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Crepúsculo PARTE2


Crepúsculo
(Twilight)

Esta é a Parte2




"Mas é dia de semana".
"Nós vamos sair logo depois da aula, assim poderemos voltar cedo. Você dá um jeito no
jantar, não é?"
"Bella, eu conseguíme alimentar por dezessete anos antes de você vir pra cá", ele me
lembrou.
"Eu não sei como você conseguiu sobreviver", eu murmurei, e então adicionei mais
claramente, "Eu vou deixar algumas coisas pra você preparar um sanduíche na
geladeira, tá bom? Bem em cima".
Estava ensolarado de novo no outro dia. Eu acordei com renovada esperança que eu
inutilmente tentei reprimir. Eu tentei me vestir para o clima mais ameno com uma blusa
com um decote em formato de V - algo que eu usava no inverno em Phoenix.
Eu planejei tanto a minha entrada na escola que mal tive tempo de chegar á sala de aula.
Com o coração vazando, eu circulei o estacionamento procurando por uma vaga,
enquanto procurava pelo Volvo prateado que claramente não estava lá. Eu estacionei no
último corredor, correndo para a aula de Inglês, chegando sem fôlego, mas vitoriosa,
antes do sinal tocar.
Estava igual a ontem- eu não conseguia evitar os brotos de esperanças que se semeavam
na minha mente, só pra que depois eles fossem dolorosamente esmagados enquanto eu
procurava por ele no almoço ou quando sentava na minha mesa vazia na aula de
Biologia.
O esquema de Port Angeles estava de pé de novo, e deixou tudo mais atraente pelo fato
de que Lauren tinha outros planos. Eu estava muito ansiosa pra sair da cidade, então eu
não conseguia parar de olhar por cima do ombro, esperando que ele aparecesse do nada
como ele costumava fazer. Eu prometí pra mim mesma que estaria de bom humor essa
noite pra não estragar a diversão de Angela ou de Jéssica na sua caça ao vestido. Talvez
eu pudesse até fazer umas compras também. Eu me recusava a pensar que teria que
fazer compras sozinha em Seattle esse fim de semana, sem o mínimo de interesse no
trato antigo. É claro que ele não podia cancelar sem pelo menos me ligar.
Depois da escola, Jéssica me acompanhou até em casa com o seu Mercury branco pra
que eu pudesse deixar os meus livros e a minha camionhonete. Eu penteei o meu cabelo
rapidamente enquanto estava lá dentro, sentindo um pouco de excitação por estar
deixando Forks. Eu deixei um bilhete para Charlie em cima da mesa, explicando de
novo onde encontrar o jantar, troquei a minha carteira da minha mochila para uma bolsa
que eu raramente usava, e corrí pra me juntar á Jéssica. Depois nós passamos na casa da
Angela, e ela estava esperando por nós.
Minha excitação cresceu espontâneamente enquanto nós nos dirigíamos aos limites da
cidade.
Jess dirigiu mais rápido que Charlie, para que chegássemos me Port Angeles antes das
quatro. Já fazia algum tempo desde a minha última noite das garotas e os meus
estrogênios corriam soltos. Nós ouvímos músicas melosas de Rock enquanto Jéssica
tagarelava sobre os garotos com os quais nós nos relacionávamos. O jantar de Mike e
Jéssica foi muito bem, e lea esperava que no Sábado eles já tivesse progredido para a
fase do primeiro beijo. Eu sorrí comigo mesma, satisfeita. Angela estava passivamente
feliz por estar indo ao baile, mas não necessariamente interessada em Eric. Jess tentou
fazê-la confessar qual era o seu tipo de garoto, mas depois de um tempo eu interrompí
com uma pergunta sobre vestidos, para poupá-la. Angela olhou pra mim agradecida.
Port Angeles era uma linda armadilha para turistas, muito mais educada e pitoresca do
que Forks. Mas Angela e Jéssica a conheciam bem, então nós não perdemos tempo
olhando o piotoresco mapa da cidade na baía. Jess dirigiu direto para uma grande loja de
departamentos na cidade, que era a apenas algumas ruas da amigável baía para
visitantes.
O baile era semiformal, e nós não tinhamos certeza do que isso significava. Tanto
Angela quanto Jéssica pareceram surpresas e um pouco descrentes quando eu falei pra
elas que nunca tinha ido a um baile em Phoenix.
"Você nunca foi com um namorado ou alguma coisa assim?" Jess perguntou
duvidosamente enquanto andávamos pelas portas da loja.
"De verdade", eu tentei convencer ela sem ter que revelar os meus problemas com
dança.
"Eu nunca tive um namorado nem nada parecido. Eu não saía muito"
"Porque não?", Jéssica perguntou.
"Ninguém nunca me convidou", eu disse honestamente.
Ela pareceu cética. "As pessoas te convidam aqui", ela me lembrou "E é você quem diz
não". Nós estávamos na seção de adolescentes agora, procurando nos cabides por
roupas mais chiques.
"Bem, exceto Tyler", Angela respondeu quietamente.
"Como é?", eu engasguei. "O que foi que você disse?"
"Tyler está dizendo pra todo mundo que vai te levar para o baile de fim de ano", Jéssica
disse com olhos suspeitos.
"Ele disse o quê?" parecia que eu estava sufocando.
"Eu te disse que não era verdade", Angela murmurou pra Jéssica.
Eu estava em silêncio, ainda num estado de choque que estava rapidamente se
transformando em irritação. Mas nós tínhamos que encontrar as drogas dos vestidos, e
tínhamos muito trabalho á fazer.
"É por isso que Lauren não gosta de você", Jéssica deu uma risadinha enquanto
procurávamos as roupas.
Eu apertei meus dentes. "Você acha que se eu atropelasse ele com o meu carro ele
pararia de se sentir culpado por causa do acidente? Será que ele vai parar de tentar me
recompensar e achar que estamos quites?"
"Talvez", Jéssica de uma fungadinha. "Se é por isso que ele está te chamando."
A seção de vestidos não era muito grande, mas elas duas encontraram alguns vestidos
para experimentar. Eu sentei em uma cadeira baixa dentro de um dos provadores, perto
de um espelho de três faces, tentando controlar a minha fúria.
Jéss estava dividida entre dois- um longo, tomara-que caia, preto básico e outro na
altura do joelho de um azul elétrico com alcinhas finas. Eu encoragei ela a ficar com o
azul. Porque não realçar os olhos? Angela escolheu um vestido rosa claro que destacava
bem o seu corpo alto e que destacava a cor de mel dos seus cabelos castanho-claros. Eu
cumprimentei as duas generosamente e ajudei a colocar os vestidos rejeitados de volta
nos cabides. O processo foi muito mais curto e fácil do que as compras que eu fazia com
Renée quando estava em casa. Eu acho que existe algo a ser dito sobre escolhas
limitadas.
Nós fomos para a seção de sapatos e acessórios. Enquanto elas tentavam as coisas, eu
simplesmente olhava e criticava, sem a menor vontade de comprar alguma coisa, apesar
de estar precisando de sapatos novos. A irritação com Tyler estava acabando com a
minha noite das garotas, me deixando com vontade de voltar pra casa.
"Angela?", eu comecei, hesitante enquanto ela experimentava um sapato de tiras e de
salto alto cor de rosa- ela estava mais que contente por um par alto o suficiente que a
permitisse usar salto.
Jéssica estava no balcão das jóias e nós estávamos sozinhas.
"Sim?", ela levantou a perna balançando o tornozelo pra ter uma visão melhor do
sapato.
Eu me intrometí. "Eu gostei desse"
"Eu acho que vou ficar com esse- apesar de não ter nada que combine com eles além
desse vestido". Ela meditou.
"Oh, vá em frente- eles estão em liquidação".Eu encoragei. Ela sorriu, colcando a tampa
em outra caixa com sapato branco.
Eu tentei de novo. "Umm, Angela..." ela olhou pra cima curiosa.
"É normal para... os Cullen" - eu mantive meus olhos nos sapatos -
"Ficar muito tempo fora de escola?" Eu falhei miseravelmente na minha tentativa de
parecer desinteressada.
"Sim, quando o clima está bom eles vão acampar sempre- até o doutor. Eles gostam
muito de atividades ao ar livre.", ela me disse quietamente, examinando os sapatos
também. Ela não fez nem sequer uma pergunta, quanto mais as milhares de perguntas
que Jéssica teria feito. Eu realmente estava começando a gostar de Angela.
"Oh", eu mudei de assunto quando Jéssica voltou da joalheria com uma coisa que ela
encontrou pra combinar com os seus sapatos prateados.
Nós planejávamos jantar num pequeno restaurande Italiano na rua principal, mas as
compras não demoraram tanto quanto esperavamos. Jess e Angela foram colocar as suas
compras de volta no carro e depois iam descer á baia. Eu disse que me encontraria com
elas no restaurante dentro de uma hora- eu queria encontrar uma livraria. Elas duas
estavam querendo vir comigo, mas eu encoragei as duas a irem se divertir- elas não
sabiam o quanto eu podia ficar ocupada quanto estava cercada de livros; era algo que eu
preferia fazer sozinha. Elas voltaram para o carro conversando alegremente, e eu fui na
direção que Jess me apontou.
Eu não tive problemas para achar a livraria, mas não era bem aquilo que eu estava
procurando.
As janelas estavam cheias de cristais, apanhadores-de-sonhos, e livros sobre cura
espiritual. Eu nem entrei. Pela janela eu podia ver uma mulher de cinquenta anos com
um longo cabelo cinza que ela usava solto, usando um vestido que parecia ser dos anos
sessenta, sorrindo saudosamente por detrás do balcão. Eu decidí que essa era um
conversa que eu podia adiar. Tinha que ter uma livraria normal na cidade.
Eu vaguei pelas ruas, que estavam lotadas com o trânsito do fim de um dia de trabalho,
e rezei pra estar indo para o centro da cidade.
Eu não estava prestando tanta atenção em pra onde eu estava indo quanto devia; eu
estava lutando contra o desespero. Eu estava tentando tanto não pensar nele, e no que
Angela disse... e mais do que tudo, tentando acabar com as minhas esperanças em
ralação á Sábado, temendo que a decepção fosse mais dolorosa que o resto, quando eu
olhei pra cima eu ví o Volvo de alguém estacionado na rua e aquilo me arranhou por
dentro. Vampiro estúpido, que não merece confiança, eu pensei comigo mesma.
Eu me dirigí ao sul, em direção a algumas lojas com vitrines de vidro que pareciam
promissoras. Mas quando eu cheguei lá, elas eram só lojas de reparo e espaços vazios.
Eu ainda tinha muito tempo antes de precisar ir encontra Angela e Jéssica, e eu
definitivamente estava precisando controlar o meu humor antes de me encontrar com
elas. Eu passei a mão pelos meus cabelos e e respirei fundo algumas vezes antes de virar
a esquina.
Eu comecei a perceber, enquanto cruzava outra rua, que eu estava indo na direção
errada. O pouco trânsito que eu estava vendo, estava se dirigindo a norte, e parecia que
aqui, a maioria dos prédios eram depósitos. Eu decidí virar á leste e depois de algumas
ruas eu virei e tentei a sorte de encontrar algum mapa da cidade.
Um grupo de quatro homens virou na esquina que eu ia entrar, vestidos casualmente
demais pra estarem vindo do trabalho,mas eles também não tinham cara de ser turistas.
Enquanto eles de aproximavam de mim, eu percebí que eles não eram muito mais
velhos do que eu. Eles estavam fazendo piadas uns com os outros em voz alta, rindo
estridentemente e esmurrando os braços uns dos outros. Eu me mantive tão longe
quanto a calçada me permitiu para das espaço a eles, caminhando devagar, olhando
sempre na direção da esquina
"Ei, você!", um deles chamou quando eles passaram, e eles tinham que estar falando
comigo já que não havia mais ninguém por perto. Eu olhei pra cima automaticamente.
Dois deles haviam parado, os outros dois tinham desacelerado. O mais próximo, um
homem pesado, com cabelos escuros, na casa dos vinte, parecia ter sido o homem que
falou. Ele estava usando uma camisa de flanela em cima de uma camiseta suja, jeans
curtos, e sandálias. Ele deu meio passo na minha direção.
"Olá", eu murmurei, meus joelhos começaram a tremer em resposta. Então eu olhei na
outra direção e comecei a andar para a esquina o mais rápido que eu conseguia. Eu
podia ouví-los rindo muito alto atrás de mim
"Ei,espere!", um deles me chamou, mas eu baixei minha cabeça e dei a volta na esquina
com um suspiro de alívio. Eu ainda podia ouvir eles me seguindo.
Eu me vi numa calçada que levava para os fundos de vários armazéns, cada um deles
com portas enormes para os caminhões que viessem descarregar, todos fechados porque
estava anoitecendo. O lado sul da rua não tinha calçada, só alguns elos com ferros
protegendo a passagem de algum depósito de partes de motor. Eu estava na parte de
Port Angeles que eu, como visitante, não queria ver.
Eu me dei conta de que estava ficando escuro, as nuvens finalmente voltando, enchendo
o horizonte, criando uma espécie de por do sol adiantado. O horizonte ainda esta claro,
mas ficando cinzento, e com listras laranjas e cor de rosa. Eu deixei minha jaqueta no
carro, e um arrepio repentino me fez cruzar os braços com força na frente do meu peito.
Uma única van passou por mim, e então a rua estava deserta.
O céu estava repentinamente escuro, e, quando eu olhei pra trás pra ver as nuvens que se
formavam, eu percebí com um choque, que eu estava sendo seguida por dois homens, á
menos de vinte passos de distância de mim.
Eles eram do mesmo grupo que tinha passado por mim na esquina, mas nenhum deles
era o de cabelo escuro que tinha falado comigo. Eu virei minha cabeça rapidamente,
apressando meus passos. Um arrepio que não tinha nada a ver com o frio passou pelo
meu corpo. Minha bolsa estava sobre um ombro, entrelaçada no meu corpo, do jeito que
se deve usar quando de quer evitar um assalto. Eu sabia exatamente onde o meu spray
de pimenta estava- numa mala que eu nunca desfiz, embaixo da minha cama. Eu não
tinha muito dinheiro comigo, uns vinte dólares, ou um pouco mais, eu pensei em
derrubá-la "acidentalmente" e continuar andando. Mas uma vozinha assustada na minha
cabeça estava me avisando que aqueles homens pareciam ser algo pior que só
assaltantes.
Eu escutei atentamente os seus passos, que eram muito mais quietos comparados ao
tumulto que eles estavam fazendo essa tarde, e não parecia que eles estavam andando
mais rápido, ou se aproximando de mim.
Respire, eu lembrei para mim mesma. Você não sabe se eles estão te seguindo. Eu
continuei a andar o mais rápido que podia sem correr, me concentrando na entrada á
direita que estava a apenas alguns metros de distância de mim. Eu podia ouví-los, tão
longe quanto antes. Um carro virou na esquina passando rapidamente por mim. Eu
pensei em me jogar na frente dele, mas eu hesitei, inibida, sem saber se eles estavam
realmente me seguindo, então era tarde demais.
Eu alcancei a esquina, mas me bastou uma olhada rápida para que eu percebesse que era
apenas mais uma entrada de carros nos fundos de um dos armazéns.
Eu dei uma meia volta antecipadamente; eu tive que me apressar e correr pela rua, de
volta para a calçada. A rua acabava na próxima esquina, onde havia uma placa de
"pare". Eu me concentrei nos passos fracos atrás de mim, decidindo se eu devia correr
ou não. Eles, porém, não pareciam estar muito atrás, e eles poderiam me alcançar muito
facilmente de qualquer jeito. Eu tinha certeza que ia cair e me espatifar se eu tentasse
andar mais rápido. Os passos definitivamente pareciam estar mais pra trás. Eu me
arriscar a dar uma rápida olhadinha por cima do ombro, e eles estavam seguramente a
uns quarenta passos atrás de mim agora, eu percebí aliviada. Mas eles dois estavam me
encarando.
Pareceu que se passaram horas antes que eu alcançasse a esquina. Eu mantive o passo
firme, os homens atrás de mim ficando mais pra trás a cada passo. Talvez eles tenham
se dado conta de que estavam me assustando e se arrependeram. Eu vi dois carros indo
na direção norte na rua pra onde eu estava indo, eu respirei aliviada. Haveriam mais
pessoas por perto assim que eu saisse daquela rua deserta. Eu virei na esquina com um
suspiro agradecido.
E quase escorreguei quando tive que parar.
A rua estava alinhada dos dois lados com paredes vazias, sem potas ou janelas. Eu podia
ver distantemente, duas ruas ábaixo, ruas iluminadas, carros e mais pedestres, mas eles
estavam muito longe. Porque saindo de um prédio no lado oeste, no meio da rua,
estavam os outros dois homens do grupo, os dois me observando com sorrisos excitados
enaquanto eu ficava paralisada na calçada.
Eu percebí que não estava sendo seguida.
Eu estava sendo guiada.
Eu pausei por um segundo, mas pareceu um longo tempo. Eu me virei e tentei voltar
pelo outro lado da rua. Eu tinha o leve pressentimento de que era uma tentativa inútil.
Os passos atrás de mim estavam mais altos agora.
"Aí está você!", a voz estrondosa do homem grande, de cabelo escuro
quebrou o silêncio intenso, me fazendo pular. Na escuridão, parecia que ele estava
olhando por cima de mim.
"É", uma voz respondeu alto atrás de mim, me fazendo pular de novo enquanto eu
tentava correr pela rua. "Nós pegamos um pequeno desvio".
Meus passos tiveram que desacelerar. Eu estava fazendo a distância entre mim e eles
diminuir ainda mais rapidamente. Eu tinha um bom grito, alto, e eu suguei o ar,me
preparando para usá-lo,mas minha garganta estava tão seca que eu não tinha muita
certeza em relação ao volume que ele sairia. Com um movimento rápido, eu tirei a bolsa
pela cabeça, sugurando-a com uma mão, me preparando para entregá-la ou usá-la como
arma se fosse necessário.
O homem mais magro se desencostou da parede e começou a avançar vagarosamente
pela rua.
"Fique longe de mim", eu avisei numa voz que deveria ter sido forte e destemida. Mas
eu estava certa em relação a minha garganta- nada de volume.
"Não seja assim, docinho",ele falou e as risadas recomeçaram atrás de mim.
Eu me recompus, a apenas alguns passos de distância, tentando me lembrar apesar do
pânico das poucas técnicas de defesa pessoal que eu sabia. Peito da mão no nariz, que
deve com alguma sorte quebrar o nariz dele ou enfiá-lo pra dentro do cérebro. Dedo na
cavidade do olho-tente enfiar o dedo por dentro do olho e arrancá-lo da órbita.
E o joelho de praxe na virilha, é claro. Aquela vozinha pessimista na minha cabeça de
novo, me dizia que eu não chance nem sequer contra um deles, eles eram quatro.
Cala a boca!
Eu ordenei á voz antes que o terror me deixasse incapacitada. Eu não ia me machuacar
sem machucar alguém também. Eu tentei engolir pra dar um grito decente.
Faróis apareceram de repente na esquina, o carro quase antingindo o homem forte,
forçando-o a pular na direção da calçada. Eu corrí para o meio da rua -esse carro ia
parar, ou teria que me atingir.
Mas o carro prateado inexperadamente deu um cavalo de pau, parando em cima da
calçada com a porta do passageiro aberta a apenas alguns passos de distância de mim.
"Entre", uma voz furiosa ordenou.
Foi impressionante como instantaneamente o medo havia desaparecido, incrível como
de repente a sensação de segurança me inundou - mesmo antes de eu estar fora da rua -
assim que eu ouví a voz dele. Eu pulei pra dentro do carro fechando a porta atrás de
mim.
Estava escuro dentro do carro, nunhuma luz se acendeu quando a porta abriu, e eu mal
podia ver o seu rosto pelo brilho fraco do painél. Os pneus cantaram quando ele virou
para o norte, acelerando muito rápido, desviando dos homens abismados na rua. Eu tive
uma breve visão deles se atirando na calçada enquanto acelerávamos na direção no
porto.
"Ponha o seu cinto de segurança", ele comandou, e eu percebí que estava me agarrando
no banco com as duas mãos. Eu obedecí rapidamente; o clique do cinto se conectando
era alto na escuridão.
Ele fez uma curva estreita na esquerda, correndo em frente, avançando muitos sinais
vermelhos sem parar.
Mas eu me sentia extremamente segura e, no momento, completamente despreocupada
com o lugar pra onde estavamos indo. Eu olhei para o rosto dele profundamente
aliviada,um alívio que ia além das palavras. Eu estudei o seu rosto perfeito na luz
limitada, esperando minha respiração voltar ao normal, até que eu percebí que a sua
expressão estava assustadoramente zangada.
"Você está bem?", eu estava surpresa de ver como a minha voz estava áspera.
"Não", ele disse curtamente, seu tom estava lívido.
Eu sentei em silêncio, observando o seu rosto enquanto os seus olhos reluziam sempre
olhando para a frente, até que o carro parou bruscamente. Eo olhei ao redor, mas estava
escuro demais para vez alguma coisa além da linha de árvores escuras que se estendiam
pelo acostamento.
Nós não estávamos mais na cidade.
"Bella?", ele me chamou, a voz apertada, controlada.
"Sim?", minha voz ainda estava áspera. Eu tentei limpar a minha garganta
silenciosamente.
"Você está bem?" Ele ainda não estava me olhando, mas a fúria estava claramente
visível no rosto dele.
"Sim", eu respondí suavemente.
"Por favor, me distraia", ele ordenou.
"Perdão, o que você disse?"
Ele respirou agudamente.
"Fale sobre alguma coisa sem importância até que eu me acalme" ele esclareceu,
fechando os olhos e apertando o nariz com os dedos polegar e indicador.
"Umm", eu vistoriei meu cérebro á procura de algo trivial. "Eu vou atropelar Tyler
Crowley amanhã depois da aula".
Ele ainda estava apertando os olhos, mas os seus lábios se curvaram.
"Porque?"
"Ele está dizendo a todo mundo que vai me levar no baile de fim de ano- ou ele é louco,
ou ainda está tentando se desculpar por quase ter me...bom, você lembra, ele acha que
obaile vai melhorar as coisas. Então eu achei que se colocasse a vida dele em risco, ele
acharia que estamos quites e não teria que ficar tentando se redimir. Eu não preciso de
inimigos, e Lauren vai parar de me perseguir se ele me deixar em paz. Eu posso acabar
destruindo o carro dele. Se ele estiver sem carro não vai poder levar ninguém ao baile..."
eu tagarelei.
Eu ouví alguma coisa sobre isso", ele falou um pouco mais recomposto.
"Você ouviu?" eu perguntei sem acreditar, já sentindo uma ponta de irritação. "Se ele
estiver paralizado do pescoço pra baixo, ele também não vai poder ir para o baile.", eu
cochichei redefinindo o meu plano.
Edward suspirou e finalmente abriu os olhos.
"Melhor?"
"Na verdade não".
Eu esperei, mas ele não falou mais nada. Ele se inclinou no banco, olhando para o teto
do carro. Seu rosto estava rígido.
"Qual é o problema?" minha voz saiu num suspiro.
"As vezes eu tenho problemas com o meu temperamento, Bella." Ele também estava
falando baixinho, e, quando ele olhou pela janela, seus olhos se transformaram em duas
linhas. "Mas não seria de grande ajuda se eu voltasse até lá e caçasse aqueles..." Ele não
terminou a frase, olhando pra longe,lutando por um momento pra controlar sau raiva.
"Pelo menos", ele continuou. "É disso que eu estou tentando me convencer"
"Oh", a palavra pareceu inadequada, mas eu não conseguí pensar em uma resposta
melhor.
Nós sentamos em silêncio de novo. Eu olhei para o relógio no painél. Já eram mais de
seis e meia.
"Jéssica e Angela vão ficar preocupadas", eu murmurei. "Eu tinha que me encontrar
com elas".
Ele ligou o motor sem dizer outra palavra, dando a volta suavemente e correndo em
direção á cidade. Nós estavamos de volta ás luzes da cidade sem demora nenhuma,
ainda indo rápido demais, desviando sem dificuldade dos outros carros passando na rua.
Ele parou ao lado de uma vaga que eu achei pequena demais para o Volvo, mas ele
conseguiu estacionar sem dificuldade na primeira tentativa. Eu olhei pra fora pra ver as
luzes do La Bella Itália, e Jess e Angela que estavam acabando de sair, caminhando
ansiosamente na direção contrária á nós.
"Como você sabia onde...", eu comecei, mas então balancei a cabeça. Eu ouví a porta se
abrindo e me virei pra ver ele saindo.
"Pra onde você tá indo?" eu perguntei
"Te levando pra jantar", ele sorriu levemente, mas seus olhos estavam duros. Ele saiu do
carro e bateu a porta. Eu apalpei o banco e depois me apressei pra sair do carro também.
Ele estava esperando por mim na calçada.
Ele falou antes que eu tivesse a chance. "Vá parar Jéssica e Angela antes que eu tenha
que caçar elas duas também. Eu não acho que vou conseguir me controlar se esbarrar
em um dos seus amigos de novo".
Eu tremí com o tom de ameaça na voz dele.
"Jess!Angela!", eu chamei por elas, acenando quando elas se viraram. Elas voltaram
correndo, o alívio aparecendo nos rostos e nas vozes das duas se transformou em
supresa quando elas viram quem estava ao meu lado. Elas pararam a poucos metros de
distância de nós.
"Onde você esteve?", a voz de Jéssica estava cheia de suspeita.
"Eu me perdí", eu admití envergonhada. "E aí eu esbarrei em Edward", eu fiz um gesto
em direção a ele.
"Estaria tudo bem se eu me juntasse a vocês?", ele perguntou numa voz sedosa,
irresistível. Eu podia ver as duas cambaleando e percebí que ele nunca havia usado os
seus talentos com elas antes.
"Er...claro", Jéssica respirou.
"Na verdade, Bella, nós já comemos enquanto esperávamos você-desculpa" Angela
confessou.
"Tudo bem- eu não estou com fome", eu levantei os ombros.
"Eu acho que você devia comer alguma coisa", a voz de Edward estav baixa,mas cheia
de autoridade. Ele olhou para Jéssica e falou um pouco mais alto. "Vocês se
imcomodam se eu levar Bella esta noite? Assim vocês não vão precisar esperar
enquanto ela come."
"Hum, sem problema, eu acho...", ela mordeu o lábio, tentando descobrir pela minha
expressão se eu queria ou não. Eu pisquei pra ela. Não havia nada que eu quisesse mais
do que ficar sozinha com o meu eterno salvador. Haviam tantas perguntas, mas eu não
podia bombardeá-lo até que estivessemos sozinhos.
"OK",Angela foi mais rápida que Jéssica. "Te vejo amanhã, Bella...Edward"
Ela agarrou a mão de Jéssica e puxou ela em direção ao carro, que estava parado a
apenas alguns metros dalí, na Avenida principal.
Enquanto elas entravam no carro, Jess se virou, acenou, a expressão dela cheia de
curiosidade. Eu acenei de volta, esperando que elas fossem embora antes de me virar
para encará-lo.
