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Sol da Meia Noite (rascunho) PARTE3


Eata é a Parte 3




pela sua expressão. Ela não gostava de demonstrar fraquezas.
Eu mal ouvia Mike gritando seus protestos atrás de nós.
“Você parece horrível” eu disse a ela, sorrindo com alívio de que não houvesse nada de
errado com ela além de uma cabeça leve e um estômago fraco.
“Me coloque de volta na calçada”, ela disse. Seus lábios estavam brancos.
“Então você passa mal quando vê sangue?” isso podia ser mais irônico?
Ela fechou seus olhos e pressionou seus lábios juntos.
“E nem é o seu próprio sangue” eu acrescentei, meu sorriso aumentando.
Nós estávamos na frente da secretaria. A porta estava levemente aberta, e eu a chutei
para sair de nosso caminho.
A senhorita Cope pulou, assustada. “Meu Deus,” ela engasgou enquanto examinava a
garota pálida nos meus braços.
“Ela passou mal na aula de Biologia”, eu expliquei, antes que a sua imaginação começasse
a ir para muito longe.
A Srta. Cope se apressou em abrir a porta da enfermaria. Os olhos de Bella estavam
abertos novamente, observando-a.
Ouvi o assombro interno da enfermeira idosa enquanto eu deitava a garota
cuidadosamente em uma cama gasta. Tão logo Bella estivesse fora de meus braços, eu
coloquei a distância da sala entre nós. Meu corpo estava muito excitado, muito ansioso,
meus músculos tensos e o veneno fluindo. Ela era muito quente e perfumada.
“Ela só está um pouco enjoada”, eu assegurei à Senhora Hammond. “Eles estão fazendo
tipagem sanguinea na aula de Biologia.”.
Ela balançou a cabeça, compreendendo. “Sempre tem um.”
Eu abafei uma risada. Confie em Bella para ser aquele um.
“Fique um pouco deitada, meu bem” Sra. Hammond disse. “Vai passar logo”.
“Eu sei” Bella disse.
“Isso acontece muito?” a enfermeira perguntou.
“As vezes” Bella admitiu.
Eu tentei disfarçar minha risada em uma tossida.
Isso trouxe a atenção da enfermeira para mim. “Você pode voltar para a sala agora” ela
disse.
Eu a olhei diretamente nos olhos e menti confiantemente “Eu devo ficar com ela.”
Hmm. Eu imagino… oh, bem. Sra. Hammond balançou a cabeça.
Isso funcionou perfeitamente com ela. Por que com Bella tinha que ser tão difícil?
“Eu vou pegar um pouco de gelo pra você colocar na sua testa, querida” a enfermeira
disse, ligeiramente pouco confortável por olhar em meus olhos - do modo que um humano
devia ser - e deixou a sala.
“Você estava certo”, Bella lamentou, fechando seus olhos.
O que ela queria dizer? Eu fui direto para a pior conclusão: ela tinha aceitado os meus avisos.
“Eu geralmente tenho” eu disse tentando parecer divertido. “Mas sobre o que em particular
desta vez?”
“Faltar à aula é saudável.” ela suspirou.
Ah, alívio de novo.
Ela ficou em silêncio então. Ela só respirava lentamente para dentro e para fora. Seus
lábios estavam começando a ficar rosados. Sua boca estava ligeiramente fora do equilíbrio,
seu lábio inferior estava um pouco mais cheio do que o superior. Olhar para a sua boca me
fazia me sentir estranho. Me fazia querer me mover para mais perto dela, o que não era
uma boa idéia.
“Você me assustou por um minuto lá fora,” eu disse - para reiniciar a conversa - então eu
podia ouvir a sua voz novamente. “Eu pensei que Mike estava arrastando o seu cadáver
pra enterrá-lo no bosque”.
“Ha ha”. ela disse.
“Honestamente - eu já vi cadáveres com uma cor melhor.” Isso era realmente verdade.
“Eu já estava preocupado em ter que vingar o seu assassinato”. E eu teria mesmo.
“Pobre Mike.” ela suspirou “Eu aposto que ele está bravo”.
“Ele absolutamente me detesta.” eu disse a ela, animado com a idéia.
“Você não tem como saber disso”.
“Eu vi o rosto dele - eu posso dizer.” Provavelmente seria verdade se ao ler a face dele eu
conseguisse obter tais informações para fazer essa dedução em particular. Toda essa
prática com a Bella estava afiando a minha habilidade em ler expressões humanas.
“Como você me viu? Eu pensei que você estivesse escondido” seu rosto parecia melhor - o
verde desbotado tinha desaparecido de sua pele translúcida.
“Eu estava no meu carro ouvindo um CD”.
Sua expressão se contorceu, como se a minha resposta comum a tivesse surpreendido de
alguma forma.
Ela abriu seus olhos novamente quando a Sra. Hammond retornou com uma compressa
fria.
“Aqui, querida” - a enfermeira disse enquanto colocava a compressa na testa de Bella.
“Você parece melhor”.
“Eu acho que estou bem” Bella disse e sentou-se colocando a compressa longe. É claro. Ela
não gostava que cuidassem dela.
As mãos enrugadas da Sra. Hammond estavam indo em direção à garota, como se
quisessem fazer com que ela deitasse novamente, mas então a Srta. Cope abriu a porta e
se inclinou para dentro da enfermaria. Com a sua entrada, veio um o cheiro de sangue
fresco, como uma pequena explosão.
Invisível na secretaria por detrás dela, Mike Newton ainda estava bastante zangado,
desejando que o garoto pesado que ele carregava agora fosse a garota que estava ali
dentro comigo.
“Tem outro aqui”, Srta. Cope disse.
Bella rapidamente pulou da cama, ansiosa por deixar de ser o centro das atenções.
“Aqui” ela disse, estendendo a compressa de volta para a Sra. Hammond “Eu não preciso
mais disso.”
Mike grunhiu enquanto ele empurrava um pouco Lee Stevens pela porta. O sangue ainda
gotejava da mão que Lee segurava em seu rosto, pingando pelo seu pulso.
“Oh não”, essa era a minha deixa para sair - e Bella, também, aparentemente. “Bella, vá
para a secretaria”.
Ela me olhou com olhos confusos.
“Confie em mim - vá.”
Ela se virou e alcançou a porta antes que ela se fechasse, se apressando em direção à
secretaria. Eu a segui a alguns centímetros dela. Seu cabelo em movimento roçou minha
mão…
Ela se virou para me olhar, ainda com olhos arregalados.
“Você realmente me ouviu”, isso era novidade.
Seu pequeno nariz se enrugou. “Eu senti o cheiro de sangue”
Eu a encarei com surpresa. “As pessoas não podem cheirar sangue”,
“Bem, eu consigo - é isso que me deixa doente. Tem cheiro de ferrugem e…sal.”
Meu rosto estava congelado, ainda a encarando.
Ela era realmente humana? Ela parecia humana. Ela era suave como um humano. Ela
cheirava como um humano - bem, melhor na verdade. Ela agia como um humano… mais
ou menos. Mas ela não pensava como um, ou respondia como um.
Quais eram as outras opções, então?
“O que é?”, ela perguntou.
“Não é nada”.
Mike Newton nos interrompeu então, entrando na secretaria com ressentidos, violentos
pensamentos.
Você parece melhor.” ele disse a ela, rudemente.
Minha mão tremeu, querendo ensinar a ele algumas maneiras, eu teria que me monitorar,
ou eu acabaria matando aquele garoto insolente.
“Mantenha a sua mão no bolso”, ela disse. Por um segundo selvagem, eu pensei que ela
estava falando comigo.
“Não está mais sangrando”, ele respondeu tristemente “Você vai voltar pra aula?”
“Você tá brincando? Eu iria voltar pra cá na certa.”
Isso era muito bom. Eu tinha pensado que eu ia ter de perder esta hora inteira com ela, e
agora eu tinha tempo extra em vez disso. Eu me senti ganancioso, um avarento
procurando cada minuto.
“É, eu acho…” Mike murmurou. “Então, você vai esse fim de semana? Para a praia?”
Ah, eles tinham planos. A raiva passou por mim. Era uma viagem em grupo, entretanto. Eu
tinha visto isso na cabeça de outros estudantes. Não eram só eles dois. Eu ainda estava
furioso. Eu me inclinei praticamente sem movimentos contra o balcão, tentando me
controlar.
“Claro, eu disse que ia.” ela prometeu a ele.
Então ela disse sim a ele, também. A inveja queimava, mais dolorosa do que a sede.
Não, era uma saída em grupo, eu tentei me convencer. Ela somente ia passar o dia com os
amigos. Nada de mais.
“Vamos nos encontrar na loja do meu pai, as dez.” E o Cullen NÃO ESTÁ convidado.
“Eu estarei lá”, ela disse.
“Eu te vejo na aula de educação física, então.”
“A gente se vê”
Ele se virou para a sua classe, seus pensamentos estavam cheios de raiva. O que ela vê
naquela aberração? Claro, ele é rico, eu acho. As garotas acham que ele é lindo, mas eu
não acho. Muito… muito perfeito. Eu aposto que o pai dele experimenta todas as cirurgias
plásticas neles. É por isso que eles são tão brancos e bonitos. Não é natural. É um tipo
de… aparência-assustadora. Algumas vezes, quando ele me encarava, eu poderia jurar que
ele está pensando em me matar… aberração…
Mike não estava completamente errado em suas percepções.
“Educação física”, Bella repetiu silenciosamente. Um gemido.
Eu olhei para ela, e vi que ela estava triste com alguma coisa novamente. Eu não tinha
certeza por que, mas estava claro de que ela não queria ir para a próxima aula com o
Mike, e eu estava de acordo com esse plano.
Eu fui para o seu lado e me aproximei da sua face, sentindo o calor de sua pele irradiando
diretamente para os meus lábios. Eu não me atrevi respirar.
“Eu posso cuidar disso”, eu murmurei. “Vá se sentar e fique pálida”
Ela fez o que eu pedi, sentando em uma das cadeiras vazias e inclinando a sua cabeça
para trás, contra a parede, enquanto, atrás de mim, a Srta. Cope saiu da enfermaria e
retornou à sua mesa. Com os olhos fechados, Bella parecia que estava passando mal
novamente. Sua cor ainda não tinha voltado completamente.
Eu me virei para a secretária. Com esperanças de que Bella estivesse prestando atenção
nisso, eu pensei sardonicamente. Esse é o modo como uma humana deveria responder.
“Sra Cope?” eu perguntei, usando a minha voz persuasiva de novo.
Seus cílios se agitaram, e o seu coração passou a bater mais rápido. Muito jovem, se
controle! “Sim?”
Isso foi interessante. Quando o pulso de Shelly Cope acelerou, foi porque ela me achou
fisicamente atraente, não porque ela estava assustada. Eu estava acostumado a isso
quanto às fêmeas humanas… ainda eu não tinha considerado isso como explicação para a
aceleração do coração da Bella.
Eu particularmente tinha gostado disso. Eu sorri e a respiração da Sra. Cope acelerou.
“A próxima aula de Bella é de Educação Física, e eu não acho que ela se sente bem o
suficiente. Na verdade, eu acho que eu devia levar ela pra casa agora.A senhora acha que
pode liberá-la dessa aula?” eu encarei profundamente seus olhos, me deliciando com a
destruição que eu causava em seus processos mentais. Seria possível que Bella…?
Sra Cope teve que engolir em alto som antes que pudesse responder. “Você também
precisa ser liberado, Edward?”
“Não, eu tenho aula com a Sra Goff, ela não vai se incomodar.”
Eu não estava prestando muita atenção nela agora. Eu estava explorando essa nova
possibilidade.
Hmm. Eu gostava de acreditar que Bella me achava atraente como os outros humanos
achavam, mas desde quando que Bella tinha as mesmas reações que os outros humanos?
Eu não podia manter as minhas esperanças elevadas.
“Ok, então está tudo acertado. Melhoras, Bella.”
Bella acenou com a cabeça fracamente - exagerando um pouco.
“Você consegue caminhar, ou prefere que eu te carregue de novo?” eu perguntei, me
divertindo com o teatro precário dela. Eu sabia que ela iria querer andar - ela não queria
parecer fraca.
“Eu vou caminhando”. ela disse.
Certo de novo. Eu estava melhorando nisso.
Ela se pôs em pé, hesitante por um momento como se ela estivesse checando o seu
equilíbrio. Eu segurei a porta para ela, e nós caminhamos para a chuva.
Eu olhava para ela erguendo o seu rosto para a chuva fraca, seus olhos fechados, um leve
sorriso em seus lábios. O que ela estava pensando? Alguma coisa nessa cena parecia
errado, e eu rapidamente percebi por que essa ação pareceu tão estranha para mim.
Garotas humanas normais não levantariam o seu rosto para a garoa dessa maneira,
garotas humanas normais normalmente usam maquiagem, mesmo aqui nesse lugar úmido.
Bella nunca usava maquiagem, nem deveria. As indústrias de cosméticos lucram bilhões de
dólares por ano de mulheres que tentam conseguir uma pele como a dela.
“Obrigada”, ela disse, sorrindo para mim agora “Quase vale a pena ficar doente pra perder
Educação física.”
Eu comecei a atravessar o campus, imaginando por quanto tempo eu devia prolongar meu
tempo com ela. “É só pedir”, eu disse.
“Então você vai? Sábado, eu quero dizer.” ela parecia esperançosa.
Ah, a sua esperança era tranqüilizante. Ela me queria com ela, não Mike Newton. E eu
queria dizer sim. Mas havia muitas coisas para considerar. Em primeiro lugar, o sol estaria
brilhando nesse sábado…
“Onde vocês todos estão indo, exatamente?” eu tentei manter a minha voz indiferente,
como se eu não me importasse muito. Mike tinha dito praia, entretanto. Não tinha muitas
chances de escapar da luz do sol lá.
“Vamos à La Push, para Primeira Praia.” ( nome do local na verdade )
Droga. Bem, era impossível então.
De qualquer forma, Emmett ficaria irritado se eu cancelasse nossos planos.
Lancei os olhos abaixo para ela, sorrindo tortamente. “Eu não acho que eu tenha sido
convidado”.
Ela suspirou, resignada. “Eu acabei de te convidar”.
“Eu e você não vamos mais abusar tanto do pobre Mike esse fim de semana. Nós não
queremos que ele arrebente”. Imaginei eu mesmo fazendo com o que o pobre Mike
arrebentasse e desfrutei dessa cena mental intensamente.
“Mike boboca”, ela disse, com desprezo novamente. Meu sorriso aumentou.
E então ela começou a andar para longe de mim.
Sem pensar sobre o que eu estava fazendo, eu me estiquei e a peguei pela parte de trás
de seu casaco de chuva. Ela deu um solavanco ao parar.
“Onde é que você pensa que vai?” eu estava quase bravo por ela estar me deixando. Eu
não tinha passado tempo suficiente com ela. Ela não podia ir embora, não ainda.
“Eu vou pra casa” ela disse, desconcertada quanto ao porque isso tinha me irritado.
“Você não me ouviu prometer que te levaria pra casa em segurança? Você acha que eu
vou te deixar dirigir nessas condições?” eu sabia que ela não ia gostar disso - a minha
implicação de fraqueza da sua parte.
Mas eu precisava praticar para a viagem à Seattle, de qualquer forma. Ver se eu
agüentaria tê-la próxima em um espaço fechado. Essa era uma viagem muito mais curta.
“Que condições?” ela perguntou “E a minha caminhonete?”
“Eu vou pedir pra Alice levá-la depois da escola” eu a puxei de volta para o meu carro
cuidadosamente, embora eu soubesse agora que andar pra frente era desafiador o
suficiente para ela.
“Me solta!” ela disse, se contorcendo de lado, quase tropeçando. Eu ergui uma mão para
segurá-la, mas ela se ajeitou antes que isso fosse necessário. Eu não devia ficar
procurando desculpas para tocá-la. Aquilo fez com que eu começasse a pensar sobre a
reação da Sra. Cope quando a mim, mas eu guardei isso para pensar depois. Tinha muito a
ser considerado mais para frente.
Eu a deixei ao lado do carro, e ela cambaleou até a porta. Eu teria que ser ainda mais
cuidadoso, levando em conta o seu equilíbrio precário…
“Você é muito mandão!”
“Está aberta.”
Eu entrei pelo meu lado do carro e dei a partida. Ela manteve o seu corpo rígido, ainda do
lado de fora, apesar da chuva ter ficado mais forte e eu sabia que ela não gostava de frio e
umidade. A água estava encharcando seu grosso cabelo, escurecendo-o até próximo do
preto.
“Eu sou perfeitamente capaz de dirigir até em casa!”
É claro que ela era - eu somente não era capaz de deixá-la ir.
Eu abaixei o vidro do lado do carona e me inclinei em sua direção. “Entre no carro, Bella”.
Seus olhos se estreitaram e eu achei que ela estava se decidindo se devia ou não sair
correndo.
“Eu vou pegar você de novo” eu prometi, desfrutando do desapontamento em seu rosto
quando ela percebeu que eu estava falando sério.
Seu queixo se enrijeceu no ar, ela abriu a sua porta e entrou. Seu cabelo pingou no couro
do banco e suas botas rangeram uma contra a outra.
“Isso foi completamente desnecessário” ela disse friamente. Eu achei que ela parecia
embaraçada por debaixo da humilhação.
Eu aumentei o aquecedor, portanto ela não se sentiria desconfortável, e coloquei a música
em um bom nível de fundo. Eu dirigi em direção à saída, observando-a pelos cantos dos
olhos. O seu lábio inferior se sobressaia fazendo beicinho. Eu encarei isso, examinando
como que fazia me sentir… pensando na reação da secretária de novo…
De repente, ela olhou para o rádio e sorriu, seus olhos arregalados. “Clair de Lune?” ela
perguntou.
Uma fã dos clássicos? “Você conhece Debussy?”
“Não muito”, ela disse “Minha mãe toca muita musica clássica em casa. Eu só conheço as
minhas favoritas.”
“É uma das minhas favoritas também”, Eu olhei para a chuva, considerando isso. Eu
realmente tinha algo em comum com a garota. Eu tinha começado a pensar que nós
éramos opostos em todos os sentidos.
Ela parecia mais relaxada agora, olhando para a chuva como eu, com olhos vagos. Eu
aproveitei a sua distração momentânea para testar a minha respiração.
Eu inalei cuidadosamente pelo meu nariz.
Potente.
Eu apertei a direção com força. A chuva a fazia cheirar melhor. Eu não pensava que isso
fosse possível. Estupidamente, eu estava subitamente imaginando como devia ser o seu
sabor.
Eu tentei engolir contra a queimação em minha garganta, pensar em alguma coisa
diferente.
“Como é a sua mãe?” eu perguntei como distração.
Bella sorriu. “Ela se parece muito comigo, mas ela é mais bonita.”
Eu duvidava disso.
“Eu tenho muito de Charlie em mim.” ela continuou. “Ela é mais divertida que eu, e mais
corajosa.”
Eu duvidava disso, também.
“Ela é irresponsável e um pouco excêntrica e uma cozinheira muito imprevisível. Ela é
minha melhor amiga.” Sua voz se tornou melancólica, sua testa se enrugou.
De novo, ela mais parecia como um pai do que um filho.
Eu parei na frente de sua casa, imaginando tarde demais se eu devia saber onde ela
morava. Não, isso não era suspeito em uma cidade pequena, com seu pai sendo uma
figura pública…
“Quantos anos você tem, Bella?” ela devia ser mais velha que as outras pessoas. Talvez ela
tenha começado mais tarde a escola, ou tenha reprovado… isso não era agradável, de
qualquer forma.
“Eu tenho dezessete” ela respondeu.
“Você não parece ter dezessete”
Ela riu.
“O que foi?”
“Minha mãe sempre diz que eu nasci com trinta e cinco anos de idade e que fico mais
velha a cada ano que passa.” Ela riu de novo e suspirou “Bem, alguém tem que ser o
adulto”.
Isso esclarecia as coisas para mim. Eu podia ver agora… como a irresponsabilidade da mãe
ajudava a explicar a maturidade de Bella. Ela teve que crescer mais cedo, para se tornar a
responsável. Era por isso que ela não gostava de ser cuidada - ela sentia que era o seu
trabalho.
“Você também não parece um jovenzinho”, ela disse, me puxando de meus devaneios.
Eu fiz uma careta. Para cada coisa que eu percebia sobre ela, ela percebia muito mais em
resposta. Eu mudei de assunto.
“Então porque sua mãe se casou com Phil?”
Ela hesitou por um minuto antes de responder. “Minha mãe…ela é muito jovem para a
idade dela. Acho que Phil a faz se sentir ainda mais jovem. De qualquer forma, ela é louca
por ele.” ela agitou a sua cabeça indulgentemente.
“Você aprova?” eu imaginei.
“Isso importa?” ela respondeu “Eu quero que ela seja feliz…e é ele que ela quer.”
A falta de egoísmo de seus comentários deviam ter me chocado, exceto que isso encaixava
perfeitamente com tudo que eu havia aprendido de sua personalidade.
“Isso é muito generoso… eu imagino…”
“O quê?”
“Se ela estenderia a mesma cortesia pra você, você acha? Não importa qual seja a sua
escolha?”
Essa foi uma pergunta tola, e eu não consegui manter o tom casual em minha voz
enquanto eu perguntava isso. Como era estúpido se quer considerar alguém me aprovando
para a sua filha. Como era estúpido se quer imaginar Bella me escolhendo.
“E-eu acho que sim” ela gaguejou, reagindo de alguma forma ao meu olhar fixo. Medo…
ou atração?
“Mas de qualquer forma ela é uma mãe, apesar de tudo. É um pouco diferente” ela
finalizou.
Eu sorri ironicamente. “Nada muito assustador então.”
Ela sorriu para mim. “O que você quer dizer com assustador? Vários piercings no corpo e
tatuagens gigantescas?”
“É uma definição, eu acho”. Uma nem um pouco ameaçadora definição, na minha cabeça.
“Qual é a sua definição?”
Ela sempre fazia as perguntas erradas. Ou exatamente as perguntas certas, talvez. As que
eu não queria responder, pelo menos.
“Você acha que eu poderia ser assustador?” eu perguntei a ela, tentando sorrir um pouco.
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Ela pensou sobre isso antes de responder para mim em um tom sério. “Hmm… eu acho
que você poderia ser, se você quisesse.”
Eu estava sério, também. “Você está com medo de mim agora?”
Ela respondeu de uma só vez, sem pensar agora. “Não.”
Eu sorri mais facilmente. Eu não achava que ela estava dizendo a verdade completamente,
mas também não estava mentindo por completo. Ela não estava com medo o suficiente
para querer ir embora, ao menos. Eu imaginava como que ela se sentiria se eu dissesse a
ela que ela estava tendo essa discussão com um vampiro. Eu contraí meus músculos
involuntariamente ao imaginar a sua reação.
“Então, agora você vai me falar sobre a sua família? Deve ser uma história bem mais
interessante do que a minha.”
Mais assustadora, sem dúvida.
“O que você quer saber?” eu perguntei cautelosamente.
“Os Cullens te adotaram?”
“Sim.”
Ela hesitou, então falou em uma voz baixa. “O que aconteceu com os seus pais?”
Isso não era tão difícil; eu não estava tendo que mentir para ela. “Eles morreram há
muitos anos atrás.”
“Eu lamento”, ela murmurou, claramente preocupada sobre ter me machucado.
Ela estava preocupada comigo.
“Na verdade eu não lembro deles muito claramente.” Eu assegurei a ela “Carlisle e Esme
são meus pais há muito tempo agora.”
“E você os ama”, ela deduziu.
Eu sorri. “Sim. Eu não poderia imaginar duas pessoas melhores”.
“Você tem muita sorte.”
“Eu sei que tenho.” Naquela circunstância, quanto aos meus pais, minha sorte não podia
ser negada.
“E seu irmão e sua irmã?”
Se eu deixasse que ela me pressionasse por muitos mais detalhes, eu teria que mentir. Eu
lancei um olhar ao relógio, desanimado por meu tempo com ela estar no final.
“Meu irmão e minha irmã, e Jasper e Rosalie por falar neles, vão ficar bem bravos se
tiverem que ficar na chuva esperando por mim”.
“Oh, desculpe, eu acho que você tem que ir”.
Ela não se mexeu. Ela não queria que o nosso tempo terminasse, também. Eu gostava
muito, muito disso.
“E provavelmente você quer o seu carro aqui antes que Charlie chegue em casa, assim
você não terá que contar pra ele sobre o acidente na aula de Biologia.” Eu sorri com a
memória dela embaraçada em meus braços.
“Eu tenho certeza que ele já sabe. Não existem segredos em Forks”. Ela disse o nome da
cidade com um desgosto distinto.
Eu ri com as suas palavras. Não existem segredos, de fato. “Se divirta na praia.” eu lancei
um olhar para a chuva torrencial, sabendo que ela não ia durar muito, e desejando mais
forte que o normal que isso acontecesse. “Ótimo clima pra um banho de sol.” Bem, ao
menos no sábado. Ela ia gostar disso.
“Eu não vou ver você amanhã?”
A preocupação em seu tom de voz me deixou feliz.
“Não. Emmett e eu vamos começar o fim de semana mais cedo.” Eu estava louco comigo
mesmo agora por ter feito planos. Eu podia quebrá-los… mas não havia nada mais
importante do que caçar nesse ponto, e minha família já estava ficando preocupada o
suficiente com o meu comportamento sem eu revelar o quão obsessivo eu estava ficando.
“O que vocês vão fazer?” ela perguntou, não parecendo feliz com a minha revelação.
Bom.
“Nós vamos fazer uma caminhada nas Goat Rocks ( não traduzam nomes próprios J ), ao
sul do Monte Rainier.” Emmett estava ansioso pela temporada de ursos.
“Hum, bem, divirta-se”, ela disse de forma apática. Sua falta de entusiasmo me fez feliz
novamente.
Ao olhar para ela, eu comecei a me sentir quase agoniado pelo pensamento de dizer um
adeus temporário. Ela era tão delicada e vulnerável. Parecia imprudente deixá-la fora da
minha vista, onde qualquer coisa podia acontecer com ela. E ainda, as piores coisas que
poderiam acontecer com ela resultariam em estar ao meu lado.
“Será que você poderia fazer uma coisa por mim esse fim de semana?” eu perguntei
seriamente.
Ela balançou sua cabeça, seus olhos arregalados e desnorteados com a minha intensidade.
Mantenha isso leve.
“Não se ofenda, mas você parece ser uma dessas pessoas que atraem acidentes como um
imã. Então… tente não cair no oceano ou ser atropelada, está bem?”
Eu sorri pesarosamente para ela, esperando que ela pudesse ver a tristeza em meus olhos.
Como eu desejava que ela não estivesse tão melhor longe de mim, não importasse o que
acontecesse com ela.
Corra, Bella, corra. Eu amo você demais, para o seu próprio bem ou para o meu.
Ela ficou ofendida pela minha importunação. Ela olhou para mim. “Eu vou ver o que posso
fazer”, ela soltou em um estalo, pulando para fora do carro na hora e batendo a porta com
tanta força quanto ela podia atrás dela.
Como um gatinho bravo que acredita ser um tigre.
Eu apertei a mão ao redor da chave que eu tinha pego do bolso da jaqueta dela, e sorri
enquanto eu dirigia para longe.
7. Melodia
Eu tive que esperar quando consegui voltar à escola. O último período ainda não havia
acabado. Isso foi bom, porque eu tinha coisas que precisava pensar sozinho.
O seu aroma ficou no carro. Eu deixei a janela aberta, deixando-o me atacar, tentando me
acostumar com a intensa sensação de queimação na minha garganta.
Atração.
Foi uma coisa problemática de contemplar. Tantos aspectos, tantos significados e níveis.
Não é a mesma coisa que amor, mas muito próximo inexplicavelmente.
