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Crepúsculo PARTE1

Crepúsculo
(Twilight)

Esta é a Parte1





Primeiro livro da série.
PREFÁCIO
Eu nunca pensei muito sobre como eu iria morrer - achei que eu tinha motivos
suficientes nos últimos meses - mas mesmo que eu não tivesse, eu não iria imaginar
assim.
Eu encarei sem respirar através do longo aposento, dentro dos olhos escuros do caçador,
e ele olhou agradavelmente de volta pra mim.
Com certeza essa foi uma boa forma de morrer, no lugar de outra pessoa, outra pessoa
que eu amava.
Nobre, até. Que deve ser levado em conta pra alguma coisa.
Eu sabia que se eu nunca fosse para Forks, eu não estaria encarando a morte agora. Mas,
aterrorizada como eu estava, eu não podia me fazer lamentar a decisão.
1. À PRIMEIRA VISTA
Minha mãe me levou ao aeroporto com as janelas abaixadas. Estava fazendo 24°C em
Phoenix, o céu estava um azul perfeito e sem nuvens. Estava vestindo minha camiseta
preferida: sem mangas, de renda furadinha. Usava-a como um gesto de despedida.
Minha bagagem de mão era um parka.
Na Península Olímpica, no noroeste do estado de Washington, nos Estados Unidos,
existe uma cidadezinha chamada Forks que está quase que constantemente coberta por
nuvens. Nessa cidade desimportante chove mais do que em qualquer outro lugar do
país. Foi dessa cidade e da sua sombra depressiva e onipresente que minha mãe fugiu
comigo quando eu tinha só alguns meses de vida. Era nessa cidade que eu era obrigada
a passar todos os verões até completar 14 anos. Aquele foi o ano em que bati o pé.
Então, nos últimos três verões, meu pai, Charlie, passou duas semanas de férias comigo
na Califórnia.
Agora era em Forks que ia me exilar, algo que fiz com muito custo. Eu detestava Forks.
Eu amava Phoenix. Amava o sol e o calor escaldante. Amava a cidade vigorosa e
grande.
— Bella — minha mãe me disse - pela milésima vez - antes de eu entrar no avião. —
Você não precisa fazer isso.
Minha mãe parece-se comigo, exceto pelo cabelo curto e pelo rosto risonho. Senti um
espasmo ao encarar os olhos infantis e bem abertos dela. Como poderia deixar minha
amorosa, errática e ingênua mãe para se cuidar sozinha? Claro, ela tinha o Phil agora,
então as contas provavelmente seriam pagas, haveria comida na geladeira, gasolina no
carro, e alguém pra ligar quando ela se perdesse, mas ainda assim...
— Eu quero ir — eu menti. Sempre fui uma péssima mentirosa, mas já estava contando
essa mentira tão freqüentemente por esses dias que agora já soava quase convincente.
— Diz 'oi' para o Charlie por mim.
— Pode deixar.
— Verei você logo — ela insistiu. — Pode voltar pra casa quando quiser. Virei assim
que você precisar.
Mas pude perceber o sacrifício em seus olhos, por trás da promessa.
— Não se preocupe comigo — eu pedi — Vai ser ótimo. Amo você, mãe.
Ela me abraçou apertado por um tempo, então entrei no avião e ela se foi.
De Phoenix para Seatle o vôo dura quatro horas, mais uma hora num pequeno avião até
Port Angeles, e então uma hora de carro até Forks. O vôo não me incomodava, já passar
uma hora num carro com Charlie estava me preocupando.
Charlie estava sendo até legal sobre essa história toda. Ele parecia genuinamente feliz
que eu iria morar com ele quase que permanentemente pela primeira vez. Ele já tinha
me matriculado na escola e ia me ajudar a arranjar um carro.