"Honestamente, eu não estou com fome", eu insistí, olhando pra cima para examinar seu
rosto. Sua expressão era ilegível.
"Faz-me rir"
Ele entrou pela porta do restaurante e sugurou a porta aberta pra mim com um expressão
obstinada. Eu passei por ele entrando no restaurante com um suspiro de resignação.
O restaurante não estava lotado- não era alta estação em Port Angeles. A maitre era
mulher, e eu entendí a expressão no seu olhar enquanto ela acessorava Edward. Ela o
recebeu um pouco mais educadamente do que era necessário. Eu fiquei surpreendida de
ver o quanto isso me incomodou. Ela era vários centímetros mais alta que eu, e o louro
do cabelo dela não era nem um pouco natural.
"Mesa pra dois" A voz dele era fascinante, fosse intencional ou não.
Eu ví ela olhar pra mim e afastar o olhar, obviamente feliz por eu ser tão comum, e pela
cautelosa distância que Edward mantinha entre nós. Ela nos guiou para uma mesa
grande o suficiente para quatro pessoas no centro da área mais cheia do restaurante.
Eu estava quase me sentando, quando Edward balançou a cabeça pra mim.
"Talvez algo mais particular?" ele insistiu para a maitre. Eu não tinha certeza, mas podia
jurar que ví ele dar um gorjeta na mão dela. Eu nunca tinha visto uma pessoa recusar
uma mesa antes, exceto nos filmes antigos.
"Claro", ela parecia tão surpresa quanto eu estava. Ela se virou e nos guiou até umas
cabines- todas vazias. "Que tal isto?"
"Perfeito.", ele deu um dos seus sorrisos encantadores, deixando ela momentaneamente
deslumbrada.
"UMM"- ela balançou a cabeça- "seu garçon virá em um instante". Ela foi embora
descompassada.
"Você não devia fazer isso com as pessoas", eu critiquei, "Não é muito justo".
"Fazer o que?"
"Deslumbrar as pessoas desse jeito- ela deve estar hiperventilando na cozinha nesse
exato momento"
Ele pareceu confuso.
"Ah, qual é", eu falei duvidosamente. "Você tem que saber o efeito que causa nas
pessoas"
Ele inclinou a cabeça para um lado, os olhos curiosos. "Eu deslubro as pessoas?"
"Você nunca percebeu? Você acha que todo mundo consegue o que quer assim tão
fácil?"
Ele ignorou as minhas perguntas. "Eu deixo você deslumbrada?"
"Frequentemente", eu admití.
E então a nossa garçonete apareceu, o rosto cheio de expectativa. A meitre
definitivamente havia falado sobre ele, e essa garota nova não parecia decepcionada. Ela
colocou uma mecha curta de cabelo preto atrás da orelha e sorriu pra ele com um
calidez desnecessária.
"Olá, meu nome é Amber, e eu vou serví-los essa noite. O que vocês desejam beber?"
Eu não deixei de notar que ela estava falando só com ele
Ele olhou pra mim.
"Eu vou beber uma coca", pareceu que eu estava perguntando.
"Duas cocas", ele disse.
"Eu volto logo pra trazer", ela assegurou pra ele com outro sorriso desnecessário. Mas
ele não viu. Ele estava olhando pra mim.
"O que foi?", eu perguntei quando ela foi embora.
Seus olhos estavam fixados no meu rosto. "como esta você está se sentindo?"
"Eu estou bem",eu respondí, surpresa com a intensidade da pergunta.
"Você não está sentindo náusea, tontura, frio...?"
"Eu devia?"
Ele sorriu do meu tom confuso.
"Bem, na verdade eu ainda estou esperando você entrar em choque". O rosto dele se
contorceu num sorriso perfeito
"Eu não acho que isso vai acontecer", eu disse depois que eu conseguí respirar de novo.
"Eu sempre fui boa em reprimir sentimentos desagradáveis".
"Dá na mesma, você vai se sentir melhor quando tiver um pouco de açucar e comida no
seu sangue".
Bem na hora, a garçonete apareceu com as nossas bebidas e uma cestinha de pães de
alho. Ela ficou de costas pra mim enquanto colocava as coisas em cima da mesa.
"Vocês estão prontos para fazer o pedido?", ele perguntou a Edward.
"Bella?", ela virou sem muita vontade na minha direção.
Eu escolhi a primeira coisa que apareceu no cardápio.
"Umm...eu vou querer o ravioli de cogumelos"
"E você?", ela se virou pra ele sorrindo.
"Nada pra mim",ele disse. É claro
"Me avise se você mudar de idéia", o sorriso educado ainda estava lá,mas os olhos dele
não estavam mais prestando atenção, e ela foi embora insatisfeita.
"Beba", ele ordenou.
Eu deium gole no refrigerante obedientemente, e depois deu outro gole mais fundo,
surpresa de ver o quanto eu estava com sede. Eu só percebí que eu já havia acabado com
o copo inteiro quando ele passou o copo dele pra mim.
"Obrigada", eu cochichei, ainda com sede. O frio do refrigerante passou pelo meu peito,
e eu tremí.
"Você está com frio?"
"É só o refrigerante", eu expliquei, tremendo de novo.
"Você não tem um casaco?", a voz dele era desaprovadora.
"Sim" eu olhei para a cadeira vazia. "Oh- eu deixei no carro de Jéssica", eu percebí.
Edward já estava tirando o casaco dele. De repente eu me dei conta de que eu nunca
prestei atenção no que ele estava vestindo - não só essa noite, mas nunca. Eu
simplesmente não parecia ser capaz de desviar os olhos do rosto dele. Eu me obriguei a
olhar agora, me concentrando. Ele estava tirando um casaco de couro beige claro; por
baixo ele usava um sweter marfim. Ele ficava perfeito nele, enfatizando como o seu
peito era musculoso.
Ele me passou o casaco, atrapalhando as minhas observações.
"Obrigada", eu disse de novo colocando o casaco dele. Estava frio - como o meu casaco
estava quando eu o vestí pela manhã. Eu tremí de novo. O cheio era delicioso. Eu inalei,
tentando identificar a deliciosa escência. Não parecia ser perfume. As mangas eram
grandes demais;eu tive que colocá-las pra trás para libertar minhas mãos.
"Essa cor combina lindamente com o tom da sua pele", ele disse,me observando. Eu
estava surpresa. Olhei pra baixo, corando, é claro.
Ele empurrou o cesto de pães na minha direção.
"Sério, eu não vou entrar em choque." eu protestei.
"Você deveria- uma pessoa normalentraria. Você nem parece estar nervosa." Ele parecia
agitado.
Ele me olhou nos olhos. Eu percebí como os olhos dele estavam claros, mais claros do
que eu jamais tinha visto, como um whisky dourado.
"Eu me sinto segura com você", eu confessei, hipnotizada.
Isso pareceu desagradá-lo; o centro entre as suas sobrancelhas ficou enrrugado. Ele
balançou a cabeça fazendo cara de bravo.
"Isso é mais complicado do que eu planejava", ele murmurou pra sí mesmo. Eu peguei
um pão e comecei a dor um mordidinha na ponta, medindo a expressão dele. Eu
imaginei se essa seria a hora pra começar a fazer perguntas pra ele.
"Geralmente você está com um humor melhor quando seus olhos estão tão claros", eu
comentei, tentando distraí-lo do que quer que fosse que estivesse deixando ele tão
pensativo e sombrio.
Ele me encarou, aturdido. "O quê?"
"Sei humor sempre está pior quando seus olhos estão pretos- eu já reparei." eu
continuei. "Eu tenho uma teoria sobre isso."
Ele revirou os olhos. "Mais teorias?"
"Mm-hm", eu mastiguei um pequeno pedaço de pão, tentando parecer indiferente.
"Eu espero que você tenha sido criativa dessa vez...ou você continua roubando-as de
histórias em quadrinhos?" O sorriso dele era de zombaria, mas seus olhos estavam
apertados.
"Bom, não, eu não peguei de uma história em quadrinhos, mas também não fui eu que
enventei", eu confessei.
"E?" ele apontou.
Mas nessa hora a garçonete apareceu trazendo minha comida. Eu percebí que nós dois
estávamos inconscientemente inclinados sobre a mesa um na direção do outro, porque
nós dois sentamos retos quando ela se aproximou. Ela colocou o prato na minha frenteparecia
estar bom - e se virou rapidamente para Edward.
"Você mudou de idéia?", ela perguntou. "Não tem nada que eu possa te oferecer?" Eu
posso ter imaginado o duplo sentido das palavras dela.
"Não, obrigado, mas mais refrigerante seria bom", ele fez um gesto com a longa mão
branca para o dois copos vazios na minha frente.
"Claro", ela removeu os dois copos vazios e foi embora.
"O que você estava dizendo?", ele perguntou.
"Eu te conto no carro. Se...", eu pausei.
"Tem condições?", ele ergueu uma sobrancelha,a voz maliciosa.
"Eu tenho algumas perguntas, é claro"
"É claro".
A garçonete voltou com outras dois copos de refrigerante. Dessa vez ela os colocou na
mesa sem uma palavra sequer e foi embora.
Eu tomei um gole.
"Bem, vá em frente", ele instigou, sua voz ainda estava dura.
Eu comecei com a pergunta menos exigente. "O que você está fazendo em Port
Angeles?"
Ele olhou pra baixo, cruzando suas longas mãos lentamente em cima da mesa. Os seus
olhos brilharam por baixo dos cílios, a leve sombra de um sorriso brincando em seus
lábios.
"Próxima"
"Mas essa é a mais fácil", eu reclamei.
"Próxima", ele repetiu.
Eu olhei pra baixo, frustrada. Eu desenrolei os talheres, peguei meu garfo, e
cuidadosamente espetei um ravióli. Eu coloquei na boaca lentamente, ainda olhando pra
baixo, mastigando enquanto pensava. Os cogumelos estavam bons. Eu engolí e bebí
outro gole da coca antes de olhar pra cima.
"Tudo bem, então", eu olhei pra ele, e continuei vagarosamente.
"Digamos, hipotéticamente é claro, que...alguém...pudesse saber o que as pessoas
pensam, ler mentes, sabe- com algumas exceções."
"Só uma exceção", ele corrigiu." Hipoteticamente"
"Tudo bem,uma exceção, então". Eu estava contentíssima que ele estava brincando
comigo, mas tentei parecer casual.
"Como isso funciona? Quais são as limitações? Como poderia...essa pessoa...achar outra
pessoa na hora exata? Como ele poderia saber que ela estava com problemas?" Eu
imaginei se as perguntas consecultivas estavam fazendo algum sentido.
"Hipoteticamente?", ele perguntou.
"Claro".
"Bem, se...essa pessoa..."
"Vamos chamá-lo de Joe", eu sugerí.
Ele sorriu. "Joe, então. Se Joe estivesse prestando atenção, a hora não precisaria ser tão
exata." Ele balançou a cabeça, revirando os olhos.
"Só você poderia se meter em encrencas numa cidade tão pequena. Você teria mudado
as estatísticas criminalísticas por décadas, sabia?"
"Estávamos falando de um caso hipotético".
Ele sorriu pra mim.
"Sim, estávamos", ele concordou. "Podemos chamar você de Jane?"
"Como é que você sabia?" eu perguntei de vez sem conseguir controlar a minha
intensidade. Eu me dei conta de que estava me inclinando pra ele de novo.
Ele pareceu vacilar, dividido com algum dilema interno. Seus olhos se prenderam aos
meus, e eu percebí que ele estava decidindo naquele momento se era melhor me contar a
verdade de vez ou não.
"Você pode confiar em mim, sabe". Eu murmurei. Eu avancei, sem pensar, para tocar
suas mãos entrelaçadas, mas ele as afastou na hora, então eu me afastei.
"Eu não sei mais se tenho outra escolha". A voz dele era mais um murmúrio. "Eu estava
enganado- você é muito mais observadora do que eu pensava."
"Eu pensei que você estivesse sempre certo".
"Eu costumava estar". Ele balançou a cabeça de novo. "Eu estava errado em relação á
outra coisa, também. Você não é um imã para acidentes- essa não é uma classificação
abrangente o suficiente. Se existir alguma coisa perigosa num raio de dez quilômetros
de distância, ela vai invariavelmente encontrar você".
"E você se inclui nessa categoria?", eu adivinhei.
Seu rosto ficou frio, sem expressão. "Inquestionavelmente".
Eu estiquei minha mão sobre a mesa de novo - dessa vez eu não me inibí quando ele
puxou a mão levemente- para tocar as costas das suas mãos timidamente com as pontas
dos meus dedos. Sua mão era fria e dura, como uma pedra.
"Obrigada", minha voz estava fervendo de gratidão. "Já são foram duas vezes."
O rosto dele se suavizou. "Não vamos tentar uma terceira, está bem?"
Eu fiz uma careta, mas afirmei com a cabeça. Ele tirou suas mão de baixo das minhas,
colocando-as embaixo da mesa. Mas ele se inclinou na minha direção.
"Eu te segui até Port Angeles",ele admitiu, falando depressa. "Eu nunca tentei manter
uma pessoa específica viva, e é muito mais trabalhoso do que eu imaginava. Mas isso
provavelmente é porque a pessoa é você. Pessoas normais parecem conseguir viver um
dia sem tantas catastrofes". Ele pausou.
Eu imaginei se eu deveria estar com raiva por ele estar me seguindo; mas ao invés disso
eu sentia uma enorme sensação de prazer. Ele me incarou, talvez imaginando porque
meus lábios estavam se curvando num sorriso involuntário.
"Você já parou pra pensar que talvez eu estivesse marcada pra morrer naquele dia, como
a van, e que você está interferindo no meu destino?", eu especulei, tentando me destrair.
"Aquela não foi a primeira vez",ele disse. Sua voz era difícil de ouvir. Eu olhei pra ele
assombrada, mas ele estava olhando pra baixo. "Você estava marcada para morrer na
primeira vez que nos vimos."
Eu sentí um espasmo de medo com essas duas últimas palavras, e lembrei do seu
violento olhar negro naquele primeiro dia...mas a incrível sensação de segurança que eu
sentia ao lado dele fez o medo ir embora. Quando ele olhou para os meus olhos, não
havia nenhum traço de medo neles.
"Você se lembra?", seu rosto angelical estava agravado.
"Sim". Eu estava calma.
"E mesmo assim você se senta aqui", havia um traço de descrença na voz dele; ele
ergueu uma sobrancelha.
"Sim, eu sento aqui...por sua causa." eu parei. "Porque, de alguma forma você sabia
como me encontrar hoje.", eu lembrei.
Ele apertou os lábios, os olhos pensativos, decidindo de novo.
Ele olhou para o prato cheio na minha frente, e de volta pra mim.
"Você como, eu falo", ele barganhou.
Eu rapidamente espetei outro ravióli e coloquei na boca.
"É mais difícil do que devia ser- manter um olho em você. Normalmente eu consigo
achar um pessoa muito facilmente, se eu já tiver ouvido a mente deles antes." Ele me
olhou ansiosamente, e eu percebí que estava petrificada. Eu me forcei a engolir, então
espetei outro ravioli e coloquei na boca.
"Eu estava projetanto a minha atenção em Jéssica, sem muito cuidado- como eu disse,
só poderia arrumar problemas em Port Angeles- no início eu não tinha percebido que
você tinha ido por outro caminho. Então, eu me dei conta qu você não estava mais com
ela, eu fui te procurar na livraria que havia na mente dela.
"Eu podia ver que você não tinha entrado e que tinha ido para o sul... e eu sabia que
você logo teria que dar a volta. Então eu fiquei esperando por você, procurando pelos
pensamentos das pessoas que passavam na rua- pra ver se alguém tinha reparado em
você e assim eu pudesse te procurar. Eu não tinha motivos para estar preocupado, mas
eu estava estranhamente ansioso...", ele estava perdido em pensamentos, olhando pra
mim, mas vendo coisas que eu nem podia imaginar.
"Eu comecei a dirigir em círculos, ainda...escutando. O sol estava finalmente se pondo,
e eu estava me preparando pra te procurar á pé. E então-", ele parou, arranhando os
dentes, com uma fúria repentina. Ele fez um esforço para se acalmar.
"Então o que?", eu murmurei. Ele continuou a olahr por cima da minha cabeça.
"Eu ouví o que eles estavam pensando", ele grunhiu, seu lábio superior se curvando
lentamente sobre os seus dentes. "Eu ví o seu rosto na mente dele". Ele se inclinou para
a frente de repente, um cotovelo aparecendo por cima da mesa, a mão cobrindo os
olhos. O movimento foi tão rápido que me surpreendeu.
"Foi muito...difícil- você não tem idéia do quanto foi difícil pra mim- simplesmente te
tirar de lá, e deixá-los...vivos." A voz dele estava abafada pelo seu braço. "Eu podia ter
te deixado ir com Jéssica e Angela, mas eu estava com medo de que se você me
deixasse sozinho, eu fosse procurar por eles". Ele admitiu num murmúrio.
Eu sentei quieta, ofuscada, meus pensamentos incoerentes. Minhas mãos estavam
cruzadas no meu colo, e eu estava apoiada fracamente no encosto da cadeira.. Ele ainda
estava com o rosto na mão, e ele estava tão imóvel que parecia uma escultura de pedra.
Finalmente ele olhou pra cima, seus olhos procurando os meus, cheio com as suas
próprias perguntas.
"Você está pronta pra ir pra casa?", ele perguntou.
"Eu estou pronta pra ir", eu qualifiquei, agradecida que ainda tínhamos uma longa hora
na volta pra casa. Eu ainda não estava pronta pra dizer adeus pra ele.
A garçonete apareceu como se tivesse sido chamada. Ou como se estivesse espionando.
"Como estamos?", ela perguntou para Edward.
"Nós queremos a conta, obrigado", a voz dele estava baixa, mais forte, ainda refletindo
a conversa que tínhamos acabado de ter. Ela pareceu assustada. Ele olhou pra cima
esperando.
"C-claro", ela gaguejou. "Aqui está". Ela puxou um caderninho de couro do bolso do
avental dela e entregou para ele.
Já havia uma nota na mão dele. Ele a colocou dentro do caderninho e entregou de volta
pra ela.
"Sem troco",ele sorriu e ficou de pé, enquanto eu tentava me equilibrar nos meus pés.
Ela sorriu calorosamente pra ele de novo. "Tenha uma boa noite".
Ele não olhou pra ela quando agradeceu. Eu tentei não sorrir. Ele andou ao meu lado,
perto de mim até a porta, mas ainda tomando cuidado pra não me tocar. Eu lembrei do
que Jéssica havia dito sobre o seu relacionamento com Mike, como eles estavam quase
no estágio do primeiro beijo. Eu suspirei. Edward pareceu me ouvir, e e olhou pra baixo
curioso. Eu olhei para a calçada, agradecida por ele supostamente não ser capaz de saber
o que eu estava pensando.
Ele abriu a porta do passageiro, segurando ela pra mim enquanto eu entrava no carro,
estarrecida,mais um vez, com o quanto ele era gracioso. Eu provavelmente já devia estar
acostumada- mas não estava. Eu tinha o pressentimento de que Edward era uma pessoa
com a qual eu nunca me acostumaria.
Dentro do carro, ele ligou o motor e colocou o aquecedor no máximo. Tinha
esfriadomuito, e eu achava que o bom clima estava chegando ao fim. Mesmo assim, eu
estava aquecida no casaco dele, aspirando o cheiro dela quando eu achava que ele não
estava olhando.
Edward se enfiou no trânsito, aprentemente sem olhar, e vez uma volta pra ir para a
auto-estrada.
"Agora", ele disse significantemente, "É a sua vez".
9.Teoria
"Posso fazer só mais uma?", eu implorei enquanto Edward acelerava ainda mais pela
rua vazia. Ele não parecia estar prestando nenhuma atenção á pista.
Ele suspirou.
"Uma", ele concordou. Seus lábios se pressionaram formando uma linha.
"Bem...você disse que sabia que eu não tinha entrado na livraria, e que eu tinha ido para
o sul. Eu só estava me perguntando como você sabia disso."
Ele desviou o olhar, deliberadamente.
"Eu pensei que não estávamos mais sendo evasivos.",eu disparei.
Ele quase sorriu.
"Tudo bem, então. Eu seguí o seu cheiro." Ele olhou para a estrada, dando um tempo
pra eu recompor minha expressão. Eu não conseguia pensar numa resposta aceitável pra
isso, mas eu guardei a informação cuidadosamente pra estudá-la no futuro. Eu tentei me
concentrar. Eu não estava pronta pra deixar ele terminar, justo agora que ele estava
finalmente explicando as coisas.
"E você também não respondeu uma das minhas perguntas", eu lembrei.
Ele me olhou com desaprovação. "Qual delas?"
"Como funciona- essa coisa de ler mentes? Você pode ler a mente de todo mundo, em
qualquer lugar? Como você faz isso? O resto da sua família pode...?" Eu me sentí uma
boba, pedindo explicações pra uma coisa assim.
"Isso é mais que uma", ele apontou. Eu simplesmente entrelacei meus dedos e olhei pra
ele, esperando.
"Não, sou só eu. E eu não consigo ouvir qualquer um, em qualquer lugar. Eu tenho que
estar pelo menos um pouco perto. Quanto mais familiar é a... voz de alguém, de mais
longe eu posso ouví-la. Mas ainda assim, não mais longe que alguns quilômetros." Ele
parou pensando. "É como estar num corredor enorme e cheio de gente, todos falando ao
mesmo tempo. É só um ruido- um zumbido de vozes no fundo. Até que eu me
concentro em uma das vozes, e aí o que ela está pensando se torna claro.
"Na maioria das vezes eu desligo todas- se não eu posso me destrair demais. E então
fica mais fácil parecer normal"-ele fez uma careta quando disse a palavra-
"Isso quando eu não estou respondendo acidentalmente ao pensamento das pessoas e
não á suas vozes".
"Porque será que você não pode me ouvir?", eu perguntei curiosamente.
Ele olhou pra mim, seus olhos estavam enigmáticos.
"Eu não sei", ele murmurou. "A única suposição é que talvez a sua mente não trabalhe
da forma como a deles trabalha. Como se os seus pensamentos estivessem na frequência
AM quando eu só posso ouvir Fm".
Ele sorriu pra mim, divertido de repente.
"Minha mente não trabalha direito? Eu sou uma aberração?" - as palavras me
incomodaram mais do que deviam- provavelmente porque a ficha caiu. Eu sempre
suspeitei que era uma aberração, e fiquei com vergonha de ver as suspeitas confirmadas.
"Eu ouço vozes na minha cabeça e você preocupada que você a aberração". Ele sorriu
"Não se preocupe, é apenas uma teoria..." seu rosto se contraiu. "O que nos leva de volta
a você"
Eu suspirei. Como começar?
"Nós não deixamos de ser evasivos?", ele me lembrou suavemente.
Eu desviei o olhar do seu rosto pela primeira vez, tentando encontrar as palavras. Aí eu
olhei para o velocímetro.
"Minha nossa!" eu gritei. "Diminua".
"Qual é o problema?", ele perguntou alarmado. Mas não diminuiu a velocidade.
"Você está indo á quase duzentos por hora!", eu ainda estava gritando. Eu olhei cheia de
pânico pela janela, mas estava escuro demais pra enxergar. A estrada só era visível até
onde os faróis alcançavam. A floresta dos dois lados da estrada pareciam paredes negras
- e seriam duram como paredes de aço se nós batêssemos nelas a essa velocidade.
"Relaxe, Bella". Ele revirou os olhos, ainda sem reduzir.
"Você está tentando nos matar?", eu perguntei.
"Nós não vamos bater".
Eu tentei moderar meu tom de voz. "Porque você está com tanta pressa?"
"Eu sempre dirijo assim", ele me olhou dando um sorriso torto.
"Mantenha os olhos na estrada!"
"Eu nunca sofrí um acidente, Bella- eu nunca sequer levei uma multa." Ele sorriu e deu
um tapinha na testa. "Detector de radar embutido".
"Muito engraçado", eu soltei. "Charlei é um policial, lembra? Eu fui criada para
obedecer todas as leis de trânsito. Além do mais, se você bater o Volvo e transformá-lo
numa sanfona, provavelmente você vai se levantar e sair dele".
"Provavelmente",ele disse com uma risa curta, dura. "Mas você não".
Ele suspirou e eu observei aliviada enquanto observava o ponteiro baixando
gradualmente. "Feliz?"
"Quase".
"Eu odeio dirigir devagar", ele murmurou.
"Isso é devagar?"
"Chega de comentários sobre como eu dirijo", ele cortou. "Eu ainda estou esperando
pela sua última teoria".
Eu mordí meu lábio. Ele olhou pra mim, seus olhos estavam inexperadamente gentis.
"Eu não vou rir", ele prometeu.
"Eu estou com mais medo que você fique com raiva de mim".
"É assim tão ruim?"
"Em grande parte, sim."
Ele esperou. Eu estava olhando para as minhas mãos, então não pude ver sua expressão.
"Vá em frente", sua voz era calma.
"Eu não sei como começar", eu admití.
"Comece pelo começo... você disse que não foi você quem criou essa teoria".
"Não"
"Onde você a encontrou- num livro? Um filme?", ele testou.
"Não - foi Sábado, na praia". Eu arriquei dar uma olhada para o rosto dele. Ele pareceu
confuso.
"Eu dei de cara com um amigo antigo da família- Jacob Black", eu continuei. "O pai
dele e Charlie são amigos desde que eu era bebê."
Ele ainda parecia confuso.
"O pai dele é um dos ansiões Quileute". Eu observei ele cuidadosamente. A sua
expressão confusa estava congelada no lugar.
"Nós fomos dar uma volta" - eu não contei que havia planejado tudo.
"- Ele estava me contando umas histórias antigas- tentando me assustar, eu acho. Ele me
contou uma..." eu hesitei.
"Vá em frente", ele disse.
"Sobre vampiros". Eu me dei contar de que estava cochichando. Eu não conseguia olhar
para o seu rosto agora. Mas eu ví seus dedos apertando o volante convulsivamente.
"E você imediatamente pensou em mim?". Ainda calmo.
"Não. Ele...mencionou sua família".
Ele estava em silêncio, olhando para a estrada.
Eu fiquei preocupada de repente, preocupada em proteger Jacob.
"Ele só achava que era uma superstição boba", eu disse rapidamente.
"Ele não esperava que eu pensasse nada dela". Não parecia que estava sendo o
suficiente, eu tenho que confessar. "Foiminha culpa, eu forcei ele a me dizer"
"Porque?"
"Lauren disse uma coisa sobre você- ela estava tentando me provocar. Um garoto mais
velho da tribo disse que vocês não iam até lá, só que pra mim pareceu que ele quis dizer
outra coisa. Então eu fiquei sozinha com Jacob e tirei a verdade dele", eu admití,
deixando a cabeça cair.
Ele me surpreendeu quando começou a sorrir. Eu olhei pra ele. Ele estava sorrindo, mas
seus olhos estavam concentrados, olhando para a estrada.
"Como foi que você forçou ele a contar?", ele perguntou.
"Eu tentei flertar com ele - e funcionou melhor do que eu imaginava". Eu comecei a
ficar corada enquanto lembrava.
