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Eclipse (Português) Parte 1


Eclipse
STEPHENIE MEYER
Terceiro livro da série
 ‘Crepúsculo’.
esta é a Parte 1


PREFÁCIO
Todos os nossos esforços no subterfúgio tinham sido em vão.

Com gelo em meu coração, eu o assisti preparar-se para me
defender. Sua intensa concentração não traía sinais de dúvida,
apesar de ele estar em maior número. Eu sabia que nós não
podíamos esperar por ajuda - nesse momento, a família dele
estava lutando por sua vida tanto quanto certamente ele estava
pelas nossas.
Eu alguma vez descobriria o resultado daquela outra luta?
Descobriria quem foram os vencedores e os perdedores? Eu
viveria o bastante para isso?
As probabilidades disso não pareciam muito grandes.
Olhos negros, loucos com sua ânsia feroz pela minha morte, vista
no momento em que a atenção do meu protetor se desviasse. O
momento em que eu certamente morreria.
Em algum lugar longe, longe na floresta fria, um lobo uivou.

Capítulo 1 - Ultimato
Traduzido pela Ary
(Obs.: O texto sublinhado é, na verdade, riscado.)

Bella,
Eu não sei por que você está fazendo Charlie passar bilhetinhos
pra Billy como se estivéssemos na 2ª série - se eu quisesse falar
com você eu teria respondido o

Foi você quem fez a escolha aqui, Ok?
Você não pode ter as duas coisas quando

Que parte de 'inimigos mortal' você não
Olha, eu sei que eu estou sendo um idiota, mas não existe outra
forma de

Nós não podemos ser amigos enquanto você está passando o seu
tempo com um bando de

Pensar de mais em você só deixa as coisas piores, então não
escreva mais

É, eu sinto a sua falta também. Muito. Isso não muda nada.
Desculpe,
Jacob.


