra Edward e me puxou em um abraço
inexperado.
“Impressionante”, eu suspirei no ouvido dele.
Ele abafou um riso. “Eu realmente senti sua falta, Bells. A
comida
aqui é uma droga quando você não está”.
“Eu vou cuidar disso”, eu disse enquanto ele me soltava.
“Você poderia ligar para Jacob antes? Ele esteve me enchendo
a
casa cinco minutos desde as seis horas dessa manhã. Eu
prometi
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que te faria ligar pra ele antes mesmo de desfazer as
malas.”
Eu não tive que olhar pra Edward pra saber que ele estava
rígido
demais, frio demais ao meu lado. Então esse era o motivo da
tensão.
“Jacob quer falar comigo?”
“Muito, eu diria. Ele não quis me dizer sobre o que era – só
disse
que era importante”.
Então o telefone tocou, barulhento e insistente.
“É ele de novo, eu aposto o meu próximo salário”, Charlie
murmurou.
“Eu atendo”. Eu corri para a cozinha.
Edward me seguiu enquanto Charlie desaparecia na sala de
estar.
Eu agarrei o telefone no meio do toque, e me virei até que
fiquei
encarando a parede. “Alô?”
“Você está de volta”, Jacob disse.
A familiar voz rouca dele mandou uma onda de por mim. Um
milhão de memórias giraram na minha cabeça, se enroscando –
uma praia cheia de pedras cercada de árvores de salgueiro,
uma
garagem feita de telhas de plástico, refrigerantes quentes
em
um saco de papel, uma sala pequena com uma poltrona pequena
demais. O sorriso em seus olhos profundos-muito pretos, o
calor
febril da mão grande dele, e o brilho dos seus dentes
brancos em
contraste com sua pele escura., o rosto dele se contraindo
em um
grande sorriso que sempre foi a chave para a porta secreta
onde
apenas bons espíritos eram permitidos de entrar.
Parecia ser uma espécie de saudade de casa, essa vontade do
lugar e da pessoa que havia me protegido na minha noite mais
escura.
Eu limpei o caroço da minha garganta. “Sim”, eu respondi.
“Porque você não me ligou?”, Jacob quis saber.
O tom raivoso da voz dele rapidamente me trouxe de volta.
“Porque eu estava em casa a exatamente quatro segundos e a
sua
ligação interrompeu Charlie que estava dizendo que você
ligou”.
“Oh. Desculpe”.
“Claro. Agora, porque você está assediando Charlie?”
“Eu preciso falar com você”
“É, eu descobri essa parte sozinha. Vá em frente”
Houve uma curta pausa.
“Você vai para a escola amanhã?”
Eu fiz uma careta para mim mesma, incapaz de entender o
sentido dessa pergunta. “É claro que vou. Porque não iria?”
“Eu não sei. Só curioso”.
Outra pausa.
“Então sobre o que você queria falar, Jake?”
Ele hesitou. “na verdade nada, eu acho. Eu... eu queria
ouvir a sua
voz”.
“É, eu sei. Eu estou tão feliz por você ter ligado. Eu...”
Mas eu
não sabia o que mais dizer. Eu queria dize-lo que estava a
caminho de La Push agora. E eu não podia dizê-lo isso.
“Eu tenho que ir”, ele disse abruptamente.
“O que?”
“Eu falo com você em breve, ta legal?”
“Mas Jake –“
Ele já tinha ido embora. Eu escutei o tom de discagem sem
acreditar.
“Isso foi curto”, eu murmurei.
“Está tudo bem?” Edward perguntou. A voz dele estava baixa e
cuidadosa.
Eu me virei lentamente pra ele. A expressão dele estava
perfeitamente suave – impossível de ler.
“Eu não sei. Eu me pergunto o que foi isso”. Não fazia
sentido que
Jake tivesse rondado Charlie o dia inteiro só pra me
perguntar
se eu ia para a escola. E se ele queria ouvir a minha voz,
então
porque ele desligou tão rápido?
“A sua suposição provavelmente é melhor do que a minha”,
Edward disse, a sombra de um sorriso aparecendo nos cantos
da
boca dele.
“Mmm”, eu murmurei. Isso era verdade. Eu conhecia Jake por
dentro e por fora. Não devia ser tão complicado descobrir as
motivações dele.
Com os meus pensamentos a milhas de distância – cerca de
quinze
milhas de distância, na estrada para La Push – eu comecei a
mexer na frigideira, misturando os ingredientes do jantar de
Charlie. Edward se inclinou no balcão, e eu estava
distantemente
consciente dos olhos dele no meu rosto, mas preocupada
demais
para me preocupar com o que ele via lá.
A coisa da escola parecia ser a chave pra mim. Essa foi a
única
pergunta de verdade que Jake fez. E ele devia estar
procurando
a resposta para alguma coisa, senão ele não teria chateado
Charlie tão insistentemente.
No entanto, porque o meu registro de presença era importante
pra ele?
Eu tentei pensar nisso de forma lógica. Então, se eu não
estivesse indo para a escola amanhã, qual seria o problema
com
isso, na perspectiva de Jacob? Charlie me passou um pequeno
sermão por perder um dia de aula tão perto das provas
finais,
mas eu o convenci de que uma Sexta não ia atrapalhar os meus
estudos. Jake dificilmente se importaria com isso.
O meu cérebro se recusava a ter uma intuição brilhante.
Talvez
eu estivesse perdendo um pedaço vital de informação.
O que havia mudado nos últimos três dias que era tão
importante
a ponto de fazer Jacob quebrar o longo período de se recusar
a
atender meus telefonemas e entrar em contato comigo? Que
diferença três dias podia fazer?
Eu congelei no meio da cozinha.
O pacote de hambúrguer congelado escorregou da minha mão
pelos meus dedos entorpecidos. Me levou um lento segundo pra
perder o barulho que ele devia ter feito ao bater no chão.
Edward o havia pego e atirado no balcão. Os braços dele já
estavam ao meu redor, os lábios dele no meu ouvido.
“Qual é o problema?”
Eu balancei minha cabeça, confusa.
Três dias podiam mudar tudo.
Eu não estava pensando no quanto a faculdade era impossível?
Como eu não poderia nem chegar perto de pessoas durante os
dolorosos três dias da conversão que ia me livrar da
mortalidade,
pra que eu pudesse passar a eternidade com Edward? A
conversão que me faria pra sempre prisioneira da minha
própria
sede...
Será que Charlie tinha contado pra Billy que eu desapareci
por
três dias? Será que Billy tinha tirado conclusões? Será que
Jacob realmente estava me perguntando se eu ainda era
humana? Tendo certeza de que o trato dos lobisomens
continuava intacto – que nenhum dos Cullen havia mordido um
humano... mordido... não matado...?
Mas ele realmente achava que eu voltaria para casa pra
Charlie
se esse fosse o caso?
Edward me chacoalhou. “Bella?” ele perguntou, realmente
ansioso
dessa vez.
“Eu acho... eu acho que ele estava checando”. Eu murmurei.
“Checando pra ter certeza. De que eu sou humana, eu quero
dizer”.
Edward enrijeceu, e um rugido baixo soou no meu ouvido.
“Nós teremos que ir embora”, eu suspirei. “Antes. Para que o
acordo não seja quebrado. Nós não seremos mais capazes de
voltar”.
Os braços dele se apertaram ao meu redor. “Eu sei”.
“Ahem” Charlie limpou sua alto a voz atrás de nós.
Eu pulei e depois me livrei dos braços de Edward, meu rosto
ficando quente. Edward se inclinou de volta no balcão. Os
olhos
dele estavam estreitos. Eu podia ver preocupação neles, e
raiva.
“Se você não quer fazer o jantar, eu peço uma pizza”,
Charlie
ofereceu.
“Não, está tudo bem. Eu já comecei”.
“Okay”, Charlie disse. Ele se encostou no arco da porta,
cruzando
os braços.
Eu suspirei e comecei a trabalhar, tentando ignorar a minha
platéia.
“Se eu te pedisse pra fazer uma coisa, você confiaria em
mim?”,
Edward perguntou, com um tom em sua voz macia.
Nós estávamos quase na escola. Edward estava relaxado e
fazendo piada a apenas um momento atrás, e agora as mãos
dele
estavam agarrando o volante com força, as articulações dele
lutando com o esforço para não quebrá-lo em pedaços.
Eu encarei a expressão ansiosa dele – os olhos dele estavam
distantes, como se ele estivesse ouvindo vozes distantes.
O meu pulso acelerou em resposta ao estresse dele, mas eu
respondi cautelosamente. “Isso depende”.
Nós entramos no estacionamento da escola.
“Eu temia que você fosse dizer isso”.
“O que você quer que eu faça, Edward?”
“Eu quero que você fique no carro”, ele parou na sua vaga
habitual
e desligou o motor enquanto falava. “Eu quero que você
espere
aqui até eu voltar pra te buscar”.
“Mas... porque?”
Foi aí que eu vi ele. Ele teria sido difícil de não reparar,
parecendo uma torre sobre os estudantes como ele estava,
mesmo se ele não estivesse encostado em sua moto preta, que
estava estacionada ilegalmente na calçada.
“Oh”
O rosto de Jake era uma máscara de calma que eu conhecia
bem.
Era o rosto de que ele usava quando estava disposto a manter
as
suas emoções sob controle. Ela fazia ele parecer Sam, o mais
velho dos lobos, o líder do bando Quileute. Mas Jacob nunca
conseguia controlar a perfeita serenidade que Sam sempre
demonstrava.
Eu havia me esquecido do quanto aquele rosto me incomodava.
Apesar de eu ter conhecido Sam muito bem antes dos Cullen
voltarem – até gostar dele – eu nunca fui completamente
capaz
de ignorar o ressentimento que eu sentia quando Jacob
imitava a
expressão de Sam. Era um rosto estranho. Ele não era o meu
Jacob quando o usava.
“Você tirou a conclusão errada na noite passada”, Edward
murmurou. “Ele perguntou sobre a escola porque ele sabia que
eu
estaria onde você estivesse. Ele estava procurando por um
lugar
seguro pra conversar comigo. Um lugar com testemunhas”.
Então eu havia interpretado mal os motivos de Jacob na noite
passada. Perdendo informações, esse era o problema.
Informações como porque nesse mundo Jacob ia querer falar
com Edward.
“Eu não vou ficar no carro”, eu disse.
Edward rosnou baixinho. “É claro que não. Bem, vamos acabar
logo com isso”.
O rosto de Jacob endureceu quando caminhamos em direção a
ele, de mãos dadas.
Eu reparei nos outros rostos também – os rostos dos meus
colegas de classe. Eu reparei em como os olhos deles
arregalavam
enquanto eles observavam os 2,4m do longo corpo de Jacob,
mais
musculoso do que um garoto de dezesseis anos e meio podia
ser.
Eu vi aqueles olhos se mexerem em cima da sua camisa preta
apertada – com mangas curtas, apesar de ser um dia
razoavelmente frio – seus jeans surrados e sujos de graxa, e
a
moto preta brilhante na qual ele estava se encostando. Os
olhos
deles não ficavam em seu rosto – alguma coisa na expressão
dele
fazia com que eles desviassem o olhar rapidamente. E eu
reparei
no grande espaço que todos davam pra ele, a bolha de espaço
da
qual ninguém ousava se aproximar.
Com uma sensação de surpresa, eu me dei conta de que Jacob
parecia perigoso para eles. Que estranho.
Edward parou a alguns metros de Jacob, e eu podia notar que
ele
estava desconfortável por me ter tão perto de um lobisomem.
Ele colocou sua mão pra trás um pouco, me colocando um pouco
atrás do seu corpo.
“Você podia ter nos ligado”, Edward disse numa voz dura como
aço.
“Desculpe”, Jacob respondeu, o rosto dele se contorcendo em
uma careta de zombaria. “Eu não tenho sanguessugas na minha
discagem rápida”.
“Você podia ter me encontrado na casa de Bella, é claro”.
A mandíbula de Jacob flexionou, e as sobrancelhas dele
estavam
juntas. Ele não respondeu.
“Esse dificilmente é o lugar, Jacob. Podíamos discutir isso
depois?”
“Claro, claro. Eu vou passar na sua cripta depois da escola”.
Jacob bufou. “Qual é o problema com agora?”
Edward olhou ao redor apontando, os olhos dele pairando
sobre
as testemunhas que mal estavam fora do alcance auditivo.
Algumas pessoas estavam hesitando na calçada, seus olhos
brilhando de expectativa. Como se eles estivessem esperando
que um briga fosse começar para aliviar o tédio de outra
manhã
de Segunda. Eu vi Tyler Crowley cutucando Austin Marks, e os
dois pararam no caminho para a aula deles.
“Eu já sei o que você veio pra dizer” Edward lembrou Jacob
numa
voz tão baixa que eu mal consegui ouvir. “Mensagem entregue.
Nos considere avisados”.
Edward olhou pra baixo pra mim por um rápido segundo com
olhos
preocupados.
“Avisados?” eu perguntei sem entender. “Do que vocês estão
falando?”
“Você não contou pra ela?” Jacob perguntou, seus olhos
arregalando de descrença. “O que foi, você estava com medo
de
que ela escolhesse o nosso lado?”
“Por favor deixa pra lá, Jacob” Edward disse com uma voz
uniforme.
“Porque?” Jacob desafiou.
Eu fiz uma careta de confusão. “O que eu não sei? Edward?”