Mas com certeza ia ser estranho morar com Charlie. Nenhum de nós era o que se
poderia chamar de falantes, e nem sei o que haveria para ser dito. Sabia que ele estava
mais do que confuso com a minha decisão - como minha mãe já havia feito antes de
mim, eu nunca tinha escondido que não gostava de Forks.
Quando o avião pousou em Port Angeles, estava chovendo. Não achei que fosse um
mau presságio, só era inevitável. Já tinha me despedido do sol.
Charlie estava me esperando no carro-patrulha. Já era de se esperar. Charlie é o Chefe
de Polícia para os bons cidadãos de Forks. Meu motivo maior para comprar um carro,
apesar da escassez dos meus rendimentos, era que eu me negava ser levada pela cidade
num carro com luzes vermelhas e azuis em cima. Nada melhor pra fazer o trânsito andar
devagar do que um policial.
Charlie me deu um abraço meio estranho, de um braço só, quando sai tropeçando do
avião.
— Bom te ver, Bells. — ele disse sorrindo, enquanto automaticamente me segurava
para eu não cair. — Você não mudou muito. Como vai Renée?
— Mamãe vai bem. É bom te ver também, pai. — ele não me deixava chamá-lo de
Charlie.
Só tinha trazido algumas malas. A maior parte das roupas que usava no Arizona eram
muito permeáveis para usar em Washington. Minha mãe e eu tínhamos nos juntado para
suplementar meu guarda-roupa com roupas de inverno, mas ainda tinha pouca coisa.
Coube tudo na mala do carro-patrulha, facilmente.
— Achei um bom carro para você, bem barato. — ele anunciou quando já estávamos no
carro.
— Que tipo de carro? — achei suspeito a maneira como ele disse "carro bom para
você", ao invés de só "carro bom".
— Bem, na verdade é uma caminhonete, um Chevrolet.
— Onde o achou?
— Lembra-se de Billy Black, de La Push? — La Push é a pequena reserva indígena na
costa.
— Não.
— Ele costumava ir pescar conosco no verão. — Charlie ofereceu ajuda.
Isso explicaria porque eu não lembrava dele. Me dou bem em bloquear da minha
memória coisas dolorosas e desnecessárias.
— Ele está numa cadeira de rodas agora — Charlie continuou quando não respondi —
então não pode dirigir mais, por isso se ofereceu para vender a caminhonete bem barato.
— De que ano é? — pude ver pela mudança de expressão que essa era uma pergunta
que ele esperava que eu não fosse fazer.
— Bem, Billy trabalhou bastante no moto - só tem alguns anos.
Esperava que ele não fosse achar que eu desistiria assim tão fácil. — Quando ele
comprou a caminhonete?
— Acho que foi em 1984.
— Era nova quando ele comprou?
— Na verdade, não. Acho que era nova no começo dos anos 60 - ou no fim dos 50, no
máximo. — ele admitiu, envergonhado.
— Ch... pai, não sei muito sobre carros. Não saberia consertar nada se estragasse, e não
poderia pagar um mecânico...
— Realmente, Bella, a coisa anda direito. Não fazem mais carros como aquele.
A coisa, pensei comigo mesma... era uma possibilidade - como apelido, no mínimo.
— Barato é quanto? — afinal, essa era a parte onde eu não podia abrir mão.
— Bem, querida, eu meio que já comprei ele pra você. Um presente de boas-vindas. —
Charlie espiou para o meu lado, com uma expressão esperançosa no rosto.
Uau. De graça.
— Não precisava fazer isso, pai. Eu ia comprar o carro eu mesma.
— Eu não me importo. Quero que você seja feliz aqui. — Ele olhava em frente na
estrada quando falou isso. Charlie não ficava confortável ao expressar suas emoções em
voz alta. Eu herdei isso dele. Então olhava bem pra frente quando respondi.
— Isso foi muito legal, pai, obrigada. Fico muito agradecida. — não precisava adicionar
que eu ser feliz em Forks era uma impossibilidade. Ele não precisava sofrer comigo. E
eu nunca recusaria uma caminhonete de graça.