"Eu queria ter visto isso", ele sorriu obscuramente. "E você me acusando de deslumbrar
as pessoas- pobre Jacob Black"
Eu corei e olhei para a noite pela janela.
"E o que você fez depois?" ele perguntou depois de um minuto.
"Eu fiz algumas pesquisas na Internet".
"E isso te convenceu?" A voz dele parecia pouco interessada. Mas as mãos dele estavam
apertando o volante.
"Não. Nada fazia sentido. A maioria das coisas era meio boba. E então...". Eu parei.
"O que?"
"Eu decidí que não importava", eu murmurei.
"Que não importava?" O tom dele me fez olhar pra cima -finalmente eu havia penetrado
aquela máscara. O seu rosto estava incrédulo, com só uma ponta de raiva que eu temia.
"Não", eu disse suavemente. "Pra mim não importa o que você é".
Um tom duro, de zombaria inundou sua voz. "Você não se importa se eu for um
mostro? Se eu não for humano?"
"Não".
Ele ficou em silêncio, olhando diretamente pra frente de novo. Seu rosto estava sem
expressão e frio.
"Você está com raiva", eu suspirei. "Eu não devia ter dito nada".
"Não", mas o seu tom estava tão duro quanto o seu rosto.
"Eu prefiro saber o que você está pensando- mesmo se o que você estiver pensando for
uma loucura".
"Então eu estou errada de novo?", eu desafiei.
"Não era a isso que eu me referia. 'Não importa'.", ele me citou, apertando os dentes.
"Eu estou certa?", eu ofeguei.
"Isso importa??"
Eu respirei fundo.
"Na verdade não", eu parei. "Mas eu estou curiosa." Pelo menos minha voz estava
composta.
De repente ele estava resignado. "Você está curiosa sobre o que?"
"Quantos anos você tem?"
"Dezessete", ele respondeu prontamente.
"Há quanto tempo você tem dezessete?"
Seus lábios se contorceram enquanto ele ainda olhava para a estrada.
"A algum tempo", ele admitiu finalmente.
"Ok", eu sorrí, feliz por ele finalmente estar começando a ser honesto comigo. Ele olhou
pra mim com olhos preocupados, como ele tinha olhado antes, quando estava
preocupado que eu entrasse em choque. Eu sorrí para encorajá-lo e ele fez uma careta.
"Não ria de mim - mas como é que você consegue sair durante o dia?"
Ele riu do mesmo jeito. "Mito".
"Você queima no sol?"
"Mito"
"Dorme em caixôes?
"Mito". Ele hesitou por um momento e um tom estranho invadiu sua voz. "Eu não posso
dormir".
Eu levei um minuto para absorver isso. "Nunca?"
"Nunca", ele respondeu, sua voz quase inaudível. Ele voltou a olhar pra mim com uma
expressão tristonha. Os olhos dourados prenderam os meus, e eu perdí a linha de
pensamento de novo. Eu continuei olhando pra ele até que ele virou o olhar.
"Você ainda não perguntou a coisa mais importante". Sua voz estava dura de novo. E
quando ele olhou pra mim, seus olhos estavam frios.
Eu pisquei, ainda deslumbrada. "E qual é?"
"Você não está preocupada com a minha dieta?", ele perguntou sarcasticamente.
"Oh", eu murmurei. "Isso."
"Sim, isso." Sua voz estava vazia. "Você não quer saber se eu bebo sangue?"
Eu vacilei. "Jacob me disse algo sobre isso."
"O que Jacob disse?", ele perguntou monótono.
"Ele disse que você e sua família não...caçam pessoas. Ele disse que você e sua família
não são perigosos porque vocês só caçam animais".
"Ele disse que não éramos perigosos?" Sua voz estava profundamente cética.
"Não exatamente. Ele disse que vocês não deviam ser perigosos. Mas os Quileute não
quiseram vocês nas terras deles, só por precaução".
Ele olhou para a frente, mas eu não sei dizer se ele estava olhando para a estrada ou não.
"Então ele estava certo? Sobre não caçar pessoas?" Eu tentei manter minha voz o mais
uniforme possível.
"Os Quileute têm uma boa memória", ele murmurou.
Eu considerei isso um sim.
"Porém, não deixe isso te enganar",ele avisou. "Eles estavam certos em nos evitar. Nós
ainda somos perigosos."
"Eu não entendo".
"Nós tentamos", ele explicou devagar. "Geralmente somos bons no que fazemos. As
vezes cometemos erros. Eu, por exemplo, me permitindo ficar sozinho com você".
"Isso é um erro?", eu ouví a tristeza na minha voz, mas não sei se ele também ouviu.
"Um erro bem perigoso", ele murmurou.
Nós dois ficamos em silêncio depois disso. Eu observei os faróis virando com as curvas
na estrada. Eles se moviam rápido demais; não parecia ser real, parecia ser um video
game. Eu estava consciente do tempo passando rápido, como a estrada embaixo de nós,
e eu estava com um medo horroroso de nunca mais ter outra oportunidade de ficar assim
a sós com ele- abertamente, as janelas que existiam entre nós haviam desaparecido. As
palavras dele haviam se acabado, e eu não gostei da idéia. Eu não queria perder nem um
minuto que tinha com ele.
"Me conte mais", eu pedí desesperadamente, sem me importar com o que ele disesse,
contanto que eu pudesse ouvir a sua voz de novo.
Ele me olhou rapidamente, surpreso pela mudança do tom da minha voz.
"O que mais você quer saber?"
"Me diga porque você caça animais ao invés de gente", eu sugerí, minha voz ainda
estava cheia de desespero. Eu me dei conta de que os meus olhos estavam molhados, e
lutei contra a aflição que estava tomando conta de mim.
"Eu não quero ser um monstro". Sua voz estava muito baixa.
"Mas animais não são o suficiente?"
Ele parou. "Eu não posso ter certeza, é claro, mas eu acho que é como viver a base de
tofu e leite de soja; nós nos chamamos de vegetarianos, nossa piada particular. Não
sacia a fome -ou melhor dizendo, a sede. Mas nos mantêm fortes o suficiente para
sobrevivermos. Na maioria das vezes". Seu tom se tornou obscuro.
"Umas vezes são mais difíceis que outras".
"É muito difícil pra você agora?", eu perguntei.
Ele suspirou. "Sim".
"Mas você não está com fome agora". eu disse confidencialmente, afirmando , não
perguntando.
"Porque você acha isso?"
"Seus olhos. Eu disse que tinha uma teoria. Eu percebí que as pessoas- homens em
particular - são mais chatos quando estão com fome".
Ele deu uma gargalhada. "Você é muito observadora, não é?"
Eu não respondí, eu só prestei atenção ao som da sua risada, guardando ela na minha
memória.
"Você estava caçando com Emmett esse fim de semana?", eu perguntei quando estava
silencioso de novo.
"Sim", ele pausou por um instante, como se estivesse se decidindo entre me contar
alguma coisa ou não. "Eu não queria ir embora, mas foi necessário. É um pouco mais
fácil ficar perto de você quando eu não estou com sede".
"Porque você não queria ir?"
"Me deixa...nervoso...ficar longe de você." Seus olhos eram gentís, nas intensos, e eles
pareciam estar fazendo os meus ossos amolecerem. "Eu não estava brincando quando te
disse pra ficar longe do oceano ou sobre o acidente na quinta. Eu estava distraído
durante o fim de semana inteiro, preocupado com você. E depois do que aconteceu hoje
á noite, eu estou surpreso que você tenha sobrevivido ao fim de semana sem nenhum
arranhão". Ele balançou a cabeça, e de repente pareceu se lembrar de alguma coisa.
"Bem, não exatamente sem um arranhão"
"O que?"
"Suas mãos", ele me lembrou. Eu olhei para as minhas palmas, para os arranhões quase
sarados. Seus olhos não perdiam nada.
"Eu caí", eu suspirei.
"Foi o que eu pensei." Seus lábios se contorceram nos cantos. "Eu acho que, sendo
você, podia ter sido bem pior- e essa possibilidade me atormentou o tempo inteiro
enquanto eu estive fora. Foram três dias bem longos. Eu deixei o Emmett louco".
Ele sorriu pra mim como se estivesse se sentindo culpado.
"Três dias? Vocês não voltaram hoje?"
"Não, nós voltamos no Domingo".
"Então porque nenhum de vocês foi para a escola?", eu estava frustrada, quase com
raiva por todas as decepções que eu sofrí durante a sua ausência.
"Bem, você perguntou se o sol me machuca, e não machuca. Mas eu não posso sair na
luz do sol- pelo menos, não quando as pessoas estão olhando".
"Porque não?"
"Um dia desses eu te mostro", ele prometeu.
Eu pensei nisso por um momento.
"Você podia ter me ligado", eu decidi.
Ele parecia confuso. "Mas eu sabia que você estava em segurança".
"Mas eu não sabia onde você estava", eu hesitei e depois abaixei os olhos.
"O que?", sua voz aveludada estava compelida.
"Eu não gostei. De não te ver. Me deixou ansiosa também", eu corei dizendo isso em
voz alta.
Ele estava quieto. Eu olhei pra cima, apreensiva, sua expressão estava cheia de dor.
"Ah", ele gemeu baixinho. "Isso não é certo".
Eu não conseguí entender a resposta dele. "O que foi que eu disse?"
"Será que você não vê, Bella? Uma coisa é eu me fazer completamente infeliz. Outra
completamente diferente é você estar tão envolvida".
Ele virou seus olhos angustiados para a estrada, as palavras dele estavam saindo tão
rápidas que eu quase não conseguia entender.
"Eu não quero ouvir que você se sente assim". Sua voz era baixa, mas urgente. As
palavras dele me cortaram. "É errado. Não é seguro.
Eu sou perigoso- compreenda isso, Bella".
"Não", eu fiz de tudo para não parecer uma criança mimada.
"Eu estou falando sério", ele grunhiu.
"Eu também. Eu já falei que não me importo com o que você é. É tarde demais."
A voz dele chicoteou, baixa e forte. "Nunca diga isso".
Eu mordí meu lábio, e estava feliz que ele não sabia o quanto doía. Eu olhei para fora.
Já devíamos estar perto agora. Ele estava dirigindo rápido demais.
"No que você está pensando?", ele perguntou, com a voz ainda dura. Eu só balancei a
cabeça, sem ter certeza se conseguia falar. Eu podia sentí-lo olhando para o meu
rosto,mas continuei olhando para a frente.
"Você está chorando?", ele parecia intimidado. Eu não tinha reparado na umidade que
os meus olhos estavam começando a acumular.
Eu rapidamente passei a mão na minha bochecha, e sem dúvida, lá estavam as lágrimas
traidoras, me delatando.
"Não" eu disse,mas minha voz tremeu.
Eu ví ele levantar a mão direita na minha direção cheio de hesitação, mas então ele
parou e colocou a mão de volta na direção.
"Me desculpe". A voz dele estava queimando de arrependimento. Eu sabia que ele não
estava se desculpando pelas palavras que haviam me aborrecido.
A escuridão nos envolveu em silêncio.
"Me diga uma coisa", ele perguntou depois de outro minuto, eu podia ouví-lo se
esforçar para usar um tom mais leve.
"Sim"
"No que você estava pensando hoje a noite, pouco antes de eu virara na esquina? Eu não
conseguí entender a sua expressão- você não parecia assustada, você parecia estar
bastante concentrada em alguma coisa."
"Eu estava pensando em como incapacitar uma pessoa- você sabe, auto-defesa. Eu ía
enfiar o nariz dele dentro cérebro". Eu pensei no homem de cabelo escuro com uma
onda de ódio me invadindo.
"Você ia lutar com eles?" Isso pareceu aborrecê-lo. "Você não pensou em correr?"
"Quando eu corro eu caio demais", eu admití.
"E quanto a gritar por ajuda?"
"Eu estava chegando nessa parte".
Ele balançou a cabeça. "Você estava certa- eu definitivamente estou lutando contra o
destino tentando manter você viva."
Eu suspirei. Nós estavamos indo mais devagar, passando pela fronteira de Forks. Levou
menos de vinte minutos.
"Eu vou ver você amanhã?", eu perguntei.
"Sim- eu também tenho que entregar o meu trabalho". Ele sorriu.
"Eu vou guardar um lugar pra você no almoço".
Eu fiquei idiota, depois de tudo que passamos essa noite, aquela promessa me fez sentir
borboletas no estômago, e me deixou incapacitada de falar.
Nós estávamos na frente da casa de Charlie. As luzes estavam ligadas, meu carro estava
no lugar, tudo estava extremamente normal.
Era como acordar de um sonho. Ele parou o carro, mas eu não me moví.
"Você promete que vai estar lá amanhã?"
"Eu prometo".
Eu pensei por um momento, depois balancei a cabeça. Eu tirei o seu casaco, dando mais
um cheiradinha.
"Você pode ficar com ele- você não tem um para usar amanhã", ele me lembrou.
Eu entreguei pra ele. "Eu não quero ter que explicar ao Charlie".
"Oh, tudo bem". Ele sorriu.
Eu hesitei, minha mão na maçaneta do carro, tentando prolongar o momento.
"Bella?"- ele perguntou num tom diferente. Sério, mas hesitante.
"Sim?", eu me virei pra ele ansiosa demais.
"Me promete uma coisa?"
"Sim", eu disse e depois me arrependí da minha incondicionalidade. E se ele me pedisse
pra ficar longe dele? Isso eu não podia prometer.
"Não vá na floresta sozinha".
Eu encarei ele confusa. "Porque?"
Ele fez uma carranca, e seus olhos estavam apertados quando ele olhou pela janela.
"Nem sempre eu sou a coisa mais perigosa lá fora. Vamos ficar aqui".
Eu tremí um pouco pela inexpressão da voz dele, mas eu estava aliviada. Essa, pelo
menos, era uma promessa fácil de cumprir.
"Como você quiser".
"Até amanhã", ele suspirou e aí eu percebí que ele queria que eu fosse embora agora.
"Até amanhã, então". Eu abrí a porta sem vontade.
"Bella?" Eu me virei e ele estava inclinado na minha direção, seu rosto pálido, glorioso,
á apenas alguns centímetros de mim. Meu coração parou de bater.
"Durma bem", ele disse. Sua respiração soprou em meu rosto, me deixando fascinada.
Era a mesma essência que exalava do casaco dele, mas numa forma mais concentrada.
Eu pisquei, totalmente ofuscada. Ele se afastou.
Eu não conseguí me mover de novo até que o meu cérebro ficou regulado novamente.
Então eu saí estranhamente do carro, precisando usar alguma coisa como suporte. Eu
pensei ouví-lo sorrindo, mas o som foi baixo demais pra eu ter certeza.
Ele esperou até que eu estivesse na frente da porta, só então ele ligou o motor e eu ouvi
ele dar rá silenciosamente. Eu me virei e ví o carro desaparecendo na esquina. Eu me
dei conta de que estava muito frio.
Eu peguei a chave mecanicamente, abri a porta, e então entrei.
Charlie me chamou da sala de estar. "Bella?"
"Sim, pai, sou eu". Eu entrei pra vê-lo. Ele estava assistindo um jogo de baseball.
"Você chegou cedo."
"Cheguei". Eu estava surpresa.
"Ainda não são nem oito horas", ele me disse. "Vocês se divertiram?"
"Sim- foi muito divertido". Minha cabeça estava dando voltas enquanto eu tentava me
lembrar da noite só de garotas que eu havia planejado. "Elas duas encontraram
vestidos."
"Você está bem?"
"Eu só estou cansada. Eu caminhei demais."
"Bem, talvez fosse melhor você ir se deitar". Ele pareceu preocupado. Eu imaginei
como o meu rosto estaria.
"Eu só vou ligar pra Jéssica primeiro"
"Você não estava com ela?", ele perguntou, surpreso.
"Sim- mas eu deixei meu casaco no carro dela. Eu quero ter certeza de que ela vai levar
para a escola amanhã".
"Bom, pelo menos deixe ela chegar em casa primeiro".
"Certo", eu concordei.
Eu fui direto para a cozinha e caí, exausta, numa cadeira. Eu realmente estava me
sentindo um pouco tonta agora. Eu imaginei se era o choque chegando no fim das
contas. Vê se se controla, eu disse pra mim mesma.
O telefone tocou de repente, me assustado. Eu tirei do gancho.
"Alô?", eu perguntei sem fôlego.
"Bella?"
"Ei, Jess, eu ia ligar pra você."
"Você chegou em casa?" A voz dela estava aliviada...e surpresa.
"Sim. Eu deixei meu casaco no seu carro- você pode levá-lo amanhã?"
"Claro. Mas me conte o que aconteceu!",ela ordenou.
"Um, amanhã- na aula de Trigonometria, está bem?"
Ela entendeu rapidamente. "Oh, seu pai está aí?"
"Sim, é isso mesmo".
"Ok, eu falo com você amanhã, então. Tchau!". Eu podia ouvir a imaciência na voz
dela.
"Tchau, Jess".
Eu subí as escadas lentamente, um torpor dominando a minha mente. Eu me preparei
para ir para a cama sem prestar a mínima atenção com o que estava fazendo. Não foi até
que eu estivesse embaixo do chuveiro - a água muito quente, queimando minha peleque
eu me dei conta de que estava morrendo de frio. Eu tremí violentamente por alguns
minutos até que os jatos de água finalmente relaxaram meus musculos rígidos. Então eu
fiquei embaixo do chuveiro, cansada demais pra me mexer, até que a água quente
começou a acabar.
Eu saí, me envolvi cuidadosamente numa toalha, tentando manter o calor da água para
que os tremores não voltassem. Eu me vestí rapidamente pra ir para a cama e me enfiei
embaixo do edredon, me curvando até ficar no formato de uma bola, me abraçando para
manter o calor. Uns pequenos tremores passaram por mim.
Minha mente ainda estava rodando, cheia de imagens que eu não conseguia entender, e
algumas que eu lutei pra reprimir. Nada perecia estar claro no início, mas quanto mais
perto eu chegava da inconsciência, mais algumas coisas se tornavam evidentes.
Sobre três coisas eu tinha certeza absoluta. Primeira - Edward era um vampiro.
Segunda- havia uma parte dele- e eu não sabia o quão poderosa ela poderia ser- que
tinha sede do meu sangue.
E terceira, eu estava incondicionalmente e irrevogavelmente apaixonada por ele.
10. Interrogatórios
Foi muito difícil, de manhã, discutir com a parte de mim que tinha certeza que a noite
de ontem havia sido um sonho. A lógica não estava ao meu lado, nem o senso comum.
Eu me agarrei ás coisas que eu não podia ter imaginado- como o cheiro dele. Eu estava
certe de que não poderia ter inventado isso tudo sozinha.
Estava nebuloso e escuro lá fora, absolutamente perfeito. Ele não tinha motivos pra não
ir á escola hoje. Eu me vestí com roupas pesadas, me lembrando que não estava com
meu casaco. Mais uma prova de que eu não estava imaginando coisas.
Quando eu descí, Charlie já tinha ido embora- eu estava mais atrasada do que havia
imaginado. Eu engolí uma barra de granola em três mordidas, bebí leite na boca da
garrafa, e corrí para a porta. Com alguma sorte a chuva não começaria antes que eu
encontrasse Jéssica.
Estava mais nebuloso do que o normal; parecia que havia fumaça no ar. A névoa estava
muito gelada quando entrou em contato com as partes expostas do meu rosto e do meu
pescoço. Eu mal podia esperar pra ligar o aquecedor na minha caminhonete. A névoa
estava tão forte que eu já estava a alguns passos da entrada dos carros quando eu percebí
que havia outro carro lá: um carro prateado.
_________________________________________________8

Meu coração estrondou, tremeu, e depois voltou a bater duas vezes mais rápido.
Eu não ví de onde ele tinha vindo, mas de repente ele estava lá, abrindo a porta pra
mim.
"Você quer dar uma volta comigo hoje?", ele perguntou, se divertindo com a minha
expressão de surpresa de novo. Havia uma incerteza na voz dele. Ele realmente estava
me dando a escolha- eu estava livre para recusar, e parte dele esperava que eu fizesse
isso. Ele esperou em vão.
"Sim, obrigada", eu disse, tentando manter minha voz calma. Quando eu entrei no carro
quentinho, eu percebí que o seu casaco estava pendurado no banco do passageiro. Ele
fechou a porta atrás de mim, e tão rápido quanto era possível, ele já estava sentado a
meu lado, ligando o carro.
"Eu trouxe o casaco pra você. Eu não queria que você ficasse doente nem nada
parecido".
Sua voz estava cautelosa. Eu percebí que ele não estava usando casaco nenhum, só uma
blusa de tricô cinza-clara com uma gola em formato de V e mangas compridas. De
novo, o tecido se ajustava no seu peito perfeitamente musculoso. Era uma homenagem
colossal ao seu rosto e eu não conseguia tirar os olhos do seu corpo.
"Eu não sou tão delicada", eu disse, mas coloquei o casaco no meu colo, enfiando os
braços nas mangas compridas demais, curiosa pra ver se o cheiro era mesmo tão bom
quanto eu me lembrava. Era melhor.
"Não é?", ele contradisse com uma voz tão baixa que eu não tenho certeza se ele queria
que eu ouvisse.
Nós dirigimos pela rua encoberta de neblina, indo sempre rápido demais, nos sentindo
estranhos. Pelo menos, eu estava. Na noite passada, as paredes tinham
desaparecido...quase todas. Eu não sabia se continuaríamos sendo tão transparentes
hoje. Eu sentí minha língua presa. Eu esperei que ele falasse.
Ele se virou sorrindo pra mim. "O que foi? Não tem mais umas vinte perguntas pra mim
hoje?"
"As minhas perguntas te incomodam?", eu perguntei aliviada por ele ter falado.
"Não tanto quanto as suas reações ás minhas respostas". Ele parecia estar brincando,
mas eu não tinha certeza.
Eu fiz uma careta. "Eu reajo mal?"
"Não, e esse é o problema. Você aceita tudo tão naturalmente- não é normal. Me faz
imaginar o que você está pensando de verdade".
"Eu sempre te digo o que eu penso"
"Você corta algumas partes", ele acusou.
"Não muitas".
"É o suficiente pra me deixar louco".
"Você não quer ouvir", eu murmurei, quase sussurei. Assim que as palavras sairam, eu
me arrependí de ter falado. A dor na minha voz era quase uma dor física; eu só esperava
que ele não tivesse reparado.
Ele não respondeu, e eu imaginei se tinha estragado o seu bom humor. Seu rosto era
impossível de ler enquanto entrávamos no estacionamento da escola. Um pensamento
retardado passou pela minha cabeça.
"Onde está o resto da sua família?", eu perguntei- mais feliz por estar sozinha com ele,
mas lembrando que o carro costumava estar sempre cheio.
"Eles vieram no carro de Rosalie". Ele levantou os ombros enquanto estacionava ao
lado de um carro vermelho chamativo conversível e com a capota levantada.
"Ostentoso, não é?"
"Umm, uau", eu suspirei. "Se ela tem isso, então porque ela vem de carona com você?"
"Como eu disse, é ostentoso. Nós tentamos passar despercebidos".
"Vocês não têm muito sucesso". Eu sorrí e balancei minha cabeça enquanto saíamos do
carro. Eu não estava mais atrasada; esse motorista lunático me levou para a escola em
tempo suficiente. "Então porque Rosalie veio dirigindo hoje se seria mais notável?"
"Você ainda não percebeu? Eu estou quebrando todas as regras agora". Ele me
encontrou na frente do carro e caminhou muito próximo de mim enquanto entrávamos
na escola. Eu queria diminuir ainda mais a distância, erguer a mão e tocá-lo, mas eu
tinha medo que ele não gostasse.
"Porque vocês têm carros assim?" Eu imaginei em voz alta. "Se vocês procuram
privacidade?"
"Uma indulgência", ele deu um sorriso sem graça. "Todos nós gostamos de dirigir
rápido".
"Dá pra notar", eu murmurei por baixo do fôlego.
Embaixo do telhado de proteção da cafeteria, Jéssica estava me esperando, seus olhos
estavam prestes a sair das órbitas. Sobre o braço dela, seja louvada, estava o meu
casaco.
"Oi, Jéssica", eu disse quando estávamos a apenas alguns passos de distância. "Obrigada
por lembrar". Ela me passou o casaco sem falar nada.
"Bom dia, Jéssica", Edward disse educadamente. Realmente ele não tinha culpa que a
sua voz era tão irresistível. Eu do que os seus olhos eram capazes de fazer.
"Er... Oi." Ela passou os seus olhos arregalados pra mim, tentando recompor seus
pensamentos bagunçados. "Eu acho que a gente se vê na aula de Trigonometria". Ela me
deu uma olhada cheia de significância. Eu prendí um suspiro. O que era que eu ía dizer
pra ela?
"É, eu te vejo lá".
Ela foi embora, parando duas vezes pra olhar pra nós por cima do ombro.
"O que você vai dizer pra ela?", Edward sussurou.
"Ei! Eu achava que você não podia ler minha mente!", eu falei por entre os dentes.
"Eu não posso", ele disse assustado. Então o entendimento brilhou nos seus olhos.
"Contudo, eu posso ler a dela- e ela está esperando pra te pegar na sala de aula".
Eu gemí enquanto tirava o casaco dele e devolvia pra ele, vestindo o meu prórpio. Ele o
dobrou nos braços.
"Então, o que você vai dizer pra ela?"
"Uma ajudinha?", eu implorei. "O que ela quer saber?"
Ele balançou a cabeça, sorrindo estranhamente. "Isso não é justo".
"Não, não compartilhar o que você sabe- isso não é justo".
Ele pensou por um momento enquanto caminhávamos. Nós paramos na porta da sla
onde eu ia ter minha primeira aula.
"Ela quer saber se nós estamos namorando em segredo. E ela quer saber o que você
sente em relação a mim", ele disse finalmente.
"Maravilha. O que eu devo dizer?" Eu tentei manter minha expressão bem inocente. As
pessoas estavam passando por nós a caminho de suas salas, provavelmente olhando pra
nós, mas eu não estava prestando atenção neles.
"Hmmmm..." ele pausou para colocar uma mecha do meu cabelo que estava se soltando
atrás da minha orelha. Meu coração começou a bater rápido demais. "Eu acho que você
deve dizer que sim para a primeira...se você não se incomodar- é mais fácil que dar
outras explicaçôes".
"Eu não me incomodo", eu disse com a voz fraca.
"E quanto á outra pergunta...bem, eu vou estar escutando pra ouvir a resposta dessa".
Um dos cantos do seus lábios se levantou colocando o meu sorriso favorito no rosto
dele. Eu não conseguí recuperar o meu fôlego a tempo de responder a isso. Ele se virou
e foi embora".
"A gente se vê no almoço", ele falou por cima do ombro. Três pessoas que estavam
passando pela porta pararam pra olhar pra mim.
Eu corrí pra dentro da sala, envergonhada e irritada. Ele era um traidor. Agora eu estava
ainda mais preocupada com o que eu ia dizer para Jéssica.
Eu sentei no meu lugar de sempre, derrubando a minha mochila no chão com raiva".
"Bom dia, Bella", Mike disse na cadeira em frente a minha. Eu olhei pra cima pra ver
um rosto estranho, quase resignado. "Como foi em Port Angeles?"