Eu passei os meus dedos pela página, sentindo as marcas onde ele
havia pressionado a caneta no papel com tanta força que ele
quase rasgou. Eu podia imaginá-lo escrevendo isso - desenhando
as letras raivosas com a sua escrita áspera, riscando linha após
linha quando as palavras saíam erradas, talvez até fazendo a
caneta quebrar em sua mão grande demais; isso explicaria as
manchas de tinta.
Eu podia imaginar a frustração fazendo as sobrancelhas dele se
apertarem e enrugando a sua testa. Se eu estivesse lá, eu teria
sorrido. Não tenha uma hemorragia cerebral, Jacob, eu teria
dito a ele. Bota tudo pra fora logo.
Rir era a última coisa que eu tinha vontade de fazer enquanto
relia as palavras que eu quase já tinha memorizado. A resposta
dele ao meu bilhete de alegações - passado de Charlie pra Billy
pra ele, exatamente como na segunda série, como ele apontou -
não era surpresa. Eu já sabia a essência do que ele ia dizer antes
de abri-lo.
O que mais me surpreendia era o quanto aquelas linhas
rabiscadas haviam me machucado - como se a ponta das letras
tivessem superfícies cortantes. Mais do que isso, por trás de
cada palavra raivosa se escondia uma piscina de dor; a dor de
Jacob me cortou mais profundamente do que a minha própria.
Enquanto eu estava pensando nisso, eu senti o cheiro
inconfundível de alguma coisa queimando na cozinha.
Em outra casa, o fato de que alguém que não fosse eu estava
cozinhando não causaria muito pânico.
Eu enfiei o papel amassado no meu bolso de trás e saí correndo.
Eu cheguei ao fim das escadas quase sem tempo. O recipiente de
molho de espaguete que Charlie tinha enfiado no microondas
estava apenas no início da revolução quando eu abri a porta e o
tirei de lá.
"O que eu fiz de errado?", Charlie quis saber.
"Você tinha que ter tirado a tampa antes, pai. Metal não é bom
em microondas." Eu rapidamente removi a tampa enquanto falava,
derramei metade do molho em uma tigela, depois coloquei a tigela
de volta no microondas e guardei o resto de volta no congelador;
eu arrumei o tempo e apertei o botão start.
Charlie observou os meus arranjos com os lábios torcidos.
"Eu fiz o macarrão direito?"
Eu olhei para a panela no fogão - a fonte do cheiro que havia me
alertado.
"Mexer ajuda", eu disse à meia voz. Eu encontrei uma colher e
tentei desgrudar a massa que estava pegada no fundo.
Charlie suspirou.
"Então, pra que é tudo isso?", eu perguntei a ele.
Ele cruzou os braços no peito e olhou, pela janela dos fundos,
para a chuva caindo.
"Eu não sei do que você está falando", ele rosnou.
Eu estava confusa. Charlie cozinhando? Qual era o motivo da sua
atitude ranzinza?
Edward ainda não estava aqui; geralmente Charlie guardava esse
tipo de atitude para o meu namorado, fazendo o melhor que podia
para ilustrar o tema "mal vindo" com palavras e postura. Os
esforços de Charlie eram desnecessários - Edward já sabia
exatamente o que o meu pai estava pensando sem esse show.
A palavra "namorado" me fez mordiscar a minha bochecha pelo
lado interior com uma tensão familiar enquanto eu me movia. Não
era a palavra certa, nem um pouco. Eu precisava de uma palavra
mais expressiva pra comprometimento eterno... Mas palavras
como destino e fado pareciam estranhas quando você as usava
numa conversa convencional.
Edward tinha outra palavra em mente, e essa palavra era a fonte
da tensão que eu sentia.
Os meus dentes se apertavam só de pensar na palavra.
Noiva. Ugh. Eu me afastei do pensamento.
"Eu perdi alguma coisa? Desde quando você faz o jantar?", eu
perguntei a Charlie. A massa grudenta boiava na água
borbulhante enquanto eu a cutucava. "Ou será que eu devo dizer
‘tenta’ fazer o jantar?"
Charlie levantou os ombros.
"Não há nenhuma lei que diga que eu não posso cozinhar em minha
própria casa."
"É você quem sabe", eu respondi sorrindo, enquanto olhava para o
distintivo no seu casaco de couro.
"Ha. Essa foi boa." Ele tirou a jaqueta como se o meu olhar
tivesse feito ele se lembrar que ainda estava usando o casaco e
pendurou-o no gancho reservado para o seu cinto. Seu cinto de
armas já estava pendurado no lugar - ele não tinha a necessidade
de usá-lo para ir à delegacia por algumas semanas. Não houve
mais desaparecimentos perturbadores pra atrapalhar a pequena
cidade de Forks, em Washington, nada de visões de lobos
gigantescos, misteriosos, nas florestas chuvosas...
Eu cutucava o macarrão em silêncio, imaginando que Charlie
falaria sobre o que quer que estivesse incomodando-o quando ele
achasse que estava na hora. Meu pai não era um homem de muitas
palavras, e o esforço desastroso de orquestrar um jantar feito
por ele deixou muito claro que ele estava com um número
estranho de palavras em sua cabeça.
Eu olhei pra o relógio rotineiramente - uma coisa que eu fazia
todos os dias nessa hora. Agora faltava menos de meia hora. As
tardes eram a parte mais difícil do meu dia. Desde que o meu ex
melhor amigo (e lobisomem), Jacob Black, me dedurou sobre a
moto que eu andava guiando - um castigo que ele havia
arquitetado pra que eu não pudesse passar tempo com o meu
namorado (e vampiro), Edward Cullen - Edward só tem permissão
de me ver até as nove e meia da noite, sempre nos confins da
minha casa e sob a supervisão do olhar infalivelmente mal-humorado do meu pai.
Essa era só uma pequena parcela do castigo anterior que eu
recebi por ter desaparecido três dias sem explicar e pelo
episódio do mergulho do penhasco.
É claro, eu ainda via Edward na escola, porque ainda não havia
nada que Charlie pudesse fazer em relação a isso. E depois,
Edward passava quase todas as noites no meu quarto também,
mas Charlie não estava precisamente consciente disso. A
habilidade de Edward de escalar rápida e silenciosamente a
minha janela no segundo andar era quase tão útil quanto a
habilidade dele de ler a mente de Charlie.
Apesar de as tardes serem a única hora que eu passava longe de
Edward, isso já era o suficiente pra me deixar impaciente, e as
horas sempre se arrastavam. Mesmo assim, eu agüentava o meu
castigo sem reclamar porque - pra começar - eu sabia que tinha
merecido, e - pra terminar - porque eu sabia que não podia
machucar o meu pai me mudando agora, quando uma separação
muito mais permanente se aproximava, invisível pra Charlie,
perto no horizonte.
Meu pai se sentou na mesa com um jornal desdobrado e amassado
que havia lá; dentro de segundos ele já estava estalando a língua
de desaprovação.
"Eu não sei pra quê você lê o jornal, pai. Ele só te tira do sério."
Ele me ignorou, rosnando para o papel em suas mãos.
"É por isso que todo mundo quer viver em cidades pequenas.
Ridículo!"
"O que foi que as cidades grandes fizeram de errado agora?"
"Seattle está entrando para a lista das cidades com mais crimes
do país. Cinco homicídios sem solução nas últimas duas semanas.
Você pode imaginar viver assim?"
"Na verdade, eu acho que Phoenix está mais no topo da lista, pai.
Eu vivi assim."
Eu nunca havia chegado perto de ser uma vítima de assassinato
antes de vir pra essa pequena cidade segura. Na verdade, eu
ainda estava em muitas das listas de perigo... A colher balançou
nas minhas mãos, fazendo a água tremer.
"Bem, você não me pagaria o suficiente", Charlie disse.
Eu desisti de salvar o jantar e me sentei pra servi-lo; eu tive que
usar uma faca de carne pra cortar uma porção do espaguete pra
mim e pra Charlie, enquanto ele observava com uma expressão
tímida. Charlie cobriu o seu com molho pra ajudar e começou a
escavar. Eu disfarcei o meu com o molho da melhor forma que
pude e segui o exemplo dele, sem muito entusiasmo. Nós
comemos em silêncio por algum tempo. Charlie ainda estava
vasculhando as notícias, então eu peguei a minha cópia muito
abusada de O morro dos ventos uivantes de onde eu havia
deixado-a no café da manhã e tentei me perder na Inglaterra da
virada do século, enquanto eu esperava que ele começasse a
falar.
Eu estava exatamente na parte do retorno de Heathcliff quando
Charlie limpou a garganta e jogou o jornal no chão.
"Você está certa", Charlie disse. "Eu tenho uma razão pra ter
feito isso." Ele acenou com o garfo na direção da mistura
grudenta. "Eu queria falar com você."
Eu coloquei o livro de lado; a encadernação estava tão destruída
que ela ficou plana na mesa.
"Você podia ter só pedido."
Ele balançou a cabeça, as sobrancelhas juntas.
"É. Eu vou lembrar disso da próxima vez. Eu pensei que te livrar
de fazer o jantar ia te amaciar."
Eu ri.
"Deu certo - seus talentos culinários me deixaram molinha feito
marshmallow. Do que você precisa, pai?"
"É sobre Jacob."
Eu senti meu rosto endurecer.
"O que tem ele?", eu perguntei através dos lábios rígidos.
"Calma, Bells. Eu sei que você ainda está brava porque ele te
dedurou, mas foi a coisa certa. Ele estava sendo responsável."
"Responsável", eu repeti agudamente, rolando os meus olhos.
"Certo. Então, o que tem Jacob?"
A pergunta sem importância repetida na minha cabeça não era
nada além do trivial.
O que tem Jacob? O que eu ia fazer em relação a ele? Meu ex-melhor amigo que agora era... o que? Meu inimigo? Eu vacilei.
O rosto de Charlie de repente estava cauteloso.
"Não fique brava comigo, ok?"
"Brava?"
"Bem, é sobre Edward também."
Meus olhos se estreitaram.
A voz de Charlie ficou mais áspera.
"Eu deixo ele entrar em casa, não deixo?"
"Você deixa", eu admiti. "Por breves períodos de tempo. É claro,
você também me deixa sair de casa por breves períodos de vez
em quando", eu continuei - só de piada, eu sabia que ficaria presa
enquanto durasse o período escolar. "Eu tenho sido muito
boazinha ultimamente."
"Bem, é mais ou menos aí que eu queria chegar com isso..." E
depois o rosto de Charlie se arreganhou num sorriso inesperado;
por um segundo ele pareceu ser vinte anos mais jovem.
Eu vi o fraco brilho de uma possibilidade naquele sorriso, mas eu
prossegui lentamente.
"Eu estou confusa, pai. Nós estamos falando sobre Jacob,
Edward ou sobre o meu castigo?"
O sorriso dele brilhou de novo.
"Um pouco dos três."
"E como eles se relacionam?", eu perguntei, cuidadosa.
"Tudo bem", ele suspirou, erguendo as mãos como se estivesse se
rendendo. "Então eu acho que talvez você mereça uma
condicional por bom comportamento. Para uma adolescente, você
é incrivelmente não-reclamona."
Minha voz e minhas sobrancelhas levantaram.
"Sério? Eu estou livre?"
De onde foi que isso veio? Eu pensei que fosse ficar trancada em
casa até me mudar de fato, e Edward não havia registrado
nenhuma mudança nos pensamentos de Charlie...
Charlie levantou um dedo.
"Condicionalmente."
O entusiasmo desapareceu.
"Fantástico", eu gemi.
"Bella, isso é mais um pedido do que uma ordem, ok? Você está
livre. Mas eu espero que você use essa liberdade mais...
judicialmente."
"O que isso significa?"
Ele suspirou de novo.
"Eu sei que você fica satisfeita passando todo o seu tempo com
Edward -"
"Eu passo tempo com Alice também", eu interferi. A irmã de
Edward não tinha horários para visita; ela ia e vinha quando bem
entendia. Charlie era como pudim nas mãos capazes dela.
"Isso é verdade", ele disse. "Mas você tem outros amigos além
dos Cullen, Bella. Ou costumava ter."
Nós encaramos um ao outro por um momento.
"Quando foi a última vez que você falou com Angela Weber?", ele
jogou pra mim.
"Sexta no almoço", eu respondi imediatamente.
______________________1
Antes da volta de Edward, os meus amigos da escola haviam se
polarizado em dois grupos. Eu gostava de pensar neles como
grupos de bem vs. mau. Nós e eles funcionava também. Os
mocinhos eram Angela, seu namorado Ben Cheney e Mike
Newton; esses três haviam muito generosamente me perdoado
quando eu enlouqueci porque Edward foi embora. Lauren Mallory
era a líder do lado deles, e quase todo mundo, incluindo minha
primeira amiga em Forks, Jessica Stanley, parecia seguir a
agenda Anti-Bella dela contentemente.
Com Edward de volta a escola, a linha de divisão havia ficado
ainda mais distinta. O retorno de Edward havia cobrado um certo
pedágio a Mike, mas Angela era inquestionavelmente leal, e Ben a
seguia. A despeito da aversão natural que a maioria dos humanos
sentia pelos Cullen, Angela sentava-se obrigatoriamente ao lado
de Alice todos os dias no almoço. Depois de alguns dias, Angela
até começou a parecer confortável lá. Era difícil não se encantar
pelos Cullen - quando você dava a um deles a chance de ser
encantador.
"Fora da escola?", Charlie perguntou, chamando minha atenção de
volta.
"Eu não tenho visto ninguém fora da escola, pai. De castigo,
lembra? E Angela tem um namorado também. Ela está sempre
com Ben. Se eu realmente estou livre", eu adicionei, pegando
pesado no ceticismo, "talvez possamos sair em casais."
"Tudo bem, mas então...", ele hesitou. "Você e Jake costumavam
fazer tudo juntos, e agora -"
Eu cortei ele.
"Dá pra você chegar no ponto, pai? Qual é a sua condição -
exatamente?"
"Eu não acho que você deveria abandonar os seus amigos pelo seu
namorado, Bella", ele disse numa voz dura. "Não é legal, e eu acho
que a sua vida estaria mais bem balanceada se houvessem mais
algumas pessoas nela. O que aconteceu Setembro passado..." Eu
vacilei. "Bem", ele disse defensivamente. "Se você tivesse uma
vida além de Edward Cullen, as coisas podiam não ter sido
daquele jeito."
"Teria sido exatamente daquele jeito", eu murmurei.
"Talvez sim, talvez não."
"O ponto?", eu lembrei ele.
"Use a sua liberdade pra ver os seus outros amigos também.
Equilibre as coisas."
Eu balancei a cabeça lentamente.
"Equilíbrio é bom. No entanto, eu tenho cotas de tempo pra
seguir?"
Ele fez uma cara, mas balançou a cabeça.
"Eu não quero complicar as coisas. Só não esqueça os seus amigos
- particularmente Jacob."
Eu levei algum tempo pra encontrar as palavras certas.
"Jacob pode ser... difícil."
"Os Black são praticamente da família, Bella", ele disse, dura e
paternalmente de novo. "E Jacob foi um amigo muito, muito bom
pra você."
"Eu sei disso."
"Você não sente nem um pouco de saudades dele?", Charlie
perguntou, frustrado.
Minha garganta pareceu inchar de repente; eu tive que limpá-la
duas vezes antes de responder.
"Sim, eu sinto saudades dele", eu admiti, ainda olhando pra baixo.
"Eu sinto muita falta dele."
"Então por que é tão difícil?"
Isso não era uma coisa que eu tinha liberdade de explicar. Era
contra as regras para as pessoas normais - pessoas humanas
como eu e Charlie - saber sobre o mundo clandestino, cheio de
mitos e monstros, que existia secretamente ao nosso redor. Eu
sabia sobre esse mundo - e eu tinha uma pequena porção de
problemas como resultado. Eu não ia envolver Charlie nos mesmos
problemas.
"Com Jacob existe um... conflito", eu disse solenemente. "Eu
quero dizer, um conflito sobre a coisa da amizade. Amizade não
parece ser o suficiente pra Jake."
Eu inventei a minha desculpa baseada em fatos que eram
verdadeiros, mas insignificantes, dificilmente tão cruciais se
comparados com o fato de que o bando de lobisomens de Jake
odiava amargamente a família vampira de Edward – e, portanto,
eu também, já que eu estava inteiramente intencionada a me
juntar a essa família. Não era uma coisa que eu podia resolver
com ele através de um bilhete, e ele não atendia os meus
telefonemas.
Mas o meu plano de ir lidar pessoalmente com o lobisomem
definitivamente não havia calhado bem com os vampiros.
"Será que Edward não está a fim de um pouco de competição
saudável?", a voz de Charlie estava sarcástica agora.
Eu olhei pra ele com um olhar obscuro.
"Não tem competição."
"Você está machucando os sentimentos de Jake evitando-o desse
jeito. Ele iria preferir ser seu amigo do que nada."
