Esta é a Parte 2
Eu tentei ficar calmo, não entrar em
pânico. Se eu pudesse a manter calada por alguns
momentos, me dar uma chance de
destruir a evidência… e negar a história dela alegando
uma lesão na cabeça.
Não deveria ser fácil manter essa
garota silenciosa e reservada calada? Se ela confiasse em
mim, só por alguns instantes…
-Por favor, Bella. - eu disse, e minha
voz estava muito intensa, porque de repente eu
queria que ela
confiasse em mim. Queria muito, e não só por causa do acidente. Que
vontade estúpida. Que sentido faria
ela confiar em mim?
- Por quê? - ela perguntou, ainda na
defensiva.
- Confie em mim. - eu pedi.
- Promete que vai me explicar tudo
depois?
Deixou-me nervoso ter que mentir para
ela de novo, quando eu queria tanto que eu
merecesse a confiança dela. Então,
quando eu a respondi, retruquei.
- Tudo bem.
- Tudo bem. - ela revidou no mesmo
tom.
Enquanto a tentativa de resgate
começava ao nosso redor - adultos chegando, autoridades
foram chamadas, sirenes à distância -
eu tentei ignorar a garota e colocar minhas
prioridades em ordem. Busquei em cada
mente no estacionamento, das testemunhas e das
que chegaram depois, mas não consegui
achar nada de perigoso. Muitos estavam
surpresos de me ver ao lado de Bella,
mas todos concluíram - porque não havia mais
nenhuma conclusão a se tirar - que
eles não tinham me notado parado ao lado da menina
antes do acidente.
Ela era a única que não aceitava a
explicação mais fácil, mas também seria considerada a
fonte menos confiável. Ela estava
aterrorizada, traumatizada, para não falar a pancada na
cabeça. Possivelmente em choque. Seria
aceitável para a história dela estar confusa, certo?
Ninguém a daria atenção com tantos
outros expectadores.
Eu recuei quando ouvi os pensamentos
de Rosalie, Jasper e Emmett, que chegavam agora
na cena. Seria o inferno pagar por
isto à noite…
Eu queria resolver o problema da
fissura que meus ombros tinham deixado no carro
caramelo, mas a garota estava perto
demais. Teria que esperar até que ela estivesse
distraída.
Era frustrante esperar - tantos olhos
humanos em mim - enquanto os humanos lutavam
com a van, tentando tirá-la de nós. Eu
podia ter ajudado, apressado o processo, mas já
estava com problemas suficientes e a
menina tinha olhos atentos. Finalmente, eles
conseguiram afastá-la longe o
suficiente para que os paramédicos entrassem com as
macas.
Um rosto grisalho e familiar apareceu.
- Oi, Edward.
- Brett Warner disse. Ele também era um enfermeiro
registrado, e eu o
conhecia bastante bem do hospital. Foi
um golpe de sorte - a única sorte de hoje - foi ele
quem chegou até nós primeiro. Em seus
pensamentos, ele estava notando que eu parecia
alerta e calmo. - Você está bem,
garoto?
- Perfeito, Brett. Nada me acertou.
Mas receio que a Bella aqui talvez tenha uma
concussão. Ela bateu a cabeça forte
quando a tirei da frente…
Brett se virou para a menina, que me
lançou um olhar traído. Ah, estava certo. Ela era o
tipo de mártir calado - preferia
sofrer em silêncio.
Ela não contradisse minha história
imediatamente e isso me deixou melhor.
O próximo paramédico insistiu que eu
me deixasse ser tratado, mas não foi tão difícil
desencorajá-lo. Eu prometi que
deixaria meu pai me examinar, e ele desistiu. Com a
maioria dos humanos, só falar com
confiança era necessário. Com a maioria dos humanos,
menos a menina, é claro. Ela se
encaixava em algum padrão?
Quando eles colocaram o protetor de
pescoço nela - e seu rosto ficou escarlate de
vergonha - usei a distração para
arrumar silenciosamente o formato do amassado no carro
caramelo com meu pé. Só meus irmãos
notaram o que eu estava fazendo e escutei a
promessa mental de Emmett de arrumar o
que eu deixasse para trás.
Agradecido pela ajuda dele - e mais
agradecido que Emmett, pelo menos, já tinha
perdoado minha escolha perigosa - fiquei
mais relaxado quando subi no banco da frente da
ambulância ao lado de Brett.
O chefe de polícia chegou antes que
eles colocassem Bella no fundo da ambulância.
Embora os pensamentos do pai de Bella
estivessem além das palavras, o pânico e a
preocupação emanando da mente do homem
como qualquer outro nos arredores.
Ansiedade e culpa sem palavras, muito
dos dois sentimentos, o lavou quando ele viu sua
única filha na maca.
Lavaram dele e passaram para mim,
ecoando e ficando mais forte. Quando Alice tinha me
avisado que matar a filha de Charlie
Sawn o mataria também, ela não estava exagerando.
Minha cabeça se curvou de culpa
enquanto escutava sua voz em pânico.
- Bella! - ele gritou.
- Eu estou bem Char… pai. - ela
suspirou. - Não há nada de errado comigo.
A garantia dela mal acalmou o terror
dele. Ele se virou para o paramédico mais perto e
pediu mais informação.
Não foi até eu o ouvir falando,
formando frases perfeitamente coerentes tirando seu pânico
que eu percebi que a ansiedade e
preocupação dele não eram além das palavras. Eu só…
não podia ouvir as palavras exatas.
Hmm. Charlie Swan não era tão
silencioso como a filha, mas eu podia ver de onde ela
tinha herdado. Interessante.
Nunca tinha passado muito tempo
envolta do chefe de polícia da cidade. Sempre o
considerei um homem de raciocínio
lento - agora eu entendi que eu é que era lento. Os
pensamentos dele eram parcialmente
ocultos, não ausentes. Eu só podia escutar o caráter
deles, o tom…
Queria escutar com mais atenção, ver
se eu podia achar nessa nova pequena peça a chave
para os segredos da garota. Mas Bella
foi trancada na parte trazeira então, e a ambulância
estava seguindo seu caminho.
Era difícil me desviar dessa possível
solução para o mistério que tinha me deixado
obcecado. Mas eu tinha que pensar
agora - olhar o que havia sido feito hoje de cada
ângulo. Eu tinha que escutar, ter
certeza de que não tinha colocado todos nós em tanto
perigo que teríamos que partir
imediatamente. Tinha que me concentrar.
Não havia nada nos pensamentos dos
paramédicos para me preocupar. Até onde eles
sabiam, não tinha nada de errado com a
garota. E Bella estava mantendo a história que eu
tinha contado, até agora.
A prioridade, quando chegamos ao
hospital, era ver Carlisle. Eu corri pelas portas
automáticas, mas fui incapaz de abrir
mão de assistir totalmente a Bella; continuei
prestando atenção nela através dos
pensamentos dos paramédicos.
Foi fácil achar a mente familiar de
meu pai. Ele estava um seu escritório pequeno, sozinho
- o segundo golpe de sorte desse dia
azarado.
- Carlisle.
Ele escutou minha aproximação, e ficou
alarmado assim que viu meu rosto. Ele ficou em
pé, pálido como um fantasma. Ele se
inclinou para frente da mesa de nogueira organizada.
Edward, você não…
- Não, não, não é isso.
Ele respirou fundo. Claro que não. Desculpe que pensei isso. Seus olhos, claro, eu
devia
reconhecido… Ele
notou meus olhos ainda eram dourados com alívio.
- Mas ela está machucada, Carlisle,
provavelmente não é grave, mas…
- O que aconteceu?
- Um acidente de carro estúpido. Ela estava
no lugar errado, na hora errada. Mas eu não
podia fica parado lá - deixar que
fosse atropelada…
Comece de novo, eu não entendo. Como você se envolveu?
- Uma van derrapou no gelo. - eu
sussurrei. Olhei a parede atrás dele enquanto falava. Ao
invés de ser coberta com diplomas, ele
tinha só uma pintura à óleo, uma de suas favoritas,
um Hassam não descoberto. - Ela estava
no caminho. Alice viu acontecendo, mas não
havia tempo para fazer nada além de
correr pelo estacionamento e tirá-la da frente.
Ninguém notou… exceto ela. Eu tive que
parar a van também, mas de novo, ninguém viu…
a não ser ela. Eu… eu sinto muito,
Carlsile. Não queria nos colocar em perigo.
Ele deu a volta na mesa e colocou a
mão no meu ombro.
Você fez a coisa certa. E não deve ter sido fácil para
você. Estou orgulhoso, Edward.
Eu o olhei nos olhos. - Ela sabe que
tem algo… de errado comigo.
- Isso não importa. Se tivermos que ir
embora, nós iremos. O que ela disse?
Balancei a cabeça, um pouco frustrado.
- Nada, ainda.
Ainda?
- Ela concordou com a minha versão dos
eventos… mas está esperando uma explicação.
Ele franziu a testa, pensando.
- Ela bateu a cabeça - bom, eu fiz
isso. - continuei rapidamente. - Eu a bati contra o chão
com bastante força. Ela parece bem,
mas… não acho que será difícil desacreditá-la.
Senti-me rude só de dizer as palavras.
Carlisle ouviu o desgosto na minha
voz. Talvez isso não seja necessário. Vamos ver o que
acontece, está bem? Parece que tenho uma paciente para ver.
- Por favor. - eu disse. - Estou
preocupado que a tenha machucado.
A expressão de Carslile se aliviou.
Ele passou o dedo pelo cabelo, só alguns tons mais claro
que seus olhos dourados, e riu.
Foi um dia interessante para você, não foi? Em sua mente, eu podia ver a ironia, e era
engraçada - para ele, pelo menos. Uma
inversão de papéis. Durante aquele momento curto
e impensado em que corri pelo
estacionamento congelado, eu tinha passado de assassino
para protetor.
Eu ri com ele, lembrando de ter
certeza de que Bella nunca precisaria de proteção de nada
além de mim mesmo. Minha risada tinha
um tom irritado porque, apesar da van, isso ainda
era verdade.
Eu esperei no escritório de Carlsile -
uma das horas mais compridas que já vivi - escutando
o hospital cheio de pensamentos.
Tyler Crowley, o motorista da van,
parecia estar mais machucado que Bella, e a atenção se
voltou para ele enquanto ela esperava
a sua vez de fazer o raio-X. Carlisle ficou nos
fundos, confiando no diagnóstico dos
residentes de que a garota só estava levemente
machucada. Isso me deixou ansioso, mas
sabia que ele tinha razão. Uma espiada no rosto
dele e ela imediatamente se lembraria
de mim, do fato que havia algo de errado com a
minha família, e talvez isso a fizesse
falar algo.
Ela certamente tinha um parceiro
disposto o suficiente para conversar. Tyler estava
consumido por culpa com o fato de
quase tê-la matado, e não conseguia parar de falar
sobre isso. Eu podia ver a expressão
dela através dos olhos dele, e estava claro que ela
queria que ele parasse. Como ele não
via isso?
Houve um momento tenso para mim quando
Tyler perguntou como ela tinha saído da
frente.
Eu esperei, sem respirar, como ela
hesitou.
- Hmmm… - ele a escutou
falar. Então ela fez uma pausa tão longa que Tyler se perguntou
se sua pergunta a tinha confundido.
Finalmente, ela continuou. - Edward me puxou de lá.
Eu suspirei. Então minha respiração
acelerou. Eu nunca a tinha ouvido falar meu nome
antes. Gostei do som - mesmo só de
escutar pelos pensamentos de Tyler. Queria escutar
com meus próprios ouvidos…
- Edward Cullen. - ela
disse, quando Tyler não entendeu de quem ela tinha falado.
Encontrei-me na porta, a mão na
maçaneta. O desejo de vê-la estava ficando mais forte.
Eu tive que me lembrar de ter cuidado.
- Ele estava do meu lado.
- Cullen? - Hm. Que estranho. - Não o vi… - Podia ter jurado… -
Caramba, acho que foi
tudo tão rápido. Ele está bem?
- Acho que sim. Está em algum lugar por aqui, mas ninguém o
obrigou a usar uma maca.
Eu vi o olhar pensativo no rosto dela,
a suspeita ficando mais forte em seus olhos, mas
essas pequenas mudanças de expressão
foram perdidas em Tyler.
Ela é bonita, ele
estava pensando, quase surpreso. Mesmo toda desarrumada. Não faz meu
tipo, mas… devia convidá-la para sair. Compensar por hoje…
Então fui para o corredor, a meio
caminho da sala de emergência, sem pensar por um
segundo no que estava fazendo.
Por sorte, a enfermeira entrou na sala
antes de mim - era a vez de Bella tirar o raio-X.
Encostei-me à parede em um canto
escuro e tentei me controlar enquanto ela era levada
para longe.
Não importava que Tyler pensou que ela
era bonita. Qualquer um notaria isso. Não havia
razão para eu me sentir… Como eu me
sentia? Aborrecido? Ou enfurecido estava mais
perto a verdade? Isso não fazia nenhum
sentido.
Eu fiquei onde eu estava o quanto eu
pude, mas a impaciência me venceu e eu voltei pra
sala de radiologia. Ela já tinha sido
levada de volta ao pronto socorro, mas eu podia dar
uma olhada em seus Raios-x enquanto a
enfermeira não voltava.
Eu me senti mais calmo quando vi. Sua
cabeça estava bem. Eu não a tinha machucado,
não exatamente.
Carlisle me apanhou lá.
Você parece melhor, ele
comentou.
Eu apenas olhei pra frente. Nós não
estávamos sozinhos, os corredores cheios de
ordenados e visitantes.
Ah, sim. Ele encravou
seus raios-x a tábua iluminada, mas eu não precisava de uma
segunda olhada. Eu vejo. Ela está absolutamente bem. Muito bem, Edward.
O som da aprovação de meu pai criou
uma reação mista em mim. Eu estaria contente,
exceto por saber que ele não aprovaria
o que eu ia fazer agora. Ao menos, ele não
aprovaria se soubesse de minhas reais
motivações…
“Eu acho que vou conversar com ela -
depois que ela ver você,” eu suspirei. “Aja
naturalmente, como se nada tivesse
acontecido. Esqueça isso.” Todas razões aceitáveis.
Carlisle acenou ausente, ainda olhando
pros seus raios-x. “Boa idéia. Hmm.”
Eu olhei pra ver o que o tinha
interessado.
Olhe todas as contusões cicatrizadas! Quantas vezes a mãe
dela a derrubou?
Carlisle sorriu pra si mesmo por sua
brincadeira.
“Eu estou começando a pensar que essa
garota tem apenas má sorte. Sempre no lugar
errado na hora errada.”
Forks é certamente o lugar errado pra ela, com você aqui.
Eu me retirei.
Vá em frente. Esqueça essas coisas. Eu estarei com você
logo.
Eu saí rapidamente, me sentindo
culpado. Talvez eu fosse um mentiroso muito bom, se eu
pudesse enganar Carlisle.
Quando eu cheguei ao pronto socorro,
Tyler estava resmungando sob sua respiração,
ainda se desculpando. A garota estava
tentando escapar do remorso dele tentando dormir.
Os olhos dela estavam fechados, mas sua
respiração não estava contínua, e uma vez ou
outra seus dedos se torciam
impacientemente.
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Eu encarei seu rosto por um longo
tempo. Essa era a última vez que eu a veria. Isso
disparou uma dor aguda em meu peito.
Seria porque eu odiava deixar qualquer quebracabeça
sem solução? Isso não parecia uma
explicação suficiente.
Finalmente, eu respirei fundo e fiquei
a vista.
Quando Tyler me viu, ele começou a
falar, mas eu coloquei um dedo em meus lábios.
“Ela está dormindo?” Eu murmurei.
Os olhos de Bella se abriram
rapidamente e focou em meu rosto. Eles se arregalaram por
um momento, e depois se estreitaram
por raiva ou suspeita. Eu lembrei que eu tinha uma
encenação pela frente, então eu sorri
pra ela como se nada incomum houvesse acontecido
esta manhã - apenas uma pancada na
cabeça e um pouco de imaginação livre.
“Hey, Edward,” Tyler disse. “Eu
lamento muito -”
Eu levantei uma mão pra parar suas
desculpas. “Sem sangue, sem danos,” eu disse
humoradamente. Sem pensar, eu sorri
muito largamente por minha brincadeira particular.
Era assustadoramente fácil ignorar
Tyler, deitado não mais que 1.20m de mim, coberto de
sangue fresco. Eu nunca tinha
entendido como Carlisle era capaz de fazer aquilo - ignorar
o sangue de seus pacientes pra cuidar
deles. Não seria a constante tentação muito
distraída, muito perigosa…? Mas,
agora… Eu podia ver como, se você estivesse focado o
suficiente em algo mais forte o
suficiente, a tentação não seria nada demais.
Apesar de fresco e exposto, o sangue
de Tyler não tinha nada a ver com o de Bella.
Eu mantive minha distância dela, me
sentando nos pés do colchão de Tyler.
“Então, qual o veredicto?” eu
perguntei a ela.
Ela fez bico. “Não há nada de errado
comigo, mas eles não vão me deixar ir. Como você
não está acorrentado a uma maca como o
resto de nós?”
Sua impaciência me fez sorrir
novamente.
Eu podia ouvir Carlisle no corredor
agora.
“Tudo depende dos seus contatos,” eu
disse suavemente. “Mas não se preocupe, eu vim
libertar você.”
Eu assisti sua reação cuidadosamente
enquanto meu pai entrava na sala. Os olhos dela se
arregalaram e sua boca realmente abriu
em surpresa. Eu gemi internamente. Sim, ela
certamente tinha notado a semelhança.