"Foi..." não tinha jeito de encontrar uma palavra que descrevesse com honestidade.
"Ótimo", eu terminei insatisfeita. "Jéssica encontrou um vestido lindo".
"Ela te falou alguma coisa sobre Segunda á noite?", ele me perguntou, seus olhos
estavam brilhando. Eu sorrí com o rumo que a conversa tinha tomado.
"Ela disse que se divertiu muito", eu garantí pra ele.
"Ela disse?", ele perguntou ansiosamente.
"Definitivamente".
O Sr. Mason pediu ordem na sala, pedindo que nós entregássemos os nossos trabalhos.
Inglês e depois História se passaram num sopro, enquanto eu estava preocupada com o
que falaria pra Jéssica e agoniada pra saber se ele realmente estaria ouvindo os
pensamentos de Jess. O talento dele podia ser bem inconveniente- quando não estava
salvando a minha vida.
O nevoeiro já tinha se dissolvido quase completamente no fim da segunda aula, mas o
dia ainda estava escuro, cheio de nuvens pesadas. Eu sorrí para o céu.
Edward estava certo, é claro. Quando eu entrei na aula de Trigonometria, Jéssica já
estava sentada, quase se embolando na cadeira de tanta agitação. Eu estava relutante
quando me sentei ao lado dela, tentando me convencer de que seria melhor acabar logo
com isso de uma vez por todas.
"Me conte tudo!", ela ordenou antes que eu estivesse sentada.
"O que você quer saber?" eu testei.
"O que aconteceu na noite passada".
"Ele me pagou um jantar e depois me levou pra casa".
Ela me encarou, sua expressão estava cética. "Como é que você chegou em casa tão
rápido?"
"Ele dirige como um louco. Eu fiquei morrendo de medo". Eu esperava que ele
estivesse ouvindo isso.
"Foi tipo um encontro - você pediu pra ele te encontrar lá?"
Eu não tinha pensado nisso. "Não- foi muito surpreendente encontrar com ele lá".
Ela fez um biquinho por causa do tom honesto da minha voz
"Mas ele foi te buscar em casa hoje?", ela perguntou.
"Sim- isso também me surpreendeu. Ele percebeu que eu estava sem casaco ontem", eu
expliquei.
"Então vocês vão sair de novo?"
"Ele se ofereceu pra me levar até Seattle no Sábado porque ele acha que o meu carro
não consegue chagar até lá- isso conta?"
"Conta", ela balançou a cabeça
"Bom, então, sim".
"U-A-U". Ela dividiu a palavra em três sílabas. "Edward Cullen".
"Eu sei", eu concordei. 'Uau' não conseguia descrever tudo.
"Peraí", ela levantou as duas mãos,com as palmas na minha direção como se ela
estivesse parando o trânsito. "Ele já te beijou?"
"Não", eu murmurei. "Não é bem assim".
Ela pareceu desapontada. Com certeza, eu também estava.
"Você acha que Sábado...?" Ela ergueu as sobrancelhas.
"Eu realmente duvido". O tom triste da minha voz não dava pra ser disfarçado.
"Sobre o que foi que vocês conversaram?", ela me pressionou por mais informações
num cochicho. A aula já havia começado mas o Sr. Varner não estava prestando a
mínima atenção em nós, e nós não éramos as únicas conversando.
"Eu não sei, Jess,um monte de coisas", eu cochichei de volta. "Nós falamos um pouco
sobre o trabalho de Inglês". Pouco, muito pouco. Eu acho que ele mencionou isso de
passagem.
"Por favor, Bella", ela implorou. "Me dê alguns detalhes".
"Bom...tudo bem,eu te digo um. Você precisava ter visto a garçonete flertando com elefoi
até um pouco demais. Mas ele não estava prestando nem um pouco de atenção".
Deixe ele pensar o que quiser disso.
"Isso é um bom sinal", ela balançou a cabeça. "Ela era bonita?"
"Muito- e provavelmente tinha dezenove ou vinte anos".
"Melhor ainda. Ele deve gostar de você".
"Eu acho que sim, mas é difícil dizer. Ele é sempre tão enigmático". Eu disse isso para o
seu próprio bem, suspirando.
"Eu não sei como você tem coragem suficiente pra ficar sozinha com ele", ela falou.
"Porque?", eu estava chocada, mas ela não entendeu minha reação.
"Ele é tão...intimidante. Eu não saberia o que dizer pra ele."
Ela fez uma careta, provavelmente lembrando dessa manhã ou da noite passada, quando
ele usou o poder devastador do seu olhar sobre ela.
"Eu tenho alguns proplemas com minha coerência quando estou perto dele", eu admití.
"Oh, bem. Ele é inacreditavelmente lindo". Jéssica levantou os ombros como se esse
fato apagasse qualquer falha. E, na cabeça dela, provavelmente apagasse.
"Ele é mais que só isso".
"É mesmo? O que mais?"
Eu devia ter deixado pra lá. Eu esperava que ele não estivesse falando sério sobre ouvir
a conversa.
"Eu não sei explicar direito...mas ele é ainda mais inacreditável por trás do rosto". Um
vampiro que tentava ser bom- que corria pra cim e pra baixo salvando as pessoas pra
não se tornar um monstro... Eu olhei para a frente da sala.
"E isso é possivel?"
Eu ignorei ele, fingindo que estava prestando atenção no que o Sr. Varner estava
dizendo.
"Você gosta dele, então?", ela não ia desistir.
"Sim", eu disse simplesmente.
"Eu quero dizer, você gosta dele de verdade?", ele pressionou.
"Sim", eu disse de novo, corando. Eu esperava que esse detalhe não ficasse gravado na
mente dela.
Ela estava cansada de respostas monosilábicas. "Quanto você gosta dele?"
"Demais", eu cochichei de volta. "Muito mais do que ele gosta de mim. Mas eu não sei
como posso evitar isso". Eu suspirei, corando uma vez atrás da outra.
Então, por sorte, o Sr. Varner chamou Jéssica pra responder uma pergunta.
Ela não teve outra oportunidade de tocar no assunto, e assim que o sinal tocou, eu bolei
uma tática evasiva.
"Na aula de Inglês, Mike me perguntou o que você tinha achado do passeio de
Segunda", eu disse pra ele.
"Você tá brincando! O que foi que você disse?!", ela tentou recuperar o fôlego,
completamente alucinada.
"Eu disse que você tinha se divertido muito- ele pareceu satisfeito".
"Me diga exatamente o que ele disse, e o que você respondeu exatamente!"
N´s passamos o resto do tempo dissecando frases e Passamos boa parte da uala de
Espanhol falando sobre as expressões de Mike. Eu não teriam me demorando tanto
explicando elas, mas eu estava com medo que o assunto voltasse pra mim.
E então o sinal tocou para o almoço. Eu pulei da minha cadeira, enfiando os meus livros
rapidamente dentro da bolsa, minha expressão deve ter alertado Jéssica.
"Você não vai almoçar com a gente hoje, vai?", ela advinhou.
"Eu acho que não". Eu não tinha como saber se ele não ia desaparecer
convenientemente de novo.
Mas do lado de fora da sala de Espanhol, encostado na parede- parecendo mais um Deus
Grego do que uma pessoa tinha o direito de parecer- Edward estava esperando por mim.
Jéssica deu uma olhada, revirou os olhos e desapareceu.
"A gente se vê mais tarde, Bella". A voz dela estava cheia de significado. Eu achei que
seria melhor desligar o telefone quando chegasse em casa.
"Olá", a voz dele estava divertida e irritada ao mesmo tempo. Ele estava ouvindo, era
óbvio.
"Oi".
Eu não conseguí pensar em outra coisa pra dizer, e ele não disse mais nada- passando o
tempo, eu imaginei- então nós ficamos quietos até a cafeteria. Caminhar com Edward
pela cafeteria foi como no meu primeiro dia de aula; todo mundo estava me olhando.
Ele me guiou até a fila, ainda sem falar, apesar de os seus olhos se virarem pro meu
rosto a cada segundo, com uma expressão especulativa. Parecia que a irritação estava se
sobressaindo á diversão. Eu brinquei nervosamente com o zíper do meu casaco.
Ele entrou na fila e começou a encher uma bandeja com comida.
"O que você tá fazendo? Isso tudo é pra mim?"
Ele balançou a cabeça, dando um passo á frente para pagar pela comida.
"Metade é pra mim, é claro".
Eu erguí uma sobrancelha.
Ele me guiou para a mesma mesa onde havíamos nos sentado da primeira vez. De outra
mesa, um grupo de alunos do último ano olhou pra nós estarrecídos enquanto nos
sentávamos na frente um do outro.
Edward parecia obscuro.
"Pegue o que quiser" ele disse, empurrando a bandeja na minha direção.
"Eu estou curiosa". Eu disse enquanto pegava uma maçã, virando ela nas minhas mãos.
"O que você faria se uma pessoa te desafiasse a comer alguma coisa?"
"Você está sempre curiosa". Ele brincou, balançando a cabeça. Ele olhou pra mim,
prendendo o meu olhar enaquanto pegava um pedaço de pizza da bandeja, e
deliberadamente deu uma mordida grande, mastigou rapidamente, e depois engoliu. Eu
observei com os olhos arregalados.
"Se alguém te desafiasse a comer areia, você poderia, não poderia?", ele perguntou.
Eu torcí meu nariz. "Eu já fiz isso uma vez...num desafio. Não foi tão ruim".
Ele sorriu. "Eu acho que não estou muito surpreso". Algo acima do meu ombro pareceu
chamar a atenção dele.
"Jéssica está analizando tudo que eu faço- ela vai falar com você sobre isso depois." Ele
empurrou o resto da pizza pra mim. A menção do nome de Jéssica pareceu deixá-lo
irritado de novo.
Eu coloquei a maçã na mesa e dei uma mordida na pizza, olhando pra longe, sabendo
que ele ia começar a falar.
"Então a garçonete era bonita, não era?", ele perguntou casualmente.
"Você realmente não reparou?"
"Não. Eu não estava prestando atenção. Eu tinha muitas coisas na cabeça".
"Pobre garota", eu podia me dar ao luxo de ser generosa.
"Algo que você disse pra Jéssica...bem, me incomodou". Ele se recusava a se distrair.
Sua voz estava áspera, e ele olhou por baixo dos cílios com um olhar perturbado.
"Eu não estou surpresa que você tenha ouvido algo de que não tenha gostado. Você sabe
o que as pessoa dizem sobre espionar". Eu avisei.
"Eu te disse que estaria ouvindo"
"E eu te avisei que você não ia querer saber tudo o que eu pensava".
"Você avisou", ele concordou, mas sua voz ainda estava dura. "Porém, você não estava
precisamente certa. Eu quero saber o que você pensa- tudo. Eu só queria que você não
estivesse pensando em ...algumas coisas".
Eu fiz uma cara feia. "Isso é uma distinção".
"Mas não é isso que importa no momento".
"Então o que é?" Nós dois estávamos inclinados sobre a mesa na direção um do outro
agora. Suas longas mãos estavam dobradas embaixo do queixo; eu me inclinei para a
frente, minha mão direita estava ao redor do meu pescoço. Eu tinha que me lembrar que
estávamos numa sala lotada, provavelmente cheia de olhos curiosos. Era fácil demais
ficar presa na privacidade da nossa pequena bolha de tensão.
"Você realmente acredita que gosta de mim mais do que eu gosto de você?", ele
murmurou, se inclinando pra mais perto enquanto falava, seus olhos dourados eram
penetrantes. Eu tentei me lembrar de respirar. Eu tive que olhar pra outro lugar até que
ela voltasse.
"Você está fazendo isso de novo", eu murmurei.
Os olhos dele ficaram grandes de supresa. "O que?"
"Me deixando deslumbrada", eu admití, tentando me concentrar enquanto olhava pra
ele.
"Oh",ele fez uma careta.
"Não é sua culpa", eu suspirei. "Você não consegue evitar".
"Você vai responder a pergunta?"
Eu olhei pra baixo. "Sim".
"Sim, você vai responder; ou sim, você realmente acha isso?" Ele estava irritado de
novo.
"Sim, eu realmente acho isso". Eu mantive os meus olhos na mesa, meus olhos
traçavam os contornos da mesa de madeira. O silêncio se arrastou. Eu estava
teimosamente decidida a não ser a primeira a falar, lutando com a vontade de dar uma
espiadinha na expressão dele.
Finalmente ele falou, sua voz aveludada estava macia. "Você está errada".
Eu olhei pra cima pra ver que seus olhos estavam gentís.
"Você não tem como saber isso", eu discordei num murmúrio. Eu balancei a cabeça em
dúvida, apesar das palavras dele terem balançado meu coração e de eu querer tanto
acreditar nelas.
"O que te faz pensar isso?" Seus olhos da cor do topázio eram penetrantes- tentando
futilmente, eu pensei, tentar a verdade diretamente da minha mente.
Eu encarei de volta, tentando pensar claramente a despeito do rosto dele, para achar
alguma explicação. Eu procurei as palavras, eu podia vê-lo ficando impaciente; ficando
frustrado com o meu silêncio.
Ele estava começando a ficar carrancudo. Eu levantei minha mão do pescoço, e levantei
um dedo.
"Me deixe pensar", eu insistí. A expressão dele ficou mais amena, agora que ele sabia
que eu estava planejando uma resposta. Eu coloquei minha mão na mesa e moví a mão
esquerda para que as duas palmas ficassem juntas. Eu olhei para as minhas mãos,
cruzando e descruzando os dedos, e finalmente falei.
"Bem, tirando o óbvio, as vezes..." eu hesitei. "Eu não posso ter certeza - eu não leio
mentes- mas as vezes parece que você está querendo dizer adeus,mas diz outra coisa".
Foi o melhor que eu pude fazer para avaliar a angústia que suas palavras me causavam
as vezes.
"É uma questão de perceptiva", ele cochichou. E então lá estava a angústia de novo, sua
expressão confirmou os meus medos. "Porém, é exatamente por isso que você está
errada.", ele começou a explicar, mas seus olhos reviraram. "O que você quis dizer com
'o óbvio'?"
"Bem, olhe pra mim", eu disse desnecessariamente, ele já estava olhando. "Eu sou
absolutamente normal- bem, com excessão das experiências de quase-morte e de ser tão
atrapalhada que eu quase chego a ser uma inválida. E olhe pra você". Eu abanei minha
mão na direção da sua perfeição desconcertante.
As sobrancelhas dele se uniram por um instante, mas depois se suavizaram quando ele
fez uma cara de sabe-tudo.
"Você não se vê muito claramente, sabe. Eu tenho que admitir que você estava certa
sobre as experiências de quase-morte" ele sorriu obscuramente, "mas você não ouviu o
que todos os seres humanos do sexo masculino nessa escola pensaram de você no seu
primeiro dia".
Eu pisquei, desnorteada. "Eu não acredito..." , eu murmurei pra mim mesma.
"Confie em mim - você não tem nada de comum".
Minha vergonha foi muito maior do que o meu prazer quando eu ví o seu olhar
enquanto ele dizia essas palavras. Eu rapidamente me lembrei do assunto original da
discursão.
"Mas não sou eu que quero me despedir", eu apontei
"Você não vê? É isso que prova que eu estou certo. Eu me importo mais, se eu não
posso fazer isso"- ele balançou a cabeça, parecendo lutar contra esse pensamento- "Se ir
embora é a coisa certa a se fazer, então eu vou me machucar pra não machucar você, pra
te manter a salvo".
Meus olhos faiscaram na direção dele. "E você acha que eu não faria a mesma coisa?"
"Você nunca teria que tomar essa decisão".
Abruptamente, seu humor imprevisível mudou de novo um sorriso travesso, devastador
transformou o seu rosto. "É claro que manter você viva é um trabalho em período
integral que requer minha presença constante".
"Ninguém tentou me matar hoje" Eu lembrei ele,feliz com o assunto mais leve. Eu não
queria mais falar de despedidas. Se eu tivesse que fazer isso, eu colocaria a minha vida
em perigo constante só pra mantê-lo perto... eu baní esse pensamento antes que seus
olhos rápidos pudessem lê-los no meu rosto. Essa idéia definitivamente ia me meter em
encrenca.
"Ainda", ele adicionou.
"Ainda", eu concordei; eu podia ter discutido, mas agora eu queria que ele estivesse
preparado pra enfrentar desastres.
"Eu ainda tenho outra pergunta", seu rosto ainda estava casual.
"Manda".
"Você realmente precisa ir á Seattle esse Sábado ou só está fazendo isso pra ficar longe
dos seus admiradores?"
Eu fiz uma careta quando lembrei disso. "Você sabe, eu ainda não te perdoei pelo lance
com Tyler", eu avisei. "É por sua culpa que ele fica tendo essas ilusões sobre me levar
para o baile de fim de ano".
"Oh, ele teria encontrado uma chance de te convidar sem a minha ajuda- eu só queria
olhar a sua cara quando ele fizesse isso", ele deu uma gargalhada. Eu teria ficado com
mais raiva se o sorriso não fosse tão fascinante. "Se eu tivesse te convidado, você teria
me dispensado?", ele perguntou, ainda rindo pra sí mesmo.
"Provavelmente não", eu admití. "Mas eu teria ligado depois pra desmarcar- dizendo
que estava doente ou que tinha torcido o tornozelo".
Ele estava confuso. "Porque você faria isso?"
Ele pareceu confuso. "Porque você faria isso?"
Eu balancei a cabeça tristemente. "Você nunca me viu na aula de Educação física, eu
acho, mas se você tivesse visto você entenderia".
"Você está se referindo ao fato de que não consegue andar sobre uma superfície plana e
estável sem encontrar algo em que tropeçar?"
"Obviamente".
"Isso não seria uma problema", ele disse confiante. "Tudo depende de quem conduz".
Ele viu que eu estava prestes a protestar, então me cortou. "Mas você não me dissevocê
está resolvida a ir á Seattle ou não se incomodaria se fizessemos algo diferente?"
Contanto que o "nós" estivesse envolvido, eu não me importava muito com o resto.
"Eu estou aberta a alternativas", eu deixei. "Mas eu tenho que te pedir um favor".
Ele me olhou cauteloso, já que eu havia feito uma pergunta aberta.
"O que é?"
"Eu posso dirigir?"
Ele fez uma careta. "Porque?"
"Bem, pra começar, quando eu disse que ia a Seattle, Charlie me perguntou
especificamente se eu ia sozinha, e na época, eu ia. Se ele tivesse perguntado de novo,
eu provavelmente não mentiria, mas eu não acho que ele vai perguntar de novo, e deixar
o meu carro emcasa só vai levantar suspeitas desnecessárias. E também, o seu jeito de
dirigir me assusta."
Ele revirou os olhos. "Com todas as coisas que podiam te assustar, você se preocupa
com o jeito que eu dirijo". Ele balançou a cabeça cheio de desgosto, mas então seus
olhos ficaram sérios de novo.
"Porque você não contou ao seu pai que passaria o dia comigo?" Havia outro
significado nessa pergunta, que eu não conseguí entender.
"Com Charlie, menos é sempre mais", eu estava resolvida sobre isso.
"Pra onde vamos afinal?"
"O clima vai estar ensolarado, então eu vou me manter londe dos olhares do público...e
você pode ficar comigo se quiser". De novo, ele estava me deixando escolher.
"E você vai me mostrar o que acontece com o sol?", eu perguntei, excitada com a idéia
de ver mais um dos seus segredos sendo revelados.
"Sim", ele sorriu e depois pausou. "Mas se você não quiser... ficar sozinha comigo, eu
ainda preferiria que você não fosse á Seattle sozinha. Eu tremo só de pensar nos
problemas que você pode encontrar numa cidade daquele tamanho".
Eu estava zangada. "Phoenix é três vezes maior- só em população. No tamanho físico..."
"Mas aparentemente", ele me interrompeu, "Você não estava marcada para morrer em
Phoenix. Então eu preferiria que você ficasse perto de mim". Seus olhos estavam
flamejantes daquele jeito injusto de novo.
Eu não podia discutir, nem com os olhos nem com a motivação, e era uma discursão
que eu ia perder do mesmo jeito. "E acontece, que eu não me incomodo de ficar sozinha
com você".
"Eu sei", ele suspirou, meditando. "Contudo, eu acho que você devia contar para o
Charlie".
"E porque razão eu faria isso?"
Seus olhos ficaram ferozes de repente. "Pra me dar um pequeno incentivo pra te trazer
de volta".
Eu engolí seco. Mas depois de alguns segundos,minha decisão estava tomada. "Eu acho
que vou me arriscar".
Ele exalou o ar com raiva, e desviou o olhar.
"Vamos falar de outra coisa", eu sugerí.
"Sobre o que você quer falar?", ele perguntou. Ele ainda estava aborrecido.
Eu dei uma olhada ao nosso redor, me certificando de que ninguém poderia nos ouvir.
Enquanto passava os olhos pelo lugar, meus olhos encontraram os da irmão de Edward,
Alice, que estava me observando.
Os outros estavam olhando para Edward. Eu desviei o olhar depressa, olhando pra
Edward, e perguntei a primeira coisa que me passou pela cabeça.
"Porque você foi á Pedra da Cabra no último fim de semana...pra caçar? Charlie disse
que não é um bom lugar porque lá tem muitos ursos".
Ele me encarou como se eu estivesse deixando passar algum detalhe óbvio.
"Ursos?" Eu engasguei e ele sorriu. "Sabe, não é temporada de ursos" e falei por fora
pra esconder o meu choque.
"Se você ler cuidadosamente, as leis impedem as pessoas de caçar com armas de fogo",
ele me informou.
Ele observou o meu rosto com prazer enquanto a minha ficha caía.
"Ursos?", eu repetí com dificuldade.
"Grizzly é a espécie favorita de Emmett." A sua voz ainda estava normal, mas os seus
olhos estavam analizando a minha reação.
Eu tentei me recompor.
"Hmmm", eu disse comendo outro pedaço da pizza como um desculpa pra olhar pra
baixo. Eu mastiguei lentamente, e bebi um gole de refrigerante sem olhar pra cima.
"Então", eu disse depois de um momento, finalmente encontrando seus olhos que agora
estavam ansiosos. "Qual é o seu favorito?"
Ele ergueu uma sobrancelha e os cantos da boca dele se curvaram pra baixo, em
desaprovação.
"Leão da Montanha".
"Ah", eu disse num tom de desinteresse educado, olhando para a minha lata de
refrigerante.
"É claro", ele disse, com um tom que imitava o meu, "Que nós temos que tomar cuidado
para não causar um grande impacto no meio-ambiente com as nossas caçadas. Nós
tentamos nos manter nas áreas onde os indices predatórios são menores- indo pra tão
longe quanto for necessário. Sempre têm muitos veados e alces por aqui, e eles servem,
mas onde está a graça nisso?"
Ele sorriu me provocando.
"Realmente", eu murmurei mordendo outro pedaço de pizza.
"O começo da primavera é a época de ursos favorita de Emmett- eles estão saindo da
hibernação, então eles estão mais irritáveis", ele sorriu se lembrando de alguma piada.
"Nada mais divertido que irritar um urso pardo", eu concordei, balançando a cabeça.
Ele sorriu silenciosamente, balançando a cabeça. "Me diga o que você realmente está
pensando,por favor".
"Eu estou tentando imaginar a cena- mas não consigo", eu admití. "Como você caça um
urso sem armas de fogo?"
"Oh, nós temos armas" ele mostrou seus dentes num breve sorriso ameaçador.
Eu lutei contra um arrepio antes que ele me expusesse. "Só que elas não são do tipo que
se leva em consideração quando fazem as leis de proibição. Se você já viu um ataque de
ursos na televisão, você deve ser capaz de imaginar Emmett caçando".
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Eu não conseguí eviter o calafrio que percorreu a minha espinha. Eu olhei pela cafeteria
na direção de Emmett, filiz por ele não estar olhando pra mim. Os grossos músculos que
envolviam seus braços e o seu torax eram de alguma forma ainda mais ameaçadores
agora.
Edward seguiu omeu olhar e deu uma gargalhada. Eu olhei pra ele enervada.
"Você é como umo um urso também?", eu perguntei em voz baixa.
"Mais como um leão, ou pelo menos é o que eles me dizem", ele disse levemente.
"Talvez as nossas preferências sejam indicativos".
Eu tentei sorrir. "Talvez", eu repetí. Mas minha cabeça estava cheia de imagens
contraditória que eu não conseguia agrupar. "Isso é algo que eu posso vez um dia?"
"Absolutamente não!" Seu rosto ficou ainda mais pálido que o natural, e seus olhos
estavam furiosos.
Eu me inclinei pra trás, assustada e- apesar de eu nunca ser capaz de admitir pra elecom
medo da sua reação. Ele também se inclinou pra trás, cruzando os braços no peito.
"Assustador demais pra mim?" eu perguntei quando conseguí controlar minha voz de
novo.
"Se o problema fosse só esse, eu te levaria lá hoje á noite", ele disse com uma voz
cortante. "Você precisa de uma dose saudável de medo. Nada poderia ser mais
beneficial pra você."
"Então porque?", eu pressionei, tentando ignorar a sua expressão de raiva.
Ele olhou pra mim por um longo minuto.
"Mais tarde", ele disse finalmente, se levantando com um movimento gracioso. "Nós
vamos nos atrasar".
Eu olhei ao redor, alarmada de ver que ele estava certo, e a cafeteria já estava quase
vazia. Quando eu estava com ele, o tempo e o espaço eram tão escorregadios que eu
acabava perdendo a noção dos dois. Eu me pus de pé num pulo, pegando a minha
mochila que estava atrás da cadeira.
"Mais tarde, então", eu concordei. Eu não ia me esquecer.
11. Complicações
Todo mundo olhou para gente enquanto estávamos andando para nossa mesa no
laboratório. Eu notei que ele não mas havia sentado tão longe de mim quanto a mesa o
permitia. Ao contrario, ele sentou um tanto perto de mim. Nossos braços quase se
tocando.
Mr. Barner voltou para dentro da classe então – que precisão de tempo o cara tinha –
empurrando um suporte alto de metal sobre rodas que sustentava uma pesada, antiga TV
e um VHS. Uma aula de filme – a animação da atmosfera na classe era quase tocável.
Mr. Barner empurrou a fita para dentro do relutante VHS e andou até o outro lado da
sala para desligar as luzes.
E então, quando a sala ficou escura, eu repentinamente fique alarmada que Edward
estava sentado a menos de uma polegada de mim. Eu estava impressionada com a
inesperada eletricidade que passou por mim, fascinada de que eu podia ficar mais perto
dele sem correr risco do que eu ficava. Um louco impulso de estender as mãos e toca-lo,
de acariciar sua perfeita face só uma vez no escuro, instantaneamente me inundou. Eu
apertei meus braços com força sobre meu peito, minha mão cerrada. Eu estava perdendo
minha cabeça.
Os créditos de abertura começaram, iluminando a sala com um pouco de luz. Meu
olhos, com sua próprio vontade, olharam para ele. Eu sorri timidamente assim que
percebi que sua postura era idêntica a minha, mãos cerradas sobre seus braços, por
debaixo de seus olhos, espreitando de lado para mim. Ele sorriu de volta, seus olhos
parecendo fogo, mesmo no escuro. Eu olhei para o lado antes de poder começar a
respirar rápido. Era absurdamente ridículo que eu podia me sentir tão estonteada assim.