Eu não tinha nenhuma idéia se Bella se sentia atraída por mim. (Será que o seu silêncio
mental se tornaria mais e mais frustrante até eu ficar louco? Ou teria algum limite ao qual
eu eventualmente chegaria?)
Eu tentei comparar as suas respostas físicas a outras, como as da secretária e Jessica
Stanley, mas as comparações foram inconclusivas. Os mesmos sinais - alterações de
freqüência cardíaca e padrão respiratório - podia facilmente ser medo ou choque ou
ansiedade assim como interesse. Parecia improvável que a Bella tivesse os mesmos tipos
de pensamentos que Jessica Stanley costumava ter. E além do mais, Bella sabia que tinha
alguma coisa de errado comigo, mesmo não sabendo exatamente o que era. Ela tinha
tocado a minha pele gelada, e então tinha puxado a sua mão rapidamente do frio.
E ainda… enquanto eu me lembrava daquelas fantasias que costumavam me causar
repulsa, mas me lembrava delas com Bella no lugar de Jessica…
Eu estava respirando mais rápido, o fogo subindo e descendo pela minha garganta.
E se fosse Bella imaginando meus braços ao redor de seu corpo frágil? Sentindo-me puxála
mais perto contra o meu peito e então levando a minha mão ao seu queixo? Passando a
mão por seu cabelo até afastá-lo de sua face corada? Traçando a forma de seus lábios
cheios com a ponta de meus dedos? Inclinando meu rosto para mais perto do dela, onde
eu pudesse sentir a sua respiração na minha boca? Me movendo para mais perto…
Mas então eu retrocedi do sonho, sabendo, como eu bem sabia quando Jessica imaginava
aquelas coisas, o que aconteceria se eu chegasse mais perto dela.
Atração era um dilema impossível, porque eu já estava atraído demais por Bella da pior
maneira.
Eu queria que Bella estivesse atraída por mim, como uma mulher por um homem?
Essa era a pergunta errada. A pergunta certa era se eu DEVIA querer que Bella se sentisse
atraída por mim dessa maneira, e a resposta era não. Porque eu não era um homem
humano, e isso não seria justo para ela.
Com cada fibra do meu ser, eu desejava ser um homem normal, para então poder tê-la em
meus braços sem arriscar a sua vida. Então eu seria livre para realizar minhas próprias
fantasias, fantasias que não acabavam com sangue em minhas mãos, o seu sangue
incandescente em meus olhos.
A minha busca por ela era indesculpável. Que tipo de relacionamento eu poderia oferecer a
ela, quando eu não podia me arriscar a tocá-la?
Eu encostei minha cabeça entre minhas mãos.
Isso tudo era ainda mais confuso porque eu nunca havia me sentido tão humano em toda
a minha vida - nem se quer quando eu ERA humano, até onde eu podia me lembrar.
Quando eu era humano, meus pensamentos estavam voltados em me tornar um glorioso
soldado. A Grande Guerra havia se intensificado durante a maior parte de minha
adolescência, faltavam apenas nove meses para o meu aniversário de 18 anos quando a
gripe espanhola me atingiu… Eu apenas tinha vagas impressões dos anos humanos,
memórias obscuras que se apagavam a cada década que se passava. Eu me lembrava mais
claramente de minha mãe, e sentia uma dor antiga quando eu pensava em seu rosto. Eu
me lembrava vagamente o quanto ela havia odiado o futuro que eu havia escolhido seguir,
rezando toda noite quando dizia as graças no jantar para que aquela guerra “horrenda”
terminasse… Eu não tinha nenhuma memória de outro tipo de anseio. Por de trás do amor
de minha mãe, não havia outro amor que me fizesse desejar ficar…
Isso era inteiramente novo para mim. Eu não tinha nada como referência, nenhum tipo de
comparação para fazer.
O amor que eu sentia por Bella veio de forma pura, mas agora as águas estavam turvas.
Eu queria muito ser capaz de tocá-la. Ela se sentia da mesma maneira?
Isso não importava muito, eu tentei me convencer.
Eu encarei minhas mãos brancas, odiando a sua dureza, a sua frieza, sua força sobrehumana…
Eu pulei quando a porta do passageiro abriu.
Ha. Te peguei de surpresa. Isso é novidade. O pensamento de Emmett enquanto ele
escorregava para o banco. “Eu vou apostar que a Sra. Goff pensa que você está usando
drogas, você tem estado muito distraído ultimamente. Onde você estava hoje?”
“Eu estava… fazendo boas ações.”
Huh?
Eu ri. “Cuidando dos doentes, esse tipo de coisa.”
Isso o confundiu mais ainda, mas então ele inalou e sentiu a essência no carro.
“Oh. A garota de novo?”
Eu sorri.
Isso está ficando estranho.
“Não me diga.” eu murmurei.
Ele inalou novamente. “Hmmm, ela tem um cheiro bem agradável, não tem?”
Um rosnado rompeu por meus lábios antes que as suas palavras se quer fossem
registradas, uma resposta automática.
“Calma, garoto, eu só estou dizendo.”
Os outros chegaram então. Rosalie notou a essência imediatamente e olhou para mim,
ainda não superando a sua irritação. Eu imaginava qual era o problema dela, mas tudo que
eu podia ouvir eram insultos.
Eu não gostei da reação de Jasper, também. Como Emmet, ele percebeu o encanto de
Bella.
Não que aquele odor tivesse para eles, um milésimo da força que ele tinha para mim. Eu
ainda me aborrecia que o sangue dela fosse doce para eles. Jasper tinha um baixo
controle…
Alice pulou para ao meu lado do carro e estendeu a sua mão esperando as chaves da
caminhonete de Bella.
“Eu somente vi que eu ia”, ela disse - de modo obscuro, como era o seu hábito. “Você vai
ter que me explicar os porquês.”
“Isso não significa-”
“Eu sei, eu sei. Eu vou esperar. Isso não vai demorar.”
Eu suspirei e entreguei as chaves a ela.
Eu a segui até a casa de Bella. A chuva estava caindo como um milhão de pequenos
martelos, tão alto que talvez os ouvidos de Bella não conseguissem ouvir o trovão do
motor da sua caminhonete. Eu olhei para a janela, mas ela não veio olhar. Talvez ela não
estivesse lá. Não havia nenhum pensamento para ser ouvido.
Me deixava triste não poder ouvir nada para poder checá-la - para ter certeza de que ela
estava feliz, ou segura, pelo menos.
Alice entrou atrás no carro e nós voltamos para casa. As estradas estavam vazias, e então
só levou alguns minutos. Nós entramos em casa, então nós fomos parar nossos vários
passatempos.
Emmett e Jasper estavam no meio de um elaborado jogo de xadrez, utilizando oito
tabuleiros interligados - espalhado ao longo da parede de vidro da parte de trás - e eles
tinham suas próprias e complicadas regras. Eles não me deixavam jogar; somente Alice
jogava alguma coisa comigo.
Alice foi ao seu computador que ficava próximo deles e eu pude ouvir o seu monitor sendo
ligado. Alice estava trabalhando em um design fashion para o guarda-roupa de Rosalie,
mas Rosalie não a acompanhou hoje, ficando atrás dela dando palpites enquanto as mãos
de Alice desenhavam sobre as telas sensíveis ao toque (Carlisle e eu tivemos que adaptar
um pouco o sistema, para que a tela respondesse àquela temperatura). Ao invés disso,
Rosalie se esticou no sofá e começou a passar por todos os canais durante um segundo,
nunca pausando. Eu podia a ouvir tentando decidir se ela ia não até a garagem para
ajustar a sua BMW novamente.
Esme estava lá em cima, cantarolando enquanto obervava um novo conjunto de plantas de
construção.
Alice inclinou a sua cabeça para a parede um minuto e começou a movimentar os lábios
com os próximos movimentos de Emmet - Emmet estava sentado no chão de costas para
ela - para Jasper, que manteve sua expressão bem calma e eliminou o cavaleiro preferido
de Emmett.
E eu, pela primeira vez em tanto tempo que me sentia envergonhado, fui me sentar ao
extraordinário piano de cauda localizado próximo da entrada.
Eu corri minhas mãos pelas escadas, testando as notas. A afinação ainda estava perfeita.
Lá em cima, Esme parou o que ela estava fazendo e pendeu sua cabeça para o lado.
Eu comecei a primeira linha da melodia que tinha se sugerido para mim no carro hoje,
satisfeito por soar melhor do que eu imaginava.
Edward está tocando novamente, Esme pensou com alegria, um sorriso apareceu em seu
rosto. Ela se levantou de sua mesa, e se moveu rapidamente para o início da escadaria.
Eu acrescentei uma linha harmônica, deixando a melodia central fluir.
Esme suspirou com contentamento, sentando no topo das escadas, e inclinando sua
cabeça contra o corrimão. Uma nova música. Fazia tanto tempo. Que melodia encantadora.
Eu deixei a melodia seguir em uma nova direção, seguindo a linha de base.
Edward está compondo novamente? Rosalie pensou, e seus dentes trincaram com um
ressentimento feroz.
Nesse momento, ela escorregou e eu pude ler tudo o que ela estava escondendo. Eu vi
porquê ela estava tão enraivecida comigo. Por que matar Isabella Swan não a incomodaria
de qualquer forma.
Com Rosalie, tudo era sobre vaidade.
A música parou abruptamente, e eu ri antes que eu pudesse me segurar, um grunhido
agudo de divertimento que foi interrompido rapidamente quando tapei a boca com a mão
Rosalie me fulminou, seus olhos brilhando com uma fúria aflita.
Emmett e Jasper se voltaram para mim, também, e eu ouvi a confusão de Esme. Esme
desceu em um lampejo, parando e lançando olhares para Rosalie e eu.
“Não pare, Edward,” Esme me encorajou após um momento tenso.
Eu comecei a tocar novamente, virando as minhas costas para Rosalie enquanto eu
tentava de forma árdua controlar o sorriso que se abria em meu rosto. Ela se colocou em
pé e andou a passos largos para fora da sala, mais raivosa do que embaraçada. Mas
certamente um pouco embaraçada.
Se você disser qualquer coisa eu vou te caçar como um cachorro.
Eu sufoquei outra risada.
“O que há de errado, Rose?” Emmett chamou atrás dela. Rosalie não se voltou. Ela
continuou, se dirigindo duramente para a garagem e se contorceu debaixo de seu carro
como se ela pudesse se enterrar ali.
“O que aconteceu?” Emmett me perguntou.
“Eu não tenho a mínima idéia,” eu menti.
Emmett rosnou, frustrado.
“Continue tocando,” Esme ansiou. Minhas mãos haviam pausado novamente.
Eu fiz o que ela pediu, então ela veio ficar em pé atrás de mim, colocando suas mãos sobre
meus ombros.
A música estava ganhando forma, mas incompleta. Eu brinquei um pouco com as teclas,
mas isso não parecia certo de alguma forma.
“É encantador. Tem um nome?” Esme perguntou.
“Ainda não”
“Tem uma história?” ela perguntou, um sorriso em sua voz. Isso dava a ela um prazer tão
grande, e eu me senti tão culpado por ter negligenciado minha música por tanto tempo.
Isso foi tão egoísta.
“É… uma canção de ninar, eu acho.” Eu peguei a nota então. Isso se guiava mais fácil para
o próximo movimento, dando uma história para isso.
“Uma canção de ninar,” ela repetiu para ela mesma.
Havia uma história para essa melodia, e uma vez que eu a vi, as partes se encaixavam sem
esforço algum. A história era sobre uma garota adormecida em uma cama estreita, cabelo
negro e grosso embaraçado como algas marinhas no travesseiro…
Alice deixou Jasper com suas próprias artimanhas e veio se sentar perto de mim no banco.
Em sua própria vibração, uma voz harmoniosa como o vento, ela traçou uma segunda voz
sem letra dois oitavos abaixo da melodia.
“Eu gostei,” eu murmurei “Mas que tal isso?”
Eu adicionei a sua linha à harmonia - minhas mãos estavam voando através das teclas
agora para juntar todas as partes - modificando um pouco, tomando uma nova direção…
Ela entendeu o sentido, e cantou ao longo da música.
“Sim. Perfeito,” eu disse.
Esme apertou meu ombro.
Mas eu podia ver o final agora, com a voz de Alice se erguendo sob o tom e levando para
uma direção diferente. Eu podia ver como a música devia terminar, porque a garota
adormecida estava perfeita do jeito que ela estava; qualquer mudança seria errada, uma
tristeza. A música flutuou em direção a essa realização, mais devagar e mais baixa agora.
A voz de Alice diminuiu também e se tornou solene, um tom que pertencia aos arcos de
uma antiga catedral ilumidada por velas.
Esme bagunçou o meu cabelo. Vai ficar bem, Edward. Isso vai se resolver para o melhor…
você merece a felicidade, meu filho. O destino te deve isso.
“Obrigado,” eu suspirei, desejando que eu pudesse acreditar nisso.
O amor nem sempre vem em pacotes convenientes.
Eu ri uma vez sem humor.
Você, melhor do que qualquer um nesse planeta, é o mais bem equipado pra lidar com um
dilema desse tipo. Você é o melhor, o mais brilhante de todos nós.
Eu concordei. Toda mãe diz o mesmo pra seu filho.
Esme ainda estava toda feliz que meu coração foi tocado depois de todo esse tempo, sem
importar o potencial para a tragédia. Ela pensou que eu ficaria sozinho pra sempre.
Ela vai ter que retribuir seu amor, ela pensou de repente, me pegando de surpresa com a
direção de seus pensamentos. Se ela é uma garota esperta. Ela sorriu. Mas não consigo
imaginar ninguém tão devagar para não ver o quão envolvido você está.
“Pare com isso, Mamãe, você está me deixando sem graça,” eu brinquei. Suas palavras,
mesmo improváveis, me animaram.
Alice riu e fez um acústico de ‘Coração e Alma’. Eu concordei e completei a melodia com
ela. E aí, galanteei ela com uma performance de “Chopsticks”.
Ela riu, e então concordou. “Então eu gostaria que você me contasse porque você estava
rindo da Rose,” Alice disse. “Mas posso ver que você não vai.”
“Não.”
Ela deu um peteleco na minha orelha.
“Seja boazinha, Alice,” Esme repreendeu. “Edward está sendo um cavaleiro.”
“Mas eu quero saber.”
Eu ri do tom implorativo que ela usou. Então eu disse, “Aqui, Esme,” e comecei a tocar sua
musica favorita, um tributo sem nome ao amor que eu assisti entre ela e Carlisle por tanto
tempo.
“Obrigado, querido.” Ela apertou meu ombro de novo.
Eu não tinha que me concentrar para tocar a peça familiar. Ao invés disso, eu pensei em
Rosalie, ainda rangendo os dentes de mortificação, figurativamente, na garagem, e ri pra
mim mesmo.
Tendo descoberto só recentemente o potencial de ciúmes por mim mesmo, eu senti um
pouco de pena. Era algo infeliz de se sentir. Claro, o ciúme dela era milhares de vezes mais
fútil que o meu. Assim como uma raposa no cenário da manjedoura.
Me perguntei como a vida e personalidade de Rosalie teria sido diferente se ela não tivesse
sido sempre a mais bonita. Ela teria sido mais feliz, se beleza não fosse sempre seu ponto
forte? Menos egocêntrica? Mais compassiva? Bom, eu supus que era inútil me perguntar,
porque o passado se foi, e ela sempre foi a mais bonita. Mesmo quando humana, ela
sempre viveu sob a luz do holofote de sua própria doçura. Não que ela ligasse. O oposto -
ela amava admiração mais que tudo no mundo. Isso não mudou com a perda de sua
mortalidade.
Não era surpreendente então, dada essa necessidade, que ela tenha ficado ofendida
quando eu não, desde o principio, idolatrei sua beleza do jeito que ela esperava que todos
os machos idolatrassem. Não que ela me quisesse, de qualquer modo - longe disso. Mas a
irritou que eu não a queria, apesar disso. Ela estava acostumada com que a quisessem.
Era diferente com Jasper e Carlisle - os dois já estavam apaixonados. Eu era
completamente livre, e ainda assim continuei firme.
Eu pensei que o antigo ressentimento tivesse sido enterrado. Que ela tivesse superado
isso.
E ela tinha… até o dia que eu finalmente encontrei alguém cuja beleza me tocou de um
jeito que a dela não fez.
Rosalie tinha se apoiado na crença que se eu não achei a beleza dela digna de idolatria,
então certamente não existia beleza na terra que me alcançaria. Ela estava furiosa desde o
momento que salvei a vida da Bella, adivinhando, com sua intuição feminina, o fato de que
eu estava tudo, menos fora de controle.
Rosalie estava mortalmente ofendida por eu ter achado uma insignificante garota humana
mais bonita que ela.
Eu segurei a vontade de rir de novo.
Isso me incomodou um pouco, o jeito que ela via Bella. Rosalie, na verdade, achou que a
garota fosse sem graça. Como ela podia acreditar nisso? Parecia incompreensível pra mim.
Um produto da inveja, sem dúvida.
“Oh!” Alice falou abruptamente. “Jasper, adivinhe?”
Eu vi o que ela tinha visto e minhas mãos congelaram.
“O que, Alice?” Jasper perguntou.
“Peter e Charlotte vão nos visitar semana que vem! Eles estarão na vizinhança, isso não é
legal?”
“O que há de errado, Edward?” Esme perguntou, sentindo a tensão dos meus ombros.
“Peter e Charlotte estão vindo pra Forks?” eu sibilei para Alice.
Ela revirou os olhos pra mim. “Se acalme, Edward, não é a primeira visita deles.”
Meus dentes trincaram. Era a primeira visita desde que Bella chegou, e seu sangue doce
não era apelativo só pra mim.
Alice fungou quando viu minha expressão. “Eles nunca caçam aqui. Você sabe disso.”
Mas o quase irmão de Jasper e a pequena mulher que ele amava não eram como nós; eles
ainda caçavam do jeito antigo. Eles não mereciam confiança em volta da Bella.
“Quando?”, eu perguntei.
Ela pressionou os lábios infeliz, mas me contou o que eu precisava saber. Segunda de
manhã. Ninguém vai ferir a Bella.
“Não,” eu concordei, e então me afastei dela. “Pronto, Emmett?”
“Pensei que íamos partir de manhã?”
“Vamos voltar por volta da meia-noite de segunda. A escolha é sua sobre a hora da
partida.”
“Tá, tudo bem. Deixe eu me despedir de Rose primeiro.”
“Claro.” Pelo humor de Rosalie, seria uma despedida curta.
Você realmente enlouqueceu, Edward, ele pensou enquanto se encaminhava para a porta
dos fundos.
“Suponho que sim.”
“Toque a música nova pra mim, mas uma vez,” Esme pediu.
“Se você quiser,” concordei, mesmo que estivesse hesitando um pouco em seguir a música
até seu fim inevitável - o fim que continuava me pinicando em jeitos desconfortáveis.
Pensei por um momento, e então puxei a tampa do meu bolso e coloquei no suporte de
partitura vazio. Isso ajudou um pouco - minha pequena memória do sim dela.
Eu grunhi pra mim mesmo e comecei a tocar.
Esme e Alice se entreolharam, mas nenhuma das duas perguntou.
“Ninguém nunca te disse pra não brincar com a comida?” eu chamei Emmett.
“Oh, ei, Edward!” Ele gritou de volta, sorrindo e acenando para mim. O urso ficou com
vantagem, aproveitando-se de sua distração, avançando com as suas garras pesadas sobre
o peito de Emmett.
A garra era tão afiada que rasgou sua camisa em tiras, fazendo um barulho estranho
quando tocaram a sua pele.
O urso urrou por culpa da intensidade do barulho.
Ah, inferno. Rose que me deu essa camisa!
Emmett rugiu de volta para o animal enraivecido.
Eu suspirei e sentei em uma rocha conveniente. Isso provavelmente levaria algum tempo.
Mas Emmet já estava quase acabando. Ele deixou o urso tentar arrancar a sua cabeça com
outro golpe de garras, rindo quando este não deu certo e empurrando o urso cambaleante
para o mesmo lugar de antes. O urso rosnou e Emmett rosnou de volta em meio a uma
risada. Então, ele se lançou para cima do animal, que estava uma cabeça mais alto do que
ele apoiado nas pernas traseiras, seus corpos caindo no chão, um sobre o outro, levando
um pinheiro adulto com eles. Os rosnados do urso calaram-se com um engasgo.
Alguns minutos depois Emmett dirigiu-se para o lugar onde eu estava sentado o
esperando. Sua camisa estava destruída - rasgada e ensangüentada - pegajosa por culpa
da seiva, e coberta de pelos. Seu cabelo curto e escuro não estava melhor. Ele tinha um
sorriso largo no rosto.
“Esse era um dos fortes. Eu quase consegui sentir quando ele me arranhou”.
“Você é igual criança, Emmett”.
Ele olhou a minha camisa branca lisa e limpa. “Então, você não conseguiu derrubar o leão
da montanha?”.
“Claro que consegui. Eu apenas não caço como um selvagem”.
Emmett soltou uma gargalhada estrondosa. “Eu desejava que ele fosse forte, aí teria mais
diversão”.
“Ninguém diz que você tem que lutar pela sua comida”.
“É, mas com quem mais eu iria lutar, hein? Você e a Alice trapaceiam, Rosalie nunca quer
desarrumar o cabelo e Esme fica brava se eu e Jasper lutamos pra valer”.
“A vida é difícil, não é?”
Emmett sorriu para mim, movendo-se em uma posição para desafiar e atacar.
“Vamos, Edward. Apenas desligue isso por um minuto e vamos lutar justamente”.
“Não dá pra desligar”. Eu o lembrei.
“Fico pensando, o que aquela garota humana faz para te deixar de fora?” Emmett meditou.
“Talvez ela possa me dar umas dicas”.
O meu bom humor vacilou. “Fique longe dela!” Eu rosnei entre meus dentes.
“Sensível. Sensível”.
Eu suspirei. Emmett veio e sentou-se ao meu lado na rocha.
“Desculpe. Eu sei que você está passando por uma coisa difícil. E eu estou tentando não
ser muito um insensível idiota, mas, sempre foi o meu status natural..”.
Ele esperou eu rir da sua piada, e então sua expressão mudou.
Tão sério o tempo todo. O que está te atormentando agora?
“Estou pensando nela. Bom, estou preocupado, na realidade”.
“Com o que você tem de se preocupar? Você está aqui”. Ele riu sonoramente.
Eu ignorei a brincadeira novamente, mas respondi a pergunta. “Você nunca pensou em
quanto eles são frágeis? Quantas coisas ruins podem acontecer a um mortal?”.
“Não realmente. Mas eu acho que sei o que você quer dizer. Eu não era muito páreo para
um urso da última vez, não é?”
“Ursos,” eu murmurei, adicionando um novo medo para a minha lista. “Aquilo deve ter sido
apenas sorte dela, não acha? Um urso perdido na cidade. É claro que ele iria direto para
Bella.”
Emmet riu. “Você parece um maluco, sabe disso?”
“Apenas imagine por um minuto que Rosalie fosse humana, Emmett. E que ela pudesse
dar de cara com um urso… ou ser atingida por um carro… ou por um raio… ou cair das
escadas.. ou ficar doente - pegar uma doença grave!” As palavras saiam de mim como
uma tormenta. Era um alívio colocar tudo pra fora. Eu estava ficando sufocado. “Incêndios
e terremotos e tornados! Ugh! Quando foi a última vez que você assistiu ao noticiário?
Você já viu o tipo de coisas que acontecem com eles? Arrombamentos e homicídios…”
Meus dentes se cerraram juntos, e eu estava tão furioso com a idéia de outro humano a
machucar que eu mal podia respirar.
“Whoa, whoa! Espere aí, garoto. Ela vive em Forks, lembra? Então ela vai pegar uma
chuva” Ele disse encolhendo os ombros.
“Eu realmente acho que ela tem um sério problema de má sorte, Emmet. Veja as
evidências. De todos os lugares no mundo que ela poderia ir, ela acaba numa cidade onde
os vampiros são parte significativa da população.”
“Sim, mas nós somos vegetarianos. Então isso não seria boa sorte ao invés de má?”
_______________________________________2
“Com o cheiro que ela exala? Definitivamente má. E ainda pior, pelo cheiro que ela exala
para mim,” Eu olhei para as minhas mãos, odiando-as novamente.
“Exceto pelo fato de que você tem mais auto-controle do que qualquer um além de
Carslile. Boa sorte de novo.”
“A van?”
“Aquilo foi apenas um acidente.”
“Você deveria ter visto a van indo de encontro a ela, Emmmet, por repetidas vezes. Eu
juro, é como se ela tivesse algum tipo de atração magnética.”
“Mas você estava lá. Isso foi boa sorte.”
“Foi? Não seria essa a pior sorte que um humano pode ter - um vampiro se apaixonar por
ela?”
Emmet considerou em silêncio por alguns momentos. Ele imaginou a garota em sua mente,
e achou a imagem pouco interessante. Honestamente eu não consigo enxergar o que você
vê nela.
“Bem, eu também não vejo nenhum brilho em Rosalie,” eu disse rudemente.
“Honestamente, ela parece ser muito trabalho para apenas mais um rostinho bonito.”
Emmet riu. “Eu não acho que você me diria …” ( Emmet quer saber o que Edward escutou
de Rosalie na sala antes dela sair bufando)
“Eu não sei qual o problema dela Emmet,” Eu menti, com um súbito e largo sorriso.
Eu vi sua intenção em tempo de me proteger. Ele tentou me empurrar do penhasco, e
houve um som alto de rachadura quando uma fissura se abriu na rocha entre nós.
“Trapaceiro,” ele murmurou.
Eu esperei que ele tentasse outra vez, mas seus pensamentos tomaram outra direção.
Ele estava imaginando o rosto de Bella novamente, mas imaginando-o mais pálido, e com
os olhos em vermelho brilhante…
“Não,” Eu disse com a voz sufocada.
“Isso resolve suas preocupações em relação a imortalidade, não é?” E também você não
iria querer matá-la. Não é este o melhor jeito?”
“Para mim, ou para ela?”
“Para você,” ele respondeu rapidamente. Sua entonação enfatizando a certeza.
Eu gargalhei jocosamente. “Resposta errada.”
“Eu não me importo muito,” ele me lembrou.
“Rosalie se importou.”
Ele suspirou. Nós dois sabiamos que Rosalie faria qualquer coisa, desistiria de qualquer
coisa para se tornar humana novamente. Até mesmo de Emmet.
“É, Rose se importou,” ele aquiesceu calmamente.
“Eu não posso… eu não devo… Eu não irei arruinar a vida de Bella. Você não sentiria o
mesmo se fosse com Rosalie?”
Emmet ponderou por um momento. “Ela é todo o meu mundo. Eu não vejo mais sentido
no resto do mundo sem ela.”
Mas você não vai transformá-la? Ela não vai viver para sempre Edward.
“Eu sei disso,” vociferei.
E, como você mesmo disse, ela é um tanto frágil.
“Confie em mim - disso eu sei, também.”
Emmet não era uma pessoa de muito tato, e discussões delicadas não eram o seu forte.
Ele se esforçava agora, tentando não ser ofensivo.
Você pode sequer tocá-la? Digo, se você a ama… você não gostaria de… bem, tocá-la…?
Emmet e Rosalie compartilhavam um intenso amor físico. Ele teve muita dificuldade para
entender como alguem poderia amar sem ter aquilo também.
Eu suspirei. “Eu nem posso pensar nisso, Emmet.”
Wow, então quais suas opções?
“Eu não sei,” disse sussurrando. “Eu estou tentando imaginar um jeito de… de deixá-la. Eu
simplesmente não consigo perceber uma maneira de ficar longe dela…”
Com um profundo senso de satisfação, eu subitamente realizei que para mim, o certo seria
ficar - pelo menos por agora, com Peter e Charlotte a caminho. Ela estava mais segura
comigo aqui, temporariamente, do que estaria se eu me afastasse. Por hora, eu poderia
ser o seu improvável protetor.