— Bem, então, de nada. — ele murmurou, envergonhado com o meu agradecimento.
Trocamos mais alguns comentários sobre o tempo, que estava molhado, e era isso em
termos de conversa. Ficamos olhando pela janela em silêncio.
Era lindo, claro, não podia negar isso. Tudo era verde: as árvores, os troncos cobertos de
musgo, os galhos pendurados formando uma cobertura, o chão coberto com plantas. Até
mesmo o ar ficava meio verde ao passar pelas folhas.
Era muito verde - um planeta alienígena.
Finalmente chegamos na casa do Charlie. Ele ainda vivia na casa pequena, de dois
quartos, que ele comprara com minha mãe logo que se casaram. Esse foi o único
período do casamento deles. Ali, estacionada na rua em frente à casa que nunca mudara,
estava minha nova - bem, nova para mim - caminhonete. Era uma cor vermelha
desbotada, com uma grande cabina e enormes calotas. Para minha grande surpresa, eu
amei. Não sabia se ela ia andar, mas conseguia me imaginar dentro dela. Ainda por
cima, era uma daquelas coisas sólidas de ferro, que nunca se amassam - do tipo que se
vê num acidente nem arranhada, circundada pelos pedaços do carro que ela tinha
destruído.
— Uau, pai, adorei! Obrigada! — agora meu dia horrível que seria amanhã iria ser um
pouco menos horroroso. Eu não precisaria escolher entre andar na chuva por mais de
três quilômetros ou aceitar uma carona no carro-patrulha para chegar no colégio.
— Fico feliz que você tenha gostado. — Charlie disse, envergonhado de novo.
Só precisou uma viagem para levar todas as minhas coisas para o andar de cima. Fiquei
com o quarto que tinha janela para o pátio da frente. O quarto me era familiar. Era meu
desde que tinha nascido. O chão de madeira, as paredes azul claro, o teto curvado, as
cortinas de renda já amareladas - tudo isso fez parte da minha infância. As únicas
mudanças que Charlie tinha feito fora por eu ter crescido: mudou o berço por uma cama
e colocou um escrivaninha. A escrivaninha agora tinha um computador de segundamão,
com o fio do telefone para a internet grampeada pelo chão até chegar na tomada de
telefone mais próxima. Isso tinha sido estipulado por minha mãe, para que pudéssemos
manter contato fácil. A cadeira de balanço dos meus tempos de bebê ainda estava num
canto.
Havia somente um pequeno banheiro no andar de cima, o qual teria que dividir com
Charlie. Tentava não pensar muito nisso.
Uma das coisas boas sobre Charlie é que ele não fica me cuidando. Ele me deixou
sozinha para desfazer minhas malas e me ajeitar, uma coisa que seria completamente
impossível para minha mãe. Era bom poder estar sozinha e não ter que ficar sorrindo e
parecer feliz. E era um alívio poder olhar com desânimo para a chuva na janela e deixar
escaparem algumas lágrimas. Não estava afim de começar uma choradeira. Guardaria
isso para a hora de dormir, quando fosse pensar na manhã que estava por vir.
A Escola de Forks tinha o aterrorizante total de apenas trezentos e cinquenta e sete -
agora cinquenta e oito - alunos. Só no meu ano, lá em Phoenix, havia mais de setecentos
alunos. Todo mundo aqui tinham crescido juntos - seus avós tinham sido bebês juntos.
Eu seria a garota nova da cidade grande. Uma curiosidade, uma aberração.
Talvez se eu parecesse com uma garota de Phoenix isso poderia ser uma vantagem. Mas
fisicamente eu nunca me encaixaria em lugar algum. Eu deveria ser bronzeada,
esportiva, loira - jogadora de vôlei, ou líder de torcida, talvez - essas coisas associadas
ao vale do sol.