Oh, agora era eu que o estava evitando?
"Eu tenho certeza absoluta que Jake não quer amizade de jeito
nenhum." As palavras queimaram na minha boca. "Afinal, de onde
foi que você tirou essa idéia?"
Agora Charlie parecia envergonhado.
"O assunto pode ter aparecido hoje com Billy..."
"Você e Billy fofocam como mulheres velhas", eu reclamei,
espetando o meu garfo violentamente no espaguete congelado no
meu prato.
"Billy está preocupado com Jacob", Charlie disse. "Jake está
passando por um momento difícil agora... Ele está deprimido."
Eu gemi, mas mantive os meus olhos na gororoba.
"E, além do mais, você ficava tão feliz depois de passar o dia com
Jake", Charlie suspirou.
"Eu estou feliz agora", eu rosnei ferozmente por entre os
dentes.
O contraste entre as minhas palavras e o tom que eu usei
quebrou a tensão. Charlie começou a rir, e eu me juntei a ele.
"Ok, ok", eu concordei. "Equilíbrio."
"E Jacob", ele insistiu.
"Eu vou tentar".
"Bom. Encontre esse equilíbrio, Bella. E, oh, é, você tem
correspondência", Charlie disse, fechando o assunto sem muitas
dificuldades. "Está no balcão."
Eu não me movi, meus pensamentos se moviam como espirais ao
redor do nome de Jacob. Provavelmente era só correspondência
boba; eu havia acabado de receber um pacote da minha mãe e não
estava esperando mais nada.
Charlie empurrou a sua cadeira pra trás e se espreguiçou
enquanto ficava de pé. Ele levou seu prato para a pia, mas antes
de ligar a água pra lavá-lo, ele pausou e jogou um envelope grosso
pra cima de mim. A carta escorregou pela mesa e deu um choque
no meu cotovelo.
"Er, obrigada", eu murmurei, confusa pela insistência dele. Aí eu
vi o endereço do remetente - a carta era da universidade do
Sudeste do Alaska.
"Isso foi rápido. Eu pensei que havia perdido o prazo de entrega
dessa também."
Charlie gargalhou.
Eu virei o e
nvelope e olhei pra ele.
"Está aberto."
"Eu estava curioso."
"Eu estou chocada, xerife. Isso é um crime federal."
"Oh, leia logo."
Eu puxei a carta pra fora e encontrei uma agenda dobrada dos
cursos.
"Parabéns", ele disse antes que eu pudesse ler alguma coisa. "Sua
primeira aceitação."
"Obrigada, pai."
"Nós deveríamos falar sobre o custeamento. Eu tenho algum
dinheiro economizado -"
"Ei, ei, nada disso. Eu não vou tocar na sua aposentadoria, pai. Eu
tenho os meus fundos para a faculdade." O que restava dele -
que já não era muito no começo.
Charlie fez uma carranca.
"Alguns desses lugares são muito caros, Bella. Eu quero ajudar.
Você não tem que ir para o Alaska só porque é mais barato."
Não era mais barato, nem um pouco. Mas era longe, e Juneau
tinha um normal de trezentos e vinte e um dias nublados por ano.
O primeiro era o meu pré-requisito, o segundo era o de Edward.
"Eu já tenho tudo coberto. Além do mais, tem um monte de
auxílios financeiros por aí. É fácil ganhar empréstimos." Eu
esperava que o meu blefe não fosse óbvio demais. Eu não tinha
feito muitas pesquisas sobre o assunto.
"Então...", Charlie começou, e então ele contorceu os lábios e
desviou o olhar.
"Então o que?"
"Nada. Eu só estava..." Ele fez uma carranca. "Só me
perguntando quais... quais são os planos de Edward para o ano que
vem."
"Oh."
"Então?"
As três batidas rápidas na porta me salvaram. Charlie revirou os
olhos enquanto eu pulava pra ficar de pé.
"Já vou!", eu gritei enquanto Charlie murmurava alguma coisa
parecida com "Vá embora". Eu o ignorei e segui em frente pra
deixar Edward entrar.
Eu tirei a porta do caminho - ridiculamente ansiosa - e lá estava
ele, o meu milagre pessoal.
O tempo não me fez imune à perfeição do rosto dele, e eu tinha
certeza de que nunca iria me acostumar com nenhum dos
aspectos dele. Meus olhos observaram suas feições pálidas: sua
dura mandíbula quadrada, a curva mais suave dos seus lábios
cheios - que agora estavam curvados pra cima num sorriso, a
linha reta do nariz dele, o ângulo das maçãs do rosto dele, a
envergadura da sua testa macia de mármore - parcialmente
obscurecida por uma mecha de cabelos cor de bronze
escurecidos pela chuva...
Eu deixei seus olhos por último, sabendo que quando eu olhasse
dentro deles haveria uma grande possibilidade de eu perder a
linha de raciocínio. Eles estavam grandes, quentes com um
dourado derretido, e moldados por uma linha de cílios grossos.
Olhar dentro dos olhos dele sempre faziam eu me sentir
extraordinária - como se os meus ossos estivessem como
esponja. Eu também ficava com a cabeça meio leve, mas isso
podia ser porque eu esquecia de respirar. De novo.
Era o rosto pelo qual qualquer modelo daria a sua alma pra ter. É
claro, esse podia ser exatamente o preço pedido: uma alma.
Não. Eu não acreditava nisso. Eu me sentia culpada só de pensar
nisso, e eu estava feliz - assim como estava frequentemente
feliz - por ser a única pessoa cujos pensamentos eram um
mistério pra Edward.
Eu inclinei minha mão e suspirei quando os dedos frios dele
encontraram os meus. O toque dele trouxe a sensação mais
estranha de alívio - como se eu estivesse sentindo dor e essa dor
houvesse cessado de repente.
"Oi", eu sorri um pouco com a minha saudação anti-climática.
Ele ergueu as nossas mãos entrelaçadas pra tocar a minha
bochecha com as costas da mão dele.
"Como foi a sua tarde?"
"Lenta."
"Pra mim também."
Ele puxou o meu pulso para o rosto dele, nossas mãos ainda
entrelaçadas. Os olhos dele se fecharam enquanto o nariz dele
alisava a pele de lá, e ele sorriu gentilmente sem abri-los.
Aproveitando o buquê enquanto resistia ao vinho, como ele havia
colocado uma vez.
Eu sabia que o cheiro do meu sangue - muito mais doce pra ele do
que o cheiro do sangue de qualquer outra pessoa, realmente como
o vinho em vez de água para um alcoólatra – causava a ele
verdadeira dor pela sede que acarretava. Eu podia apenas
imaginar o esforço Herculano por trás desse simples gesto. Eu
fiquei triste por ele ter que tentar tanto. Eu me confortei com o
fato de que eu não causaria mais dor a ele por muito tempo.
Nessa hora eu ouvi Charlie se aproximando, batendo os pés no
caminho com o seu desprazer de costume com a nossa visita.
Edward abriu os olhos e deixou as nossas mãos caírem,
mantendo-as entrelaçadas.
"Boa noite, Charlie", Edward era sempre impecavelmente
educado, apesar de Charlie não merecer isso. Charlie grunhiu pra
ele e ficou em pé onde estava, com os braços cruzados no peito.
Ele estava levando o conceito de supervisão paterna aos
extremos ultimamente.
"Eu trouxe outras inscrições", Edward me disse nessa hora,
levantando um bolo de papéis envelopados. Ele estava usando um
rolo de selos como se fosse um anel no seu dedo mindinho.
Eu gemi. Como é que podiam ainda haver faculdades às quais ele
já não tivesse me obrigado a me inscrever? Como é que ele
continuava encontrando essas vagas em aberto? O ano já estava
muito atrasado.
Ele sorriu como se pudesse ler os meus pensamentos; eles deviam
estar óbvios no meu rosto.
"Ainda haviam prazos de inscrição em aberto. E alguns lugares a
fim de fazer exceções..."
Eu podia imaginar as motivações pra essas exceções. E os montes
de dólares envolvidos. Edward riu da minha expressão.
"Vamos lá?", ele perguntou, me levando em direção à mesa da
cozinha.
Charlie ficou mal-humorado e seguiu atrás, apesar de ele não
poder reclamar da agenda de atividades de hoje. Ele vivia me
enchendo pra tomar uma decisão sobre a faculdade todos os
dias.
Eu limpei a mesa rapidamente enquanto Edward organizava uma
pilha intimidante de formulários. Quando eu movi O morro dos
ventos uivantes pra cima do balcão, Edward ergueu uma
sobrancelha.
Eu sabia o que ele estava pensando, mas Charlie interrompeu
antes que Edward pudesse comentar.
"Falando em inscrições para a faculdade, Edward", Charlie disse,
seu tom ainda mais solene - ele tentava evitar se dirigir pra
Edward diretamente, e, quando ele tinha que fazê-lo, isso
exacerbava o seu humor. "Bella e eu estávamos falando sobre o
ano que vem. Você já decidiu onde vai estudar?"
Edward sorriu pra Charlie e a voz dele estava amigável.
"Ainda não. Eu recebi algumas cartas de aceitação, mas eu ainda
estou pensando as minhas opções."
"Onde você foi aceito?", Charlie pressionou.
"Syracuse... Harvard... Dartmouth... e eu acabei de ser aceito na
faculdade do Sudeste do Alaska hoje."
Edward virou levemente a sua cabeça pra o lado pra poder piscar
pra mim. Eu prendi uma gargalhada.
"Harvard? Dartmouth?", Charlie murmurou, incapaz de esconder
a sua admiração. "Bem, isso é muito... isso é interessante. É, mas
a Universidade do Alaska... você realmente está considerando
isso quando pode ir para a Ivy League? Quer dizer, o seu pai iria
querer que..."
"Carlisle sempre está de acordo com qualquer escolha que eu
fizer", Edward disse a ele serenamente.
"Hmph."
"Adivinhe, Edward?", eu pedi com uma voz brilhante, entrando na
brincadeira.
______________________2
"O que, Bella?"
Eu apontei para o grosso envelope no balcão.
"Eu acabei de receber a minha carta de aceitação da
Universidade do Alaska!"
"Parabéns", ele deu um sorriso largo. "Que coincidência."
Os olhos de Charlie se estreitaram e ele olhou pra frente e pra
trás entre nós.
"Tá bom", ele murmurou depois de um minuto. "Eu vou assistir o
jogo, Bella. Nove e meia."
"Er, pai? Lembra o que nós discutimos sobre a minha
liberdade...?"
Ele suspirou.
"Certo. Ok, dez e meia. Você ainda tem o toque de recolher nas
noites de aula."
"Bella não está mais de castigo?", Edward perguntou. Apesar de
saber que ele não estava realmente surpreso, eu não consegui
detectar nenhum sinal de falsa excitação na voz dele.
"Condicionalmente", Charlie corrigiu através dos dentes. "O que
você tem com isso?"
Eu fiz uma carranca para o meu pai, mas ele não viu.
"Só é bom saber", Edward disse. "Alice está louca pra arranjar
uma parceira de compras, e eu tenho certeza de que Bella
adoraria ver as luzes da cidade", ele sorriu pra mim.
Mas Charlie rosnou.
"Não!", e o rosto dele ficou roxo.
"Pai! Qual é o problema?"
Ele fez um esforço pra destrincar os dentes.
"Eu não quero que você vá a Seattle agora."
"Huh?"
"Eu te disse sobre a história no jornal - tem alguma espécie de
gangue fazendo uma matança em Seattle e eu quero que você
mantenha a distância, ok?"
Eu rolei os meus olhos.
"Pai, existe uma chance maior de eu ser atingida por um raio do
que eu passar um dia em Seattle e -"
"Não, está tudo bem, Charlie", Edward disse, me interrompendo.
"Eu não me referia a Seattle. Eu estava pensando em Portland,
na verdade. Eu também não levaria Bella a Seattle. É claro que
não."
Eu olhei pra ele sem acreditar, mas ele estava com o jornal de
Charlie nas mãos e lia a primeira página atentamente.
Ele devia estar tentando aplacar o meu pai. A idéia de estar em
perigo mesmo por causa do mais letal dos humanos estando na
companhia de Alice ou Edward era hilária.
Funcionou. Charlie olhou pra Edward por mais ou segundo, e
depois levantou os ombros.
"Tudo bem." Ele saiu na direção da sala de estar, agora com um
pouco de pressa - talvez ele não quisesse perder o início do jogo.
Eu esperei até que a TV estivesse ligada, pra que Charlie não
pudesse me ouvir.
"O que -", eu comecei a perguntar.
"Espere", Edward disse sem tirar os olhos do jornal. Os olhos
dele continuaram focados na primeira página enquanto ele
empurrava a primeira inscrição na minha direção pela mesa. "Eu
acho que você pode reutilizar os seus ensaios nessa. As mesmas
perguntas."
Charlie ainda devia estar ouvindo. Eu suspirei e comecei a
responder as perguntas repetitivas: nome, endereço, social...
Depois de alguns minutos, eu olhei pra cima, mas agora Edward
estava olhando perseverantemente pela janela.
Enquanto eu baixava a minha cabeça de volta para o meu
trabalho, eu percebi pela primeira vez o nome da escola.
Eu bufei e coloquei os papeis de lado.
"Bella?"
"Fala sério, Edward. Dartmouth?"
Edward levantou as inscrições descartadas e as colocou
gentilmente na minha frente novamente.
"Eu pensei que você gostaria de New Hampshire", ele disse. "Há
muitas coisas pra eu fazer durante a noite, e as florestas estão
convenientemente localizadas para os praticantes ávidos de
caminhadas. Bastante vida selvagem." Ele deu o riso torto ao qual
ele sabia que eu não podia resistir.
Eu respirei profundamente pelo nariz.
"Eu deixo você pagar, se isso te deixa feliz", ele prometeu. "Se
você quiser, eu posso custear o seu interesse."
"Como se eu fosse conseguir entrar sem um enorme suborno. Ou
isso foi parte do empréstimo? Uma nova ala dos Cullen para a
biblioteca? Ugh! Por que é que estamos tendo essa discussão de
novo?"
"Será que dá pra você responder a inscrições, por favor, Bella?
Se inscrever não vai te machucar."
Minha mandíbula flexionou-se.
"Quer saber? Eu não acho que vá."
Eu peguei os papéis, planejando colocá-los numa pilha que
coubesse direitinho na lata de lixo, mas eles já tinham
desaparecido. Eu olhei para a mesa vazia por um momento, e
depois pra Edward. Ele não parecia ter se movido, mas as
inscrições provavelmente já estavam enfiadas embaixo do casaco
dele.
"O que você está fazendo?", eu quis saber.
"Eu sei assinar o seu nome melhor que você. Você já escreveu os
ensaios."
"Você está indo longe demais com isso, sabe", eu sussurrei, pela
chance improvável de que Charlie não estivesse completamente
compenetrado em seu jogo. "Eu não preciso me inscrever pra
nada. Eu já fui aceita no Alaska. Eu quase já posso pagar pelo
primeiro mês de estudos. Ele é um álibi tão bom quanto qualquer
outro. Não há necessidade de jogar fora um bolo de dinheiro, não
importa de quem ele seja."
Um olhar de dor espremeu o rosto dele.
"Bella -"
"Não comece. Eu concordo que eu tenha que passar por essas
fases por Charlie, mas nós dois sabemos que eu não estarei em
condições de estudar no próximo outono. Ficar perto de
pessoas."
Meu conhecimento desses primeiros anos como vampira eram
incompletos. Edward nunca entrava nos detalhes - esse não era o
assunto favorito dele -, mas eu sabia que não era nada bonito.
Auto-controle aparentemente era uma habilidade requerida.
Qualquer coisa que não estivesse ligada a escola por
correspondência estava fora de questão.
"Eu pensei que o timing ainda não estivesse decidido", Edward me
lembrou suavemente. "Você pode gostar de um semestre ou dois
na faculdade. Ainda existem muitas experiências humanas que
você nunca teve."
"Eu irei vivê-las depois."
"Depois elas não serão experiências humanas. Você não terá uma
segunda chance para a humanidade, Bella."
Eu suspirei.
"Você precisa ser razoável com o tempo, Edward. É muito
perigoso brincar com ele."
“Não há perigo ainda”, ele insistiu.
Eu encarei-o. Sem perigo? Claro. Eu só tinha uma vampira sádica
me perseguindo pra vingar a morte do parceiro dela com a minha
própria morte, preferivelmente utilizando usando algum método
lento e torturante. Quem estava preocupado com Victoria? E, oh,
é, os Volturi - a família real de vampiros com o seu pequeno
exército de guerreiros vampiros - que insistiam em fazer meu
coração parar de bater de uma forma ou de outra num futuro
próximo, porque nenhum humano tinha permissão de saber que
eles existiam. Certo. Absolutamente nenhuma razão pra entrar
em pânico.
Mesmo com Alice continuando a observar - Edward estava se
valendo das suas visões apuradas do futuro pra nos dar um aviso
-, era uma insanidade contar com a sorte.
Além do mais, eu já tinha ganhado essa discussão. A data para a
minha transformação estava tentadoramente marcada pra pouco
depois da minha formatura no segundo grau, em apenas algumas
semanas.
Uma afiada pontada de enjôo perfurou meu estômago quando eu