As horas pareciam muito longas. Eu não conseguia me concentrar no filme - eu não
sabia nem ao menos sobre qual assunto ele era. Eu tentei, sem sucesso, relaxar, mas a
corrente elétrica que parecia vir de algum lugar do corpo dele nunca diminuia.
Ocasionalmente eu me permitia olhar rapidamente na direção dele, mas ele também
parecia nunca relaxar. O desejo predominante de tocá-lo também parecia nunca
murchar, e eu pressionei meus punhos seguramente contra minhas costelas até que meus
dedos estavissem doendo do esforço.
Eu suspirei de alívio quando Mr. Banner acendeu novamente as luzes no fim da aula, e
eu estiquei meus braços em frente a mim, flexionando meus dedos rígidos. Edwad riu
ao meu lado.
"Bem, aquilo foi interessante," ele murmurou. Sua voz estava sombria e seus olhos eu
cautelosos.
"Hmmm," era tudo que eu conseguia responder.
"Devemos?" ele perguntou, levantando sem estabilidade.
Eu quase gemi. Hora do ginásio. Eu continuei com cuidado, preocupada se meu
equilíbrio poderia ter sido afetado pela estranha nova força entre nós.
Ele me acompanhou para minha próxima aula em silêncio e parou na porta; eu virei pra
dizer tchau. O rosto dele me encarou - sua expressão estava despedaçada, quase
dolorida, e tão cruelmente bonita que a vontade de tocá-lo incendiou-se mais forte do
que antes. Meu adeus parou na minha garganta.
Ele levantou sua mão, hesistante, uma luta enfurecendo-se em seus olhos, e então
rapidamente roçou um pedaço da minha bochecha com a ponta de seus dedos. Sua pele
estava gelada como sempre, mas o rastro que seus dedos deixaram em minha pele era
alarmantemente quente - como se eu tivesse sido queimada, mas eu ainda não sentia a
dor disso.
Ele se virou sem uma palavra e caminhou rapidamente para longe de mim.
Eu andei para dentro do ginásio, tonta e hesitante.
Eu fui até o armário do vestiário, vagamente havia outras pessoas me rodeando. Na
realidade não estava muito cheio até agora, eu estava segurando uma raquete. Isso não
era pesado, mas sentir que era perigoso na minha mão. Eu podia ver algumas crianças
da outra turma olhavam-me furtivamente. O treinador Clapp ordenou que nos
formássemos times. Piedosamente algum vestígio de cavalheirismo ainda sobrevivia em
Mike; ele veio pra o meu lado.
“Você quer entrar no time?”
“Obrigada Mike. Sabe que não precisa fazer isso, você sabe disso”. Eu fiz uma careta de
desculpa.
“Não se preocupe. Eu vou ficar longe do seu caminho”. Ele sorriu, às vezes é fácil ser
como o Mike.
Eu não ia bajular de maneira nenhuma, para acerta-me com a minha raquete e vê o
ombro de Mike balançar igualmente.
Eu passei o resto do tempo no canto de trás do quadra, segurando a raquete a salvo atrás
das minhas costas.
Apesar de ter sido limitado por mim, Mike era muito bom, ele ganhou três jogos de
quatro sozinho. Ele me deu um não merecido gesto de parabéns quando o técnico
finalmente assobiou acabando a aula.
"Então," ele disse enquanto nós andávamos para fora da quadra.
"Então o que?"
"Você e Cullen, hm?" ele perguntou, seu tom era rebelde. Meu anterior sentimento de
afeição desapareceu.
"Isso não é da sua conta, Mike," Eu avisei, internamente amaldiçoando Jessica
diretamente para as ardentes chamas de Hades.
"Eu não gosto disso," ele murmurou de qualquer forma.
"Você não tem que gostar," eu rangi os dentes.
"Ele olha pra você como... como se você fosse algo pra comer," ele continuou, me
ignorando.
Eu abafei a histeria que ameaçava explodir, mas um pequeno riso amarelo conseguiu
sair apesar de meus esforços. Ele olhou com raiva pra mim. Eu virei e escapei para a
sala dos armários.
Eu me troquei rapidamente, alguma coisa mais estranha do que borboletas se atacando
afobadamente contra as paredes do meu estômago, minha discussão com Mike já em
uma memória distante. Eu estava pensando se Edward estaria me esperando, ou se eu
deveria encontrá-lo no carro dele.
E se a família dele estivesse lá? Eu senti uma onda de terror verdadeiro. Eles sabiam
que eu sabia? Eu deveria saber que eles sabiam que eu sabia, ou não?
Enquanto eu saia da quadra, eu tinha acabado de decidir de andar para casa sem nem ao
menos olhar para o estacionamento. Mas meus temores eram desnecessários. Edward
estava me esperando, apoiado casualmente contra a parede do ginásio, seu rosto de tirar
o fôlego agora tranquilo. Enquanto eu andava para o lado dele, eu senti um peculiar
sentimento de alívio.
"Oi", eu respirei, dando um enorme sorriso.
"Olá", seu sorriso de resposta foi brilhante. "Como foi a aula?"
Meu rosto caiu um pouquinho. "Bem", eu mentí.
"Mesmo?", ele não estava convencido. Seus olhos viraram rapidamente me olhando por
cima do ombro e se estreitaram. Eu olhei pra trás e ví Mike de costas enquanto ele ia
embora.
"O que foi?", eu quis saber.
Os olhos dele reencontraram os meus, ainda estreitos. "Newton está começando a me
irritar".
"Você estava ouvindo de novo?", o horror me abateu. Todos os traços do meu bom
humor desapareceram.
"Como está a sua cabeça?", ele perguntou inocentemente.
"Você é inacreditável!", eu me virei, caminhando a passos largos na direção do
estacionamento, apesar de ainda não estar conseguindo andar direito nesse momento.
Ele me acompanhou facilmente.
"Foi você quem mencionou que eu nunca havia te visto na aula de Educação física- eu
fiquei curioso". Ele não parecia estar arrependido, então eu ignorei ele.
Nós caminhamos em silêncio- um silêncio furioso, e envergonhado da minha parte- para
o carro dele. Mas eu tive que parar á alguns passos de distância- uma multidão de
pessoas, todos garotos, estavam cercando ele.
Então eu percebí que eles não estavam cercando o Volvo, na verdade eles estavam
cercando o conversível vermelho de Rosalie, cheios de luxúria nos olhos. Nenhum deles
sequer olhou pra Edward quando ele passou para abrir a porta dele, eu também entrei
rapidamente no carro, também passando despercebida.
"Ostentação", ele cochichou.
"Que carro é esse?", eu perguntei.
"Um M3"
"Eu não falo essa língua".
"É uma BMW", ele revirou os olhos, sem olhar pra mim, tentando dar a ré sem atropelar
os entusiamados por carros.
Eu balancei a cabeça- esse nome eu conhecia.
Ele suspirou. "Você vai me perdoar se eu pedir desculpa?"
"Talvez...se você estiver falando sério. E se você prometer que não vai fazer de novo",
eu insistí.
Seus olhos de repente estavam astutos. "E se eu estiver falando sério, e se eu deixar
você dirigir Sábado?"
Ele analisou as minhas condições.
Eu considerei, e decisí que provavelmente era o melhor que eu podia conseguir.
"Fechado", eu concordei.
"Então eu sinto muito por ter te aborrecido". Seus olhos arderam de sinceridade por um
momento- brincando com o ritmo do meu coração - e depois ficaram divertidos. "E eu
vou estar na porta da sua casa assim de o Sábado começar a brilhar".
"Umm, não ajuda muito na minha situação com Charlie se um Volvo ficar
inexplicavelmente largado na entrada".
Seu sorriso estava condescendente. "Eu não pretendia levar o carro".
"Como-"
Ele me cortou. "Não se preocupe com isso. Eu vou estar lá, sem carro."
Eu deixei pra lá. Eu tinha uma pergunta mais importante.
"Isso já é mais tarde?", eu perguntei significantemente
Ele fez uma careta. "Eu acho que isso é mais tarde".
Eu mantive minha expressão educada enquanto esperava.
Ele parou o carro. Eu olhei pra cima, surpresa- é claro que já estávamos na casa de
Charlie, parados atrás da caminhonete. Quando eu olhei de volta pra ele, ele estava me
encarando, me medindo com os olhos.
"E você ainda quer saber porque não pode me ver enquanto eu estou caçando?". Ele
pareceu solene, mas eu pensei estar vendo um traço de humor no fundo dos seus olhos.
"Bem", eu esclarecí. "Eu estava pensando mais na sua reação".
"Eu te assustei?" Sim, definitivamente havia humor alí.
"Não", eu mentí, mas ele não acreditou.
"Eu me desculpo por ter te assustado", ele persistiu com um leve sorriso, mas então
todos os sinais de brincadeira desapareceram.
"Foi por causa do pensamento de você estar lá...enquanto nós caçamos". Sua mandíbula
se apertou.
"Isso seria ruim?"
Ele falou por entre os dentes. "Extremamente".
"Porque...?"
Ele respirou fundo e olhou pelo para-brisa para as nuvens grossas que rolavam no céu,
tão baixas que pareciam estar ao alcance do toque.
"Quando estamos caçando", ele falou devagar, sem vontade. "Nós nos entregamos aos
nossos sentidos...perdemos o controle sobre nossas mentes. Especialmente o olfato. Se
você estivesse em qualquer lugar perto de mim quando eu estivesse descontrolado desse
jeito..." Ele balançou a cabeça, ainda olhando sombriamente para as nuvens.
Eu mantive minha expressão firmemente controlada, esperando a rápida olhada que ele
logo me daria pra analisar minha reação. Minha expressão não me traiu.
Mas os nossos olhsres ficaram presos, o silêncio ficou mais profundo- e mudou. As
fagulhas que eletricidade que eu havia sentido essa tarde começaram a reaparecer
enquanto ele olhava impiedosamente para os meus olhos. Eu só percebí que não estava
respirando quando minha cabeça começou a ficar pesada. Quando eu soltei o ar,
quebrando o gelo, ele fechou os olhos.
"Bella, eu acho que você devia entrar". Sua voz estava áspera, seus olhos nas nuvens de
novo.
Eu abrí a porta, a brisa gelada que entrou no carro ajudou a clarear minha cabeça. Com
medo de cair no meu estado de deslumbramento, eu saí cuidadosamente do carro e
fechei a porta sem olhar pra trás. O ruído da janela automática se abrindo fez eu me
virar.
"Oh, Bella?", ele me chamou, a voz mais uniforme. Ele se inclinou na direção da janela
aberta com um fraco sorriso nos lábios.
"Sim?"
"Amanhã é minha vez."
"Sua vez de que?"
Seu sorriso aumentou, fazendo os dentes brilharem. "Fazer as perguntas".
E então ele foi embora, o carro correndo rua abaixo e virando na esquina antes que eu
pudesse realinhar meus pensamentos. Eu sorrí enquanto caminhava pra dentro de casa.
Estava claro que ele planejava me ver no dia seguinte, se não antes.
Naquela noite, Edward foi o ator principal dos meus sonhos, como sempre. No entanto,
o clima do meu inconsciente havia mudado. Eu estava cheia com a mesma eletricidade
que havia sentido durante a tarde, e me virava e me enrolava sem parar, acordando
várias vezes.
Foi só nas primeiras horas da manhã que eu caí num sono exausto, sem sonhos.
Quando eu acordei ainda estava cansada, mas afiada. Eu coloquei meu casaco marrom e
minha calça jeans, e suspirei sonhando com blusas de alcinhas e shorts.
O café da manhã foi exatamente o evento quieto que eu esperava que fosse. Charlie
fritou ovos pra ele; eu comí uma tigela de cereais. Eu imaginei se ele tinha esquecido
sobre esse Sábado. Ele respondeu a pergunta que eu não fiz enquanto levantava pra
colocar o seu prato na pia.
"Sobre esse Sábado..." ele começou, andando pela cozinha e ligando a torneira.
Eu gelei. "Sim ,pai?"
"Você ainda está pretendendo ir á Seattle?", ele perguntou.
"Esse é o plano", eu fiz uma careta, desejando que ele não tivesse tocado no assunto pra
eu não ter que inventar meias verdades.
Ele espremeu um pouco de detergente no prato dele e o esfregou com uma escova.
"Você tem certeza que não voltar a tempo para o baile?"
"Eu não vou ao baile ,pai", eu esclarecí.
" Ninguém te convidou?", ele perguntou, tentando esconder a sua preocupação com o
prato.
Eu comecei a andar no campo minado. "É uma escolha das garotas".
"Oh", ele meditou enquanto secava o prato.
Eu sentí simpatia por ele. Deve ser difícil, ser uma pai; convivendo com o medo de que
sua filha encontre um garoto de quem ela goste, mas também se preocupando por ela
não encontrar.
Eu imaginei o quanto seria horrível se Charlie soubesse de quem eu gostava.
Charlie foi embora nessa hora, com um aceno de adeus, e eu subí pra escovar meus
dentes e pegar meus livros. Quando eu ouví a viatura ir embora, eu só tive que esperar
alguns segundos para ir espiar pela janela. O carro prateado já estava lá, esperando no
espaço de Charlie na entrada.
Eu desci correndo a escada e saí, imaginando quanto tempo essa rotina bizarra ainda
duraria. Eu não queria que acabasse nunca.
Ele esperou dentro do carro, parecendo nem ter me visto enquanto eu fechava a porta
atrás de mim sem me incomodar em trancar com a chave. Eu caminhei para o carro
parando timidamente antes de abrir a porta e entrar.
Ele estava sorrindo, relaxado- e como sempre, o sorriso era lindo e perfeito demais pra
explicar.
"Bom dia", sua voz estava aveludada. "Como você está hoje?" Seus olhos examinaram
meu rosto, como se a pergunta fosse algo mais que um simples gesto de educação.
"Bem ,obrigada". Eu estava sempre bem- muito mais que bem- quando estava perto
dele.
Seus olhos se demoraram nos círculos embaixo dos meus olhos. "Você parece cansada".
"Eu não conseguí dormir", eu confessei, automaticamente jogando um pouco de cabelo
por cima dos ombros para cobrir um pouco do rosto.
"Eu também não", ele brincou enquanto ligava o motor. Eu estava me acostumando com
o ronco suave. Eu tinha certeza que o ronco da minha camonhonete ia me assustar
quando eu fosse dirigí-la de novo.
Eu sorrí. "Eu acho que está tudo bem. Eu só dormí um pouco mais que você".
"Eu aposto que sim".
"Então,o que você fez na noite passada?", eu perguntei.
Ele deu uma gargalhada. "Sem chance. Hoje é meu dia de fazer as perguntas".
"As, é mesmo. O que você quer saber?", minha testa se enrugou. Eu não conseguia
imaginar alguma coisa sobre mim que pudesse ser interessante pra ele.
"Qual é a sua cor favorita?", ele perguntou, o seu rosto estava sério.
Eu revirei os olhos. "Muda todo dia".
"Qual é a sua cor favorita hoje?" Ele ainda estava solene.
"Provavelmente marrom". Eu tinha a tendência de me vestir de acordo com o meu
humor.
Ele deu um sopro, a expressão séria desapareceu. "Marrom?", ele perguntou cético.
"Claro, marrom é morno. Eu sinto falta do marrom. Tudo que era pra ser marromtroncos
de árvore, pedras, terra- está coberto de verde aqui", eu reclamei.
Ele pareceu fascinado com o meu pequeno discurso. Ele pensou por um momento,
olhando nos meus olhos.
"Você está certa", ele decidiu, sério de novo. "Marrom é morno". Ele se aproximou
rapidamente, mas de certa forma ainda hesitante, pra colocar o meu cabelo de volta atrás
do ombro.
A essa hora já estávamos na escola. Ele se virou pra mim enquanto colocava o carro na
vaga do estacionamento.
"Qual é a música que está tocando no seu CD palyer nesse momento?", ele me
perguntou, seu rosto estava tão sombrio como se ele estivesse me perguntando um
segredo mortal.
Eu me dei conta de que não havia removido o CD que Phil havia me dado. Quando eu
disse o nome da banda, ele deu um sorriso torto, uma expressão peculiar nos olhos. Ele
abriu um compartimento embaixo do CD pçayer do carro dele, puxou um dos mais de
trinta CD's que haviam lá dentro, e me entregou.
"De Debussy pra isso?", ele ergueu uma sobrancelha.
Era o mesmo CD. Eu examinei a capa familiar, mantendo meus olhos virados pra baixo.
Nós continuamos assim o dia inteiro. Enquanto ele me acompanhava para a aula de
Inglês, quando ele foi me buscar na aula de Espanhol, durante todo o almoço, ele me
questionava incessantemente sobre cada detalhe insignificante da minha existência.
Filmes que eu gostava e que detestava, os poucos lugares que eu conhecia e os muitos
que gostaria de conhecer, e livros- inúmeros livros.
Eu não me lembrava da última vez que havia falado tanto. Mais de uma vez, eu me sentí
envergonhada,certamente eu estava aborrecendo ele. Mas a expressão de extrema
concentração, e as perguntas inacabáveis, me forçavam a continuar.
A maioria das perguntas eram fáceis de responder, somente algumas me fizeram corar
com muita facilidade.
Como quando ele me perguntou qual era a minha pedra preciosa favorita, e eu respondí
que era o topázio sem pensar. Ele fazia tantas perguntas tão depressa que eu me sentia
como se estivesse fazendo um daqueles testes psiquiátricos onde você tem que
responder com a primeira palavra que vier na sua cabeça. Eu tinha certeza que ele
continuaria seguindo a mesma linha de pensamento que ele estava seguinto antes, se eu
não tivesse ruborisado.
Meu rosto ficou vermelho porque, até pouco tempo atrás, minha pedra preciosa favorita
era o Ônix. Era impossível olhar pra os seus olhos da cor do Topázio, e não entender o
motivo da troca. E, naturalmente, ele não ia descansar enquanto eu não admitisse porque
estava envergonhada.
"Me diga", ele finalmente ordenou depois que a persuasão não deu certo- não deu certo
porque eu mantive meus olhos seguramente longe do rosto dele.
"É a cor dos seus olhos hoje", eu suspirei, me rendendo, olhando para as minhas mãos
enquanto brincava com uma mecha do meu cabelo.
"Eu acho que se você tivesse me feito essa pergunta a duas semanas atrás eu teria dito
que era o Ônix". Eu estava dando mais informações do que era necessário na minha
honestidade sem vontade, e eu estava preocupada em trazer a tona aquela raiva que
sempre aparecia quando eu demonstrava o quanto estava obsecada por ele.
Mas sua pausa foi muito curta.
"Que tipo de flor você prefere?", ele atirou.
Eu suspirei aliviada, e ele continuou com a psicanálise.
Biologia foi uma colplicação de novo. Edward continuou com o seu questionário até o
Sr. Banner entrar na sala, trazendo o equipamento audio visual com ele. Enquanto o
professor se aproximava do interruptor de luz, eu percebí Edward afastar a cadeira dele
da minha. Isso não ajudou. Assim que a sala estava escura, houve a mesma fagulha de
eletricidade, a mesma vontade irresistível de invadir o pequeno espaço entre nó e tocar a
sua pele fria, como ontem.
Eu me inclinei para a frente na mesa, descansando o meu queixo nos braços dobrados,
meus dedos escondidos estavam agarrando a borda da mesa, enquanto eu tentava lutar
com a vontade irracional que me tirava do sério. Eu não olhei pra ele, com medo de que
se ele estivesse olhando pra mim, eu tivesse ainda mais dificuldades de me controlar. Eu
sinceramente tentei me concentrar no filme, mas no fim eu não tinha a menor ideia do
que eu tinha acabado de ver. Eu suspirei aliviada de novo quando o Sr. Banner ligou as
luzes, e finalmente olhei pra Edward;
Ele estava olhando pra mim com olhos ambivalentes.
Ele se levantou em silêncio e ficou em pé, esperando por mim. Nós andamos para a
minha aula de Educação física em silêncio, como ontem. E, também como ontem, ele
tocou o meu rosto sem dizer nada- dessa vez com as costas da sua mão fria, alisando o
espaço da minha têmpora até a minha mandíbula- antes de se virar e ir embora.
A aula de Educação física passou rapidamente,enquantou eu observava Mike dar um
show solo no Badminton. Ele não falou comigo hoje, seja por causa da minha expressão
vazia ou porque ele ainda estava com raiva por causa da nossa discursão de ontem. Em
algum lugar, no fundo da minha mente, eu estava me sentindo mal com isso. Mas eu
não conseguí me concentrar nele.
Eu me apressei pra me trocar depois, doente de ansiedade, sabendo que , quanto mais
rápido eu me movesse, mais rápido eu estaria com Edward. A pressão me deixou mais
desastrada do que o normal, mas eventualmente eu saí, sentindo o mesmo alívio quando
ví ele lá, um largo sorriso automaticamente aparecendo no meu rosto. Ele sorriu em
resposta antes de continuar com as perguntas.
Suas perguntas eram diferentaes agora, porém, não tão fáceis de responder. Ele quis
saber do que eu sentia falta em casa, insistindo pra que eu descrevesse as coisas que não
eram familiares pra ele. Nós ficamos sentados na frente da casa de Charlie por horas,
enquanto o céu escurecia e a chuva se transformava num dilúvio de repente.
Eu tentei descrever coisas impossíveis de descrever, como o cheiro do creosotoamargo,
um pouco residuoso, mas agradável mesmo assim- o som alto, agudo das
cigarras em Julho, a esterilidade emplumada das árvores, a até o tamanho do céu, com
sua extensão azul e branca de horizonte á horizonte, poucas vezes interrompido por
montanhas baixas cheias de rochas vulcânicas. O mais difícil de explicar foi porque eu
achava bonito- justificar a beleza que não dependia de uma vegetação escassa,
espinhosa que as vezes parecia meio morta.
Uma beleza que tinha mais á ver com o formato da terra que ficava exposta,com as
bacias superficais entre os vales que ficavam entre as colinas escarpadas, e a forma que
elas emolduravam o sol. Eu me ví tendo que usar as mãos enquanto explicava isso pra
ele.
Suas perguntas quietas, tentadoras, me fizeram falar livremente, esquecendo, na luz
escassa, de me sentir envergonhada por estar monopolizando a conversa. Finalmente,
quando eu havia terminada de descrever o meu quarto bagunçado em casa, ele parou ao
invés de fazer outra pergunta.
"Você já acabou?", eu perguntei aliviada.
"Nem perto- mas o seu pai vai chegar logo em casa".
"Charlie!", eu finalmente lembrei de sua existência, e suspirei.
Eu olhei para o céu escurecido pela chuva, mas não demonstrei estar sentindo nada.
"Que horas são?", eu me perguntei me voz alta enquanto olhava para o relógio. Eu me
surpreendí com a hora- Charlie deveria estar chagando em casa agora.
"É o crepúsculo", Edward murmurou, olhando para o horizonte obscurecido pelas
nuvens. Sua voz estava pensativa, como se sua mente estivesse em um lugar distante.
Eu olhei pra ele enquanto ele olhava pelo para brisa sem estar enxergando nada.
Eu ainda estava olhando quando ele de repente virou seu olhar para mim.
"É a hora mais segura do dia pra nós", ele disse, respondendo uma pergunta que eu não
fiz, mas que estava nos meus olhos. "A hora mais fácil. Mas, também mais difícil, de
certa forma...o fim de outro dia, o retorno da noite. A escuridão é tão imprevisível, você
não acha?", ele perguntou, sorrindo tristemente.
"Eu gosto da noite. Sem a escuridão não poderiamos ver as estrelas.", eu fiz uma careta.
"Não que elas apareçam muito por aqui".
Ele sorriu, o humor abruptamente mais leve.
"Charlie vai chagar em alguns minutos. Então, a não ser que você queira dizer pra ele
que estará comigo no Sábado...", ele ergueu uma sobrancelha.
"Obrigada, mas não, obrigada", eu peguei meus livros, me dando conta de que o meu
corpo estava rígido pela posição que eu estive sentada por tanto tempo.
"Amanhã é minha vez, então?"
"Cetamente não!", seu rosto estava com uma expressão de ultraje divertida. "Eu disse
que ainda não tinha acabado, não disse?"
"O que é que ainda falta?"
"Você vai saber amanhã". Ele se inclinou na minha frente para abrir a porta pra mim, e
essa proximidade repentina fez meu coração palpitar loucamente.
Mas a mão dele congelou na maçaneta.
"Isso não é bom", ele murmurou.
"O que foi?", eu estava surpresa de ver que sua mandíbula estava apertada, seus olhos
perturbados.
Ele olhou pra mim por um breve segundo. "Mais complicações", ele disse aborrecido.
Ele abriu a porta com um movimento rápido, e então se afastou, quase ultrajado,
rapidamente pra longe de mim.
O flash dos faróis na chuva chamaram minha atenção enquanto um carro virava na
curva, a apenas alguns metros de nós nos encarando.
"Charlie está na esquina", ele avisou, olhando pelo retrovisor para outro veículo.
Eu saí rapidamente, a despeito da minha confusão e curiosidade. A chuva estava mais
forte enquanto batia no meu casaco.
Eu tentei distiguir as duas sombras que estavam no banco da frente do outro carro, mas
estava muito escuro. Eu podia ver Edward iluminado pelo brilho dos faróis do outro
carro; ele ainda estava olhando para a frente, seu olhar estava travado em algo ou
alguém que eu não podia ver.
Sua expressão era um estranho misto de frustração e desafio.
Então ele ligou o motor, e os pneus resoaram no asfalto molhado. Dentro de segundos o
Volvo já estava fora de vista.
"Ei, Bella", chamou uma voz rouca, familiar que vinha do banco do motorista do
pequeno carro preto.
"Jacob?", eu perguntei andando pela chuva. Só então, a viatura de Charlie virou na
esquina, os faróis dele iluminando os ocupantes do carro na minha frente.
Jacob já estava saindo do carro. Seu sorriso largo e brilhante era visível mesmo na
escuridão.
No banco do passageiro havia um homem muito mais mais velho, um homem pesado,
com um rosto memorável- um rosto que se transbordava, as bochechas estavam
pressionados nos ombros com rugas na pele ruiva, como um casaco velho de couro. E
os olhos surpreendentemente familiares, olhos pretos que pareciam ao mesmo tempo
jovens demais e velhos demais para aquele rosto largo.
Era o pai de Jacob, Billy Black. Eu o reconhecí imediatamente, mesmo depois de cinco
anos e tendo esquecido do nome dele no meu primeiro dia aqui. Ele estava me
encarando, estudando meu rosto, então eu sorri tentadoramente pra ele. Seus olhos
estavam arregalados, como se de susto ou de medo,as narinas estavam infladas. Meu
sorriso desapareceu.
Outra complição, Edward disse.
Billy ainda estava me encarando com olhos intensos, ansiosos. Eu gemí por dentro. Será
que Billy reconheceu Edward tão facilmente?
Será que ele realmente poderia acreditar nas lendas impossíveis que o filho dele havia
me contado?