No lugar disso, eu tinha pele branca apesar do sol constante, sem nem ter a desculpa de
ter olhos azuis ou cabelos ruivos. Sempre fora meio magra, mas nem tanto, obviamente
não era atleta. Não tinha a coordenação motora necessária para praticar esportes sem me
humilhar - e machucar a mim mesma ou qualquer um parado muito perto de mim.
Quando terminei de colocar minhas roupas no velho guarda-roupa de pinho, peguei
minha bolsa de produtos de beleza e fui ao banheiro comunal para me lavar depois do
dia de viagem. Olhei para meu rosto no espelho enquanto penteava meu cabelo
embaraçado e úmido. Talvez fosse a luz, mas eu já parecia mais pálida, pouco saudável.
Minha pele poderia ser bela - era bem clara, parecia transparente - mas tudo dependia da
cor, e eu não tinha isso.
Encarando meu reflexo pálido no espelho fui obrigada a admitir que estava mentindo
para mim mesma. Não era só fisicamente que eu nunca me encaixaria. E seu eu não
conseguia achar um lugar para mim numa escola com três mil pessoas, quais eram
minhas chances aqui?
Eu não me relacionava bem com pessoas da minha idade. Talvez a verdade fosse que eu
não me relacionava bem com as pessoas, ponto. Até minha mãe, que era a pessoa mais
próxima de mim no planeta, nunca estava em harmonia comigo, nunca estávamos
exatamente de acordo. As vezes imaginava se eu via as mesmas coisas através de meus
olhos que o resto do mundo via com os deles. Talvez houvesse um problema no meu
cérebro. Mas o motivo não importava. O que importava era o resultado. E amanhã seria
só começo.
Não dormi bem naquela noite, mesmo depois de ter chorado tudo que precisava. O
barulho constante da chuva e do vento no telhado não saiam da minha mente. Puxei a
coberta desbotada sobre minha cabeça e depois adicionei o travesseiro também. Mas
não consegui dormir até depois da meia-noite, quando a chuva finalmente diminuiu para
um chuvisco.
Cerração fechada era tudo que conseguia ver pela minha janela de manhã, e pude sentir
a claustrofobia começado. Não se podia ver o céu aqui, era quase uma jaula.
O café-da-manhã com Charlie foi um evento silencioso. Ele me desejou boa-sorte na
escola. Eu agradeci, sabendo que as esperanças dele eram inúteis. Boa-sorte tinha a
tendência de me evitar. Charlie saiu primeiro, indo para o posto policial que era sua
esposa e família. Depois que ele saiu, sentei à velha mesa quadrada em uma das três
cadeiras que não combinavam entre si e examinei sua pequena cozinha, suas paredes
com painéis escuros, armários amarelo brilhante, e piso de linóleo branco. Nada
mudara. Minha mãe pintara os armários dezoito anos antes na tentativa de trazer alguma
luz para a casa. Sobre a pequena lareira, na sala do tamanho de um lenço que ficava
logo ao lado da cozinha, havia uma fileira de fotos. A primeira era uma do casamento de
Charlie e minha mãe em Las Vegas, uma de nós três no hospital quando eu nasci, tirada
por uma enfermeira prestativa, seguida de uma procissão de fotos escolares minhas até o
último ano. Essas eram embaraçosas de se ver - teria que ver se convencia Charlie a
colocá-las em outro lugar, pelo menos enquanto eu estivesse morando aqui.
Era impossível, estando nessa casa, não perceber que Charlie nunca tinha superado
minha mãe. Isso me fazia ficar desconfortável.
Eu não queria chegar cedo demais na escola, mas não podia ficar mais na casa . Vesti
meu casaco - que me fazia sentir como numa roupa anti-nuclear - e sai para a chuva.
Ainda chuviscava, mas não o suficiente para me molhar muito enquanto procurava pelas
chaves da casa que sempre ficavam escondidas nas plantas perto da porta e a trancava.