percebi o quão curto o tempo realmente era. Claro que esta
mudança era necessária - é a chave para o que eu mais quero que
tudo no mundo reunido - mas eu estava profundamente
consciente de Charlie, sentado no outro quarto desfrutando o
jogo dele, só ao vivo a cada duas noites. E minha mãe, Renee,
longe na Flórida ensolarada, que ainda suplica para eu passar o
verão na praia com ela e o novo marido dela.
E Jacob, que, diferente dos meus pais, saberia exatamente o que
ia acontecer comigo quando eu desaparecesse para alguma escola
distante. Se os meus pais não ficassem suspeitando depois de
muito tempo, mesmo que eu pudesse evitar visitas com desculpas
sobre custos da viagem, muito pra estudar ou doença, Jacob
saberia da verdade.
Por um momento, a dor da repulsa de Jacob ultrapassou qualquer
outra dor.
"Bella", Edward murmurou, o rosto dele se contorcendo quando
ele leu a angústia no meu. "Não tem pressa. Eu não vou deixar
ninguém te machucar. Você pode usar de todo o tempo que
precisar."
"Eu quero me apressar", eu sussurrei, sorrindo fracamente,
tentando fazer piada do assunto. "Eu quero ser um monstro
também."
Os dentes dele se trincaram; ele falou entre eles.
"Você não faz idéia do que está dizendo." Abruptamente ele
jogou o jornal amassado na mesa entre nós. Os dedos dele
bateram na linha principal na primeira página:
CRESCE O ÍNDICE DE MORTE, POLÍCIA TEME ATIVIDADE
DE GANGUE
"O que isso tem a ver com alguma coisa?"
"Monstros não são uma piada, Bella."
Eu olhei para a manchete de novo, e depois para a sua expressão
dura.
"Um... vampiro está fazendo isso?", eu sussurrei.
Ele sorriu sem humor, sua voz estava baixa e fria.
"Você ficaria surpresa, Bella, por saber o quão frequentemente a
minha espécie está envolvida nessas horrorosas manchetes
humanas. É fácil reconhecer, quando você sabe o que procurar. A
informação aqui indica que há um vampiro recém nascido em
Seattle. Sedento por sangue, selvagem, fora de controle. Do
jeito que todos nós somos."
Eu deixei os meus olhos caírem para o papel de novo, evitando os
olhos dele.
"Nós estivemos monitorando a situação por algumas semanas.
Todos os sinais estão aí - os desaparecimentos improváveis, os
cadáveres mal dispostos, a falta de outras provas... Sim, alguém
ainda novo. E ninguém parece estar se responsabilizando pelo
neófito...", ele respirou fundo. "Bem, não é problema nosso. Nós
nem prestaríamos atenção nessa situação se não fosse tão
próximo de casa. Como eu disse, isso acontece o tempo inteiro. A
existência de monstros resulta em conseqüências monstruosas."
Eu tentei não ver os nomes na página, mas eles se destacavam
das outras palavras na folha como se estivessem em negrito. As
cinco pessoas cujas vidas estavam acabadas, cujas famílias
estavam de luto agora. Era diferente considerar a forma
abstrata dos assassinatos lendo esses nomes agora. Maureen
Gardiner, Geoffrey Campbell, Grace Razi, Michelle O' Connell,
Ronald Albrook. Pessoas que tinham pais e filhos e amigos e
bichos de estimação e empregos e esperanças e planos e
memórias e futuros...
"Não será o mesmo pra mim", eu cochichei, meio pra mim mesma.
"Você não vai me deixar ser assim. Vamos morar na Antártida."
Edward bufou, quebrando a tensão.
"Pingüins. Adorável."
Eu dei uma gargalhada tremendo e joguei o jornal pra fora da
mesa pra que eu não pudesse mais ver aqueles nomes; ele bateu
na madeira com um estrondo. É claro que Edward iria considerar
as opções de caça. Ele e a sua família "vegetariana" - todos
compromissados a proteger vidas humanas - preferiam o sabor
de grandes predadores pra satisfazer as necessidades de sua
dieta.
"Alaska, então, como o planejado. Só que um lugar muito mais
remoto que Juneau - algum lugar com ursos pardos."
"Melhor", ele permitiu. "Lá tem ursos polares também. Muito
furiosos. E os lobos ficam muito grandes."
Minha boca se abriu e a respiração saiu numa contração afiada.
"Qual é o problema?", ele perguntou. Antes que eu pudesse me
recuperar, a confusão desapareceu do rosto dele e o corpo
inteiro dele pareceu ficar duro.
"Oh. Esqueça dos lobos então, se a idéia te ofende", a voz dele
estava dura, formal, seus ombros estavam rígidos.
"Ele era o meu melhor amigo, Edward", eu murmurei. Eu fiquei
machucada por usar o tempo passado. "É claro que a idéia me
ofende."
"Por favor, perdoe a minha falta de consideração", ele disse,
ainda muito formal. "Eu não deveria ter sugerido isso."
"Não se preocupe com isso", eu olhei para as minhas mãos,
fechadas nos meus pulsos em cima da mesa.
Nós dois ficamos em silêncio por um momento, e depois seu dedo
frio estava embaixo do meu queixo, levantando o meu rosto. A
expressão dele estava muito mais suave agora. 
"Desculpe. Mesmo."
“Eu sei. Eu sei que não é a mesma coisa. Eu não devia ter reagido
daquele jeito. É só que... bem, eu já estava pensando em Jacob
antes de você chegar." Eu hesitei. Seus olhos pareciam sempre
ficar um pouco mais escuros quando eu falava o nome de Jacob.
Em resposta, a minha voz se tornou implorativa. "Charlie disse
que Jake está passando por dificuldades. Ele está machucado
agora, e... é minha culpa."
"Você não fez nada errado, Bella."
Eu respirei fundo.
"Eu preciso melhorar as coisas, Edward. Eu devo isso a ele. E,
além do mais, é uma das condições de Charlie-"
O rosto dele mudou enquanto eu falava, ficando duro de novo,
como estátua.
"Você sabe que está fora de questão você ficar perto de um
lobisomem desprotegida, Bella. E se algum de nós passasse as
barreiras das terras deles, estaria quebrando o acordo. Você
quer que nós comecemos uma guerra?"
"É claro que não!"
"Então não há nenhum sentido em levar essa discussão adiante."
Ele deixou a mão cair e desviou o olhar, procurando por uma
mudança de assunto. Os olhos dele pararam em alguma coisa
atrás de mim, e ele sorriu, apesar dos olhos dele estarem
cautelosos.
"Eu fico feliz que Charlie tenha deixado você sair - você está
precisando tristemente fazer uma visita a uma livraria. Eu não
posso acreditar que você está lendo O morro dos ventos uivantes
de novo. Você já não sabe ele de cor?"
"Nem todos nós temos memória fotográfica", eu disse
curtamente.
"Com memória fotográfica ou não, eu não entendo por que você
gosta disso. Os personagens são só pessoas que arruínam a vida
uns dos outros. Eu não consigo entender como Heathcliff e Cathy
acabaram sendo comparados a casais como Romeu e Julieta ou
Elizabeth Bennett e Sr. Darcy. Essa não é uma história de amor,
é uma história de ódio."
"Você tem sérios problemas com os clássicos", eu disparei.
"Talvez seja porque eu não fico impressionado com antiguidades."
Ele sorriu, evidentemente satisfeito por ter me distraído.
"No entanto, honestamente, por que é que você lê isso de novo e
de novo?" Os olhos dele estavam vívidos com real interesse
agora, tentando - de novo - desvendar os complicados trabalhos
da minha mente. Ele se inclinou na mesa pra pegar o meu rosto
nas mãos dele. "Por que isso é apelativo pra você?"
A sincera curiosidade dele me desarmou.
"Eu não tenho certeza", eu disse, lutando pra ser coerente
enquanto o olhar dele não intencionalmente confundia os meus
pensamentos. "É alguma coisa relacionada a inevitabilidade. Como
nada consegue mantê-los separados - nem o egoísmo dela, nem o
mau dele, e no fim, nem mesmo a morte..."
O rosto dele estava pensativo enquanto ele pensava nas minhas
palavras. Depois de um momento, ele deu um sorriso de zombaria.
"Eu ainda preferiria se um deles tivesse uma qualidade que os
redimisse."
"Eu acho que é disso que eu estou falando", eu discordei. "O amor
deles é a única qualidade que os redime."
"Eu espero que você tenha mais senso que isso - se apaixonar por
alguém tão... maligno."
"É um pouco tarde pra me preocupar com a pessoa pela qual eu
vou me apaixonar", eu apontei. "Mas mesmo sem o aviso, eu
pareço ter me saído muito bem."
Ele riu baixinho.
"Eu me alegro que você pense isso."
"Bem, eu espero que você seja esperto o suficiente pra ficar
longe de alguém tão egoísta. A fonte de todo o problema na
verdade é Catherine, não Heathcliff."
"Eu vou ficar de olho", ele prometeu.
Eu suspirei. Ele era muito bom com distrações.
Eu coloquei a minha mão em cima da dele pra segurá-la no meu
rosto.
"Eu preciso ver Jacob."
Ele fechou os olhos.
"Não."
"Não é assim tão perigoso", eu disse, implorando de novo. "Ei, eu
costumava passar o tempo inteiro em La Push com eles e nada
nunca aconteceu."
Mas eu cometi um deslize: minha voz falhou no final, porque eu
me dei conta de que estava dizendo palavras que não eram
verdade. Não era verdade que nada nunca aconteceu. Um breve
flash de memória - um enorme lobo cinza se preparando pra
saltar, mostrando seus dentes afiados como facas pra mim - fez
as palmas das minhas mãos suarem com o eco do pânico
relembrado.
Edward ouviu o meu coração acelerar e balançou a cabeça como
se eu tivesse desmentido tudo em voz alta.
"Lobisomens são instáveis. Às vezes as pessoas que estão por
perto acabam se machucando. Às vezes, elas morrem."
Eu queria negar isso, mas outra imagem parou a minha resposta.
Eu vi em minha cabeça o rosto da um dia linda Emily Young, agora
marcada por um trio de cicatrizes escuras que arrastavam o
canto do seu olhos direito e da sua boca que ficaram presos pra
sempre numa careta permanente.
Ele esperou, presumidamente triunfante, que eu encontrasse a
minha voz.
"Você não os conhece", eu sussurrei.
"Eu os conheço melhor do que você pensa, Bella. Eu estava lá da
última vez."
"Da última vez?"
"Nós começamos a cruzar caminhos com os lobisomens há cerca
de setenta anos... Nós havíamos acabado de chegar em Hoquiam.
Isso foi antes de Alice e Jasper estarem conosco. Nós éramos
um número maior que eles, mas isso não impediria que a coisa se
tornasse uma briga se não fosse por Carlisle. Ele conseguiu
convencer Ephraim Black de que coexistir era possível, e
eventualmente nós fizemos a trégua."
O nome do bisavô de Jacob me surpreendeu.
"Nós pensamos que a linhagem havia morrido com Ephraim",
Edward murmurou; agora parecia que ele estava falando pra si
mesmo. "Pensamos que a genética que permite a mutação estava
perdida..." Ele parou e olhou pra mim acusadoramente. "A sua má
sorte parece ficar mais forte a cada dia. Será que você se dá
conta de que sua tendência insaciável a todas as coisas letais foi
forte o suficiente pra recuperar um bando de caninos mutantes
em extinção? Se nós pudéssemos colocar a sua má sorte em uma
garrafa, nós teríamos uma arma de destruição em massa em
nossas mãos."
Eu ignorei a piada, minha atenção ficou presa na suposição dele -
ele estava falando sério?
"Mas não fui eu quem os trouxe de volta. Você não sabe?"
"Sabe do que?"
"A minha má sorte não tem nada a ver com isso. Os lobisomens
voltaram porque os vampiros voltaram."
Edward me encarou, seu corpo ficou imóvel com a surpresa.
"Jacob me disse que a sua família estar aqui fez as coisas se
movimentarem. Eu pensei que você já sabia..."
Os olhos dele se estreitaram.
"É isso que eles pensam?"
"Edward, olhe para os fatos. Há setenta anos atrás você veio pra
cá e os lobisomens apareceram também. Você voltou agora e os
lobisomens apareceram de novo. Você acha que é coincidência?"
Ele piscou e o seu olhar relaxou.
"Carlisle ficará interessado nessa teoria."
"Teoria", eu zombei.
Ele ficou em silêncio por um momento, olhando pela janela para a
chuva; eu imaginei que ele estava contemplando a idéia de que a
presença dele e de sua família estava transformando os
moradores locais em cachorros gigantes.
"Interessante, mas não exatamente relevante", ele murmurou de
repente. "A situação continua a mesma."
Eu podia traduzir isso facilmente: nada de amigos lobisomens.
Eu sabia que tinha de ser paciente com Edward. Não era que ele
não estava sendo razoável, é só que ele não conseguia entender.
Ele não fazia idéia do quanto eu devia a Jacob Black - minha vida
muitas vezes acabada, e possivelmente a minha sanidade também.
Eu não queria mais falar desses tempos estéreis, e Edward
especialmente também não. Ele estava apenas tentando me salvar
quando foi embora, tentando salvar minha alma.
Eu não o responsabilizava por todas as coisas estúpidas que havia
feito na ausência dele, ou pela dor que eu sofri. Ele se
responsabilizava.
Então eu teria que colocar a minha explicação em palavras muito
cuidadosamente. Eu me levantei e rodeei a mesa, ele abriu os
braços e eu me sentei no colo dele, me aconchegando no seu
abraço frio como pedra. Eu olhei para as mãos dele enquanto
falava.
"Por favor, me ouça por um minuto. Isso é muito mais do que um
gesto de caridade com um amigo antigo. Jacob está sofrendo."
Minha voz se contorceu na palavra. "Eu não posso não tentar
ajudá-lo - eu não posso desistir dele agora, quando ele precisa de
mim. Só porque ele não é humano o tempo inteiro... Bem, ele
estava lá por mim quando eu estava..." Eu hesitei. Os braços de
Edward estavam rígidos ao meu redor; as mãos dele estavam nos
punhos agora, os tendões dele se destacam. "Se Jacob não
tivesse me ajudado... Eu não tenho certeza do que você
encontraria ao voltar pra casa. Eu tenho que tentar melhorar as
coisas. Eu devo-lhe mais que isso, Edward."
Eu olhei para o rosto dele cautelosamente. Os olhos dele estavam
fechados e a mandíbula dele estava trincada.
"Eu nunca vou me perdoar por ter te deixado", ele murmurou,
"Nem se eu viver cem mil anos."
Eu coloquei a minha mão no seu rosto frio e esperei até que ele
suspirou e abriu os olhos.
"Você só estava tentando fazer a coisa certa, e eu tenho certeza
de que teria funcionado com alguém menos louco que eu. Além do
mais, você está aqui agora. Essa é a parte que importa."
"Se eu não tivesse ido embora, você não estaria tendo que
arriscar sua vida pra confortar um cachorro."
Eu vacilei. Eu estava acostumada a Jacob e os seus apelidos
pejorativos - sugador de sangue, sanguessuga, parasita... De
alguma forma, eles pareciam mais ofensivos na voz aveludada de
Edward.
"Eu não sei como frasear isso apropriadamente", Edward disse, e
o tom dele ficou vazio. "Vai soar cruel, eu acho. Mas eu já
cheguei perto de te perder no passado. Eu sei como me sinto só
de pensar nisso. Eu não vou tolerar nada perigoso."
"Você precisa confiar em mim nisso. Eu vou ficar bem."
O rosto dele demonstrou dor de novo.
"Por favor, Bella", ele sussurrou.
Eu olhei dentro dos seus olhos dourados, repentinamente
flamejantes. "Por favor o que?"
"Por favor, por mim. Faça um esforço consciente pra se manter
em segurança. Eu farei tudo o que puder, mas eu apreciaria um
pouco de ajuda."
"Eu vou trabalhar nisso", eu murmurei.
"Você realmente tem alguma idéia do quanto é importante pra
mim? Algum conceito do quanto eu te amo?" Ele me segurou com
mais força contra o peito, colocando a minha cabeça embaixo do
queixo dele.
Eu pressionei meus lábios no pescoço frio como neve dele.
"Eu sei o quanto eu amo você", eu respondi.
"Você está comparando uma pequena árvore a uma floresta
inteira."
Eu revirei meus olhos, mas ele não podia ver.
"Impossível.”
Ele beijou o topo da minha cabeça e suspirou.
"Nada de lobisomens."
"Eu não vou seguir isso. Eu tenho que ver Jacob."
"Então eu vou ter que te impedir."
Ele parecia extremamente confiante de que isso não seria um
problema.
Eu tinha certeza de que ele estava certo.
"Nós veremos isso", eu blefei do mesmo jeito. "Ele ainda é meu
amigo."
Eu podia sentir o bilhete de Jacob no meu bolso, como se de
repente ele pesasse dez quilos. Eu podia ouvir as palavras na voz
dele, e ele parecia concordar com Edward - coisa que jamais
aconteceria na realidade.