A idéia me deixou ansioso; Eu estava impaciente para voltar e então cumprir este papel
por tanto tempo quanto fosse possível.
Emmet notou a mudança em minha expressão. No que você está pensando?
“Agora mesmo, ” eu admiti timidamente, “Eu estou morrendo de vontade de voltar para
Forks e ver como ela está. Eu não sei se aguento até domingo a noite.”
“Uh-uh! Você não vai voltar antes para casa. Deixe Rosalie se acalmar um pouco. Por
favor! Pelo meu bem.”
“Tentarei ficar,” eu disse sem muita certeza.
Emmet deu um tapinha no celular em meu bolso. “Alice ligaria se houvesse qualquer
fundamento para o seu ataque de pânico. Ela é tão esquisita sobre essa garota quanto
você.”
Eu sorri com esta colocação. “Ótimo. Mas não ficarei após o domingo.”
“Não há sentido em apressar sua volta - vai fazer sol, e Alice disse que estamos livres da
escola até quarta-feira.”
Eu balancei minha cabeça rigidamente.
“Peter e Charlotte sabem como se comportar.”
“Eu realmente não me importo, Emmett. Com a sorte de Bella, ela vai acabar
perambulando até a floresta exatamente na hora errada e -” eu recuei. “Peter não é
conhecido pelo seu auto-controle. Voltarei no domingo.”
Emmet suspirou. Exatamente como um maluco.
Bella estava dormindo tranqüilamente quando eu escalei até a janela do seu quarto na
manhã de segunda-feira. Eu lembrei do óleo dessa vez e a janela agora se movia
silenciosamente para fora do meu caminho.
Eu poderia dizer pela forma como o seu cabelo repousava suavemente no travesseiro que
ela tivera uma noite menos agitada do que da última vez que eu estivera aqui. Ela tinha as
mãos juntas sob suas bochechas como uma criancinha, e sua boca estava ligeiramente
aberta. Eu podia ouvir sua respiração ir e vir vagarosamente entre seus lábios.
Era um alívio tremendo estar aqui e poder vê-la novamente. Eu percebi que não estaria
calmo até que isso acontecesse. Nada parecia certo quando eu estava longe dela.
Não que tudo estivesse certo quando eu estava com ela, mesmo assim. Eu suspirei,
deixando a sede ardente incendiar minha garganta. Eu estive longe disto por muito tempo.
O tempo longe da dor e da tentação fez tudo isso mais difícil agora. Era ruim o bastante
para que eu temesse me ajoelhar ao lado de sua cama próximo o bastante para ler os
títulos de seus livros. Eu queria saber as histórias que ela tinha em sua mente, mas eu
temia mais que minha sede, temia que se eu me deixasse aproximar tanto dela, eu iria
querer ainda mais…
Seus lábios pareciam muito suaves e quentes. Eu imaginei tocá-los com a ponta dos meus
dedos. Bem levemente…
Este era exatamente o tipo de erro que eu deveria evitar cometer.
Meus olhos percorriam sua face seguidas vezes, examinando qualquer mudança. Mortais
mudavam todo o tempo - Eu me entristecia com a idéia de poder perder qualquer detalhe.
Eu achei que ela parecia… cansada. Como se ela não tivesse dormido o bastante neste fim
de semana.
Teria ela saído?
Eu ri silenciosa e forçadamente com o quanto essa idéia me chateou. E daí se ela tivesse
saído? Eu não era o dono dela. Ela não era minha.
Não, ela não era minha - e eu estava triste novamente.
Uma de suas mãos contraiu-se e eu notei que havia ranhuras superficiais e não cicatrizadas
na base de sua palma. Ela tinha se ferido? Mesmo óbviamente não sendo um ferimento
grave, isto ainda me perturbava. Eu considerei o local e decidi que ela devia ter tropeçado
e caído. Parecia uma explicação razoável, considerando-se tudo.
Era confortante pensar que eu não teria que quebrar a cabeça para solucionar estes
pequenos mistérios para sempre. Nós eramos amigos agora - ou, pelo menos, tentávamos
ser amigos. Eu poderia perguntar a ela sobre o seu fim de semana - sobre a praia, e
qualquer atividade noturna que a fizesse parecer tão fatigada. Eu poderia perguntar sobre
o que acontecera com suas mãos. E eu poderia rir um bocado quando ela confirmasse
minha teoria sobre o assunto.
Eu sorri gentilmente enquanto eu pensava se ela tinha ou não mergulhado no oceano. Eu
me preocupava em saber se ela havia se divertido no passeio. Eu imaginava se ela tinha
pensado em mim, em algum momento. Se ela havia sentido minha falta, mesmo que fosse
uma mínima fração de toda a falta que senti dela.
Eu tentei imaginá-la na praia, ao sol. A imagem era incompleta, porque eu mesmo jamais
estivera em uma praia. Eu conhecia a praia apenas por fotos…
Me senti um pouco desconfortável quando pensei no porquê nunca tinha estado na praia
localizada só a alguns minutos de casa. Bella tinha passado o dia em La Push - um lugar
proibido, por conta do tratado, para nós irmos. Um lugar onde alguns homens antigos
ainda se lembravam das histórias sobre os Cullens, se lembravam e acreditavam nelas. Um
lugar onde nosso segredo era conhecido…
Sacudi a cabeça. Não tinha nada com o que me preocupar lá. Os Quileutes eram ligados ao
acordo também. Mesmo se Bella tivesse passado por um dos anciãos, eles não podiam
revelar nada. E por qual motivo o assunto apareceria? Por que Bella escolheria falar de sua
curiosidade lá? Não - os Quileutes eram talvez a única coisa com qual eu não devia me
preocupar.
Fiquei bravo quando o sol começou a nascer. Me lembrou que eu não conseguiria saciar
minha curiosidade por dias. Por que tinha escolhido brilhar agora?
Com um suspiro, pulei pela janela dela antes que alguém pudesse me ver aqui. Tinha a
intenção de ficar na floresta perto da sua casa e vê-la sair para a escola, mas quando
cheguei às árvores, fiquei surpreso em sentir seu cheiro na trilha.
Eu o segui rapidamente, curiosamente, ficando mais e mais preocupado enquanto levava
para mais fundo na escuridão. O que a Bella esteve fazendo aqui?
A trilha parou abruptamente, no meio de nada em particular. Ela tinha saído só alguns
passos da trilha, até as samambaias, onde se encostou em um tronco de árvore. Talvez
tenha sentando aqui…
Eu sentei no mesmo lugar que ela, e procurei ao redor. Tudo o que ela teria sido capaz de
ver eram folhas e verde. Provavelmente tinha chovido - o cheiro dela estava quase
sumindo, nunca tendo realmente penetrado na árvore.
Por que Bella teria vindo aqui sentar sozinha - e ela estava sozinha, sem dúvida disso - no
meio dessa floresta molhada e lamacenta?
Não fazia sentido, e como todos aqueles outros pontos de curiosidade, eu não podia
perguntar em uma conversa casual.
Então Bella, eu estava seguindo seu cheiro pela floresta quando deixei o seu quarto, onde
estive observando você dormir… Sim, isso iria quebrar o gelo.
Eu nunca saberia o que ela esteve fazendo e pensando aqui, e isso fez meus dentes se
baterem de frustração. Pior, isso era muito parecido com o cenário que eu imaginei para
Emmett - Bella andando sozinha na floresta, onde o cheiro dela podia chamar qualquer um
que tivesse os sentidos para seguí-lo…
Eu gemi. Ela não tinha só má sorte - ela a chamava.
Bom, para isso ela tinha um protetor. Eu iria cuidar dela, evitar que ela se machucasse,
pelo máximo que eu pudesse justificar.
De repente me encontrei desejando que Peter e Charlotte ficassem por mais tempo.
8. Fantasma
Eu não vi os convidados de Jasper muitas vezes durante os dois dias ensolarados em que
eles estiveram em Forks. Eu só retornei para que Esme não ficasse preocupada. De outra
maneira, minha existência parecia mais um espectro do que um vampiro. Eu encontrei,
invisível nas sombras, o lugar em que eu poderia seguir o objeto do meu amor e obsessão
- onde eu poderia vê-la e ouvi-la nas mentes dos humanos sortudos que podiam caminhar
através da luz do sol ao lado dela, algumas vezes acidentalmente passando a palma da
mão dela nas deles. Ela nunca reagiu a tanto contato; as mãos deles eram tão quentes
quanto as mãos dela.
A esforçada ausência da escola nunca havia sido um martírio como este antes. Mas o sol
parecia fazê-la feliz, então eu não podia desgostar tanto disso. Qualquer coisa que a
agradava estava em minhas boas graças.
Manhã de segunda-feira, eu escutei uma conversa que teve o potencial para destruir minha
confiança e fazer o tempo passado longe dela uma tortura.
Eu tinha que sentir um pequeno respeito por Mike Newton; ele não havia simplesmente
desistido e se afastado para curar suas feridas. Ele tinha mais coragem do que eu havia lhe
creditado. Ele estava indo tentar novamente.
Bella foi para a escola bem cedo e, vendo a intenção de aproveitar o sol enquanto ele
durava, sentou em uma das raramente usadas bancadas de piquenique enquanto esperava
o primeiro sinal tocar. Seu cabelo capturou o sol de inesperadas formas, dando-lhe um
brilho avermelhado que eu não havia previsto.
Mike encontrou-a lá, desenhando novamente, e se entusiasmou com sua sorte.
Era agonizante apenas ser capaz de assistir, impotente, protegido do brilho do sol pelas
sombras da floresta.
Ela o cumprimentou com entusiasmo suficiente para torná-lo eufórico/encantado, e a mim
o contrário.
Viu, ela gosta de mim. Ela não sorriria assim se ela não gostasse. Eu aposto que ela quer ir
ao baile comigo. Imagino o que seria tão importante em Seattle…
Ele percebeu a mudança no cabelo dela. “Eu nunca percebi antes - seu cabelo fica
vermelho aqui”.
Eu acidentalmente arranquei a jovem árvore que minha mão estava descansando quando
ele acariciou uma mecha do cabelo dela com os dedos.
“Apenas no sol”, ela disse. Para minha profunda satisfação, ela deslizou para longe dele
suavemente quando ele tocou a mecha atrás da orelha dela.
Mike precisou de um minuto para reconstruir sua coragem, gastando mais tempo com
outra pequena conversa.
Ela lembrou-lhe da redação que todos estavam devendo para quarta-feira. Pelo perceptível
orgulho em sua face, a dela já estava pronta. Ele havia esquecido completamente, e isso
diminuiria drasticamente suas horas livres.
Droga - redação estúpida.
Finalmente ele entendeu o recado - meus dentes estavam tão trincados que eles poderiam
pulverizar granito - e mesmo assim, ele não conseguia fazer a pergunta definitiva.
“Eu queria te perguntar se você deseja sair comigo.”
“Oh”, ela disse.
Houve um rápido silêncio.
Oh? O que será que isso significa? Ela vai dizer sim? Espera - eu acho que não perguntei
realmente.
“Bem, nós podíamos sair para jantar ou algo… e eu poderia trabalhar nisso mais tarde.”
Idiota - essa também não foi uma pergunta.
“Mike…”
A agonia e fúria do meu ciúme eram tão poderosas quanto haviam sido semana passada.
Eu quebrei outra árvore, tentando me segurar aqui. Eu queria tanto correr através do
campus, muito rápido para os olhos humanos, e agarrá-la - para roubá-la do garoto que eu
odiava tanto agora que eu poderia matá-lo e gostar disso.
Ela diria sim para ele?
“Eu não acho que seria a melhor idéia”.
Eu respirei novamente. Meu corpo rígido relaxou.
Seattle era apenas uma desculpa, afinal. Eu não deveria ter perguntado. No que eu estava
pensando? Aposto que é por causa daquele estranho, Cullen…
“Por que?” ele perguntou agressivamente.
“Eu acho…” ela hesitou. “E se você alguma vez repetir o que vou dizer agora eu irei
alegremente espancá-lo até a morte–”
Eu ri alto do som de uma ameaça de morte saindo através dos seus lábios.
“Mas eu acho que machucaria os sentimentos de Jessica.”
“Jessica?” O quê? Mas… Oh. Okay. Eu acho… Então… Huh.
Seus pensamentos não eram mais coerentes.
“Sério, Mike, você é cego?”
Eu ecoei seu sentimento. Ela não deveria esperar que todos fossem tão perceptivos quanto
ela, mas realmente este exemplo estava além do óbvio. Com toda a dificuldade que Mike
esteve enfrentando para convidar Bella para sair, ele não imaginava que não seria tão
difícil para Jessica? Devia ser o egoísmo que o fez ficar cego para os outros. E Bella era tão
altruísta, ela viu tudo.
Jessica. Huh. Wow. Huh. “Oh”, ele conseguiu dizer.
Bella usou sua confusão para escapar.
“Está na hora da aula, e eu não posso chegar atrasada de novo”.
Mike enxergou um ponto de vista não muito confiável a partir de então. Ele percebeu,
enquanto a idéia sobre Jessica girava e girava ao redor da sua cabeça, que ele gostava da
idéia de ela ter achado ele atraente. Esse era o segundo lugar, não tão bom como se fosse
Bella que se sentisse assim.
Ela é atraente, pelo menos, eu acho. Corpo bonito. É melhor um pássaro na mão…
Ele foi desativado então, com as novas fantasias que eram tão vulgares como aquelas com
Bella, mas agora elas apenas irritavam e enfureciam. Tão pouco ele merecia qualquer
garota; elas eram quase permutáveis para ele. Eu permaneci livre de sua cabeça depois
disso.
Quando ela estava fora de vista, eu me enrolei contra um tronco de uma enorme árvore e
dancei de mente em mente, mantendo ela em vista, sempre agradecido quando Angela
Weber estava disponível para olhá-la. Eu queria que existisse um jeito de agradecer a
garota Weber por simplesmente ser uma boa pessoa. Me fez sentir melhor pensar que
Bella tinha uma amiga que valia a pena.
Eu assisti o rosto de Bella de todo e qualquer ângulo que me davam, e eu pude ver que ela
estava triste de novo. Isso me surpreendeu - eu pensei que o sol fosse suficiente para
mantê-la sorrindo. No almoço, eu a vi espiar de tempos em tempos para a mesa vazia dos
Cullen, e isso me entusiasmou. Isso me deu esperança. Talvez ela sinta minha falta,
também.
Ela tinha planos de sair com as outras garotas - eu automaticamente planejei minha
própria vigilância - mas estes planos foram adiados quando Mike convidou Jessica para o
encontro planejado para Bella.
Então eu fui direto para a casa dela, checando rapidamente a floresta para ter certeza de
que ninguém perigoso estava perto. Eu sabia que Jasper havia alertado seu irmão de
outrora para evitar a cidade - citando minha insanidade como explicação e aviso - mas eu
não queria correr nenhum risco. Peter e Charlote não tinham intenções de causar mal-estar
com minha família, mas as intenções são coisas que mudam…
Certo, eu estava exagerando. Eu sabia disso.
Como se ela soubesse que eu estava olhando, como se ela estivesse com pena da agonia
que eu sentia quando não podia vê-la, Bella saiu para o jardim depois de uma longa hora
dentro de casa. Ela tinha um livro na mão e uma coberta embaixo do braço.
Silenciosamente, eu subi nos troncos mais altos da árvore para conseguir uma boa visão
do jardim.
Ela estendeu a coberta na grama úmida, e então deitou de barriga para baixo e começou a
folhear as páginas do livro velho, como se tentasse encontrar o lugar certo. Eu li por cima
do seu ombro.
Ah - mais clássicos. Ela era uma fã de Austen.
Ela leu rápido, cruzando e descruzando os calcanhares no ar. Eu estava assistindo os raios
de sol e o vento brincando com seu cabelo quando seu corpo subitamente se contraiu, e
sua mão congelou na página. Tudo que consegui ver foi que ela estava no capítulo três,
quando ela grosseiramente segurou uma quantidade grossa de folhas e as passou.
Eu vi de relance um título, Mansfield Park. Ela estava começando uma nova história - o
livro era uma compilação de romances. Eu me perguntei por que ela mudaria de romance
tão abruptamente.
Apenas alguns segundos depois, ela fechou o livro, irritada. Com a expressão zangada, ela
empurrou o livro ao seu lado e se virou para deitar de frente. Ela respirou profundamente,
como se quisesse se acalmar, arregaçou as mangas e fechou os olhos. Eu me lembrava da
história, mas não consegui pensar em nada ofensivo nela que a pudesse ter chateado.
Outro mistério. Eu suspirei.
Ela deitou muito rígida, movendo apenas uma vez para puxar o cabelo do rosto. Ele se
esparramou acima de sua cabeça. E então ela ficou imóvel de novo.
Sua respiração desacelerou. Depois de alguns longos minutos, seus lábios começaram a
mexer. Murmurando enquanto dormia.
Impossível resistir. Eu escutei o mais longe que pude, captando vozes nas casas próximas.
Duas colheres de sopa de trigo… um copo de leite…
Vamos lá! Joga na cesta! Ah, vai lá!
Vermelho, ou azul… ou talvez eu devesse vestir algo mais casual…
Não havia ninguém próximo. Eu saltei para o chão, aterrissando silenciosamente na ponta
do pé.
Isso era muito errado, muito arriscado. Quão superficial eu havia sido ao julgar Emmett
por seus modos impulsivos e Jasper por sua falta de disciplina - e agora estava
conscientemente desprezando todas as regras com um abandono que fazia os lapsos deles
parecem insignificantes. Eu costumava ser o responsável.
Eu suspirei, mas rastejei para o sol, descuidado.
Eu evitei olhar para mim mesmo na luz do sol. Era ruim o suficiente que a minha pele era
uma pedra e desumana na sombra; não queria olhar para Bella e eu lado a lado na luz do
sol. A diferença entre nós já era insuperável, dolorosa o suficiente sem mais essa imagem
na minha cabeça.
Mas não conseguia ignorar as faíscas de arco-íris que eram refletidas para a pele dela
quando eu ficava perto. Meu queixo se fechou com a visão. Eu conseguiria ser mais
aberração do que já era? Imaginei o terror dela se abrisse os olhos agora…
Eu comecei a recuar, mas ela resmungou de novo, me segurando ali.
- Mmm… mmm.
Nada inteligível. Bem, eu iria esperar um pouco.
Cuidadosamente peguei seu livro, esticando meu braço e prendendo a respiração enquanto
estava perto, por precaução. Comecei a respirar novamente quando estava a poucos
metros de distância, testando como o sol e a janela aberta afetavam seu cheiro. O calor
parecia adocicar a fragrância. Minha garganta queimou de desejo, o fogo pertinente e
feroz outra vez, porque tinha ficado longe dela por muito tempo.
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Passei um momento controlando isso, e então - me forçando a respirar pelo nariz - deixei
que seu livro se abrisse em minhas mãos. Ela tinha começado pelo primeiro… Eu virei as
páginas rapidamente até o terceiro capítulo de Razão e Sensibilidade, procurando por algo
potencialmente ofensivo na história excessivamente delicada de Austen.
Quando meus olhos pararam automaticamente no meu nome - a personagem Edward
Ferrars sendo apresentado pela primeira vez - Bella falou de novo.
- Mmm. Edward. - ela suspirou.
Desta vez não tive medo que ela tivesse acordado. A voz dela era baixa, só um murmúrio
melancólico. Não os gritos de medo que teriam sido se ela me visse agora.
Alegria entrou em conflito com auto-desprezo. Pelo menos ela ainda estava sonhando
comigo.
- Edmund. Ahh. Muito… parecido…
Edmund?
Ah! Ela não estava sonhando comigo, percebi com raiva. O auto-desprezo voltou com
força. Ela estava sonhando com personagens fictícios. Lá se foi meu convencimento.
Guardei o livro, e fui para o abrigo das sombras - onde pertencia.
A tarde passou enquanto eu observava, me sentindo inútil de novo, enquanto o sol
lentamente ia descendo no céu e as sombras se espalharam pelo jardim até ela. Eu queria
empurrá-las para longe, mas a escuridão era inevitável; as sombras a tomaram. Quando a
luz tinha ido embora, a pele dela era muito pálida - quase fantasmagórica. O cabelo dela
estava escuro de novo, quase preto contra seu rosto.
Era uma coisa assustadora de se ver - como testemunhar as visões de Alice virarem
realidade. O batimento forte e constante de Bella era a única garantia, o som que manteve
esse momento longe de parecer um pesadelo.
Fiquei aliviado quando o pai dela voltou para casa.
Eu podia ouvir pouco da mente dele quando dirigia na direção da casa. Alguma vaga
irritação… no passado, alguma coisa do trabalho. Expectativa misturada com fome -
presumi que estivesse ansioso para o jantar. Mas seus pensamentos eram tão silenciosos e
contidos que não pude ter certeza se estava certo; só peguei a essência deles.
Me perguntei como a mãe dela soava - que combinação genética a tinha feito tão única.
Bella começou a acordar, se contorcendo para sentar-se quando os pneus do carro de seu
pai cantaram contra o asfalto da estrada. Ela começou a olhar ao seu redor, parecendo
confusa com a inesperada escuridão. Por um breve momento, seus olhos encontraram as
sombras onde eu estava escondido, mas eles passaram rapidamente.
“Charlie?” ela perguntou em uma voz baixa, ainda observando as árvores que circundavam
o pequeno jardim.
A porta do carro bateu com força, e ela olhou em direção ao som. Ela se colocou em pé
rapidamente e juntou as suas coisas dando mais uma olhada em direção às árvores.
Eu me movi para uma árvore próxima à janela de trás perto da pequena cozinha, e ouvi a
noite deles. Era interessante comparar as palavras de Charlie aos seus pensamentos
ocultos. O seu amor e interesse pela sua única filha eram quase esmagadores, e ainda
assim suas palavras sempre curtas e casuais. Na maior parte do tempo, eles sentavam em
um silêncio amigável.
Eu a ouvi discutir seus planos para a noite seguinte em Port Angeles, e eu redefinia meus
próprios planos enquanto eu escutava. Jasper não tinha avisado Peter e Charlotte para
ficarem longe de Port Angeles. Apesar de eu saber que eles tinham se alimentado
recentemente e não tinham nenhuma intenção de caçar em nenhum lugar na vizinhança
de nossa casa, eu gostaria de observá-la, só por precaução. Afinal de contas, havia muitos
outros da minha espécie lá fora. E também, todos os perigos humanos que eu nunca havia
considerado antes.
Eu ouvi a sua preocupação sobre deixar o seu pai preparar o próprio jantar, e sorri ao ver
a minha teoria se provar - sim, ela cuidava dele.
Então eu parti, sabendo que eu poderia retornar quando ela estivesse dormindo.
Eu não poderia invadir a sua privacidade, espreitando desse jeito. Eu estava aqui para a
sua proteção, não para olhá-la com malícia de um modo que Mike Newton faria sem
dúvida, se ele fosse ágil o suficiente como eu para permanecer na copa das árvores como
eu fazia. Eu não a trataria tão rudemente.
Minha casa estava vazia quando eu retornei, o quando estava ótimo para mim. Eu não
sentia falta da confusão ou pensamentos depreciativos, questionando a minha sanidade.
Emmett deixou um recado preso à coluna do corrimão.
Futebol no campo Rainier - vamos! Por favor?
Eu achei uma caneta e rabisquei a palavra me desculpe mais abaixo do seu apelo. Os times
estavam mais equilibrados sem mim, de qualquer forma.
Eu saí para a mais curta das viagens de caça, me contentando com a menor e mais gentil
das criaturas que não tinha um gosto tão bom quanto os caçadores, e então vesti roupas
limpas antes de correr de volta para Forks.
Bella não dormiu bem essa noite. Ela se agitava em seus cobertores, seu rosto algumas
vezes preocupado, algumas vezes triste. Eu imaginava que era algum pesadelo
assombrando-a e então eu percebi que apesar de tudo eu não queria saber na verdade.
Quando ela falou, a maior parte do murmúrio depreciava Forks em uma voz abatida.
Somente uma vez, quando ela suspirou as palavras “Volte” e a sua mão se esticou - um
apelo mudo - eu tive a chance de ter esperanças que ela estivesse sonhando comigo.
No dia de escola seguinte, o ÚLTIMO dia em que o sol me manteria prisioneiro, foi bem
parecido com o dia anterior. Bella parecia ainda mais melancólica que o dia anterior, e eu
imaginei se ela tinha desistido dos seus planos - ela não parecia de bom humor.
Mas, sendo Bella, ela provavelmente colocaria o divertimento dos amigos acima do seu
próprio.
Ela estava usando uma blusa azul hoje, e a cor realçava sua pele perfeitamente, deixandoa
cor de creme.
A escola terminou e Jessica concordou em buscar as outras meninas - Angela ia também, e
fiquei feliz por isso.
Fui para casa pegar meu carro. Quando eu vi que Peter e Charlotte estavam lá, decidi dar
uma hora de vantagem para as garotas. Nunca seria capaz de seguí-las, dirigindo no limite
de velocidade - um pensamento horrível.
Entrei pela cozinha, acenando vagamente às saudações de Emmett e Esme quando passei
por todos na sala e fui direto para o piano.
Argh, ele voltou. Rosalie, claro.
Ah, Edward. Odeio vê-lo sofrendo tanto. A alegria de Esme estava começando a ser
danificada pela preocupação. Ela deveria se preocupar. Esta história de amor que ela havia
visualizado para mim estava a cada hora mais evidentemente rumando para a tragédia.
Se divirta em Port Angeles esta noite, pensou Alice alegremente. Deixe-me saber quando
eu tiver a permissão de falar com Bella.
Você é patético. Não acredito que perdeu o jogo de ontem só para ver alguém dormir.
Emmett resmungou.
Jasper não prestou atenção em mim, nem mesmo quando a música que toquei ficou um
pouco mais tempestuosa do que eu pretendia. Era uma música antiga, com um tema
familiar: impaciência. Jasper estava se despedindo de seus amigos, que me olhavam
curiosamente.
Que criatura estranha, Charlotte, que tinha cabelo loiro claro e era do mesmo tamanho de
Alice pensou. E ele foi tão normal e agradável da outra vez que nos vimos.
Os pensamentos de Peter estavam em sincronia com os dela, como era normalmente o
caso.
Devem ser os animais. A falta de sangue humano os deixa loucos uma hora ou outra, ele
estava concluindo. O cabelo dele era claro e quase tão longo quanto o dela. Eles eram
muito parecidos - exceto por tamanho, ele sendo quase tão alto quanto Emmett - em
aparência e pensamento. Um par que combinava, sempre tinha pensado.
Todos menos Esme pararam de pensar em mim por um minuto, e toquei notas mais baixas
para que não chamasse atenção.
Não prestei atenção a eles por um longo tempo, deixando a música me distrair do
desconforto. Era difícil tirar a garota da minha mente. Só voltei minha atenção à conversa
deles quando as despedidas ficaram mais finais.
- Se você vir Maria de novo - Jasper estava dizendo, um pouco cauteloso. - diga a ela que
lhe desejo bem.
Maria era a vampira que tinha criado Jasper e Peter - Jasper na segunda metade no século
XIX, Peter mais recentemente, por volta de 1940. Ela tinha procurado por Jasper uma vez,
quando estávamos em Calgary. Tinha sido uma visita agitada - tivemos que nos mudar
imediatamente. Jasper tinha pedido com educação que ela mantivesse distância no futuro.
- Não imagino que isso vá acontecer logo. - Peter disse com uma risada - Maria era
inegavelmente perigosa e não havia muito amor entre ela e Peter. Peter tinha, afinal, sido
fundamental para a deserção de Jasper. Jasper sempre havia sido o favorito de Maria; ela
considerava um mero detalhe que uma vez tinha planejado matá-lo. - Mas, se acontecer,
certamente eu direi.
Eles deram um aperto de mãos então, se preparando para partir. Eu deixei a música que
estava tocando cessar em um fim pouco satisfatório, levantei rapidamente.
- Chalotte, Peter. - eu disse, acenando.