O barulho das minhas novas botas à prova d'água era irritante. Sentia falta do barulho
normal de cimento quando caminhava. Não pude parar para admirar minha nova
caminhonete como queria. Estava com pressa para sair da névoa molhada que rondava
minha cabeça e se grudava no meu cabelo por baixo do capuz.
Dentro da caminhonete estava seco e bom. Obviamente, Billy ou Charlie tinham
limpado o carro, mas os assentos ainda cheiravam vagamente à tabaco, gasolina e
menta. O motor ligou rápido, para meu alívio, mas bem alto, ganhando vida
ruidosamente e então chegando ao volume máximo. Bom, uma caminhonete velha
assim tinha que ter um defeito. O rádio velho funcionava, uma vantagem que eu não
esperava.
Achar a escola não foi difícil, apesar de nunca ter estado lá antes. Ela ficava, assim
como a maioria das coisas, bem perto da estrada. Não era obviamente uma escola, foi o
painel, onde dizia "Escola de Forks", que me fez parar. Parecia uma coleção de casas
geminadas, construídas com tijolos marrons. Havia tantas árvores e moitas que não
pude perceber seu tamanho logo no início. Onde estava a aparência de lugar público?
Me perguntava nostalgicamente. Onde estavam as cercas e os detetores de metais?
Estacionei em frente ao primeiro prédio, onde havia uma pequena placa que dizia
"secretaria". Não havia mais carros estacionados ali, então tive certeza de que era
proibido, mas decidi que pegaria instruções lá dentro ao invés de ficar andando em
círculos na chuva como uma idiota. Saí a contragosto da caminhonete quentinha e fui
por um caminho de pedra circundado por uma sebe escura. Respirei fundo antes de abrir
a porta.
Lá dentro estava bem iluminado e bem mais quente do que imaginava. A secretaria era
pequena, com uma pequena sala de espera com cadeiras dobráveis, carpete laranja,
avisos e prêmios abarrotados pelas paredes e um grande e ruidoso relógio. A sala era
partida ao meio por um grande balcão, cheia de cestas de arame repletas de papéis e
anúncios coloridos colados na parte da frente. Havia três mesas atrás do balcão, uma
delas ocupada por uma mulher ruiva e grande, usando óculos. Ela vestia uma camiseta
roxa, que imediatamente me fez sentir com roupas demais.
A ruiva olhou para mim. — Posso ajudá-la?
— Sou Isabella Swan — informei-lhe, e vi seus olhos demonstrarem reconhecimento
imediato. Eu era esperada, tópico de fofocas, com certeza. A filha da ex-mulher do
chefe de polícia finalmente retorna à casa.
— Claro — ela disse. Ela percorreu uma pilha precária de documentos em sua mesa até
achar os que procurava. — Seu horário está aqui, e um mapa da escola. — Ela trouxe
várias folhas até o balcão para me mostrar.
Ela me ditou todas as minhas aulas, mostrando-me no mapa a melhor maneira de chegar
até elas, e me deu um papel para que todos os professores assinassem, que deveria trazer
de volta no fim do dia.
Ela sorriu para mim e desejou, como Charlie, que eu gostasse de Forks. Sorri de volta
da maneira mais convincente possível.
Quando cheguei de volta na caminhonete, outros alunos começavam a chegar. Fui atrás
do tráfego, contornando a escola. Fiquei feliz ao ver que a maior parte dos carros eram
velhos como o meu, nada muito chique. Em casa eu morava num dos poucos bairros de
classe baixa que estavam incluídos no Distrito Paradise Valley. Era comum ver um
Mercedes ou Porsche novo no estacionamento dos alunos. O carro mais legal aqui era
um brilhante Volvo, que se sobressaia. Mesmo assim, logo que estacionei desliguei o
motor, para que o barulho enorme não chamasse atenção para mim.