Edward simplesmente encarou Jacob como se não tivesse me
ouvido.
“Jake?”
Jacob ergueu uma sobrancelha para mim. “Ele não te contou
que
o... irmão mais velho dele cruzou a linha Sábado à noite?”
ele
perguntou, o seu tom ficou pesado com uma camada de
sarcasmo.
E aí os olhos dele voltaram para Edward. “Paul está
totalmente
justificado em –“
“Aquela terra não tem donos!” Edward assobiou.
“Não é não!”
Jacob estava ficando visivelmente nervoso. As mãos dele
tremiam. Ele balançou a cabeça e sugou o ar profundamente
para
os pulmões duas vezes.
“Emmett e Paul?” eu sussurrei. Paul era o irmão mais volátil
do
bando de Jacob. Foi ele quem perdeu o controle naquele dia
na
floresta – a memória do lobo cinza repentinamente estava
vívida
na minha mente. “O que aconteceu? Eles estavam brigando?” A
minha voz foi aumentando com o pânico. “Porque? Paul se
machucou?”
“Ninguém brigou” Edward disse baixinho, só pra mim. “Ninguém
se machucou. Não fique ansiosa”.
Jacob estava olhando pra nós com olhos incrédulos. “Você não
a
contou absolutamente nada, contou? Foi por isso que você a
levou
embora? Pra que ela não soubesse que -?”
“Vá embora agora”. Edward o cortou no meio da frase, e o
rosto
dele ficou repentinamente assustador. Por um segundo, ela
pareceu com... com um vampiro. ele olhou pra Jacob com ódio
cruel, descontrolado.
Jacob ergueu as sobrancelhas, mas não fez outro movimento.
“Porque você não contou pra ela?”
Eles se encararam silenciosamente por um longo momento. Mais
estudantes se acumularam atrás de Tyler e Austin. Eu vi Mike
ao
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lado de Ben – Mike estava com uma mão sobre o ombro de Ben,
como se estivesse segurando-o no lugar.
No silêncio mortal, todos os detalhes de repente se
encaixaram
pra mim como uma explosão de intuição.
Alguma coisa que Edward não queria que eu soubesse.
Alguma coisa que Jacob não teria escondido de mim.
Algo que havia lançado tanto os Cullen quanto os lobisomens
na
floresta, movendo em perigosa proximidade uns dos outros.
Alguma coisa que faria Edward insistir pra que eu voasse
através
do país.
Alguma coisa que Alice tinha visto na visão da semana
passada –
uma visão sobre a qual Edward havia mentido pra mim.
Uma coisa pela qual eu já estava esperando do mesmo jeito.
Uma
coisa que eu sabia que aconteceria de novo, não importava o
quanto eu desejasse que não acontecesse. Isso não ia acabar
nunca, não é?
Eu ouvi o rápido gasp, gasp, gasp, gasp do ar passando pelos
meus
lábios, mas eu não conseguia evitar. Parecia que a escola
estava
tremendo, como se houvesse um terremoto, mas eu sabia que
era
o meu próprio tremor que causava a ilusão.
“Ela voltou por mim” eu me engasguei.
Victória nunca ia desistir até que eu estivesse morta. Ela
continuaria repetindo o mesmo padrão – aparecer e fugir,
aparecer e fugir – até que ela encontrasse um buraco entre
os
meus defensores.
Talvez eu tivesse sorte. Talvez os Volturi me encontrassem
primeiro – pelo menos, eles me matariam mais rápido.
Edward me segurou com força ao seu lado, angulando seu corpo
para que ele ainda estivesse entre mim e Jacob, e acariciou
meu
rosto com mãos ansiosas. “Está tudo bem”, ele sussurrou.
“Está
tudo bem. Eu nunca vou deixa-la se aproximar de você. Está
tudo
bem”.
Então ele encarou Jacob. “Isso responde a sua pergunta,
mongol?”
“Você não acha que Bella tem o direito de saber?” Jacob
desafiou. “É a vida dela”
Edward manteve sua voz baixa; mesmo Tyler, que estava se
inclinando uns centímetros para a frente, seria incapaz de
ouvir.
“Porque ela devia ser assustada se ela nunca estava em
perigo?”
“Melhor assustada do que enganada”.
Eu tentei me recompor, mas os meus olhos estavam nadando em
umidade. Eu podia vê-la por trás das minhas pálpebras – eu
podia
ver o rosto de Victoria, seus lábios erguidos sobre seus
dentes,
seus olhos vermelhos brilhando com sua obsessão por
vingança;
ela responsabilizava Edward pela morte do seu amor, James.
Ela
não pararia até que o amor dele fosse tirado também.
Edward limpou as lágrimas das minhas bochechas com as pontas
dos dedos.
“Você realmente acha que machuca-la é melhor do que
protegê-la?” ele murmurou.
“Ela é mais durona do que você pensa” Jacob disse. “E ela já
passou por coisa pior”.
Repentinamente, a expressão de Jacob mudou, e ele estava
olhando pra Edward com uma expressão estranha, especulativa.
Os olhos dele ficaram estreitos como se ele estivesse
tentando
resolver um problema difícil de matemática na cabeça.
Eu senti Edward enrijecer. Eu olhei pra ele, e o rosto dele
estava
contorcido com o que só podia ser dor. Por um momento
terrível,
eu me lembrei daquela tarde na Itália, no macabro quarto na
torre dos Volturi, onde Jane havia torturado Edward com o
seu
dom maligno, queimando-o apenas com seus pensamentos...
A memória me arrancou da minha histeria e colocou tudo em
perspectiva. Porque eu preferiria que Victoria me matasse
mil
vezes do que ver Edward sofrer aquilo de novo.
“Isso é engraçado” Jacob disse, rindo enquanto ele olhava o
rosto de Edward.
Edward gemeu, mas suavizou a expressão com um pouco de
esforço. Ele não conseguia esconder muito bem a agonia em
seus
olhos.
Eu olhei, com os olhos arregalados, da careta de Edward para
o
riso de Jacob.
“O que você está fazendo com ele?” eu quis saber.
“Não é nada, Bella” Edward me disse baixinho. “Jacob tem uma
boa memória, isso é tudo”.
Jacob deu um sorriso largo e Edward gemeu de novo.
“Pare com isso! O que quer que você esteja fazendo”.
“Claro, se você quer”, Jacob levantou os ombros. “No
entanto, é
culpa dele mesmo que ele não gosta do que eu lembro”.
Eu o encarei, e ele sorriu de volta cinicamente – como uma
criança que foi pega fazendo alguma coisa que ele sabe que
não
devia por uma pessoa que ele sabe que não vai castigá-lo.
“O diretor está à caminho para desencorajar badernas no
terreno escolar”. Edward murmurou pra mim. “Vamos para a
aula
de Inglês, Bella, pra que você não se involva”.
“Ele é super protetor, não é?” Jacob disse, falando só
comigo.
“Um pouco de problema é divertido. Deixa eu adivinhar, você
não
tem permissão pra se divertir, não é?”
Edward encarou, e seus lábios se ergueram um pouco sobre
seus
lábios.
“Cala a boca, Jake”, eu disse.
Jacob riu. “Isso soa como um não. hey, se um dia você sentir
vontade de ter uma vida novo, você podia vir me ver. Eu
ainda
estou com a sua moto na garagem”.
Essa notícia me distraiu. “Era pra você ter vendido aquilo.
Você
prometeu a Charlie que venderia”. Se eu não tivesse
implorado
por Jacob – afinal, foi ele quem trabalhou nas duas motos, e
ele
merecia um pouco do meu troco – Charlie teria jogado a minha
moto num lixão. E possivelmente incendiaria o lixão.
“É, certo. Como se eu fosse fazer isso. Ela pertence a você,
não a
mim. De qualquer forma, eu vou guardá-la até você voltar”.
Uma pequena sombra do sorriso que eu lembrava repentinamente
estava brincando nos cantos dos lábios dele.
“Jake...”
Ele se inclinou para a frente, agora seu rosto estava
ansioso, o
sarcasmo ácido estava desaparecendo. “Eu acho que estava
errado antes, sabe, sobre e eu você não sermos capazes de
ser
amigos. Talvez pudéssemos lidar com isso, no meu lado da
linha.
Venha me ver”.
Eu estava vividamente consciente de Edward, com seus braços
ainda me cercando protetoramente, imóvel como uma pedra. Eu
dei uma olhada no rosto dele – estava calmo, paciente.
Jacob abriu mão completamente da fachada antagonista. Foi
como se ele tivesse esquecido que Edward estava lá, ou pelo
menos ele estava determinado a agir dessa forma. “Eu sinto
sua
falta todos os dias, Bella. Não é a mesma coisa sem você”.
“Eu sei e eu sinto muito, Jake, é só que eu...”
Ele balançou a cabeça e suspirou. “Eu sei. Não importa,
certo? Eu
acho que eu vou sobreviver ou algo assim. Quem precisa de
amigos?” Ele fez uma careta, tentando esconder a dor com uma
fina tentativa de bravura.
O sofrimento de Jacob sempre fazia o meu lado protetor
despertar. Isso não era completamente racional – Jacob
dificilmente precisaria de qualquer proteção física que eu
pudesse oferecer. Mas os meus braços, apertados embaixo dos
de Edward, queriam alcançá-lo. Envolver a sua cintura
grande,
quente em uma promessa silenciosa de aceitação e conforto.
Os braços protetores de Edward se tornaram restritivos.
“Tudo bem, para as salas” uma voz diferente soou atrás de
nós.
“Mova-se, Sr. Crowley”.
“Vá para a escola, Jake”, eu sussurrei, ansiosa assim que eu
reconheci a voz do diretor. Jacob freqüentava a escola
Quileute
mas ele ainda podia ter problemas por invasão ou algo assim.
Edward me soltou, segurando apenas a minha mão e me puxando
pra trás do seu corpo de novo.
O Sr. Greene abriu caminho pelo círculo de espectadores, as
suas sobrancelhas pressionadas pra baixo como nuvens de uma
tempestade mal humorada em cima dos seus olhos pequenos.
“Eu falo sério”, ele estava ameaçando. “Detenção pra todo
mundo
que ainda estiver aqui quando eu me virar de novo”.
A platéia de dissolveu antes que ele terminasse a frase.
“Ah, Sr. Cullen. Temos um problema aqui?”
“Absolutamente não, Sr. Greene. Nós estávamos a caminho da
aula”.
“Excelente. Eu não pareço reconhecer o seu amigo” O Sr.
Greene
virou seu olhar para Jacob. “Você é um estudante novo aqui?”
Os olhos do Sr. Greene estudaram Jacob, e eu podia ver que
ele
havia chegado a conclusão que todos haviam chegado:
perigoso.
Um encrenqueiro.
“Não”, Jacob respondeu, um meio sorriso nos seus lábios
cheios.
“Então eu sugiro que você se retire da propriedade escola
imediatamente, meu jovem, antes que eu ligue para a
polícia”.
O pequeno sorriso de Jacob se transformou num riso aberto, e
eu sabia que ele estava imaginando Charlie aparecendo para
prendê-lo. Esse sorriso era ácido demais, muito cheio de
zombaria para o meu gosto. Esse não era o sorriso que eu
estive
esperando pra ver.
Jacob disse “Sim, senhor” e fez uma saudação militar antes
de
montar em sua motocicleta e dar a partida lá mesmo na
calçada.
O motor roncou e os pneus cantaram quando ele fez uma curva
fechada. Em questão de segundos, Jacob estava fora de vista.
O Sr. Greene arranhou os trincou os dentes enquanto ele
assistia
essa performance.
“Sr. Cullen, eu espero que você peça que seu amigo se
retenha de
invadir de novo”.
“Ele não é meu amigo, Sr Greene, mas eu vou passar o aviso”.
O Sr. Greene torceu os lábios. As notas perfeitas e os
registros
impecáveis de Edward eram claramente uma fator para a
análise
do Sr Greene do incidente. “Eu entendo. Se você estiver
preocupado com qualquer problema, eu ficaria feliz em –“
“Não há nada com o que se preocupar, Sr. Greene. Não haverá
nenhum problema”.
“Eu espero que isso esteja correto. Bem, então. Para a aula.
Você
também, Srta. Swan”.
Edward acenou com a cabeça, e me puxou junto rapidamente em
direção ao prédio da aula de Inglês.
“Você se sente bem o suficiente para ir para a aula?” ele
sussurrou quando passamos do diretor.
“Sim” eu sussurrei de volta, sem ter certeza de se era uma
mentira.
Quer eu me sentisse bem ou não, essa dificilmente era a
consideração mais importante. Eu precisava falar com Edward
imediatamente, e a aula de Inglês não era o local ideal para
a
conversa que eu tinha em mente.
Mas com o Sr. Greene bem atrás de nós, não haviam muitas
outras opções.
Nós chegamos na aula um pouco atrasados e nos sentamos
rapidamente. O Sr. Berty estava recitando um poema de Frost.
Ele ignorou a nossa entrada, se recusando a nos deixar
quebrar o
seu ritmo.
Eu arranquei uma página em branco do meu caderno e comecei a
escrever, a minha escrita estava mais ilegível do que o
normal
graças a minha agitação.
-O que aconteceu? Me conte tudo. E para com essa bobagem de
me proteger, por favor.
Eu joguei o bilhete para Edward. Ele suspirou e então
começou a
escrever. Ele levou menos tempo que eu, apesar dele ter
escrito
um parágrafo inteiro com a sua caligrafia particular antes
de
passar o papel de volta.