Isso não muda nada. Desculpe.

Capítulo 2 - Fuga
Eu me senti estranhamente contente enquanto caminhava da aula
de Espanhol em direção ao refeitório, e não era só porque eu
estava de mãos dadas com a pessoa mais perfeita do planeta,
apesar de que essa era certamente parte da razão.
Talvez fosse o conhecimento de que a minha sentença estava
acabada e eu era uma mulher livre novamente.

Ou talvez não tivesse nada a ver comigo especificamente. Talvez
fosse a atmosfera de liberdade que pairava sobre o campus
inteiro. As aulas estavam acabando e, especialmente para a
classe do último ano, havia uma alegria perceptível no ar.

A liberdade estava tão próxima que era tocável, degustável. Os
sinais dela estavam em todo lugar. Posters se amontoavam nas
paredes do refeitório, e as latas de lixo usavam uma vestimenta
colorida amontoada de panfletos: lembretes pra comprarmos os
livros do ano, anéis de classes, e anúncios; prazos para as roupas
da formatura, chapéus e borlas; panfletos de vendas cor de néon
– a campanha dos alunos calouros para a coordenação da sala;
anúncios mau-agourentos, decorados com rosas, sobre o baile
desse ano. O grande baile era no próximo fim de semana, mas eu
tinha uma promessa inquebrável de Edward de que eu não seria
submetida áquilo de novo. Afinal de contas, eu já havia passado
por aquela experiência humana.

Não, devia ser a minha liberdade pessoal que me iluminava hoje.
O fim do calendário escolar não me trouxe o mesmo prazer que
parecia trazer aos outros alunos. Na verdade, eu me sentia
nervosa a ponto de sentir náuseas toda vez que pensava nisso. Eu
tentava não pensar nisso.

“Você já enviou seus convites?” Angela perguntou quando Edward
e eu nos sentamos em nossa mesa. Ela tinha o cabelo castanho
claro preso para trás em um rabo-de-cavalo em vez de seu lizo
natural, e havia um olhar ligeramente frenético em seus olhos. 
Alice e Ben já estavam lá também, cada um em um lado de
Angela. Ben estava atento a um Gibi, seus óculos escorregando
pelo seu nariz fino. Alice estava examinando meu Jeans-e-camiseta sem graça de um jeito que me deixou constrangida.
Provavelmente planejando outro look. Eu suspirei. Minha atitude
indiferente em relação à moda aborrecia Alice. Se eu deixasse,
ela amaria me vestir todo dia – talvez várias vezes ao dia – como
alguma boneca de papel tridimensional extra-grande. 

"Não," eu respondi a Angela. "Não faz sentido, de verdade.
Renée sabe quando eu me formo. Quem mais há?"

"E você, Alice?

Alice sorriu. "Tudo feito."

"Sorte sua." Angela suspirou. "Minha mãe tem uns mil primos e
espera que eu escreva o endereço para todo mundo. Vou ficar
com dor no pulso. Eu não posso adiar muito isso e estou meio
assustada.

"Eu posso ajudá-la," Eu me ofereci. "Se você não se importar com
a minha letra horrível."

Charlie gostaria isso. Pelo canto do olho, viu Edward sorrir. Ele
devia gostar daquilo também - de mim cumprindo as condições de
Charlie sem envolver lobisomens.

Angela pareceu aliviada. "Que legal da sua parte. Eu virei a
qualquer hora que você quiser."

"Na verdade, eu prefiro ir à sua casa se estiver tudo bem -
Estou cansada da minha. Charlie me liberou noite passada." Eu
sorri enquanto contava as boas notícias.

"Sério?" Angela perguntou, um suave excitamento iluminou seus
olhos castanhos sempre gentis "Pensei que você tinha dito que
estava de castigo pelo resto da vida."–

"Estou mais surpresa que você. Eu tinha certeza que iria pelo
menos ter terminado o ensino médio antes de ele me deixar
livre".

"Bem, isso é ótimo, Bella! Nós temos que sair para comemorar."

"Você tem idéia de como isso é bom."

"O que deveríamos fazer?" Alice meditou, sua face se iluminando
com as possibilidades. As idéias de Alice geralmente eram um
pouco grandiosas para mim, e eu podia ver isso em seus olhos
agora – a tendência de fazer coisas longe demais virando ação.
“O que quer que você esteja pensando, Alice, eu duvido que
esteja livre para isso.”
______________________3

“Livre é livre, certo?“ ela insistiu.

“Tenho certeza que eu ainda tenho limites – como o continente
estado-unidense, por exemplo.

Angela e Ben riram, mas Alice fez uma careta de verdadeiro
desapontamento.

“Então o que nós vamos fazer hoje à noite?” ela persistiu.

“Nada. Olhe, vamos dar uns dois dias para ter certeza de que ele
não estava brincando. É uma noite de escola, de qualquer forma.”

“Nós vamos comemorar esse final de semana, então.” O
entusiasmo de Alice era impossível de reprimir.

“Claro – eu disse, esperando aplacá-la. Eu sabia que não estava
indo fazer nada longe demais; seria mais seguro ir devagar com
Charlie. Dar a ele a chance de avaliar quão merecedora de
confiança e madura eu era antes de pedir qualquer favor.

Angela e Alice começaram a falar sobre opções; Ben se juntou à
conversa, colocando seu Gibi de lado. Minha atenção se desviou.
Eu estava surpresa por descobrir que o assunto da minha
liberdade de repente não era tão agradável quanto há apenas um
momento trás. Enquanto eles discutiam coisas para fazer em
Port Angeles ou talvez em Hoquiam, eu comecei a me sentir
decepcionada.

Não demorei muito para determinar de onde veio minha
impaciência.

Desde quando eu disse adeus para Jacob Black na floresta além
da minha casa, eu tinha sido infeccionada por uma persistente e
desconfortável invasão de uma figura mental específica. Ela
entrava nos meus pensamentos em intervalos regulares como
algum incômodo despertador programado para tocar a cada meia
hora, enchendo minha cabeça com a imagem do rosto de Jacob
contorcido de dor. Esta era a última memória que eu tinha dele.

Conforme a perturbadora visão me atingia novamente, eu sabia
exatamente por que eu estava insatisfeita com a minha
liberdade. Porque era incompleta.
Claro, eu estava livre para ir a qualquer lugar que eu quisesse –
exceto La Push; livre para fazer qualquer coisa que eu quisesse –
exceto ver Jacob. Olhei a mesa com desagrado. Tinha que haver
algum tipo de território intermediário.

"Alice? Alice!"

A voz de Angela me arrancou do meu devaneio. Ela estava
agitando sua mão para frente e para trás diante do rosto pálido
de Alice, olhando-a fixamente. A expressão de Alice era algo que
eu reconhecia – uma expressão que produziu um automático
choque de pânico dentro do meu corpo. O olhar vago em seus
olhos me disse que ela estava vendo alguma coisa muito diferente
da cena do refeitório mundando que nos cercava, mas algo de que
cada pedaço era tão verdadeiro do seu próprio modo. Alguma
coisa estava vindo, alguma coisa que aconteceria logo. Eu senti o
sangue sumir do meu rosto.

Então Edward riu, um som muito natural, tranqüilo. Angela e Ben
olharam em direção a ele, mas meus olhos estavam presos em
Alice. Ela pulou de repente, como se alguém a tivesse chutado
por debaixo da mesa.

“Já é hora de dormir, Alice?” Edward provocou.

Alice voltou a si novamente. “Desculpem, eu estava sonhando
acordada, acho.”

“Sonhar acordada é melhor do que encarar mais duas horas de
aula.” Ben disse.

Alice voltou à conversa com mais animação que antes – só um
pouquinho demais. Uma vez eu vi seus olhos se prenderem aos de
Edward, só por um momento, e então ela olhou de volta para
Angela antes que alguém mais notasse. Edward estava quieto,
brincando inconscientemente com um fio do meu cabelo.

Eu esperei ansiosamente por uma chance de perguntar a Edward
o que Alice tinha visto em sua visão, mas a tarde se passou sem
que pudéssemos ficar um minuto do tempo a sós.
Isso parecia estranho para mim, quase proposital. Depois do
almoço, Edward reduziu a velocidade do seu passo para
acompanhar Ben, conversando sobre alguma tarefa que eu sabia
que ele já tinha terminado. Então havia sempre alguém mais lá
entre as aulas, embora nós geralmente tivéssemos uns poucos
minutos para nós mesmos. Quando o último sinal tocou, Edward
iniciou uma conversa com Mike Newton de todas as pessoas,
diminuindo o passo ao lado dele enquanto Mike se direcionava
para o estacionamento. Eu me arrastava atrás, deixando Edward
me rebocar adiante.
Eu ouvia, confusa, enquanto Mike respondia às incomuns
perguntas amigáveis de Edward. Parecia que Mike estava tendo
problemas com o carro.