“É bom te ver novamente, Edward,” Charlotte disse de forma duvidosa. Peter somente
acenou com a cabeça.
Louco, Emmett protestou atrás de mim.
Idiota, Rosalie pensou ao mesmo tempo.
Pobre garoto, Esme.
E Alice, em um tom repreensivo. Eles vão direto para o Leste, para Seattle. Nenhum lugar
perto de Port Angeles. Ela me mostrou a prova em suas visões.
Eu fingi que eu não vi aquilo. Minhas desculpas já eram superficiais o suficiente.
Uma vez em meu carro, eu me senti mais relaxado; o robusto roncar do motor que Rosalie
envenenou era animador para mim - ano passado, quando ela estava em um humor
melhor - era tranqüilizador. Era um alívio estar em movimento, sabendo que eu estava
ficando mais próximo de Bella a cada quilômetro que passava voando por debaixo dos
meus pneus.
9. Port Angeles
Estava muito claro pra eu dirigir pelo centro quando eu cheguei à Port Angeles; o sol ainda
estava muito elevado, e apesar de que os meus vidros eram fumês, não havia nenhum
motivo para tomar riscos desnecessários. Mais riscos desnecessários, eu diria.
Eu estava certo de que eu acharia os pensamentos de Jessica longe - os pensamentos de
Jessica eram mais altos que os de Angela, mas quando eu achasse o primeiro
(pensamento), eu conseguiria ouvir o segundo. Então, quando as sombras se
encompridavam, eu poderia chegar mais perto. Por hora, eu saí da estrada e fui para uma
gramada garagem que ficava fora da cidade que parecia não ser utilizada.
Eu sabia o lugar para procurar - apenas havia só um lugar para a compra de vestidos em
Port Angeles. Não muito antes, eu achei Jessica, se olhando na frente de um espelho de
três lados, e eu conseguia ver Bella em sua visão periférica, aprovando o longo vestido
preto que ela usava.
Bella ainda parece zangada. Ha ha. Angela estava certa - Tyler estava se achando. Apesar
de que eu não acredito que ela está tão chateada sobre isso. Pelo menos ela sabe que ela
tem um acompanhante reserva para o baile. E se Mike não tiver se divertindo no baile, e
ele não me convide para sair de novo? E se ele convidar a Bella para o baile? Será que ela
teria convidado o Mike para o baile se eu não tivesse dito nada? Será que ele acha que ela
é mais bonita que eu?
“Eu acho que eu gosto mais do azul. Ele realça os seus olhos.”
Jessica sorriu para Bella com falso entusiasmo, enquanto a olhava com suspeita.
Será que ela acha isso mesmo? Ou ela quer que eu pareça como uma vaca no Sábado?
Eu já estava cansado de ficar ouvindo Jessica. Eu procurei por Angela - ah, mas Angela
estava no processo de provar os vestidos, e eu saí rapidamente da sua cabeça para dá-la
mais privacidade.
Bem, não havia muitos problemas que Bella poderia se meter numa loja de departamentos.
Eu as deixaria comprando e depois as alcançaria quando tivessem acabado. Não faltaria
muito para anoitecer, as nuvens estavam começando a voltar, sendo levadas para o oeste.
Eu somente poderia pegar reflexos delas através das grandes árvores, mas eu podia ver
como elas apressavam o pôr-do-sol. Eu as recebi, desejando-as mais do que eu jamais
havia antes desejado por suas sombras. Amanhã eu poderia me sentar ao lado de Bella na
escola de novo, exigindo sua atenção no almoço novamente. Eu poderia perguntar pra ela
todas as coisas que eu havia guardado…
Então, ela estava furiosa com a presunção de Tyler. Eu vi aquilo na mente dele - que ele
havia falado sério quando falou sobre o baile, que ele estava confirmando. Eu lembrei da
expressão dela daquela outra tarde - a escandalizada descrença - e eu ri. Me perguntei o
que ela diria pra ele sobre isso. Eu não gostaria de perder a reação dela.
O tempo passou devagar enquanto eu esperava pelas sombras se alongarem. Eu checava
com freqüência a Jessica; a sua voz mental era a mais fácil de ser achar, mas eu não
gostava de me demorar lá dentro por muito tempo. Eu vi o lugar que elas estavam
planejando para comer. Estaria escuro na hora do jantar… talvez eu coincidentemente
escolheria o mesmo restaurante. Peguei o celular do meu bolso, pensando em convidar
Alice para comer fora… Ela adoraria isso, mas ela também iria querer falar com Bella. Eu
não tinha certeza se eu estava pronto para envolver mais a Bella em meu mundo. Um
vampiro não era problema suficiente?
E chequei a mente de Jessica de novo. Ela estava pensando sobre suas jóias, perguntando
a opinião de Angela.
“Talvez eu deva devolver o colar. Eu tenho um em casa que deveria servir, e eu gastei
mais do que eu deveria…” Minha mãe vai enlouquecer. No que eu estava pensando?
“Eu não me importo em voltar para a loja. Mas, você não acha que a Bella vai estar
procurando por nós?
O que era isso? Bella não estava com elas? Eu fitei os olhos de Jessica primeiro, e depois
troquei para Angela. Elas estavam na calçada em frente de umas lojas, já mudando de
direção. Bella não estava em nenhum lugar em vista.
Oh, quem se importa com a Bella? Jess pensou, impacientemente, antes de responder a
pergunta de Angela. “Ela está bem. Nós chegaremos no restaurante a tempo, mesmo se
nós voltarmos (para a loja). De qualquer forma, eu acho que ela queria estar sozinha.” Eu
peguei um breve vislumbre da livraria que Jessica achava que a Bella teria ido.
“Vamos nos apressar, então,” Angela disse. Espero que Bella não ache que nós a
abandonamos. Antes, no carro, ela foi tão boa comigo… Ela é mesmo uma pessoa muito
gentil. Mas ela parecia meio triste o dia inteiro. Pergunto-me se era por causa do Edward
Cullen? Aposto que era por isso que ela estava perguntando sobre a família dele…
Eu deveria ter prestado mais atenção. O que eu teria perdido lá? Bella estava andando
sozinha, e ela tinha perguntado por mim antes? Angela estava prestando atenção à Jessica
agora - Jessica estava tagarelando sobre aquele idiota do Mike - e eu não podia arrancar
mais nada dela.
Eu julguei as sombras. O sol estaria atrás das nuvens logo o suficiente. Se eu ficasse no
lado oeste da estrada, onde os prédios estariam escurecendo a rua da luz fraca…
Eu comecei a me sentir impaciente enquanto eu dirigia pelo pouco engarrafamento pro
centro da cidade. Isso não era algo em que eu havia considerado - Bella andando sozinha -
e eu não tinha a mínima idéia de como achá-la. Eu deveria ter considerado isso. Bella
estava sempre fazendo a coisa errada.
Eu conhecia bem Port Angeles; eu dirigi diretamente para a livraria da mente de Jessica,
esperando que a minha busca fosse curta, mas duvidando que fosse fácil. Quando que
Bella facilitava as coisas?
Sem dúvida, a pequena loja estava vazia, exceto por uma mulher vestida de maneira
antiquada atrás do balcão. Esse não parecia com o tipo de lugar que Bella estaria
interessada - muito new age para uma pessoa prática. Eu me pergunto se ela ao menos se
incomodou a entrar?
Havia um lugar com sombra que eu poderia estacionar… Fazia um caminho escuro para a
loja. Eu realmente não deveria. Andando por aí nas horas do dia não era seguro. E se um
carro que passasse refletisse a luz do sol para a sombra justamente na hora errada?
Mas eu não sabia outro jeito de procurar pela Bella!
Eu estacionei e saí, me mantendo no canto mais fundo da sombra. Caminhei rapidamente
para a loja, percebendo o fraco rastro do cheiro da Bella no ar. Ela esteve aqui, na calçada,
mas não havia nenhuma pista de sua fragrância dentro da loja.
“Bem vindo! Poderia te ajudar - ” a vendedora começou a dizer, mas eu já estava do lado
de fora da porta.
Eu seguiria o cheiro da Bella até aonde a sombra permitiria, parando quando eu chegasse
na beira da luz do sol.
Quão impotente que isso me fez sentir - cercado pela linha entre a escuridão e a luz que se
estendia até a calçada na frente minha frente. Tão limitado.
Eu só podia adivinhar que ela continuou pela rua, indo para o sul. Não havia muito
seguindo aquela direção. Ela estava perdida? Bom, essa possibilidade parecia exatamente
como o caráter dela.
Eu voltei para o carro e dirigi devagar pelas ruas, procurando por ela. Eu saí para alguns
outros caminhos com sombras, mas eu só senti o seu cheiro mais uma vez, e o rumo disso
me confundiu. Onde ela estava tentando ir?
Dirigi de volta e adiante entre a loja e o restaurante algumas vezes, esperando ver ela em
seu caminho. Jessica e Angela já estavam lá, tentando decidir se pediam (a janta), ou se
esperavam pela Bella. Jessica já estava pensando em pedir imediatamente.
Eu comecei a passar rapidamente pela mente de estranhos, olhando através de seus olhos.
Com certeza alguém deve ter visto ela em algum lugar.
Mais tempo que ela ficava perdida, mais eu ficava impaciente. Eu não tinha considerado
antes quão difícil que era pra achá-la, como agora, ela estava fora de minha vista e fora de
seus caminhos normais. Eu não gostava disso.
As nuvens estavam se acumulando no horizonte, e, em alguns poucos minutos, eu estaria
livre para localizá-la a pé. Então não me levaria muito tempo. Era somente o sol que me
fazia tão paralisado agora. Apenas mais alguns minutos, e então a vantagem seria minha
novamente e o mundo humano que seria impotente.
Outra mente, e mais outra. Tantos pensamentos banais.
…acho que o bebê tem outra infecção no ouvido…
Era 18:40 ou 18:04…?
Atrasado de novo. Eu devia contar pra ele…
Aqui ela vem! Aha!
Ali, finalmente, estava o rosto dela. Finalmente, alguém tinha reparado nela!
Aquele alívio só durou por uma fração de segundo, e então eu li mais os pensamentos do
homem que estava olhando para o rosto dela fixamente nas sombras.
A mente dele era a de um estranho para mim, e mesmo assim, completamente familiar. Eu
já havia caçado exatamente tal mente.
“NÃO!” Eu rugi, e um nó apertou a minha garganta. Meu pé afundou no acelerador, mas
pra onde eu estava indo?
Eu sabia mais ou menos o rumo dos seus pensamentos, mas isso não era específico o
suficiente. Alguma coisa, deveria haver alguma coisa - uma placa de rua, a frente de uma
loja, alguma coisa na sua vista que entregaria a sua localização. Mas Bella estava bem na
escuridão, e os olhos dele estavam focados somente na expressão apavorada dela -
saboreando o medo lá.
O rosto dela estava nublado na mente dele pela memória de outros rostos. Bella não era a
sua primeira vítima.
O som dos meus rosnados tremeu a estrutura do carro, mas não me distraíram.
Não havia janelas na parede atrás dela. Algum lugar industrial, longe da região de compras
que era mais povoada. Meu carro derrapou na esquina, desviando de um outro veículo,
indo na direção que eu esperava ser o caminho certo. Enquanto o outro carro buzinava, o
som já estava bem atrás de mim.
Olha como ela ta tremendo! O homem riu em expectativa. O medo era a atração para ele -
a parte que ele adorava.
“Fique longe de mim.” A voz dela era baixa e firme, não como um grito.
“Não seja assim, docinho.”
Ele viu ela hesitar quando uma rude risada veio de uma outra direção. Ele estava irritado
com o barulho - Cale a boca, Jeff! Ele pensou - mas gostou do modo como ela se encolheu
de medo. Excitava ele. Ele começou a imaginar a suplicação, o modo como ela imploraria…
Eu não tinha percebido que havia outros com ele até que eu ouvi aquela alta risada. Eu
procurei nele, desesperado por alguma coisa que eu pudesse usar. Ele estava dando o
primeiro passo na direção dela, movimentando suas mãos.
As mentes perto dele não eram o lixo que ele era. Eles estavam um pouco embriagados,
nenhum deles percebendo quão longe o homem que eles chamava de Lonnie planejava
seguir com isso. Eles estavam seguindo Lonnie cegamente. Ele tinha prometido pra eles
um pouco de divertimento…
Um deles olhou para a rua, nervoso - ele não queria ser pego assediando a garota - e me
deu o que eu precisava. Eu reconheci a rua que ele encarou.
Eu passei por um sinal vermelho, correndo através de um espaço amplo apenas o
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suficiente entre dois carros no engarrafamento. Buzinas fazendo barulho atrás de mim.
Meu celular vibrou no meu bolso. Eu ignorei.
Lonnie se movia devagar para a garota, atraindo o suspense - o momento do terror que
excitava ele. Ele esperou pelo grito dela, se preparando para saboreá-lo.
Mas Bella trancou sua mandíbula, e se abraçou. Ele estava surpreso - ele esperava que ela
tentasse fugir. Surpreso e levemente desapontado. Ele gostava de perseguir a sua presa, a
adrenalina da caçada.
Corajosa, essa. Talvez melhor, eu acho… mais luta nela.
Eu estava a um quarteirão de distância. O monstro poderia escutar o rugido do meu motor
agora, mas ele não deu atenção, bem atento em sua vítima.
Eu veria como ele se divertia na caçada quando ele seria a presa. Eu veria o que ele
pensava do meu estilo de caçar.
Em outra parte da minha cabeça, eu já estava escolhendo os tipos de torturas que eu
havia presenciado nos meus tempos de vigilante, procurando pela tortura mais dolorosa.
Ele sofreria por isso. Ele iria se contorcer em agonia. Os outros iriam meramente morrer
por suas participações nisso, mas o monstro chamado Lonnie imploraria pela morte bem
antes de eu ceder pra ele esse presente.
Ele estava atravessando a rua, na direção dela.
Eu virei a esquina, rapidamente, meus faróis clareando a cena e paralisando eles no lugar.
Eu poderia ter atropelado o líder, que saiu do caminho, mas essa era uma morte muito
fácil para ele.
Eu deixei o carro deslizar, virando pra que ficasse de frente pro caminho que eu cheguei e
a porta do carro ficasse perto de Bella. Eu abri a porta, e ela já estava correndo para o
carro.
“Entre,” Eu resmunguei.
Que diabos?
Sabia que isso era uma péssima idéia! Ela não está sozinha.
Eu deveria correr?
Acho que vou vomitar…
Bella saltou para a porta aberta sem hesitar, puxando e fechando a porta atrás dela.
E então ela me olhou com uma expressão de verdadeira confiança que eu nunca havia
visto num rosto humano, e todos os meus violentos planos desmoronaram.
Levou-me muito menos de um segundo para eu ver que eu não poderia deixá-la no carro
para lidar com os quatro homens na rua. O que eu diria à ela, para não olhar? Ha! Quando
que ela faz sempre o que eu peço? Quando que ela sempre faz a coisa segura?
Eu iria arrastá-los para longe, pra fora da visão dela, e deixá-la sozinha aqui? Eram poucas
as chances que outro humano perigoso estaria rondando as ruas de Port Angeles esta
noite, as chances eram poucas como essa era até o primeiro! Como um imã, ela atrai todas
as coisas perigosas para ela mesma. Eu não poderia deixá-la fora de vista.
Seria como parte do mesmo movimento para ela quando eu acelerei, tirando ela dos seus
perseguidores tão rapidamente que eles ficaram boquiabertos atrás do meu carro com
expressões incompreensíveis. Ela não perceberia meu instante de hesitação. Ela presumiria
que o plano era escapar desde o começo.
Eu nem conseguiria bater nele com o meu carro. Aquilo iria assustar ela.
Eu queria a morte dele tão brutalmente que a necessidade por isso chiou nos meus
ouvidos e nublou a minha visão e era um sabor na minha língua. Meus músculos estavam
amontoados com a urgência, o desejo, a necessidade por isso. Eu tinha que matá-lo. Eu
iria descascá-lo aos poucos lentamente, pedaço por pedaço, pele do músculo, músculo de
osso…
Exceto que a garota - a única garota no mundo - estava agarrada no seu banco com as
duas mãos, me encarando, seus olhos ainda muito abertos e totalmente confiando em
mim. A vingança teria que esperar.
“Bote o seu cinto,” Eu mandei. Minha voz foi áspera por causa do ódio e da sede de
sangue. Não a comum sede de sangue. Eu não me sujaria ao ponto de pegar qualquer
parte daquele homem pra dentro de mim.
Ela botou o cinto de segurança no lugar, se sobressaltando levemente com o som feito.
Aquele pequeno som fez ela se sobressaltar, mesmo que ela não tenha demonstrado medo
quando eu rasguei pela cidade, ignorando todos os sinais de trânsito. Eu poderia sentir
seus olhos em mim. Ela parecia estranhamente relaxada. Não faz sentido - não com o que
ela acabou de passar.
“Você está bem?” ela perguntou, sua voz áspera por causa do estresse e do medo.
Ela queria saber se eu estava bem?
Eu pensei por uma fração de segundo na pergunta dela. Não muito para que ela notasse a
minha hesitação. Eu estava bem?
“Não,” eu percebi, e o meu tom ferveu com a raiva.
Eu a levei pelo mesmo caminho que eu passei esta tarde, ocupado na mais pobre vigilância
que já existiu. Estava escuro agora, embaixo das árvores.
Eu estava tão furioso que o meu corpo paralisou no lugar, totalmente imóvel. Minhas mãos
frias que estavam fechadas desejavam esmagar o agressor dela, pulverizar ele em pedaços
tão mutilados que o seu corpo nunca poderia ser identificado…
Mas isso exigiria deixá-la aqui sozinha, desprotegida na noite escura.
“Bella?” Eu perguntei entre os dentes.
“Sim?” Ela respondeu roucamente. Ela limpou a garganta.
“Você está bem?” Aquilo era mesmo a coisa mais importante, a primeira prioridade.
Castigo era secundário. Eu sabia disso, mas o meu corpo estava tão cheio de raiva que era
difícil pensar.
“Sim.” A voz dela ainda estava grossa - com medo, sem dúvida.
E então eu não poderia deixá-la.
Mesmo que ela não esteja em risco constante por alguma razão irritante - alguma piada
que o universo estava pregando em mim - mesmo se eu tivesse certeza que ela estaria
perfeitamente segura em minha ausência, eu não poderia deixá-la sozinha no escuro.
Ela deve estar tão assustada.
E mesmo assim eu não tinha condições de consolá-la - mesmo se eu soubesse exatamente
como seria consolá-la, que eu não sabia. Com certeza ela conseguia sentir a brutalidade
radiando em mim, com certeza seria aquele o motivo óbvio. Eu iria assustá-la ainda mais
se eu não acalmasse o desejo de massacre fervendo dentro de mim.
Eu precisava pensar em alguma outra coisa.
“Me distraia, por favor,” eu implorei.
“Desculpe-me, o que?”
Eu mal tinha controle suficiente para tentar explicar do que eu precisava.
“Apenas fale sobre algo sem importância até eu me acalmar,” eu instruí, minha mandíbula
ainda trancada. Só o fato de que ela precisava de mim me segurava dentro do carro. Eu
podia ouvir os pensamentos do homem, seu desapontamento e sua raiva… Eu sabia onde
achá-lo… Fechei os meus olhos, desejando que eu não pudesse vê-lo de qualquer forma…
“Um…” ela hesitou - tentando achar um sentido para o meu pedido, eu imaginei. “Eu irei
atropelar Tyler Crowley amanhã na frente da escola?” Ela disse isso como se fosse uma
pergunta.
Sim - era isso que eu precisava. É claro que Bella apareceria com algo inesperado. Como
antes, a ameaça de violência vindo de seus lábios era hilária - tão cômica que era
estridente. Se eu não estivesse queimando com o desejo de matar, eu teria rido.
“Por quê?” eu gritei, para forçá-la a falar novamente.
“Ele está contando para todo mundo que me levará para o baile,” ela disse, sua voz cheia
com o seu escândalo de gata selvagem. “Ou ele está louco ou ele ainda está tentando se
desculpar por quase ter me matado na última… bem, você lembra disso,” ela completou
com indiferença, “e ele acha que o baile é de alguma maneira o melhor jeito de corrigir
isso. Então eu pensei que se eu pusesse em perigo a sua vida, então nós estaremos quites,
e ele não vai poder tentar corrigir. Eu não preciso de inimigos e talvez Lauren desistisse se
ele me deixasse em paz. Apesar que eu teria que destruir totalmente o seu Sentra,” ela
continuou, pensativa agora. “Se ele não tiver um veículo ele não pode levar ninguém pro
baile…”
Era animador ver que às vezes ela entende as coisas erradas. A persistência de Tyler não
tem nada haver com o acidente. Ela não parece entender a atração que ela causa garotos
humanos da escola. Ela não via a atração que eu tinha por ela também?
Ah, estava funcionando. O processo confuso da mente dela sempre foi chamativo. Eu
estava começando a ganhar controle de mim mesmo, a ver alguma coisa além da vingança
e da tortura…
“Eu soube disso,” eu disse pra ela. Ela tinha parado de falar, e eu precisava que ela
continuasse.
Você soube?” ela perguntou duvidosamente. E então a sua voz estava mais zangada do
que antes. “Se ele ficar paralisado do pescoço pra baixo, ele não pode ir pro baile
também.”
Eu desejei que houvesse alguma maneira que eu pudesse perguntá-la para continuar com
as ameaças de morte e dano corporal sem parecer loucura. Ela não poderia ter escolhido
uma maneira melhor para me acalmar. E suas palavras - apenas sarcasmo no seu caso,
exagero - eram um lembrete do que eu mais precisava neste momento.
Eu suspirei, e abri meus olhos.
“Melhor?” Ela perguntou timidamente.
“Não realmente.”
Não, eu estava mais calmo, mas não melhor. Porque eu acabei de perceber que eu não
poderia matar o monstro chamado Lonnie, e eu ainda queria isso quase mais do que outra
coisa no mundo. Quase.
A única coisa neste instante que eu queria mais do que um grande justificável assassinato,
era esta garota. E, apesar de que eu não poderia tê-la, apenas o sonho de tê-la, se fez
impossível para eu ir numa divertida matança essa noite - não importa o quanto defensível
tal coisa poderia ser.
Bella merecia mais do que um assassino.
Eu passei sete décadas tentando ser alguma coisa além daquilo - qualquer coisa além de
um assassino. Aqueles anos de esforço nunca poderiam me fazer digno da garota sentada
ao meu lado. E mesmo assim, eu senti que se eu voltasse para aquela vida - a vida de um
assassino - por apenas uma noite, eu certamente poria ela fora de meu alcance para
sempre. Mesmo se eu não tomasse o sangue deles - mesmo se eu não tivesse a evidência
brilhando vermelho em meus olhos - ela não sentiria a diferença?
Eu estava tentando ser bom o suficiente pra ela. Era um objetivo impossível. Eu continuaria
tentando.
“O que há de errado?” Ela sussurrou.
Seu hálito encheu o meu nariz, e eu fui lembrado porque eu não merecia ela. Depois de
tudo isso, mesmo com o muito que eu amava ela… ela ainda me dava água na boca.
Eu daria pra ela tanto honestidade quanto eu podia. Eu devo isso a ela.
“Às vezes eu tenho um problema com o meu temperamento, Bella”. Eu encarei a escura
noite lá fora, desejando que ela escutasse o horror interno de minhas palavras e também
que ela não escutasse. Principalmente que ela não escutasse. Corra, Bella, corra. Fique,
Bella, fique. “Mas não seria ajuda alguma pra mim se eu me virasse e caçasse esses…”
Apenas pensando nisso, quase me tirou de dentro do meu carro. Eu respirei fundo,
deixando o cheiro dela queimar a minha garganta. “Pelo menos, é o que eu estou tentando
convencer a mim mesmo.”
“Oh.”
Ela não disse mais nada. Quanto que ela tinha ouvido das minhas palavras? Eu olhei pra
ela pelo canto do olho, mas o seu rosto estava ilegível. Branco com o choque, talvez. Bem,
ela não estava gritando. Ainda não.
Estava silencioso por um momento. Eu lutei comigo mesmo, tentando ser o que deveria
ser. O que eu não poderia ser.
“Jessica e Angela devem estar preocupadas,” ela disse calmamente. Sua voz estava bem
calma, e eu não estava certo como poderia ser aquilo. Ela estava em choque? Talvez os
eventos de hoje a noite ainda não tinham entrado em sua cabeça. “Era pra eu ter me
encontrado com elas.”
Ela queria ficar longe de mim? Ou ela só estava preocupada com a preocupação das suas
amigas?
Eu não respondi a ela, mas eu liguei o carro e levei-a de volta. Com o passo que eu
chegava mais perto da cidade, mais difícil ficava me segurar no meu objetivo. Eu estava
tão perto dele…
Se fosse possível - se eu nunca pudesse ter ou merecer essa garota - então onde estava o
sentido de deixar esse homem não punido? Com certeza que eu poderia me permitir
tanto…
Não. Eu não estava desistindo. Não ainda. Eu a queria muito para me render agora.
Nós estávamos no restaurante aonde era pra ela ter se encontrado com as suas amigas,
antes mesmo de eu ter começado a racionalizar sobre os meus pensamentos. Jessica e
Angela estavam acabando de comer, e ambas agora realmente se preocupavam com a
Bella. Elas estavam indo procurar por ela, saindo para a rua escura.
Não era uma boa noite para elas saírem por aí vagando.
“Como você soube onde…?” A pergunta inacabada de Bella me interrompeu, e eu percebi
que eu tinha cometido outro deslize. Eu estava muito distraído lembrando-me de perguntála
onde ela deveria ter encontrado suas amigas.
Mas, ao invés de acabar a investigação e chegando ao ponto, Bella apenas balançou a
cabeça e deu um meio sorriso.
O que aquilo significava?
Bem, eu não tinha tempo de decifrar sua estranha aceitação de minha estranha
inteligência. Eu abri a minha porta.
“O que você está fazendo?” Ela perguntou, parecendo assustada.
Não deixando você sair da minha vista. Não me permitindo de ficar sozinho essa noite.
Nessa ordem. “Estou te levando para jantar.”
Bem, isso deveria ser interessante. Parecia completamente mais como uma outra noite
quando eu imaginei trazer Alice e pretendendo escolher o mesmo restaurante que Bella e
as suas amigas como se fosse acidente. E agora, aqui estava eu, praticamente num
encontro com a garota. Somente não contava, porque eu não estava dando a ela uma
chance de dizer não.
Ela já tinha metade da sua porta aberta antes que eu desse a volta pelo carro - geralmente
não era tão frustrante ter que se mover numa discreta velocidade - ao invés de esperar
que eu abra pra ela. Isso era porque ela não estava costumada a ser tratada como uma
dama, ou porque ela não pensava em mim como sendo um cavalheiro?
Eu esperei por ela, ficando mais inquieto enquanto as suas amigas continuavam indo para
uma esquina escura.
“Vá parar Jessica e Angela antes que eu tenha que localizá-las também,” eu pedi
rapidamente. “Eu não acho que poderia me reter se eu me encontrasse com os teus outros
amigos de novo.” Não, eu não seria forte o suficiente para aquilo.
Ela estremeceu, e então rapidamente se recompôs. Ela deu meio passo atrás delas,
chamando, “Jess, Angela!” em voz alta. Elas se viraram, e ela acenou com a mão para
chamar a atenção delas.
Bella! Oh, ela está a salvo! Angela pensou em alívio.
Muito tarde? Jessica resmungou para si mesma, mas ela, também, estava grata que Bella
não estava perdida ou ferida. Isso me fez gostar dela um pouco mais do que antes.
Elas voltaram, e então pararam, chocadas, quando me viram do lado dela.
Uh-uh! Jess pensou, impressionada. Sem chance!
Edward Cullen? Ela foi sozinha pra se encontrar com ele? Mas porque ela perguntaria sobre
eles estarem fora da cidade se ela sabia que ele estava aqui… Eu vi um curto momento da
expressão torturada de Bella quando ela perguntou a Angela se a minha família ficava às
vezes ausente da escola. No, ela não poderia saber, Angela decidiu.