A resposta estava clara nos olhos de Billy. Sim. Sim, ele podia.
12. Equilibrando
"Billy!" Charlie chamou assim que saiu do carro.
Eu virei na direção da casa, convidando Jacob pra entrar enquanto passava pelo portal
da entrada. Eu ouví Charlie saudando os dois em voz alta atrás de mim.
"Eu vou fingir que não ví você atrás do volante, Jake", ele disse em tom de
desaprovação.
"Nós recebemos as carteiras mais cedo na reserva", Jacob disse enquanto eu destrancava
a porta e ligava a luz da varanda.
"Claro que recebem". Charlie riu.
"Eu preciso sair de alguma forma", eu reconhecí facilmente a voz ressonante de Billy,
apesar dos anos. O som dela fez com que eu me sentisse mais nova de repente, uma
criança.
Eu entrei, deixando a porta aberta atrás de mim e acendendo as luzes antes de tirar meu
casaco. Então eu fiquei perto da porta, observando ansiosamente enquanto Jacob e
Charlie ajudavam Billy a sair do carro e a sentar na sua cadeira de rodas.
Eu saí do caminho enquanto os três corriam pra dentro, sacudindo a chuva.
"Isso é uma surpresa", Charlie estava dizendo.
"Já faz muito tempo", Billy disse. "Eu espero que esse não seja um momento ruim".
Seus olhos escuros vieram parar em mim de novo. Sua expressão estava ilegível.
"Não, está ótimo. Eu espero que você possa ficar para o jogo."
Jacob sorriu. "Eu acho que esse é o plano- nossa TV quebrou na semana passada".
Billy fez uma cara feia para o filho. "E, é claro que Jacob estava ansioso pra ver Bella
de novo", ele acrescentou. Jacob fez uma careta e baixou a cabeça enquanto eu tentava
lutar contra uma onda de remorso que eu sentí de repente. Talvez eu tenha sido
convincente demais na praia.
"Vocês estão com fome?" Eu perguntei, me virando na direção da cozinha. Eu estava
ansiosa pra escapar do olhar especulativo de Billy.
"Não, nós acabamos de comer antes de vir pra cá". Jacob respondeu.
"E você, Charlie?", eu perguntei por cima do meu ombro enquanto virava no corredor.
"Claro", ele respondeu, sua voz vinha da entrada e estava se dirigindo á sala de TV. Eu
podia ouvir a cadeira de Billy acompanhando.
Os sanduíches de queijo grelhado estavam na frigideira e eu estava fatiando um tomate
quando sentí alguém atrás de mim.
"Então, como vão as coisas?", Jacob perguntou.
"Muito bem", era difícil resistir ao entusiasmo dele. "E você? Já terminou o seu carro?"
"Não", ele fez uma careta. "Eu ainda preciso de partes. Nós pegamos aquele
emprestado". Ele apontou com o polegar na direção do quintal na frente de casa.
"Desculpa. Eu não ví nenhum...como era mesmo o nome da peça que você estava
procurando?"
"Cilindro mestre", ele sorriu. "Tem alguma coisa errada com a caminhonete?" ele
acrescentou.
"Oh. Eu só estava me perguntando porque você não estava dirigindo ela".
Eu olhei pra baixo para a frigideira e levantei a borda de um dos sanduíches pra olhar o
lado de baixo. "Eu peguei uma carona com um amigo".
"Bela carona". Jacob estava admirado. "Contudo, eu não reconhecí o motorista. Eu
achei que conhecia a maioria das pessoas daqui".
Eu afirmei com a cabeça, mantendo os olhos baixos enquanto virava os sanduíches.
"Meu pai pareceu reconhecê-lo de algum lugar".
"Jacob, você poderia pegar alguns pratos? Eles estão no armário em cima da pia."
"Claro".
Ele pegou os pratos em silêncio. Eu esperava que ele deixasse pra lá.
"Então, quem era?" ele perguntou, colocando dois pratos no balcão no meu lado.
Eu suspirei, vencida. "Edward Cullen".
Para minha supresa, ele riu. Eu olhei pra cima. Ele pareceu um pouco envergonhado.
"Eu acho que isso explica, então" ele disse. "Eu estava imaginando porque meu pai
estava agindo tão estranho".
"É mesmo". Eu fingí uma expressão inocente. "Ele não gosta dos Cullen".
"Velho supersticioso", ele cochichou por baixo do fôlego.
"Você acha que ele vai dizer alguma coisa pra Charlie?" Eu não conseguí deixar de
perguntar, as palavras sairam baixas e apressadas.
Jacob me encarou por um momento, e eu não conseguí entender a expressão nos seus
olhos escuros. "Eu duvido", ele finalmente respondeu.
"Eu acho que Charlie já deu uma bela lição nele da última vez. Eles não se falaram
muito desde então- hoje é uma espécie de reunião, eu acho. Eu não acho que ele vai
falar nisso de novo"
"Oh" eu disse, tentando parecer indiferente.
Eu fiquei na frente da sala depois de levar a comida pra Charlie, fingindo que estava
assistindo o jogo enquanto Jacob conversava comigo. Eu estava mesmo era ouvindo a
conversa dos homens, procurando por algum sinal de que Billy ia me dedurar, pensando
em alguma forma de pará-lo caso ele tentasse.
Foi uma noite longa. Eu tinha dever de casa pra fazer, mas estava com medo de deixar
Billy sozinho com Charlie. Finalmente, o jogo acabou.
"Você e seus amigos vão voltar lá na praia logo?", Jacob perguntou enquanto carregava
o seu pai pelo limiar da porta.
"Eu não tenho certeza", eu me esquivei.
"Foi divertido, Charlie", Billy disse.
"Volte para o próximo jogo", Charlie encorajou.
"Claro, claro", Billy disse. "Estaremos aqui. Tenha uma boa noite".
Seus olhos encontraram os meus. "Se cuide, Bella" ele acrescentou seriamente.
"Obrigada", eu murmurei, desviando o olhar.
Eu fui para a escada enquanto Charlie acenava pra eles na porta.
"Espere, Bella".
Eu congelei. Será que Billy tinha falado alguma coisa antes que eu estivesse na sala?
Mas Charlie estava relaxado, ainda sorrindo pela visita inesperada.
"Eu ainda não tive a chance de falar com você esta noite. Como foi seus dia?"
"Bom", eu hesitei com um dos pés no degrau da escada, procurando por detalhes que eu
podia compartilhar sem medo. "Meu time de Badminton ganhou todas as quatro partidas
hoje".
"Uau, eu não sabia que você jogava Badminton".
"Bem, na verdade eu não jogo,mas o meu parceiro é muito bom", eu admiti.
"Quem é?" ele perguntou interessado.
"Umm, Mike Newton", eu disse relutante.
"Ah,é- você já tinha dito que era amiga dele". Ele lembrou. "Boa família", ele meditou
por um momento. "Porque você não convidou ele pro baile esse fim de semana?"
"Pai!" eu gemí.
"Ele está meio que namorando com a minha amiga Jéssica. Além do mais, você sabe
que eue não sei dançar".
"Ah é" ele murmurou. Depois ele sorriu pedindo desculpas. "Então eu acho que é bom
que você vai estar em Seattle no Sábado... Eu fiz planos pra ir pescar com os rapazes lá
da delegacia. Tudo indica que o clima estará quente. Mas se você quiser adiar a viagem
para esperar até alguém consiga ir com você, eu posso ficar em casa. Eu sei que te deixo
sozinha tempo demais".
"Pai, você está fazendo um ótimo trabalho" Eu sorrí, esperando que o meu alivio não
ficasse muito visível. "Eu nunca me importei em ficar sozinha- eu sou muito parecida
com você", eu pisquei pra ele e ele deu um sorriso que fez seus olhos enrrugarem.
Eu dormí melhor essa noite, cansada demais pra sonhar de novo. Quando eu acordei na
manhã de cor acinzentada, meu humor estava feliz. A noite tensa com Billy e Jacob
pareceu inofensiva o suficiente; então eu decidí esquecê-la completamente. Eu me
peguei assoviando enquanto estava prendendo a parte da frente da frente do meu cabelo
com um grampo, e depois de novo quando descia as escadas.
Charlie reparou.
"Você está animada esta manhã" ele comentou enquanto tomávamos o café da manhã.
Eu levantei os ombros. "Hoje é sexta feira".
Eu me apressei para estar pronta para ir para a escola no segundo que Charlie fosse
embora. Eu já estava com a minha mochila pronta, calçada, dentes escovados, mas
mesmo correndo para a porta assim que eu tive certeza que Charlie já estava fora de
vista, Edward foi mais rápido. Ele estava esperando no seu carro brilhante, com os
vidros abaixados, o motor desligado.
Eu não hesitei dessa vez, entrando no lado do passgeiro rapidamente, tudo pra ver o
rosto dele mais rápido. Ele mostrou seu sorriso torto pra mim, parando minha respiração
e meu coração. Eu não conseguia imaginar como um anjo poderia ser mais glorioso. não
havia nada nele que pudesse ser melhorado.
"Como você dormiu?", ele perguntou. Eu me perguntei se ele tinha noção de como sua
voz era atraente.
"Bem. Como foi a sua noite?"
"Prazeirosa" Seu sorriso estava divertido; eu me sentí como se estivesse perdendo
alguma piada.
"Será que eu posso perguntar o que você fez?"
"Não". Ele sorriu. "Hoje ainda é meu dia".
Hoje ele queria saber mais sobre as pessoas: mais sobre Renée, seus passatempos, o que
nós fazíamos no nosso tempo livre. E depois a única avó que eu conhecia, meus poucos
amigos da escola- me deixando envergonhada quando me perguntou sobre os garotos
que eu havia namorado. Eu estava aliviada por nunca ter namorado, assim essa conversa
em perticular não poderia durar muito. Ele pareceu tão surpreso quanto Jéssica e Angela
pela minha falta de vida romântica.
"Então você nunca encontrou ninguém que você quisesse?" ele me perguntou num tom
sério que me fez imaginar o que ele estaria pensando.
Eu fui malevolamente honesta. "Não em Phoenix".
Os seus lábios ficaram espremidos numa linha.
Nessa hora nós estávamos na cafeteria. Estava virando rotina o dia passar num sopro.
Eu me aproveitei da sua breve pausa para dar uma mordida no meu pão.
"Eu devia ter deixado você vir sozinha hoje" ele disse, sem motivo algum, enquanto eu
mastigava.
"Porque?" eu quis saber.
"Eu vou embora com Alice depois do almoço"
"Oh" eu pisquei desconcertada e desapontada. "Está tudo bem. Não é uma caminhada
muito longa daqui até em casa".
Ele fez uma careta impaciente pra mim. "Eu não vou fazer você andar até sua casa. Nós
vamos pegar a sua caminhonete e deixá-la aqui pra voce".
"Eu não trouxe as minhas chaves", eu suspirei. "Eu realmente não me importo de ir
andando". Eu me importava era de não poder estar com ele.
Ele balançou a cabeça. "Sua caminhonete estará aqui, e a chave estará na ignição- a não
ser que você tenha medo que alguém vá roubá-la". Ele sorriu com o pensamento.
"Tudo bem", eu concordei, torcendo os lábios. Eu tinha certeza de que as minhas chaves
estavam no bolso da calça que eu usei na quarta, embaixo de uma pilha de roupas sujas
na lavanderia.
Mesmo que ele invadisse minha casa, ou o que quer que ele estivesse planejando, ele
jamais encontraria.
Ele pareceu sentir o desafio do meu consentimento. Ele sorriu, confiante demais.
"Então pra onde vocês vão?", eu perguntei tão casualmente quanto pude.
"Caçar" ele respondeu severamente. "Se eu vou estar sozinho com você amanhã, eu vou
tomar todas as precauções que puder". Seu rosto ficou sombrio... e declarador.
"Você ainda pode cancelar, sabe".
Eu olhei pra baixo, com medo do poder persuasivo dos seus olhos. Eu me recusava a ser
convenciada a sentir medo dele, não importava quão grande o perigo pudesse ser. Não
importa, eu repetí na minha mente.
"Não" eu sussurei. "Eu não posso".
"Talvez você esteja certa" ele murmurou secamente. A cor dos seus olhos pareceu ficar
mais escura enquanto eu observava.
Eu mudei de assunto. "Que horas eu te vejo amanhã?" Eu perguntei, já deprimida por
ter que deixá-lo ir agora.
"Isso depende...é Sábado, você não quer dormir até tarde?" ele perguntou.
"Não" eu respondí rápido demais. Ele prendeu o riso.
"A mesma hora de sempre, então" ele decidiu. "Charlie vai estar em casa?"
"Não, ele vai pescar amanhã" Eu estava radiante pelo rumo conveniente que as coisas
tomaram.
O tom de sua voz ficou afiado. "E se você não voltar pra casa, o que é que ele vai
pensar?"
"Eu não tenho idéia" eu respondí calmamente. "Ele sabe que eu estava querendo lavar
as roupas. Talvez ele ache que eu caí dentro da máquina".
Ele fez uma carranca pra mim e eu fiz uma carranca pra ele. A raiva dele era muito mais
impressionante que a minha.
"O que você vai caçar hoje?" Eu perguntei depois de perder o concurso de quem
encarava mais.
"Qualquer coisa que encontrarmos no parque. Nós não vamos muito longe" Ele pareceu
se divertir com a minha referêcia casual ao seu segredo.
"Porque você está indo com Alice?" Eu me perguntei.
"Alice é a mais...encorajadora". Ele fez uma careta enquanto falava.
"E os outros?" eu perguntei timidamente. "O que eles são?"
Suas sobrancelhas se uniram por um breve momento. "Incrédulos, em grande parte."
Eu espiei rapidamente a sua família atrás de mim. Eles estavam olhando para direções
diferentes, exatamente como na primeira vez que eu os ví. Só que agora ele só eram
quatro; seu lindo irmão com o cabelo cor de bronze, estava sentado na minha frente,
com os olhos confusos.
"Eles não gostam de mim", eu advinhei.
"Não é isso", ele discordou, mas seus olhos eram inocentes demais. "Eles só não
entendem porque eu não consigo te deixar sozinha".
Eu fiz uma careta. "Eu também não, por falar nisso".
Edward balançou a cabeça lentamente e revirou os olhos na direção do teto antes de
olhar para os meus olhos de novo. "Eu já disse- você não se vê com muita clareza. Você
não é como ninguém que já tenha conhecido. Você me fascina".
Eu olhei pra ele, certa de que agora ele estava brincando.
Ele sorriu enquanto decifrava a minha expressão. "Tendo as vantagens que eu tenho",
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ele murmurou,tocando discretamente na testa. "Eu tenho uma compreensão melhor da
mente humana. As pessos são previsíveis. Mas você... você nunca faz o que eu espero.
Você sempre me pega de surpresa".
Eu desviei o olhar, meus olhos aterrisando na família dele de novo, envergonhada e
insatisfeita. As palavras dele me fizeram parecer uma experiência científica. Eu queria
rir de mim mesma por esperar outra coisa.
"Essa parte é fácil de explicar", ele continuou. Eu sentí seus olhos no meu rosto, mas
ainda não conseguia olhar pra ele, com medo que ele percebesse o desespero nos meus
olhos. "Mas tem mais... e isso não é fácil de explicar com palavras-"
Eu ainda estava olhando para os Cullen enquanto ele falava. De repente, Rosalie, a sua
irmã loira, de tirar o fôlego, se virou pra me olhar. Olhar não- encarar, com olhos
escuros e frios. Eu queria afastar o olhar, mas o olhar dela segurou o meu até que
Edward parou no meio de uma frase e fez um barulho raivoso e baixo. Era quase um
assobio.
Rosalie virou a cabeça e eu fiquei aliviada por estar livre.
Eu olhei de volta para Edward - eu sabia que ele veria a confusão e o medo que
esbugalharam meus olhos.
Seu rosto estava contraído enquanto ele explicava. "Eu sinto muito sobre isso. Ela só
está preocupada. Entenda... não é perigoso apenas pra mim se, depois de passar tanto
tempo publicamente perto de você...", ele olhou pra baixo.
"Se?"
"Se isso acabar... mal". Ele deixou a cabeça cair nas mãos,como fez naquela noite em
Port Angeles. Sua angústia era visível; eu queria confortá-lo, mas eu não tinha idéia de
como. Minha mão foi na direção dele involuntariamente; rapidamente, porém, eu deixei
ela cair na mesa, temendo que o meu toque só deixasse as coisas piores. Eu percebí
lentamente que as palavras dele deviam me assustar. Eu esperei o medo vir,mas tudo
que eu conseguia sentir era a dor do seu sofrimento.
E frustração- frustração porque Rosalie interrompeu o que ele estava dizendo. Eu não
sabia como voltar ao assunto. Ele ainda estava com a cabeça nas mãos.
Eu tentei falar com uma voz normal. "E você tem que ir agora?"
"Sim", ele ergueu o resto; estava sério por um momento, e então o seu humor mudou e
ele sorriu. "Provavelmente é o melhor a fazer. Nós ainda temos quinze minutos daquele
filme inacabado de Biologia- eu não acho que poderia aguentar mais".
Eu encarei. Alice- seu cabelo preto formava uma auréola ao redor do seu rosto notável,
élfico- estava repentinamente atrás dele. Sua leve figura era esbelta, graciosa mesmo
estando absolutamente parada.
Ele saudou ela sem desviar os olhos de mim. "Alice".
"Edward". Sua voz soprano era quase tão atrante quanto a dele.
"Alice, Bella- Bella, Alice", ele nos apresentou, fazendo gestos com a mão casualmente,
um sorriso torto nos lábios.
"Olá,Bella", seus olhos eram impossíveis de ler, mas seu sorriso era amigável. "É bom
finalmente te conhecer".
Edward deu uma olhada sombria pra ela.
"Oi, Alice", eu disse timidamente.
"Você está pronto?" ela perguntou pra ele.
A voz dele estava indiferente. "Quase. Eu te encontro no carro".
Ela foi embora sem outra palavra. Seu caminhar era tão fluido, tão suntuoso que eu sentí
uma leve pontada de inveja.
"Eu devo dizer 'divirta-se' eu seria o sentimento errado?" eu perguntei, virando pra ele
de novo.
"Não. 'divirta-se' funciona tão bem quanto qualquer outra palavra", ele sorriu.
"Divirta-se, então", eu fiz o máximo para parecer sincera. É claro que eu não enganei
ele.
"Eu vou tentar", ele ainda estava sorrindo. "E você tente se manter em segurança, por
favor".
"Ficar segura em Forks- que desafio".
"Pra você isso é um desafio". Sua mandíbula ficou apertada.
"Prometa".
"Eu prometo tentar ficar em segurança", eu recitei. "Eu vou lavar roupa hoje á noiteisso
não deve oferecer nenhum perigo".
"Não caia", ele zombou.
"Eu farei meu melhor"
Então, ele se levantou e eu me levantei também.
"Te vejo amanhã", eu suspirei.
"Parece tempo demais pra você, não parece?", ele meditou.
Eu afirmei pesadamente com a cabeça.
"Eu estarei lá pela manhã" ele prometeu, dando seu sorriso torto. Ele se inclinou sobre a
mesa para tocar meu rosto, alisando a maçã do meu rosto de novo. Então ele se virou e
foi embora. Eu fiquei olhando para ele até que ele foi embora.
Eu estava muito tentada a faltar as aulas restantes, ou pelo menos Educação física, mas
um instinto de advertência me impediu. Eu sabia que se eu desaparecesse agora, Mike e
os outros iriam presumir que eu estava com Edward. E Edward se preocupava com o
tempo que passávamos juntos publicamente...caso algo desse errado.
Eu me recusava a pensar na última possibilidade, me concentrando em fazer as coisas
mais seguras pra ele.
Eu intuitivamente sabia- e sentia que ele também- que amanhã seria providencial.
Nosso relacionamento não podia continuar se equilibrando, como estava, na ponta de
uma faca.
Nós iamos cair de um lado ou de outro, dependendo inteiramente da decisão dele, ou
dos seus instintos. Minha decisão estava tomada, eu já havia a tomado mesmo antes de
poder escolher e eu estava disposta a ir adiante.
Porque não havia nada mais assustador pra mim, nada mais doloroso, do que o
pensamento de me afastar dele.
Não havia possibilidade.
Eu fui para a aula, sentindo que era uma obrigação. Eu honestamente não poderia dizer
o que aconteceu em Biologia; minha mente estava ocupada demais pensando em
amanhã. Na aula de Educação física, Mike estava falando comigo de novo; ele desejou
que eu me divertisse em Seattle. Eu expliquei cuidadosamente que havia cancelado a
viagem, preocupada com minha caminhonete.
"Você vai pro baile com Cullen?", sua voz ficou mal-humorada de repente.
"Não, eu não vou ao baile".
"O que você vai fazer, então?",ele perguntou, interessado demais.
Minha primeira vontade foi de dizer pra ele não se meter. Inves disso, eu mentí
brilhantemente.
"Lavar roupa, depois eu tenho que estudar para o teste de Trigonometria se não eu vou
reprovar".
"Cullen vai te ajudar a estudar?"
Edward", eu enfatizei "não vai me ajudar a estudar. Ele vai viajar pra algum lugar
durante fim de semana" As mentiras sairam mais naturalmente, eu reparei surpresa.
"Oh", ele se empertigou. "Você poderia vir para o baile com o nosso grupo- vai ser
legal. Nós todos dançaremos com você", ele prometeu.
A imagem mental de da cara de Jéssica deixou o meu tom mais áspero do que era
necessário.
"Eu não vou para o baile, Mike, tá bem?"
"Tá", ele murchou de novo. "Eu só estava oferecendo".
Quando o dia de aula finalmente terminou, eu caminhei para o estacionamento sem
entusiasmo. Eu não estava especialmente a fim de ir caminhando pra casa, mas eu não
sabia como ele seria capaz de trazer minha caminhonete. De qualquer forma, eu estava
começando a acreditar que nada era impossível pra ele. Meus instintos provaram estar
certos- minha caminhonete estava na mesma vaga em que ele tinha estacionado o Volvo
esta manhã. Eu balancei a cabeça, incrédula, enquanto abria a porta e via a chave na
ignição.
Havia um pedaço de papel dobrado no banco. Eu o peguei e fechei a porta antes de lêlo.
Duas palavras estavam escritas com sua letra elegante.
FIQUE SEGURA .
O som do motor ligandome assustou. Eu rí comigo mesma.
Quando eu cheguei em casa, a maçaneta da porta estava trancada, o ferrolho estava
aberto, exatamente como eu havia deixado essa manhã.
Já dentro, eu fui direto para a lavanderia. Também parecia exatamente igual a como eu
havia deixado de manhã. Eu procurei minha calça e, depois de encontrá-la, procurei nos
bolsos. Vazios. Talvez eu tenha levado minhas chaves lá pra cima no fim das contas, eu
pensei, balançando a cabeça.
Seguindo o mesmo instinto que me levou a mentir pra Mike, eu liguei pra Jéssica com o
pretexto de desejá-la sorte no baile. Quando ela me ofereceu os mesmos desejos na
minha tarde com Edward, eu contei que havíamos cancelado. Ela estava mais
desapontada do que o necessário para uma pessoa que ia ficar olhando a festa sem se
divertir. Eu me despedí rapidamente depois disso.
Charlie estava com a mente ausente durante o jantar, preocupado com alguma coisa do
trabalho, eu achava, ou com o jogo de Basquete, ou talvez ele simplesmente tivesse
gostado mesmo da lasanha- com Charlie era difícil advinha.
"Sabe, pai...", eu quebrei sua ausência
"O que foi, Bella?"
"Eu acho que você está certo sobre Seattle. Eu acho que vou esperar até que Jéssica ou
outra pessoa possa vir comigo".
"Oh", ele disse surpreso. "Oh, tudo bem. Então, você quer que eu fique em casa?"
"Não,pai, não mude seus planos. Eu tenho um milhão de coisas pra fazer... dever de
casa, lavar a roupa... Eu preciso ir á biblioteca e ao supermercado. Eu vou ficar fora o
dia todo... vá e se divirta."
"Você tem certeza?"
"Absoluta, pai. Além do mais, o estoque de peixe está ficando perigosamente baixo- nós
só temos um estoque para dois ou três anos".
"Com certeza é fácil conviver com você, Bella". Ele sorriu.
"Eu acho que posso dizer o mesmo de você", eu disse sorrindo. Minha risada estava sem
som, mas ele não pareceu reparar.
Eu estava me sentindo tão culpada por estar mentindo pra ele que eu quase seguí o
conselho de Edward e contei onde estaria. Quase.
Depois do jantar, eu dobrei as roupas e levei outra pilha para a secadora. Infelizmente,
esse é o tipo de trabalho que só ocupa as mãos. Minha mente estava definitivamente
tendo tempo demais, e eu já estava ficando fora de controle. Eu flutuei entre uma espera
tão intensa que quase chegava a ser dolorosa, e o medo inscidioso que envolvia a minha
escolha. Eu tive que continuar me lembrendo que eu já havia feito minha escolha, e não
ia voltar atrás. Eu tirei seu bilhete do bolso tantas vezes quanto foram necessárias para
absorver as duas palavras que ele havia escrevido. Ele me queria a salvo, eu disse pra
mim mesma de novo e de novo. Eu só tinha que me segurar á fé de que, no final, esse
desejo estaria acima dos outros.
E qual era a minha outra opção- tirá-lo da minha vida? Intolerável.
Além do mais, desde que eu cheguei á Forks, parecia que minha vida era sobre ele.
Mas uma vozinha no fundo da minha mente estava preocupada se doeria muito ...se
acabasse mal.
Eu fiquei aliviada quando chegou um horário aceitável pra eu ir dormir. Eu sabia que
estava estressada demais pra dormir, então eu fiz algo que nunca fiz antes. Eu
deliberadamente tomei remédio pra gripe desnecessariamente- o tipo que me tirava do
ar por oito horas.
Eu normalmente não toleraria esse tipo de comportamento de mim mesma, mas eu sabia
que amanhã já seria uma dia complicado sem que eu estivesse voadora por falta de
sono. Enquanto eu esperava que os remédios fizessem efeito, eu sequei meu cabelo até
que ele estivesse impecavelmente liso, e procurei pelo que eu vestiria amanhã. Com
tudo preparado para a manhã, eu deitei na minha cama. Eu sentia hiperativa; eu não
parar de me contrair. Eu me levantei e fucei na minha caixa de sapatos até encontrar
uma coleção de CD's com os noturnos de Chopin. Eu o coloquei baixinho e me deitei de
novo, concentrando em relaxar as partes do meu corpo individualmente.
Em algum lugar no meio desses exercícios, os remédios fizeram efeito, e eu
alegremente fui ficando inconsciente.
Eu acordei cedo, tendo dormido sonoramente e sem sonhos graças ao meu uso
desnecessário de remédios.
Apesar de estar bem descansada, eu entrei no mesmo frenesí apressado da noite
passada. Eu me vestí com pressa, ajeitando a gola da blusa no meu pescoço, passando
os dedos no sweater até que ele ficou bem acima da minha calça. Eu dei uma rápida
olhada pela janela pra ver que Charlie já tinha ido embora. Uma fina camada de nuvens
macias passeava pelo céu. Não parecia que elas iam durar por muito tempo.