-Alice viu que Victoria estava vindo. Eu te tirei da cidade
meramente por precaução – nunca houve uma chance de que
Victoria chegasse em algum lugar perto de você. Emmett e
Jasper por pouco não pegaram ela, mas Victoria parece ter
algum
instinto para fuga.
-Ela escapou bem por baixo das fronteira Quileute como se
ela
estivesse vendo um mapa. Não ajudou muito as habilidades de
Alice serem inúteis com os Quileute. Para ser honesto, os
Quileute podiam ter pego ela também, se nós não tivéssemos
entrado no caminho. O grande cinza achou que Emmett tinha
ultrapassado a barreira e ficou defensivo. É claro que
Rosalie
reagiu a isso, e todos abandonaram a caçada pra proteger
seus
companheiros. Carlisle e Jasper conseguiram acalmar as
coisas
antes que elas saíssem do controle. Mas até aí, Victoria já
tinha
escapado. Isso é tudo.
Eu fiz uma careta para as letras na página. Todos eles
haviam
estado nisso – Emmett, Jasper, Alice, Rosalie e Carlisle.
Talvez
até Esme, apesar dele não ter mencionado ela. E também Paul
e o
resto do bando Quileute. Podia ter sido tão fácil as coisas
acabarem em briga, colocando a minha futura família e os
meus
velhos amigos uns contra os outros. E qualquer um deles
podia
ter se machucado. Eu imaginei que os lobisomens estariam em
maior perigo, mas imaginando a pequena Alice perto de um dos
enormes lobisomens, lutando...
Eu tremi.
Cuidadosamente, eu apaguei o parágrafo inteiro com a minha
borracha e escrevi no topo:
-E quanto a Charlie? Ela podia ter estado atrás dele.
Edward já estava balançando a cabeça antes de eu ter
terminado, obviamente preparado pra lidar com qualquer
perigo
que afligisse Charlie. Ele levantou a mão, mas eu ignorei e
comecei de novo.
-Você não pode saber que ela não estava pensando isso, porque
você não estava aqui. Flórida foi uma má idéia.
Ele pegou o papel de baixo da minha mão
-Eu não estava disposto a te mandar sozinha. Com a sua
sorte,
nem a caixa preta sobreviveria.
Não foi isso o que eu quis dizer; eu não tinha pensado em ir
sem
ele. Eu quis dizer que nós devíamos ter ficado aqui juntos.
Mas
eu fui distraída pela resposta, e um pouco ofendida. Como se
eu
não pudesse voar pelo país sem fazer o avião cair. Muito
engraçado.
-Então digamos que a minha má sorte tivesse derrubado o
avião.
O que exatamente você teria feito sobre isso?
-Porque o avião está caindo?
Agora ele estava tentando esconder um sorriso.
-Os pilotos desmaiaram de bêbados.
-Fácil. Eu pilotaria o avião.
É claro. Eu torci os meus lábios de novo.
-Os dois motores explodiram e estamos caindo em espiral em
direção à morte.
-Eu vou esperar até estarmos bem perto do chão, te segurar
______________________3
bem apertado, chutar a parede fora, e pular. Depois nós
voltaríamos a cena do acidente, e nós andaríamos por aí como
os
dois sobreviventes mais sortudos da história.
Eu o encarei sem palavras.
“O que?” ele sussurrou.
Eu balancei a minha cabeça abobalhada. “Nada” eu fiz com a
boca.
Eu deixei pra lá a conversa desconcertante e escrevi mais
uma
linha.
-Você vai me contar da próxima vez.
Eu sabia que haveria uma próxima vez. Esse padrão
continuaria
até que alguém perdesse.
Edward me olhou nos olhos por um longo tempo. Eu me
perguntei
qual seria a aparência do meu rosto – ele estava frio, como
se o
sangue ainda não tivesse retornado para as minhas bochechas.
Os meus cílios ainda estavam molhados.
Ele suspirou e depois balançou a cabeça uma vez.
-Obrigada.
O papel desapareceu de baixo da minha mão. Eu olhei pra
cima,
piscando com a minha surpresa, exatamente quando o Sr. Berty
vinha andando pelo corredor.
“Há alguma coisa que você queira dividir aí, Sr. Cullen?”
Edward olhou pra cima inocentemente e levantou uma folha de
papel do topo do seu caderno. “As minhas anotações?” ele
perguntou, parecendo confuso.
O Sr. Berty vasculhou as anotações – sem dúvida era um bela
prescrição da aula dele – e depois foi embora fazendo uma
careta.
Foi mais tarde, na aula de Cálculo – a única que eu não
tinha com
Edward – que eu ouvi a fofoca.
“O meu dinheiro está no grande índio”, alguém estava
dizendo.
Eu espiei pra ver que Tyler, Mike, Austin e Ben estavam com
as
cabeças juntas, absolvidos em uma conversa.
“É”, Mike sussurrou. “Vocês viram o tamanho daquele garoto
Jacob? Eu acho que ele derrubava o Cullen” Mike parecia
feliz
com a idéia.
“Eu não acho”, Ben discordou. “Tem alguma coisa em Edward.
Ele
é sempre tão... confiante. Eu tenho a sensação de que ele
saberia
cuidar de si mesmo”.
“Eu estou com Ben”, Tyler concordou. “Além do mais, se
qualquer
outro garoto mexesse com Edward você sabe que aqueles irmãos
mais velhos dele iam se involver”.
“Você já esteve em La Push ultimamente?” Mike perguntou.
“Lauren e eu fomos à praia umas duas semanas atrás, e pode
acreditar em mim, os amigos de Jacob são tão grandes quanto
ele.”
“Huh” Tyler disse. “Que pena que não deu em nada. Acho que a
gente nunca vai saber como teria acabado”.
“Pra mim não pareceu acabado” Austin disse. “Talvez tenhamos
a
chance de ver.”
Mike riu. “Alguém tá a fim de apostar?”
“Dez no Jacob” Austin disse imediatamente.
“Dez em Cullen” Tyler se juntou.
“Dez em Edward”, Bem concordou.
“Hey, algum de vocês sabe do que se tratou?” Austin pensou.
“Isso pode afetar os resultados”.
“Eu posso imaginar” Mike disse, e então deu uma olhada para
mim
ao mesmo tempo que Ben e Tyler.
Pelas expressões deles, eles não se deram conta de que eu
estava a uma distância audível. Eles todos desviaram o olhar
rapidamente, enfiando papéis em suas mesas.
“Eu ainda digo Jacob”, Mike murmurou por baixo do fôlego.
4. Natureza
Eu estava tendo uma semana ruim.
Eu sabia que essencialmente nada havia mudado. Tudo bem,
então
Victoria não tinha desistido, mas será que eu tinha sonhado
por
um momento que ela havia? O reaparecimento dela spo
confirmava o que eu já sabia. Nenhum motivo pra novo pânico.
Teoricamente. Não entrar em pânico era mais fácil de dizer
do
que fazer.
A formatura era daqui a umas semanas, mas eu me perguntei se
não era um pouco bobo ficar sentada, fraca e saborosa,
esperando pelo próximo desastre. Parecia perigoso demais ser
humana - simplesmente implorar pra ter problemas. Uma pessoa
com a minha sorte tende a ser um pouco desesperançada.
Mas ninguém me escutava.
Carlisle dizia "Nós somos sete, Bella. E com Alice ao
nosso lado,
eu não acho que Victoria vá nos pegar fora de guarda. Eu
acho
que é importante, pelo bem de Charlie, que nós continuemos com
o plano original.
Esme disse "Nós nunca permitiremos que nada aconteça
com
você, querida. Você sabe disso. Por favor, não fique
ansiosa." E aí
ela me deu um beijo na testa.
Emmett disse "eu estou feliz por Edward não ter te
matado.
Tudo é muito mais divertido com você por perto".
Rosalie encarou ele.
Alice revirou os olhos e disse "Eu estou ofendida. Você
não está
honestamente preocupada com isso, está?"
"Se não é nada importante, então porque Edward me
arrastou
para a Flórida?" eu quis saber.
"Você não reparou ainda, Bella, que Edward tem uma
pequena
tendência a ser exagerado?"
Jasper havia silenciosamente apagado todo o pânico e a
tensão
do meu corpo com o seu curioso talento de mudar as emoções
na
atmosfera. Eu me sentí segura, e deixei que eles me
convecessem a sair do meu rogo desesperado.
É claro que a calma desapareceu assim que eu e Edward saímos
da sala.
Então, o consenso era de que eu devia esquecer que uma
vampira
alucinada estava me perseguindo, com intenção de me matar.
Se
meter nos meus assuntos.
Eu tentei. E surpreendentemente, haviam outras coisas
igualmente estressantes para duelas comigo pelo status na
lista
de espécies em perigo...
Porque a resposte de Edward foi a mais frustrante de todas.
"Isso é entre você e Carlisle", ele disse. "É
claro, você sabe que
eu estou desejoso de fazer com que seja entre você e eu a
qualquer hora que você desejar. Você sabe a minha
condição". E
ele sorriu angelicalmente.
Ugh. Eu sabia a condição dele. Edward havia prometido que
ele
mesmo me transformaria quando eu quisesse... contanto que eu
me casasse com ele primeiro.
As vezes eu me perguntava se ele não estava só fingindo que
não
lia a minha mente. De outra forma, como ele ia manter a
insistência na única condição que eu tinha problema em
aceitar?
A única condição que me fazia desacelerar.
Tudo em tudo, uma semana muito ruim. E hoje era o pior dia
dela.
Era sempre ruim quando Edward estava longe. Alice não havia
previsto nada fora do normal esse fim de semana, então eu
insistí que ele aproveitasse a oportunidade e fosse caçar
com os
seus irmãos. Eu sabia o quanto o deixava chateado caçar as
presas chatas, fáceis que haviam por perto.
"Vá se divertir", eu disse pra ele. "Traga
alguns leões da
montanha para mim".
Eu jamais admitiria pra ele o quanto era difícil pra mim
quando
ele estava longe - como isso trazia de volta os meus
pesadelos de
abandono. Se ele soubesse disso, isso faria com que ele se
sentisse horrível e ele ficaria com medo de me deixar de
novo,
mesmo pelas razões mais necessárias. Foi assim desde o
começo,
quando ele retornou da Itália. Os olhos dourados dele haviam
ficcado pretos e ele sofria com a sede mais do que já era
necessário que ele sofresse. Então eu fazia uma cara
corajosa e
chutava ele pra fora de casa toda vez que Emmett e Jasper
queriam ir.
No entanto, eu acho que ele via além de mim. Um pouco. Essa
manhão havia um bilhete no meu travesseiro:
- Eu volto logo pra que você não precise sentir a minha
falta.
Tome conta do meu coração - eu deixei ele com você.
Então agora eu tinha um longo Sábado vazio com nada além do
meu turno matutino no Newton's Olympics Outfitters pra me
distrair. E, é claro,. eu tinha a promessa muito
confortadora de
Alice.
"Eu vou ficar perto de casa pra caçar. Eu só estarei a
quinze
minutos de distância se você precisar de mim. Eu vou ficar
de
olho se tiverem problemas pra você".
Tradução: não tente nada engraçadinho só porque Edward está
longe.
Alice certamente era tão capaz de arruinar a minha
caminhonete
quanto Edward.
Eu tentei olhar as coisas pelo lado bom. Depois do trabalho,
eu
tinha planos pra ajudar Angela com os anúncios dela, então,
isso
seria uma distração. E Charlie estava com excelente humor
por
causa da ausência de Edward, então eu devia aproveitar
enquanto
durava. Alice passaria a noite comigo se eu fosse patética o
suficiente pra pedí-la. E aí amanhã, Edward estaria de
volta. Eu
ia sobreviver.
Não querendo chegar ridicilarmente cedo para o trabalho, eu
tomei o café da manhã lentamente. Um cereal de cada vez.
Então, quando eu lavei os pratos, eu arrumei os imãs na
geladeira
em uma linha perfeita. Talvez eu estivesse adquirindo um
transtorno obcessivo compulsivo.
Os últimos dois imãs - pedaços utilitários arredondados
pretos
que eram os meus favoritos porque odiam segurar dez folhas
de
papel na geladeira sem esforço - não quiseram cooperar com a
minha fixação. As polaridades deles eram reversas; toda vez
que
eu tentava alinhar um deles, o outro pulava fora do lugar.
Por alguma razão - mania iminente, talvez - isso realmente
me
irritou. Porque que eles não podiam simplesmente ser
bonzinhos?
Estúpida de teimosia, eu continuei a colocá-los juntos como
se
estivesse esperando que eles desistissem de repente. Eu
podia
trocar um de lugar, mas isso ia parecer uma derrota.
Finalmente,
mais exasperada comigo mesma do que com os imãs, e os tirei
da
geladeira e os juntei com as duas mãos. Exigiu um pouco de
esforço - eles eram fortes o suficiente para sustentar uma
briga
- mas eu os forcei a coexistir, lado a lado.
"Vejam", eu disse em voz alta - falando com
objetos inanimados,
nunca um bom sinal - "Não é tão horrível, é?"
Eu fiquei lá feito uma idiota por um segundo, sem ser
exatamente capaz de admitir que eu não estava tendo nenhum
efeito duradouro nos princípios científicos. Então, com um
suspiro, eu coloquei os imãs de volta na geladeira, um
centímetro
separados.
"Não há necessidade de ser tão inflexível", eu
murmurei.