Os pensamentos de Jessica iam da surpresa à suspeita. Bella está me escondendo algo.
“Onde você esteve?” Ela exigiu, encarando Bella, mas me espiando pelo canto dos olhos.
“Eu me perdi. E então eu encontrei o Edward,” Bella disse, agitando uma mão pra mim.
Seu tom estava muito normal. Como se fosse verdade tudo o que aconteceu.
Ela deve estar em choque. Era a única explicação para sua tranqüilidade.
“Estaria tudo bem se eu me juntasse a vocês?” Eu perguntei - para ser educado; eu sabia
que elas já tinham comido.
Puta merda, ele é quente! Jessica pensou, sua cabeça repentinamente e levemente
incoerente.
Angela não estava muito mais controlada. Queria que nós não tivéssemos comido. Wow.
Apenas. Wow.
Agora porque eu não conseguia provocar isso na Bella?
“Er… claro,” Jessica concordou.
Angela franziu as sobrancelhas. “Um, na verdade, Bella, nós já comemos enquanto
estávamos esperando,” ela admitiu. “Desculpa.”
O que? Cala a boca! Jess reclamou pra si mesma.
Bella deu de ombros, casualmente. Tão calma. Definitivamente em choque. “Tudo bem -
não estou com fome.”
“Eu acho que você deve comer algo,” eu discordei. Ela precisava de açúcar na corrente
sanguínea - apesar de cheirar doce o suficiente como era, eu pensei ironicamente. O pavor
iria vir momentaneamente, e um estômago vazio não ajudaria. Ela desmaiava facilmente,
que eu saiba por experiência própria.
Essas garotas não estariam em perigo algum se fossem direto para casa. Perigo não
perseguia cada passo seus.
E eu preferiria estar sozinho com a Bella - tanto tempo quanto ela quiser ficar sozinha
comigo.
“Você se importa se eu levar a Bella para casa essa noite?” Eu disse para Jessica antes que
Bella pudesse reagir. “Assim você não vai precisar esperar por ela enquanto ela come.”
“Uh, sem problema, eu acho…” Jessica encarou seriamente Bella, olhando por algum sinal
de que isso era o que ela queria.
Eu quero ficar… mas provavelmente ela quer ele pra si mesma. Quem não iria? Jess
pensou. No mesmo instante, ela viu Bella piscar.
Bella piscou?
“Okay,” Angela disse rapidamente, na pressa de ficar fora do caminho se isso era o que
Bella queria. E parecia que ela queria isso. “Te vejo amanhã, Bella… Edward.” Ela se
esforçou para dizer o meu nome num tom casual. Então ela agarrou a mão de Jessica e
começou a rebocar ela pra longe.
Eu teria que achar alguma maneira pra agradecer Angela por isso.
O carro de Jessica estava por perto em um círculo de luz clara feita por uma lâmpada de
rua.
Bella olhou para elas cuidadosamente, uma pequena ruga de preocupação entre seus
olhos, até que elas estavam no carro, então ela deve estar bem ciente do perigo que ela
passou. Jessica abanou enquanto ela dirigia, e Bella acenou de volta. Assim que o carro
desapareceu ela tomou um rumo.
Eu caminhei ao lado dela até a recepção, onde a recepcionista esperava. Bella ainda
parecia inteiramente calma. Eu queria tocar a mão dela, sua testa, para ver a sua
temperatura. Mas a minha mão fria iria assustá-la, assim como aconteceu antes.
Oh, minha nossa, a muito alta voz mental da maitre irrompeu na minha consciência. Minha
nossa, oh minha nossa.
Parecia a minha noite de estar na cabeça das pessoas. Ou eu só estava percebendo isso
mais porque eu queria tanto que a Bella me visse desse modo? Nós sempre fomos
atraentes para a nossa presa. Eu nunca pensei muito sobre isso antes. Geralmente - ao
menos, com pessoas como Shelly Cope e Jessica Stanley, sempre houve uma constante
repetição ao um entorpecido terror - o medo vinha de forma rápida depois da atração
inicial…
“Uma mesa para dois?” Eu disse, quando a maitre não falava.
“Oh, er, sim. Bem vindos ao La Bella Italia.” Mmm! Que voz! “Porque não me
acompanham?” Seus pensamentos eram preocupados - cuidadosos.
Talvez ela seja prima dele. Ela não pode ser irmã dele, eles não se parecem em nada. Mas
família, certamente. Ele não pode estar com ela.
Os olhos humanos eram nublados; não viam nada claramente. Como podia essa mulher de
mente fraca achar os meus encantos físicos - uma armadilha para a presa - tão atraentes,
e mesmo assim não ser capaz de ver a leve perfeição da garota ao meu lado?
Bem, sem necessidade para ajudá-la, só pra garantir, a maitre nos encaminhou para uma
mesa tamanho família no meio da parte mais cheia do restaurante. Será que eu posso dar
pra ele o meu número enquanto ela ta lá…? Ela pensou.
Eu tirei uma nota do meu bolso de trás. As pessoas eram constantemente cooperativas
quando se tratava de dinheiro.
Bella já estava se sentando sem oposição no assento onde a maitre tinha lhe indicado. Eu
balancei a cabeça para ela, e ela hesitou, inclinando sua cabeça pro lado com curiosidade.
Sim, ela seria muito curiosa essa noite. Um lugar cheio não era muito ideal para este tipo
de conversa.
“Talvez algo mais particular?” Eu pedi a maitre, dando a ela o dinheiro. Os olhos dela se
abriram, surpresos, e então se estreitaram enquanto sua mão se enrolou na gorjeta.
“Claro.”
Ela espiou na nota enquanto ela nos encaminhava para uma separada.
Cinqüenta dólares por uma mesa melhor? Rico, também. Isso faz sentido - eu aposto que a
jaqueta dele custou mais do que o meu salário inteiro. Droga. Por que ele quer privacidade
com ela?
Ela nos ofereceu uma mesa num calmo canto do restaurante onde ninguém seria capaz de
nos ver - ver as reações da Bella para o que eu diria pra ela. Eu não tinha nenhuma idéia
do que ela iria querer saber de mim essa noite. Ou o que eu daria pra ela.
Até onde que ela adivinhou? Que explicação que ela contou pra si mesma sobre os
acontecimentos de hoje à noite?
“Que tal isso?” a maitre perguntou.
“Perfeito,” eu disse a ela e, me sentindo levemente irritado por sua má atitude para com
Bella, eu sorri abertamente pra ela, não revelando meus dentes. Deixe ela me ver
nitidamente.
Whoa. “Um… seu garçom virá num instante.” Ele não pode ser real. Eu devo estar
dormindo. Talvez ela irá desaparecer… talvez eu escreva o meu número no prato dele com
ketchup… Ela saiu, caminhando levemente pelo lado.
Estranho. Ela ainda não estava assustada. Eu de repente me lembrei de Emmett me
provocando na cafeteria, várias semanas atrás. Aposto que eu poderia ter assustado ela
melhor do que você.
Eu estava perdendo a prática?
“Você não devia fazer isso com as pessoas,” Bella interrompeu meus pensamentos com um
tom de desaprovação. “Não é muito justo.”
Eu fitei a expressão de crítica dela. O que ela quis dizer? Eu não tinha assustado a maitre
nenhum um pouco, apesar das minhas intenções. “Fazer o que?”
“Deslumbrar as pessoas desse jeito - ela deve estar hiperventilando na cozinha nesse exato
momento.”
Hmm, Bella estava quase certa.
A maitre estava pouco coerente no momento, descrevendo seu cálculo incorreto sobre mim
para sua amiga de copa.
“Ah, qual é?” Bella repreendeu-me quando não respondi prontamente. “Você tem que
saber o efeito que você causa nas pessoas.”
“Eu deslumbro as pessoas?” Esta era uma maneira interessante de descrever a situação
precisa para esta noite.
Eu imaginei porque a diferença…
“Você não notou?” ela perguntou, ainda crítica. “Você acha que todos entendem
facilmente?”
“Eu deslumbro você?” Verbalizei minha curiosidade impulsivamente, e então as palavras já
haviam sido ditas, e era tarde demais para me arrepender.
Mas antes que eu tivesse tempo de me arrepender profundamente por ter pronunciado
essas palavras, ela respondeu, “Frequentemente.” E suas bochechas tomaram uma
tonalidade de rosa pálido.
Eu a deslumbrava.
Meu coração silencioso inflou-se com uma esperança mais intensa do que jamais me
lembro de ter sentido antes.
“Olá,” alguém disse, a garçonete, apresentando-se. Seus pensamentos eram muito
audíveis e mais explícitos do que o da maitre, mas eu a ignorei. Eu fitei a face de Bella ao
invés de ouvir, assistindo ao sangue se espalhar por sob a sua pele, notando não como
aquilo fazia minha garganta arder, mas como aquilo abrilhantava seu rosto, como aquilo
espantava a palidez de sua pele…
A garçonete estava esperando algo de mim. Ah, ela perguntou o que beberiamos. Eu
continuei a olhar para Bella, e a garçonete virou-se a contragosto para olhá-la também.
“Quero uma coca-cola?” disse Bella, como se pedisse aprovação.
“Duas cocas,” eu completei. Sede - sede normal de humanos- era um sinal de choque. Eu
me certificaria de que ela tivesse o açúcar extra da soda no seu sistema.
Mas ela parecia saudável. Mais que saudável. Ela parecia radiante.
“O que foi?” ela perguntou - imaginando porque eu a fitava, pensei. Eu mal havia notado
que a garçonete havia saído.
“Como se sente?” perguntei.
Ela piscou, surpresa pela pergunta. “Estou ótima.”
“Você não se sente doente, resfriada, aturdida?”
Ela estava ainda mais confusa agora. “Eu deveria?”
“Bem, na verdade estou esperando que você entre em choque.” Eu esbocei um sorriso,
esperando pela sua negativa. Ela não iria querer ser cuidada por outra pessoa.
Levou um minuto para que ela me respondesse. Seus olhos estavam ligeiramente sem
foco. Por vezes ela parecia assim, quando eu sorria para ela. Estaria ela… deslumbrada?
Eu amaria acreditar nisso.
“Eu não acho que isso vá acontecer. Eu sempre fui muito boa em reprimir coisas
desagradáveis,” ela respondeu, um tanto esbaforida.
Será então que ela tinha muita experiência com coisas desagradáveis? Seria sua vida
sempre assim tão arriscada?
“O mesmo de sempre,” eu disse a ela. “Eu me sinto melhor quando você tem algum açúcar
e nutrientes dentro de você.”
“A garçonete retornou com os refrigerantes e um cesto de pão. Ela deixou tudo na minha
frente e perguntou pelo meu pedido, tentando me olhar nos olhos, durante o processo. Eu
indiquei que ela deveria atender a Bella, e então voltei a ignorá-la. Ela tinha uma mente
vulgar.
“Um…” Bella deu uma rápida olhada no menu. “Eu vou querer o ravioli de cogumelos.”
A garçonete voltou-se rapidamente para mim. “E você?”
“Nada para mim.”
Bella fez uma expressão de desprezo. Hmm. Ela deve ter notado que eu nunca ingeria
alimentos. Ela notava tudo. E eu sempre me esquecia de ser cuidadoso quando estava com
ela.
Esperei até que estivessemos sozinhos novamente.
“Beba,” eu insisti.
Eu fiquei surpreso quando ela obedeceu imediatamente sem nenhuma objeção. Ela bebeu
até que a garrafa estivesse totalmente vazia, então eu empurrei a segunda coca para ela,
cerzindo as sobrancelhas um pouco. Sede ou choque?
Ela bebeu um pouco mais, e então sentiu um calafrio.
“Está com frio?”
“É só a coca,” ela disse, mas estremeceu novamente, seus lábios tremendo como se seus
dente estivessem prestes a tiritar de frio.
A linda blusa que ela usava parecia muito fina para protegê-la adequadamente; ela a
envolvia como uma segunda pele, quase tão frágil como a primeira. Ela era tão frágil, tão
mortal.
“Você não tem uma jaqueta?”
“Sim,” ela olhou ao redor de si mesma, meio perplexa. “Oh - eu a deixei no carro de
Jessica.”
Eu tirei minha jaqueta, desejando que este gesto não fosse estragado pela minha
temperatura corporal. Seria bom se eu fosse capaz de oferecer a ela um casaco aquecido.
Ela me encarou, suas bochechas corando novamente. O que ela estaria pensando agora?
Eu passei a jaqueta para ela por cima da mesa, e ela a vestiu de uma vez, e então tremeu
novamente.
Sim, seria ótimo ser quente.
“Obrigada,” ela disse. Ela respirou fundo e então puxou as mangas longas para liberar suas
mãos. Ela respirou fundo novamente.
Estaria a noite finalmente atuando? Sua cor ainda estava boa, sua pele estava num tom de
rosa pálido em contraste com o azul escuro da sua camisa.
“Esse tom de azul fica adorável com o seu tom de pele,” eu a elogiei. Apenas sendo
honesto.
Ela corou, enaltecendo o efeito.
Ela parecia bem, mas não havia sentido em me arriscar. Eu empurrei o cestinho de pães na
direção dela.
“Realmente,” ela objetou, imaginando meus motivos. “Eu não vou entrar em choque.”
“Você deveria - uma pessoa normal entraria. Você nem ao menos parece abalada.” Eu a
fitei, desaprovando, imaginando porque ela não poderia ser normal assim e então me
perguntei se eu realmente queria que ela o fosse.
_______________________________________5
“Eu me sinto muito segura com você,” ela disse, seus olhos, novamente, cheios de
confiança. Confiança que eu não merecia.
Seus instintos estavam todos errados - invertidos. Este deveria ser o problema. Ela não
reconhecia o perigo da forma como um ser humano era capaz. Ela tinha uma reação
oposta. Ao invés de correr, ela hesitava, se atirava ao que deveria assustá-la…
Como eu poderia protegê-la de mim mesmo quando nenhum de nós dois queria isso?
“Isso é mais complicado do que eu planejei,” eu murmurei.
Eu pude ver minhas palavras rodando em sua cabeça, e eu imaginei o que ela teria feito
com elas. Ela apanhou uma baguete e começu a comer sem prestar muita atenção. Ela
mascou por um momento, e então inclinou sua cabeça para um lado, pensativa.
“Geralmente você está de melhor humor quando seus olhos estão claros,” ela disse em um
tom casual.
Sua observação, dita de forma tão direta, me deixou atordoado. “O que?”
“Você é sempre mais irritadiço quando seus olhos estão negros.” - eu esperava algo assim.
“Eu tenho uma teoria sobre isso,” ela adicionou calmamente.
Então ela veio com sua própria explicação. É claro que ela tinha uma. Eu senti um pavor
profundo quando imaginei o quão perto da verdade ela chegara.
“Mais teorias?”
“Mm-hm.” Ela mastigava uma outra mordida, totalmente relaxada. Como se ela não fosse
discutir as características de um monstro com o próprio monstro.
“Espero que você seja mais criativa dessa vez…” Eu menti quando ela não continuou.
O que eu realmente esperava era que ela estivesse errada - a quilometros longe da
verdade. “Ou você ainda está plagiando histórias em quadrinhos?”
“Bem, não, eu não me inspirei numa revista em quadrinhos,” ela disse, um pouco
embaraçada. “Mas eu também não imaginei tudo sozinha.”
“E…?” eu perguntei entredentes.
É claro que ela não iria falar tão calmamente se estivesse prestes a gritar.
Quando ela hesitou, mordendo seus lábios, a garçonete reapareceu com a comida de Bella.
Eu dei um pouco de atenção à servente enquanto ela arrumava o prato na frente de Bella
e então perguntava se eu desejava algo.
Eu declinei, mas pedi outra coca. A garçonete não havia notado os copos vazios. Ela os
pegou e levou-os.
“Você estava dizendo…?” Eu soprei a deixa anciosamente tão logo quanto ficamos a sós
novamente.
“Eu vou te contar quando estivermos no carro,” ela disse com uma voz baixa. Ah, isso seria
ruim. Ela não estava querendo falar seus palpites na frente de outras pessoas. “Se…” ela
irrompeu repentinamente.
“Há condições?” Eu estava tão tenso que quase rosnei as palavras.
“Eu tenho algumas perguntas, é claro.”
“É claro,” eu consenti, com um tom de voz seco.
Suas perguntas provavelmente seriam o bastante para que eu soubesse em que direção
seus pensamentos estavam seguindo. Mas como eu as responderia? Com mentiras
responsáveis? Ou eu a assombraria com a verdade? Ou não diria nada, incapaz de decidir?
Nós continuamos sentados em silêncio enquanto a garçonete reabastecia seu estoque de
soda.
“Bem, vá em frente,” eu disse, com minhas mandibulas travadas, quando ela se foi.
“Por que você está em Port Angeles?”
Esta era uma pergunta fácil demais - para ela. A pergunta não me indicaria nada, enquanto
minha resposta, se verdadeira, indicaria muito, muito mesmo. Deixe que ela revele algo
primeiro.
“Próxima,” eu disse.
“Mas esta foi a mais fácil!”
“Próxima,” eu repeti.
Ela estava frustrada pela minha rejeição. Ela tirou seus olhos de mim e olhou para baixo,
para a sua comida.
Vagarosamente, pensativa, ela deu uma mordida e mastigou com vontade. Fez tudo descer
com mais coca e então finalmente olhou para mim. Seus olhos estavam estreitos, cheios
de suspeita.
“Certo, então,” ela disse. “Vamos dizer que, hipotéticamente, é claro, que… alguém…
pudesse saber o que as pessoas estão pensando, ler mentes, você entendeu - com apenas
algumas poucas exceções.”
Poderia ser pior.
Isto explicava aquele sorrisinho no carro. Ela era rápida - ninguém mais jamais havia
adivinhado este meu poder. Exceto por Carslile, quando isto era bem mais óbvio, no
começo, quando eu respondia a todos os seus pensamentos como se ele tivesse falando
comigo. Ele havia entendido o meu poder antes de mim…
Esta pergunta não era tão ruim. Apesar de estar claro que ela sabia haver algo de errado
comigo, não era tão ruim quanto poderia ser. Leitura de mentes não era, afinal, uma
faceta do cânone vampírico. Eu continuei com a sua hipótese.
“Apenas uma exceção,” eu a corrigi. “Hipoteticamente”
Ela se esforçou para não sorrir - minha vaga honestidade a havia agradado. “Tudo bem,
com uma única exceção, então. Como isso funciona? Quais as limitações? Como seria… se
alguém… encontrasse outra pessoa exatamente numa hora de grande necessidade? Como
ele poderia saber que ela estaria com problemas?”
“Hipoteticamente?”
“Claro.” Seus lábios se retorceram, e seus olhos castanhos estavam ansiosos.
“Bem,” eu hesitei. “Se… esse alguém…”
“Vamos chamá-lo de Joe,” ela sugeriu.
Eu tive que sorrir diante do entusiasmo dela. Ela achava mesmo que a verdade seria uma
coisa boa? Se meus segredos fossem coisas agradáveis, por que eu a manteria afastada
deles?
“Joe, então,” eu concordei. “Se Joe estivesse prestando atenção, o tempo não teria que ser
tão exato.” Eu balancei minha cabeça e reprimi um calafrio quando me lembrei o quão
perto eu estive de chegar muito tarde hoje. “Você é a única pessoa que pode se encrencar
em uma cidade tão pequena. Você deve ter devastado a estatística de crimes deles, por
décadas, você sabe.”
Seus lábios murcharam um pouco e então ela disse: “Nós estamos falando de um caso
hipotético.”
Eu ri diante da irritação dela.
Seus lábios, sua pele… eles pareciam tão suaves… Eu queria tocá-los. Eu queria empurrar
sua sobrancelha franzida para cima com a ponta dos meus dedos. Impossível. Minha pele
seria um repelente para o seu calor.
“Sim, nós estávamos…” Eu disse, retornando ao nosso assunto antes de eu ter entrado em
depressão. “Devemos chamar você de Jane?”
Ela olhou por sobre a mesa, diretamente para mim, com toda a irritação e mal humor
dissipados dos seus olhos arregalados.
“Como você sabia?” ela perguntou, sua voz baixa e intensa.
Eu deveria dizer a verdade a ela? E, se dissesse, qual parte da verdade?
Eu queria dizer a ela. Eu queria merecer a confiança que eu ainda enxergava em sua
feição.
“Você pode confiar em mim, sabe,” ela sussurrou, e levou a mão para frente como se fosse
tocar em minhas mãos onde elas estavam em cima da mesa vazia em minha frente.
Eu as tirei de alcance - odiando a idéia da reação dela à minha pele fria e pétrea - e ela
deixou as mãos pousarem na mesa.
Eu sabia que podia confiar nela com relação a guardar meus segredos; ela era
inteiramente confiável, até o fim. Mas eu não podia confiar que ela não ficaria horrorizada
com eles. Ela deveria ficar horrorizada. A verdade era horrível.
“Eu não sei mais se tenho escolha,” murmurei. Lembrei-me de uma vez tê-la provocado ao
chamá-la de ‘excessivamente distraída.’ A ofendi, se eu julguei certo suas expressões.
Bem, essa havia sido uma injustiça, pelo menos. “Eu estava errado - você é mais atenta do
que eu havia dado crédito.” E, apesar dela talvez não ter notado, eu já havia lhe dado
muito crédito. Ela não perdia nada.
“Pensei que você estava sempre certo,” ela disse, sorrindo enquanto me provocava.
“Eu costumava estar.” Eu costumava saber o que fazia. Costumava ter sempre certeza de
meu caminho. Agora tudo era caos e tumulto.
Mesmo assim, não trocaria nada. Eu não queria a vida que fazia sentido. Não se o caos
significava que eu podia ter Bella.
“Eu estava errado sobre você em outro ponto também,” continuei, aparando as arestas em
outro ponto. “Você não é um ímã para acidentes - essa não é uma classificação muito
ampla. Você é um imã para problemas. Se houver algo perigoso num raio de dez milhas,
invariavelmente vai achar você.” Por que ela? O que ela havia feito para merecer tudo
isso?
O rosto de Bella estava sério novamente. “E você se coloca nessa categoria?”
Honestidade era mais importante em relação a essa questão do que qualquer outra.
“Definitivamente”.
Seus olhos se estreitaram levemente - não com suspeita, mas estranhamente preocupada.
Ela levou a mão pela mesa novamente, devagar e deliberadamente. Tirei minhas mãos
alguns centímetros mais longe das dela, mas ela ignorou o movimento, determinada a me
tocar. Prendi a respiração - não por causa de seu cheiro agora, mas por causa da súbita e
irresistível tensão. Medo. Minha pele a deixaria enojada. Ela correria para longe.
Ela roçou a ponta dos dedos levemente pelas costas de minhas mãos. O calor seu toque
gentil e desejoso não era igual a nada que eu já havia sentido antes. Era quase puro
prazer. Teria sido, se não fosse pelo meu medo. Observei seu rosto quando ela sentiu o
frio pétreo de minha pele, ainda incapaz de respirar.
Um meio sorriso apareceu nos cantos de seus lábios.
“Obrigada,” ela disse, me encarando intensamente. “Já são duas vezes agora.”
Seus dedos macios ficaram em minha mão como se achassem confortável estar lá.
Respondi o mais casual possível. “Não vamos tentar uma terceira vez, de acordo?”
Ela fez uma careta, mas concordou.
Tirei minhas mãos das suas. Por melhor que seu toque fosse, eu não esperaria até que a
mágica de sua tolerância passasse e se transformasse em repulsa. Escondi minhas mãos
embaixo da mesa.
Li seus olhos; apesar de sua mente estar silenciosa, eu podia perceber tanto confiança
quando surpresa nela. Percebi naquele momento que eu queria responder as perguntas
dela. Não por que eu devia isso a ela. Não porque eu queria que ela confiasse em mim.
Eu queria que ela me conhecesse.
“EU a segui até Port Angeles,” disse a ela, as palavras saindo muito rápido para que eu as
censurasse. Eu sabia do perigo da verdade, do risco que eu corria. Até aquele momento,
sua calma fora do normal poderia se transformar em histeria. Contrariamente, saber isso
apenas fez com que eu falasse mais rápido. “Nunca tentei manter uma pessoa específica
viva antes e é muito mais trabalhoso do que eu acreditava. Mas provavelmente é apenas
porque é você. Pessoas normais parecem conseguir passar o dia sem muitas catástrofes.”
Observei-a, esperando.
Ela sorriu. Seus lábios se curvaram nas pontas, e seus olhos cor de chocolate se
aqueceram.
Eu havia acabado de admitir que a havia seguido, e ela estava sorrindo.
“Já parou para pensar que talvez fosse minha hora daquela primeira vez, com a van, e
você está interferindo no destino?” ela perguntou.
“Aquela não foi a primeira vez,” eu disse, encarando a toalha de mesa avermelhada, meus
ombros curvados de vergonha. Minhas barreiras haviam caído, a verdade saía de qualquer
jeito. “Sua hora foi na primeira vez que te conheci.”
Era verdade, e aquilo me deixava nervoso. Eu estava posicionado na vida dela como a
lâmina de uma guilhotina. Era como se ela estivesse marcada para morrer por um destino
cruel e injusto, e - já que eu parecia ser uma ferramenta involuntária - esse mesmo destino
parecia ainda tentar executá-la. Imaginei o destino personificado - uma velha cinzenta e
invejosa, uma harpia vingativa.
Eu queria que algo, alguém, fosse responsável por isso - para que eu tivesse algo concreto
contra o que lutar. Algo, alguma coisa para destruir, para que ela pudesse ficar a salvo.
Bella estava muito quieta; sua respiração acelerada.
Olhei para ela, sabendo que finalmente eu veria o medo que estava esperando. Eu não
havia acabado de admitir o quão perto eu havia estado de matá-la? Mais próximo do que a
van que ficou a meros centímetros de esmagá-la. Mesmo assim, seu rosto parecia calmo,
seus olhos ainda apertados com preocupação.
“Você se lembra?” Ela tinha que se lembrar daquilo.
“Sim,” ela disse, com a voz calma e grave. Seus olhos profundos conscientes.
Ela sabia. Ela sabia que eu pensara em matá-la daquela vez.
Onde estavam os gritos?
“E ainda assim você está aqui,” eu disse, apontando a inerente contradição.
“Sim, eu estou aqui… por você.” Sua expressão se alterou agora curiosa, como se ela
sutilmente houvesse mudado o assunto. “Porque de alguma forma você sabia como me
encontrar hoje…?”
Mesmo sem chances, forcei mais uma vez a barreira que protegia seus pensamentos,
desesperado para entender. Não fazia sentido nem tinha lógica para mim. Como ela podia
se importar com o resto com aquela verdade sobre a mesa?
Ela esperou, apenas curiosa. Sua pele era pálida, o que era natural para ela, mas ainda me
preocupava. Seu jantar permanecia intocado em sua frente. Se eu continuasse a lhe contar
muito, ela iria precisar de proteção quando o choque passasse.
Resolvi meus termos. “Você come, eu falo.”
Ela pensou sobre aquilo por meio segundo e comeu um pouco com uma velocidade que
parecia destoar de sua calma. Ela estava mais ansiosa pela minha resposta do que seus
olhos demonstravam.
“É mais difícil do que deveria ser - manter você à vista,” eu lhe disse. “Geralmente eu
posso encontrar alguém facilmente, uma vez que já tenha ouvido suas mentes antes.”
Observei seu rosto com cuidado quando disse isso. Adivinhar era uma coisa, obter a
confirmação era outra.
Ela estava sem ação, seus olhos arregalados. Senti meus dentes rangerem enquanto
esperava que ela entrasse em pânico.
Mas ela apenas piscou uma vez, engoliu fazendo barulho, e rapidamente mordeu mais um
pedaço. Ela queria que eu continuasse.
“Eu estava me concentrando em Jessica,” continuei, observando cada palavra que saía.