"...mas eu só repus a bateria." Mike estava dizendo. Seu olhar
lançava-se para frente e então de volta para Edward
cautelosamente. Mistificado, assim como eu estava.

"Talvez sejam os cabos" Edward sugeriu.

"Talvez. Eu realmente não sei nada sobre carros." Mike admitiu.
"Eu preciso que alguém dê uma olhada, mas eu não posso deixar
isso para Dowling.

Eu abri minha boca para sugerir meu mecânico, e então a fechei
de novo. Meu mecânico estava ocupado esses dias – ocupado
correndo por aí como um lobo gigante.

"Eu sei algumas coisas, eu posso dar uma olhada, se você quiser."
Edward ofereceu. "Só me permita deixar Alice e Bella em casa.

Mike e eu encaramos Edward juntos de bocas abertas.

"Hã... obrigado." Mike murmurou quando ele se recuperou. "Mas
eu tenho que ir trabalhar. Talvez uma outra hora."

"Absolutamente."

"Até mais." Mike entrou em seu carro, sacudindo a cabeça em
incredulidade.

O Volvo de Edward, com Alice já dentro, estava só dois carros à
distância.

"O que foi aquilo?" eu murmurei enquanto Edward segurava a
porta do passageiro para mim.

"Só sendo prestativo." Edward respondeu.

E então Alice, esperando no banco de trás, estava tagarelando na
maior velocidade.
"Você realmente não é tão bom mecânico, Edward. Talvez você
devesse fazer Rosalie dar uma olhada nisso esta noite, apenas de
modo que você pareça bom se Mike decidir deixar você ajudar,
sabe. Não que não fosse ser divertido ver a cara dele se Rosalie
descobrisse como ajudar. Mas desde que supõe-se que Rosalie
esteja do outro lado do país fazendo faculdade, eu acho que essa
não é a melhor idéia. Ruim demais. Embora eu suponha que, para o
carro do Mike, você sirva. Só dentro dos tunings mais finos de
um bom carro esportivo italiano você está fora do seu
departamento. E falando da Itália e de carros esportivos que eu
roubei lá, você ainda me deve um Porshe amarelo. Eu não sei se
eu quero esperar pelo Natal..."

Eu parei de ouvir depois de um minuto, deixando sua voz rápida
se tornar só um zumbido ao fundo enquanto eu me concentrava
no meu modo paciente.
Para mim, parecia que Edward estava tentando evitar minhas
perguntas. Legal. Ele teria que ficar sozinho comigo breve o
bastante. Era só uma questão de tempo.

Edward pareceu entender isso também. Ele deixou Alice na boca
da garagem dos Cullen como o habitual, embora a esse ponto eu
meio que esperava que ele a levasse à porta e a encaminhasse
para dentro.

Enquanto ela saía, Alice lançou um olhar penetrante para o rosto
dele. Edward parecia completamente tranqüilo.

"Vejo você depois." ele disse. E então, muito levemente, ele
acenou com a cabeça.
Alice virou para desaparecer nas árvores.

Ele estava calado enquanto virava o carro em volta e conduzia de
volta a Forks. Eu esperei, imaginando se ele iria começar. Ele não
começou, e isso me deixou tensa. O que Alice tinha visto hoje no
almoço? Algo que ele não queria me dizer, e eu tentei pensar
numa razão pela qual ele iria guardar segredos. Talvez fosse
melhor me preparar antes de perguntar. Eu não queria ficar fora
de mim e deixá-lo pensar que eu não podia lidar com isso, o que
quer que fosse.

Então nós dois ficamos em silêncio até voltarmos à casa de
Charlie.
" A carga de dever de casa pode esperar por esta noite".

"Mmm" eu concordei.

"Você acha que eu possa entrar de novo?"

"Charlie não se alterou quando você me buscou na escola."

Mas eu tinha certeza que Charlie iria ficar rapidamente zangado
quando ele chegasse em casa e encontrasse Edward aqui. Talvez
eu devesse fazer algo extra-especial para o jantar.

Lá dentro, eu subi as escadas e Edward me seguiu. Ele
espreguiçou-se na minha cama e olhou fixamente para a janela,
parecendo esquecer-se do meu nervosismo.
Eu arrumei minha mochila e liguei o computador. Havia um e-mail
não respondido da minha mãe para eu me preocupar, e ela
entrava em pânico quando eu demorava muito. Eu tamborilei meus
dedos enquanto esperava pelo meu computador muito idoso
acordar ruidosamente; eles batiam contra a mesa, rápidos e
ansiosos.

E então os dedos dele estavam nos meus, segurando-os
tranqüilos.

"Nós estamos um pouco impacientes hoje?" ele murmurou.

Eu olhei para cima, tencionando fazer uma observação
sarcástica, mas o rosto dele estava mais próximo do que eu
esperava. Seus olhos dourados estavam queimando, afastados
apenas centímetros, e sua respiração estava fria contra meus
lábios abertos. Eu podia sentir o gosto do seu cheiro na minha
língua.

Eu não consegui lembrar da resposta mordaz que eu quase tinha
feito. Eu não conseguia lembrar do meu nome.

Ele não me deu a chance de me recuperar.

Se as coisas fossem do meu jeito, eu passaria a maior parte do
meu tempo beijando Edward. Não havia nada que eu tivesse
experimentado na minha vida que se comparasse à sensação dos
lábios dele, frios e duros como mármore, mas sempre tão gentis,
se movendo com os meus.

As coisas geralmente não eram do meu jeito.
Então me surpreendi um pouco quando seus dedos se
entrelaçaram no meu cabelo, segurando meu rosto com eles.
Meus braços se prenderam ao seu pescoço, e eu desejei que
fosse mais forte – forte o bastante para mantê-lo prisioneiro
aqui. 

Uma mão escorregou para as minhas costas, me pressionando
mais apertado contra seu peito de pedra. Mesmo sob seu suéter,
a pele dele estava fria o bastante para me fazer tremer – era um
tremor de satisfação, de felicidade, mas suas mãos começaram a
afrouxar em resposta.

Eu sabia que eu tinha mais ou menos três segundos antes de ele
suspirar e me empurrar para longe com jeito, dizendo alguma
coisa sobre como nós tínhamos arriscado minha vida o suficiente
por uma tarde. Aproveitando-me ao máximo dos meus últimos
segundos, me pressionei mais para perto, moldando-me à forma
dele. A ponta da minha língua traçou a curva do seu lábio
inferior; era tão perfeitamente macio como se tivesse sido
envernizado, e o gosto...

Ele colocou meu rosto longe do dele, quebrando meu abraço com
facilidade – ele provavelmente não tinha nem percebido que eu
estava usando toda a minha força.
Ele soltou um risinho uma vez, um som baixo, gutural. Seus olhos
estavam resplancedentes com a excitação que ele tão
rigidamente controlava.

"Ah, Bela." Ele suspirou.

"Eu diria que sinto muito, mas eu não sinto."

"E eu deveria sentir muito por você não sentir muito, mas eu não
sinto. Talvez eu devesse sentar na cama."

Exalei um pouco vertiginosamente. “Se você acha que isso é...
necessário." 

Ele deu um sorriso torto e se soltou.

Balancei a cabeça algumas vezes, tentando clareá-la, e voltei ao
computador. Estava tudo animado e cantarolando. Bem, não
cantorolando tanto quanto suspirando.

______________________4
"Diz a Renée que eu estou mandando um oi."

"Com certeza."
Olhei atenciosamente o e-mail de Renée, sacudindo minha cabeça
de vez em quando por conta de algumas maluquices que ela havia
feito. Eu estava tão horrorizada e entretida quanto na primeira
vez em que havia lido isto. Ela se esqueceu de como tinha medo
de alturas até estar presa num pára-quedas e ter pulado com o
instrutor. Me senti um pouco desapontada com Phil, marido dela
há quase dois anos, por permitir isso. Eu teria cuidado dela
melhor. A conhecia melhor.

Tenho que finalmente deixá-los seguirem o próprio caminho,
lembrei a mim. Tenho que deixá-los terem a própria vida...

Eu havia passado a maior parte de minha vida cuidando de Renée,
afastando-a de suas loucuras o mais gentilmente possível.
Sempre fui boa para minha mãe, me divertia com ela, até mesmo
eu era um pouco condescendente a ela. Eu via a cornucópia de
erros dela e ria comigo mesma. Renée avoada.

Eu era uma pessoa muito diferente de minha mãe. Alguém
pensativa e cautelosa. A responsável, a adulta. Assim é como eu
me via. Essa era pessoa que eu conhecia.

Com o sangue ainda palpitando em minha cabeça por conta do
beijo de Edward, eu nem podia contar a maioria de erros que
mudaram a vida de minha mãe. Tonta e romântica, havia se
casado com um homem que ela apenas conhecia sem ter
terminado o segundo grau, me tendo um ano depois. Ela sempre
me jurou que não tinha nenhum arrependimento, que eu era o
melhor presente que vida já havia lhe dado. E ela vivia me
repetindo - pessoas inteligentes levam o matrimônio a serio.
Pessoas ajuizadas vão para a faculdade e começam carreiras
antes que de se aprofundem em um relacionamento. Ela sabia que
eu nunca seria tão imprudente, estúpida e provinciana.

Trinquei meus dentes e tentei me concentrar enquanto respondia
a carta dela.
Aí eu ví a primeira linha dela e me lembrei do porque de eu haver
negligenciado escrever pra ela mais cedo.
Você não diz nada sobre Jacob ha muito tempo., ela tinha
escrito. O que está acontecendo nesses dias?
Charlie estava influenciando ela, eu tinha certeza.
Eu suspirei e teclei rapidamente, respondendo à pergunta dela
entre dois parágrafos menos sensíveis.

Jacob está bem, eu acho. Eu não o vejo muito; ele passa a maior
parte do tempo com o seu bando de amigos lá em La Push
ultimamente.