Ainda era muito cedo, mas eu decidí que era melhor eu sair
de
casa antes que os objetos inanimados começassem a responder.
Quando eu cheguei nos Newton, Mike estava passando pano
metodicamente nos corredores enquanto a mão dele arrumava o
novo display do balcão. E os peguei no meio de um discussão,
inconscientes de que eu havia chegado.
"Mas é a única hora que Tyler pode ir", Mike
reclamou. "Você
disse que depois da formatura -"
"Você simplesmente vai ter de esperar", a Sra.
Newton disparou.
"Você e Tyler podem pensar em outra coisa pra fazer.
Você não
vai à Seattle até que a polícia pare o que quer que esteja
aontecendo lá. Eu sei que Beth Crowley disse a mesma coisa a
Tyler, então não haja como se eu fosse o bandido - oh, bom
dia,
Bella", ela disse quando me viu, iluminando o seu tom
imediatamente. "Você chegou cedo".
Karen Newton era a última pessoa a quem eu pediria ajuda
numa
loja de equipamentos de esporte. O seu cabelo loiro
perfeitamente claro estava sempre preso em uma elegante
trança na parte de trás do seu pescoço, as unhas dela eram
pintadas por profissionais, assim como as unhas de seus pés
- que
eram visíveis pelos sapatos altos de tiras que não se
assemelhava
em nada com o que Newton oferecia no longo corredor de botas
de caminhada.
"Pouco trânsito", eu brinquei enquanto pegava o
meu odioso
uniforme laranja florescente debaixo do balcão. Eu estava
supresa pela Sra. Newton estar tão afetada por essa coisa em
Seattle quanto Charlie. Eu pensei que ele estava sendo
exagerado.
"Bem, er..." a Sra. Newton hesitou por um momento,
brincando
desconfortavelmente com a pilha de panfletos que ela estava
arrumando na registradora.
Eu parei com um braço só no meu uniforme. Eu conhecia aquele
olhar.
Quando eu avisei os Newton de que não estaria trabalhando
aqui
no verão - abandonando-os na época mais agitada, na verdade
-
eles começaram a treinar Kate Marshall pra ficar no meu
lugar.
Eles não podiam pagar nós duas ao mesmo tempo, então, quando
parecia ser um dia calmo...
"Eu ia ligar" a Sra. Newton continuou. "Eu
não acho que estamos
esperando uma tonelada de trabalho hoje. Mike e eu
provavelmente podemos cuidar das coisas. Eu lamento por
termos
feito você dirigir até aqui..."
Num dia normal, eu estaria estasiada por essa virada nos
planos.
Hoje... não tanto.
"Okay", eu suspirei. Os meus ombros caíram. O que
eu ia fazer
agora?
"Isso não é justo, mãe", Mike disse. "Se
Bella quer trabalhar -"
"Não, está tudo bem Sra. Newton. Sério, Mike. Eu tenho
que
estudar para as provas finais e tudo mais..." eu não
queria ser a
fonte de um discórdia familiar quando eles já estavam
discutindo.
"Obrigada, Bella. Mike, você esqueceu o corredor
quatro. Um,
Bella, você se incomodaria em jogar esses panfletos fora
enquanto estiver saindo? Eu disse à garota que os deixou
aqui
que eu os colocaria no balcão, mas eu realmente não tenho
espaço".
"Claro, sem problema". Eu tirei o meu uniforme, e
enfiei os
panfletos embaixo do braço e saí para a fina chuva.
O lixo ficava no lado de trás do Newton's, perto de onde os
funcionários deviam estacionar. Eu me arrastei, chutando
pedrinhas petulantemente no caminho. Eu estava prestes a
jogar
a pilha de papéis amarelos na lata de lixo quando a
impressão no
topo da página chamou minha atenção. Uma palavra em
particular
aumentou minha atenção.
Eu apertei os papéis com ambas as mãos e olhei para a foto
embaixo das legendas. Um caroço me subiu à garganta.
SALVE O LOBO DO OLÍMPICO
Embaixo das palavras, havia um desenho detalhado de um lobo
na
frente de uma árvore, com a cabeça pra trás enquanto parecia
uivar para a lua. Era uma foto desconcertante; alguma coisa
na
postura melancólica do lobo fez com que ele parecesse
abandonado. Como se ele estivesse uivando de tristeza.
E então eu estava correndo para a minha caminhonete, ainda
agarrando os panfletos.
Quinze minutos - isso era tudo o que eu tinha. Mas isso
devia ser
______________________4
o suficiente. Eram apenas quinze minutos até La Push, e
certamente eu ia alcançar à fronteira antes de alcançar a
cidade.
A minha caminhonete ligou sem nenhuma dificuldade.
Alice não podia ter me visto fazendo isso, porque eu não
estive
planejando. Uma decisão repentina, essa era a chave! E contanto
que eu me movesse rápido o suficiente, eu seria capaz de
realizá-la.
Eu joguei os panfletos amarelos na minha pressa e eles se
espalharam numa bagunça brilhante no meu banco do passageiro
-
cem letras de legendas, cem lobos escuros uivantes se
esboçavam no fundo amarelo.
Eu embarrilei pela estrada molhada, ligando os limpadores de
vidros e ignorando o barulho do motor velho. Cinquenta e
cinco
era quase o limite máximo da minha caminhonete, e eu rezei
pra
que isso fosse suficiente.
Eu não fazia idéia de onde ficava a linha da fronteira, mas
eu
comecei a me sentir mais segura quando comecei a passar
pelas
primeiras casas da saída de La Push. Isso devia além de onde
Alice tinha permissão de ir.
Eu ia ligar pra ela da casa de Angela essa tarde, eu pensei,
pra
que ela soubesse que eu estava bem. Não havia razão pra ela
ficar preocupada. Ela não precisava ficar com raiva de mim -
Edward ficaria com raiva o suficiente pelos dois quando
voltasse.
A minha caminhonete estava certamente a ponto de desistir
quando eu parei na frente da casa familiar de um vermelho
gasto.
O caroço voltou à minha garganta enquanto eu olhava para o
pequeno lugar que um dia foi meu refúgio. Já fazia tanto
tempo
desde que eu tinha estado lá.
No silêncio repentino quando o motor da caminhonete morreu,
eu
o ouví ofegar.
"Bella?"
"Hey, Jake!"
"Bella!", ele gritou de volta, e o sorriu pelo
qual eu estava
esperando se abriu no rosto dele como se fosse o sol saindo
por
entre as nuvens. Os dentes dele cintilaram brilhantes contra
a
sua pele ruiva. "Eu não acredito!"
Ele correu para a caminhonete e meio que me arrancou pela
porta
aberta, e depois nós dois estavamos pulando pra cima e pra
baixo
feito duas crianças.
"Como você chegou aqui?"
"Eu escapulí!"
"Maravilhoso!"
"Hey, Bella!", Billy havia se empurrado até o arco
da porta pra
ver do que se tratava toda aquela comoção.
"Hey, Bil -!"
Então o meu ar desapareceu - Jacob me agarrou em um abraço
de urso apertado demais pra me deixar respirar e me girou em
círculo.
"Uau, é bom te ver aqui!"
"Não consigo... respirar!", eu botei pra fora.
Ele riu e me colocou no chão.
"Bem vinda, Bella", ele disse, rindo. E o jeito
como ele disse as
palavras fez com que parecesse Bem vinda ao lar.
Nós começamos a andar, animados demais pra ficarmos sentados
em casa. Jacob estava praticament pulando enquanto se movia,
e
eu tive que lembrá-lo algumas vezes de que as minhas pernas
não
tinham dez metros de comprimento.
Enquanto caminhávamos, eu sentí que estava entrando em outra
versão de mim mesma, a pessoa que eu era com Jacob. Um pouco
mais jovem, um pouco mais irresponsável. Alguém que podia,
em
uma certa ocasião, fazer alguém realmente muito estúpido por
nenhum bom motivo.
A nossa exuberância durou durante os primeiros tópicos da
nossa
conversa: como estávamos indo, o que estávamos fazendo,
quanto
tempo eu tinha, e o que havia me trazido aqui. Quando eu
hesitantemente o contei sobre os panfletos do lobo, a sua
risada
estrondosa ecoou nas árvores.
Mas depois, quando nós passamos pela loja e passamos pelos
arbustos grossos que cercavam a Primeira Praia, nós fomos
para
as partes mais difíceis.
Cedo demais nós tivemos que começar a falar sobre os motivos
por trás da nossa longa separação, e eu observei o rosto do
meu
amigo endurecer até se transformar naquela máscara ácida com
a qual eu já era bem familiar.
"Qual é a história, afinal?" Jacob me perguntou,
chutando um
pedaço de graveto fora do seu caminho com força demais. Ele
viajou pela areia e depois se espatifou nas rochas.
"Quer dizer,
da última vez que nós... bem, antes de, você sabe..."
Ele lutou
pelas palavras. Ele respirou fundo e tentou de novo. "O
que eu
estou perguntando é... tudo está de volta a ser como era
antes
dele ir embora? Você perdoou ele por aquilo tudo?"
Eu respirei fundo. "Não havia nada pra perdoar".
Eu queria pular essa parte, as traições, as acusações, mas
eu
sabia que teríamos que falar tudo antes que fôssemos capazes
de superar todo o resto.
O rosto de Jacob enrugou como se ele tivesse lambido um
limão.
"Eu queria que Sam tivesse tirado uma foto quando ele
te
encontrou naquela noite em Setembro. Ela seria a prova
A"
"Ninguém está em julgamento"
"Talvez alguém devesse estar"
"Você não o culparia por ir embora se soubesse as
razões dele
pra ir embora".
Ele me encarou por alguns segundos. "Tudo bem",
ele me desafiou
acidamente. "Me surpreenda".
A hostilidade dele estava me cansando - era como esfregar
algo
áspero, doía quando ele estava com raiva de mim. Eu me
lembrei
da tarde, ha muito tempo atrás, quando - com as ordens de
Sam -
ele me disse que não podíamos ser amigos. Eu levei um longo
segundo pra me recompor.
"Edward me deixou porque ele não achava que eu devia
estar
andando com vampiros. Ele achou que seria mais saudável pra
mim
se ele fosse embora".
Jacob ingeriu isso. Ele teve que pensar por um minuto. O que
quer que ele estivesse planejando dizer, claramente não
funcionava mais. Eu estava feliz por ele não saber o que fez
a
decisão de Edward ser tomada. Eu só podia imaginar o que ele
pensaria se ele soubesse que Jasper tinha tentado me matar.
"No entanto, ele voltou, não voltou?" Jacob
murmurou. "Que pena
que ele não pode sustentar a decisão".
"Se você se lembra, eu fui e peguei ele".
Jacob olhou pra mim por um momento, e depois desistiu. O
rosto
dele relaxou, e sua voz estava mais calma quando ele falou.
"Isso é verdade. Eu nunca ouví a história. O que
aconteceu?"
Eu hesitei, mordendo o meu lábio.
"É um segredo?" A voz dele tomou um tom de
zombaria. "Você
não tem permissão pra me contar?"
"Não", eu disparei. "Só que é uma história
muito longa".
Jacob sorriu, arrogante, e virou pra caminhar para a praia,
esperando que eu o seguisse.
Não tinha graça estar com Jacob se ele ia agir desse jeito.
Eu o
seguí automaticamente, sem ter certeza se eu devia me virar
e ir
embora. Porém, eu ia ter que enfrentar Alice, quando eu
chegasse em casa... eu acho que não estava com pressa.
Jacob caminhou para um enorme, familiar, pedaço de salgueiro
-
uma árvore inteira, com raízes e tudo, esbranquiçado, e bem
afundado na areia; era a nossa árvore, de certa forma.
Jacob sentou no banco natural, e deu uns tapinhas no espaço
ao
lado dele.
"Eu não me importo com histórias longas. Tem
ação?"
Eu revirei os meus olhos enquanto me sentava ao lado dele.
"Tem
um pouco de ação", eu permití.
"Não seria uma história de terror se não tivesse
ação"
"Terror!", eu repreendí. "Você pode ouvir, ou
você vai ficar me
interrompendo com comentários rudes sobre os meus
amigos?"
Ele fingiu trancar os lábios e depois jogou a chave
invisível por
cima do ombro. Eu tentei não sorrir, e falhei.
"Eu tenho que começar por onde você já estava", eu
decidí,
trabalhando pra organizar as histórias na minhacabeça antes
de
começar.
Jacob ergueu a mão.
"Pode falar"
"Isso é bom", ele disse. "Eu não entendí
muito bem o que estava
acontecendo naquela hora".
"É, bem, vai ficar complicado, então preste atenção.
Você sabe
como Alice vê as coisas?"
Eu entendí a careta dele - os lobisomens não estavam felizes
porque as lendas sobre os vampiros possuirem dons
sobrenaturais eram verdadeiras - como um sim, e prossegui
com
a história da minha corrida pela Itália para resgatar
Edward.
Eu a mantí o mais suscinta possível - deixando de fora
qualquer
coisa que não fosse essencial. Eu tentei ler as expressões
de
Jacob, mas o rosto dele estava enigmático quando eu
expliquei
como Alice tinha visto Edward planejando se matar quando ele
ouviu que eu havia morrido. As vezes Jacob parecia tão
absolvido
em pensamentos, que eu não tinha certeza de que ele estava
ouvindo. Ele só interrompeu uma vez.