“Não cuidadosamente - como eu disse, só você poderia encontrar problemas em Port
Angeles -” não resisti ao comentário. Será que ela sabia que outras vidas humanas não
eram tão marcadas por experiências de quase morte, ou ela achava que era normal? Ela
era a coisa mais fora do normal que eu já havia encontrado. “Primeiramente, não notei
quando você saiu sozinha. Então, quando percebi que você não estava mais com ela, saí
procurando você na livraria que vi na mente dela. Eu sabia que você não havia entrado, e
que havia ido para o sul… e eu sabia que você teria que voltar logo. Então eu estava
apenas esperando por você, procurando aleatoriamente pelos pensamentos das pessoas
nas ruas - para ver se alguém havia notado você para que eu soubesse onde você estava.
Eu não tinha motivos para me preocupar… mas eu estava estranhamente ansioso…” Minha
respiração ficou mais rápida quando me lembrei da sensação de pânico. O cheiro dela
alcançou minha garganta e eu estava contente. Era uma dor que significava que ela estava
viva. Enquanto eu queimasse, ela estava a salvo.
“Comecei a dirigir em círculos, ainda… ouvindo.” Eu esperava que a palavra fizesse sentido
para ela. Isso provavelmente era confuso. “O sol estava finalmente se pondo, e eu estava
prestes a sair e te procurar a pé. E então –”
Enquanto a memória me voltava - perfeitamente clara e tão vívida como se eu estivesse
naquele momento novamente - senti a mesma fúria assassina correndo por meu corpo,
presa em gelo.
Eu o queria morto. Eu precisava dele morto. Meu maxilar endureceu enquanto me
concentrava em me segurar na mesa. Bella ainda precisava de mim. Era isso que
importava.
“Então o que?” ela murmurou, seus olhos escuros arregalados.
“Eu ouvi o que eles estavam pensando,” disse entre-dentes, incapaz de fazer as palavras
saírem sem parecer um rosnado. “Eu vi seu rosto na mente dele.”
Eu mal podia resistir à vontade de matar. Eu ainda sabia precisamente onde encontrá-lo.
Seus pensamentos ruins passeavam pela noite, como se me chamassem…
Cobri meu rosto, sabendo que minha expressão era a de um monstro, um caçador, um
assassino. Fixei a imagem dela por trás de meus olhos para me controlar, concentrandome
apenas em seu rosto. A delicada moldura óssea, a fina camada de sua pele pálida -
como seda esticada em vidro, incrivelmente macia, fina e fácil de estilhaçar. Ela era
vulnerável demais para esse mundo. Ela precisava de um protetor. E, como um desvio do
destino, eu era a coisa mais próxima que estava disponível.
Tentei explicar minha reação violenta para que ela pudesse entender.
“Foi muito… difícil - você não imagina o quão difícil - para mim apenas te tirar de lá e
deixá-los… vivos” eu suspirei. “Eu poderia ter deixado você ir com Jessica e Angela, mas
estava com medo de que se você me deixasse sozinho, eu iria atrás deles.”
Pela segunda vez esta noite, eu confessei a intenção de assassinato. Pelo menos esse era
passível de defesa.
Ela estava quieta enquanto eu tentava me controlar. Escutei as batidas de seu coração. O
ritmo era irregular, mas se acalmou conforme o tempo ia passando e agora estava estável
novamente. Sua respiração também estava devagar e estável.
Eu estava muito próximo do limite. Eu precisava levá-la para casa antes…
Eu o mataria, então? Eu me tornaria um monstro novamente quando ela confiava em mim?
Haveria alguma forma de me deter?
Ela havia prometido me contar sua mais nova teoria quando estivéssemos sozinhos. Eu
queria ouvir? Estava ansioso por isso, mas será que a recompensa por minha curiosidade
seria pior do que não saber?
De qualquer modo, ela já teria verdades o suficiente por aquela noite.
Olhei para ela novamente, e seu rosto estava mais pálido do que antes, mas composto.
“Está pronta para ir para casa?” perguntei.
“Estou pronta para ir,” ela disse, escolhendo as palavras com cuidado, como se um simples
‘sim’ não expressasse exatamente o que ela queria dizer.
Frustrante.
A garçonete retornou. Ela havia escutado a última frase de Bella enquanto caminhava para
o outro lado da mesa, pensando no que mais ela poderia oferecer. Eu queria fingir que não
estava ouvindo algumas das ofertas que ela tinha em mente.
“Como estamos?” ela me perguntou.
“Estamos prontos para pedir a conta, obrigado,” eu disse, meus olhos em Bella.
A respiração da garçonete deu um pico e ela estava momentaneamente - usando a frase
de Bella - deslumbrada com a minha voz.
Num breve momento de percepção, escutando como minha voz soava na mente dessa
humana inconseqüente, eu percebi por que eu parecia atrair tanta atenção naquela noite -
ao contrário do medo de sempre.
Era por causa de Bella. Tentando tanto ser seguro para ela, para ser menos assustador,
para seu humano, eu havia perdido meus limites. Os outros humanos viam beleza agora,
com meu horror inato tão cuidadosamente sob controle.
Olhei para a garçonete, esperando que ela se recuperasse. Era um pouco engraçado, agora
que eu sabia o motivo.
“Claro,” ela gaguejou. “Aqui está.”
Ela me estendeu a pasta com a conta, pensando no cartão que ela havia deixado embaixo
do recibo. Um cartão com seu nome e telefone.
Sim, era realmente engraçado.
Eu já tinha o dinheiro pronto. Devolvi imediatamente a pasta, para que ela não perdesse
tempo esperando um telefonema que nunca aconteceria.
“Sem troco,” eu disse, esperando que o tamanho da gorjeta compensasse seu
desapontamento.
Levantei-me e Bella logo me seguiu. Eu queria lhe oferecer minha mão, mas pensei que
talvez estivesse desafiando minha sorte um pouco demais por uma noite. Agradeci a
garçonete, meus olhos nunca deixando o rosto de Bella. Bella parecia estar achando algo
engraçado, também.
Saímos de lá, eu caminhando o mais perto quanto me era possível. Perto o suficiente para
que o calor do corpo dela fosse como um toque físico contra o lado esquerdo do meu
corpo. Enquanto eu segurava a porta para ela, ela suspirou de leve, e me perguntei o que
a teria deixado triste. Encarei seu olhar, prestes a perguntar, quando ela de repente
encarou o chão, parecendo envergonhada. Isso me deixou ainda mais curioso, ainda que
relutante em perguntar. O silêncio entre nós continuou enquanto eu abria a porta do carro
para ela e entrava no carro.
Liguei o aquecedor - o tempo mais quente havia de repente terminado; o frio do carro
deveria ser desconfortável para ela. Ela se encolheu em minha jaqueta, um pequeno
sorriso em seus lábios.
Esperei, adiando a conversa até que as luzes do painel apagassem. Isso me fez sentir
ainda mais sozinho com ela.
Seria aquilo a coisa certa a se fazer? Agora que eu estava concentrado apenas nela, o
carro parecia menor. Seu aroma dançava dentro com a corrente de ar do aquecedor, se
intensificando e aumentando. Cresceu em sua força, como se fosse uma entidade própria
dentro do carro. Uma presença que demandava ser notada.
E havia sido; eu queimei. A sensação era aceitável, no entanto. Parecia estranhamente
apropriada para mim. Me havia sido dado tanto aquela noite - mais do que eu esperava. E
aqui estava ela, ainda a meu lado por vontade própria. Eu devia algo em retorno. Um
sacrifício, uma oferta em forma de queimação.
Agora, se eu pudesse manter as coisas daquele jeito; apenas queimação, e mais nada. Mas
o veneno encheu minha boca, e meus músculos ficaram tensos em antecipação, como se
eu estivesse caçando…
Eu precisava manter tais pensamentos longe de minha mente. E eu sabia o que me
distrairia.
“Agora,” eu disse a ela, temendo sua resposta e me distraindo da sensação de queimado.
“É sua vez.”
10. Teoria
“Posso fazer só mais uma?” ela suplicou ao invés de responder ao meu pedido.
Eu estava nervoso, ansioso pelo pior. E ainda, como era tentador prolongar esse momento.
Ter Bella comigo, de boa vontade, só por mais alguns segundos. Eu suspirei com o dilema,
então disse, “Uma.”
“Bem…,” ela hesitou por um momento, como se estivesse decidindo qual pergunta ia fazer.
“Você disse que sabia que eu não tinha entrado na livraria, e que eu tinha ido para o sul.
Eu só estava me perguntando como você sabia disso.”
Eu olhei para além do pára-brisa. Esta era outra questão que não revelava nada sobre ela,
e muito sobre mim.
“Eu pensei que não estávamos mais sendo evasivos.” ela disse, seu tom crítico e
desapontado.
Que irônico. Ela estava sendo cruelmente evasiva sem se quer tentar.
Bem, ela me pediu para ser direto. E essa conversa não estava indo para nenhum lugar
bom de qualquer forma.
“Tudo bem, então.” eu disse “Eu segui o seu cheiro.”
Eu queria ver o seu rosto, mas eu estava com medo do que eu ia ver. Ao invés disso, eu
escutei a sua respiração acelerando e depois se estabilizando. Ela falou novamente após
um momento, e a sua voz estava mais serena do que eu esperava.
“E você também não respondeu uma das minhas perguntas”, ela disse.
Eu olhei para baixo, em sua direção, com uma careta. Ela estava procrastinando, também.
“Qual delas?”
“Como funciona - essa coisa de ler mentes?” ela perguntou, reiterando a pergunta do
restaurante. “Você pode ler a mente de todo mundo, em qualquer lugar? Como você faz
isso? O resto da sua família pode…?” ela deixou sua voz morrer, corando novamente.
“Isso é mais que uma”, eu disse.
Ela somente me olhou, esperando pelas suas respostas.
E por que não contar a ela? Ela já adivinhava a maior parte disso, e esse assunto era mais
fácil do que aquele que se aproximava.
“Não, sou só eu. E eu não consigo ouvir qualquer um, em qualquer lugar. Eu tenho que
estar pelo menos um pouco perto. Quanto mais familiar é a… voz de alguém, de mais
longe eu posso ouví-la. Mas ainda assim, não mais longe que alguns quilômetros.” Eu
tentei pensar em uma maneira de descrever isso de uma forma que soasse compreensível.
Uma analogia a qual ela podia relacionar. “É como estar num corredor enorme e cheio de
gente, todos falando ao mesmo tempo. É só um ruído - um zumbido de vozes no fundo.
Até que eu me concentro em uma das vozes, e aí o que ela está pensando se torna claro.
Na maioria das vezes eu desligo todas - se não eu posso me distrair demais. E então fica
mais fácil parecer normal-” eu fiz uma careta “-Isso quando eu não estou respondendo
acidentalmente ao pensamento das pessoas e não á suas vozes”.
“Porque será que você não pode me ouvir?”, ela se admirou.
“Eu não sei”, eu admiti. “A única suposição é que talvez a sua mente não trabalhe da
forma como a deles trabalha. Como se os seus pensamentos estivessem na freqüência AM
quando eu só posso ouvir Fm”.
Eu percebi que ela poderia não gostar dessa analogia. A antecipação da sua reação me fez
sorrir. Ela não me desapontou.
“Minha mente não trabalha direito?” ela perguntou, sua voz se ergueu com desgosto. “Eu
sou uma aberração?”
Ah, a ironia de novo.
“Eu ouço vozes na minha cabeça e você preocupada que você a aberração”. Eu ri. Ela
entendeu todas as coisas pequenas, e ainda assim ela ignorava as grandes. Sempre os
instintos errados…
Bella estava mordendo o seu lábio, e as rugas por entre seus olhos estavam profundas.
“Não se preocupe” eu assegurei a ela “É apenas uma teoria…” e havia uma teoria mais
importante para ser discutida. Eu estava ansioso para chegar nela. Cada segundo que se
passava parecia mais e mais como um tempo roubado.
“O que nos leva de volta a você” eu disse, dividido em dois, ambos ansiosos e relutantes.
Ela suspirou, ainda mordendo seu lábio - eu estava preocupado que ela se machucasse. Ela
me olhou nos olhos, seu rosto confuso.
“Nós não deixamos de ser evasivos?” eu perguntei calmamente.
Ela olhou para baixo, se debatendo com algum dilema interno. De repente, ela endureceu
e seus olhos se arregalaram. O medo passou por seus olhos pela primeira vez.
“Minha nossa!” ela gaguejou.
Eu entrei em pânico. O que ela tinha visto? Como que eu tinha a apavorado?
Então ela gritou. “Diminua!”.
“Qual é o problema?” eu não entendi da onde que o seu terror estava vindo.
“Você está indo á quase duzentos por hora!” ela gritou para mim. Ela olhou para fora da
janela e se recolheu às árvores negras passando rapidamente por nós.
Essa coisinha pequena, só um pouco de velocidade, fez ela gritar em pavor?
Eu revirei meus olhos. “Relaxe, Bella”.
“Você está tentando nos matar?”, ela perguntou, sua voz alta e firme.
“Nós não vamos bater”. Eu prometi a ela.
Ela deu uma inspirada ansiosa, e então ela disse em um tom levemente moderado.
“Porque você está com tanta pressa?”
“Eu sempre dirijo assim.”
Eu olhei para seus olhos me encarando, divertido com a sua expressão chocada.
“Mantenha os olhos na estrada!” ela gritou.
“Eu nunca sofri um acidente, Bella - eu nunca sequer levei uma multa.” Eu sorri e então eu
toquei a minha testa. Isso fez com que parecesse mais cômico - a falta de lógica de ser
capaz em fazer piadas com ela sobre algo tão secreto e estranho. “Detector de radar
embutido”.
“Muito engraçado”, ela disse de forma sarcástica, sua voz mais amedrontada do que com
raiva. “Charlei é um policial, lembra? Eu fui criada para obedecer todas as leis de trânsito.
Além do mais, se você bater o Volvo e transformá-lo numa sanfona, provavelmente você
vai se levantar e sair dele”.
“Provavelmente” eu repeti, e então eu ri sem humor. Sim, nós iríamos pagar um preço um
pouco diferente em um acidente de carro. Ela estava certa em estar com medo, a respeito
do meu modo de dirigir… “Mas você não”.
Com um suspiro, eu deixei o carro diminuir de velocidade. “Feliz?”
Ela olhava o velocímetro “Quase”.
Isso ainda estava muito rápido para ela? “Eu odeio dirigir devagar”, eu murmurei, mas
deixei o ponteiro cair mais um pouco.
“Isso é devagar?” ela perguntou.
“Chega de comentários sobre como eu dirijo” eu disse impacientemente. Quantas vezes até
agora ela desviou da minha pergunta? Três vezes? Quatro? As suas especulações eram tão
horríveis? Eu tinha que saber - imediatamente. “Eu ainda estou esperando pela sua última
teoria”.
Ela mordeu o seu lábio de novo, e sua expressão se tornou preocupada, quase com dor.
Eu dominei a minha impaciência e suavizei a minha voz. Eu não queria que ela ficasse
estressada.
“Eu não vou rir” eu prometi, desejando que esse fosse o único obstáculo que a estivesse
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hesitando em falar.
“Eu estou com mais medo que você fique com raiva de mim” ela suspirou.
Eu forcei a minha voz para continuar “É assim tão ruim?”
“Em grande parte, sim.”
Ela olhou para baixo, se recusando a olhar em meus olhos. Os segundos passavam.
“Vá em frente” eu encorajei.
Sua voz era baixa “Eu não sei como começar”.
“Por que você não começa pelo começo?” eu a lembrei de suas palavras antes do jantar.
“Você disse que não foi você quem criou essa teoria”.
“Não” ela concordou, e então estava em silêncio de novo.
Eu pensei em várias coisas que podiam tê-la inspirado. “Onde você a encontrou - num
livro? Um filme?”
Eu devia ter dado uma olhada em sua coleção quando ela estava fora da casa. Eu não
tinha nem idéia se Bram Stoker ou Anne Rice estavam naquela pilha de livros usados…
“Não” ela disse de novo “Foi Sábado, na praia”.
Por essa eu não esperava. A bisbilhotice local sobre nós nunca tinha dado em nada tão
bizarro - ou tão preciso. Tinha algum novo rumor que eu tinha perdido? Bella desviou o
olhar de suas mãos e viu a surpresa em meu rosto.
“Eu dei de cara com um amigo antigo da família - Jacob Black” ela continuou “O pai dele e
Charlie são amigos desde que eu era bebê.”
Jacob Black - o nome não me era familiar, e mesmo assim me lembrava de alguma coisa…
algum tempo, há um tempo atrás… eu encarei o pára-brisa, procurando através das
memórias tentando achar alguma conexão.
“O pai dele é um dos anciões Quileute” ela disse.
Jacob Black. Ephraim Black. Um descendente, sem dúvida.
Isso era tão mal quanto eu podia imaginar.
Ela sabia da verdade.
Minha mente estava voando pelas ramificações enquanto o carro passava ao redor das
curvas escuras da estrada, meu corpo rígido, com angústia - se movimentando apenas o
necessário e automáticas ações para dirigir o carro.
Mas… se ela tinha descoberto a verdade no sábado… então ela sabia disso a noite toda… e
ainda assim…
“Nós fomos dar uma volta” ela continuou. “- Ele estava me contando umas histórias
antigas - tentando me assustar, eu acho. Ele me contou uma…”
Ela parou, mas não havia necessidade para ela ficar apreensiva agora; eu sabia o que ela
ia dizer. O único mistério que sobrava era por que ela estava sentada comigo agora.
“Vá em frente”, eu disse.
“Sobre vampiros” ela respirou, as palavras saíram mais baixas do que um suspiro.
De alguma forma, isso era ainda pior do que saber que ela sabia, a ouvir dizer a palavra
em alto e bom som. Eu recuei com o som disso, e então eu me controlei novamente.
“E você imediatamente pensou em mim?” eu perguntei.
“Não. Ele… mencionou sua família”.
Quão irônico seria que o próprio progenitor de Ephraim ter violado o trato que ele próprio
fez um juramento para mantê-lo. Um neto, ou bisneto que seja. Quantos anos tinham se
passado? Dezessete?
Eu devia ter percebido que não era aquele velho que acreditava nas lendas que seria o
perigo. É claro, a nova geração - os quais deviam ter sido alertados, mas devem ter
pensado que as superstições dos mais velhos eram ridículas - é claro que aí que estaria o
perigo da exposição.
Eu supus que isso significava que agora eu era livre para matar a pequena, indefesa tribo
do litoral, a qual eu estava tão disposto.
“Ele só achava que era uma superstição boba.” Bella disse de repente, sua voz aguçou com
uma nova ansiedade. “Ele não esperava que eu pensasse nada dela.”
Pelo canto dos olhos, eu vi as suas mãos se contorcerem inquietamente.
“Foi minha culpa” ela disse após uma breve pausa, então ela inclinou a sua cabeça como
se estivesse envergonhada “Eu forcei ele a me dizer.”
“Por que?” Não era difícil manter o nível de minha voz agora. O pior já tinha passado.
Enquanto ela falava dos detalhes da revelação, nós não tínhamos que nos mover para as
conseqüências disso.
“Lauren disse uma coisa sobre você - ela estava tentando me provocar.” Ela fez uma
pequena careta com a memória. Eu fiquei levemente distraído, imaginando como que Bella
poderia ter sido provocada por alguém falando sobre mim. “E um garoto mais velho da
tribo disse que vocês não iam até lá, só que pra mim pareceu que ele quis dizer outra
coisa. Então eu fiquei sozinha com Jacob e tirei a verdade dele”.
A sua cabeça caia cada vez mais à medida que ela admitia isso, e a sua expressão
parecia… culpada.
Eu olhei para longe dela e ri alto. Ela se sentia culpada? O que ela poderia ter feito para
merecer qualquer tipo de censura?
“Como foi que você forçou ele a contar?” eu perguntei.
“Eu tentei flertar com ele - e funcionou melhor do que eu imaginava” ela explicou e sua
voz se tornou incrédula com a memória desse sucesso.
Eu conseguia imaginar - considerando a atração que ela parecia exercer sobre os machos,
totalmente inconsciente disso - o quanto irresistível ela conseguia ser quando ela tentava
ser atraente. Eu estava subitamente cheio de pena pelo garoto inocente no qual ela jogou
tamanho poder.
“Eu queria ter visto isso” eu disse, e então eu ri de novo com humor negro. Eu gostaria de
ter ouvido a reação do garoto, testemunhado a devastação para mim mesmo. “E você me
acusando de deslumbrar as pessoas - pobre Jacob Black.”
Eu não estava tão zangado com a fonte de minha exposição quanto eu achava que ia ficar.
Ele não sabia. E como que eu podia esperar que alguém negasse a essa garota o que quer
que ela quisesse? Não, eu somente sentia simpatia pelo dano que ela teria causado a esse
pedaço de mente.
Eu senti-a corar, aquecendo o ar entre nós. Eu a encarei, mas ela estava olhando para fora
da janela. Ela não falou novamente.
“O que você fez depois?” Eu perguntei. Hora de voltar para a história de terror.
“Pesquisei um pouco na internet.”
Sempre prática. “E isso a convenceu?”
“Não” Ela disse. “Nada se encaixa. A maioria era meio boba. E então…”
Ela parou de falar novamente, e eu ouvi seus dentes rangerem.
“O quê?” Eu exigi. O que ela tinha encontrado? O que tinha feito o sentimento de pesadelo
para ela?
Houve uma breve pausa, e em seguida, ela sussurrou, “Concluí que não importava.”
Ela congelou meus pensamentos por quase um segundo, e depois tudo estava claro.
Porque ela preferia despachar seus amigos para longe esta noite do que escapar com eles.
Por que ela havia entrado no meu carro comigo novamente, ao invés de sair correndo,
chamando a polícia.
Suas reações sempre estavam erradas - sempre completamente erradas… Ela puxava o
perigo para si própria. Ela convidava-o.
“Não importava?” Eu disse entre dentes, me enchendo de raiva. Como eu era capaz de
proteger alguém tão… tão… tão determinada a ser desprotegida?
“Não,” ela disse com uma voz tão calma que era inexplicável.
Ela era impossível.
“Você não liga que eu seja um monstro? Que eu não seja humano?”
“Não.”
Eu percebi que ela estava estável.
Eu supostamente deveria providenciar que ela tivesse o maior cuidado possível… Carlisle
teria as conexões para encontrar o seu médico mais hábil, o mais talentoso terapeuta.
Talvez algo pudesse ser feito para corrigir o que estivesse de errado com ela, o que quer
que fosse que a fazia contente de sentar ao lado de um vampiro que fazia seu coração
bater calmamente e constantemente. Eu vigiaria o local naturalmente, e visitaria com a
freqüência que me fosse permitida…
“Você está com raiva,” ela suspirou, “Eu não devia ter dito nada.”
Como se ela escondesse essas perturbantes tendências que podiam contribuir com nós
dois.
“Não. Queria mesmo saber o que você estava pensando… mesmo que o que você pensa
seja loucura.”
“Então estou errada de novo?” perguntou ela, agora um pouco beligerante.
“Não é a isso que estou me referindo” meus dentes se trincaram novamente “Não
importa!” Eu repeti em um tom destruidor.
Ela ofegou, “Eu estou certa?”
“Isso importa?”
Ela tomou uma respiração profunda. Esperei furioso a sua resposta.
“Na verdade, não…” Ela parou, recompondo sua voz de novo. “Mas estou curiosa.”
Não mesmo. Ela realmente não se importava. Ela não tinha cuidado. Ela sabia que eu era
desumano, um monstro, e isso realmente não importava para ela.
Independente das minhas preocupações sobre sua sanidade, eu comecei a sentir um
pouco de esperança. Eu tentei acabar com isso.
“Está curiosa com o quê?” Eu perguntei. Não havia segredos, apenas detalhes.
“Quantos anos você tem?” Ela perguntou.
Minha resposta foi automática e impregnada. “Dezessete.”
“E há quanto tempo tem 17 anos?”
Eu tentei não sorrir para padronizar o tom. “Há algum tempo,” eu admiti.
“Tudo bem,” ela disse satisfeita. Sorrindo para mim. Eu voltei a encarar, cada vez mais
preocupado com sua saúde mental. Ela deu um sorriso mais largo. Eu franzi a testa.
“Não ria,” ela alertou “Mas como pode sair durante o dia?”
Eu ri apesar de sua pergunta. Sua investigação não tinha nada incomum, pelo menos
parecia. “Mito,” eu disse a ela.
“Queimado pelo sol?”
“Mito.”
“Dormir em caixões?”
“Mito.”
Dormir já não era parte da minha vida há muito tempo - até que nas últimas noites, eu
assisti Bella dormindo…
“Não posso dormir.” Eu murmurei respondendo a sua pergunta mais difícil.
“Nunca?”
“Nunca,” eu sussurrei.
Eu encarei seus olhos, sob a espessa franja de cílios, e senti saudades de dormir. Não foi
pelo inconsciente, como tinha antes, para não fugir do tédio, mas porque eu queria sonhar.
Talvez se eu pudesse ficar inconsciente, se eu pudesse sonhar, eu pudesse viver por
algumas horas em um mundo que ela vivia, junto com ela. Ela sonhava comigo. Eu queria
sonhar com ela.
Ela olhou para mim, sua expressão era mais que maravilhosa. Eu tinha a aparência
distante.
Eu não podia sonhar com ela. Ela não deveria poder sonhar comigo.
“Ainda não me fez a pergunta mais importante,” Eu disse, meus olhos estavam mais frios e
rudes do que antes. Ela teve de forçar para compreender. Em algum momento, ela teria de
perceber o que agora eu estava fazendo. Ela devia ser obrigada a ver que isso era tudo o
que importava - mais que qualquer outra consideração. Considerações como o fato que eu
amava ela.
“Qual?” Ela perguntou, surpresa e não entendendo.
Isso só fez minha voz ficar rude. “Não está preocupada com a minha dieta?”
“Ah, isso.” Ela falou em um tom calmo que eu não pude interpretar.
“É, isso. Quer saber se eu bebo sangue?”
Ela encolheu com medo por minha pergunta. Finalmente. Ela entendeu.
“Bom, o Jacob disse alguma coisa sobre isso.” Ela disse.
“O que o Jacob disse?”
“Disse que vocês não… caçam pessoas. Disse que sua família não devia ser perigosa
porque vocês só caçavam animais.”
“Ele disse que não éramos perigosos?” Eu disse ceticamente.
“Não exatamente,” ela deixou claro. “Ele disse que vocês não deviam ser perigosos. Mas os
quileutes ainda não querem vocês na terra deles, por segurança.”
Eu olhei para a estrada.
Meus pensamentos perdidos fizeram meus dentes rangerem. Minha garganta doeu com um
familiar desejo queimante.
“E aí?” Ela perguntou, como se ela se confirmar um relatório meteorológico. “Ele tem razão
sobre não caçar pessoas?”
“Os quileute tem boa memória,”
Ela balançou a cabeça consigo mesma, pensando duramente.
“Mas não permita que isso a deixe complacente,” Eu disse apertando. “Eles tem razão em
manter a distância de nós. Ainda somos perigosos.”
“Não entendi.”
“Nós tentamos,” eu contei, “Em geral somos muito bons no que fazemos. Às vezes
cometemos erros. Eu, por exemplo, me permitindo ficar sozinho com você.”
“Isso é um erro?” Ela perguntou, e eu senti a tristeza em sua voz. O som me desarmou.
Ela queria ser minha - apesar de tudo, ela queria estar comigo. A esperança cresceu de
novo, e eu vibrei novamente.
“Um erro muito perigoso,” eu disse com sinceridade, esperando realmente que o assunto
se cessasse.
Ela não respondeu por um momento. Ouvi sua respiração mudar - se alterando
estranhamente para um modo que não soava como medo.
“Me conte mais,” ela disse de repente, sua voz estava distorcida pela angústia.
Ela me examinou cuidadosamente.