Sorrindo bobamente para mim mesma, eu acrescentei a saudação
de Edward e apertei "send".
Eu não me dei conta de que Edward estava silenciosamente de pé
atrás de mim até que eu desliguei o computador e me afastei da
mesa. Eu estava prestes a passar um sermão nele por estar lendo
por cima do meu ombro quando eu me dei conta de que ele não
estava prestando atenção em mim. Ele estava examinando uma
caixa achatada com fios encaracolados desordenadamente longe
do quadrado principal de uma maneira que não parecia saudável
pra o que quer que fosse. Depois de um segundo, reconhecí o som
para carros que Emmett, Rosalie e Jasper haviam me dado pelo
meu último aniversário. Eu havia esquecido dos presentes que
estavam escondidos embaixo de uma pilha crescente de poeira no
chão do meu closet.
"Porque você fez isso?", ele perguntou com uma voz horrorizada.
"Ele não queria sair do painél".
"E você sentiu necessidade de torturá-lo?"
"Você sabe como eu sou com ferramentas. Nenhuma dor foi
inflingida intencionalmente".
Ele balançou a cabeça, o rosto dele era uma máscara falsa de
tragédia. "Você o matou".
Eu levantei os ombros. "Oh, bem."
"Magoaria os sentimentos deles se eles vissem isso", ele disse.
"Eu acho que foi bom você ter ficado confinada em casa. Eu vou
ter que colocar outro no lugar antes que eles reparem".
"Obrigada, mas eu não preciso de um som chique".
"Não é para o seu bem que eu vou repô-lo".
Eu suspirei.
"Você não fez muito bom uso dos seus presentes de aniversário
do ano passado", ele disse com uma voz estranha. De repente, ele
estava se abanando com um retângulo rígido de papel.
Eu não respondí, com medo de que a minha voz fosse falhar. O
meu desastroso aniversário de dezoito anos - com todas as suas
consequências a longo prazo - não era uma coisa que eu fazia
questão de lembrar, e eu estava surpresa por ele tê-lo
mencionado. Ele era ainda mais sensível em relação a isso do que
eu.
"Você se dá conta de que elas estão prestes a expirar?" ele
perguntou, segurando o papel pra mim. Era outro presente - os
vales para passagens de avião que Esme e Carlisle haviam me
dado pra que eu pudesse visitar Renée na Flórida.
Eu respirei fundo e respondí com uma voz vazia. "Não. Eu havia
esquecido de todos eles, na verdade".
A expressão dele estava cautelosamente luminosa e positiva; não
havia nenhum traço de emoção mais profundo quando ele
continuou. "Bem, nós ainda temos um pouco de tempo. Você foi
liberada... e nós não temos planos para esse fim de semana, já
que você se recusa a ir ao baile comigo". Ele sorriu. "Porque não
celebrar a sua liberdade desse jeito?"
Eu ofeguei. "Indo para a Flórida?"
"Você disse alguma coisa sobre o E.U continental ser permitido."
Eu encarei ele, suspeitosamente, tentando entender de onde isso
tinha vindo.
"Bem?", ele quis saber. "Nós vamos ver Renée ou não?"
"Charlie nunca vai permitir".
"Charlie não pode te impedir de visitar a sua mãe. Ela ainda tem a
sua custódia primária".
"Ninguém tem minha custódia. Eu sou uma adulta".
Ele deu um sorriso brilhante. "Exatamente".
Eu pensei nisso por um breve minuto antes de decidir que a briga
não valia a pena. Charlie ia ficar furioso - não porque eu ia visitar
Renée, mas porque Edward ia vir comigo. Charlie não falaria
comigo por meses, e eu provavelmente acabaria de castigo de
novo. Eu definitivamente era esperta o suficiente pra nem
sequer tocar no assunto. Talvez daqui a algumas semanas,como
um favor pela formatura, ou alguma coisa assim.
Mas a idéia de ver minha mãe agora, e não semanas mais tarde,
era difícil de resistir. Já fazia tanto tempo desde que eu ví
Renée. E ainda mais tempo desde que eu a ví em circunstâncias
prazeirosas. A última vez em que eu estive com ela em Phoenix,
eu passei o tempo inteiro em uma cama de hospital. Da última vez
que ela havia vindo aqui, eu estive mais ou menos catatônica. Não
exatamente a melhor memória pra deixar com ela.
E talvez, se ela visse o quanto eu estava feliz com Edward, ela
podia dizer pra Charlie relaxar.
Edward observou o meu rosto enquanto eu considerava.
Eu suspirei. "Esse fim de semana não".
"Porque não?"
"Eu não quero brigar com Charlie. Não tão pouco tempo depois de
ele ter me perdoado".
As sobrancelhas dele se uniram. "Eu acho que esse fim de
semana é perfeito", ele murmurou.
Eu balancei minha cabeça. "Outra hora".
"Você não é a única que esteve presa nessa casa, sabe?" Ele fez
uma careta pra mim.
A suspeita retornou. Esse tipo de comportamento não era natural
dele. Ele era tão impossivelmente altruísta; eu sabia que isso
estava me deixando mimada.
"Você pode ir onde você quiser", eu apontei.
"O mundo exterior não possui nenhum interesse pra mim sem
você".
Eu rolei os meus olhos à hiperbole.
"Eu estou falando sério", ele disse.
"Vamos ver o mundo exterior lentamente, tá certo? Por exemplo,
nós podíamos começar com um filme em Port Angeles..."
Ele rosnou. "Esqueça. Nós falaremos sobre isso mais tarde".
"Não há mais nada para falar".
Ele ergueu os ombros.
"Ok, então, novo assunto", eu disse. Eu quase havia me esquecido
sobre as minhas preocupações dessa tarde - será que essa era a
intenção? "O que Alice viu durante o almoço?"
Os meus olhos estavam no rosto dele enquanto ele falava,
medindo a sua reação.
A expressão dele estava composta; só havia uma leve dureza em
seus olhos de topázio. "Ela viu Jasper em um lugar estranho,
algum lugar ao sul, ela acha, perto da sua antiga... família. Mas ele
não tem nenhuma intenção consciente de ir embora". Ele
suspirou.
"Isso a deixou preocupada".
"Oh". Isso não era nada próximo do que eu estivera esperando.
Mas é claro que fazia sentido que Alice estivesse olhando para o
futuro de Jasper. Ele era a alma gêmea dela, a sua verdadeira
outra metade, eles não eram tão externais com o seu
relacionamento quanto Rosalie e Emmett. "Porque você não me
disse?"
"Eu não me dei conta de que você havia percebido", ele disse.
"Em qualquer caso, provavelmente não é nada importante".
A minha imaginação estava tristemente fora de controle. Eu
havia pego uma tarde perfeitamenbte normal e havia distorcido
tudo até que parecesse que Edward estava tentando esconder
coisas de mim. Eu precisava de terapia.
Nós fomos lá pra baixo para fazer o nosso dever de casa, no caso
de Charlie chegar mais cedo. Edward acabou em minutos; eu lutei
laborosamente com os meus cálculos até que eu decidí que estava
na hora de fazer o jantar de Charlie. Edward ajudou fazendo
caretas de vez em quando para os ingredientes crus - comida
humana era praticamente repulsiva para ele. Eu fiz strogonoff
com a receita da vovó Swan, porque eu estava sem idéias.
Charlie já parecia estar de bom humor quando chegou em casa.
Ele nem começou com a sua maneira rude de tratar Edward.
Edward se desculpou por não comer conosco, como sempre. O
som do noticiario noturno vinha da sala da frente, mas eu
duvidava que Edward realmente estivesse assistindo.
Depois de repetir três vezes, Charlie colocou os pés pra cma da
cadeira reserva e cruzou as mãos contentemente em cima do seu
estômago inchado.
"Isso estava ótimo, Bells".
"Eu estou feliz que você gostou. Como foi o trabalho?" Ele estava
comendo com muita concentração antes para eu conseguir puxar
conversa antes.
"Meio lento. Bem, mortalmente lento, na verdade. Mark e eu
jogamos carta em boa parte da tarde", ele admitiu com um
sorriso. "Eu vencí, dezenove mãos para sete. E depois eu fiquei
no telefone com Billy durante algum tempo".
Eu tentei manter minha expressão igual. "Como ele está?"
"Bem, bem. As juntas dele estão o incomodando um pouco."
"Oh. Isso é uma pena".
"É. Ele nos convidou para uma visita esse final de semana. Ele
estava pensando em chamar os Clearwaters e os Uleys também.
Uma espécie de festinha..."
"Huh", foi a minha resposta genial. Mas o que eu ia dizer? Eu
sabia que não teria permissão para comparecer a uma festa de
lobisomens, mesmo com supervisão do meu pai. Eu me perguntei
se Edward teria um problema com Charlie andando por La Push.
Ou será que ele iria supor que já que Charlie passaria mais tempo
com Billy, que era apenas humano, o meu pai não estaria em
perigo?
Eu me levantei e empilhei os pratos sem olhar para Charlie. Eu os
coloquei na pia e liguei a água. Edward apareceu silenciosamente
e pegou uma toalha de pratos.
Charlie suspirou e desistiu por um momento, apesar de eu
imaginar que ele revisitaria o assunto assim que estivéssemos
juntos de novo. Ele se pôs de pé e seguiu para a sala de TV,
exatamente como na outra noite.
"Charlie", Edward disse num tom conversional.
Charlie parou no meio da sua pequena cozinha. "Sim?"
"Bella te contou que os meus pais deram passagens de avião pra
ela em seu último aniversário, pra que ela pudesse visitar
Renée?"
Eu deixei cair o prato que eu estava esfregando. Ele resvalou no
balcão e caiu no chão fazendo barulho. Ele não quebrou, mas
melou a cozinha, e nós três, com água ensaboada. Charlie nem
pareceu reparar.
"Bella?" Ele perguntou numa voz espantada.
Eu mantive os olhos no prato enquanto o pegava de volta. "É, eles
me deram".
Charlie engoliu altamente, e então os olhos dele se estreitaram
quando ele olhou de volta para Edward. "Não, ela nunca
mencionou isso". 
"Hmm", Edward murmurou.
"Há uma razão pra você ter tocado no assunto?" Charlie
perguntou com um voz dura.
Edward ergueu os ombros. "Elas estão quase expirando. Eu acho
que isso pode machucar os sentimentos de Esme se Bella não
usar o presente dela. Não que ela fosse dizer alguma coisa".
Eu encarei Edward sem acreditar.
Charlie pensou por um minuto. "Provavelmente é uma boa idéia
você ir visitar a sua mãe, Bella. Ela ia adorar. No entanto, eu
estou surpreso que você não tenha falado nada sobre isso."
"Eu esquecí", eu admití.
Ele fez uma careta. "Você esqueceu que alguém te deu passagens
da avião?"
"Mmm", eu murmurei vagamente, e me virei de volta para a pia.
"Eu percebí que você disse que elas estavam prestes e expirar,
Edward", Charlie continuou. "Quantas passagens os seus pais
deram pra ela?"
"Só uma pra ela... e uma pra mim".
O prato que eu derrubei dessa vez caiu na pia, então ele não fez
muito barulho. Eu podia ouvir claramente o bufo afiado do meu
pai enquanto ele exalava. O sangue correu para o meu rosto,
cheio de irritação e vergonha. Porque Edward estava fazendo
isso? Eu olhei para as bolhas na pia, entrando em pânico.
"Isso está fora de questão!" Charlie estava abruptamente
enraivecido, gritando as palavras.
"Porque?" Edward perguntou, sua voz saturada com uma surpresa
inocente. "Você disse que era uma boa idéia ela ver a mãe".
Charlie ignorou ele. "Você não vai a lugar algum com ele,
mocinha!" ele gritou. Eu me virei quando ele estava apontando um
dedo para mim.
A raiva pulsou em mim automaticamente, uma reação instintiva ao
tom dele.
"Eu não sou uma criança, pai. E eu não estou mais de castigo,
lembra?"
"Oh sim, está sim. Começando agora".
"Por quê?!"
"Porque eu disse que sim".
"Eu preciso te lembrar de que sou legalmente adulta, Charlie?"
______________________5