“Então, Srta. Swan, como você está se
sentindo?” Carlisle perguntou. Ele tinha uma
maneira maravilhosamente calma que
deixava a maioria dos pacientes bem em poucos
momentos. Eu não poderia falar como
isso afetou Bella.
“Eu estou bem,” ela disse quietamente.
Carlisle fixou seus raios-x no painel
de luz acima da cama. “Seu raio-X parece bom. Sua
cabeça está doendo? Edward disse que
você bateu com força.”
Ela suspirou, e disse, “Eu estou bem,”
novamente, mas dessa vez a impaciência vazou em
sua voz. Depois ela olhou de relance
em minha direção.
Carlisle se aproximou dela e correu
seus dedos levemente por seu crânio até que ele
encontrou o galo embaixo de sua
cabeça.
Eu fui pego de surpresa pela onda de
emoção que passou por mim.
Eu tinha visto Carlisle trabalhar com
humanos mil vezes. Anos atrás, eu tinha até o ajudado
informalmente - embora apenas em
situações em que sangue não estava envolvido. Então
não era uma coisa nova pra mim,
assisti-lo interagir com a garota como se ele fosse tão
humano quanto ela. Eu tinha invejado
seu controle muitas vezes, mas não era o mesmo
que essa emoção. Eu invejei mais que
seu controle. Eu sofri pela diferença entre Carlisle e
eu - que ele pudesse tocá-la tão
gentilmente, sem receio, sabendo que nunca a
machucaria…
Ela estremeceu, e eu pulei do meu
assento. Eu tive que me concentrar por um momento
para manter minha postura relaxada.
“Sensível ?” Carlisle perguntou.
Seu queixo se levantou um pouco. “Na
verdade não,” ela disse.
Outro pequeno pedaço de sua personagem
se encaixou: ela estava brava. Ela não gostava
de mostrar fraqueza.
Possivelmente a criatura mais
vulnerável que eu já vi, e ela não quer parecer fraca. Uma
gargalhada escorregou através de meus
lábios.
Ela me olhou novamente.
“Bem,” Carlisle disse. “Seu pai está
na sala de espera - você pode ir pra casa com ele
agora. Mas volte se tiver vertigens ou
qualquer problema com a sua visão.”
O pai dela estava aqui? Eu varri os
pensamentos da sala de espera lotada, mas não
conseguia distinguir sua voz mental do
grupo antes que ela estivesse falando de novo, o
rosto ansioso.
- Posso voltar pra a escola?
- Talvez devesse descansar hoje. -
Carlisle sugeriu.
Os olhos dela se voltaram para mim. - Ele vai para a escola?
Agir normalmente… acalmar as coisas…
esquecer a sensação quando ela me olha nos
olhos…
-Alguém tem que espalhar a boa notícia
de que sobrevivemos. - eu disse.
- Na verdade - Carlisle corrigiu - a
maior parte da escola parece estar na sala de espera.
Eu pressenti a reação dela dessa vez -
sua aversão à atenção. Ela não me desapontou.
- Ah, não - ela lamentou e colocou as
mãos no rosto.
Eu gostei que finalmente adivinhei uma
coisa certa. Estava começando a entendê-la…
- Quer ficar aqui? - Carlisle
perguntou.
- Não, não! - ela disse rapidamente,
girando as pernas sob o colchão e escorregando para
ficar em pé. Ela tropeçou, sem
equilíbrio, nos braços de Carlisle. Ele a pegou e a firmou.
Novamente, a inveja me inundou.
- Estou bem. - ela disse antes que ele
pudesse comentar, um rosa claro em suas
bochechas.
Claro, aquilo não incomodaria
Carlisle. Ele teve certeza que ela tinha recuperado o
equilíbrio e soltou as mãos.
- Tome um Tylenol para a dor. - ele
instruiu.
- Não está doendo tanto assim.
Carlisle sorriu e assinou o prontuário
dela. - Parece que vocês dois tiveram muita sorte.
Ela virou levemente o rosto, para me
encarar com olhos rígidos. - A sorte foi Edward por
acaso estar parado ao meu lado.
- Ah, bem, sim. - Carlisle concordou
depressa, escutando a mesma coisa na voz dela que
eu escutei. Ela não tinha pensado que
suas suspeitas eram coisas da sua imaginação.
Ainda não.
Toda sua, Carlisle
pensou. Cuide do jeito que achar melhor.
- Muito obrigado. - eu sussurrei,
rápido e baixo. Nenhum humano me ouviu. Os lábios de
Carlisle se viraram um pouco para cima
com o meu sarcasmo enquanto ele se virava para
Tyler. - Mas acho que você terá que ficar conosco por mais um
tempinho. - ele disse
quando começou a examinar os cortes
deixados pelo vidro quebrado.
Bom, eu tinha feito o estrago, então
era justo que eu tivesse que lidar com ele.
Bella andou deliberadamente na minha
direção, sem parar até que estivesse a uma
distância desconfortável. Lembrei como
eu tinha desejado, antes de todo o estrago, que
ela se aproximasse de mim… Isso já era
zombar desse desejo.
- Posso conversar com você um minuto?
- ela sibilou para mim.
A sua respiração quente tocou meu
rosto e eu tive que dar um passo para trás. A atração
dela não tinha diminuído nem um
pouquinho. Toda vez que ela estava perto de mim,
despertava os meus piores instintos,
os mais urgentes. Veneno inundou minha boca e meu
corpo ansiou para atacar - para
puxá-la para os meus braços e despedaçar sua garganta
nos meus dentes.
Minha mente era mais forte que meu
corpo, mas era por pouco.
- Seu pai está esperando por você. -
eu a lembrei, com o queixo apertado.
Ela olhou para Carlisle e Tyler. Tyler
não estava prestando nem um pouco de atenção, mas
Carlisle estava monitorando cada
respiração que eu dava.
Cuidado, Edward.
- Gostaria de falar com você a sós, se
não se importa. - ela insistiu em uma voz baixa.
Eu gostaria de dizer que me importava
muito, mas sabia que teria que passar por isso uma
hora. Melhor acabar com isso de uma
vez.
Estava cheio de tantas emoções em
conflito quando eu saía do quarto, escutando-a
tropeçar nos próprios pés atrás de
mim, tentando me acompanhar.
Tinha que atuar. Sabia que papel eu
faria - eu já tinha escolhido o personagem. Seria o
vilão. Mentiria, ridicularizaria e
seria cruel.
Isso era contra todos os meus melhores
impulsos - os impulsos humanos aos quais tinha
me agarrado todos esses anos. Nunca
quis merecer mais confiança do que nesse
momento, quando tinha que destruir
qualquer possibilidade que ela existisse.
Foi pior saber que essa seria a última
memória que ela teria de mim. Essa era a cena de
despedida.
Virei-me para ela.
- O que você quer? - perguntei
friamente.
Ela se contraiu um pouco com a minha
hostilidade. Seus olhos ficaram confusos, na
expressão que tinha me assombrado…
- Você me deve uma explicação. - ela
disse em uma voz fraca; o rosto de marfim
empalideceu.
Foi muito difícil manter minha voz
dura. - Eu salvei a sua vida… Não lhe devo nada.
Ela recuou - queimou como ácido ver
que minhas palavras a machucavam.
- Você prometeu. - ela sussurrou.
- Bella, você bateu a cabeça, não sabe
do que está falando.
Então ela se empertigou. - Não há nada
de errado com a minha cabeça.
Ela estava irritada agora, e isso deixou
as coisas mais fáceis para mim. Eu sustentei seu
olhar, deixando meu rosto menos
amigável.
- O que você quer de mim, Bella?
- Quero saber a verdade. Quero saber
por que estou mentindo por você.
O que ela queria era justo - me
frustrou ter que negar isto para ela.
- O que você acha que aconteceu? - eu
quase rosnei para ela.
Suas próximas palavras vieram em uma
corrente. - Só o que eu sei é que você não estava
em nenhum lugar perto de mim… O Tyler
também não o viu, então não venha me dizer
que bati a cabeça com força… Aquela
van ia atropelar nós dois… E não aconteceu, e suas
mãos pareceram amassar a lateral dela…
E você deixou um amassado no outro carro e não
está nada machucado… E a van devia ter
esmagado minhas pernas, mas você a levantou…
- De repente, ela trincou os dentes e
seus olhos estavam brilhando com lágrimas não
derramadas.
Eu a encarei, minha expressão de
escárnio, embora o que sentisse mesmo era medo; ela
realmente tinha visto tudo.
- Acha que eu levantei a van? - eu
perguntei sarcasticamente.
Ela respondeu com um aceno rápido.
Minha voz ficou ainda mais irônica. -
Sabe que ninguém vai acreditar nisso.
Ela lutou para controlar a raiva.
Quando me respondeu, ela falou cada palavra devagar. -
Não vou contar a ninguém.
Ela estava dizendo a verdade - Eu
podia ver isso nos olhos dela. Mesmo furiosos e traídos,
ela iria guardar meu segredo.
Por quê?
O choque disso arruinou a minha
expressão cuidadosamente projetada durante meio
segundo, e logo me recompus.
“E por que isso importa?” Eu
perguntei, trabalhando para manter minha voz severa.
“Importa pra mim,” ela disse intensa.
“Eu não gosto de mentir - então é melhor que tenha
um bom motivo para fazer isso.”
Ela me pediu para confiar nela.
Exatamente como eu queria que ela confiasse em mim.
Mas esse lado da linha eu não podia
atravessar.
A minha voz ficou calosa. “Você não
pode só me agradecer e esquecer isso?”
“Obrigada,” ela disse, e logo ela
fumigou silenciosamente, esperando.
“Você não vai esquecer isso, vai?”
“Não.”
“Nesse caso…” Eu não podia dizer ela a
verdade se eu quisesse… E eu não podia querer.
Eu deixaria ela fazer sua própria
história sobre quem eu era, por que nada podia ser pior
que a verdade - Eu estava vivendo um
pesadelo, diretamente das páginas de uma história
de terror.
“Espero que você goste da decepção.”
Fizemos carranca um para o outro.
Foi ímpar quão amável sua raiva foi.
Como um furioso gatinho, macio e inofensivo, e
também ignorante quanto a sua própria
invulnerabilidade.
Ela ficou rosada e apertou seus dentes
de novo. “Por que você se deu o trabalho então?”
Sua pergunta não era a que eu estava
esperando ou preparado para responder.
Eu perdi as regras do jogo, as quais
eu estava firmado. Eu senti a máscara escorregar da
minha face, e eu disse a ela - nesse
único momento - a verdade.
“Eu não sei.”
Eu memorizei seu rosto uma última vez
- ainda tinha alguns traços de raiva, o sangue
ainda não tinha parado de deixar suas
bochechas rosadas - e então eu me virei e andei
para longe dela.
4 - Visões
Eu voltei para a escola. Esta era a
coisa certa a se fazer, a maneira mais discreta para se
comportar.
No final do dia, quase todos os outros
alunos tinham voltado para as classes também. Só
Tyler e Bella e alguns outros - que
provavelmente estavam usando o acidente como uma
chance para matar aula - continuaram
ausentes.
Não deveria ser tão difícil fazer a
coisa certa. Mas, durante toda a tarde, estava batendo os
dentes contra o desejo que me deixara
querendo matar aula também - ir procurar a garota
de novo.
Como um perseguidor. Um perseguidor
obsessivo. Um vampiro perseguidor obsessivo.
A escola hoje estava - de algum modo,
impossivelmente ainda mais tediosa do que tinha
sido há uma semana. Como coma. Era
como se as cores tivessem sido drenadas dos
tijolos, das árvores, do céu, dos
rostos ao meu redor.
Havia outra coisa certa que eu deveria
estar fazendo… e não estava. Claro, também era
uma coisa errada. Tudo dependia da
perspectiva que você olhava.
Da perspectiva de um Cullen - não só
um vampiro, mas um Cullen, alguém que pertencia a
uma família, uma coisa tão rara em
nosso mundo - a coisa certa a se fazer seria algo
assim:
- Estou surpreso de vê-lo na classe, Edward. Eu ouvi que
você esteve envolvido naquele
acidente horrível hoje de manhã.
- Sim, eu estava, Sr. Banner, mas eu fui o sortudo. - Um sorriso
amigável. - Eu não me
machuquei nem um pouco… gostaria de poder dizer o mesmo por
Tyler e Bella.
- Como eles estão?
- Eu acho que Tyler está bem… só alguns arranhões
superficiais do vidro do pára-brisas.
Embora não tenho certeza quando a Bella. - Uma careta
preocupada. - Ela talvez tenha
uma concussão. Eu escutei que ela estava bastante
incoerente por um tempo - até vendo
coisas. Eu sei que os médicos estavam preocupados…
Era assim que deveria ter sido. Era
assim que eu devia à minha família.
- Estou surpreso em vê-lo na classe,
Edward. Eu ouvi que você esteve envolvido naquele
acidente horrível hoje de manhã.
- Não me machuquei. - Sem sorriso.
O Sr. Banner mudou seu peso de um pé
para o outro, desconfortável.
- Tem alguma idéia de como Tyler
Crowley e Bella Swan estão? Ouvi que tiveram alguns
machucados…
Dei de ombros. - Não sei dizer.
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O Sr. Banner limpou a garganta. - Ah,
certo… - ele disse, meu olhar frio deixando sua voz
um pouco tensa.
Ele andou rapidamente de volta para
frente da sala e começou a matéria.
Era a coisa errada a se fazer. A não
ser que você olhasse de uma perspectiva mais
obscura.
Só que parecia tão… tão deselegante caluniar a garota pelas costas,
especialmente quando
ela estava provando ser mais confiável
do que eu podia ter sonhado. Ela não havia dito
nada para me trair, embora tivesse uma
boa razão para o fazer. Eu iria traí-la quando ela
não tinha feito nada a não ser guardar
meu segredo?
Eu tive uma conversa quase idêntica
com a Sra. Goff - só que em espanhol ao invés de
inglês - e Emmett me olhou por um
longo tempo.
Eu espero que você tenha uma boa explicação para o que
aconteceu hoje. Rose está em
pé de guerra.
Eu revirei meus olhos sem olhar para
ele.
Na verdade eu tinha criado uma
explicação que parecia perfeita. Supondo que eu não
tivesse feito nada para
parar a van antes que ela esmagasse a menina… eu tremi com esse
pensamento. Mas se ela tivesse sido
atingida, se ela tivesse sido ferida e tivesse sangrado,
o fluído vermelho derramado,
desperdiçado no asfalto, o cheiro de sangue fresco pulsando
pelo ar…
Eu tremi de novo, mas não só em
terror. Parte de mim tremeu de desejo. Não, eu não
teria sido capaz de assistí-la
sangrando sem expor a nós todos em um jeito muito mais
escandaloso e chocante.
Parecia a desculpa perfeita… mas eu
não a usaria. Era vergonhosa demais.
E de qualquer maneira, eu não tinha
pensando nela até bem depois do fato ter ocorrido.
Tome cuidado com Jasper, Emmett continuou, alheio aos meus pensamentos. Ele não está
tão nervoso… mas ele está mais decidido.
Eu vi o que ele quis dizer, e por um
momento a sala girou ao meu redor. Meu ódio era tão
devorador que uma névoa vermelha
encobriu minha visão. Eu pensei que fosse me fogar
nela.
CREDO, EDWARD! SE CONTROLE! Emmett gritou para mim em sua cabeça. Sua mão
desceu para o meu ombro, segurando-me
em meu lugar antes que eu pudesse pular e
ficar em pé. Ele raramente usava sua
força completa - raramente havia necessidade,
porque ele era tão mais forte que
qualquer outro vampiro que qualquer um de nós já
tivesse encontrado - mas ele a usou
agora. Ele agarrou meu braço, ao invés de me
empurrar para baixo. Se ele estivesse
me empurrando, a cadeira embaixo de mim teria
desmoronado.
CALMA! Ele ordenou.
Eu tentei me acalmar, mas era difícil.
A fúria queimava em minha cabeça.
Jasper não vai fazer nada até todos nós conversarmos. Eu só
achei que você devia saber a
direção que ele está tomando.
Eu me concentrei em relaxar, e senti a
mão de Emmett afrouxar.
Tente não chamar mais atenção. Você já
está com problemas o suficiente do jeito que
está.
Eu respirei fundo e Emmett me soltou.
Eu procurei através da sala por
rotina, mas nosso confronto tinha sido tão curto e
silencioso que só algumas pessoas
sentadas atrás de Emmett tinham notado. Nenhuma
delas sabia o que pensar disso, e elas
esqueceram. Os Cullens eram aberrações - todos já
sabiam disso.
Droga, garoto, você está horrível, Emmett acrescentou, seu tom simpático.
- Dane-se. - eu resmunguei entre
dentes, e escutei sua risada baixa.
Emmett não guardava rancor, e eu
provavelmente deveria estar mais agradecido por sua
natureza de fácil convívio. Mas eu
podia ver que as intenções de Jasper faziam sentido
para Emmett, que ele estava
considerando qual seria o melhor caminho a se tomar.
O ódio ferveu, mau sob controle. Sim,
Emmett era mais forte do que eu, mas ele ainda não
havia me derrubado em uma luta. Ele
dizia que era porque eu trapaceava, mas escutar
pensamentos era tão parte de mim
quanto a força era dele. Nós lutávamos de igual para
igual.
Uma luta? Era essa a direção que tudo
tomava? Eu iria lutar contra a minha família por
uma humana que eu mal conhecia?