“O que mais quer saber?” eu perguntei, tentando pensar numa maneira de respondê-la
sem fazer doer. Ela não devia sentir dor. Eu não podia feri-la.
“Me conte porque que vocês caçam animais em vez de gente,” ela disse, ainda angustiada.
Isso não era evidente? Ou talvez isso não tenha interessado a ela.
“Eu não quero ser um monstro,” eu murmurei.
“Mas os animais não bastam?”
Eu procurei outro modo de comparar, da forma que ela pudesse entender. “É claro que eu
não posso ter certeza, mas comparo isso a viver de tofu e leite de soja; nós nos dizemos
vegetarianos, nossa piadinha particular. Não sacia completamente a fome… ou melhor, a
sede. Mas isso nos mantém fortes o suficiente para resistir. Na maior parte do tempo.” A
minha voz ficou mais baixa; fiquei envergonhado do perigo que ela corria. Perigo que eu
continuava deixando correr… “Algumas vezes é mais difícil do que em outras.”
“Está muito difícil para você agora?”
Eu suspirei. É claro que ela ia fazer essa pergunta, eu não queria responder. “Sim,” Eu
admiti.
Eu esperava sua resposta fisicamente correta, desta vez; a sua respiração estava estável,
seu coração ainda se mantinha em seu padrão. Eu a esperava, não entendendo. Como ela
não podia ter medo?
“Mas agora não está com fome,” ela disse, muito segura de si.
“Porque pensa assim?”
“Seus olhos” Ela disse com um tom improvisado. “Eu disse que tinha uma teoria. Percebi
que as pessoas, em particular os homens, ficam mais rabugentos quando estão com
fome.”
Eu ri de sua descrição: rabugento. Parei um pouco. Mas ela estava completamente certa,
como de costume. “Você é bem observadora, não é?” Eu sorri novamente.
Ela sorriu um pouco, e voltou os olhos aos meus, como se estivesse se concentrando em
algo.
“Foi caçar no fim de semana, com Emmett?”
Ela perguntou depois de rir do meu sorriso que havia sumido. A forma casual que ela falou
foi tão como fascinante como frustrante. Ela podia realmente entender tanto? Eu parecia
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tanto estar em choque, que ela pareceu ter percebido.
“Fui,” eu tornei a dizer, depois, como estava com permissão de continuar com isso, eu
senti a mesma urgência que senti antes no restaurante: eu queria que ela me conhecesse.
“Eu não queria ir,” fui dizendo lentamente, “mas era necessário. É muito mais fácil ficar
perto de você quando não estou com sede.”
“Por que você não queria ir?”
Eu respirei profundamente, e em seguida, eu tornei a encarar seus olhos. Este tipo de
honestidade era difícil, de uma forma muito diferente. “Me deixa… angustiado..” Eu supus
que essa palavra fosse suficiente, embora ela não fosse suficientemente forte. “Ficar longe
de você. Eu não estava brincando quando lhe pedi para tentar não cair no mar nem ser
atropelada na quinta passada. Fiquei disperso o fim de semana todo, preocupado com
você. E depois do que aconteceu essa noite, é uma surpresa que você tenha passado por
todo o fim de semana ilesa.” Então eu lembrei dos arranhões na palma de suas mãos.
“Bom, não totalmente ilesa.”
“Como é?”
“Suas mãos,” eu lembrei ela.
Ela suspirou e fez uma careta. “Eu caí.”
Eu certamente adivinhei. “Foi o que eu pensei.” Eu disse, incapaz de conter o meu sorriso.
“Imagino que, sendo você, podia ter sido muito pior… Essa possibilidade me atormentou o
tempo todo em que estive fora. Foram três dias muito longos. Eu dei nos nervos de
Emmett.”
Honestamente; isso não fazia parte do passado. Eu ainda estava provavelmente, irritando
Emmett. E todo o resto da minha família também. Exceto por Alice…
“Três dias?” Sua voz ficou afiada repentinamente. “Não voltou hoje?”
Eu não entendi o corte em sua voz. “Não, voltamos no sábado.”
“Então por que nenhum de vocês foi à escola?” ela exigiu. Sua irritação me confundiu. Ela
não parecia ter percebido que era uma questão relacionada com a mitologia novamente.
“Bom, você perguntou se o sol me machucava, e não machuca.” Eu disse. “Mas não posso
sair na luz do sol… Pelo menos, não onde todo mundo possa ver.”
Ela se desviou do seu mistério incomodo. “E por quê?” ela inclinou a cabeça para o lado.
Eu tinha dúvidas com a analogia apropriada para explicar isso. Então eu contei a ela, “Um
dia eu mostro,” E então eu me perguntei se essa era uma promessa que eu acabaria
quebrando. Eu iria vê-la depois desta noite? Eu a amava o suficiente para mantê-la longe?
“Podia ter me ligado,” ela disse.
Que estranha conclusão, “Mas eu sabia que estava segura.”
“Mas eu não sabia onde você estava. Eu…” Ela interrompeu de uma maneira repentina, e
olhou para suas mãos.
“O quê?”
“Não gosto disso,” ela disse com timidez, com sua pele corando ao longo de suas maçãs.
“Não ver você. Me deixa angustiada também.”
“Você está feliz agora?” eu disse a mim mesmo. Bem, aquilo foi a recompensa que eu
estava esperando.
Eu estava perplexo, feliz, horrorizado, principalmente horrorizado - para perceber que
minha louca imaginação não estava longe de notar. Foi por esta razão que não importava
eu ser um monstro. Foi exatamente a mesma razão que fazia as regras não importarem
para mim. Porque o certo e o errado já não eram incontornáveis influências. Porque todas
as minhas prioridades tinham deslocado um degrau para baixo para dar espaço a esta
menina na parte superior.
Bella se importava comigo, também.
Eu sabia que poderia não ser nada, comparado com a forma que ela me amava. Mas era
suficiente para que ela arriscasse sua vida ao se sentar aqui comigo. Para fazer isso com
prazer.
O suficiente para causar dor, se ela fizesse a coisa certa e me deixasse.
Havia alguma coisa que pudesse fazer agora que não fosse prejudicá-la? Absolutamente
nada? Eu devia permanecer afastado. Eu nunca devia ter voltado a Forks. Só iria lhe
provocar dor, mais nada.
A forma como me senti no momento, senti seu calor contra minha pele.
Não. Nada iria me parar.
“Ah,” eu gemi comigo mesmo. “Isso é um erro.”
“O que eu disse?” ela perguntou, rapidamente se culpando.
“Não vê, Bella? Uma coisa é eu mesmo ficar infeliz, outra bem diferente é você se envolver
tanto. Não quero ouvir que você se sente assim.” Era a verdade, era uma mentira.Mas o
egoísmo dentro de mim estava voando com o conhecimento de que ela queria o que eu
queria que ela quisesse. “Está errado. Não é seguro. Eu sou perigoso, Bella… Por favor,
entenda isso.”
“Não,” seus lábios estavam com uma pontada de petulância.
“Estou falando sério,”
Eu estava lutando comigo mesmo tão fortemente - meio desesperado para ela aceitar,
meio desesperado para manter as advertências de fugir - que vinham entre dentes, comigo
quase rugindo.
“Eu também,” ela insistiu, “Eu disse, não importa o que você seja. É tarde demais.”
Muito tarde? O mundo era desoladamente preto e branco para um interminável segundo,
eu assisti as sombras se espalhando sobre todo gramado ensolarado em direção a forma
de Bella dormindo na minha memória. Inevitável, impossível de parar. Eles roubavam a cor
de sua pele, e ela mergulhava nas trevas.
Muito tarde? A visão de Alice fez minha cabeça girar, os olhos vermelhos do sangue de
Bella me fizeram a fitar os olhos impassível. Inexpressivo - mas não havia nenhuma
maneira que ela não pudesse me odiar por esse futuro. Me odiar por roubar tudo dela.
Roubando sua vida e sua alma.
Eu não podia deixar ser tão tarde.
“Nunca mais diga isso,” eu assobiei.
Ela desviei o olhar para o lado de fora da janela, e mordeu os lábios novamente. Suas
mãos estavam apertadas sobre seu colo. Sua respiração se amarrou, e quebrou.
“No que está pensando?” eu tinha que saber.
Ela sacudiu a cabeça, sem olhar para mim. Eu vi uma coisa brilhar, como um cristal, em
sua bochecha.
Agonia. “Está chorando?” Eu havia feito ela chorar. Eu não gostei de tê-la ferido.
Ela esfregou as mãos sobre seu rosto.
“Não,” ela mentiu, sua voz estava falha.
Algum instinto enterrado me fez estender a mão para pegar ela - naquele pequeno
segundo eu me senti mais humano que nunca. E então eu me lembrei que eu… Não era. E
então eu abaixei minha mão.
“Desculpe,” Eu disse, minha mandíbula trancada. Como eu poderia dizer a ela o quanto eu
estava arrependido? Arrependido por todos os estúpidos erros que eu tinha cometido.
Arrependido pelo meu egoísmo sem fim. Arrependido por ela ter inspirado em mim o meu
primeiro e trágico amor. Arrependido também das coisas além do meu controle - que eu
podia ser o monstro escolhido pelo destino para acabar com a vida dela em primeiro lugar.
Eu respirei fundo - ignorando a minha reação triste ao sabor no carro - e tentei me
recompor.
Eu tentei mudar de assunto, pensar em outra coisa. Para a minha sorte, a minha
curiosidade sobre essa garota continuava instável. Eu sempre tinha uma pergunta.
“Me diga alguma coisa,” eu disse.
“Sim?” ela perguntou roucamente, as lágrimas ainda estava em sua voz.
“O que você estava pensando hoje à noite, um pouco antes de eu aparecer na esquina? Eu
não consegui entender sua expressão - você não parecia assustada, você parecia
concentrada muito concentrada em alguma coisa.” Eu lembrei do rosto dela - forçando eu
mesmo a esquecer aqueles olhos pelos quais eu estava olhando - o olhar de determinação
lá.
“Tentava me lembrar de como incapacitar um agressor…” ela disse, sua voz um pouco
mais composta. “Sabe como é, defesa pessoal . Eu ia esmagar o nariz dele no cérebro.”
A sua calma não durou ao fim da sua explicação. O seu tom torceu-se até que ele fervesse
em ódio.
Isso não foi nenhuma hipérbole, e sua fúria de gatinha agora não era engraçada.
Eu podia ver sua frágil figura - apenas seda por cima do vidro - ofuscada pelo desejo
pesado da carne - cruel dos monstros humanos que poderiam ter machucado ela. A fúria
explodiu de novo em minha cabeça.
“Você ia lutar com eles?” eu queria urrar. Seus instintos eram mortais para ela mesmo.
“Não pensou em correr?”
“Eu caio muito quando corro,” ela disse com vergonha.
“E gritar por ajuda?”
“Eu ia chegar nesta parte.”
Eu balancei minha cabeça desacreditado. Como ela conseguiu se manter viva antes de vir
para Forks?
“Você tem razão,” eu disse a ela, avancei com minha voz irritada.
“Definitivamente estou lutando contra o destino tentando manter você viva.”
Ela suspirou, e olhou para fora da janela. E então ela olhou de volta para mim.
“Vou ver você amanhã?” ela exigiu abruptamente.
Desde de que eu já estava no meu caminho para o inferno - eu poderia aproveitar a
jornada.
“Vai… também tenho que entregar um trabalho.” Eu sorri para ela, e me senti bem com
isso. “Vou guardar um lugar pra você no refeitório.”
Eu ouvi o coração dela palpitar; meu coração morto repentinamente se sentiu aquecido.
Eu parei o carro em frente à casa do pai dela. Ela não fez nenhum movimento para me
deixar.
“Promete estar lá amanhã?” ela insistiu.
“Prometo.”
Como fazer a coisa errada podia me dar tanta alegria? Claro que havia algo de explícito
nisso.
Ela acenou com a cabeça para ela mesma, satisfeita, e começou a tirar minha jaqueta.
“Você pode ficar com ele” eu assegurei rapidamente para ela. Eu queria muito deixá-la com
algo meu. Um símbolo, como a tampa de garrafa que estava em meu bolso agora… “Você
não tem um para usar amanhã.”
Ela estendeu-o para mim, sorrindo tristemente. “Eu não quero ter que explicar ao Charlie”.
Eu imaginava que não. Eu sorri para ela. “Oh, tudo bem”.
Ela colocou a mão na maçaneta do carro e então parou. Relutante em ir embora, assim
como eu estava relutante por ela ir.
Por tê-la sem proteção, mesmo que por alguns momentos…
Peter e Charlotte estavam indo por seus caminhos agora, em direção a Seatlle, sem
dúvida. Mas há sempre outro. Esse mundo não era um lugar seguro para nenhum humano,
e para ela parecia ainda mais perigoso do que para o resto.
“Bella?” eu chamei, surpreso com o prazer de simplesmente dizer o seu nome.
“Sim?”
“Me promete uma coisa?”
“Sim” ela concordou facilmente, então seus olhos se estreitaram como se ela tivesse
encontrado uma razão para se opor.
“Não vá à floresta sozinha”. Eu a avisei, imaginando se esse pedido seria a razão da
objeção em seus olhos.
Ela piscou, surpresa. “Por quê?”
Eu olhei fixamente em direção à escuridão nem um pouco confiável. A carência de luz não
era problema para os meus olhos, mas também não seria problema pra qualquer outro
caçador. Ela somente cegava os humanos.
“Nem sempre eu sou a coisa mais perigosa lá fora.” Eu disse a ela “Vamos ficar aqui”.
Ela se arrepiou, mas se recompôs rapidamente e estava sorrindo quando me disse “Como
você quiser”.
Sua respiração tocou o meu rosto, tão doce e perfumada.
Eu podia ficar aqui a noite toda desse jeito, mas ela precisava dormir. Os dois desejos
pareciam igualmente fortes enquanto eles continuavam batalhando dentro de mim: querer
ela versus querer que ela ficasse a salvo.
Eu suspirei sobre as duas possibilidades. “Até amanhã”, eu disse, sabendo que eu iria vê-la
muito mais cedo que isso. Ela não iria ME ver até amanhã, no entanto.
“Até amanhã, então” ela concordou enquanto abria a porta.
Aflição novamente, a vendo partir.
Eu me inclinei atrás dela, querendo segurá-la aqui. “Bella?”
Ela se virou e então congelou, surpresa por ver nossos rostos tão perto.
Eu, também, estava estupefato pela proximidade. O calor que emanava dela acariciava
meu rosto. Eu conseguia até sentir o toque de veludo de sua pele…
As batidas de seu coração hesitaram, e seus lábios cheios se abriram.
“Durma bem” eu suspirei e me afastei antes que a urgência de meu corpo - ou a sede
familiar ou esse novo desejo humano que eu senti de repente - me fizesse fazer algo que
pudesse machucá-la.
Ela permaneceu sentada sem se movimentar por alguns momentos, seus olhos arregalados
e atordoados. Deslumbrada, eu pensei.
Assim como eu estava.
Ela se recuperou - apesar de seu rosto ainda estar um pouco confuso - e saiu
estranhamente do carro, com passos curtos e tendo que se segurar nas laterais do carro
para se endireitar.
Eu ri - na esperança que tenha sido baixo o suficiente para ela não ouvir.
Eu a vi tropeçando pelo caminho até a parte iluminada que vinha da porta da frente.
Segura por enquanto. E eu voltaria em breve para ter certeza.
Eu podia sentir seus olhos me acompanhando enquanto eu dirigia pela rua escura. Uma
sensação tão diferente do que eu estava acostumado. Normalmente, eu simplesmente me
veria através dos olhos da pessoa, onde eu estaria na mente. Isso era estranhamente
excitante - essa sensação incompreensível de estar sendo vigiado. Eu sabia que isso era
somente por serem seus olhos.
Um milhão de pensamentos passou ferozmente um atrás do outro pela minha cabeça
enquanto eu dirigia sem rumo pela noite.
Por um bom tempo eu circulei pelas ruas, indo para lugar algum, pensando em Bella e na
libertação de ter a verdade descoberta. Não mais eu teria que ter medo de ela descobrir o
que eu era. Ela sabia. E não importava para ela. Mesmo que fosse obviamente uma coisa
ruim para ela, era impressionantemente libertador para mim.
Mais que isso, eu pensava em Bella e no amor compensatório. Ela não podia me amar da
forma como eu a amava - de um jeito tão poderoso, extremamente intenso, consumir esse
amor iria provavelmente quebrar o seu corpo frágil. Mas ela se sentia forte o suficiente. O
suficiente para subjugar o medo instintivo. O suficiente para querer estar perto de mim. E
estar com ela era a maior felicidade que eu podia conhecer.
Por um tempo - eu estive totalmente sozinho e não machucando ninguém de qualquer
forma - eu me permiti sentir aquela felicidade sem resultar em tragédia. Somente sendo
feliz por ela se importar comigo. Somente me regozijando por ter ganhado a sua afeição.
Somente imaginando dia após dia sentado ao seu lado, ouvindo sua voz e recebendo seus
sorrisos.
Eu re-vi aquele sorriso em minha cabeça, observando seus lábios cheios se erguerem nos
cantos, um sinal de uma covinha que se mostrava na ponta de seu queixo, o modo como
seus olhos se aqueciam e derretiam… Seus dedos tinham um toque tão quente e delicado
em minha mão essa noite. Eu imaginava em como devia ser tocar a sua delicada pele que
se esticava por cima de suas bochechas - sedoso, quente… tão frágil. Seda por cima de
vidro… espantosamente quebrável.
Eu não podia ver para onde os pensamentos estavam indo até que fosse muito tarde.
Enquanto eu discorria sobre aquela vulnerabilidade devastadora, novas imagens de seu
rosto se introduziram em minhas fantasias.
Perdida nas sombras, pálida de medo - ainda assim sua mandíbula firme e determinada,
seus olhos ferozes, cheios de concentração, o seu corpo delgado fixado em bater nas
formas pesadas que se reuniram em volta dela, pesadelos na escuridão…
“Ah,” eu rosnei enquanto a raiva crescente que eu havia esquecido na alegria de amá-la
queimava novamente como um inferno de ódio.
Eu estava sozinho. Bella estava, eu acreditava, salva em sua casa; por um momento eu
estava ferozmente feliz que Charlie Swan - o braço forte da lei local, treinado e armado -
fosse seu pai. Isso devia significar alguma coisa, como providenciar alguma proteção a ela.
Ela estava segura. Não me levaria muito tempo para eu me vingar daquele ultraje…
Não. Ela merecia coisa melhor. Eu não podia me permitir que ela se importasse com um
assassino.
Mas… e quanto às outras?
Bella estava segura, sim. Angela e Jessica também com certeza, seguras em suas camas.
Ainda assim tinha um monstro solto pelas ruas de Port Angeles. Um monstro humano - isto
faria dele um problema dos humanos? Cometer o crime pelo qual ansiava era errado.
Eu sabia disso. Mas deixá-lo livre para atacar de novo também não podia ser a coisa certa.
A maitre loira do restaurante. A garçonete que eu não tinha prestado atenção. As duas me
irritaram de jeitos insignificantes, mas isso não significava que mereciam ficar em perigo.
Uma das duas podia ser a Bella de alguém.
Essa realização me decidiu.
Virei o carro para o norte, acelerando agora que tinha um propósito. Sempre que eu tinha
um problema além de mim - algo tangível como isso - sabia onde podia procurar ajuda.
Alice estava sentada na entrada, esperando por mim. Parei em frente à casa ao invés de ir
até a garagem.
- “Carlisle está no escritório.” - ela me disse antes que pudesse perguntar.
- “Obrigado.” - eu disse, bagunçando seu cabelo quando passei.
Obrigada por voltar minha ligação, ela pensou sarcasticamente.
- “Ah.” - eu parei à porta, pegando meu celular e o abrindo. - “Desculpe. Eu nem chequei
para ver quem era. Estava ocupado.”
- “É, eu sei. Desculpe também. A hora que eu vi o que ia acontecer, você já estava indo.”
- “Foi por pouco.” - eu murmurei.
Desculpe, ela repetiu, envergonhada.
Era fácil ser generoso, sabendo que Bella estava bem. - Não fique assim. Eu sei que você
não pode ver tudo. Ninguém espera que seja onisciente.
- “Obrigada.”
- “Eu quase a chamei para jantar hoje - viu isso antes que eu mudasse de idéia?”
Ela sorriu. - “Não, perdi essa também. Queria ter sabido. Teria ido.”
- “Em que você esteve se concentrando, para ter perdido tanta coisa?”
Jasper está pensando no nosso aniversário. Ela riu. Ele está tentando não decidir meu
presente, mas acho que tenho uma boa idéia…
- “Você é descarada.”
- “Sim.”
Ela franziu os lábios, e olhou para mim, um sinal de acusação em sua expressão. Prestei
mais atenção depois. Vai contar a eles que ela sabe?
Eu suspirei. - “Sim. Depois.”
Não vou dizer nada então. Me faça um favor e conte a Rosalie quando eu não estiver por
perto, está bem?
Eu encolhi. - “Claro.”
Bella levou a coisa toda muito bem.
- “Bem demais.”
Alice sorriu para mim. Não subestime a Bella.
Eu tentei bloquear a imagem que não queria ver - Bella e Alice, melhores amigas.
Impaciente agora, eu suspirei pesadamente. Queria passar para essa próxima parte da
noite; queria terminar com ela. Mas estava um pouco preocupado em deixar Forks…
- “Alice…” - eu comecei. Ela viu o que eu queria perguntar.
Ela ficará bem hoje à noite. Vou prestar mais atenção agora. Ela meio que precisa de
supervisão vinte e quatro horas por dia, não é?
- “Pelo menos.”
- “De qualquer jeito, você estará com ela rápido.”
Respirei fundo. Essas palavras eram lindas para mim.
- “Vai lá - termine com isto para que possa estar onde quer.” - ela me disse.
Eu concordei, e me apressei para o quarto de Carlisle.
Ele estava esperando por mim, seus olhos na porta em vez de no livro grosso que estava
em sua mesa.
- “Ouvi Alice dizendo onde me encontrar.” - ele disse, e sorriu.
Foi um alívio estar com ele, ver a empatia e inteligência profunda em seus olhos. Carlisle
saberia o que fazer.
- “Preciso de ajuda.”
- “Qualquer coisa, Edward.” - ele prometeu.
- “Alice lhe disse o que aconteceu a Bella hoje à noite?”
Quase aconteceu, ele acrescentou.
- “Sim, quase. Estou com um dilema, Carlisle. Veja eu quero… muito… matá-lo. - As
palavras começaram a surgir rápidas e cheias de ódio. - Muito mesmo. Mas sei que isso
seria errado, porque seria vingança e não justiça. Só raiva, sem imparcialidade. Mesmo
assim, não seria certo deixar um estuprador e assassino em série vagar por Port Angeles!
Não conheço os humanos por lá, mas não posso deixar que outra pessoa pegue o lugar de
Bella como vítima dele. Aquelas outras mulheres - alguém pode sentir por elas o que eu
sinto pela Bella. Talvez sofra o que eu teria sofrido se ela tivesse sido machucada. Não é
certo…”
Seu sorriso largo e inesperado parou meu afluxo que palavras.
Ela é muito boa para você, não é? Tanta compaixão, tanto controle. Estou impressionado.
- “Não estou querendo ouvir elogios.”
- “Claro que não. Mas não posso evitar meus pensamentos, posso?” - Ele sorriu de novo. -
“Vou cuidar disso. Pode descansar em paz. Ninguém será machucado no lugar de Bella.”
Vi o plano na cabeça dele. Não era exatamente o que eu queria, não satisfez minha cobiça
de brutalidade, mas podia ver na mente dele que era a coisa certa.
- “Vou mostrar onde você pode encontrá-lo.” - eu disse.
- “Vamos.”
Ele pegou sua maleta preta no caminho. Eu teria preferido uma forma mais agressiva de
sedação - como um crânio partido - mas deixaria Carlisle fazer isso do jeito dele.
Fomos com o meu carro. Alice ainda estava nas escadas da entrada. Ela sorriu e acenou
quando nos afastamos. Eu vi que ela tinha procurado o meu futuro; não teríamos
dificuldades.
A viagem foi curta pela estrada escura e vazia. Desliguei meus faróis para evitar chamar
atenção. Me fez sorrir pensar como Bella teria reagido a essa velocidade.

_______________________________________8
Carlisle estava pensando em Bella também.
Eu não previ que ela fosse ser tão boa para ele. Isso é inesperado. Talvez fosse para
acontecer. Talvez seja um propósito divino. Só que…
Ele imaginou Bella com a pele fria e olhos vermelho - sangue, e se afastou da imagem.
Sim. Só que. De fato. Porque que bem há em destruir uma coisa tão pura e adorável?
Adentrei com fúria na noite, depois de toda a alegria do entardecer ser destruída pelos
seus pensamentos.
Edward merece ser feliz. É um direito dele. A ferocidade dos pensamentos de Carlisle me
surpreenderam. Tem que existir uma maneira.
Eu gostaria de acreditar nisso - ao menos um pouco. Mas não havia um propósito maior
para o que estava acontecendo com Bella. Apenas um destino amargo e vicioso que não
podia dar a ela a vida que merecia.
Eu não me demorei em Port Angeles. Eu levei Carlisle ao local onde a criatura chamada
Lonnie estava descontando sua decepção com seus amigos - dois dos quais já haviam
passado. Carlisle pode ver o quão difícil era para mim estar tão perto - e ouvir os
pensamentos do monstro e ver suas memórias, as memórias de Bella misturadas com as
de garotas menos afortunadas que já não mais poderiam ser salvas.
Minha respiração acelerou e segurei firme no volante.
Vá, Edward, ele me disse gentilmente. Eu deixarei o restante deles em segurança. Você
deve voltar para Bella.
Era exatamente a coisa certa a dizer. O nome dela era a única distração que significava
algo para mim agora.
Eu o deixei no carro e voltei correndo para Forks, em uma linha reta através da floresta
adormecida. Levou menos tempo do que a primeira viagem de carro. Apenas poucos
minutos depois eu escalei a parede da casa dela e deslizei a janela para fora do meu
caminho.
Eu suspirei silenciosamente em alívio. Tudo estava como deveria. Bella estava a salvo em
sua cama, sonhando, seus cabelos úmidos emaranhados como algas pelo travesseiro.
Mas, diferente de outras noites, ela estava encolhida com os cobertores enrolados acima
dos seus ombros. Frio, eu imaginei. Antes que eu pudesse me acomodar em meu acento
usual, ela teve calafrios em seu sono e seus lábios estremeceram.
Eu hesitei por um breve momento e então me movi para o corredor, explorando uma nova
parte da casa pela primeira vez.
O ronco de Charlie era alto e peculiar. Eu praticamente podia pegar a margem do seu
sonho. Algo com água corrente e uma espera paciente… pescaria, talvez?
Lá, no alto da escadaria, havia um armário promissor. Eu a abri e encontrei o que
procurava. Escolhi o cobertor mais grosso dentre as finas peças de linho e o levei para o
quarto dela. Eu o guardaria de volta antes que ela acordasse, assim ninguém se daria
conta.
Segurando minha respiração, eu cuidadosamente abri o cobertor sobre ela; sem que ela
reagisse ao peso adicional. Voltei então para a minha cadeira.
Enquanto eu esperava ansiosamente para que ela se aquecesse, eu pensei em Carlisle,
imaginando onde ele estaria agora. Eu sabia que seu plano daria certo - Alice havia
previsto isso.
Pensar no meu pai me fez suspirar - Carlisle me deu muito crédito. Eu gostaria de ser a
pessoa que ele imaginava que eu fosse. Aquela pessoa, merecedora de felicidade, poderia
esperar ser merecedor desta garota adormecida. Como as coisas seriam diferentes se eu
fosse aquele Edward.
Enquanto eu ponderava isto, uma imagem estranha e indesejada preencheu minha mente.