"A sugadora de sangue que vê o futuro não pode nos
ver?" ele
ecoou, o rosto dele estava tão feroz quanto estava alegre.
"Sério? Isso é excelente!"
Eu trinquei os meus dentes, e nós sentamos em silêncio, o
rosto
dele estava cheio de expectativa enquanto ele esperava que
eu
continuasse. Eu o encarei até que ele reparasse no seu erro.
"Oops!", ele disse. "Desculpe" Ele
trancou os lábios de novo.
A resposta dele foi fácil de ler quando eu contei sobre os
Volturi. Os dentes dele trincaram, os braços dele ficaram
arrepiados, e as narinas dele inflaram. Eu não fui
específica, eu
só o contei que Edward havia copnseguido nos tirar do
problema,
sem revelar a promessa que nós tivemos que fazer, ou da
visita
que estávamos esperando. Jacob não precisava ter os meus
pesadelos.
"Agora você sabe a história toda", eu concluí.
"Então é a sua vez
de falar. O que aconteceu enquanto eu estava com a minha mãe
esse fim de semana?" Eu sabia que Jacob me daria mais
detalhes
do que Edward havia me dado. Ele não estava com medo de me
assustar.
Jacob se inclinou para a frente, instantaneamente animado.
"Então Embry e Quil e eu estávamos correndo na nossa
patrulha
no Sábado à noite, só as coisas de rotina, e do nada
-bam!" Ele
levantou os braços, personalisando uma explosão.
"Lá estava - uma trilha fresca, não tinha nem quinze
minutos.
Sam queria que nós esperássemos por ele, mas eu não sabia
que
você não estava aqui, e não sabia se os seus sugadores de
sangue
estavam de olho em você ou não. Então nós perseguimos ela a
toda velocidade, mas ela cruzou a linha do acordo antes que
a
alcançássemos. Nós nos separamos pela linha, esperando que
ela
voltasse. Foi frustrante, deixe eu te dizer." Ele
balançou a
cabeça e os cabelos - que estavam crescendo do corte curto
que
ele havia adotado quando ele se juntou ao bando - caíram em
seus
olhos. "Nós acabamos perto demais do Sul. Os Cullen a
perseguiram de volta para o nosso lado até apenas algumas
milhas
do nosso Norte. Teria sido a emboscada perfeita se nós
subessemos onde esperar".
Ele balançou a cabeça, agora fazendo careta. "Foi aí
que ficou
feio. Sam e os outros a alcançaram antes de nós, mas ela
estava
dançando bem além da linha, e o grupo inteiro estava bem alí
do
outro lado. O grande, como é o nome dele -"
"Emmett"
"É, ele. Ele tentou atacá-la, mas aquela ruiva é
rápida! Ele passou
bem por trás dela e quase bateu em Paul. Então Paul... bem,
você
conhece Paul".
"É".
"Ele perdeu o foco. Eu não posso dizer que o culpo - o
sugador de
sangue grandão estava bem em cima dele. Ele saltou - ei, não
me
olhe desse jeito. O vampiro estava nas nossas terras".
Eu tentei recompor o meu rosto para que ele continuasse. As
minhas unhas estavam enterradas nas minhas palmas com o
estresse da história, mesmo sabendo que tudo tinha acabado
bem.
"De qualquer forma, Paul errou, e o vampiro voltou para
o lado
dele. Mas aí a, uh, bem a, uh, loira..." A expressão de
Jacob era
uma cômica mistura de nojo e de admiração sem querer
enquanto
ele tentava encontrar uma palavra para descrever a irmã de
Edward.
"Rosalie".
"Que seja. Ela ficou cheia de sí, então Sam e eu
voltamos pra
perto de Paul. Aí o líder deles e o outro loiro -"
"Carlisle e Jasper"
Ele me deu um olhar exasperado.
"Você sabe que eu não me importo de verdade. De
qualquer
forma, então Carlisle falou com Sam, tentando acalmar as
coisas.
Então foi estranho, porque todo mundo ficou muito calmo
bastante rápido. Foi aquele outro sobre quem você me falou,
que
estava zoando com as nossas cabeças. Mas mesmo que
soubéssemos o que ele estava fazendo, nós não conseguimos
não
ficar calmos".
"É, eu sei como é"
"Muito chato, é isso que é. Só que você só consegue
ficar com
raiva depois". Ele balançou a cabeça com raiva.
"Então Sam e o
vampiro lider concordaram que Victoria era a prioridade, e
nós
saímos atrás dela de novo. Carlisle nos deu a linha, para
que
pudéssemos sentir o cheiro apropriadamente, mas aí ela
chegou
nos penhascos a norte do condado de Makah, lá onde a linha
abraça a costa por alguns quilômetros. Ela escapou pela água
de
novo. O grandão e o calmo pediram permissão para ultrapassar
a
linha pra ir atrás dela, mas é claro que nós dissemos
não".
"Bom. Quer dizer, você estava sendo estúpido, mas eu
estou
feliz. Emmett nunca é cuidadoso o suficiente. Ele podia ter
se
machucado".
Jacob bufou. "Então o seu vampiro te disse que nós
atacamos
sem nenhuma razão e que o grupo completamente inocente dele
-"
"Não", eu interrompí. "Edward me contou a
mesma história, só
que não com tantos detalhes".
"Huh", Jacob disse por baixo do fôlego, e se
abaixou para pegar
uma pedras entre os milhões de pedrinhas aos nossos pés. Com
um movimento casual, ele fez ela sair voando uns bons cem
metros pra fora da baía. "Bom, ela vai voltar, eu acho.
Nós vamos
ter outra chance com ela".
Eu levantei os ombros; é claro que ela ia voltar. Edward
realmente me diria da próxima vez? Eu não tinha certeza. Eu
ia
ter que ficar de olho em Alice, pra procurar por sinais de
que o
padrão estava prestes a se repetir...
Jacob não pareceu reparar a minha reação. Ele estava olhando
para as ondas com um expressão pensativa no rosto, com seus
lábios grossos fazendo beicinho.
"No que você está pensando?", eu perguntei depois
de um longo
tempo, em silêncio.
"Eu estou pensando no que você me disse. Sobre quando o
vidente viu você pular do penhasco e pensou que você tinha
se
suicidado, e como tudo saiu do controle... Você se dá conta
de
que se você tivesse esperado por mim como devia, então
depois a
su -Alice não tivesse sido capaz de te ver pular? Nada teria
mudado. Nós provavelmente estariamos na minha garagem agora,
como em qualquer outro Sábado. Não haveriam vampiros em
Forks, e você e eu..." Ele parou, perdido em
pensamentos.
O jeito que ele disse isso foi desconcertante, como se fosse
uma
coisa que não houvessem vampiros em Forks. O meu coração
bateu fora de ordem por causa do vazio do quadro que ele
pintou.
"Edward teria voltado do mesmo jeito".
"Você tem certeza disso?" ele perguntou, agressivo
de novo
assim que eu falei o nome de Edward.
______________________5
"Estar separados... Não funcionou muito bem para nenhum
de
nós"
Ele começou a dizer alguma coisa, alguma coisa raivosa pela
expressão dele, mas ele se deteve, respirou fundo, e começou
de
novo.
"Você sabia que Sam está com raiva de você?"
"Eu?" Eu levei um segundo. "Oh. Eu entendo.
Ele acha que eles
teriam ficado longe se eu não estivesse aqui".
"Não. Não é isso".
"Qual é o problema então?"
Jacob se abaixou para pegar outra pedra. Ele a girou pra lá
e pra
cá em seus dedos; os olhos dele estavam grudados na pedra
preta enquanto ele falava com uma voz baixa.
"Quando Sam viu... como você estava no começo, quando
Billy os
disse o quanto Charlie estava preocupado quando você não
melhorou, e aí você começou a pular de penhascos..."
Eu fiz uma cara. Ninguém ia me deixar esquecer aquilo.
Os olhos de Jacob vieram para os meus. "Ele pensou que
você era
a única pessoa no mundo que teria tantas razões para odiar
os
Cullen quanto ele. Sam se sente meio... traído por você
simplesmente ter deixado eles voltarem para a sua vida como
se
eles nunca tivessem te machucado".
Eu não acreditei nem por um segundo que era Sam que se
sentia
assim.
E o ácido na minha voz agora era para eles dois.
"Você pode dizer a Sam que ele -"
"Olhe pra isso", Jacob me interrompeu, apontando
para uma
águia que estava voando pra baixo em direção ao oceano de
uma
altura incrível. Ela se deteve no último minuto, apenas as
suas
garras quebrando a superfície das ondas, só por um instante.
Depois ela levantou vôo, suas asas se debatendo contra o
peso de
um peixe enorme e ela tinha pego.
"Aqui você vê isso o tempo inteiro" Jacob disse,
sua voz
repentinamente distante. "A natureza tomando o seu
curso - o
caçador e a presa, e o interminável ciclo de vida e
morte".
Eu não entendí a necessidade do discurso sobre a natureza;
eu
imaginei que ele estivesse só tentando mudar de assunto. Mas
depois ele olhou de volta para mim com humor negro nos
olhos.
"E mesmo assim, você não vê o peixe tentando dar um
beijo na
águia. Você nunca vê isso". Ele deu um sorriso de
zombaria.
Eu correspondí com um sorriso forçado, apesar do gosto
amargo
ainda estar na minha boca. "Talvez o peixe estivesse
tentando",
eu sugerí. "É difícil dizer o que o peixe estava
pensando. Águias
são pássaros de boa aparência, você não acha?"
"É disso que se trata?" A voz dele estava
abruptamente mais
afiada. "Boa aparência?"
"Não seja estúpido, Jacob"
"É o dinheiro, então?", ele insistiu.
"Isso é legal" eu murmurei, me levantando da
árvore. "Eu estou
lisonjeada que você pense tão bem de mim". Eu dei as
costas pra
ele e comecei a ir embora.
"Aw, não fique com raiva". Ele estava bem atrás de
mim; ele
agarrou o meu pulso e me virou. "Eu estou falando
sério! Eu estou
tentando entender, e estou ficando em branco"
As minhas sobrencelhas se uniram raivosamente, e os olhos
dele
estavam pretos nas sombras escuras.
"Eu amo ele. Não porque ele é lindo ou porque ele é
rico!" eu
joguei a palavra em Jacob.
"Eu preferiria se ele não fosse nenhum dos dois. Isso
iria
balancear as coisas entre nós um pouquinho - porque ele
ainda
seria a pessoa mais amorosa e altruísta e brilhante e
decente
que eu já conhecí. É claro que eu amo ele. Será que isso é
difícil
de entender?"
"É impossível de entender".
"Por favor, me esclareça então, Jacob" eu deixei o
sarcasmo voar
solto. "Qual é o motivo válido pra se amar alguém? Já
que
aparentemente eu estou fazendo isso errado".
"Eu acho que o melhor lugar pra começar seria procurar
entre a
nossa própria espécie. Isso geralmente funciona".
"Bem, isso é uma droga!" eu atirei. "Eu acho
que estou presa com
Mike Newton afinal de contas".
Jacob enrijeceu e mordeu o lábio. Eu podia notar que as
minhas
palavras haviam machucado ele, mas eu ainda estava com raiva
demais pra me sentir mal sobre isso. Ele soltou o meu pulso
e
cruzou os braços no peito, desviando de mim pra encarar o
oceano.
"Eu sou humano", ele murmurou, sua voz quase
inaudível.
"Você não é tão humano quanto Mike" eu continuei
rudemente.
"Você ainda acha que essa é a consideração mais
inportante?"
"Não é a mesma coisa", Jacob não desviou o olhar
das ondas
cinzas. "Eu não escolhí isso".
Eu rí mais uma vez sem acreditar. "Você acha que Edward
escolheu? Ele não sabia o que estava acontecendo com ele
mais
do que você sabia. Ele não se inscreveu pra isso".
Jacob estava balançando a cabeça pra frente e pra trás, num
movimento pequeno, rápido.
"Sabe, Jacob, você é terrivelmente cheio de sí -
levando em
consideração que você é um lobisomem e tudo mais".
"Não é a mesma coisa", ele repetiu, olhando pra
mim.
"Eu não vejo porque não. Você podia ser um pouco mais
compreensívo com os Cullen. Você não tem idéia do quão
realmente bons eles são - demais, Jacob".
A careta dele se aprofundou. "Eles não deviam existir.
A
existência deles vai contra a natureza".
Eu o encarei com um sobrancelha erguida incredulamente.
Levou
um tempo até que ele reparesse.
"O que ?"
"Falando de sobrenatural..." eu indiquei.
"Bella", ele disse com uma voz lenta e diferente.
Amadurecida.
Eu me dei conta de que de repente ele parecia ser mais velho
que
eu - como uma pai ou um professor. "O que eu sou nasceu
comigo.
Isso é parte de quem eu sou, de quem a minha família é, de
quem
toda a tribo é - essa é a razão pela qual ainda estamos
aqui.
"Além do mais" - ele olhou pra mim, seus olhos
pretos ilegíveis.
"Eu ainda sou humano".
Ele pegou a minha mão e pressionou no seu peito febriamente
quente. Através da sua camisa, eu podia sentir as batidas
uniformes do coração dele na minha palma.
"Humanos normais não podem andar em motos do jeito que
você
faz".
Ele deu um meio sorriso fraco. "Humanos normais fogem
de
monstros, Bella. E eu nunca disse que era normal. Só
humano."
Ficar com raiva de Jacob era trabalhoso demais. Eu comecei a
sorrir enquanto tirava a minha mão do peito dele.