Olhei para o mapa na caminhonete, tentando memorizá-lo agora, esperando que não
fosse precisar andar com ele colado no nariz o dia todo. Enfiei tudo dentro da mochila,
coloquei a alça sobre o ombro e respirei bem fundo. "Posso fazer isso", menti muito mal
para mim mesma. Ninguém ia me morder. Eu finalmente exalei e sai do carro.
Fiquei com o rosto coberto pelo capuz enquanto caminhava até a calçada, cheia de
adolescentes. Meu casaco preto e simples não se destacava na multidão, percebi com
alívio.
Assim que cheguei no refeitório era fácil de ver o prédio três. Um grande "3" estava
pintado num quadrado branco no casto leste do prédio. Senti minha respiração acelerar
cada vez mais enquanto me aproximava da porta. Tentei segurar minha respiração
enquanto seguia duas capas de chuva unisex através da porta.
A sala de aula era pequena. As pessoas na minha frente pararam assim que entraram na
sala para pendurar seus casacos numa longa fileira de ganchos. Fiz o mesmo. Eram duas
garotas. Uma loira com pele de porcelana, outra, também com a pele clara, tinha cabelos
castanho claro. Pelo menos a minha pele não se destacaria aqui.
Levei o papel para o professor, um homem alto e calvo. Sua mesa tinha uma placa que o
identificava como Sr. Mason. Ele ficou me olhando assim que leu meu nome - o que
não era encorajador - e lógico que fiquei vermelha igual a um tomate. Mas pelo menos
ele me mandou sentar numa classe vazia no fundo da sala sem me apresentar à turma.
Era mais difícil para meus colegas ficarem me encarando enquanto eu estava no fundo
da sala, mas de alguma forma eles conseguiam. Fixei meu olhar na lista de leitura que o
professor tinha me dado. Era bem básica: Brontë, Shakespeare, Chaucer, Faulkner. Já
tinha lido todos. Isso era reconfortante... e chato. Fiquei pensando se minha mãe me
mandaria minha pasta de trabalhos velhos, ou se ia pensar que isso era colar. Fiquei
pensando em diferentes discussões que teria com ela enquanto o professor falava.
Quando bateu o sinal, um garoto meio desajeitado, alto, com problemas de pele e cabelo
preto como carvão se encostou no batente da porta para falar comigo.
— Você é Isabella Swan, não é? — ele parecia do tipo muito prestativo, parte do clube
de xadrez.
— Bella — corrigi. Todo mundo em volta se virou para me olhar.
— Onde é sua próxima aula — ele perguntou.
Precisei olhar na mochila. — Hm, Governo, com o professor Jefferson, no prédio seis.
Não havia para onde olhar sem encontrar olhos curiosos.
— Estou indo para o prédio quatro, posso te mostrar o caminho... — definitivamente
muito prestativo.
— Sou Eric. — Ele adicionou.
Sorri discretamente. — Obrigada.
Pegamos nossos casacos e saimos para a chuva, que tinha ficado mais forte. Poderia
jurar que muitas das pessoas andando atrás de nós estavam perto o bastante para ficar
ouvindo a conversa. Desejei não estar ficando paranóica.
— Então, aqui é bem diferente de Phoenix, hein? — ele perguntou.
— Muito.
— Não chove muito lá, não é?
— Três ou quatro vezes por ano.
— Uau, como será que é isso? — ele ficou imaginando.
— Ensolarado. — eu lhe disse.
— Você não parece bronzeada.
— Minha mãe é parte albina.
Ele analisou meu rosto com apreensão e eu suspirei. Parecia que nuvens e senso de
humor não se misturavam. Alguns meses disso aqui e eu esqueceria como se usa
sarcasmo.
Andamos de volta ao redor do refeitório, em direção aos prédios que ficavam no sul, ao
lado do ginásio. Eric me levou até a porta, apesar de estar bem claro que aquele era o
prédio.
— Bem, boa sorte. — Ele disse enquanto eu alcançava a maçaneta. — Talvez tenhamos
outras aulas juntos. — Ele soava esperançoso.