Eu pensei sobre isso por um minuto,
pensei na sensação do frágil corpo da garota nos
meus braços contra Jasper, Rose e
Emmett - sobrenaturalmente fortes e rápidos, máquinas
de matar por natureza…
Sim, eu iria lutar por ela. Contra a
minha família. Eu tremi.
Mas não era justo deixá-la
desprotegida quando fui eu quem a colocou em perigo.
Eu não conseguiria ganhar sozinho,
entretanto, não contra os três deles, e me perguntei
quais seriam meus aliados.
Carlisle, certamente. Ele não iria
lutar contra ninguém, mas ele seria contra os planos de
Rose e Jasper. Talvez isso fosse tudo
que eu precisasse. Eu iria ver…
Esme era incerta. Ela não ficaria contra mim também, e ela iria detestar discordar
de
Carlisle, mas ela iria ser a favor de
qualquer plano que mantivesse sua família unida. Sua
prioridade não seria o certo, e sim
eu. Se Carlisle era a alma da família, Esme era o
coração. Ele nos deu um líder que
merecia ser acompanhado, ela transformou isso em um
ato de amor. Todos nós nos amávamos -
mesmo por baixo da fúria que eu sentia por
Jasper e Rose no momento, mesmo
planejando lutar contra eles para salvar a garota, eu
sabia que eu os amava.
Alice… não fazia idéia. Provavelmente
dependeria do que ela visse chegando. Ela ficaria do
lado do vencedor, imaginei.
Então eu teria que fazer isso sem
ajuda. Sozinho eu não era páreo para eles, mas eu não
ia deixar a menina ser machucada por
minha culpa. Isso talvez exigisse uma ação
evasiva…
Minha raiva diminuiu um pouco com o
súbito humor negro. Eu podia imaginar como a
menina reagiria se eu a raptasse. É
claro, eu raramente adivinhava suas reações - mas que
outra reação ela poderia ter além de
terror?
Não tinha certeza como cuidar disso -
raptá-la. Não seria capaz de ficar perto dela por
muito tempo. Talvez eu só a devolvesse
à mãe. Mesmo isso seria repleto de perigo. Para
ela.
E também para mim, eu percebi de
repente. Se eu a matasse por acidente… eu não tinha
certeza de quanta dor isso iria me
causar, mas eu sabia que seria intensa e em várias
formas.
O tempo passou rapidamente enquanto eu
meditava sobre todas as complicações à minha
frente: a discussão me esperando em
casa, o conflito com a minha família, a distância que
eu seria forçado a percorrer depois de
tudo…
Bom, eu não podia mais reclamar que a
vida fora da escola era monótona. A garota tinha
mudado isso.
Emmett e eu andamos silenciosamente
para o carro quando o sinal tocou. Ele estava
preocupado comigo, e preocupado com
Rosalie. Ele sabia que lado teria que escolher em
uma disputa, e isso o incomodava.
Os outros estavam esperando por nós no
carro, também silenciosos. Éramos um grupo
bem quieto. Só eu conseguia escutar a
gritaria.
Idiota! Lunático! Imbecil! Estúpido! Egoísta, tolo
irresponsável! Rosalie mantinha uma linha
constante de insultos a plenos
pulmões. Ficou difícil ouvir os outros, mas eu a ignorei o
melhor que eu pude.
Emmett estava certo sobre Jasper. Ele
estava seguro de seu plano.
Alice estava transtornada, preocupada
com Jasper, passando por imagens do futuro. Não
importa por qual direção Jasper
chegasse à garota, Alice sempre me via lá, o impedindo.
Interessante… nem Rosalie ou Emmett
estavam com ele nessas visões. Então Jasper
planejava trabalhar sozinho. Isso
deixaria as coisas eqilibradas.
Jasper era o melhor lutador,
certamente o mais experiente entre nós: minha única
vantagem consistia no fato de que eu
podia escutar seus movimentos antes que ele os
fizesse.
Eu nunca havia lutado mais que de
brincadeira com Emmett ou Jasper - só passatempo.
Senti-me enjoado com o pensamento de
realmente tentar machucar Jasper…
Não, não isso. Só impedi-lo. Isso era
tudo.
Eu me concentrei em Alice, memorizando
as diferentes formas de ataque de Jasper.
Quando eu fiz isso, as visões dela
mudaram, se afastando mais e mais da casa dos Swan.
Eu o estava parando antes…
Pare com isso Edward! Não pode acontecer desse jeito. Eu
não vou deixar.
Eu não a respondi, só continuei
olhando.
Ela começou a olhar mais para frente,
para o campo nebuloso e incerto de possibilidades
distantes. Tudo era sombrio e vago.
No caminho inteiro para casa, a
atmosfera silenciosa não cedeu. Eu estacionei na grande
garagem perto da casa; a Mercedes de
Carlisle estava ali, perto do Jeep enorme de
Emmett, o M3 de Rosalie e meu Vanquish.
Fiquei contente que Carlisle já estava em casa -
o silêncio terminaria de forma
explosiva, e eu queria que ele estivesse perto quando isso
acontecesse.
Fomos direto para a sala de jantar.
Essa sala nunca era, é claro, usada
para o propósito para o qual fora construída. Mas era
mobiliada com uma longa mesa oval de
mogno cercada por cadeiras - éramos cautelosos
em ter os acessórios para fingir.
Carlisle gostava de usá-la como uma sala de conferência.
Em um grupo com tantas personalidades
fortes e distintas, às vezes era necessário discutir
as coisas sentados, de um jeito calmo.
Eu tinha um pressentimento de que
sentar não iria ajudar em muita coisa hoje.
Carlisle sentou em seu lugar habitual
na ponta leste da mesa. Esme estava ao lado dele -
eles deram as mãos em cima da mesa.
Os olhos de Esme estavam em mim, as
profundezas douradas deles cheias de
preocupação.
Fique. Foi seu único
pensamento.
Eu queria poder sorrir para a mulher
que era verdadeiramente uma mãe para mim, mas eu
não tinha como assegurá-la agora.
Eu sentei do outro lado de Carlsile.
Esme se virou ao redor dele para colocar sua mão livre
no meu ombro. Ela não tinha idéia do
que estava para começar, só estava se preocupando
comigo.
Carlisle tinha uma noção melhor do que
estava chegando. Seus lábios estavam apertados
com força e sua testa estava enrugada.
A expressão era muito velha para seu rosto jovem.
Quando todos os outros estavam
sentados, eu pude ver as linhas serem desenhadas.
Rosalie sentou-se diretamente à frente
de Carlisle, na outra ponta da grande mesa. Ela me
encarou, nunca desviando o olhar.
Emmett sentou ao lado dela, seu rosto
e sua mente amargos.
Jasper hesitou, então foi ficar em pé
contra a parede atrás de Rosalie. Ele estava decidido,
não importava o resultado dessa
discussão. Meus dentes bateram.
Alice foi a última chegar, e seus
olhos estavam concentrados em alguma coisa muito longe
- o futuro, ainda muito incerto para
que ela fizesse uso dele. Sem parecer pensar ela
sentou perto de Esme. Ela esfregou a
testa como se tivesse dor de cabeça. Jasper se
contorceu preocupado e considerou se
juntar a ela, mas manteve sua posição.
Eu respirei fundo. Eu tinha começado
isso - devia falar primeiro.
- Me perdoem. - Eu disse, olhando
primeiro para Rosalie, depois para Jasper e então
Emmett. - Eu não tive a intenção de
colocar nenhum de vocês em risco. Foi impensado,e
eu assumo total responsabilidade pelo
meu ato precipitado.
Rosalie me encarou malignamente. - O
que vocês quer dizer, ‘assume total
responsabilidade’? Você vai consertar?
- Não do jeito que você quer dizer. -
Eu disse, tentando manter minha voz calma e
equilibrada. - Estou disposto a ir
embora agora, se isso deixa as coisas melhores. - Se eu
acreditar que a garota ficará segura, se eu acreditar que
nenhum de vocês irá tocá-la, eu
emendei na minha cabeça.
- Não. - Esme murmurou. - Não, Edward.
Eu dei um tapinha em sua mão. - São só
alguns anos.
- Esme está certa. - Emmett disse. -
Você não pode ir a lugar algum agora. Isso seria o
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oposto de útil. Nós
temos que saber o que as pessoas estão pensando agora mais do que
nunca.
- Alice pegará qualquer coisa grave. -
eu discordei.
Carlisle balançou a cabeça. - Eu acho
que Emmett tem razão, Edward. Vai ser mais fácil a
garota falar se você desaparecer. Ou
todos nós vamos, ou ninguém vai.
- Ela não vai dizer nada. - eu insisti
rapidamente. Rose estava processando uma explosão,
e eu queria esse fato claro antes.
- Você não conhece a mente dela. -
Carlisle me lembrou.
- Disso eu tenho certeza. Alice, me dê
cobertura.
Alice me olhou cansativamente. - Não
consigo ver o que vai acontecer se nós ignorarmos
isso. Ela olhou de relance para Rose e
Jasper.
Não, ela não conseguia ver esse futuro
- não quando Rosalie e Jasper estavam tão
decididos em não ignorar o acidente.
A palma de Rosalie bateu na mesa com
um barulho alto. - Não podemos permitir que a
humana tenha chance de dizer nada.
Carlisle, você deve ver isso. Mesmo se decidirmos
todos desaparecer, não é seguro deixar
histórias para trás. Nós vivemos de um jeito tão
diferente do resto do nosso tipo -
você sabe que existem aqueles que iriam adorar uma
desculpa para fazer acusações. Temos
que ter mais cuidado que qualquer um!
-Já deixamos rumores para trás antes.
- eu a lembrei.
- Só rumores e suspeitas, Edward. Não
testemunhas oculares e evidências!
- Evidência! - eu zombei.
Mas Jasper estava concordando, seus
olhos duros.
-Rose… - Carlisle começou.
- Me deixe terminar, Carlisle. Não
precisa ser nada que chame atenção. A menina bateu a
cabeça hoje. Então talvez aconteça de
o machucado ser mais sério do que parecia. -
Rosalie deu de ombros. - Todo mortal
vai dormir com a chance de nunca mais acordar. Os
outros iriam esperar que nós
cuidássemos nós mesmos disso. Tecnicamente, isso seria
trabalho de Edward, mas isto está
obviamente além dele. Você sabe que sou capaz de me
controlar. Eu não iria deixar nenhuma
evidência para trás.
- Sim, Rosalie, todos nós sabemos a
assassina eficiente que você é. - eu rosnei.
Ela sibilou para mim, furiosa.
- Edward, por favor. - Carlisle disse.
Então se virou para Rosalie. - Rosalie, eu fui a favor
em Rochester porque eu senti que você
devia ter justiça. Os homens que você matou
haviam lhe prejudicado
monstruosamente. Essa não é a mesma situação. A garota Swan é
uma inocente.
- Não é nada pessoal, Carlisle. -
Rosalie disse pelos dentes. - É para proteger a todos nós.
Houve um breve silêncio enquanto
Carlisle pensava em sua resposta. Quando ele
concordou, os olhos de Rosalie
brilharam. Ela devia saber melhor. Mesmo se eu não fosse
capaz de ler os pensamentos dele, eu
podia ter previsto suas próximas palavras. Carlisle
nunca cedia.
- Eu sei que sua intenção é boa,
Rosalie, mas… eu gostaria muito que nossa família fosse
digna de ser
protegida. Os ocasionais… acidentes ou lapsos de controle são uma parte
lamentável de quem nós somos. - Era
bem característico dele se incluir no plural, embora
ele próprio nunca tivesse tido esse
tipo de lapso. - Assassinar uma criança sem culpa a
sangue frio é outra coisa
completamente diferente. Eu acredito que o risco que ela
apresenta, quer ela fale suas
suspeitas ou não, não é nada muito grave. Se abrirmos
exceções para nos proteger, estaremos
arriscando algo muito mais importante. Nós
arriscamos perder a essência de quem
somos.
Controlei minha expressão com cuidado.
Não faria bem algum sorrir agora. Ou aplaudir,
como eu gostaria.
Rosalie olhou com uma cara feia. - É
só ser responsável.
- É ser insensível. - Carlisle
corrigiu gentilmente. - Toda vida é preciosa.
Rosalie suspirou pesadamente e seu
lábio inferior fez um bico. Emmett deu um tapinha em
seu ombro. - Vai ficar tudo bem,
Rosalie. - ele encorajou com uma voz baixa.
- A pergunta - Carlisle continuou. - é
se nós devemos nos mudar ou não?
- Não. - Rosalie lamentou. - Acabamos
de nos fixar. Não quero começar o segundo ano de
colegial outra vez!
- Você vai poder manter sua idade
atual, claro. - disse Carlisle.
- E ter que mudar ainda mais cedo? -
ela revidou.
Carlisle deu de ombros.
- Eu gosto daqui! Tem pouco sol,
podemos ser quase normais.
- Bom, não precisamos decidir agora.
Podemos esperar e ver se isso se torna uma
necessidade. Edward confia no silêncio
da menina Swan.
Rosalie bufou.
Mas eu não estava mais preocupado com
Rosalie. Podia ver que ela concordaria com a
decisão de Carlisle, não importa o
quanto estivesse brava comigo. A conversa deles tinha
se voltado para detalhes sem
importância.
Jasper continuou determinado.
Eu entendi o motivo. Antes dele e
Alice se conhecerem, ele vivia em uma zona de
combate, um cenário de guerra
impiedoso. Ele sabia as conseqüências de desprezar as
regras - já havia visto os medonhos
resultados com os próprios olhos.
Dizia muita coisa o fato de ele não
ter tentando acalmar Rosalie com seus talentos extras,
ou que agora não tentava incentivá-la.
Ele se mantinha neutro na discussão - acima dela.
- Jasper. - eu disse.
Ele encontrou meus olhos, seu rosto
inexpressível.
- Ela não vai pagar pelo meu erro. Não
vou permitir.
- Ela tira proveito, então? Ela
deveria ter morrido hoje, Edward. Eu só consertaria as
coisas.
Eu falei de novo, enfatizando cada
palavra. - Não vou permitir.
Ele ergueu as sobrancelhas. Não estava
esperando isso - ele não imaginava que eu fosse
impedi-lo.
Ele balançou a cabeça uma vez. - Não
vou deixar Alice viver em perigo, mesmo que seja
leve. Você não sente por ninguém o que
eu sinto por ela, Edward, e você não viveu o que
eu vivi, tendo visto minhas memórias
ou não. Você não entende.
- Não estou discutindo isso, Jasper.
Mas estou avisando que não vou deixar você machucar
Isabella Swan.
Nos encaramos - sem raiva, e sim
avaliando o oponente. Eu senti que ele verificava o
ambiente ao meu redor, testando minha
determinação.
- Jazz… -Alice disse, nos
interrompendo.
Ele sustentou seu olhar mais um pouco,
e então olhou para ela. - Não se incomode em
dizer que você pode cuidar de si
mesma, Alice. Eu já sei disso. Eu ainda tenho que…
- Não é isso que eu vou falar. - Alice
interrompeu. - Eu ia pedir um favor para você.
Eu vi o que estava na mente dela e
minha boca se abriu com uma arfada audível. Eu olhei
para ela, chocado, só vagamente
consciente de que todos tirando Alice e Jasper me
observavam cuidadosamente.
- Eu sei que você me ama. Obrigada.
Mas eu gostaria muito que você não tentasse matar
Bella. Primeiro de tudo, Edward está
falando sério e não quero vocês dois brigando.
Segundo, ela é minha amiga. Pelo menos
vai ser.
Estava nítido na mente dela: Alice,
sorrindo, com seus braços gelados envolta dos braços
quentes e frágeis da garota. E Bella
estava sorrindo também, seu braço na cintura de Alice.
A visão era sólida como uma pedra; só
o tempo era incerto.
- Mas, Alice… - Jasper ofegou. Não
conseguia virar minha cabeça para olhar sua expressão.
Não conseguia me desviar da imagem na
cabeça de Alice para olhar para ele.
- Eu vou amá-la algum dia, Jazz. Vou
ficar muito chateada com você se não deixá-la viver.
Eu ainda estava preso nos pensamentos
de Alice. Eu vi o futuro brilhar enquanto a
resolução de Jasper diminuía com o
pedido inesperado dela.
- Ah… - Ela suspirou - a decisão dele
tinha criado um novo futuro. - Vê? Bella não vai dizer
nada. Não há com o que se preocupar.
O modo como ela disse o nome da
menina… como se elas já fossem confidentes…
- Alice - eu engasguei. - O que… isso?
- Eu disse que uma mudança estava
vindo. Eu não sei, Edward. - Mas ela apertou o queixo
e eu podia ver que havia mais. Ela
estava tentando não pensar nisso; de repente estava se
concentrando muito em Jasper, embora
ele estivesse muito espantado para fazer algum
progresso com sua decisão.
Ela fazia isso às vezes, quando queria
esconder algo de mim.
- O que é, Alice? O que está
escondendo?
Ouvi Emmett resmungar. Ele sempre
ficava frustrado quando Alice e eu tínhamos esses
tipos de conversa.
Ela sacudiu a cabeça, tentando me
manter fora.
-É sobre a garota? - eu ordenei. - É
sobre Bella?
Ela bateu os dentes se concentrando,
mas quando eu falei o nome de Bella, ela
escorregou. Só durou meio segundo, mas
foi o suficiente.
- NÃO! - eu gritei. Eu escutei a
cadeira bater no chão e percebi que estava em pé.
- Edward! - Carlisle ficou em pé
também, seu braço no meu ombro. Mal estava ciente dele.