"Você é bastante humano pra mim", eu permití.
"No momento".
"Eu me sinto humano". Ele olhou através de mim, o
rosto dele
estava entristecido. O lábio inferior dele estremeceu, e ele
o
mordeu com força.
"Oh, Jake", eu sussurrei, pegando a mão dele.
Era por isso que eu estava lá. Era por isso que eu
aguentaria
qualquer recepção que estivesse esperando por mim quando eu
voltasse. Porque, por baixo de toda aquela raiva e sarcasmo,
Jacob estava sentindo dor. Nesse momento, isso estava muito
claro nos olhos dele. Eu não sabia como ajudá-lo, mas eu já
sabia
que eu tinha que tentar. Isso era mais do que porque eu o
devia.
Era porque a dor dele me machucava também. Jacob havia se
tornado uma parte de mim, e não havia como mudar isso agora.
5. Imprimido
"Você está bem, Jake? Charlie disse que você está
passando por
um momento difícil... Isso não tá melhorando?"
A mão quente dele circulou a minha. "Não é tão
ruim", ele disse,
mas ele não me olhava nos olhos.
Ele caminhou lentamente para o banco de salgueiro, olhando
para
as pedrinhas com cor de arco-íris, e me puxando para o lado
dele.
Eu me sentei na nossa árvore, mas ele preferiu se sentar no
chão
molhado, coberto de pedras do que perto de mim. Eu me
perguntei se era pra que ele pudesse esconder o rosto com
mais
facilidade. Ele continuou segurando minha mão.
Eu comecei a tagarelar para acabar com o silêncio. "Já
faz tanto
tempo desde que eu estive aqui. Eu provavelmente perdí uma
tonelada de coisas. Como estão Sam e Emily? E Embry? E Quil
-
?"
Eu parei no meio da frase, lembrando que o amigo de Jacob,
Quil,
costumava ser uma assunto sensível.
"Ah, Quil", Jacob suspirou.
Então já devia ter acontecido - Quil deve ter se juntado ao
bando.
"Eu lamento", eu murmurei.
Para a minha surpresa, Jacob bufou. "Não diga isso a
ele".
"O que você quer dizer?"
"Quil não está procurando por pena. Pelo contrário -
ele está
contente. Simplesmente louco de felicidade".
Isso não fazia sentido pra mim. Todos os outros lobos tinham
estado tão deprimidos com a idéia do amigo deles dividir
esse
mesmo destino. "Huh?"
Jacob pendeu a cabeça de lado pra olhar pra mim. Ele sorriu
e
revirou os olhos.
"Quil acha que isso é a coisa mais legal que já
aconteceu com ele.
Agora ele já sabe realmente o que está acontecendo. E ele
está
feliz por ter os amigos de volta - por ser parte "do
grupo". Jacob
bufou de novo. "Eu não devia estar supreso, eu acho.
Isso é tão
Quil".
"Ele gosta disso?"
"Honestamente... a maioria deles gosta", Jacob
admitiu
lentamente. "Definitivamente têm lados bons nisso - a
velocidade, a liberdade, a força... o sensação de - de
família...
Sam e eu somos os únicos que se sentem mal. E Sam já superou
isso a muito tempo. Então agora eu sou o bebê chorão."
Jacob riu
de sí mesmo.
Haviam tantas coisas que eu queria saber. "Porque você
e Sam
são diferentes? O que aconteceu com Sam, afinal? Qual é o
problema dele?" As perguntas iam escapando sem dar
tempo pra
uma resposta, e Jacob riu de novo.
"Essa é uma longa história".
"Eu te contei uma longa história. Além do mais, eu não
estou com
pressa." Eu disse, e depois fiz uma careta quando eu
pensei no
problema em que ia me meter.
Ele olhou pra mim rapidamente, ouvindo o tom de dúvida nas
minhas palavras. "Ele vai ficar com raiva de
você?"
"Sim", eu adimití. "Ele realmente odeia
quando eu faço coisas que
ele considera... arriscadas".
"Como andar com lobisomens"
"É".
Jacob levantou os ombros. "Então não volte. Eu durmo no
sofá".
"Essa é uma ótima idéia" eu rosnei. "Porque
aí ele ia vir procurar
por mim".
Jacob enrijeceu, e sorriu sem sinceridade.
"Viria?"
"Se ele estivesse com medo de que eu fosse me machucar
ou
coisa assim - provavelmente"
"A minha idéia está parecendo melhor a cada
segundo".
"Por favor, Jake. Isso realmente me incomoda"
"O que?"
"Que vocês dois estejam tão prontos pra matar um ao
outro!" eu
reclamei. "Isso me deixa louca. Porque vocês dois não
podem ser
civilizados?"
"Ele está pronto pra me matar?" Jacob perguntou
com um
sorriso de zombaria, despreocupado com a minha raiva.
"Não como você parece estar!" eu me dei conta de
que estava
gritando. "Pelo menos ele consegue ser maturo em
relação a isso.
Ele sabe que te machucar ia me machucar - então ele nunca
faria
isso. Você não parece se importar com isso nem um
pouco!"
"É, tá", Jacob murmurou. "Estou certo de que
ele é um
pacificador".
"Ugh!" eu puxei a minha mão da dele e empurrei a
cabeça dele
pra longe. Então eu puxei os meus joelhos para o meu peito e
passei os meus braços com força ao redor deles.
Eu olhei para o horizonte, enfurecida.
Jacob ficou quieto por alguns minutos. Finalmente, ele
levantou
do chão e se sentou ao meu lado, colocando o braço ao redor
do
meu ombro. Eu o afastei.
"Desculpe", ele disse baixinho.
"Eu vou tentar me comportar".
Eu não respondí.
"Você quer ouvir sobre Sam?", ele ofereceu.
Eu levantei os ombros.
"Como eu disse, é uma longa história. E muito... estranha.
Existem
muitas coisas estranhas sobre essa nova vida. Eu não tive
tempo
pra te contar nem a metade. E essa coisa com Sam - bem, eu
não
sei se serei capaz de explicar direito".
As palavras dele eriçaram a minha curiosidade apesar da
minha
irritação.
"Eu estou ouvindo", eu disse rigidamente.
Pelo canto do meu olho, eu ví os cantos da boca dele se
levantarem em um sorriso.
"Sam e eu sofremos muito mais com isso do que os
outros. Porque
ele foi o primeiro, e ele estava sozinho, e ele não tinha
ninguém
pra dizê-lo o que estava acontecendo. O avô de Sam morreu
antes que ele tivesse nascido, e o pai dele nunca esteve por
perto. Não havia niguém lá pra reconhecer os sinais. Na
primeira
vez que aconteceu - a primeira vez que ele se transformou -
ele
pensou que tinha enlouquecido. Ele levou duas semanas pra se
acalmar o suficiente pra voltar ao normal.
"Isso foi antes de você vir a Forks, então você não
poderia
lembrar. A mãe de Sam e Leah Clearwater fizeram os guardas
da
floresta procurar ele, a polícia. As pessoas pensaram que
ele
tinha sofrido um acidente ou algo assim..."
"Leah", eu perguntei, surpresa. Leah era a filha
de Harry. Ouvir
o nome mandou uma onda imediata de piedade por mim. Harry
Clearwater, velho amigo de Charlie, tinha morrido de um
ataque
do coração na primavera passada.
A voz dele mudou, ficou mais pesada. "É. Leah e Sam
eram
namorados na escola. Eles começaram a namorar quando ela
ainda
era caloura. Ela ficou frenética quando ele
desapareceu."
"Mas ele e Emily -"
"Eu vou chegar lá - isso é parte da história", ele
disse. Ele inalou
lentamente, e exalou com força.
Eu acho que eu tinha sido boba por pensar que Sam nunca
havia
amado ninguém além de Emily. A maioria das pessoas se
apaixona
e desapaixona tantas vezes na vida. É só que eu tinha visto
Sam
com Emily, e eu não conseguia imaginá-lo com mais ninguém.
O jeito como ele olhava pra ela... bem, isso me lembrava de
um
olhar que eu já tinha visto algumas vezes nos olhos de
Edward -
quando ele estava olhando pra mim.
"Sam voltou", Jacob disse. "mas ele não disse
a ninguém onde
havia estado. Os rumores começaram a aparecer - de que ele
não
estava fazendo nada bom, em grande parte. E depois Sam se
bateu com o avô de Quil quando o velho Quil Ateara veio
visitar a
Sra. Uley. Sam balançou a mão dele. O velho Quil quase teve
um
derrame". Jacob parou pra rir.
"Porque?"
Jacob colocou a mão na minha bochecha e puxou meu rosto pra
que eu pudesse olhar pra ele - ele estava inclinado na minha
direção. A palma dele queimava a minha pele, como se ele
estivesse com febre.
"Oh, certo", eu disse. Eu estava desconfortável,
tendo o meu
rosto tão perto do dele e a mão quente dele na minha pele.
"Sam
estava com a temperatura alta".
______________________6
Jacob riu de novo. "Parecia que Sam tinha colocado a
mão dele no
fogão".
Ele estava tão perto, que eu podia sentir a sua respiração
quente.
Eu alcancei casualmente, pra retirar a mão dele e libertar o
meu
rosto, mas entralecei meus dedos com os dele pra não magoar
seus sentimentos. Ele sorriu e se afastou, sem ser enganado
com
a minha tentativa de ser gentil.
"Então o Sr. Ateara foi até os anciões", Jacob
continuou. "Eles
eram os únicos que haviam restado que ainda sabiam, ainda
lembravam. O Sr. Ateara, Billy e Harry realmente haviam
visto
seus avôs se tranformando. Quando o velho Quil os contou,
eles
se encontraram com Sam secretamente e explicaram.
"Foi mais fácil quando ele entendeu - quando ele não
estava mais
sozinho. Eles sabiam que ele não seria o único a ser afetado
pela
volta dos Cullen" - ele pronunciou o nome com uma
acidez
incosciente - "mas ninguém mais era velho o suficiente.
Então
Sam esperou até que o resto de nós se juntasse a ele..."
"Os Cullen não tinham idéia", eu disse em um
sussurro. "Eles não
sabiam que os lobisomens ainda existiam aqui. Eles não
sabiam
que vir aqui faria com que vocês mudassem".
"Isso não muda o fato de que fez"
"Me lembre não não mexer com o seu lado ruim".
"Você acha que eu devia perdoá-los como você? Nós não
podemos
ser todos Santos e Mártires".
"Cresça, Jacob."
"Eu queria poder", ele murmurou baixinho.
Eu o encarei, tentando entender o sentido da frase dele.
"O
que?"
Jacob gargalhou. "Uma daquelas muitas coisas estranhas
que eu
mencionei".
"Você... não pode... crescer?" eu disse vazia.
"Você o que? Não
vai... envelhecer? Isso é uma piada?"
"Nope", ele estalou os lábios no P.
Eu sentí o sangue escapando do meu rosto. Lágrimas -
lágrimas
de raiva - encheram os meus olhos. Os meus dentes rangeram,
com um audível som incômodo.
"Bella? O que foi que eu disse?"
Eu estava de pé de novo, minhas mãos eram bolas nos meus
pulsos, o meu corpo estava tremendo.
"Você. Não. Vai. Envelhecer". Eu rugí por entre os
dentes.
Jacob puxou o meu braço gentilmente, tentando me fazer
sentar. "Nenhum de nós vai. Qual é o problema com
você?"
"Eu sou a única que tem que ficar velha? Eu estou
ficando mais
velha a cada dia nojento!" eu preticamente gritei,
jogando as
mãos pra o ar. Uma parte de mim reconheceu que eu estava
fazendo um escândalo Charlie-esco, mas essa parte racional
estava dominada pela parte irracional. "Droga! Que
espécie de
mundo é esse? Onde está a justiça?"
"Pega leve, Bella"
"Cala a boca, Jacob. Só cala a boca! É tão
injusto!"
"Você seriamente acabou de bater o pé? Eu pensei que as
garotas só faziam isso na TV".
Eu rosnei de forma não impressionante.
"Não é tão ruim quanto você pensa. Sente e eu vou
explicar".
"Eu vou ficar de pé"
Ele revirou os olhos. "Tá certo. O que você quiser. Mas
escute, eu
vou envelhecer... algum dia".
"Explique".
Ele deu um tapinha na árvore. Eu rosnei por um segundo, mas
depois eu me sentei; meu temperamento melhorou tão
rapidamente quanto tinha piorado e eu me acalmei o
suficiente
pra me dar conta que eu estava fazendo papel de boba.
"Quando nos tornarmos velhos o suficiente pra
desistir..." Jacob
disse. "Quando nós pararmos de nos transformar por uma
sólida
quantidade de tempo, nós envelheceremos de novo. Não é
fácil".
Ele balançou a cabeça, abruptamente duvidoso. "Vai
levar
bastante tempo para aprender esse tipo de restrinção, eu
acho.
Sam ainda nem chegou lá. É claro que não ajuda o fato de que
há
um enorme grupo de vampiros por perto. Nós não podemos nem
pensar em desistir enquanto a tribo precisar de protetores.
Mas
você não devia ficar louca por causa disso, de qualquer
forma,
porque eu já sou mais velho de que você, fisicamente, pelo
menos".
"Do que é que você está falando?"
"Olha pra mim, Bells. Você acha que eu pareço ter
dezesseis?"
Eu olhei para a estatura de mamute dele, tentando ser
imparcial.