Eu comí o café da manhã sem sentir o gosto da comida, me apressando pra limpar tudo
quando eu acabei. Eu olhei pela janela de novo, mas nada havia mudado. Eu tinha
acabado de escovar os dentes e estava descendo as escadas quando uma batida baixinah
na porta fez meu coração bater com mais nas minhas costelas.
Eu voei para a porta; eu tive uns probleminhas com o ferrolho, mas eu finalmente abrí a
porta, e lá estava ele. A agitação se dissolveu assim que eu olhei para o rosto dele, se
transformando em calma. Eu dei um suspiro de alívio- os medos de ontem pareciam
muito bobos com ele aqui.
Primeiro ele não estava sorrindo- seu rosto estava sombrio. Mas então sua expressão se
suavisou quando ele olhou pra mim, e então ele riu.
"Bom dia", ele deu uma gargalhada.
"Qual é o problema?" Eu olhei pra baixo pra ter certeza que não tinha esquecido nada
importante como os sapatos, ou as calças.
"Estamos combinando", ele riu de novo. Eu percebí que ele estava usando um sweater
da cor do meu, com uma camisa de gola por baixo, e jeans azuis. Eu rí com ele,
escondendo uma pontinha de arrependimento- porque ele tinha que parecer um modelo
de passarela quando eu não podia?
Eu tranquei a porta atrás de mim enquanto ele andava para a caminhonete. Ele esperou
ao lado da porta do passageiro, com uma expressão martirisada que era fácil de
compreender.
"Nós temos um acordo", eu lembrei presumidamente, sentando no banco do motorista e
me inclinando no banco para abrir a porta pra ele.
"Pra onde?" eu perguntei.
"Ponha o seu cinto de segurança- eu já estou nervoso".
Eu dei uma olhada feia enquanto repetia.
"Pra onde?", eu repetí com um suspiro.
"Pegue a estrada um-zero-um para o norte", ele comandou.
Era surpreendentemente difícil me concentrar na estrada com os olhos dele no meu
rosto. Eu compensei dirigindo ainda mais cuidadosamente pela cidade ainda
adormecida.
"Você estava planejando voltar á Forks antes do anoitecer?"
"Esta velha caminhonete é velha o suficiente pra ser a avó do seu carro- tenha algum
respeito". Eu rebatí.
Em pouco tempo estávamos fora dos limites da cidade- apesar da negatividade dele.
Grossos arbustos e árvores com os troncos cobertos de verde substituiam os gramados e
as casas.
"Vire á direita na um-dez", ele instruiu bem quando eu estava prestes a perguntar. Eu
obedecí silenciosamente.
"Agora nós vamos até onde o asfalto termina."
Eu podia ouvir um sorriso na voz dele, mas eu estava com medo de sair da estrada e
provar que ele estar certo.
"E onde é que dá, quando o asfalto acaba?" Eu imaginei.
"Numa trilha".
"Nós vamos fazer uma caminhada?", graças á Deus que eu estava usando tênis.
"Isso é um problema?", parecia que ele esperava que fosse.
"Não", eu tentei fazer a mentira soar confiante. Mas se ele pensava que minha
caminhonete era lenta...
"Não se preocupe. São só uns cinco quilometros, e nós não estamos com pressa".
Cinco quilômetros. Eu não respondí para que ele não ouvísse o pânico na minha voz.
Cinco quilometros de raízes traiçoeiras e pedras soltas, tentando torcer meu tornozelo
ou me incapacitar de alguma forma. Isso ia ser humilhante.
Nós dirigimos em silêncio enquanto eu contemplava o horror que se aproximava.
"O que você está pensando?", ele perguntou impacientemente depois de alguns minutos.
Eu mentí de novo. "Só imaginando pra onde estamos indo".
"É um lugar pra onde eu gosto de ir quando o clima está bom". Nós dois olhamos para
as nuvens que estavam afinando depois que ele falou.
"Charlie disse que hoje estaria morno"
"E você contou ao Charlie o que ia fazer?", ele perguntou
"Não".
"Mas Jéssica acha que vamos pra Seattle juntos?", ele pareceu animado com a idéia.
"Não, eu disse pra ela que havíamos cancelado- o que é verdade".
"Ninguém sabe que você está comigo?",agora com raiva.
"Isso depende... eu acredito que você tenha contado pra Alice".
"Isso ajuda muito, Bella". Ele disparou.
Eu fingí não ouvir isso.
"Forks te deixa tão deprimida que agora você virou suicída?" ele perguntou quando eu
ignorei ele.
"Você disse que podia te causar problemas...nós sendo vistos juntos publicamente". Eu
lembrei ele.
"Então você está preocupada com o que pode acontecercomigo- se você não voltar pra
casa?" Sua voz ainda estava enraivecida, mas um pouco sarcástica.
Eu afirmei com a cabeça, mantendo meus olhos na estrada.
Ele murmurou alguma coisa tão baixa e tão rápido que eu não conseguí entender.
Ficamos em silêncio pelo resto do caminho. Eu podia sentir as ondas furiosas de
desaprovação que vinham dele, e não conseguia pensar em nada pra dizer.
E então a estrada acabou, sendo seguida por uma fina trilha , marcada por um pedaço de
madeira. Eu parei no acostamento e desci do carro, preocupada porque ele estava com
raiva de mim e eu não tinha mais a estrada como desculpa pra não olhar pra ele. Estava
mais quente agora, mais quente do que já esteve em Forks desde o dia que eu cheguei
lá, quase mormacento embaixo das nuvens. Eu tirei meu sweater e amarrei na cintura,
feliz por ter usado uma camisa leve, sem mangas- especialmente já que eu tinha cinco
quilometros de caminhada á minha frente.
Eu ouví sua porta bater também, e virei pra ver que ele também tinha tirado o sweater.
Ele estava olhando pra longe de mim, para a floresta que estava ao lado da minha
caminhonete.
"Por aqui", ele disse, olhando pra mim por cima do ombro, os olhos perturbados.
Ele começou a entrar na floresta escura.
"A trilha?", o pânico começou a tomar conta da minha voz enquanto eu dava a volta na
minha caminhonete correndo para acompanhá-lo.
"Eu disse que havia uma trilha no fim do caminho, não que íamos usá-la".
"Sem trilha?" eu perguntei desesperadamente.
"Você não vai se perder". Nessa hora ele se virou pra mim, com um sorriso de zombaria
e eu tentei prender um suspiro.
A camisa branca dele era sem mangas, e ele estava usando desabotoada, então a suave
pele branca do seu pescoço seguia ininterruptamente até os contornos do seu peito, sua
musculatura perfeita não estava mais meramente escondida por roupas.
Ele era perfeito demais, eu me dei conta com uma penetrante sensação de desespero.
Não tinha jeito dessa criatura divina ter sido feita pra ficar comigo.
Ele olhou pra mim, desconcertado com minha expressão de tortura.
"Você que voltar pra casa?" ele perguntou baixinho, uma dor diferente da minha
saturando a voz dele.
"Não" eu caminhei até ficar ao lado dele, ansiosa pra não desperdiçar nem um segundo
do tempo que tinha com ele.
"Qual é o problema?" ele perguntou, sua voz gentil.
"Eu não sou muito boa em caminhadas", eu disse estupidamente. "Você vai ter que ser
paciente".
"Eu posso ser paciente- se eu fizer um grande esforço". Ele sorriu, prendendo o meu
olhar, tentando me tirar do meu abatimento inexplicado, repentino.
Eu tentei sorrir de volta, mas o sorriso não foi convincente. Ele analisou me rosto.
"Eu vou te levar pra casa", ele prometeu. Eu não sabia se a promessa era incondicional,
ou restrita a uma partida imediata. Eu sabia que ele pensava que era o medo que estava
me aborrecendo, e eu estava agradecida de novo por ser a única pessoa cuja mente ele
não podia ouvir.
"Se você quer que eu ande cinco quilômetros dentro da floresta antes que o sol se
ponha, é melhor você começar a mostrar o caminho", eu disse acidamente. Ele fez uma
careta pra mim, lutando pra entender meu tom e minha expressão.
Depois de um momento ele desistiu e me guiou para a floresta.
Era tão ruim quanto eu temía. O caminho era quase todo plano e ele segurou as
samambaias e trepadeiras pra que eu passasse. Quando o caminho ficou fechado por
causa de árvores caídas e pedregulhos, ele me ajudou, me levantando pelo cotovelo, e
depois me colocando no chão instantaneamente quando o caminho estava limpo. O
toque da pele dele não parava de fazer meu coração bater alucinadamente. Duas vezes,
quando isso aconteceu, eu olhei para o rosto dele e me dei conta que ele estava ouvindo,
de alguma forma.
Eu tentei manter os meus olhos da sua perfeição o máximo que pude, mas eu falhava
com frequencia. Todas as vezes, a beleza dele me afundava na depressão.
Na maior parte do caminho, nós caminhamos em silêncio. Ocasionalmente, ele me
perguntava algo do cotidiano que ele havia deixado passar durante os dois dias de
questionário. Ele me perguntou sobre os meus aniversários, minha notas, meus animais
de estimação na infância- e eu admití que depois de ter matado três peixinhos, eu tive
que desistir da empreitada.
Ele sorriu com isso, mais alto do que o normal- como o dobrar de sinos dentro da
floresta vazia.
A caminhada me tomou boa parte da manhã, mas ele não mostrou nenhum sinal de
impaciência. A floresta se arrastava ao nosso redor como um labirinto de árvores ansiãs,
e eu comecei a ficar com medo que ele nunca mais encontrasse o caminho de volta. Ele
estava perfeitamente calmo, confortável no labirinto verde, parecendo nunca ter dúvidas
em relação á direção.
Depois de algumas horas, a luz que passava pela copa das árvores se transformou, o tom
azeitona se tornou uma cor brilhante de Jade. O dia tinha se tornado ensolarado,
exatamente como ele havia dito.
Pela primeira vez desde que entramos na floresta, eu comecei a sentir uma excitaçãoque
logo se transformou em impaciencia.
"Já chegamos?", eu perguntei, fingindo fazer uma carranca.
"Quase", ele sorriu pelo mudança no meu humor. "Você vê a claridade alí na frente?"
Eu tentei enxergar dentro da vasta floresta. "Umm, eu devia?"
Ele brincou. "Talvez seja cedo demais pra os seus olhos".
"Hora de visitar o oculista", eu murmurei. O sorriso dele cresceu ainda mais.
Mas então, alguns metros mais á frente, eu definitivamente podia ver uma luminosidade
atrás das árvores, um brilho que era amarelo e não verde. Eu apertei o passo, minha
ansiosidade crescendo a cada passo. Ele me deixou guiar agora, seguindo
silenciosamente.
Eu alcancei a borda da piscina de luz e entrei pelas últimas samambaias no lugar mais
adorável que já tinha visto. A clareira era pequena, perfeitamente redonda, e cheia de
flores selvagens- violetas, amarelas e de um branco macio. Em algum lugar próximo, eu
podia ouvir o som borbulhante de um rio. O sol estava bem áfrente, enchendo o círculo
com uma incandescente luz amarela. Eu caminhei lentamente, abobalhada, através da
grama macia, das flores e do ar morno, convidativo. Eu dei uma meia volta, esperando
compartilhar isso com ele, mas ele não estava atrás de mim onde eu achava que ele
estaria.
Eu me virei, procurando por ele, alarmada de repente. Finalmente eu encontrei ele,
ainda embaixo da densa sombra das copas na borda da clareira, me observando com
olhos cuidadosos. Só então eu me lembrei do que tinha me levado alí e que a beleza do
lugar havia me feito esquecer- o enigma de Edward e o sol, que ele havia prometido
decifrar pra mim hoje.
Eu dei um passo na direção dele, meus olhos estavam curiosos. Seus olhos estavam
confusos, relutantes. Eu sorrí encorajando e o convidei com a mão, dando outro passo
na sua direção. Ele levantou uma mão como num aviso, eu hesitei, dando um passo pra
trás nos tornozelos.
Edward pareceu respirar fundo, e então deu um passo dentro da luz brilhante do sol da
tarde.
13. Confissões
Edward na luz do sol era chocante. eu não conseguia me acostumar com isso, mesmo
tendo passado a tarde inteira olhando pra ele. A pele dele, a despeito de uma leve
ruborescência pela caçada de ontem, estava literalmente brilhando, como se milhões de
pequenos diamantes estivessem cravados em sua superfície. Ele ficou completemente
rígido na grama, sua camisa aberta deixava seu peito esculpido, incandescente aparecer,
seus braços incandescentes estavam nús. Suas pálpebras brilhantes e pálidas da cor de
lavanda estavam fechadas, apesar dele não estar dormindo. A estátua perfeita, talhada
em alguma pedra desconhecida, suave como o mármore, e brilhante como o cristal.
De vez em quando, seus lábios se moviam tão rápido que pareciam que estavam
tremendo. Mas quando eu perguntei, ele disse que estava cantando pra si mesmo; era
baixo demais pra que eu ouvisse.
Eu aproveitei o sol, também, apesar do ar não estar seco op suficiente para o meu gosto.
Eu teria gostado de me deitar, como ele, e deixar o sol esquentar meu rosto. Mas eu
fiquei enrolada, com o queixo nos meus joelhos, sem querer tirar os olhos dele. O vento
estava calmo; ele assoprou meu rosto e balançou a grama embaixo da sua forma imóvel.
A clareira, tão espetacular pra mim antes, agora era feia em comparação com ele.
Hesitantemente, sempre com medo,mesmo agora, que ele desaparecesse como uma
miragem, bonito demais pra ser real... hesitantemente, eu levantei um dedo e alisei as
costas da sua mão brilhante, até onde deu pra alcançar. De novo, eu fiquei maravilhada
com a textura perfeita, macia como seda, fria como pedra. Quando eu olhei pra cima,
seus olhos estavam abertos, me observando. Seus olhos estava da cor de whisky hoje,
mais claros, mais amenos depois da caçada de ontem. Seu rápido sorriso curvou os
cantos dos seus lábios perfeitos.
"Eu não te assusto?", ele perguntou de brincadeira, mas eu ouvia a curiosidade por trás
da sua voz suave.
"Não mais que o normal".
Seu sorriso cresceu; seus dentes brilharam ao sol.
Eu cheguei mais perto, abrindo minha mão pra tocar os contornos do seu braço com as
pontas dos meus dedos. Eu ví que meus dedos tremeram, e eu sabia que ele não deixaria
de notar.
"Você se incomoda?", eu perguntei já que ele havia fechado os olhos de novo.
"Não", ele disse sem abrir os olhos. "Você não pode imaginar o que isso me faz sentir",
ele suspirou.
Eu passei minha mão suavemente no seu braço, trilhando os contornos dos musculos
perfeitos, segui a leve linha das veias em baixo do seu cotovelo. Com minha outra mão,
eu virei a mão dele. Se dar conta do que eu queria, ele levantou sua mão em um
daqueles movimentos rápidos e desconcertantes dele. Isso me assustou, meus dedos
congelaram no braço dele por um breve segundo.
"Me desculpe", ele murmurou. Eu olhei pra cima pra ver seus olhos claros se fechando
de novo. "É fácil demais ser eu mesmo quando eu estou com você".
Eu levantei a mão dele, virando ela pra cima e pra baixo enquanto eu observava o brilho
do sol cintilar na sua palma. Eu segurei ela mais próxima do meu rosto, tentando ver os
detalhes escondidos da pele dele.
"Me diga o que você está pensando", ele sussurou. Eu olhei pra cima pra ver seus olhos
me observando, repentinamente atentos. "Ainda é estranho pra mim, não saber".
"Sabe, o resto de nós se sente assim o tempo inteiro".
"É uma vida injusta". Será que eu imaginei a pontada de arrependimento na voz dele?
"Mas você ainda não me disse".
"Eu estava desejando saber o que você estava pensando..." eu hesitei.
"E...?"
"Eu estava desejando poder acreditar que você é real. E eu estava desejando não ter
medo".
"Eu não quero que você sinta medo", a voz dele era um leve murmúrio. Eu ouví o que
ele queria ter dito na verdade, que eu não precisava ter medo, que não havia nada a
temer.
"Bem, não é exatamente desse medo que eu estou falando, apesar de que isso realmente
é algo em que eu devia estar pensando".
Tão rápido que eu perdí o movimento, ele estava meio sentado, apoiado no braço
direito, sua palma esquerda ainda na minha mão.
Seu rosto angelical estava a apenas alguns centímetros do meu. Eu devo ter - posso ter -
me afastado algns centímetros, assustada com a súbita aproximação, mas eu não
consegui me mexer. Seus olhos dourados me hipnotizaram.
"Do que você está com medo, então?", ele sussurou atentamente.
Mas eu não consegui responder. Como eu já tinha feito antes, eu senti a sua respiração
gelada no meu rosto. Doce, delicioso, o cheiro fez a minha boca encher de água. Não
havia nada parecido. Instintivamente, sem pensar, eu me inclinei pra frente para inalar o
cheiro.
E ele desapareceu, sua mão sumiu da minha. Quando os meus olhos fianlmente ficaram
focados, eu percebi que ele estava a uns três metros de distância, de pé na beira da
clareira, na sombra de uma enorme árvore. Ele me encarou, seus olhos escuros nas
sombras, sua expressão ilegível.
Eu podia sentir a dor e o choque no meu rosto. Minhas mãos vazias tremeram.
"Me...desculpe...Edward", eu sussurei. Eu sabia que ele podia ouvir.
"Me dê um momento", ele respondeu, alto o suficiente apenas para eu ouvir. Eu sentei
muito rígida.
Depois de dez segundos incrivelmente longos, ele voltou, devagar demais pra ele. Ele
parou ainda a vários passos de distância e se sentou graciosamente no chão, cruzando as
pernas. Seus olhos não se desgrudavam dos meus. Ele respirou fundo duas vezes, e
então sorriu se desculpando.
"Eu sinto muito", ele hesitou. "Você entenderia se eu dissesse que sou apenas humano?"
Eu afirmei com a cabeça uma vez, sem conseguir rir da piada dele. A adrenalida pulsou
nas minhas veias quando eu me dei conta do verdadeiro perigo. Ele conseguia sentir
isso não importava onde ele se sentasse. Seu sorriso se tornou zombeteiro.
"Eu sou o melhor predador do mundo, não sou? Tudo em mim é convidativo pra vocêminha
voz, meu rosto e até meu cheiro. Como se eu precisasse disso!" Inesperadamente,
ele estava de pé, andando pra longe, instantemente fora de vista, só pra depois aparecer
atrás daquela mesma árvore de antes; ele circulou a clareira em meio segundo.
"Como se você pudesse fugir de mim". Ele sorriu amargamente.
Ele levantou uma mão e, com um crack alto, ele arrancou uma árvore de dois metros de
altura com raiz e tudo, sem esforço. Ele segurou ela com uma mão por um momento, e
então jogou ela pra longe com uma rapidez impressionante, fazendo com que ela se
chocasse contra outra árvore enorme, ela caiu no chão com um barulho incrível fazendo
o chão tremer.
E ele estava na minha frente de novo, á dois passos de distância, ainda como uma pedra.
"Como se você pudesse me vencer", ele disse gentilmente.
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Eu me sentei imóvel, com mais medo dele do que eu jamais sentí. Eu nunca tinha visto
ele fora daquela fachada cuidadosamente cultivada. Ele nunca esteve menos humano...
ou mais bonito. Com o rosto pálido, olhos arregalados, eu estava sentada como um
pássaro preso pelos olhos da cobra.
Seus olhos adoráveis pareciam brilhar com a excitação. Então, quando os segundos
passaram, eles foram escurecendo. Sua expressão lentamente foi se transformando numa
máscara de tristeza.
"Não tenha medo", ele murmurou, sua voz sedosa era muito atraente mesmo sem essa
intenção. "Eu prometo..." ele hesitou. "Eu juro que não vou te machucar". Ele parecia
estar mais preocupado em se convencer disso do que a mim.
"Não tenha medo", ele sussurou de novo, enquanto dava um passo á frente, com uma
lentidão exagerada. Ele se sentou sinuosamente, com movimentos deliberadamente
lentos, até que os nossos rostos estavam na mesma altura, a apenas uns centímetros de
distância.
"Por favor me perdoe", ele disse formalmente. "Eu posso me controlar. Você me pegou
de surpresa. Mas eu estou com o meu melhor comportamento agora".
Ele esperou, mas eu não conseguia falar.
"Eu não estou com sede hoje, honestamente", ele piscou pra mim.
Com essa eu tive que rir, apesar do som estar tremendo e sem fôlego.
"Você está bem?", ele perguntou delicadamente, levantando a mão lentamente,
cuidadosamnete, pra colocá-la de volta na minha.
Eu olhei para a sua mão suave, fria, e então para seus olhos.
Eles estavam suaves, arrependidos. Eu olhei de volta para as suas mãos, e então
deliberadamente recomecei a tatear a sua mão com as pontas dos meus dedos. Eu olhei
pra cima e sorrí timidamente.
O sorriso dele era deslumbrante.
"Então onde é que nós estavamos, antes de eu me comportar tão rudemente?", ele
perguntou com as tendências gentís do início do século.
"Eu honestamente não me lembro"
Ele sorriu mas o seu rosto estava envergonhado. "Nós estávamos falando sobre porque
você estava com medo, sem contar as razões óbvias".
"Ah certo".
"Então?"
Eu olhei para as mãos dele e tateei á toa na sua palme macia. Os segundos passaram.
"Como eu fico frustrado facilmente", ele suspirou. Eu olhei para os olhos dele,me dando
conta abruptamente que isso era tão novo pra ele quanto era pra ele. Assim como muito
anos de experiências insondáveis que ele teve, isso era difícil pra ele também. Eu me
encorajei com esse pensamento.
"Eu estava com medo...porque, bem, por razões óbvias, eu não posso ficar com você. E
eu tenho medo de querer ficar com você, mais até do que eu devia". Eu olhei pra baixo
para as mãos dele enquanto falava. Era difícil pra mim dizer isso em voz alta.
"Sim", ele concordou lentamente. "Isso é algo pra se temer, realmente. Querer ficar
comigo. Esse realmente não é o seu melhor interesse".
Eu fiz uma careta.
"Eu já devia ter ido embora a muito tempo", ele suspirou. "Eu devia ir embora agora.
Mas eu não sei se consigo".
"Eu não quero que você vá embora", eu murmurei pacientemente, olhando pra baixo de
novo.
"E é exatamente por isso que eu devia ir. Mas não se preocupe. Eu sou uma pessoa
essencialmente egoísta. Eu necessito demais da sua companhia para fazer o que eu
devia".
"Eu fico alegre"
"Não fique!". Ele retirou a sua mão, mais gentilmente dessa vez; sua voz estava mais
grossa que de costume, ainda mais bonita do que qualquer voz humana. Era difícil
acompanhar- as mudanças subitas do seu humor sempre me deixavam pra trás, confusa.
"Não é apenas da sua companhia que eu necessito! Nunca se esqueça disso. Nunca se
esqueça de que eu sou muito mais perigoso pra você do que pra qualquer outra pessoa".
Ele parou e eu olhei pra ele pra ver que ele estava olhando a floresta sem ver nada.
Eu pensei por um momento.
"Eu acho que não entendo o que você quis dizer- sobre a última parte", eu disse.
Ele olhou pra mim e sorriu, seu humor mudando de novo.
"Como eu vou explicar?", ele zombou. "E sem assustar você...Hummm".
Sem parecer pensar em nada, ele colocou sua mão de volta na minha; eu apertei a mão
dele com as minhas duas. Ele olhou para as nossas mãos.
"Isso é incrivelmente prazeroso. O calor", ele suspirou.
Um momento se passou enquanto ele assemelhava seus pensamentos.
"Você sabe como as pessoas gostam de diferentes sabores?", ele começou. "Como
alguns gostam de sorvete de chocolate, outros preferem morango?"
Eu afirmei com a cabeça.
"Me desculpe pela analogia á comida- eu não conseguia pensar em outra forma de
explicar".
Eu sorri. Ele sorriu de volta sem graça.
"Entenda, cada pessoa cheira diferente, tem uma essencia diferente. Se você colocasse
uma pessoa alcólotra numa sala cheia de cerveja, ela beberia feliz. Mas ela poderia
resistir, se ela quisesse, se ela fosse uma alcólica em reabilitação. Agora digamos que
voc~e coloca nessa sala uma garrafa de brandy de cem anos, o conhaque mais raro,
mais fino- que enche a sala com o seu aroma- como voc~e acha que ela reagiria?"
Nós sentamos em silêncio, olhando para os olhos um do outro - tentando ler os
pensamentos um do outro.
Ele quebrou o silêncio primeiro.
"Talvez essa não seja a comparação certa. Talvez fosse fácil demais recusar o brandy.
Talvez o nosso alcólico devesse ser um viciado em heroína".
"Então, o que você está dizendo é que eu sou a sua injeção de heroína?", eu brinquei,
tentando melhorar o clima.
Ele sorriu brevemente, parecendo apreciar meu esforço. "Você é exatamente minha
injeção de heroína".
"Isso acontece sempre?" eu perguntei.
Ele olhou para o topo das árvores enquanto pensava na resposta.
"Eu falei com os meus irmãos sobre isso". Ele ainda olhava pra longe. "Pra Jasper,
todos vocês são praticamente iguais. Ele foi o que se juntou á família mais
recentemente. A abstinência já é difícil pra ele por si só. Ele ainda não teve tempo pra
desenvolver o olfato, as diferenças do cheiro, no sabor". Ele olhou rapidamente pra
mim, se desculpando.
"Desculpe", ele disse.
"Eu não me importo. Por favor, não tenha medo de me ofender, ou me assustar, ou o
que quer que seja. É aasim que você pensa. Eu posso entender, ou pelo menos tentar.
Me explique como puder."
Ele respirou fundo e olhou para o céu de novo.
"Então Jasper não tinha certeza se já tinha cruzado com alguém tão"-
ele hesitou procurando pela palavra certa - "atraente como você é pra mim". O que me
faz acreditar que não. Emmett já está nessa a mais tempo, por assim dizer, e ele
entendeu o que eu quis dizer. Ele disse que já aconteceu com ele duas vezes, para ele,
uma vez foi mais difícil que a outra".
"E com você?"
"Nunca".
A palavra ficou pendurada durante um momento na brisa morna.
"O que Emmett fez?" eu perguntei pra quebrar o silêncio.
Foi a coisa errada pra perguntar. Seu rosto obscureceu, a mão dele se apertou no punho
dentro da minha. Ele desviou o olhar. Eu esperei, mas ele não ia responder.
"Eu acho que já sei", eu finalmente disse.
Ele levantou os olhos, sua expressão tristonha, implorativa.
"Até o mais forte de nós comete erros, não é?"
"Você está pedindo o que? Minha permissão?", minha voz estava mais cortante do que
eu pretendia. Eu tentei deixar o meu tom mais suave - eu podia imaginar o que a sua
honestidade estaria custando pra ele. "Eu quero dizer, não existem esperanças, então?"
Como eu podia discutir a minha morte tão calmamente!
"Não, não", ele estava instantaneamente arrependido. "É claro que há esperança! Digo, é
claro que eu não vou..." Ele não terminou a frase.