- Está consolidando. - Alice
sussurrou. - Cada minuto que passa você está mais decidido.
Só existem duas saídas para ela agora.
É uma coisa ou outra, Edward.
Eu podia ver o que ela via… mas não
queria aceitar.
- Não. - eu disse de novo; não tinha
volume na minha negação. Minhas pernas ficaram
bambas e precisei me apoiar na mesa.
- Alguém por favor quer deixar o resto de nós saber do
mistério? - Emmett reclamou.
- Eu tenho que ir embora. - eu
sussurrei para Alice, ignorando-o.
- Edward, nós já falamos sobre isso. -
Emmett disse alto. - Essa é a melhor maneira de
fazer a garota falar. Além do mais, se
você for embora, nós não vamos ter certeza se ela
vai falar alguma coisa ou não. Você
tem que ficar e lidar com isso.
- Não vejo você indo a lugar algum,
Edward. - Alice me disse. - Não sei mais se você
consegue ir embora. - Pense, ela acrescentou silenciosamente. Pense sobre partir.
Eu vi o que ela quis dizer. Sim, a
idéia de nunca mais ver a menina era… dolorosa. Mas
também era uma necessidade. Não conseguia
aprovar nenhum dos futuros que
aparentemente eu a tinha condenado.
Não tenho certeza absoluta quanto ao Jasper, Edward. Alice continuou. Se você partir, ele
pensa que ela é um perigo para nós.
- Eu não vou ouvir isso. - eu a
contradisse, ainda meio consciente da nossa platéia. Jasper
estava hesitante. Ele não faria algo
que magoasse Alice.
Não neste momento. Você arriscaria a vida dela, a deixaria
desprotegida?
-Por que está fazendo isso comigo? -
eu gemi. Minha cabeça caiu em minhas mãos.
Eu não era o protetor de Bella. Não
podia ser isso. O futuro dividido de Alice não era prova
suficiente disso?
Eu a amo também. Ou eu vou. Não é a
mesma coisa, mas eu a quero por perto para isso.
- A ama também? - eu sussurrei, incrédulo.
Ela suspirou. Você é tão cego, Edward. Não consegue ver a direção que está
tomando?
Não consegue ver onde já está? É mais inevitável do que o
sol nascendo no leste. Veja o
que eu vejo…
Eu balancei minha cabeça, horrorizado.
- Não. - eu tentei bloquear as visões que ela me
revelada. - Não tenho que seguir esse
caminho. Eu vou embora. Eu vou mudar o futuro.
- Você pode tentar… - ela disse, a voz
cética.
- Ah, por favor! - Emmett aumentou o tom de voz.
- Preste atenção. - Rosalie sibilou
para ele. - Alice o vê se apaixonando por uma humana!
Isso é típico de Edward! - Ela tirou
sarro.
Eu mal a ouvi.
- O quê? - Emmett disse, surpreso.
Então sua risada de rugido ecoou pelo cômodo. - É isso
o que tem acontecido? - Ele riu de
novo. - Parada dura, Edward.
Eu senti a mão dele no meu ombro, e a afastei
distraído. Não conseguia prestar atenção
nele.
- Se apaixonando por uma humana? - Esme repetiu em uma voz impressionada. -
Pela
garota que ele salvou hoje? Se apaixonar por ela?
- O que você vê, Alice? Exatamente. -
Jasper pediu.
Ela se virou para ele; Eu continuei a
olhar seu rosto, entorpecido.
- Tudo depende se ele é forte o
bastante ou não. Ou ele irá matá-la com as próprias mãos
- ela girou para encontrar meu olhar
outra vez - o que iria realmente me irritar, Edward,
sem mencionar o que iria fazer com você - ela olhou Jasper novamente - ou ela
vai ser
uma de nós algum dia.
Alguém engasgou; não vi quem foi.
- Isso não vai acontecer! - eu estava
gritando de novo. - Nenhum dos dois!
Alice não pareceu ter me escutado. -
Tudo depende. - ela repetiu. - Talvez ele seja só forte
o suficiente para não matá-la - mas
vai ser por pouco. Vai requerer uma quantidade
incrível de controle. - ela meditou. -
Mais até o que Carlisle tem. Ele talvez seja forte só o
suficiente… A única coisa para qual
ele não é forte o bastante é ficar longe dela. Essa é
uma causa perdida.
Não conseguia achar minha voz. Ninguém
parecia ser capaz de achar sua. A sala ficou
imóvel.
Eu encarei Alice, e todos me
encararam. Podia ver minha própria expressão de terror de
cinco pontos de vista diferentes.
Depois de um longo momento, Carlisle
suspirou.
- Bom, isso… complica as coisas.
- Eu que o diga. - Emmett concordou. A
voz dele era mais uma risada. Era com Emmett
mesmo, fazer piada na destruição da
minha vida.
- Mas acho que o plano continua o
mesmo. - Carlisle disse, ponderado. - Vamos ficar e
observar. Obviamente, ninguém irá…
machucar a menina.
Eu enrijeci.
- Não. - Jasper disse calmamente. - Se
Alice só vê duas saídas…
- Não! - minha voz não era um grito ou
um rosnado ou choro de desespero, mas uma
combinação dos três. - Não!
Eu tinha que ir embora, ficar longe do
som dos pensamentos deles - da aversão egoísta de
Rosalie, do humor de Emmett, da
paciência infinita de Carlisle…
Pior: a confiança de Alice. A
confiança de Jasper na confiança dela.
Pior de tudo: a… alegria de Esme.
Fui para fora da sala. Esme tocou meu
braço quando eu passei, mas eu não reconheci o
gesto.
Estava correndo antes que estivesse
fora da casa. Passei pelo rio em um pulo, e corri para
a floresta. A chuva tinha voltado,
caindo tão pesada que eu me ensopei em poucos
segundos. Gostei da água espessa -
criou uma parede entre eu e o resto do mundo. Me
rodeou, me deixou isolado.
Corri na direção leste, para longe das
montanhas sem desviar da linha até que pude ver as
luzes de Seattle do outro lado da
baía. Parei antes que chegasse à fronteira da civilização.
Cercado pela chuva, sozinho, eu
finalmente me obriguei a ver o que tinha feito - como
tinha mutilado o futuro.
Primeiro, a visão de Alice e da garota
com seus braços ao redor uma da outra - a confiança
e amizade eram tão óbvias que gritavam
da imagem. Os olhos castanhos expressivos de
Bella não estavam confusos nessa
visão, e sim cheios de segredos - nesse momento,
pareciam segredos felizes. Ela não se
afastou do braço frio de Alice.
O que isso significava? O quanto ela
sabia? Nessa visão congelada do futuro, o que ela
pensava de mim?
Então a outra imagem, tão parecida, só
que colorida com horror. Alice e Bella, seus braços
ainda envolta uma da outra em sua
amizade confiável. Mas agora não havia diferença
entre esses braços - os dois eram
braços, macios e de mármore, duros como aço. Os olhos
atentos de Bella não eram mais
castanhos chocolate. Suas íris eram de um escarlate vívido,
chocante. Os segredos neles eram
insondáveis - aceitação ou angústia? Era impossível de
dizer. O rosto dela era frio e
imortal.
Eu tremi. Eu não conseguia evitar as
perguntas similares, mas diferentes: O que isso
significava - como isso aconteceu? E o
que ela pensava de mim agora?
Eu podia responder essa última. Se eu
a forçasse a fazer parte dessa meia vida vazia por
causa da minha fraqueza e egoísmo, com
certeza ela me odiaria.
Mas havia mais uma imagem horrorosa -
pior do que qualquer outra que já tive.
Meus próprios olhos, escarlate
intensos com o sangue humano, os olhos de um monstro. O
corpo quebrado de Bella em meus
braços, branco pálido, vazio, sem vida. Era tão concreta,
tão clara.
Não podia suportar ver isso. Não
conseguia suportar. Tentei tirar da minha mente, tentei
ver alguma outra coisa, qualquer
coisa. Tentei ver a expressão no rosto com vida dela que
tinha obstruído minha visão no último
capítulo de minha existência. Tudo em vão.
A visão negra de Alice encheu minha
cabeça, e eu me contorci internamente com a agonia
que ela causou. Enquanto isso, o
monstro em mim estava cheio de felicidade, eufórico com
as chances de seu sucesso. Deixou-me
enjoado.
Isso não podia ser permitido. Tinha
que ter um jeito de transformar o futuro. Eu não
deixaria as visões de Alice me dizer o
que fazer. Eu escolheria um caminho diferente.
Sempre existia uma escolha.
Tinha que existir.
5. Convites
Colegial. Não era mais o purgatório,
agora era o inferno puro. Tormento e fogo… sim, eu
tinha os dois.
Eu estava fazendo a coisa certa agora.
Todos os pingos nos i’s e os traços nos t’s. Ninguém
podia reclamar que eu estava evitando
minhas responsabilidades agora.
Para deixar Esme feliz e proteger os
outros, eu fiquei em Forks. Retornei para meu horário
antigo. Cacei mais que o resto deles.
Todo dia, eu ia para a escola e fingia ser humano.
Todo dia, eu escutava cuidadosamente
qualquer coisa nova sobre os Cullens - não tinha
_______________________________________4
nada novo. A garota não tinha falado
uma palavra de suas suspeitas. Ela só repetiu a
história de novo e de novo - que eu
estava ao lado dela e a tinha tirado do caminho - até
que os ouvintes ficaram entediados e
pararam de pedir mais detalhes. Não havia perigo.
Minha ação precipitada não tinha
machucado ninguém.
Ninguém além de mim.
Estava determinado a mudar o futuro.
Não era a coisa mais fácil de se fazer, mas não tinha
outra escolha com a qual eu podia
viver.
Eu tinha pensado que aquele primeiro
dia tinha sido o mais difícil. No final dele, eu tinha
certeza que esse era o caso. Mas
estava errado.
Estava amargurado, sabendo que tinha
machucado a menina. Tirei conforto do fato de que
a dor dela não era nada mais do que
uma picada - só uma pequena ferroada de rejeição -
comparada com a minha. Bella era
humana, e ela sabia que eu era algo mais, algo errado,
algo assustador. Ela provavelmente se
sentiria mais aliviada do que magoada quando eu
virasse meu rosto para longe dela e
fingisse que ela não existe.
- Oi, Edward,- ela me cumprimentou no
meu primeiro dia de volta a classe de biologia. A
voz dela estava agradável, amigável,
180 decibéis desde a ultima vez que eu falei com ela.
Por quê? O que a mudança queria dizer?
Ela teria esquecido? Decidiu que ela imaginou
todo o episodio? Ela poderia
possivelmente ter me perdoado por não cumprir minha
própria promessa?
As perguntas estavam queimando como a
sede que me atacava toda vez que eu respirava.
Apenas por um instante eu olhei nos
olhos dela. Só para ver se eu podia encontrar
respostas lá…
Não. Eu não podia me permitir nem
mesmo isso. Não se eu fosse mudar o futuro.
Eu movi meu queixo devagar na direção
dela sem olhar para longe da frente da sala. Eu
acenei com a cabeça uma vez, e então
eu virei meu rosto para frente…
Ela não falou comigo de novo.
Aquela tarde, assim que a escola
terminou, meu papel também terminou, eu fui até Seattle
como eu tinha feito um dia antes.
Parecia que eu poderia agüentar a dor apenas
levemente melhor quando eu estava
voando ao longo do chão, transformando tudo a
minha volta em um borrão verde.
Essa corrida se tornou meu habito
diário.
Eu a amava? Eu não acho que era isso.
Não ainda. A visão de Alice do futuro que eu tinha
preso comigo, embora, eu pudesse ver
quão fácil seria me apaixonar por Bella. Isso seria
exatamente como cair: Sem esforço. Não
deixar de amá-la seria o oposto da queda - como
ser puxado de um penhasco, eu apoiei meu
rosto sobre a mão, a tarefa foi cansativa,
como se eu já não tivesse força
mortal.
Mais de um mês se passou, e cada dia
era mais difícil. Isso não fazia sentido para mim -
me manter perto dela, para que as
coisas fossem mais fáceis. Devia significar isso quando
Alice disse que eu não desejaria, e
não conseguiria ficar longe da menina. Ela tinha visto a
escalada da dor. Mas eu podia lidar
com a dor.
Eu não iria destruir o futuro da
Bella. Se eu fosse destinado ao amor dela, e então ela não
fosse evitar, esse era o mínimo que eu
podia fazer?
Evitar ela era o máximo que eu podia
agüentar; entretanto. Eu podia fingir ignorá-la, e
nunca estar em seu caminho. Eu podia
fingir que ela não me interessava. Mas se essa era
medida, eu apenas faria de conta, e
não seria real.
Eu ainda flutuava a cada respiração
dela, cada palavra que ela dizia.
Eu aglomerava meus tormentos em quatro
categorias.
Os dois primeiros eram familiares. O
seu aroma e o seu silêncio. Ou, ao invés - assumir a
responsabilidade por mim mesmo ao que
ela pertencia - a minha sede era minha
curiosidade.
A sede era o meu primeiro tormento. Eu
tornei um hábito, agora, simplesmente não
respirar na aula de Biologia. Mas é
claro, sempre há exceções - quando eu tinha de
responder a uma pergunta ou algo do tipo,
e eu teria necessidade de falar usando meu
fôlego. Cada vez que eu saboreasse o
ar em torno da garota, que era o mesmo desde o
primeiro dia - fogo e violência brutal
e a necessidade desesperada de me livrar. Era mesmo
um pouco difícil de agarrar a razão ou
retenção nesses momentos. E, como no primeiro
dia, o monstro estava prestes a rugir,
tão perto da superfície…
A curiosidade era um dos meus
constantes tormentos. Uma coisa que nunca saiu da minha
cabeça: O que ela está
pensando agora? Ao ouvi-la calmamente suspirar. Quando
ela
passava um dos dedos sobre o cabelo.
Quando ela jogava o livro com mais força do que o
normal. Quando ela chegava na aula
tarde. Quando ela batia seu pé, impaciente, sobre o
chão. Cada movimento que eu pegava na
minha visão periférica era um irritante mistério.
Quando ela conversava com os outros
alunos humanos, eu analisava todas as palavras e
seu tom. Será que ela dizia o que
estava pensando, ou ela pensava no que iria dizer? Se
isso soava para mim como se ela
estivesse tentando dizer o que a sua audiência esperava,
e isso me fez lembrar da minha família
e de nossa vida diária da ilusão - nos éramos
melhores do que ela estava sendo. Ao
menos eu estava errado sobre isso, apenas
imaginando coisas. Por que ela iria
ter um papel a desempenhar? Ela era um deles - uma
jovem adolescente.
Mike Newton era o mais surpreendente
dos meus tormentos. Quem teria sonhado que um
tão comum e entediante mortal poderia
ser tão irritante? Para ser justo, eu deveria ter de
sentir gratidão pelo entediante
garoto; mais do que os outros, ele fazia a garota falar. Eu
aprendi muito sobre ela através dessas
conversas - eu ainda montava a minha lista -, mas
contrariamente, a assistência de Mike
com este projeto só me deixava mais irritado.
Eu não queria que Mike fosse o único a
descobrir segredos. Eu queria fazer isso.
Ele nunca percebeu as pequenas
revelações que ela fazia, seus pequenos discúidos.
Ele não sabia nada sobre ela. Ele
criou uma Bella em sua cabeça, que não existia - uma
menina tão comum como ele era. Ele não
tinha observado a generosidade e bravura que a
distingüia dos outros humanos, ele não
conhecia a anormal maturidade das suas falas. Ele
não percebia que, quando ela falava de
sua mãe, ele falava de sua mãe como se ela fosse
uma criança e não o contrário -
amorosa, indulgente, um pouco divertida, e ferozmente
protetora.
Ele não percebia a paciência em sua
voz quando ela fingia interesse no caminho das
conversas, e não adivinhava o que
havia atrás de sua paciente bondade.
Embora nas conversas com Mike, eu
fosse capaz de adicionar a qualidade mais importante
para a minha lista, e mais reveladora
de todas elas, tão simples como rara. Bella era boa.
Todas as outras coisas somadas com
tudo - agradável, discreta, altruísta, amorosa e
corajosa - ela era cada vez melhor
através do tempo.
Não me tornavam mais gentil com o
garoto, no entanto. A maneira como ele ficava
possessivo quando via a Bella - como
se ela fosse feita para ele - me provocou quase raiva
com o seu rude fantasiar sobre ela.
Ele estava se tornando mais confiante de si mesmo,
também, quando o tempo passou, ele
considerou isso ao vê-la preferi-lo aos seus rivais -
Tyler Crowley, Erick Yorkie, e sempre,
esporadicamente, eu mesmo. Ele se sentava
rotineiramente ao seu lado na mesa,
conversando com ela, encorajado por seus sorrisos.
Apenas educados sorrisos, eu disse a
mim mesmo. Eu freqüentemente me pegava
imaginando, entretido, rebatendo ele
contra a parede da sala… É muito provável que ele
não fosse se ferir fatalmente…
Mike muitas das vezes não pensava em
mim como um rival. Após o acidente, ele ficou
preocupado que Bella e eu fossemos
criar vínculos a partir da experiência partilhada, mas
obviamente teve o resultado oposto.
Naquela época, ele ainda tinha ficado irritado que eu
e Bella tínhamos deixado o seu grupo
de atenções. Mas agora eu o ignorei perfeitamente
como os outros, e ele progrediu
complacente.
O que ela estava pensando agora? Será
que ela gostava de ser o centro das atenções?