"Essa é a minha casa - você segue as minhas regras!"
O meu olhar ficou frio. "Se é isso que você quer. Você quer que
eu me mude essa noite? Ou eu posso ter alguns dias para fazer
as malas?"
O rosto de Charlie ficou vermelho brilhante. Eu
instantaneamente me sentí horrivel por usar a tática de me
mudar.
Eu respirei fundo e tentei fazer o meu tom ficar mais razoável.
"Eu vou ficar de castigo sem reclamar quando eu tiver feito
alguma coisa, pai, mas eu não vou pagar pelos seus preconceitos".
Ele gaguejou, mas conseguiu se manter coerente.
"Agora, eu sei que você sabe que eu tenho todos os direitos de
ver a mamãe nos fins de semana. Vocâ não pode me dizer
honestamente que estaria contra o plano se eu estivesse indo
com Alice ou Angela".
"Garotas", ele rosnou, com um movimento de cabeça.
"Você se incomodaria se eu levasse Jacob?"
Eu só havia escolhido o nome porque eu sabia da preferência do
meu pai por Jacob, mas eu rapidamente desejei não o ter feito;
os dentes de Edward se trincaram com um estalo audível.
O meu pai lutou pra se recompor antes de responder. "Sim", ele
disse com uma voz que não convencia. "Isso me incomodaria".
"Você é um péssimo mentiroso, pai".
"Bella -"
"Não é como se eu estivesse fugindo pra Las Vegas pra ser uma
garota de show ou algo assim. Eu vou ver a mamãe.", eu o lembrei.
"Ela tem tanta autoridade paterna sobre mim quanto você".
Ele me passou um olhar contestador.
"Você está implicando alguma coisa sobre a capacidade de mamãe
de cuidar de mim?"
Charlie enrijeceu com a ameaça implicita na minha pergunta.
"É melhor você esperar que eu não mencione isso pra ela", eu
disse.
"É melhor você não mencionar", ele avisou. "Eu não estou feliz
com isso, Bella".
"Não ha nenhum motivo pra você ficar chateado".
Ele revirou os olhos, mas eu podia sentir que a tempestade
estava acabada.
Eu me virei pra tirar o ralo da pia. "Então o meu dever de casa
está feito, o seu jantar está pronto, os pratos estão lavados, e
eu não estou de castigo. Eu vou sair. Eu vou estar de volta antes
das dez e meia".
"Onde você vai?" O rosto dele, quase de volta ao normal, ficou
vermelho de novo.
"Eu não tenho certeza", eu admití. "No entanto, eu me manterei
num raio de dez milhas. Tudo bem?" 
Ele rosnou alguma coisa que não soou como uma aprovação, e
marchou pra fora da sala. Naturalmente, assim que terminei de
vencer a briga, eu comecei a me sentir culpada.
"Nós vamos sair?", Edward perguntou, a voz dele estava baixa
mas entusiamada.
Eu me virei para encará-lo. "Sim. Eu acho que gostaria de falar
com você a sós"
Ele não pareceu tão apreensivo quanto eu achei que ele deveria
estar.
Eu esperei pra começar quando estavamos seguramente no carro
dele.
"O que foi aquilo?" Eu quis saber.
"Eu sei que você quer ver a sua mãe, Bella - Você estava falando
sobre ela no sono. Preocupada na verdade".
"Tenho?"
Ele balançou a cabeça. "Mas claramente você era coverde demais
pra lidar com Charlie, então eu intercedí em seu nome".
"Intercedeu? Você atirou para os tubarões!"
Ele rolou os olhos. "Eu não acho que você estava em perigo".
"Eu te disse que não queria brigar com Charlie".
"Ninguém disse que você precisava".
Eu encarei ele. "Eu não consigo me segurar quando ele fica
mandão daquele jeito - os meus instintos naturais de adolescente
me dominam".
Ele gargalhou. "Bem, isso não é culpa minha".
Eu olhei pra ele, especulando. Ele não pareceu notar. O rosto
dele estava sereno enquanto ele olhava para o para-brisa. Algo
estava estranho, mas eu não conseguia identificar o que. Ou
talvez fosse só a minha imaginação de novo, correndo selvagem
como tinha feito essa tarde.
"Essa urgência de ir para a Flórida tem alguma coisa a ver com a
festa na casa de Billy?"
A mandíbula dele flexionou. "Absolutamente nada. Não
importaria se você estivesse aqui ou do outro lado do mundo,
você ainda não iria".
Era como havia sido com Charlie antes - sendo tratada como uma
criança mal comportada. Eu apertei os meus dentes pra não
começar a gritar. Eu não queria brigar com Edward também.
Edward suspirou, e quando ele falou a voz dele era cálida e macia
novamente. "Então o que você quer fazer essa noite?" ele
perguntou.
"Podemos ir à sua casa? Já faz tanto tempo que eu não vejo
Esme".
Ele sorriu. "Ela vai gostar disso. Especialmente quando ela ouvir o
que vamos fazer esse fim de semana".
Eu rosnei em defesa.
Nós não ficamos fora até tarde, assim como eu prometí. Eu não
fiquei surpresa de ver as luzes ainda acesas quando nós paramos
na frente da casa - eu sabia que Charlie estaria esperando pra
gritar um pouco mais comigo.
"É melhor você não entrar", eu disse. "Isso só vai piorar as
coisas".
"Os pensamentos dele estão relativamente calmos", Edward
zombou. A expressão dele me fez imaginarse havia alguma piada
que eu estava perdendo. Os cantos dos lábios dele se contorciam,
lutando com um sorriso.
"Eu te vejo mais tarde", eu murmurei mal humorada.
Ele riu e beijou o topo da minha cabeça. "Eu vou voltar quando
Charlie estiver roncando".
A TV estava alta quando eu entrei. Eu considerei brevemente
tentar me arrastar pra passar por ele.
"Você pode vir aqui, Bella?" Charlie chamou, estragando o plano.
Os meus pés se arrastavam enquanto eu dava os cinco passos
necessários.
"O que foi, pai?"
"Você se divertiu essa noite?" ele perguntou. Ele parecia doente
de tranquilidade. Eu procurei pelos significados nas palavras dele
antes de responder.
"Sim", eu disse hesitantemente.
"O que você fez?"
Eu levantei os ombros. "Saí com Alice e Jasper. Edward venceu
Alice no xadrez, e depois eu joguei com Jasper. Ele me
enterrou".
Eu sorrí. Edward e Alice jogando xadrez era a coisa mais
engraçada que eu já tinha visto. Eles sentavam lá praticamente
imóveis, olhando para o tabuleiro, enquanto Alice previa os
movimentos que ele faria e ele escolhia fazer os movimentos que
ela escolhia em retorno na mente dela. Eles jogavam a maior
parte do jogo nas mentes deles; eu acho que eles haviam mexido
duas peças quando Alice de repente jogou o rei dela e se rendeu.
Tudo isso levou três minutos.
Charlie apertou o botão de "mudo" - uma ação estranha.
"Olha, tem uma coisa que eu preciso dizer" Ele fez uma careta,
parecendo muito desconfortável.
Eu sentei ereta, esperando. Ele encontrou meu olhar por um
segundo antes de passar os olhos dele para o chão. Ele não disse
mais nada.
"O que é, pai?"
Ele supirou. "Eu não sou bom com esse tipo de coisa. Eu não sei
como começar..."
Eu esperei de novo.
"Ok, Bella. O negócio é o seguinte". Ele se levantou do sofá e
começou a andar pra frente e pra trás pela sala, olhando pro pés
dele o tempo inteiro.
"Você e Edward parecem ser bastante sérios, e existem coisas
com as quais você precisa ter cuidado.. Eu sei que você é uma
adulta agora, mas você ainda é jovem, Bella, e existe um monte
de coisas importantes que você precisa saber quando você... bem,
quando você se involver fisicamente com -"
"Oh, por favor, por favor não!" eu implorei, ficando de pé. "Por
favor me diga que você não está tentando ter uma conversa
sobre sexo comigo, Charlie".
Ele olhou para o chão. "Eu sou o seu pai. Eu tenho
responsabilidades. Lembre-se, eu estou tão envergonhado quanto
você".
"Eu não acho que isso seja humanamente possível. De qualquer
forma, a mamãe já se encarregou disso a cerca de dez anos
atrás. Você está atrasado".
"Você não tinha um namorado a dez anos atrás", ele murmurou
sem querer. Eu podia reparar que ele estava batalhando com a
sua vontade de esquecer o assunto. Nós dois estávamos de pé,
olhando para o chão, e desviando o olhar um do outro.
"Eu não acho que as coisas essenciais tenham mudado tanto
assim", eu murmurei, e o meu rosto tinha que estar tão vermelho
quanto o dele estava. Isso estava além do sétimo círculo de
Hades; pior ainda era me dar conta de que Edward sabia que isso
ia acontecer. Não é de adimirar que ele estivesse se divertindo
no carro.
"Só me diga que você dois estão sendo responsáveis" Charlie
implorou, obviamente desejando que um buraco se abrisse no
chão pra que ele caísse nele.
"Não se preocupe, pai, não é assim"
"Não que eu não confie em você, Bella, mas eu sei que você não
quer me contar nada sobre isso, e você sabe que eu realmente
não quero ouvir. No entanto, eu tentarei ser mente aberta. Eu sei
que os tempos mudaram".
Eu rí estranhamente. "Talvez os tempos tenham, mas Edward é
muito antiquado. Você não tem nada com o que se preocupar".
Charlie suspirou. "É claro que ele é", ele murmurou.
"Ugh!" eu rugí. "Eu realmente queria que você não estivesse me
forçando a dizer isso, pai. Realmente. Mas...eu sou... virgem,e eu
não tenho planos imediatos para mudar esse status".
Nós dois enrijecemos, mas ai o rosto de Charlie ficou suave. Ele
pareceu acreditar em mim.
"Posso ir a para a cama agora? Por favor?"
"Em um minuto", ele disse.
"Aw, por favor, pai? Eu estou implorando".
"A parte embaraçosa já passou, eu prometo", ele me assegurou.
Eu olhei para ele, e fiquei feliz por ele parecer mais relaxado,
que o rosto dele estava de volta a cor regular. Ele afundou no
sofá, suspirando de alívio por ele ter passado pelo seu discurso
sobre sexo.
"O que é agora?"
"Eu só queria saber como anda aquela coisa de equilíbrio"
"Oh. Bem, eu acho. Eu fiz planos com Angela hoje. Eu vou ajudar
ela com os anúncios da formatura. Só nós garotas".
"Isso é bom. E quanto a Jake?"
Eu suspirei. "Eu ainda não arranjei isso, pai".
"Continue tentando, Bella. Eu sei que você fará a coisa certa.
Você é uma pessoa boa".
Isso foi golpe baixo.
"Claro, claro", eu concordei. A resposta automática quase me fez
sorrir - isso foi uma coisa que eu aprendí com Jacob. Eu até usei
o mesmo tom padronizado que ele usava com o pai.
Charlie deu um sorriso e religou o som. Ele afundou mais nas
almofadas, satisfeito com o seu trabalho dessa noite. Eu podia
notar que ele ficaria acompanhando esse jogo por um bom tempo.
"Boa noite, Bells"
"Te vejo de manhã!" Eu corrí pelas escadas.
Edward já tinha ido embora amuito tempo e não voltaria até
Charlie estar dormindo - ele provavelmente estava lá fora
caçando ou fazendo qualquer coisa para passar o tempo - então
eu não tive pressa de tirar a roupa para ir pra cama. Eu não
estava com humor pra ficar sozinha, mas eu certamente não ia
descer e ficar com o meu pai, só no caso de ainda haver algum
tópico no assunto do sexo que ele ainda não tenha tocado antes;
eu tremí.
Então, graças a Charlie, eu estava ferida e ansiosa. O meu dever
de casa estava pronto e eu não estava melodramática o
suficiente pra ler ou ouvir música.
Eu considerei ligar para Renée com as notícias da minha visita,
mas aí eu me dei conta de que eram três horas a mais na Flórida,
e ela devia estar dormindo.
Eu podia ligar pra Angela, eu achei.
Mas de repente eu me dei conta de que não era com Angela que
eu queria falar. Que eu precisava falar.
Eu olhei para a janela negra vazia, mordendo o meu lábio. Eu não
sei quanto tempo eu fiquei lá pesando os prós e os contras -
fazer a coisa certa em relação a Jacob, ver o meu amigo mais
próximo de novo, ser uma boa pessoa, versus fazer Edward ficar
furioso comigo. Dez minutos talvez. Tempo suficiente pra decidir
que os prós eram válidos e que os contras não eram. Edward só
estava preocupado com a minha segurança, e eu sabia que não
havia realmente um problema nesse sentido.
O telefone não ajudava em nada; Jacob se recusava a atender os
meus telefonemas desde que Edward retornou.
Além do mais, eu precisava vê-lo - ver ele sorrindo do jeito que
ele costumava fazer. Eu precisava repor aquela terrível última
memória do rosto dele condoído e se contorcendo de dor se um
dia eu quisesse voltar a ter paz de espírito.
Eu provavelmente tinha uma hora. Eu podia ir correndo até La
Push e estar de volta antes que Edward se desse conta que eu
havia saído. Já passava do meu toque de recolher, mas será que
Charlie realmente se preocuparia com isso quando Edward não
estava envolvido? Havia um jeito de descobrir.
Eu agarrei o meu casaco e passei os meus braços pelas mangas e
corrí pelas escadas.
Charlie olhou pra cima do jogo, instantaneamente suspeito.
"Você se importa se eu for ver Jake essa noite?" eu perguntei
sem fôlego. "Eu não vou demorar".
Assim que eu disse o nome de Jake, a expressão de Charlie
relaxou em um sorriso bobo. Ele não parecia surpreso pelo
discurso dele fazer efeito tão rapidamente. "Claro, guria. Sem
problema. Pode ficar fora o quanto quiser".
"Obrigada, pai", eu disse enquanto saia pela porta.
Como qualquer fugitiva, eu não pude deixar de olhar por cima do
ombro algumas vezes enquanto corria para a minha caminhonete,
mas a noite estava tão escura que na verdade não havia sentido
nisso. Eu tive que sentir o caminho na lateral da caminhonete até
encontrar a maçaneta.
Os meus olhos estavam apenas começando a se ajustar enquanto
eu colocava as chaves na ignição. Eu girei elas com força para a
esquerda, mas ao invés de ligar rosnando alto, o motor só fez um
clique. Eu tentei de novo com os mesmo resultados.
E aí um pequeno movimento na minha visão periférica me fez
pular.
"Gah!", eu ofeguei de choque quando me dei conta de que não
estava sozinha na cabine.
Edward estava sentado muito rígido, um fraco ponto brilhante na
escuridão, só as mãos dele se moviam enquanto ele girava um
misterioso objeto preto pra lá e pra cá. Ele olhava para o objeto
enquanto falava.
"Alice ligou", ele murmurou.
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