Seus olhos queimavam nos meus. "É diferente conosco. Emmett... aqueles eram
estranhos que cruzaram o nosso caminho. Foi há muito tempo e ele não tinha tanta...
prática e cuidado que tem hoje".
Ele ficou em silêncio me observando atentamente enquanto eu pensava nisso.
"Então... se tivéssemos nos conhecido num beco escuro ou alguma coisa assim...",
minha voz falhou.
"Eu fiz tudo o que pudia pra não pular em você no meio de uma sala cheia de crianças
e"- ele parou abruptamente, desviando o olhar. "Quando você passou por mim, eu podia
ter arruinado tudo o que Carlisle construiu pra nós, lá mesmo. Se eu não tivesse
renegado a minha sede pelos últimos, bem , muitos anos, eu não teria sido capaz de me
refrear". Ele parou, olhando para as árvores.
Ele olhou pra mim severamente, nós dois lembrando. "Você deve ter pensado que eu
estava possuído".
"Eu não conseguia entender porque. Como você poderiame odiar tão rapidamente..."
"Pra mim, era como se você fosse uma espécie de demônio, reunindo forças do meu
próprio inferno pra me destrir. A fragrância que saia da sua pele... eu pensei que ia me
deixar desarranjado naquele primeiro dia. Naquela uma hora, eu pensei em milhões de
formas de te tirar da sala comigo, pra que ficássemos sozinhos. E eu lutei com esses
pensamentos, pensando na minha família, o que eu podia causar pra eles. Eu tive que
sair correndo, pra sair de perto de você antes de te dizes as palavras que faria você me
seguir..."
Então ele olhou pra cima para a minha expressão vacilante enquanto eu tentava absorver
memórias amargas. Seus olhos dourados me observavam por baixo dos cílios,
hipnoticos e mortais.
"Você teria vindo", ele garantiu.
Eu tentei falar calmamente. "Sem dúvida".
Ele olhou pra baixo para as minhas mãos, me libertando da força do seu olhar. "E então,
enquanto eu tentava refazer o meu horário numa tentativa inútil de te evitar, você estava
lá- naquela sala pequena, quente, o seu cheiro era enlouquecedor. E então eu quase te
ataquei lá. Só havia uma outra frágil humana lá-fácil de lidar
Eu me arrepiei no sol quente, vendo minhas memórias através dos olhos dele, só agora
me dando conta do perigo. Pobre Sra. Cope; eu tremí de novo por saber que por pouco
eu não fui a causa da sua morte.
"Mas eu resisti. Eu não sei como. Eu me forcei a não te esperar, a não seguir você
depois da escola. Foi mais fácil do lado de fora, quando eu não conseguia mais sentir o
seu cheiro, eu consegui pensar claramente, tomar a decisão correta. Eu deixei os outros
perto de casa- eu estava envergonhado demais pra contar pra ele o quanto eu era fraco,
eles só sabiam que algo estava muito errado- eu fui direto até Carlisle, no hospital, pra
dizer pra ele que estava indo embora".
Eu o encarei surpresa.
"Eu troquei de carro com ele - o dele estava com o tanque cheio e eu não queria parar.
Eu não queria ir pra casa, para enfrentar Esme. Ela não me deixaria ir sem fazer uma
cena. Ela teria tentado me convencer de que não era necessário...
"Na manhã seguinte eu já estava no Alaska". Ele parecia envergonhado, como se
estivesse admitindo uma grande covardia. "Eu fiquei lá dois dias, com alguns
conhecidos...mas fiquei com saudades de casa. Eu detestava saber que estava
machucando Esme, e o resto deles, minha família adotiva. No ar puro das montanhas
era difícil de acreditar que você fosse tão irresistível. Eu me convencí de que era um
fraco por ter fugido. Eu lidei com a tentação antes, não nessas proporções, nem perto
disso, mas eu era forte. Quem era você, uma garotinha insignificante" - ele sorriu de
repente- "pra me afastar do lugar onde eu queria estar? Então eu voltei..." Ele parou .
Eu não conseguia falar.
"Eu tomei precauçôes, caçando, comendo mais do que o normal antes que ver você de
novo. Eu tinha certeza de que era forte o suficiente pra ter tratar como qualquer outra
humana. Eu estava sendo arrogante.
"Era inquestionavelmente uma complicação não poder simplesmente ler a sua mente pra
saber o que você pensava de mim. Eu não estava acostumado a ser tão indireto,
escutando as suas palavras pelos pensamentos de Jéssica... a mente dela não é muito
origonal, e era irritante ter que me manter preso áquilo. E depois eu não sabia se você
realmente estava pensando as coisas que estava dizendo. Tudo era extremamente
irritante." Ele fez uma careta pela memória.
"Eu queria que você esquecesse o meu comportamento no primeiro dia, se possível,
então eu tentei falar com você como eu falaria com qualquer pessoa. Eu estava ansioso
na verdade, esperando decifrar os seus pensamentos. Mas você era interessante demais,
eu me ví vidrado nas suas expressões... e de vez em quando você esporeava o ar com o
cabelo ou com as mãos, e o cheiro me pegava de novo...
"É claro, depois você quase foi espremida até a morte diante dos meus olhos. Depois eu
pensei na desculpa perfeita pra ter feito o que eu fiz naquele momento - porque se eu
não tivesse te salvado, seu sangue teria se esparramado bem na minha frente, eu não
acho que teria conseguido evitar e teria exposto a nós todos. Mas eu só pensei nessa
desculpa depois. Naquela hora, tudo o que eu conseguia pensar era 'ela não'".
Ele fechou os olhos, perdido em sua confissão agonizante. Eu escutei, mais ansiosa do
que era racional. Meu senso comum devia me dizer pra ficar assustada. Mas ao invés
disso, eu estava aliviada por finalmente entender. Eu estava cheia de compaixão pelo
seu sofrimento, mesmo agora, enquanto ele confessava que queria tirar minha vida.
Eu finalmente consegui falar, apesar da minha voz estar fraca. "No hospital?"
Seus olhos vieram parar nos meus. "Eu estava intimidado. Eu não conseguia acreditar
que tinha exposto a nós todos daquela forma, me colocado na sua mão- você entre todas
as pessoas. Como se eu precisasse de outro motivo pra te matar". Nós dois enrijessemos
quando a palavra escapuliu. "Mas teve o efeito oposto", ele continuou rapidamente.
"Eu briguei com Rosalie, Emmett, e com Jasper quando eles sugeriram que essa era a
hora... foi a pior briga que já tivemos. Carlisle ficou do meu lado, e Alice". Ele fez uma
cara estranha quando disse o nome dela. Eu não podia imaginar o porquê. "Esme me
disse pra fazer o que eu tivesse que fazer pra ficar". Ele balançou a cabeça
indulgentemente.
"No dia seguinte eu espionei as mentes de todas as pessoas que falavam com você,
chocado por você ter mantido sua palavra. Eu não entendia nem um pouco. Mas eu
sabia que não podia me envolver nem mais um pouco com você. Eu fiz o que pude pra
ficar tão longe de você quanto era possível. E todos os dias o perfume da sua pele, sua
respiração, seu cabelo... tudo era tão apelativo quanto no primeiro dia".
Ele encontrou meus olhos de novo, e ele estava surpreendentemente carinhoso.
"E por tudo isso", ele continuou. "Eu teria feito muito melhor se eu tivesse expostos a
todos nós naquele primeiro momento, do que aqui- sem testemunhas e ninguém pra me
parar- eu ia te machucar."
Eu era humana o suficiente pra ter que perguntar. "Porque?"
"Isabella", ele pronunciou meu nome inteiro cuidadosamente, e então começou a brincar
com o meu cabelo com a mão que estava livre. Como sempre, um choque correu no
meu corpo quando ele me tocou. "Bella, eu não conseguiria viver comigo mesmo se eu
te machucasse. Você não sabe como isso me torturou". Ele olhou pra baixo,
envergonhado de novo. "O pensamento de você, rígida, branca, fria... nunca mais ver
você ficar corada de novo, nunca mais ver esse flash de intuição que passa nos seus
olhos quando você desvenda uma das minhas pretensões... isso seria insuportável". Ele
levantou seus olhos gloriosos, agonizantes para os meus. "Você é a coisa mais
importante pra mim agora. A coisa mais importante que eu já tive".
Minha cabeça estava rodando pela rapidez que a nossa conversa mudou de rumo. Do
alegre tópico do meu falecimento impedido, nós de repente estavamos nos declarando.
Ele esperou, e mesmo estando com a cabeça baixa, olhando para as nossas mãos, que
estavam entre nós, eu sabia que seus olhos dourados estavam em mim. "Você já sabe
como eu me sinto, é claro", eu disse finalmente. "Eu estou aqui... que, traduzindo,
significa que eu preferiria morrer do que ficar longe de você". Eu fiz uma careta. "Eu
sou uma idiota".
"Você é uma idiota", ele concordou sorrindo. Nossos olhos se encontraram e eu sorri
também. Nós sorrimos juntos pela idiotice e impossível felicidade do momento.
"E então o leão se apaixona pelo cordeiro..." ele murmurou. Eu escondí meus olhos pra
não mostrar o quanto eles haviam ficado felizes com a palavra.
"Que cordeiro idiota", eu suspirei.
"Que leão doente e masoquista", Ele olhou para a floresta cheia de sombras e eu fiquei
imaginando onde seus pensamentos haviam o levado.
"Porque...?", eu comecei, e então parei por não saber como continuar.
Ele olhou pra mim sorrindo; o sol cintilava no seu rosto, nos seus dentes.
"Sim?"
"Me diga porque você corria de mim antes".
Seu sorriso desapareceu. "Você sabe porque".
"Não, eu digo, o que exatamente eu fiz de errado? Eu terei que ficar de guarda, sabe, pra
aprender melhor o que eu devo fazer. Isso, por exemplo" - eu alisei as costas da mão
dele - "parece ser normal".
Ele sorriu de novo. "Você não fez nada de errado, Bella. Foi minha culpa."
"Mas eu quero ajudar, se puder, pra não fazer isso ser ainda pior pra você".
"Bem", ele pensou por um momento. "É só que você estava muito perto. A maioria dos
humanos é instintivamente timida perto de nós, são repelidos pela nossa alienação... Eu
não estava esperando que você chegasse tão perto. E o cheiro da sua garganta." Ele
parou de repente, olhando pra ver se tinha me aborrecido.
"Tudo bem, então", eu disse alegremente, tentando aliviar a atmosfera tensa que surgiu.
Eu abaixei o queixo. "Nada de expor a garganta".
Funcionou; ele riu. "Não, de verdade, foi mais a surpresa do que qualquer outra coisa".
Ele ergueu a mão livre e a encostou no meu pescoço. Eu sentei muito rígida, os arrepios
pelo seu toque eram um aviso natural- um aviso natural me dizendo pra sentir medo.
Mas não havia nenhum pouco de medo em mim. Haviam, no entanto, outros
sentimentos...
"Veja", ele disse. "Perfeitamente normal".
Meu sangue estava correndo, eu desejei poder pará-lo, sentindo que isso iria tornar as
coisas tão mais difíceis - o pulsar das minhas veias. Com certeza ele podia ouvir.
"As suas bochechas coradas são adoráveis", ele murmurou. Ele gentilmente livrou a sua
outra mão. Minhas mãos cairam moles no meu colo. Ele alisou suavemente as minhas
bochechas, e então segurou o meu rosto entre suas mãos de mármore.
"Fique bem parada", ele murmurou, como se eu já não estivesse congelada.
Lentamente, sem tirar os olhos dos meus, ele se inclinou na minha direção. Então
abruptamente, mas muito gentilmente, ele descansou a sua bochecha gelada na base da
minha garganta. Eu estava quieta, impossibilitada de me mexer, mesmo quando eu
queria. Eu escutei o som da sua respiração uniforme, olhando o sol e o vento bricarem
com o seu cabelo cor de bronze, mais humano do que qualquer outra parte dele.
Com deliberada lentidão, suas mãos escorregaram pelos lados do meu pescoço. Eu
tremi, e ouvir ele prender a respiração. Mas suas mãos não pararam e continuaram
descendo até os meus ombros, e então pararam.
Seu rosto virou para o lado, seu nariz explorando a minha clavícula. Ele descansou o
seu rosto carinhosamente no meu peito.
Escutando o meu coração.
"Ah". Ele suspirou.
Eu não sei quanto tempo nós ficamos sem nos mexer. Podem ter sido horas.
Eventualmente, o pulsar das minhas veias se aquietou, mas ele não se mexeu ou falou
de novo enquanto me abraçava. Eu sabia que á qualquer momento aquilo podia ser
demais, e minha vida acabaria- tão rapidamente que eu nem ia reparar. E eu não
conseguia me fazer ficar com medo. Eu não conseguia pensar em nada, exceto que ele
estava me tocando.
E então, cedo demais, ele me soltou.
Seus olhos estavam em paz.
"Não vai mais ser tão difícil", ele disse com satisfação.
"Foi muito difícil pra você?"
"Nem de perto foi tão difícil quanto eu imaginava que seria. E você?"
"Não, não foi ruim pra mim".
Ele sorriu com a minha flexão. "Você abe o que eu quero dizer".
Eu sorrí.
"Aqui", ele pegou minha mão e colocou no peito dele. "Você sente como está quente?"
E a sua pele geralmente gelada, estava quase quente. Mas eu mal reparei, porque estava
alisando o seu rosto,algo que eu sonhava em fazer constantemente desde o primeiro dia
que eu o ví.
"Não se mova", eu sussurei.
Ninguém conseguia ficar tão rígido quanto Edward. Ele fechou os olhos e ficou imóvel
como uma pedra, uma rocha embaixo da minha mão.
Eu me moví anda mais lentamente que ele, tomando cuidado pra não fazer movimento
brusco. Eu acariciei sua bochecha, delicadamente alisei suas pálpebras, os círculos
roxos embaixo dos olhos dele. Eu tracei o formato perfeito do seu nariz, e então, muito
cuidadosamente, os seus lábios perfeitos. Seus lábios se abriram embaixo do meu toque,
e eu podia seu hálito frio na minha mão. Eu queria me inclinar, para sentir o cheiro.
Então, eu me inclinei pra longe, sem querer forçá-lo demais.
Ele abriu seus olhos, e eles estavam famintos. Não de uma maneira que me fazia ter
medo, mas sim da maneira que fez os musculos do meu estômago se contrairem e o meu
pulso ficar acelerado de novo.
"Eu queria", ele sussurou. "Eu queria que você sentisse a...complexidade... a confusão...
que eu sinto. Queria que você pudesse entender".
Ele ergueu uma mão para o meu cabelo, e então cuidadosamente espalhou ele ao redor
do meu rosto.
"Me diga", eu suspirei.
"Eu não acho que posso. Eu já te disse, de um lado a fome -a sede- que essa criatura
deplorável que eu sou sente por você. E eu acho que você consegue compreender isso,
de uma certa forma. Apesar de que"- ele deu um meio sorriso - "Como você não é
viciada em nenhuma substancia ilegal, você provavelemente não pode enfatizar
completamente".
"Mas...", seus dedos tocaram levemente os meus lábios, me fazendo tremer de novo.
"Existem outras fomes. Fomes que eu nem sequer entendo, que são estranhas pra mim".
"Eu acho que entendo isso melhor do que você imagina".
"Eu não estou acostumado a me sentir tão humano. É sempre assim?"
"Pra mim?" eu pausei. "Não, nunca. Nunca antes disso".
Ele segurou minhas mãos entre as suas. Elas pareciam tão fracas sob o seu aperto de
aço.
"Eu não sei como ficar perto de você", ele admitiu. "Eu não sei se consigo".
Eu me inclinei bem lentamente, avisando ele com o meu olhar. Eu coloquei minha
bochecha no seu peito de pedra. Eu podia ouvir sua respiração, e nada mais.
"Isso é suficiente", eu suspirei, fechando os olhos.
Num gesto muito humano, ele passou um braço por mim e descançou seu rosto no meu
cabelo.
"Você é melhor nisso do que pensava", eu notei.
"Eu tenho instintos humanos- eles podem estar enterrados bem no fundo, mas estão lá".
Nós sentamos nessa posição por outro momento sem fim; eu imaginei se ele estava tão
sem vontade de se mexer quanto eu. Mas eu podia ver que a luz estava desaparecendo,
as sombras da floresta estavam começando a se aproximar de nós, e eu suspirei.
"Você tem que ir".
"Eu pensei que você não podia ler minha mente"
"Ela já está começando a ficar mais clara", eu podia ouvir o sorriso na voz dele.
Ele segurou meus ombros e eu olhei pra o rosto dele.
"Eu posso te mostrar uma coisa?", ele pediu, uma excitação repentina brilhando nos
olhos dele.
"Me mostrar o que?"
"Como eu ando pela floresta". Ele viu minha expressão. "Não se preocupe, você estará
segura, e chegaremos na sua caminhonete muito mais rápido". Sua boca se contorceu
naquele sorriso torto tão lindo e meu coração quase parou.
"Você vai se transformar num morcego?", eu perguntei brincando.
Ele riu mais alto do que eu jamais tinha ouvido ele sorrir. "Como se eu nunca tivesse
ouvido essa antes".
"Claro, eu tenho certeza que você ouve isso o tempo todo"
"Vamos lá, pequena covarde, suba nas minhas costas".
Eu esperei pra ver se ele estava brincando,mas, aparentemente, ele estava falando sério.
Ele sorriu quando viu minha hesitação, e veio meu pegar. Meu coração reagiu; apesar
dele não poder ouvir ouvir meus pensamentos, minhas pulsações sempre me
denunciavam. Ele então me colocou nas costas dele, com muito pouca resistência da
minha parte, além do mais, quando eu estava no meu lugar, eu agarrei ele com tanta
força com meus braços e pernas que eu teria sufocado uma pessoa normal. Eu senti que
estava agarrando uma pedra.
"Eu sou uma pouco mais pesada do que a sua bagagem normal", eu avisei.
"Hah", ele zombou. Eu quase podia ver seus olhos revirando. Eu nunca ví ele com tão
bons espíritos quanto hoje.
Ele me surpreendeu, segunrando a minha palma contra o rosto dele e cheirando
profundamente.
"Cada vez fica mais fácil", ele murmurei.
E então ele começou a correr.
Se alguma vez eu já tive medo da morte antes na presença dele, isso não era nada
comparado ao que eu sentia agora.
Ele corria na escuridão, entre os arbustos da foresta como uma bala, um fantasma. Não
havia nenhum som,nenhuma evidência de que seus pés estavam realmente tocando o
chão. A respiração dele não mudou, ela não denunciava nenhum esforço. Mas as árvores
passavam mortalmente rápidas por nós, sempre nos perdendo por pouco.
Eu estava assutada demais pra fechar os olhos, apesar do vento da floresta estar
passando rapidamente pelo meu rosto e queimando eles. Eu sentí que estava
estupidamente colocando a minha cabeça pra fora de um avião em pleno vôo. E, pela
primeira vez na minha vida, eu sentí nauseas por causa do movimento.
Então estava acabado. Nós tínhamos caminhado durante horas pela manhã para chegar
até a clareira de Edward, e agora, em questão de minutos, estávamos de volta á
caminhonete.
"Divertido, não é?" A voz dele estava alta, excitada.
Ele permaneceu em pé sem se mexer, esperando que eu descesse. Eu tentei,mas meus
musculos não respondiam.
Meus braços e pernas continuaram trancados ao redor dele enquanto minha cabeça
girava desconfortavelmente.
"Bella?", ele perguntou, ansioso agora.
"Eu acho que preciso me deitar agora", eu gaguejei.
"Oh, desculpe". Ele esperou por mim, mas eu ainda não conseguia me mexer.
"Eu acho que preciso de uma ajudinha", eu admití.
Ele sorriu baixinho e gentilmente soltou o meus braços de seu pescoço. Não havia como
resitir ao poder da sua força de aço.
Então ele me puxou pra encará-lo, me segurando nos braços como uma criança
pequena. Ele me segurou por um momento e então me colocou na grama primaveríl.
"Como você se sente?", ele perguntou.
Eu não tinha muita certeza das coisas quando minha cabeça estava girando. "Tonta, eu
acho".
"Ponha a cabeça entre os seus joelhos".
Eu tentei isso, e ajudou um pouco. Eu respirei devagar, ainda mantendo minha cabeça
bem parada. Eu sentí ele se sentando do meu lado. Os segundos passaram, e finalmente,
eu descobri que podia levantar a cabeça. Haviam um sino tocando nos meus ouvidos.
"Eu acho que essa não foi a melhor idéia", ele zombou.
"Eu tentei ser positiva,mas minha voz estava fraca. "Não, foi interessante".
"Hah! Você está branca feito um fantasma- você está branca que nem eu".
"Eu devia ter fechado os olhos"
"Lembre-se disso na próxima vez"
"Próxima vez!", eu gemí.
Ele riu, seu humor ainda estava radiante.
"Exibido", eu sussurei.
"Abra seus olhos, Bella", ele disse baixinho.
E ele estavá lá, seu rosto bem perto do meu. Sua beleza fascinou minha mente- era
demais, um excesso ao qual eu não conseguia me acostumar.
"Eu estava pensando, enquanto eu estava correndo..." Ele parou.
"Em não bater nas árvores, eu espero".
"Bella boba", ele gargalhou. "Correr é minha segunda natureza, não há nada o que
pensar".
"Exibido", eu sussurei de novo.
Ele sorriu.
"Não", ele continuou. "Eu estava pensando que há algo que eu quero tentar". E então ele
pegou meu rosto nas mãos de novo.
Eu não conseguia respirar.
Ele hesitou- não do jeito normal, do jeito humano.
Não do jeito que o homen hesita quando vai beijar uma mulher, pra ver a reação dela,
pra ver se ele seria recebido. Talvez ele hesitasse pra prolongar o momento, o momento
ideal da antecipação, que as vezes era melhor do que o beijo em si.
Edward hesitou pra se testar, pra ver se isso era seguro, pra ter certeza que ele ainda
poderia se controlar se precisasse.
E então seus lábios gelados, de mármore se pressionaram nos meus.
Nenhum de nós estava preparado para a minha resposta.
O sangue queimou embaixo da minha pele, queimou nos meus lábios.
Minha respiração saiu num suspiro selvagem.
Meus dedos se fecharam nos cabelos dele, apertando ele contra mim. Meus lábios se
abriram enquanto eu respirava o su cheiro forte.
Imediatamente eu senti ele se tornar uma pedra sem resposta sob meus lábios. Suas
mãos gentís, mas com uma força iresistível, afastaram meu rosto. Eu abri meus olhos e
vi a sua expressão cuidadosa.
"Ooops", eu respirei.
"Isso é uma declaração"
Seus olhos estavam selvagens, sua mandíbula estava fechada com uma força aguda, mas
nem isso modificou suas feições perfeitas. Ele segurou meu rosto a apenas alguns
centímetros do seu. Ele me fascinou com seus olhos.
"Será que eu posso...?", eu tentei me soltar, pra dar um pouco de espaço pra ele.
As mãos dele não permitiram que eu me movesse nem um centímetro.
"Não. Isso é intolerável. Espere um momento,por favor". Sua voz estava educada,
controlada.
Eu mantive meus olhos nos seus, observei enquanto a excitação neles se esvaia e eles
ficavam gentís.
Então ele deu um sorriso surpreendentemente travesso.
"Pronto", ele disse, obviamente satisfeito consigo mesmo.
"Tolerável?", eu perguntei.
Ele riu alto. "Eu sou mais forte do que pensava. É bom saber".
"Eu queria poder dizer o mesmo. Me desculpe".
"Você é apenas humana, no final das contas".
"Muito obrigada", eu disse.
Com um dos seus movimentos leves, quase invisíveis, ele ficou de pé. Ele segurou sua
mão pra mim, um gesto inesperado.
Eu estava muito acostumada ao tratamento cuidadoso do não-toque. Eu segurei sua mão
gelada, precisando mais de apoio do que eu esperava.
Meu equilíbrio ainda não havia voltado.
"Você ainda está tonta pela corrida? Ou foi minha habilidade com beijos?" Como ele
pareceu frívolo, humano quando riu agora. Seua rosto angelical estava sem
preocupações. Era um Edward diferente do que eu conhecia. E eu me sentia muito mais
atraída a ele. Me separar dele agora teria me causado dor física.
"Eu não tenho certeza, eu ainda estou lerda", eu conseguí responder.
"Porém, eu acho que é um pouco dos dois".
"Talvez você devesse me deixar dirigir".
"Você está louco?, eu protestei.
"Eu dirijo melhor do que você nos seus melhores dias", ele zombou. "Você tem reflexos
muito mais lentos".
"Eu tenho certeza de que é verdade, mas eu não acho que os meus nervos, ou a minha
caminhonete, aguentariam"
"Um pouco de confiança, Bella, por favor".
Minha mão estava no meu bolso, apertando a minha chave com toda força. Eu curvei
meus lábios, meditei e falei com um sorriso apertado.
"Não. Sem chance"
Ele ergueu as sobrancelhas sem acreditar.
Eu comecei a passar por ele, indo para o banco do motorista. Ele poderia ter me deixado
passar se eu não tivesse tropeçado de leve. Mas também, ele poderianão ter deixado.
Seus braços criaram uma prisão inscapável ao redor da minha cintura.
"Bella, eu já gastei um bocado de esforço até esse ponto, pra manter você viva. Eu não
vou deixar você ficar atrás de um volante quando você não consegue nem caminhar
direito. Além do mais, amigos não deixam amigos dirigir quando estão bebados". Ele
citou com uma gargalhada.
Eu podia sentir a doçura do perfume que exalava do peito dele.
"Bêbada?", eu perguntei.
"Você está intoxicada com a minha presença". Ele estava dando aquele sorriso
zombeteiro de novo.
"Eu não posso discutir com isso", eu suspirei. Não havia volta; eu não conseguia resistir
a ele de forma nenhuma. Eu segurei a chave e soltei, vendo sua mão se mover como um
trovão e pegá-la no ar silenciosamente. "Pegue leve- minha caminhonete é uma cidadã
idosa".
"Muito sensível", ele aprovou.
"E você não está nem um pouco afetado", eu perguntei, aborrecida.
"Pela minha presença?"
De novo as suas feições se transformaram, sua expressão ficou suave, aconchegante. Ela
não respondeu de primeira; ele simplesmente aproximou seu rosto do meu e passou os
lábios lentamente pela minha mandíbula, da minha orelha até o queixo, pra frente e pra
trás. Eu tremí.
"Sem dúvida", ele finalmente disse. "Eu tenho reflexos melhores".
14. Aconteça o que acontecer.
Ele até que dirigia bem, quando a velocidade estava razoável, eu tinha que admitir isso.
Como tantas outras coisas, isso não parecia requerer nenhum esforço da parte dele. Ele
mal olhava para a estrada, mas mesmo assim, os pneus não sem desviaram nem um centímetro da linha no centro da estrada. Ele dirigiu com uma mão só, segurando a
minha mão no banco do carro. As vezes ele olhava para o sol se pondo, as vezes ele
olhava pra mim- meu rosto, meu cabelo voando ao vento da janela aberta, nossas mãos
juntas.
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