E, finalmente o último dos meus
tormentos, o mais doloroso: A indiferença de Bella. Como
eu havia ignorado ela, ela me ignorou
também. Ela nunca tentou falar comigo novamente.
Com tudo que eu sabia, ela nunca
pensou em mim novamente.
Isso poderia me levar a loucura- ou
até mesmo mudar minha decisão para alterar o futuro
- exceto que ela às vezes me encarava
como ela havia feito antes. Eu não a via para mim,
como se eu não pudesse me permitir
olhar para ela, mas Alice sempre nos advertia quando
ela estava prestes a me encarar; Os
outros estavam sendo cuidadosos com o
conhecimento problemático da garota.
Aliviava um pouco a dor quando ela me
olhava de longe de vez em quando. É claro que ela
poderia estar imaginando que tipo de
louco que eu era.
“Bella vai encarar Edward em um
minuto. Pareça normal.” Alice disse uma terça-feira de
Março, e os outros tomaram cuidado
para gesticular e se mexer como um humano; ficar
totalmente parado era um hábito da
nossa espécie.
Eu prestei atenção para quantas vezes
ela olhava na minha direção. Me agradava, apesar
de não dever agradar, que a freqüência
não diminuía conforme o tempo passava. Eu não
sabia o que aquilo significava, mas me
fazia me sentir melhor.
Alice suspirou. “Eu gostaria…”
“Fique fora disso, Alice,” Eu disse
por baixo do fôlego. “Não vai acontecer”
Ela fez um bico. Alice estava ansiosa
para formar sua amizade iminente com Bella. De uma
forma estranha ela sentia falta da
garota que ela nem conhecia.
“Eu admito que você é melhor do que eu
pensei. Você tem seu futuro todo determinado e
sem sentido de novo. Espero que você esteja
feliz” Ela pensou.
“Faz bastante sentido pra mim.”
Ela fez um som impaciente de forma
delicada.
Eu tentei a ignorar, estava muito
impaciente para conversas. Eu não estava de bomhumor-
mais tenso do que eu deixava qualquer
um deles ver. Só Jasper sabia como eu
estava, sentindo o stress ao meu redor
com sua habilidade única de sentir e influenciar o
humor das pessoas ao redor. Ele não
entendia as razões por trás dos humores e - como
seu estava constantemente em um humor
ruim- ele ignorava.
Hoje seria um dia difícil. Mais
difícil que o dia anterior, esse era o padrão.
Mike Newton, o garoto odiável com quem
eu não podia me permitir virar rival, ia chamar
Bella para um encontro.
O baile que as garotas escolhiam o par
estava chegando, e ele esperava muito que Bella o
chamasse. E que ela não havia feito
nada que abalava a confiança dele. Agora ele estava
desconfortavelmente preso - eu gostava
do desconforto dele mais do que eu devia -
porque Jessica Stanley tinha acabado
de o chamar. Ele não queria dizer “sim”, esperando
que Bella o escolhesse (e provar que
ele era o vitorioso entre seus rivais), mas ele não
queria dizer “não” e acabar perdendo o
baile. Jessica, magoada pela sua hesitação e
imaginando a razão por trás disso,
estava tendo pensamentos raivosos contra Bella. Eu
entendi o instinto melhor agora, mas
só me fez mais frustrado quando eu não podia agir.
E pensar que tinha chegado a esse
ponto! Eu estava totalmente fixado nos dramas da
escola que um dia eu havia
simplesmente ignorado.
Mike estava trabalhando na sua coragem
conforme ele andava com Bella até a aula de
biologia. Eu ouvi sua luta interna
enquanto eu esperava eles chegarem. O garoto era fraco.
Ele tinha esperado por essa festa de
propósito, com medo de fazer seu afeto reconhecido
antes dela ter mostrado uma
preferência por ele. Ele não queria ficar vulnerável para uma
possível rejeição, preferindo que ela
desse aquele passo antes.
Covarde.
Ele sentou do nosso lado de novo,
confortável com a familiaridade, e eu imaginei o som
que seu corpo faria se batesse contra
a parede oposta com força suficiente para quebrar a
maioria dos seus ossos.
- Então - ele disse pra garota, seus
olhos no chão. - Jessica me chamou para o baile de
primavera.
- Isso é ótimo. - Bella respondeu
imediatamente e com entusiasmo. Era difícil não sorrir
conforme Mike se dava conta de seu
tom. Ele estava esperando por consternação. - Você
vai se divertir muito com a Jessica.
Ele refletiu sobre a resposta certa. -
Bem… - ele hesitou, e quase desistiu. Então voltou ao
trilho. - Eu falei pra ela que ira
pensar sobre isso.
“Por que você faria isso?” ela
perguntou. O tom dela era mais de desaprovação, mas ainda
tinha uma pontada de alívio também.
O que aquilo significava? Uma fúria
inesperada fez com que minhas mãos se curvassem
nos meus punhos com força.
Mike não ouviu o alívio. O rosto dele
vermelho - com a raiva que eu estava parecia um
convite - e ele olhou para o chão de
novo enquanto falava.
“Eu estava pensando….talvez você
estivesse pensando em me chamar.”
Bella hesitou.
Naquele momento de hesitação, eu vi o
futuro mais claramente do que Alice.
Ela talvez possa dizer sim para a
pergunta implícita de Mike, talvez não, mas ainda assim,
algum dia ela diria sim para alguém.
Ela era adorável, intrigante e outros homens notavam
isso. Se ela fosse se prender a alguém
nesse grupo insalubre, ou esperasse para estar livre
de Forks, o dia que ela diria sim
chegaria.
Eu vi a vida dela como tinha visto no
dia anterior - faculdade, carreira…amor, casamento.
Eu vi ela de braços dados com seu pai,
vestida de branco, seu rosto corado de felicidade
conforme ela se movia com a marcha
nupcial de Mendelssohn.
A dor era mais forte do que jamais
tinha sido. Um humano teria que estar à beira da morte
para sentir essa dor- um humano não
sobreviveria a isso.
E não só a dor mas o ódio.
A raiva também doía de uma forma
física. Mesmo que esse garoto insignificante não seja
para quem Bella diga sim; Eu queria
esmagar o crânio dele na minha mão, para deixar ele
representar quem ela escolher.
Eu não entendia essa emoção - era uma
mistura de dor e raiva e desejo e desespero. Eu
nunca havia me sentido assim antes;
não podia definir isso.
“Mike, acho que você devia dizer sim,”
Bella disse de forma gentil.
As esperanças de Mike desapareceram.
Em outras circunstâncias eu teria gostado mas eu
estava preso no choque após a dor - e
o remorso que a dor e a raiva tinham me dado.
Alice estava certa. Eu não era forte o
suficiente.
Agora, Alice estaria vendo o futuro
contorcido e revirando, ficando confuso de novo. Isso a
agradaria?
“Você já chamou alguém?” Mike
perguntou sóbrio. Ele deu uma olhada para mim,
suspeitando pela primeira vez em um
bom tempo. Eu notei que nunca tinha disfarçado
meu interesse bem, minha cabeça estava
inclinada na direção de Bella.
A raiva descontrolada nos pensamentos
dele - raiva por qualquer um que ela preferisse -
de repente deu um nome ao meu
sentimento.
Eu estava com ciúmes.
“Não” Ela disse achando um pouco de
graça. “Eu não vou mesmo.”
Por trás de todo o remorso e raiva, eu
senti alívio nas palavras dela. De repente eu estava
considerando os meus rivais.
“Por que não?” Mike perguntou de uma
forma quase mal-educada. Me ofendia que ele
falasse assim com ela. Eu me segurei.
“Eu vou para Seattle nesse sábado.”
Ela respondeu.
A curiosidade não era mais tão
viciante quanto antes - agora que eu estava mais
concentrado em descobrir as respostas
e tudo mais. Eu saberia os porquês e quando dessa
revelação.
O tom de Mike continuou grosso. “Você
não pode ir outro dia?”
“Desculpa, não.” Bella foi mais brusca
agora. “Então você não deveria fazer Jess esperar
mais - È falta de educação.”
A preocupação dela com os sentimentos
de Jessica diminuiu as chamas do meu ciúme.
Essa viagem para Seattle me parecia
suspeita como uma desculpa para dizer não - ela
recusou puramente por lealdade a
amiga? Ela realmente queria poder dizer sim? Ou os
dois palpites estavam errados? Ela
estava interessada em outra pessoa?
“…, você tem razão.” Mike murmurou,
com a moral tão baixa que eu quase senti pena
dele. Quase.
Ele parou de olhar para ela, cortando
minha visão do rosto dela na sua mente.
Eu não podia tolerar isso.
Eu virei para ler a expressão dela por
mim mesmo, pela primeira vez em mais de um mês.
Foi um alívio poder me autorizar a
fazer isso, como respirar depois de muito tempo
embaixo d’água era para humanos.
Os olhos delas estavam fechados e suas
mãos de cada lado do seu rosto. Seus ombros
curvados pra frente de forma
defensiva. Ela balançava a cabeça suavemente, como se ela
estivesse tentando parar de pensar em
alguma coisa.
Frustrante. Fascinante.
A voz do Sr.Banner a tirou da sua
reflexão e seus olhos abriram devagar. Ela olhou para
mim imediatamente, talvez sentindo que
eu a olhava. Ela me olhou nos olhos com a
mesma expressão perplexa que tinha me
perseguido.
Eu não senti remorso ou culpa ou raiva
naquele segundo. Eu sabia que eles reapareceriam,
_______________________________________5
logo mas por hora era até um pouco
excitante. Como se eu tivesse ganhado e não perdido.
Ela não parou de me olhar mesmo eu
encarando-a com uma intensidade imprópria,
tentando sem sucesso ler seus
pensamentos por seus olhos castanhos. Eles estavam
cheios de perguntas ao invés de
respostas.
Eu podia ver a reflexão dos meus
próprios olhos, vi eles pretos com sede. Já haviam
passado quase duas semanas desde a
última vez que eu cacei; isso não era o modo mais
seguro de sucumbir a minha vontade.
Mas a escuridão não pareceu assustar ela. Ela não
olhou em outra direção e uma leve cor
vermelha começou a aparecer na sua face.
O que ela estava pensando agora?
Eu quase perguntei em voz alta, mas quase
ao mesmo momento Sr.Banner chamou meu
nome. Eu ouvi a resposta certa na sua
mente e olhei rapidamente na sua direção.
Eu respirei rapidamente. “Ciclo de
Krebs.”
A sede coçou minha garganta - fazendo
meus músculos mais tensos e enchendo minha
boca com veneno. - eu fechei os olhos,
tentando me concentrar apesar do desejo pelo
sangue dela que pulsava dentro de mim.
O monstro estava mais forte do que
antes. O monstro estava reaparecendo. Ele se juntou
a esse futuro que dava a ele uma
chance de 50% que ele desejava de maneira cruel.
O terceiro futuro incerto eu havia
tentando construir por força de vontade apenas tinha
sido destruído - pelo ciúmes, acima de
tudo. - e por isso o monstro estava cada vez mais
perto de ter seu desejo.
O remorso e a culpa me queimaram assim
como a sede e se eu tivesse como produzir
lágrimas elas estariam se formando
agora.
O que foi que eu fiz?
Sabendo que a batalha estava perdida,
não parecia ter mais uma razão para resistir o que
eu queria; eu virei para encarar Bella
novamente.
Ela havia se escondido no próprio
cabelo, mas eu podia ver que seu rosto estava
totalmente vermelho agora.
O monstro gostou daquilo.
Ela não me olhou novamente, mas mexeu
de forma nervosa em uma mecha de cabelo.
Seus dedos delicados, seu pulso
delicado - eles eram tão frágeis, parecendo que só minha
respiração podia os romper.
Não, não, não. Eu não podia fazer
isso. Ela era muito frágil, boa demais, preciosa demais
para merecer esse destino. Eu não
podia permitir que minha vida colidisse com a dela,
destruir a vida dela.
Mas eu não podia ficar longe dela
também. Alice estava certa sobre isso.
O monstro dentro de mim se manifestou,
frustrado conforme eu pensava.
Minha breve hora passou muito rápido.
O sinal tocou e ela começou a arrumar as coisas
sem olhar para mim. Isso me
decepcionou mas eu não podia esperar nada menos. O jeito
que eu tinha a tratado desde o
acidente foi inaceitável.
“Bella?” eu disse, sem conseguir me
segurar. Minha força de vontade despedaçada.
Ela hesitou antes de olhar pra mim;
quando ela virou sua expressão estava defensiva e
desconfiada.
Eu relembrei a mim mesmo que ela tinha
o direito de desconfiar de mim. Ela devia.
Ela esperou que eu continuasse mas eu
só olhei para ela lendo sua expressão. Eu respirava
forte em intervalos regulares, lutando
contra minha sede.
“O que?” Ela finalmente perguntou.
“Você está falando comigo novamente?” Havia um
pingo de ressentimento em sua voz,
como sua raiva aparecendo. Isso me fez sorrir.
Eu não tinha certeza de como responder
a pergunta dela.Eu devia falar com ela de novo?
Não. Não se eu pudesse evitar. Eu
tentaria.
“Não, na verdade não.” Eu falei para
ela.
Ela fechou os olhos, o que me
frustrou. Eu me permiti o máximo para tentar acessar os
seus sentimentos. Ela respirou fundo
sem abrir os olhos. Seu maxilar estava rígido.
Com olhos fechados, ela falou.
Certamente não era o jeito normal de conversar. Porque ela
fazia isso?
“Então o que você quer, Edward?”
O som do meu nome nos lábios dela fez
algo estranho ao meu corpo. Se meu coração
batesse, estaria acelerado.
Mas como responder para ela?
Com a verdade, eu decidi. Seria o mais
sincero que eu podia ser com ela a partir de agora.
Eu não queria merecer sua
desconfiança, mesmo omitir a verdade era impossível.
“Me desculpe.” Eu falei. Era a melhor
verdade que ela poderia saber. Infelizmente o único
jeito seguro de me desculpar era de
maneira trivial. “Eu estou sendo muito mal educado,
eu sei. Mas é melhor assim, acredite.”
Seria melhor se eu pudesse continuar
sendo mal educado. Será que eu conseguiria?
Os olhos dela abriram, sua expressão
ainda cautelosa.
“Não sei o que você quer dizer.”
Eu tentei o máximo que podia por um
aviso entrelinhas para ela. “… melhor para nós não
sermos amigos.” Certamente ela podia
sentir a verdade. Ela era esperta. “Confie em mim.”
Os olhos dela se estreitaram e eu
lembrei que eu havia dito as palavras para ela antes -
logo antes de quebrar a promessa. Eu
me encolhi quando ela travou o queixo - ela
claramente lembrava também.
“… uma pena você não ter descoberto
isso antes.” Ela disse brava. “Você poderia ter
evitado todo esse arrependimento.”
Eu a encarei em choque. O que ela
sabia dos meus arrependimentos?
“Arrependimento? Arrependimento pelo
que?” Eu exigi.
“Por não ter deixado aquela van idiota
me esmagar!” ela respondeu bruscamente.
Eu congelei, entorpecido.
Como ela podia pensar isso? Salvar sua vida tinha sido a única
coisa certa que eu fiz desde
que a conheci. A única coisa de que
não me envergonhava. A única coisa que me deixava
feliz em existir. Estive lutando para
mantê-la viva desde o primeiro momento em que senti
seu cheiro. Como ela podia estar
pensando isso de mim? Como se atrevia questionar meu
único ato de bondade em toda essa
bagunça?
- Acha que me arrependo de ter salvado
você?
- Eu sei que se arrepende.
A avaliação dela das minhas intenções
me deixou fervendo de raiva. - Você não sabe de
nada.
Como sua mente funcionava de um jeito
confuso e incompreensível! Ela não devia pensar
do mesmo modo que os outros humanos.
Essa devia ser a explicação por trás de seu
silêncio mental. Ela era completamente
diferente.
Ela virou o rosto, batendo os dentes.
Suas bochechas estavam vermelhas, com raiva de
novo. Ela juntou os livros em uma
pilha, os colocou nos braços e marchou na direção da
porta sem encontrar meu olhar.
Mesmo irritado como eu estava, era
impossível não achar seu ódio divertido.
Ela andou desajeitada, sem olhar para
onde ia, e seu pé bateu no batente da porta. Ela
tropeçou, e todas as coisas caíram no
chão. Ao invés de se curvar para pegá-las, ficou
parada, rígida, sem ao menos olhar
para baixo, como se não tivesse certeza de que os
livros merecessem ser recuperados.
Consegui não dar risada.
Ninguém estava aqui para me ver; eu
fui rapidamente para o seu lado e juntei os livros
antes que ela olhasse para baixo.
Ela se inclinou, me viu, e parou.
Entreguei os livros para ela, tomando cuidado para que
minha pele gelada não tocasse a dela.
- Obrigada. - ela disse numa voz fria,
severa.
Seu tom trouxe minha irritação à tona.
- Não há de quê. - respondi no mesmo
tom frio.
Ela se endireitou e foi para sua
próxima aula.
Eu fiquei olhando até que não pudesse
mais ver sua figura nervosa.
A aula de espanhol passou em um
borrão. A Sra. Goff não questionou minha distração - ela
sabia que meu espanhol era superior ao
dela, e me deu liberdade - me deixando livre para
pensar.
Então, eu não podia ignorar a garota.
Isso era óbvio. Mas isso significava que eu não tinha
outra saída a não ser destruí-la? Este
não podia ser o único futuro disponível. Tinha que ter
alguma outra escolha, algum equilíbrio.