"Não exatamente, eu acho".
"Nem um pouco. Porque nós atingimos a maturidade máxima
dentro de alguns meses quando o gene lobisomem é ativado. É
um
tremendo período de crescimento." Ele fez uma cara.
"Fisicamente, eu provavelmente tenho vinte e cinco ou
coisa
parecida. Então você não precisa se preocupar em ser velha
demais pra mim por pelo menos sete anos".
Vinte e cinco ou coisa assim. A idéia mexeu com a minha
cabeça.
Mas eu me lembrei daquele período de crescimento - eu me
lembrei de observar ele crescer bem em frente aos meus
olhos.
Eu me lembrei de como ele parecia diferente todos os dias...
eu
balancei a minha cabeça, me sentindo tonta.
"Então, você quer ouvir sobre Sam, ou você quer gritar
mais
comigo por coisas que estão fora do meu controle?"
Eu respirei fundo. "Desculpa. Idade é um assunto
complicado pra
mim. Isso atacou meus nervos".
Os olhos de Jacob estreitaram, como se ele estivesse
tentendo
decidir a forma de falar alguma coisa.
Já que eu não queria falar sobre as coisas realmente complicadas
pra mim - meus planos pra o futuro, ou os acordos que podiam
ser
quebrados por tais planos, eu fiz ele ir em frente.
"Então, quando Sam entendeu o que estava acontecendo,
quando
ele tinha Billy e Harry e o Sr. Ateara, você disse que não
foi mais
difícil. E, como você também disse, existem partes
boas..." eu
hesitei brevemente. "O que faz Sam odia-los tanto? O
que faz
ele desejar que eu os odei?"
Jacob suspirou. "Essa á a perte realmente
estranha".
"Eu sou profissional em coisas estranhas".
"É, eu sei". Ele riu antes de continuar.
"Então, você está certa.
Sam sabia o que estava acontecendo, e tudo estava meio que
bem. Em maioria, a vida dele estava, bem, não normal. Mas
melhor". Aí a expressão de Jacob endureceu, como se
alguma
coisa dolorosa estivesse vindo. "Sam não podia contar a
Leah.
Nós não devemos contar a ninguém que não deva saber. E não
era
muito seguro ele estar perto dela - mas ele trapaceou,
exatamente como eu fiz com você. Leah ficou furiosa por ele
não
contá-la o que estava acontecendo - onde ele havia estado,
onde
ele esteve a noite inteira, porque ele estava sempre tão
exausto
- mas eles estavam fazendo dar certo. Eles estavam tentando.
Eles realmente se amavam".
"Ela descobriu? Foi isso que aconteceu?"
Ele balançou a cabeça. "Não, esse não é o problema. A
prima dela,
Emily Young, veio da reserva de Makah pra fazer uma visitar
ela
num fim de semana".
Eu sufoquei. "Emily é prima de Leah?"
"Prima de segundo grau. No entanto, elas são próximas.
Elas
eram como irmãs quando eram crianças."
"Isso é... horrível. Como Sam pôde...?" eu parei,
balançando minha
cabeça.
"Não o julgue ainda. Alguém já te disse... Você já
ouviu falar da
impressão?"
"Impressão?" eu repetí a palavra estranha.
"Não. O que
significa?"
"É uma daquelas coisas estranhas com as quais eu tenho
que
lidar. Isso não acontece com todo mundo. Na verdade, eu acho
que é uma rara excessão, não uma regra. Até essa hora, Sam
já
havia ouvido todas as histórias, as histórias que todos nós
costumávamos pensar que eram lendas. Ele ouviu da impressão,
mas ele nunca sonhou que..."
"O que é?" eu instiguei.
Os olhos de Jacob grudaram no oceano. "Sam amava Leah.
Mas
quando ele viu Emily, isso não importou mais. As vezes...
nós não
sabemos exatamente porque... nós encontramos as nossas
parceiras assim". Os olhos dele voltaram pra mim, o
rosto dele
ficando vermelho. "Eu quero dizer... as nossas almas
gêmeas".
"Que jeito? Amor à primeira vista?" eu rí
silenciosamente.
Jacob não estava rindo. Os olhos dele estavam criticando a
minha reação. "Isso é um pouco mais poderoso do que
isso. Mais
absoluto".
"Desculpa", eu murmurei. "Você estão falando
sério, não está?"
"É, eu estou".
"Amor à primeira vista? Mas mais poderoso?" A
minha voz soava
duvidosa, e ele podia ouvir isso.
"Não é fácil explicar. De qualquer forma, não
importa". Ele
levantou os ombros indiferentemente. "Você queria saber
o que
aconteceu com Sam pra fazê-lo odiar os vampiros por fazer
ele
mudar, pra fazê-lo odiar a sí mesmo. E foi isso que
aconteceu.
Ele partiu o coração de Leah. Ele teve que voltar atrás em
todas
as promessas que havia feito a ela. Todos os dias ele tem
que ver
a acusação nos olhos dela, e saber que ela está certa".
Ele parou de falar abruptamente, como se ele tivesse dito
alguma
coisa que não devia ter dito.
"Como Emily lidou com isso? Se ela era tão próxima a
Leah...?"
Sam e Emily eram extremamente certos juntos, duas partes de
quebra-cabeças, feitos um para o outro exatamente. Ainda
assim... Como Emily ignorou o fato de que ele pertencia a
outra
pessoas? Quase a irmã dela.
"Ela ficou com muita raiva no início, mas era dificil
resistir
àquele nível de compromisso e adoração". Jacob
suspirou. "E
depois, Sam pôde contar tudo pra ela. Não existem regras que
te
impeçam quando você realmente encontra a sua outra metade.
Você sabe como ela se machucou?"
"Sei". A história em Forks era de que ela tinha
sido atacada por
um urso, mas eu sabia do segredo.
Lobisomens são instáveis, Edward tinha dito. As pessoas
próximas a eles se machucam.
"Bem, estranhamente o suficiente, isso foi meio que a
forma
como eles acertaram as coisas. Sam ficou tão horrorizado,
tão
enojado consigo mesmo, tão cheio de ódio pelo que ele havia
feito... Ele teria se atirado na frente de um ônibus se isso
fizesse com que ela se sentisse melhor. Ele deve ter feito
do
mesmo jeito, só pra escapar do que ele havia feito. Ele
estava
arrasado... Então, de alguma forma, era ela que estava
confortando ele, e no fim das contas..."
Jacob não terminou o seu pensamento, e eu sentí que a
história
tinha se tornado pessoal demais pra dividir.
"Pobre Emily", eu sussurrei. "Pobre Sam.
Pobre Leah..."
"É, Leah ficou com a pior parte", ele concordou.
"Ela faz cara de
durona. Ela vai ser uma das damas de honra".
Eu olhei pra longe, para as rochas pontudas que se erguiam
do
oceanos como se fossem dedos quebrados ao sul do porto,
enquanto eu tentei entender o sentido disso tudo. Eu podia
sentir os olhos dele no meu rosto, esperando que eu dissesse
alguma coisa.
"Isso aconteceu com você?", eu finalmente
perguntei, ainda
olhando pra longe. "Essa coisa de amor à primeira
vista?"
"Não", ele respondeu vivamente. "Sam e Jared
são os únicos".
"Hmm" eu disse, tentando soar educadamente
interessada. Eu
estava aliviada, e eu tentei explicar a minha reação para
mim
mesma. Eu decidí que eu só estava feliz que não havia
nenhuma
ligação mística, de lobos, entre nós. O nosso relacionamento
já
era confuso o suficiente do jeito que era. Eu não queria
mais
nada sobrenatural além daquilo com o que eu já tinha que
lidar.
Ele estava quieto também, e o silêncio ficou um pouco
estranho.
A minha intuição me disse que eu não ia querer saber o que
ele
estava pensando.
"Como foi que isso funcionou pra Jared?" eu
perguntei pra
quebrar o silêncio.
"Nenhum drama aqui. Era só uma garota da qual ele
passou o ano
todo sentando perto na escola e ele nunca a olhou duas
vezes. E
depois, quando ele foi transformado, ele olhou pra ela e não
conseguiu desviar o olhar".
"Kim ficou muito feliz. Ela tinha uma enorme queda por
ele. Ela
tinha escrito o sobrenome dele depois do nome dela no diário
dela inteiro". Ele sorriu de zombaria.
Eu fiz uma careta. "Jared te contou isso? Ele não devia
ter
contado".
Jacob mordeu o lábio. "Eu acho que não devia rir. No
entanto, é
engraçado".
"Bela alma gêmea".
Ele suspirou. "Jared não nos contou de propósito. Eu já
te contei
essa parte, lembra?"
"Oh, é. Vocês podem ouvir os pensamentos uns dos
outros, mas
só quando são lobos, certo?"
"Certo. Igual ao seu sugador de sangue".
"Edward", eu corrigí.
"Claro, claro. É assim que eu sei tanto sobre como Sam
se sentiu.
Não é como se ele fosse nos contar isso se ele tivesse
escolha.
Na verdade, isso é uma coisa que todos nós odiamos." A
acidez
repentinamente endureceu a voz dele. "É horrível. Sem
privacidade, sem segredos. Todas as coisas das quais você se
envergonha, expostas pra todo mundo ver". Ele
estremeceu.
"Parece horrível", eu sussurrei.
"Isso é útil quando nós precisamos nos coordenar",
ele disse
carrancudo. "Uma vez a cada lua azul, quando um sugador
de
sangue ultrapassa o nosso território. Laurent foi divertido.
E se
os Cullen não tivessem ficado no nosso caminho no Sábado
passado... ugh!" ele rugiu. "Nós podíamos ter
agarrado ela!" Os
punhos dele viraram duas bolas raivosas.
Eu enrijecí. Mesmo me preocupando que Jasper ou Emmett se
machucassem, isso não era nada comparado com o pânico que eu
sentí com a idéia de Jacob tentando enfrentar Victoria.
Emmett
e Jasper eram as duas coisas mais próximas do indestrutível
que
eu podia imaginar. Jacob ainda era quente, ainda era
comparativamente humano. Mortal. Eu pensei em Jacob
enfrentando Victoria, seu cabelo brilhante esvoaçando ao
redor
do seu rosto estranhamente felino... e estremecí.
Jacob olhou pra mim com uma expressão curiosa. "Mas não
é
assim pra você o tempo todo? Tendo ele em sua cabeça?"
"Oh, não. Edward nunca está em minha cabeça. Ele só
deseja
isso".
A expressão de Jacob ficou confusa.
"Ele não pode me ouvir", eu expliquei, a minha voz
estava um
pouco presumida por causa do hábito. "Eu sou a única
que é assim
pra ele. Nós não sabemos porque ele não pode".
"Estranho", Jacob disse.
"É", a presunção desapareceu. "Isso
provavelmente significa que
tem alguma coisa errada com o meu cérebro", eu admití.
"Eu já sabia que tinha alguma coisa errada com o seu
cérebro",
Jacob murmurou.
"Obrigada".
O sol saiu do meio das nuvens de repente, uma surpresa que
eu
não estava esperando, e eu tive que apertar os meus olhos
pra
olhar para a água. Tudo tinha mudado de cor - as ondas
mudaram
de cinza para azul, as árvores de uma cor de oliva chata
para um
brilhante jade, e as pedrinhas com cor de arco-íris
brilhavam
como se fossem pedras preciosas.
Nós piscamos por um segundo, deixando os nossos olhos se
ajustarem. Não havia nenhum som além do murmúrio das ondas
que ecoavam de todos os lados do porto abrigado, o som suave
das pedras batendo umas contra as outras a cada movimento
que
a água fazia, e o choro das gaivotas lá no alto. Era muito
tranquilo.
Jacob se aproximou de mim, até que ele estava se inclinando
no
meu braço. Ele era tão quente. Depois de um minuto disso, eu
tirei o meu casaco de chuva. Ele fez um sonzinho de
contentamento no fundo da garganta, e descansou o seu queixo
em cima da minha cabeça. Eu podia sentir o sol esquentando a
minha pele - apesar dele não ser tão quente quanto Jacob. E
eu
me perguntei à toa quanto tempo eu levaria até me queimar.
Com a mente ausente, eu virei minha mão direita para o lado,
e
observei a minha pele brilhar subtamente na cicatriz que
James
havia me deixado lá.
"No que você está pensando?" ele murmurou.
"O sol".
"Hmm. É legal".
"No que você está pensando?"
Ele gargalhou para sí mesmo. "Eu estava lembrando
daquele filme
idiota que você me levou. E de Mike Newton vomitando em
tudo".
Eu rí também, surpresa de ver como o tempo havia mudado
aquela memória. Ela costumava ser uma memória de estresse,
de
confusão.
Tanta coisa mudou naquela noite... E agora eu podia rir.
Essa foi a
última noite que eu e Jacob haviamos tido antes que ele soubesse
a verdade sobre a sua herança. A última memória humana. Uma
memória estranhamente agradável agora.
"Eu sentí falta disso", Jacob disse. "Do
jeito que isso costumava
ser tão fácil... descomplicado. Eu estou feliz por ter uma
boa
memória". Ele suspirou.
Ele sentiu a tensão repentina no meu corpo quando as
memórias
dele desencadearam as minha próprias memórias.
"O que foi?" ele perguntou?
"Sobre essa sua boa memória..." eu me separei dele
pra que assim
eu pudesse ver o seu rosto. No momento, ele estava confuso.