Por um momento, a velha vidente que eu havia imaginado, a mesma que previu a
destruição de Bella, foi trocada pelo mais tolo e desajeitado dos anjos. Um anjo da guarda
- algo que a minha versão imaginada por Carlisle poderia ter. Com um sorriso
despreocupado nos seus lábios, seus olhos da cor do céu cheios de provocação, o anjo
formava Bella de tal modo que seria impossível que eu não a notasse. Um odor
incrivelmente potente que exigia minha atenção, uma mente silenciosa para inflamar
minha curiosidade, uma beleza calma para prender meus olhos, uma alma altruísta para
ganhar meu respeito. Deixado de lado o sentido natural de auto-preservação - assim Bella
podia suportar o fato de estar próxima a mim - e finalmente adicionada um uma larga dose
de má sorte.
Com uma gargalhada inconseqüente, o anjo irresponsável empurrou sua frágil criação
diretamente para o meu caminho, confiando descuidadamente na minha moralidade
maculada para manter Bella viva.
Nesta visão, eu não era a condenação de Bella; ela era minha recompensa.
Eu balancei minha cabeça com a fantasia do anjo inimaginável. Ela não era muito melhor
do que a harpia. Eu não poderia conceber um poder maior que agisse de maneira tão
perigosa e estúpida. Pelo menos, contra a vidente horrorosa eu poderia lutar.
E eu não tinha nenhum anjo. Eles eram reservados para os bons - para pessoas como
Bella. Então onde estaria o anjo dela no meio disso tudo? Quem estava tomando conta
dela?
Eu ri silenciosamente, perplexo, enquanto realizava que nesse momento era eu quem
estava cumprindo aquele papel.
Um anjo vampiro - havia uma boa distância entre as duas coisas.
Depois de cerca de meia hora, Bella relaxou. Sua respiração se tornou mais profunda e ela
começou a murmurar. Eu sorri, satisfeito. Era uma pequena coisa, mas pelo menos ela
estava dormindo mais confortavelmente esta noite, por eu estar aqui.
“Edward” ela sussurrou, e sorriu também.
Eu empurrei a tragédia de lado, por um momento, e me permiti ser feliz novamente.
11. Interrogações
A CNN trouxe a história antes.
Eu estava contente por isto ter chegado ao noticiário antes de eu ter que ir para a escola,
ansioso por ouvir como os humanos iriam descrever o acontecimento, e quanta atenção o
fato iria gerar.
Por sorte, era um dia cheio de noticias frescas. Houve um terremoto na américa do sul e
um sequestro político no oriente médio. Portanto, tudo acabou em uns poucos segundos,
umas poucas frases e uma imagem chuviscada.
“Alonzo Calderas Wallace, suspeito de ser um estuprador em série e assassino procurado
nos estados do Texas e Oklahoma, foi preso na última noite em Portland, Oregon graças a
uma denúncia anônima. Wallace foi encontrado inconsciente em um beco nesta manhã,
apenas a alguns metros da delegacia de polícia.
Os policiais não souberam dizer por enquanto se ele seria extraditado para Houston ou
Oklahoma para aguardar o julgamento.”
A imagem não estava clara. Uma foto de arquivo policial, e ele tinha uma barba bem
grossa na época em que a fotografia foi tirada. Mesmo que Bella tivesse visto, ela não o
teria reconhecido. Eu esperava que não. Isto a deixaria amedrontada sem necessidade.
“A cobertura aqui na cidade será bem pequena. É algo de muito longe para ser
considerado de interesse local,” disse-me Alice. “Foi uma boa idéia que Carslile o levasse
para fora do estado.”
Eu acenei positivamente com a cabeça. Bella não assistia muita TV normalmente, e eu
nunca havia visto seu pai assistir nada além de canais de esportes.
Eu tinha feito o que podia. Este monstro já não caçaria mais, e eu não era um assassino.
Não nos últimos tempos, de qualquer forma. Eu fiz bem em confiar em Carslile, por mais
que eu ainda desejasse que o monstro não tivesse se safado tão incolume. Eu me peguei
desejando que ele fosse extraditado para o Texas, onde a pena de morte é tão popular…
Não. Isso não importa. Deixaria isto no passado, e me concentraria no que é mais
importante.
Havia deixado o quarto de Bella a menos de uma hora atrás e já estava louco para vê-la
novamente.
“Alice, você se importa-”
Ela me cortou. “Rosalie vai dirigir. Ela vai parecer irritada, mas você sabe que ela vai
adorar a desculpa para exibir seu carro.” Alice soltou um riso trêmulo.
Eu sorri para ela. “Te vejo na escola.”
Alice suspirou, e meu sorriso se tornou uma careta.
Eu sei, eu sei, ela pensou. Não ainda. Eu vou esperar até que você esteja pronto para Bella
saber quem sou. Você deve saber, enfim, que isso não é apenas egoísmo meu. Bella vai
gostar de mim também.
Eu não a respondi, enquanto seguia com pressa para a porta. Aquela era uma maneira
diferente de ver a situação. Bella iria querer conhecer Alice? Ter uma vampira como
amiga?
Conhecendo Bella… aquela idéia provavelmente não iria incomodá-la nem um pouco.
Eu franzi as sobrancelhas, pensando. O que Bella quer e o que é melhor para Bella, são
duas coisas muito distintas.
Eu comecei a me sentir desconfortável enquanto estacionava meu carro no passeio da casa
de Bella.
O provérbio humano dizia que tudo parece diferente pela manhã - que as coisas mudam
quando você as deixa passar. Eu pareceria diferente para Bella na luz fraca de um dia
nublado? Mais ou menos sinistro do que pareceria no escuro da noite? Teria a verdade se
revelado enquanto ela dormia? Será que finalmente ela teria medo?
Seus sonhos haviam sido pacíficos, enfim, na última noite. Quando ela falou meu nome,
uma vez e outra, ela sorriu. Mais de uma vez ela murmurou apelando para que eu ficasse.
Aquilo não significaria nada no dia de hoje?
Eu aguardei impacientemente, ouvindo os sons vindos de dentro da casa - os passos
rápidos e tropeçantes nas escadas, o rasgar seco de papel alumínio, os frascos do
refrigerador batendo uns contra os outros quando a porta se fechou. Parecia que ela
estava com pressa. Anciosa para ir a escola? A idéia me fez sorrir, esperançoso novamente.
Olhei para o relógio. Eu supunha que - levando em conta a velocidade a sua velha pickup a
limitava, ela estava um tanto atrasada.
Bella saiu correndo da casa, sua mochila escorregando dos seus ombros, seu cabelo preso
em uma trança mal feita que já se dividia perto de sua nuca. O grosso suéter verde que ela
usava não era o suficiente para evitar que seus pequenos ombros tremessem com a névoa
fria.
O longo suéter era grande demais para ela, desproporcional. Ele mascarava sua silhueta
delgada, tornando todas as suas curvas delicadas e suaves em uma confusão disforme. Eu
gostei, mesmo desejando que ela usasse algo mais parecido com a delicada blusa azul que
vestira na última noite… o tecido havia aderido a sua pele de um jeito muito convidativo,
decotado o suficiente para revelar a maneira hipnótica como sua clavícola se afastava do
vazio abaixo de seu pescoço. O azul fluia como agua através do contorno delicado de seu
corpo.
Era melhor - essencial - que eu mantivesse meus pensamentos muito, muito longe
daquelas formas, então eu deveria estar agradecido por ela usar aquele suéter pouco
atraente. Eu não poderia me permitir qualquer erro, e seria um erro monumental me
deixar levar pela estranha fome que os pensamentos sobre seus lábios… sua pele…
estavam criavam dentro de mim. Fome que eu havia erradicado de mim por uma centena
de anos. Eu não poderia sequer pensar em tocá-la, porque isso seria impossível.
Eu a destruiria.
Bella voltou-se para longe da porta com tanta pressa que ela quase passou pelo meu carro
sem notá-lo.
Então ela parou quase derrapando, seus joelhos travando em um solavanco. Sua mochila
escorregou pelo seu braço e seus olhos se arregalaram quando focalizaram o carro.
Eu saí, sem me preocupar em me mover numa velocidade humana, e abri a porta do
passageiro para ela. Eu não tentaria mais ludibriá-la. Quando estivessemos a sós, pelo
menos, eu seria eu mesmo.
Ela olhou para mim, supresa novamente, por eu praticamente ter me materializado no
meio da névoa.
E então a surpresa em seus olhos se tornaram em outra coisa, e eu não estava mais
temeroso - nem esperançoso - que seus sentimentos por mim tivessem mudado durante o
curso da noite. Calor, preocupação, fascinação, tudo nadando no que era o chocolate
derretido dos seus olhos.
“Quer ir de carona comigo hoje?” Eu perguntei. Ao contrário do jantar na última noite, eu a
deixaria escolher. De agora em diante, seria sempre a escolha dela.
“Sim, obrigada,” ela murmurou, subindo no carro sem hesitar.
Algum dia eu deixaria de me surpreender pelo fato de ela dizer sim para mim? Eu duvidei.
Eu dei a volta no carro, ansioso para me juntar a ela. Ela não mostrou nenhum sinal de
supresa com a minha súbita reaparição.
A alegria que senti quando ela se sentou ao meu lado não tinha precedentes. Por mais que
eu apreciasse o amor e companheirismo da minha familia, apesar dos vários
entretenimentos e distrações que o mundo tem a oferecer, eu nunca estive feliz dessa
forma. Mesmo sabendo que isso era errado, que isso poderia não terminar bem, eu não
pude evitar por muito tempo estampar um sorriso em minha face.
Minha jaqueta estava dobrada sobre o descanso de cabeça do banco dela. Eu a vi olhando.
“Eu trouxe a jaqueta para você,” Eu disse a ela. Esta era minha desculpa, eu tinha que
arrumar alguma para a minha inesperada visita nesta manhã. Estava frio. Ela não tinha
jaqueta. Certamente esta era uma forma convincente de cavalheirismo. “Eu não gostaria
que você ficasse doente ou algo parecido.”
“Eu não sou assim tão frágil,” ela disse, fitando meu peito ao invés do meu rosto, como se
ela estivesse hesitante em me olhar nos olhos. Mas ela vestiu o casaco antes que eu
tivesse que a ajudar ou persuadir.
“Não é?” Eu sussurrei para mim mesmo.
Ela fitava a estrada enquanto eu acelerava para a escola. Eu pude agüentar o silêncio
apenas por alguns segundos. Eu tinha que saber onde estavam os seus pensamentos nesta
manhã. Tanta coisa havia mudado entre nós desde o último nascer do sol.
“O que, nada de vinte perguntas hoje?” Eu perguntei, mantendo um tom suave.
Ela sorriu, parecendo feliz por eu ter puxado assunto novamente. “Minhas perguntas o
aborrecem?”
“Não tanto quanto as suas reações,” disse a ela com toda honestidade, sorrindo em
resposta ao seu sorriso, que esmaeceu.
“Eu reajo mal? “
“Não, este é o problema. Você encara tudo tão calmamente - isso é algo pouco natural,
me faz imaginar o que realmente você está pensando.”
É claro que tudo que ela fazia ou não fazia me deixava imaginando o que ela pensava.
“Eu sempre digo o que eu realmente estou pensando.”
“Você edita.”
Ela mordeu os lábios novamente. Ela parecia não notar quando fazia isso - era uma
resposta inconsciente à tensão. “Não muito.”
Estas poucas palavras foram suficientes para inflamar minha curiosidade. O que é que ela
deliberadamente escondia de mim?
“O bastante para me deixar louco,” eu disse.
Ela hesitou e então sussurrou, “Você não gostaria de ouvir.”
Eu tive que pensar por um momento, analisar toda a nossa conversa da última noite,
palavra por palavra, antes que eu fizesse a associação. Talvez isso exigisse muita
concentração, pois eu não imaginava nada que eu não quisesse ouvi-la dizer. E então -
pelo tom de sua voz ser o mesmo da última noite; havia uma dor repentina novamente -
Eu me lembrei. Uma vez eu pedi que ela não me dissesse seus pensamentos. Nunca diga
isto, eu vociferei para ela. Eu a fiz chorar…
Era isso que ela escondia de mim? A profundidade dos seus sentimentos sobre mim? Que
eu ser um monstro, não importava para ela, e que ela achava tarde demais para mudar
sua decisão?
Eu não conseguia falar, porque a alegria e a dor eram demasiado intensas para serem
expressas em palavras, o conflito entre elas era muito radical para possibilitar uma
resposta coerente. Havia silêncio no carro, exceto pelo ritmo uniforme de seu coração e
pulmões.
“Onde está o restante de sua familia?” ela perguntou repentinamente.
Eu respirei fundo - registrando o aroma no carro com uma verdadeira dor pela primeira vez
; eu estava me acostumando a isso, eu fazia com satisfação - e me forçando a ser casual
novamente.
- Eles pegaram o carro da Rosalie.
Estacionei perto da capota suspensa do carro em questão. Escondi meu sorriso quando vi
seus olhos arregalarem.
- “Chamativo, não?”
- “Hmm, caramba. Se ela tem isso, porque pega carona com você?”
Rosalie deveria ter apreciado a reação de Bella… se ela estivesse sendo mais objetiva com
respeito a ela , o que provavelmente não iria acontecer.
- “Como eu disse, é chamativo. Nós tentamos nos misturar.”
“Vocês não conseguem”, ela me disse; e então ela sorriu um cuidadoso sorriso.
O jovial, inteiramente despreocupado som do seu riso queimou o meu peito oco como
também fez minha cabeça flutuar com tontura.
“Então por que Rosalie dirigiu hoje se ele é mais notável?” ela perguntou.
“Não percebeu? Estou quebrando todas as regras agora.”
Minha resposta deveria ter sido ligeiramente assustadora - então, é claro, Bella riu dela.
Ela não esperou por mim para abrir sua porta, exatamente como a noite passada. Eu tinha
que aparentar normalidade aqui na escola - então eu não poderia me mover rápido o
bastante para impedir isso - mas ela teria que se acostumar a ser tratada com mais
cortesia, e acostumar-se logo.
Eu caminhei mais perto dela do que ousaria, olhando cuidadosamente por qualquer sinal
de que minha proximidade a perturbaria. Duas vezes sua mão estremeceu-se em direção
à minha e então ela gostaria de trazê-la de volta. Parecia que ela queria me tocar… Minha
respiração disparou.
“Por que vocês têm carros assim, então? Se vocês procuram ter privacidade? - ela me
perguntou enquanto caminhávamos.
“Como um prazer” - eu admiti - “Todos nós gostamos de dirigir rápido”.
“Imagino” ela murmurou, em seu tom de voz.
Ela não olhou para cima para ver minha resposta maliciosa.
“Nuh-uh”! Eu não acredito nisso. Como que Bella conseguiu ignorar isso? Eu não entendo!
Por que?
A mente nebulosa de Jessica interrompeu os meus pensamentos. Ela estava esperando por
Bella, se refugiando da chuva, sob o abrigo da marquise da cafeteria com o casaco de
inverno de Bella debaixo de seu braço. Seus olhos estavam estatelados com descrença.
Bella também a percebeu no exato momento. Um fraco tom rosado tocou sua face quando
Bella registrou a expressão de Jessica. Os pensamentos de Jessica estavam nitidamente
claros em seu rosto.
“Oi Jéssica. Obrigada por lembrar”, Bella lhe agradeceu. Ela apanhou o casaco e Jessica o
entregou sem dizer nenhuma palavra.
Eu tenho que ser educado com os amigos de Bella, mesmo sendo eles bons amigos ou
não.
“Bom dia Jessica”..
Nossa…
Os olhos de Jessica se arregalaram. Foi estranho e divertido… e honestamente, um pouco
embaraçoso… para se ter uma idéia de como ficar perto de Bella me deixou mais gentil.
Parecia que ninguém estava mais com medo de mim. Se Emmett soubesse disso, ele iria
ficar rindo pelo próximo século.
“É…oi” Jessica murmurou e seus olhos lampejaram para o rosto de Bella, cheios de
expressão. “Acho que te vejo em trigonometria”.
Ah, você vai desembuchar tudo para mim. Não vou aceitar não como resposta. Detalhes.
Tenho que saber dos detalhes! Edward gato CULLEN! A vida é tão injusta.
A boca de Bella se torceu. - “É, a gente se vê lá.”
Os pensamentos de Jessica ficaram fora de controle enquanto ela corria para sua primeira
aula, nos espiando uma vez ou outra.
A história inteira. Não vou aceitar nada menos que isso. Eles combinaram de se encontrar
ontem à noite? Eles estão namorando? Há quanto tempo? Como ela pôde guardar segredo
sobre isso? Por que ela guardaria? Não pode ser uma coisa casual - ela tem que estar bem
afim dele. Tem alguma outra opção? Eu vou descobrir. Não vou conseguir não saber de
nada. Será que ela já deu uns amassos nele? Ah, vou desmaiar… De repente os
pensamentos de Jessica ficaram desconexos, e ela deixou que suas fantasias mudas
girassem por sua cabeça. Eu recuei com suas especulações, e não só porque ela tinha
trocado Bella por si mesma nas figuras mentais.
Eu não podia ser assim. Mas mesmo assim, eu… eu queria…
Resisti em admitir isso, mesmo para mim. Em quantas maneiras erradas eu queria colocar
a Bella? Qual iria acabar por matá-la?
Eu sacudi a cabeça e tentei deixar as coisas mais leves.
- “O que vai dizer a ela?” - perguntei a Bella.
- “Ei!” - ela sussurrou ferozmente. - “Pensei que você não pudesse ler minha mente!”
- “Não posso.” - eu a encarei, surpreso, tentando entender suas palavras. Ah - devíamos
estar pensando a mesma coisa ao mesmo tempo. Hmmm, gostei disso. - “Mas” - contei a
ela. - “posso ler a dela - Ela vai pegar você de surpresa na sala.”
Bella gemeu, e deixou a jaqueta escorregar por seus ombros. Não percebi que ela estava a
devolvendo - eu não teria pedido; preferia que ficasse com ela… uma lembrança - então fui
muito devagar para oferecer minha ajuda. Ela me entregou a jaqueta e passou os braços
pela dela, sem olhar para cima para ver que minhas mãos estavam esticadas para ajudar.
Eu fiz uma careta com isso, e então controlei minha expressão antes que ela notasse.
- “Então, o que vai dizer a ela?” - eu pressionei.
- “Que tal uma mãozinha? O que ela quer saber?”
Eu sorri e sacudi a cabeça. Eu queria escutar o que ela estava pensando agora sem
nenhuma dica. - “Isso não é justo”.
Os olhos dela se apertaram. - “Não, você não está partilhando o que sabe - isso é que não
é justo”.
“Certo” - ela não gostava de dois pesos e duas medidas.
Chegamos à porta da classe dela - onde eu teria que deixá-la; me perguntei à toa se a
Srta. Cope iria ser mais favorável sobre uma mudança da minha aula de inglês… Forcei a
minha concentração. Eu podia ser justo.
- “Ela quer saber se estamos namorando escondido” - eu disse lentamente. - “E ela quer
saber como você se sente com relação a mim”.
Seus olhos se arregalaram - dessa vez não de surpresa, mas astutos. Estavam abertos para
mim, legíveis. Ela estava bancando a inocente.
- “Caramba” - ela murmurou. - “O que devo dizer?”
- “Hmmm” - Ela sempre tentava fazer com que eu revelasse mais do que ela. Refleti como
responder.
Uma mecha rebelde do cabelo dela, ligeiramente úmida por causa da neblina, caia por seu
ombro e se enrolava onde a sua clavícula estava escondida por aquele suéter ridículo.
Atraiu meus olhos… os arrastou para ver as outras linhas escondidas…
Me estiquei para pegá-la cuidadosamente, sem tocar em sua pele - a manhã já estava fria
o suficiente sem meu toque - e a coloquei de volta ao lugar em seu coque desarrumado
para que não me distraísse outra vez. Me lembrei quando Mike Newton tinha tocado seu
cabelo, e meu queixo se trincou com a memória. Ela tinha se afastado dele na ocasião. A
reação dela agora não era nada parecida; ao invés disso, seus olhos se arregalaram, seu
sangue correu mais rápido nas veias e uma súbita aceleração em seu coração.
Tentei conter meu sorriso quando a respondi.
- “Acho que pode dizer sim à primeira pergunta… Se não se importa…” - a escolha era
dela, sempre dela. - “É mais fácil do que qualquer outra explicação.”
- “Não me importo…” - ela sussurrou. Seu coração ainda não tinha recuperado o ritmo
normal.
- “E quanto à outra pergunta de Jessica…” - não conseguia esconder meu sorriso agora. -
“Bom, eu estarei ouvindo para saber eu mesmo a resposta.”
Deixar que Bella considerasse isso. Reprimi uma risada e o choque passou por seu rosto.
Me virei rapidamente, antes que ela pudesse perguntar mais alguma coisa. Eu tinha certa
dificuldade em não dar a ela qualquer coisa que ela quisesse. E eu queria escutar os
pensamentos dela, não os meus.
“A gente se vê no almoço” - eu disse à ela sobre o ombro; uma desculpa para checar que
ela ainda estava me encarando, de olhos arregalados. Sua boca estava aberta. Me virei de
novo e fui embora, rindo.
Enquanto eu me afastava, estava vagamente ciente dos pensamentos surpresos e
especulativos que giravam ao meu redor - olhos indo do rosto de Bella à minha figura que
recuava. Prestei pouca atenção neles. Não conseguia me concentrar. Foi muito difícil
manter meus pés se movendo a uma velocidade aceitável enquanto cruzava a grama
encharcada para minha próxima aula. Queria correr - realmente correr, tão rápido que iria
desaparecer, tão rápido que iria parecer que estava voando. Parte de mim já estava
voando.
Coloquei a jaqueta quando entrei na classe, deixando que a fragrância dela flutuasse,
pesada ao meu redor. Eu iria queimar agora - deixar que o cheiro me dessensibilizasse -
para que depois fosse mais fácil ignorar, quando estivesse com ela de novo no almoço…
Era uma coisa boa que os professores não se importavam mais em me chamar. Hoje talvez
tivesse sido o dia que eles me pegassem desprevenido, e sem respostas. Minha cabeça
estava em tantos lugares esta manhã; só meu corpo estava na sala de aula.
É claro que eu estava vigiando Bella. Isso estava se tornando natural - tão automático
quanto respirar. A escutei conversar com um Mike Newton desmoralizado. Ela rapidamente
mudou a conversa para Jessica, e abri um sorriso tão grande que Rob Sawyer, que estava
sentado ao meu lado direito, se encolheu visivelmente e escorregou na cadeira, para longe
de mim.
Argh. Assustador.
Bom, ele não estava totalmente errado.
Também estava monitorando Jessica livremente, observando enquanto ela definiria suas
perguntas para Bella. Mal podia esperar até o quarto tempo, dez vezes mais ansioso e
curioso que a garota humana que queria uma fofoca nova.
E também estava escutando Angela Weber.
Não tinha esquecido a gratidão que tinha sentido por ela - primeiro por só pensar coisas
boas a respeito de Bella, depois pela ajuda à noite passada. Então eu esperei pela manhã,
procurando por algo que ela quisesse. Achei que seria fácil; como qualquer outro humano,
devia haver alguma coisa bugiganga ou brinquedo que ela quisesse. Vários,
provavelmente. Entregaria algo anonimamente e nos deixaria quite.
Mas Angela provou ser quase tão desatenciosa com seus pensamentos quanto Bella. Ela
era estranhamente satisfeita para uma adolescente. Feliz. Talvez essa fosse a razão para
sua bondade incomum - ela era uma daquelas raras pessoas que tinham o que amavam e
amavam o que tinham. Se ela não estivesse prestando atenção aos professores e às
anotações, estava pensando dos irmãos gêmeos que levaria à praia nesse final de semana
- antecipando a animação deles com um prazer quase maternal. Ela cuidava deles de vez
em quando, mas não se sentia rancorosa com esse fato… era bem carinhoso.
Mas não me ajudava muito.
Tinha que ter alguma coisa que ela queria. Eu só teria que continuar procurando. Mas
depois. Agora era a hora da aula de trigonometria de Bella com Jessica.
Não estava prestando atenção aonde ia quando fui para a aula de inglês. Jessica já estava
em seu lugar, os dois pés batendo impacientemente no chão enquanto ela esperava Bella
chegar.
Ao contrário, quando me sentei em minha cadeira na sala de aula, fiquei completamente
parado. Tinha que me lembrar de me mexer uma hora ou outra. Manter a fachada. Foi
difícil, meus pensamentos estavam tão concentrados nos de Jessica. Esperava que ela
fosse prestar atenção, realmente tentar ler o rosto de Bella para mim.
As batidas dos pés de Jessica se intensificaram quando Bella entrou na sala.
Ela parece… triste. Por quê? Talvez não tenha nada acontecendo com o Edward Cullen.
Isso seria um desapontamento. Exceto que… então ele ainda está disponível… se de
repente ele está interessado em namorar, não me importo em ajudá-lo com isso…
O rosto de Bella não parecia triste, parecia relutante. Ela estava preocupada - ela sabia que
eu iria escutar tudo isso. Sorri para mim mesmo.
- “Me conta tudo!” - Jess mandou enquanto Bella ainda estava tirando o casaco e
pendurando nas costas de sua cadeira. Ela estava se mexendo com deliberação, sem
vontade.
Argh, ela é tão lerda. Vamos passar para as coisas interessantes!
-” O que quer saber?” - Bella escapou quando se sentou.
- “O que aconteceu ontem à noite?”
- “Ele me levou para jantar e depois me levou em casa.”
- “Como chegou em casa tão rápido?”
Eu observei Bella rolar os olhos à suspeita de Jessica.
- “Ele dirige como um louco. Foi apavorante.”
Ela sorriu um pouco, e eu ri em voz alta, interrompendo os anúncios do Sr. Mason. Eu
tentei transformar a risada em um acesso de tosse, mas ninguém se enganou. O Sr. Mason
me lançou um olhar irritado, mas eu nem me preocupei em escutar o pensamento por trás
dele. Estava ouvindo a Jessica.
Ah. Parece que ela está falando a verdade. Por que está me fazendo arrancar tudo isso
dela, palavra por palavra? Eu estaria me gabando a plenos pulmões se fosse comigo.
- “Foi tipo um encontro, disse a ele para encontrar você lá?”
Jessica viu a surpresa passar pela expressão de Bella, e ficou desapontada como isso
parecia ser verdade.
- “Não… Eu fiquei muito surpresa em vê-lo lá” - Bella disse a ela.
- “O que está acontecendo? - Mas ele pegou você para vir à escola hoje? - Tem que ter
mais coisa nessa história”.
“Sim - isso era uma surpresa, também. Ele percebeu que eu não tinha uma jaqueta noite
passada”.
Isso não é muito divertido, Jessica pensou, desapontada novamente.
Eu estava cansado da sua linha de perguntas - Eu queria ouvir algo que eu não soubesse
realmente. Eu esperei que ela não estivesse tão descontente que ela poderia pular as
questões que eu estava esperando.
“Então você vai sair com ele novamente?” Jessica perguntou.
“Ele se ofereceu para me levar a Seattle sábado porque ele pensa que o meu carro não
consegue chegar até lá - isso conta?”
Hmm. Bom, cuide dela. Bella está maluca.
“Sim” Jessica respondeu a pergunta de Bella.
“Bom, então, sim.”
U-A-U… Edward Cullen”. Ela gostando dele ou não, isso é grande.
“Eu sei.” Bella concordou.
O tom de sua voz encorajou Jessica. Finalmente - ela soa como se gostasse! Ela deve estar
realizada…
“Peraí” Jessica falou, de repente se lembrando da pergunta mais vital “Ele já te beijou?”
Por favor diga sim. E depois descreva cada segundo!
“Não.” Bella disse, e então ela olhou para suas mãos, sua face corando. “Não é bem
assim.”
Droga. Eu queria… há. parece que ela gostaria disso.
Eu franzi o cenho. Bella parecia chateada sobre algo, mas não poderia ser desapontamento
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