Tentei pensar em um jeito…
Não prestei muita atenção em Emmett
até que a aula terminou. Ele estava curioso -
Emmett não era muito intuitivo sobre
os sentimentos dos outros, mas ele podia ver uma
óbvia mudança em mim. Perguntou-se o
que teria acontecido para tirar o insistente olhar
de ódio do meu rosto. Ele lutou para
definir a mudança, e finalmente decidiu que eu
parecia esperançoso.
Esperançoso? Era assim que eu parecia
por fora?
Refleti com a idéia de esperança
enquanto andávamos para o Volvo, me perguntando
sobre o que exatamente eu devia ter
esperança.
Mas não tive que refletir por muito
tempo. Sensível aos pensamentos dos outros sobre a
garota como eu era, o som do nome de
Bella nas cabeças dos meus… dos meus rivais, tive
que admitir, chamou minha atenção.
Eric e Tyler, tendo escutado - com muita satisfação -
do fracasso de Mike, estavam se
preparando para agir.
Eric já estava pronto, encostado na
picape dela, de modo que ela não conseguisse evitá-lo.
A aula de Tyler estava atrasada por
causa de um trabalho, e ele estava desesperado para
pegá-la antes que ela escapasse.
Isso eu tinha que ver.
- Espere pelos outros aqui, está bem?
- murmurei para Emmett.
Ele me olhou, suspeito, mas então deu
de ombros e acenou.
O garoto ficou louco, ele pensou,
divertido com meu pedido esquisito.
Eu vi a Bella saindo do ginásio, e
esperei ela passar de um lugar onde ela não me veria.
Quando ela se aproximou da emboscada
de Eric, eu fui para mais perto, andando num
ritmo que me faria passar no momento
certo.
Eu observei o corpo dela ficar tenso
quando viu o garoto a esperando. Ela parou por um
momento, então relaxou e continuou
andando.
- Oi, Eric. - eu a escutei falar num
tom amigável.
Fiquei inesperadamente ansioso. E se
esse menino magro e com problemas de pele fosse
de algum modo atraente para ela?
Eric engoliu alto, seu pomo-de-adão
tremendo. - Oi, Bella.
Ela parecia inconsciente do nervosismo
dele.
- E aí? - ela perguntou, destrancando
a picape sem olhar para a expressão assustada que
ele tinha.
-É… só estava pensando… se você
gostaria de ir ao baile de primavera comigo. - a voz dele
tremeu.
- Pensei que as meninas é quem deviam
convidar. - ela disse, parecendo frustrada.
- Bom, e é. - ele concordou infeliz.
Esse pobre menino não me irritou tanto
quanto Mike Newton, mas eu não conseguia achar
dentro de mim qualquer simpatia por
sua angústia até que Bella lhe respondeu com uma
voz gentil.
- Obrigada por me convidar, mas vou a
Seattle nesse dia.
Ele já tinha ouvido isso; mesmo assim,
ficou desapontado.
-Ah - ele murmurou. - Bom, quem sabe
na próxima?
- Claro. - ela concordou. Então mordeu
o lábio, como se tivesse se arrependido de dar uma
brecha a ele. Gostei disso.
Eric se afastou da picape e foi
embora, indo na direção errada para seu carro, querendo só
escapar dali.
Passei por ela nesse momento, e
escutei seu suspiro de alívio. Dei risada.
Ela se virou ao som, mas eu olhei para
frente, tentando evitar que meus lábios se
contorcessem em divertimento.
Tyler estava atrás de mim, quase
correndo na pressa de falar com ela antes que ela
pudesse ir para casa. Ele estava mais
destemido e confiante que os outros dois; só tinha
esperado tanto tempo para abordar
Bella porque respeitava que Mike a tinha visto
primeiro.
Queria que ele conseguisse falar com
ela por dois motivos. Se - eu estava começando a
suspeitar - toda essa atenção fosse
irritante para Bella, eu queria aproveitar e assistir sua
reação. Mas, se não - se o convite de
Tyler fosse o que ela estava esperando - então eu
queria saber disso também.
Medi Tyler Crowley como um rival,
sabendo que isso era errado de se fazer. Ele parecia
tediosamente comum e pouco notável
para mim, mas o que eu sabia das preferências de
Bella? Talvez ela gostasse de garotos
comuns…
_______________________________________6
Estremeci com esse pensamento. Eu
jamais conseguiria ser um garoto comum. Que tolice
era me colocar como rival de seus
afetos. Como ela poderia se importar com alguém que
era, sob qualquer ângulo, um monstro?
Ela era boa demais para um monstro.
Eu devia deixá-la escapar, mas minha
curiosidade indesculpável evitou que fizesse a coisa
certa. De novo. Coloquei meu Volvo na
pista estreita, bloqueando a saída dela.
Emmett e os outros estavam vindo, mas
ele tinha descrito meu comportamento estranho
para eles, então estavam andando
lentamente, me observando, tentando entender o que
eu estava fazendo.
Eu olhei a garota pelo retrovisor. Ela
olhou meu carro com raiva, encontrando meu olhar,
como se quisesse estar dirigindo um
tanque do que uma picape Chevy enferrujada.
Tyler correu para o seu carro e entrou
na fila atrás dela, agradecendo meu comportamento
inexplicável. Ele acenou para ela,
para chamar sua atenção, mas ela não notou. Ele
esperou um momento, então saiu do
carro, vagando para a janela do carona dela. Bateu
no vidro.
Ela pulou, então olhou para ele
confusa. Depois de um segundo, abriu as janelas
manualmente, parecendo ter alguns
problemas com elas.
- Desculpe, Tyler. - ela disse numa
voz irritada. - Estou presa atrás do Cullen.
Ela falou meu sobrenome com uma voz
dura - ainda estava brava comigo.
- Ah, eu sei - Tyler disse, não se
importando com o humor dela. - Eu só queria perguntar
uma coisa enquanto estamos atolados
aqui.
O sorriso dele era convencido.
Fiquei aliviado com o jeito que ela
empalideceu com a tentativa óbvia dele.
- Vai me convidar para o baile de
primavera? - ele perguntou, nenhum pensamento de
derrota em sua mente.
- Eu não estarei na cidade, Tyler. -
ela lhe disse, a irritação ainda bem presente em sua
voz.
-É, o Mike me contou.
- Então por quê… - ela começou a
perguntar.
Ele deu de ombros. - Eu esperava que
você só estivesse se livrando deles do jeito mais
fácil.
Os olhos dela queimaram, então ficaram
frios. - Desculpe, Tyler. - ela disse, sem parecer
sentir nada. - Eu estarei mesmo fora
da cidade.
Ele aceitou essa desculpa, sua
autoconfiança intocada. - Tudo bem. Ainda temos o baile
dos estudantes.
Ele se empertigou e foi para o seu
carro.
Estava certo em ter esperado por isso.
A expressão horrorizada no rosto dela
era impagável. Disse-me o que eu não devia estar
tão desesperado para saber - que ela
não sentia nada por nenhum desses garotos
humanos que queriam convidá-la.
E também, a expressão dela era
possivelmente a coisa mais engraçada que eu já tinha
visto.
Minha família chegou então, confusa
pelo fato de que eu estava, para variar, me tremendo
com o riso em vez de fazendo uma
careta assassina a qualquer coisa à vista.
O que é tão engraçado? Emmett
quis saber.
Eu só balancei minha cabeça enquanto
me revirei com uma nova onda de riso quando
Bella acelerou seu motor nervosa. Ela
parecia querer o tanque outra vez.
- Vamos embora! - Rosalie sibilou
impaciente. - Pára de ser idiota. Se puder.
As palavras dela não me irritaram -
estava muito distraído. Mas fiz o que ela pediu.
Ninguém falou comigo no caminho para
casa. Continuei a rir uma vez ou outra, pensando
no rosto de Bella.
Quando eu virei para a estrada -
acelerando agora que não havia testemunhas - Alice
arruinou meu humor.
- Então eu posso falar com a Bella
agora? - ela perguntou inesperadamente, sem
considerar as palavras primeiro, não
me dando aviso.
- Não. - eu revidei.
- Isso não é justo. Por que estou
esperando?
- Eu ainda não decidi nada, Alice.
- Que seja, Edward.
Na cabeça dela, os dois destinos de
Bella estavam claros novamente.
- Qual o sentido em conhecê-la? - eu
murmurei, de repente rabugento. - Se eu vou matála?
Alice hesitou por um segundo. - Você
tem razão. - ela admitiu.
Virei a ultima curva a 150 km/h então
parei a três centímetros da parede da garagem.
- Aproveite sua corrida. - Rosalie
disse presunçosa quando eu me atirei para fora do carro.
Mas eu não fui correr hoje. Em vez
disso, fui caçar.
Os outros iriam caçar amanhã, mas eu
não podia estar com sede agora. Exagerei, bebendo
mais do que o necessário, me fartando
de novo - um pequeno grupo de cervos e um urso
negro que tive a sorte de cruzar tão
cedo no ano. Estava tão cheio que era desconfortável.
Por que isso não podia ser o
suficiente? Por que o cheiro dela tinha que ser tão mais forte
que todas as outras coisas?
Eu tinha caçado para me preparar para
o próximo dia, mas, quando eu não conseguia mais
fazer isso e o sol ainda estava a
horas de nascer, soube que o próximo dia não chegaria
rápido o bastante.
A enorme tensão me varreu outra vez
quando eu percebi que ia encontrar a garota.
Eu lutei comigo todo o caminho de
volta a Forks, mas meu lado menos nobre ganhou a
discussão, e eu segui adiante com meu
plano indefensável. O monstro estava inquieto,
mas bem alimentado. Eu sabia que
manteria uma distância segura dela. Só queria saber
como ela estava. Só queria ver seu
rosto.
Passava da meia-noite e a casa de
Bella estava escura e silenciosa. A picape dela
estacionada no meio-fio e a
radiopatrulha de seu pai na entrada de carros. Não havia
pensamentos conscientes em lugar algum
na vizinhança. Olhei a casa por um momento, da
escuridão da floresta me a cercava do
lado leste. A porta da frente provavelmente estava
trancada - não que isso fosse um
problema, exceto que eu não queria deixar a porta
quebrada como evidência para trás.
Decidi tentar a janela de cima primeiro. Não existiam
muitas pessoas que se importavam em
instalar uma fechadura ali.
Cruzei o jardim aberto e escalei a
parede da casa em meio segundo. Pendurado por uma
mão na calha que ficava em cima da
janela, olhei pelo vidro, e minha respiração parou.
Era o quarto dela. Eu a conseguia ver,
as cobertas no chão e os lençóis enrolados por suas
pernas. Enquanto eu olhava, ela se
virou inquieta e colocou um braço por cima da cabeça.
Ela não dormia profundamente, pelo
menos não à noite. Ela sentiu o perigo próximo?
Fiquei com nojo de mim mesmo quando a
vi mexer de novo. O quanto eu era melhor que
qualquer outro bisbilhoteiro? Eu não era melhor. Era muito, muito pior.
Relaxei as pontas dos meus dedos, para
me deixar cair. Mas primeiro me permiti um longo
olhar para o rosto dela.
Não estava tranqüilo. A pequena ruga
estava entre suas sobrancelhas, os cantos de seus
lábios para baixo. Seus lábios
tremeram, e então se abriram.
- Está bem, mãe. - ela resmungou.
Bella falava dormindo.
A curiosidade me invadiu, mais forte
que o nojo que tinha por mim mesmo. O encanto que
aqueles pensamentos falados,
desprotegidos e inconscientes, era incrivelmente tentador.
Eu tentei abrir a janela, e não estava
fechada, embora tenha travado por ter ficado tanto
tempo sem ser aberta. Eu a empurrei
lentamente para o lado, encolhendo a cada pequeno
gemido que a moldura de metal fazia.
Teria que achar algum óleo para a próxima vez…
Próxima vez? Eu balancei a cabeça, com
nojo de novo.
Passei silenciosamente pela janela
meio aberta.
O quarto dela era pequeno -
desorganizado, mas não sujo. Havia livros empilhados no
chão perto da sua cama, suas lombadas
viradas para o outro lado, e CDs espalhados perto
de seu disc-man barato - o que estava
por cima era só uma caixa vazia. Papéis cercavam
um computador que parecia mais
pertencer a um museu dedicado a tecnologias obsoletas.
Sapatos estavam no chão de madeira.
Eu queria muito ler os títulos de seus
livros e CDs, mas tinha prometido que iria manter a
distância; em vez disso, fui sentar na
velha cadeira de balanço no outro canto do quarto.
Alguma vez eu tinha realmente pensado
que ela era comum? Pensei naquele primeiro dia,
e meu nojo pelos garotos que ficaram
tão rapidamente intrigados por ela. Mas quando eu
me lembrei do rosto dela nos
pensamentos deles, não conseguia entender por que não a
tinha achado linda imediatamente.
Parecia uma coisa óbvia.
Nesse momento - com seu cabelo escuro
embaraçado e selvagem envolta de seu rosto
pálido, usando uma camiseta puída
cheia de buracos e uma calça surrada - ela me deixou
sem fôlego. Ou teria, pensei
ironicamente, se eu estivesse respirando.
Ela não falou. Talvez seu sonho tenha
terminado.
Eu encarei seu rosto e tentei pensar
em algum modo de deixar o futuro suportável.
Machucá-la não era suportável. Isso
significava que minha única escolha era tentar ir
embora novamente?
Os outros não podiam discutir comigo
agora. Minha ausência não iria colocar ninguém em
perigo. Não teria nenhuma suspeita,
nada para levar os pensamentos de ninguém de volta
ao acidente.
Eu vacilei como tinha feito esta
tarde, e nada pareceu possível.
Não podia esperar ser rival dos
meninos humanos, quer esses garotos específicos a
atraíssem ou não. Eu era um monstro.
Como ela podia me ver de qualquer outro jeito? Se
ela soubesse a verdade sobre mim, iria
assustá-la e repulsá-la. Como a vítima em um filme
de terror, ela iria correr, gritando
de horror.
Lembrei-me do primeiro dia dela na
aula de biologia… e soube que essa seria exatamente
a reação certa para ela ter.
Era besteira imaginar que se fosse eu
quem tivesse a convidado para esse baile bobo, ela
teria cancelado seus planos feitos em
cima da hora e concordado em ir comigo.
Não era a mim que ela estava destinada
a dizer sim. Era para alguma outra pessoa,
humana e quente. E eu nem podia -
algum dia, quando ela dissesse sim - me deixar caçálo
e matá-lo, porque ela o merecia, quem
quer que fosse que tivesse escolhido.
Eu devia a ela fazer a coisa certa
agora; não podia mais fingir que estava só em perigo de
amar essa garota.
E mesmo assim, não importava realmente
se eu fosse embora, porque Bella jamais me
veria do jeito que eu queria que ela
visse. Ela nunca me veria como alguém que merecesse
ser amado.
Nunca.
Um coração morto, gelado, podia ser
despedaçado? Parecia que o meu podia.
- Edward. - Bella disse.
Eu congelei, encarando seus olhos
fechados.
Ela tinha acordado, me visto aqui? Ela
parecia adormecida, mas sua voz tinha sido tão
clara…
Ela suspirou calmamente, então se
moveu inquieta outra vez, rolando de lado - ainda
dormindo e sonhando.
- Edward. - ela murmurou suavemente.
Ela estava sonhando comigo.
Um coração morto, gelado, podia bater
de novo? Parecia que o meu podia.
- Fique. - ela suspirou. - Não vá. Por
favor… não vá.
Ela estava sonhando comigo, e nem era
um pesadelo. Ela queria que eu ficasse com ela, lá
em seu sonho.
Eu lutei para achar palavras para
nomear os sentimentos que me invadiram, mas não
existiam palavras fortes o suficiente
para descrevê-los. Por um longo momento, me afoguei
neles.
Quando eu emergi, não era o mesmo
homem que havia sido.
Minha vida era a meia-noite, sem
mudanças, sem fim. Deveria, por necessidade, sempre
ser a meia-noite para mim. Então como
era possível que o sol estivesse nascendo agora,
bem na metade da meia-noite?
No momento em que me tornei um
vampiro, trocando minha alma e mortalidade por
imortalidade na dor abrasadora da
transformação, eu tinha realmente congelado. Meu
corpo tinha se transformado em algo
mais para pedra do que para carne, permanente e
sem mudanças. Eu mesmo, também, tinha
congelado como era - minha personalidade,
meus gostos e desgostos, meus humores
e meus desejos; todos fixados de um jeito.
Era a mesma coisa para o resto dele.
Todos nós estávamos congelados. Pedras vivas.
Quando uma mudança chegava para um de
nós, era uma coisa rara e inalterável. Tinha
visto acontecer com Carlisle, e uma
década depois, com Rosalie. O amor os tinha mudado
de um jeito irremediável, um jeito que
nunca mais mudava. Mais de oitenta anos haviam
se passado desde que Carlisle achara
Esme, e ele ainda a olhava com os olhos incrédulos
de primeiro amor. Seria sempre assim
para eles.
Seria sempre assim para mim também. Eu
sempre amaria essa frágil garota humana, pelo
resto da minha existência sem limites.
Olhei para seu rosto inconsciente,
sentindo esse amor por ela se acomodar em cada célula
do meu corpo de pedra.
Ela dormia com mais calma agora, um
sorriso fraco em seus lábios.
Sem deixar de observá-la, comecei a
planejar.
Eu a amava, então eu tentaria ser
forte o suficiente para deixá-la. Eu sabia que não era
forte assim agora. Teria que trabalhar
nisso. Mas talvez eu fosse forte o suficiente para
moldar o futuro de outro jeito.