"Você se importa de dizer o que você estava fazendo na
Segunda
de manhã? Você estava pensando em alguma coisa que incomodou
Edward". Incomodaram não era exatamente a palavra pra
isso,
mas eu queria uma resposta, então eu achei que era melhor
não
começar muito severamente.
O rosto de Jacob brilhou com a compreensão, e ele riu.
"Eu só
estava pensando em você. Ele não gostou muito, não é?"
"Em mim? O que sobre mim?"
Jacob sorriu de novo, dessa vez com um tom mais duro.
"Eu
estava me lembrando do jeito como você estava na noite em
que
Sam te achou - eu ví isso na cabeça dele, e é como se eu
estivesse lá; aquela memória sempre perseguiu Sam, sabe. E
depois eu me lembrei de como você estava na primeira vez que
foi na minha casa. Eu aposto que você não imagina a confusão
que
você estava na época, Bella. Levaram semanas até que você
começasse a parecer humana de novo. E eu me lembrei de como
você sempre costumava passar os braços ao redor de sí mesma,
tentando se manter inteira..." Jacob gemeu, e depois
balançou a
cabeça. "É difícil pra mim lembrar do quanto você
estava triste,
e não era minha culpa. Então eu me dei conta de que seria
mais
difícil pra ele. E eu pensei que ele devia dar uma olhada no
que
ele tinha feito".
Eu batí no ombro dele. Isso machucou a minha mão.
"Jacob Black,
nunca mais faça isso de novo! Me prometa que você não
vai".
"De jeito nenhum. Eu não me divertia daquele jeito ha
meses".
"Então me ajude, Jake -"
"Oh, deixa dessa, Bella. Quando é que eu vou conseguir
vê-lo de
novo? Não se preocupe com isso".
Eu fiquei de pé, e ele segurou a minha mão enquanto
começamos a
caminhar. Eu tentei me soltar.
"Eu vou embora, Jacob".
"Não, não vá ainda", ele protestou, a mão dele
apertando a minha.
"Me desculpe. E... está bem, eu não vou fazer aquilo de
novo.
Prometo".
Eu suspirei. "Obrigada, Jake".
"Vamos lá, vamos voltar para a minha casa", ele
disse
ansiosamente.
"Na verdade, eu acho que eu realmente preciso ir.
Angela Weber
está me esperando, e eu sei que Alice está preocupada. Eu
não
quero deixá-la muito chateada."
"Mas você acabou de chegar aqui!"
"É que parece", eu concordei. Eu olhei para o sol,
de alguma
forma ele já estava diretamente à frente. Como o tempo tinha
passado tão rapidamente?
As sobrancelhas dele se juntaram em cima dos seus olhos.
"Eu
não sei quando vou ver você de novo", ele disse com uma
voz
machucada.
"Eu volto da próxima vez que ele estiver longe",
eu prometí
impulsivamente.
"Longe?" Jacob rolou os olhos. "Essa é uma
forma legal de
descrever o que ele está fazendo. Parasitas nojentos".
"Se você não consegue ser gentil, eu não vou
voltar!" eu ameacei,
tentando soltar a minha mão. Ele se recusou a soltar.
"Aw, não fique com raiva", ele disse, rindo.
"Reação instantânea".
"Se eu vou tentar vir outra vez, você vai ter que
entender bom
uma coisa, certo?"
Ele esperou.
"Entenda", eu expliquei. "Eu não me importo
com quem é o
vampiro e quem é o lobisomem. Isso é irrelevante. Você é
Jacob,
e ele é Edward, e eu sou Bella. Nada mais importa".
Os olhos dele estreitaram um pouco. "Mas eu sou um
lobisomem",
ele disse sem vontade. "E ele é um vampiro", ele
disse com óbvia
repulsa.
"E eu sou do signo de Virgem!" eu gritei,
exasperada.
Ele ergueu as sobrancelhas, medindo a minha expressão com
olhos curiosos. Finalmente, ele ergueu os ombros.
"Se você realmente consegue ver dessa forma..."
"Eu consigo. Eu vejo."
"Está bem. Simplesmente Bella e Jacob. Nada desses
Virginianos
esquisitos por aqui". Ele sorriu pra mim, o sorriso
cálido, familiar
do qual eu sentia tanta falta. Eu sentí o sorriso de
resposta se
abrindo no meu rosto.
"Eu realmente sentí sua falta, Jake" Eu admití
impulsivamente.
"Eu também" o sorriso dele abriu mais. Os olhos
dele estavam
felizes e claros, livres pelo menos uma vez da raiva ácida.
"Mais
do que você sabe. Você vai voltar logo?"
"Assim que eu puder", eu prometi
6. Suíça
Enquanto eu dirigia pra casa, eu não estava prestando muita
atenção na estrada que brilhava com a água no sol. Eu estava
pensando o jorro de informações que Jacob havia dividido
comigo, tentando desvendar tudo, forçar isso a ter sentido.
Apesar da sobre-carga, eu me sentia mais leve. Ver Jacob
sorrir,
ter todos os segredos colocados pra fora... isso não deixava
as
coisas perfeitas, mas as fazia melhores. Eu estava certa por
ter
ido. Jacob precisava de mim. E obviamente, eu pensei
enquanto
piscava com causa da claridade, não havia nenhum perigo.
Ele apareceu do nada. Num minuto não havia nada além da
pista
clara no meu espelho retrovisor. No minuto seguinte, o sol
estava
resplandescendo em um Volvo prateado que estava na minha
cola.
"Aw, droga", eu choraminguei.
Eu considerei parar. Mas eu era covarde demais pra enfrentá-lo
imediatamente. Eu estava contando com algum tempo pra me
preparar... e ter Charlie por perto como amortecedor. Pelo
menos
ele ia se esforçar pra manter a voz baixa.
O Volvo seguia a uns metros atrás de mim. Eu mantive os meus
olhos na estrada em frente.
Como a covarde que eu era, eu dirigí direto para a casa de
Angela
sem encontrar nenhuma vez os olhos que eu sentia me
queimando
um buraco no espelho retrovisor.
Ele me seguiu até que eu parei na calçada na frente da casa
dos
Weber. Ele não parou, e eu não olhei pra cima quando ele
passou.
Eu não queria ver a expressão no rosto dele. Eu corrí pela
curta
calçada de concreto até a porta de Angela quando ele estava
fora de vista.
Ben atendeu a porta antes que eu pudesse terminar de bater,
como se ele estivesse de pé atrás dela.
"Hey, Bella!", ele disse, surpreso.
"Oi, Ben. Er, Angela está aqui?" eu me perguntei
se Angela teria
esquecido os nossos planos, e estremecí com o pensamento de
voltar pra casa mais cedo.
"Claro", Ben disse exatamente quando Angela
chamou, "Bella!" e
apareceu no topo das escadas.
Ben espiou através de mim enquanto nós dois ouvimos o som de
um carro na estrada; o som não me assustou - esse motor fez
barulho quando parou, acompanhado pelo estouro da descarga.
Nada como o ronco do Volvo. Esse devia ser o visitante que
Ben
estava esperando.
"Austin está aqui", Ben disse quando Angela chegou
ao lado dele.
Uma buzina soou na rua.
"Eu te vejo mais tarde", Ben prometeu. "Já
sinto sua falta".
Ele jogou o braço ao redor do pescoço de Angela e trouxe o
rosto dela pra baixo até a altura dele pra que ele pudesse
dar um
beijo nela com entusiasmo. Depois de um segundo disso,
Austin
buzinou de novo.
"Tchau, Ang! Te amo!", Ben gritou enquanto passava
correndo por
mim.
Angela virou, o rosto dela levemente rosado, depois se
recuperou
e acenou até que Ben e Austin estivessem fora de vista.
Depois
ela se virou pra mim e sorriu significantemente.
"Obrigada por fazer isso, Bella", ela disse.
"Do fundo do meu
coração. Você não está apenas salvando as minhas mãos de
danos
permanentes, você também me poupou de duas longas horas de
um filme chato e com artes-marcias de má qualidade."
Ela
suspirou aliviada.
"Feliz por servir", Eu estava sentindo um pouco
menos de pânico,
e era capaz de respirar um pouco mais uniformemente. Eu me
sentia tão normal aqui. As dramas fáceis de Angela eram
estranhamente tranquilizadores. Era legal saber que eu era
normal em algum lugar.
Eu seguí Angela pelas escadas até o quarto dela. Ela chutou
brinquedos fora do caminho enquanto passava. A casa estava
estranhamente quieta.
"Onde está a sua família?"
"Os meus pais levaram os gêmeos para uma festa de
aniversário
em Port Angeles. Eu não posso acreditar que você realmente
vai
me ajudar com isso. Ben está fingindo que tem
tendinite". Ela fez
uma cara.
"Eu não me importo nem um pouco". Eu disse, e
então entrei no
quarto de Angela e ví as pilhas de envelopes esperando.
"Oh!" eu ofeguei. Angela virou pra olhar pra mim,
pedindo
desculpas com os olhos. Eu podia ver porque ela esteve
adiando
isso, e porque Ben pulou fora.
"Eu pensei que você estivesse exagerando", eu
admití.
"Eu queria. Você tem certeza que quer fazer isso?"
"Me faça trabalhar. Eu tenho o dia inteiro"
Angela dividiu uma pilha na metade e colocou o livro de
endereços da mãe dela entre nós em cima da mesa. Por um
momento nós nos concentramos, e só havia o som das nossas
canetas passando quietamente sobre o papel.
"O que Edward vai fazer essa noite?", ela
perguntou depois de
alguns minutos.
A minha caneta afundou no envelope no qual eu estava
escrevendo. "Emmett está em casa para o fim de semana.
Eles
deviam estar caminhando".
"Você diz isso como se não tivesse certeza".
Eu levantei os ombros.
"Você tem sorte que Edward tem os irmãos pra fazer as
caminhadas e os acampamentos. Eu não sei o que eu faria se
Ben
não tivesse Austin para essa coisa de garotos."
"É, o ar livre não é pra mim. E não tem jeito de eu ser
capaz de
acompanhar".
Angela riu. "Eu também prefiro ficar em casa".
Ela se concentrou na sua pilha por um minuto. Eu escreví
mais
quatro endereços. Nunca havia a pressão de encher uma pausa
com tagarelice sem sentido com Angela. Como Charlie, ela
ficava
confortável com o silêncio.
Mas, como Charlie, ela também era muito observadora as
vezes.
"Tem algo errado?" ela perguntou com uma voz baixa
agora.
"Você parece... ansiosa".
Eu sorrí bobamente. "É assim tão óbvio?"
"Na verdade não".
Ela provavelmente estava mentindo pra fazer eu me sentir
melhor.
"Você não precisa falar disso a não ser que
queira", ela me
assegurou. "Eu vou escutar se você achar que eu posso
ajudar".
Eu estava prestes a dizer obrigada, mas não, obrigada.
Afinal,
haviam segredos demais que eu precisava guardar. Eu
realmente
não podia discutir os meus problemas com alguém humano. Isso
era contra as regras.
E mesmo assim, com uma intensidade estranha, repentina, isso
era exatamente o que eu queria. Eu queria falar com uma
amiga
normal e humana. Eu queria gemer um pouco, como qualquer
outra
garota adolescente.
Eu queria que os meus problemas fossem assim tão simples.
Também seria legal ter alguém de fora dessa bagunça de
vampiros-lobisomens pra colocar as coisas em perspectiva.
Uma
pessoa neutra.
"Eu vou cuidar dos meu próprios assuntos", Angela
prometeu,
sorrindo para o endereço no qual ela estava trabalhando.
"Não", eu disse. "Você está certa. Eu estou
ansiosa. É... é
Edward".
"O que há de errado?"
É tão fácil conversar com Angela. Quando ela perguntava uma
coisa assim, eu podia notar que ela não estava apenas
morbidamente curiosa ou procurando uma fofoca, como Jéssica
estaria. Ela se importava por eu estar chateada.
"Oh, ele está com raiva de mim".
"Isso é difícil de imaginar", ela disse. "Do
que ele está com
raiva?"
Eu suspirei. "Você se lembra de Jacob Black?"
"Ah", ela disse
"É".
"Ele está com ciúmes".
"Não, não com ciúmes..." eu devia ter mantido a
minha boca
fechada. Não tinha jeito de explicar isso direito. Mas eu
queria
continuar falando do mesmo jeito. Eu não tinha me dado conta
de
que estava faminta por conversa humana. "Edwad pensa
que
Jacob é... uma máinfluência, eu acho. Meio... perigoso. Você
sabe
em quantos problemas eu me metí há uns meses atrás... no
entanto, isso é ridículo".
Eu fiquei surpresa por ver Angela balançando a cabeça.
"O que?", eu perguntei.
"Bella, eu ví como Jacob Black olha pra você. Eu
apostaria que o
problema de verdade é ciúme".
"Não é assim com Jacob".
"Pra você, talvez, mas pra Jacob..."
Eu fiz uma careta. "Jacob sabe como eu me sinto. Eu o
disse
tudo".
"Edward é apenas um humano, Bella. Ele vai reagir como qualquer
outro garoto".
Eu fiz uma careta. Eu não tinha uma resposta pra isso".
Ela deu um tapinha na mão. "Ele vai superar isso".
"Eu espero que sim. Jacob está passando por um período
meio
difícil. Ele precisa de mim".
"Você e Jacob são muito próximos, não são?"
"Como família", eu concordei.
"E Edward não gosta dele... Isso deve ser difícil. Eu
me pergunto
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