Alice tinha visto só dois futuros para
Bella, e agora eu entendia os dois.
Amá-la não evitaria que eu a matasse,
se eu cometesse erros.
Mas eu não conseguia sentir o monstro
agora, não conseguia achá-lo em nenhum lugar
dentro de mim. Talvez o amor o tivesse
silenciado para sempre. Se eu a matasse agora,
não seria intencional, só um horrível
acidente.
Eu teria que ser extraordinariamente
cuidadoso. Jamais, jamais seria capaz de baixar a
guarda. Teria que controlar cada
respiração. Teria sempre que manter uma distância
segura.
Não cometeria erros.
Eu finalmente entendi o segundo
futuro. Tinha estado aterrorizado por essa visão - o que
poderia acontecer que resultaria em
Bella se tornar uma prisioneira nessa meia-vida
imortal? Agora - devastado por desejar
a garota - eu podia entender como eu, num
egoísmo indesculpável, pediria a meu
pai esse favor. Pediria a ele que tirasse a vida e a
alma dela para que eu pudesse ficar
com ela para sempre.
Ela merecia coisa melhor.
Mas eu vi mais um futuro, uma linha
estreita pela qual eu talvez pudesse caminhar, se
pudesse manter meu equilíbrio.
Conseguiria fazer? Ficar com ela e
deixá-la humana?
Deliberadamente, inspirei fundo e
depois outra vez, deixando que seu cheiro passasse por
mim como fogo. O quarto estava cheio
de seu perfume; a fragrância dela saía de cada
superfície. Minha cabeça girou, mas
lutei contra a tontura. Teria que acostumar com isso,
se eu fosse tentar ter qualquer tipo
de relacionamento com ela. Respirei novamente,
deixando o ar me queimar.
A observei dormindo até que o sol
nascesse atrás das nuvens no leste, planejando e
respirando.
Fui para casa quando os outros tinham
ido embora para a escola. Troquei de roupa
rapidamente, evitando os olhos cheios
de perguntas de Esme. Ela viu a luz febril em meu
rosto, e sentiu preocupação e alívio.
Minha melancolia sem fim a magoava, e ela estava
feliz que parecia ter acabado.
Eu corri para a escola, chegando
poucos segundos depois que meus irmãos. Eles não
viraram, embora Alice deva ter
desconfiado que eu estava parado aqui nas grossas árvores
que cercavam o asfalto. Eu esperei até
que ninguém estivesse olhando, e então andei
casualmente por entre as árvores até o
estacionamento cheio de carros.
Eu ouvi a picape de Bella rugindo na
esquina, e parei atrás de um Suburban onde podia
observá-la sem ser visto.
Ela dirigiu até o estacionamento,
olhando meu Volvo por um longo momento antes de
parar em uma das vagas mais distantes,
uma careta em seu rosto.
Era estranho lembrar que ela
provavelmente ainda estava brava comigo, e por um bom
motivo.
Eu queria rir para mim mesmo - ou me
chutar. Todo o meu esquema e planejamento eram
totalmente inúteis se ela não se
importasse comigo, não eram? O sonho dela pode ter sido
sobre alguma outra coisa aleatória. Eu
era mesmo um tolo arrogante.
Bom, era muito melhor para ela se não
se importasse comigo. Isso não me impediria de
persegui-la, mas eu a avisaria de
minha perseguição. Devia isso a ela.
Andei silenciosamente, pensando qual
seria a melhor forma de me aproximar dela.
Ela deixou fácil. A chave da picape
escorregou por seus dedos quando ela saiu, e caiu em
uma poça funda.
Ela se inclinou, mas eu cheguei antes,
a pegando antes que ela tivesse que colocar os
dedos na água fria.
Encostei-me na picape quando ela me
encarou e então se endireitou.
- Como é que você fez isso? - ela perguntou.
Sim, ainda estava brava.
Oferecia a chave para ela. - Fiz o
quê?
Ela esticou a mão, e eu a deixei cair
em sua palma. Respirei fundo, absorvendo seu cheiro.
- Aparecer do nada desse jeito. - ela
esclareceu.
- Bella, não é culpa minha se você é
excepcionalmente distraída. - As palavras eram
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sarcásticas, quase uma piada. Tinha
alguma coisa que ela não visse?
Ela ouviu como a minha voz disse o
nome dela com carinho?
Ela me encarou, não gostando muito do
meu humor. Os batimentos dela aceleraram - de
raiva? De medo? Depois de um momento,
ela olhou para baixo.
- Por que o engarrafamento de ontem? -
ela perguntou sem encontrar meus olhos. -
Pensei que você devia fingir que eu
não existo e não me matar de irritação.
Ainda estava bastante brava. Ia tomar
algum esforço para deixar as coisas certas com ela.
E me lembrei da minha resolução de ser
honesto com ela…
- Aquilo foi pelo Tyler e não por mim.
Tive que dar uma chance a ele. - E então eu ri. Não
podia evitar, pensando na expressão
dela de ontem.
- Você… - ela engasgou, então parou,
parecendo estar furiosa demais para terminar. Ali
estava - a mesma expressão. Abafei
outra risada. Ela já estava nervosa o suficiente.
- E não estou fingindo que você não
existe. - terminei. Estava certo em manter as coisas
casuais, em provocá-la. Ela não
entenderia se eu a deixasse ver como me sentia de
verdade. Iria assustá-la. Tinha que
manter meus sentimentos sob controle, manter as
coisas leves…
- Então está tentando mesmo me matar de
irritação? Já que a van do Tyler não fez o
serviço?
Um rápido lampejo de raiva passou por
mim. Como ela podia honestamente acreditar
nisso?
Era irracional da minha parte ficar
tão ofendido - ela não sabia da transformação que tinha
acontecido à noite passada. Mas a
raiva era a mesma.
- Bella, você é completamente absurda.
- eu revidei.
O rosto dela corou, e ela virou as
costas para mim. Começou a ir embora.
Remorso. Não havia sentido em minha
raiva.
- Espere. - eu pedi.
Ela não parou, então eu a segui.
- Desculpe, foi grosseria minha. Não
estou dizendo que não é verdade. - era absurdo
imaginar que eu a queria machucada em
qualquer jeito. - mas de qualquer forma, foi uma
grosseria dizer aquilo.
- Por que não me deixa em paz?
Acredite, eu quis dizer. Eu tentei.
Ah, outra coisa, estou miseravelmente apaixonado por você.
Mantenha a coisa leve.
- Quero perguntar uma coisa, mas você
está me evitando. - Um outro curso de ação tinha
me ocorrido e eu dei risada.
- Você tem distúrbio de personalidade
múltipla? - ela perguntou.
Parecia que sim. Meu humor instável,
tantas emoções novas passando por mim.
- Lá vem você de novo. - eu assinalei.
Ela suspirou. - Tudo bem, então. O que
quer me perguntar?
- Eu estava me perguntando se, no
sábado que vem… - observei o choque passar por seus
olhos e sufoquei outra risada. - Sabe,
no dia do baile de primavera…
Ela finalmente me interrompeu,
voltando seus olhos para mim. - Está tentando ser
engraçadinho?
Sim. - Quer, por favor, me deixar
terminar?
Ela esperou em silêncio, os dentes
mordendo o lábio macio inferior.
Essa visão me distraiu por um momento.
Reações estranhas, desconhecidas agitaram
fundo no meu interior humano. Tentei
me livrar delas para que pudesse fazer meu papel.
- Eu a ouvi dizer que vai a Seattle
nesse dia e estava pensando se você queria uma carona.
- ofereci. Percebi que, melhor que
perguntar a ela sobre seus planos, eu poderia partilhálos.
Ela me olhou inexpressivamente. - Como
é?
- Quer uma carona para Seattle? -
Sozinho no carro com ela - minha garganta queimou
com o pensamento. Respirei fundo. Se acostume.
- Com quem? - ela perguntou, seus
olhos arregalados e confusos de novo.
- Comigo, é claro. - eu disse lentamente.
- Por quê?
Era realmente um choque que eu queria
a companhia dela? Ela deve ter chegado a pior
conclusão possível com meu
comportamento passado.
- Bom, eu pretendia ir a Seattle nas
próximas semanas e, para ser sincero, não tenho
certeza se sua picape vai agüentar. -
Era mais seguro provocá-la do que me permitir ser
sério.
- Minha picape funciona muito bem,
obrigada por sua preocupação. - ela disse na mesma
voz surpresa. E começou a andar outra
vez. Continuei a seguindo.
Ela não havia dito não, então
pressionei essa vantagem.
Ela diria não? O que eu faria se ela
dissesse?
- Mas sua picape pode chegar lá com um
tanque de gasolina?
- Não vejo como isso pode ser da sua
conta. - ela reclamou.
Ainda não era um não. E o coração dela
estava batendo mais rápido de novo, a respiração
vindo mais rápida.
- O desperdício de recursos
não-renováveis é da conta de todos.
“Honestamente, Edward, eu não consigo
te acompanhar. Eu pensei que você não queria
ser meu amigo.”
Uma forte emoção me atravessou quando
ela disse meu nome.
Como manter isso suave e também ser
honesto ao mesmo tempo? Bem, era mais
importante ser honesto. Especialmente
nesta questão.
“Eu disse que seria melhor se não
fossemos amigos, não que eu não queria ser.”
“Oh, obrigada, isso esclarece tudo,”
ela disse sarcasticamente.
Ela pausou, sob o teto da cafeteria, e
encontrou meu olhar novamente. As batidas de seu
coração estavam vacilantes. Ela estava
com medo?
Eu escolhi minhas palavras
cuidadosamente. Não, eu não poderia deixá-la, mas talvez ela
fosse esperta o suficiente para me
deixar, antes que fosse muito tarde.
“Seria mais… prudente pra você não ser minha amiga.” Fitando
a profundeza de chocolate
derretido dos seus olhos, eu perdi
minha segurança na luz. “Mas eu estou cansado de
tentar ficar longe de você, Bella.” As
palavras queimaram com muito fervor.
Sua respiração parou e, quando voltou
a respirar, aquilo me preocupou. Quanto eu a tinha
assustado? Bem, eu descobriria isso.
“Você vai a Seattle comigo?” eu
perguntei a queima roupa.
Ela acenou, seu coração batendo mais
alto.
Sim. Ela tinha dito sim pra mim.
E depois minha consciência me sufocou.
O que isso custaria a ela?
“Você realmente devia ficar longe de
mim,” eu a alertei. Ela me ouviria? Ela escaparia do
futuro no qual eu a estava lançando?
Eu não poderia fazer nada para salvá-la de mim?
Mantenha-se suave, eu me adverti. “Te vejo na aula.”
Eu tive que me concentrar para me
impedir de correr enquanto eu fugia.
6. Tipo sangüíneo
Eu a segui durante o dia todo através
dos olhos das outras pessoas, abertamente
consciente da minha própria
vizinhança.
Não os olhos de Mike Newton, por que
eu não conseguia mais agüentar suas ofensivas
fantasias, e não pelos olhos de
Jessica Stanley, por que seu ressentimento por Bella me
deixava perigosamente nervoso. Ângela
Weber era uma boa escolha, quando os olhos dela
estavam disponíveis; ela era gentil -
sua cabeça era um lugar fácil de estar. E algumas
vezes os professores providenciavam a
melhor vista.
Eu estava surpreso, assistindo ela
tropeçar pelo dia - tropeçando na beira da calçada,
deixando os livros cair, e muitas
vezes caindo junto; nos próprios pés - através dos
pensamentos das pessoas que ouvi
achando que Bella era desastrada.
Eu considerei aquilo. Era verdade que
ela muitas vezes teve a preocupação de ficar em pé,
direito. Eu me lembrava dela
tropeçando até a mesa no primeiro dia, deslizando pelo gelo
antes do acidente, caindo embaixo do
batente da porta ontem… Era impar, eles estavam
certos. Ela era desastrada.
Eu não sabia por que aquilo era tão
engraçado para mim, mas eu estava rindo em voz alta
enquanto andava da aula de História
Americana para o Inglês e muitas pessoas me
lançaram olhares cuidadosos. Como eu
não tinha percebido isso antes? Possivelmente por
que havia algo bem gracioso em sua
calma, no jeito que ela mantinha a cabeça, o arco do
seu pescoço…
Não havia nada de gracioso nela agora.
Mr. Varner assistia ela prender a ponta de sua bota
no carpete e literalmente cair na sua
cadeira.
Eu ri de novo.
O tempo se movia incrivelmente lento
enquanto eu esperava para vê-la com meus próprios
olhos. Finalmente o sinal tocou. Eu
corri até a cafeteria para assegurar meu lugar. Eu era o
primeiro a chegar lá. Escolhi uma mesa
que normalmente estava vazia, e eu estava seguro
de permanecer no caminho que tinha me
levado a sentar ali.
Quando minha família entrou e me viu
sentado sozinho em meu novo lugar eles não
estavam surpresos. Alice devia ter
avisado a eles.
Rosalie passou por mim sem me olhar.
Idiota.
Rosalie e eu nunca tivemos um
relacionamento fácil - eu a ofendi na primeira vez que ela
me ouviu falar, e foi ladeira abaixo
desde então - mas parecia que elas estava mais
temperamental nesses últimos dias. Eu
suspirei. Para Rosalie tudo era sobre ela mesmo.
Jasper me deu um sorriso torto e
continuou a andar.
Boa sorte, ele pensou
duvidosamente.
Emmett rolou os olhos e balançou a
cabeça.
Perdeu a cabeça, pobre garoto.
Alice estava radiante, seus dentes
brilhando mais do que deviam.
Posso falar com Bella agora?
“Fique fora disso,” Eu disse através
da minha respiração.
Seu rosto ficou triste, e então
brilhou de novo.
Tudo bem. Seja teimoso. É só uma questão de tempo.
Ela suspirou de novo.
Não se esqueça da aula de laboratório
de biologia de hoje, ela me lembrou.
Eu acenei com a cabeça. Não, eu não me
esqueci disso.
Enquanto eu esperava Bella chegar, eu
a segui através dos olhos do calouro que andava
atrás de Jessica, no caminho para a
cafeteria. Jessica estava tagarelando sobre o próximo
baile, mas Bella não disse nada em
resposta. Não que Jessica tivesse dado muita chance a
ela de responder.
No momento em que Bella passou pela
porta, seus olhos fitaram momentaneamente a
mesa onde meus irmãos se sentavam. Ela
observou por um momento, e então sua testa se
enrugou e seu olhar baixou até o chão.
Ela não havia me notado.
Ela parecia tão… triste. Eu senti uma
urgência enorme em levantar e ir até ela, para
confortá-la de alguma forma, eu só não
sabia o que ela acharia reconfortante. Eu não tinha
idéia do motivo que a fizera parecer
daquela forma. Jessica continuava a matraquear sobre
o baile. Será que Bella estava triste
que iria perder isto? Aquilo não parecia muito
provavell…
Mas poderia ser remediado, se ela
quisesse.
Ela comprou uma bebida para o seu
almoço e nada mais. Aquilo estava certo? Será que ela
não precisava de mais nutrientes do
que apenas aquilo? Eu nunca prestei muita atenção à
dieta de um humano antes. Humanos eram
tão exacerbadamente frágeis! Havia milhões de
coisas com que deviam se preocupar…
“Edward Cullen está encarando você
novamente,” eu ouvi Jessica dizer. “Por que será que
ele está sentado sozinho hoje?”
Eu estava agradecido a Jessica -
apesar de ela estar ainda mais ressentida agora - porque
Bella levantou a cabeça e seus olhos
procuraram até que encontrassem os meus.
Não havia traço de tristeza em sua
face, agora. Eu me permiti acreditar que ela estava
triste por imaginar que eu havia ido
embora mais cedo, e a esperança desse pensamento
me fez sorrir.
Eu a chamei com meu dedo para que ela
se juntasse a mim. Ela pareceu tão surpresa com
aquilo que eu quis provocá-la
novamente.
Então eu pisquei e ela ficou
boquiaberta.
“Ele está chamando você?” Jessica perguntou com desprezo.
“Talvez ele precise de ajuda com o
dever de biologia,” ela disse em uma voz baixa e cheia
de incerteza. “Um, é melhor eu ver o
que ele quer.”
Este foi um outro sim.
Ela tropeçou duas vezes no caminho
para a minha mesa, apesar de não haver nada no seu
rumo além de um piso perfeitamente
plano. Sério, como eu deixei de notar isto antes? Eu
estava prestando mais atenção aos seus
pensamentos silenciosos, creio eu… O que mais
eu teria perdido?
Seja honesto, seja claro eu repeti para mim mesmo.
Ela parou atrás da cadeira que estava
a minha frente, hesitante. Eu respirei fundo, dessa
vez pelo meu nariz e não pela boca.
Sinta a queimação,
eu pensei objetivamente.
“Por que você não se senta comigo
hoje?” Eu perguntei a ela.
Sem tirar os olhos de mim por um
instante, ela puxou a cadeira e sentou-se. Ela parecia
nervosa, mas sua aceitação física era
um outro sim.
_______________________________________8
Eu esperei que ela falasse.
Levou um momento, mas finalmente ela
falou, “Isto é diferente.”
“Bem…” Eu hesitei “Eu decidi, de uma
vez que eu vou para o inferno, posso muito bem
fazer o serviço completo
O que me fez dizer aquilo? Eu suponho
que pelo menos tenha sido honesto. E talvez ela
tivesse ouvido o aviso sutil que
minhas palavras continham. Talvez ela entendesse que ela
deveria se levantar e sair dali o mais
rápido que pudesse…
Ela não se levantou. Ela me encarava,
esperando, como se eu não tivesse terminado minha
frase.
“Sabe, não tenho a mínima idéia do que
você quis dizer, ” ela disse quando percebeu que
eu não continuaria.
Aquilo foi um alívio, eu sorri.
“Eu sei.”
Era difícil ignorar os pensamentos que
vinham detrás de suas costas, gritando para mim -
E eu queria mudar de assunto, também.
“Eu acho que seus amigos estão
zangados comigo por eu ter te roubado deles.”
Isso pareceu não a preocupar. “Eles
sobreviverão.”
“Eu posso não devolver você, então.”
Eu não fazia idéia se eu estava tentando ser honesto
agora ou apenas tentando provocá-la de
novo. Estar perto dela tornava difícil dar sentido
aos meus próprios pensamentos.
Bella engoliu seco.
Eu ri da expressão dela. “Você parece
preocupada,” Aquilo realmente não deveria ser
divertido, ela deveria estar
preocupada.
“Não.” Ela era uma péssima mentirosa;
não a ajudou em nada que sua voz falhasse.
“Surpresa, na verdade… o que você quer
afinal?”
“Eu te disse, me cansei de tentar
ficar longe de você. Então estou desistindo.” Eu segurei
meu sorriso com um pouco de esforço.
Isso não estava funcionando nem um pouco -
tentando ser honesto e casual ao mesmo
tempo.
“Desistindo?” ela repetiu perplexa.
“Sim - desistindo de tentar ser
bonzinho.” E aparentemente desistindo de tentar ser casual.
“Eu simplesmente vou fazer o que eu
quiser, agora, e deixar que aconteça o que tiver de
acontecer.” ( no livro “Crepúsculo”
esta traduzido assim: …e deixar os dados rolarem. Mas
a trad. de vcs ficou melhorJ )
Aquilo foi honesto o bastante. Deixe
que ela veja meu egoísmo. Deixe que isto a alerte,
também.
“Não estou entendendo nada de novo.” /
” Você esta me confundindo de novo “
Eu era egoísta o bastante para estar
feliz que este fosse o caso. “Eu sempre falo muito
quando estou conversando com você -
este é um dos problemas.”
Um problema bem insignificante,
comparado a todos os outros.
“Não se preocupe,” ela reafirmou. “Eu
não entendo nada mesmo…”
Ótimo, então ela não iria fugir. “Eu
estava contando com isso.”
“Então, falando sem rodeios, somos
amigos agora?”
Eu ponderei por um instante. “Amigos…”
eu repeti. Não gostei do som daquilo. Não era o
bastante.
“Ou não,” ela sussurrou, parecendo
embaraçada.
Será que ela pensava que eu não
gostava dela o bastante?
Eu sorri. “Bem, podemos tentar, eu
acho. Mas eu vou alertar que eu não sou um bom
amigo para você.”
Eu esperei pela resposta ansiosamente
- esperando que finalmente ela ouvisse e
entendesse, e imaginando que eu
pudesse morrer se ela o fizesse. Que melodramático. Eu
estava me tornando humano demais perto
dela.
Seu coração batia rápido. “Você diz
muito isso.”
“Sim, porque você não está me dando
ouvidos.” Eu disse, muito intensamente outra vez.
“Eu ainda espero que você acredite
nisso. Se for esperta, você vai me evitar.”
Ah, mas será que eu permitiria que ela
fizesse isso, se tentasse?
Seus olhos se estreitaram. “Eu acho
que você deixou clara a sua opinião, a respeito do
meu intelecto.”
Eu não estava certo sobre o que ela
quis dizer, mas eu sorri me desculpando, imaginando
que eu a tivesse ofendido
acidentalmente.
“Então,” ela disse devagar. “Enquanto
eu estiver sendo… boba, vamos tentar ser amigos?”
“É isso o que parece.”
Ela olhou para baixo, examinando a
garrafa de limonada que tinha em mãos.
A velha curiosidade me atormentava.
“O que você está pensando?” Eu
perguntei - pelo menos era um alívio dizer estas palavras
em voz alta finalmente
Seu olhar encontrou o meu, e sua
respiração acelerou enquanto suas bochechas coraram,
eu inspirei, sentindo o saboreando o
ar.
“Eu estou tentando imaginar o que você
é.”
Segurei o sorriso em meu rosto,
travando minha feição naquela forma, enquanto o pânico
percorria todo o meu corpo.
É claro que ela estava pensando
naquilo. Ela não era estúpida. Eu não podia esperar que
ela fosse deixar de notar algo tão
evidente.
“Você está tendo alguma sorte nisso?”
Perguntei da forma mais sutíl que pude.
“Não muita.” Ela admitiu.
Eu ri suavemente com a resposnta,
sentindo um súbito alivio. “Quais são suas teorias?”
Elas não poderiam ser piores que a
verdade, qualquer que fossem.
Suas bochechas ficaram ainda mais
vermelhas, e ela não disse nada. Eu podia sentir no ar
o calor do seu rubor.
Tentei usar meu tom persuasivo nela.
Isso era algo que funcionava muito bem em
humanos normais.
“Não vai me dizer?” Sorri,
encorajando-a.
Ela balançou a cabeça negativamente.
“É muito embaraçoso.”
Ugh. Não saber era pior do que
qualquer outra coisa. Por que as especulações dela a
deixariam embaraçada? Não pude
suportar a curiosidade.
“É muito frustrante, sabe.”
Minha reclamação disparou algo nela.
Seus olhos brilharam e as palavras fluíram mais
rapidamente que o normal.
“Não. Eu não posso imaginar poque isso
pode ser minimamente frustrante - apenas porque
alguém se recusa a lhe dizer o que
está pensando, mesmo se durante todo o tempo
estivesse fazendo apenas pequenas
observções enigmáticas com a única intenção de lhe
deixar acordado a noite tentando
imaginar o que é que elas podem significar… agora, por
que isso seria frustrante?”
Eu franzi as sobrancelhas para ela,
irritado por aceitar que ela estava certa. Eu não estava
sendo justo.
Ela continuou. “Ou melhor, dizer também
que esta pessoa fez um monte de coisas
bizarras, desde salvar sua vida sob
circunstâncias impossíveis em um dia até te tratar como
um estranho no dia seguinte, e jamais
te explicar nem uma coisa nem outra, mesmo
depois de prometer fazê-lo. Isso
também não seria frustrante.”
Foi o mais longo discurso que eu a
ouvi fazer, e isso acrescentou mais uma qualidade na
minha lista.
“Você é meio temperamental, não?”
“Eu não gosto de dois pesos e
duas-medidas.”
Sua irritação era completamente
justificavel, é claro.
Eu encarei Bella, imaginando como eu
poderia possivelmente fazer qualquer coisa certa por
ela, até que o silêncio gritante na
cabeça de Mike Newton me distraiu.
Ele estava tão irado que me fez rir.
“O que é?” ela exigiu.
“O seu namorado parece estar pensando
que eu estou sendo rude com você - ele está se
questionando se deve ou não vir aqui
apartar a nossa briga.” Eu gostaria de vê-lo tentar.
Eu ri novamente.
“Eu não sei do que você está falando”,
ela disse de forma fria “Mas de qualquer forma, eu
tenho certeza que você está enganado.”
Eu gostei muito do modo como ela o
rejeitou com sua sentença desdenhosa.
“Eu não estou. Eu já te disse, a
maioria das pessoas é fácil de ler.”
“Exceto eu, é claro.”
“Sim. Exceto você.” Ela tinha que ser
a exceção à tudo? Não seria mais justo -
considerando tudo mais com que eu
tinha que lidar no momento - se eu pudesse ler
ALGUMA COISA em sua cabeça? Era pedir
muito? “Eu me pergunto o porquê disso.”
Ela olhou ao longe. Ela abriu sua
limonada e tomou um curto e rápido gole, seus olhos na
mesa.
“Você não está com fome?” eu
perguntei.
“Não,” ela olhava a mesa vazia entre
nós. “Você?”
“Não, eu não estou com fome.” eu
disse. Eu definitivamente não estava.
Ela encarava a mesa com seus lábios
cerrados. Eu esperei.
“Você pode me fazer um favor?”, ela
perguntou, subitamente encontrando meus olhos
novamente.
O que ela poderia querer de mim? Ela
perguntaria sobre a verdade a qual eu não era
permitido dizer à ela - a verdade que
eu queria que ela nunca, nunca soubesse?
“Depende do que você quer”.
“Não é muito”, ela prometeu.
Eu esperei, curioso de novo.
“Eu só estava imaginando…” ela disse
lentamente, olhando para a garrafa de limonada,
traçando a boca da garrafa com o seu
dedo mínimo “se você poderia me avisar com
antecedência na próxima vez que você
resolver me ignorar para o meu próprio bem. Só
pra eu me preparar.”
Ela queria um aviso? Então ter sido
ignorada por mim deve ter sido alguma coisa ruim… eu
sorri.
“Parece justo.” eu concordei.
“Obrigada.” ela disse, olhando para
cima. Sua face estava tão aliviada que eu quis rir do
meu próprio alívio.
“Então posso ter uma resposta em
retorno?” eu perguntei, esperançosamente.
“Uma” - Ela concedeu
“Me diga uma das suas teorias.”
Ela corou “Essa não.”
“Você não qualificou, você só prometeu
uma resposta”, eu argumentei.
“Você também já quebrou suas
promessas.”, ela argumentou de volta.
Ela estava certa.
“Só uma teoria - eu não vou rir.”
“Vai sim”. Ela parecia estar bem certa
disso, apesar de eu não conseguir imaginar nada
que pudesse ser engraçado quanto a
isso.
Tentei usar a persuasão outra vez.
Olhei fundo nos olhos dela - uma coisa fácil de se fazer,
com olhos tão intensos - e sussurrei.
- “Por favor?”
Ela piscou, o rosto ficando vazio.
Bem, essa não era exatamente a reação
que eu queria.
- É… o quê? - ela perguntou. Parecia
tonta. O que havia de errado com ela?
- Por favor, me conte só uma
teoriazinha. - eu pedi com minha voz macia e nãoassustadora,
segurando seus olhos nos meus.
Para minha surpresa e satisfação,
finalmente funcionou.
-Hmmm, bom, foi picado por uma aranha
radioativa?
História em quadrinhos? Não era à toa
que ela achou que eu iria rir.
- Isso não é muito criativo. - eu a
reprovei, tentando escondeu meu alívio.
- Desculpe , é só o que eu tenho. -
ela disse, ofendida.
Isso me deixou ainda mais aliviado.
Consegui provocá-la de novo.
- Nem chegou perto.
- Nada de aranhas?
- Nada.
- E nada de radioatividade?
- Nada.
- Droga. - ela suspirou.
- A kriptonita também não me incomoda.
- eu respondi depressa - antes que ela pudesse
perguntar sobre mordidas - e então tive que rir, porque ela
achava que eu era um superherói.
- Não devia rir, lembra?
Apertei os lábios.
- Um dia eu vou descobrir. - ela
prometeu.
E quando ela o fizesse, iria fugir.
- Gostaria que não tentasse. - eu
disse, todos os sinais da provocação ausentes.
- Por que…
Devia honestidade a ela. Tentei
sorrir, deixar minhas palavras menos ameaçadoras. - “E se
eu não for um super-herói? E se eu for
o vilão?”
Seus olhos se arregalaram ligeiramente
e os lábios se separaram um pouco. - Ah. - ela
disse. E então, depois de um segundo.
- Entendi.
Ela finalmente tinha me ouvido.
- Entendeu? - eu perguntei, tentando
esconder minha agonia.
- Você é perigoso? - ela adivinhou. A
sua respiração aumentou e o coração acelerou.
Não conseguia respondê-la. Esse era
meu último momento com ela? Ela iria fugir agora?
Eu seria capaz de dizer que a amava
antes que ela partisse? Ou isso a assustaria ainda
mais?
- Mas não mau. - ela sussurrou,
balançando a cabeça, sem medo nos olhos intensos. -
Não, não acredito que você seja mau.
- Está errada. - eu disse baixo.
É claro que eu era mau. Eu não estava
feliz agora, que ela pensava melhor de mim do que
eu merecia? Se eu fosse uma boa
pessoa, eu teria ficado longe dela.
Eu estiquei minha mão pela mesa,
pegando a tampa da garrafa de limonada dela como
uma desculpa. Ela não recuou da minha
mão próxima. Ela realmente não tinha medo de
mim. Ainda não.
Eu girei a tampa rapidamente,
prestando atenção ao invés de olhar para ela. Meus
pensamentos estavam confusos.
Corra, Bella, corra. Não
conseguia falar as palavras em voz alta.
Ela ficou de pé. - Vamos chegar
atrasados. - ela disse, bem quando eu comecei a me
preocupar que de algum modo ela tinha
escutado meu aviso silencioso.
- Eu não vou à aula hoje.
- E por que não?
Porque eu não quero matar você. - “É saudável matar aula de vez em quando.”
Para ser exato, era saudável para os
humanos quando os vampiros matavam aula nos dias
em que sangue humano seria derramado.
O Sr. Banner ia fazer tipagem sanguínea hoje.
Alice já tinha matado sua aula pela
manhã.
Bom, eu vou. - ela disse. Isso não me
surpreendeu. Ela era responsável - sempre fazia a
coisa certa.
Ela era o meu oposto.
- A gente se vê depois, então. - eu
disse, tentando parecer casual novamente, olhando a
tampa que rodava. E, por falar nisso, eu adoro você… de jeitos perigosos,
assustadores.
Ela hesitou, e eu esperei por um
momento que ela fosse ficar comigo. Mas o sinal tocou e
ela se apressou.
Esperei até que ela tivesse
desaparecido, e então guardei a tampa no meu bolso - uma
lembrança dessa conversa importante -
e andei pela chuva para o meu carro.
Coloquei o CD que mais me acalmava - o
mesmo que tinha colocado naquele primeiro dia -
mas não estava escutando as notas de
Debussy por muito tempo. Outras notas estavam
passando rápidas por minha cabeça, o
fragmento de uma melodia que me agradava e me
intrigava. Abaixei o rádio e escutei a
música em minha cabeça, tocando o fragmento até
que se desenvolveu para uma harmonia
completa. Instintivamente, meus dedos se
moveram no ar sobre teclas
imaginárias.
A nova composição estava realmente
surgindo quando minha atenção foi desviada por uma
onda de angústia mental.
Eu procurei na direção da aflição.
Ela vai desmaiar? O que eu faço? Mike estava em pânico.
A noventa metros, Mike Newton estava
abaixando o corpo mole de Bella na calçada. Ela
escorregou sem reação no concreto
molhado, os olhos fechados, a pele pálida como a de
um cadáver.
Eu quase arranquei a porta do carro.
- Bella? - gritei.
Não houve mudança em seu rosto sem
vida quando eu gritei seu nome.
Meu corpo todo ficou mais frio que
gelo.
Estava ciente da surpresa irritada de
Mike enquanto varria furiosamente seus
pensamentos. Ele só estava pensando em
seu ódio por mim, então eu não sabia o que
havia de errado com Bella. Se ele tivesse
feito algo para machucá-la eu iria aniquilá-lo.
- Qual é o problema… Ela se machucou?
- eu ordenei, tentando concentrar seus
pensamentos. Era enlouquecedor ter que
andar na velocidade humana. Eu não devia ter
chamado atenção para a minha
aproximação.
Então eu pude escutar o coração dela
batendo e cada respiração que dava. Enquanto eu
observava, ela apertou os olhos
fechados. Isso aliviou um pouco do meu pânico.
Eu vi um lampejo de memórias na cabeça
de Mike, rápidas imagens da classe de biologia.
A cabeça de Bella na mesa, sua pele
ficando verde. Gotas de vermelho contra cartões
brancos…
Tipagem sanguinea.
Eu parei onde eu estava, segurando a
minha respiração. O cheiro dela era uma coisa, o
seu sangue escorrendo era outra
totalmente diferente.
“Eu acho que ela está passando mal.”
Mike disse, ansioso e ressentido ao mesmo tempo.
“Eu não sei o que aconteceu, ela nem
furou o dedo.”
O alívio passou por mim, e eu respirei
novamente, sentindo o ar. Ah, eu pude sentir o
cheiro da pequena ferida de Mike
Newton. Uma vez, isso teria sido extremamente apelativo
para mim.
Eu me ajoelhei perto dela enquanto
Mike se remexia ao meu lado, furioso com a minha
intervenção.
“Bella. Você consegue me ouvir?”
“Não”, ela gemeu. “Vá embora”.
Eu ri. Ela estava bem.
“Eu estava levando ela para a
enfermaria”, Mike disse “Mas ela não conseguiu ir adiante”.
“Eu vou levar ela. Você pode voltar
para a sala de aula.” eu disse, indiferente.
Os dentes de Mike trincaram. “Não. Sou
eu quem deve fazer isso”.
Eu não ia ficar parado ali argumentando
com aquele infeliz.
Exitado e apavorado, meio-agradecido e
meio-aflito pela situação desagradável que fez o
toque dela uma necessidade, suavemente
levantei Bella da calçada e mantive-a nos meus
braços, tocando só a sua roupa,
mantendo tanta distância entre os nossos corpos
enquanto possível. Eu andava com
passos largos para a frente no mesmo movimento, em
uma pressa para mantê-la a salvo -
mais longe de mim, em outras palavras.
Seus olhos se abriram, atônitos.
“Me ponha no chão!” ela ordenou em uma
voz fraca - embaraçada de novo, eu adivinhei
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