Sorri vagamente para ele e entrei.
O resto da manhã passou da mesma maneira. Meu professor de trigonometria, o Sr.
Varner, a quem eu detestaria de qualquer forma por causa da matéria que ensinava, foi o
único que me fez ficar na frente da turma e me apresentar. Eu gaguejei, fiquei vermelha,
e tropecei no caminho para a minha classe.
Depois de duas aulas, comecei a reconhecer muitos dos rostos em cada uma delas.
Sempre havia aqueles que eram mais corajosos e vinham se apresentar e me perguntar
se estava gostando de Forks. Tentei ser diplomática, mas o que mais fiz foi mentir
bastante. Pelo menos não precisei usar o mapa.
Uma garota sentou do meu lado em ambas Trigonometria e Espanhol, e foi comigo até
o refeitório na hora do almoço. Ela era bem baixinha, com vários centímetros do que os
meus 1,65m, mas o cabelo escuro e encaracolado ajudava a balancear nossa diferença
de alturas. Não conseguia lembrar o nome dela, então eu sorria e balançava a cabeça
enquanto ela discorria sobre os professores e sobre as aulas. Não tentei acompanhar a
conversa.
Sentamos no final de uma mesa cheia dos amigos dela, os quais ela me apresentou.
Esqueci os nomes assim que ela os disse. Eles pareciam impressionados com a coragem
dela para falar comigo. O garoto do Inglês, Eric, acenou para mim do outro lado do
refeitório.
Foi ali, sentada no refeitório, tentando conversar com vários estranhos curiosos, que eu
os vi pela primeira vez.
Eles estavam sentados num canto do refeitório, o mais longe possível de onde eu estava.
Eram cinco. Não conversavam e não comiam, apesar de cada um deles ter uma bandeja
intocada de comida na sua frente. Eles não estavam me encarando, como a maior parte
dos outros alunos, então era seguro ficar olhando para eles sem ter medo de encontrar
um par de olhos excessivamente interessado. Mas não foi nenhuma dessas coisas que
chamou, e prendeu, minha atenção.
Eles não se pareciam em nada. Dos três garotos, um era grande - musculoso como um
levantador de peso profissional, com cabelo escuro e encaracolado. Outro era alto, mais
magro, mas ainda musculoso, e com cabelo loiro escuro. O outro era mais magro,
menos musculoso, com cabelo cor de bronze, meio bagunçado. Ele parecia mais jovem
do que os outros, que pareciam que poderiam estar na faculdade, ou até mesmo serem
professores ao invés de alunos.
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As garotas eram opostos. A mais alta era maravilhosa. Ela tinha uma silhueta linda, do
tipo que se vê na capa da revista Sports Illustrated, na edição de roupas de banho, e
daquelas que fazem as outras garotas se sentirem mal consigo mesma só por estarem na
mesma sala. O cabelo dela era dourado, gentilmente balançando até o meio das costas.
A outra garota era mais baixa e parecia uma fadinha. Bem magra, com feições
pequenas. O cabelo dela era totalmente preto, cortado curtinho e apontando para todas
as direções.
E ainda assim, eles se pareciam muito. Todos eram muito pálidos, os mais pálidos de
todos os alunos dessa cidade sem sol. Mais pálidos do que eu, a albina. Todos tinham
olhos bem escuros, apesar da diferença na cor dos cabelos. Além disso, eles tinham
olheiras - sombras arroxeadas, como machucados. Como se todos eles tivessem passado
a noite em claro, ou quase se recuperando de ter o nariz quebrado. Apesar de seus
narizes, de todas as partes de seus corpos, serem perfeitamente retos e angulares.
Mas não era por causa de tudo isso que não conseguia tirar os olhos deles.
Eu os olhava por que seus rostos, tão diferentes, tão iguais, eram todos
devastadoramente, inumanamente lindos. Eram rostos que você nunca espera encontrar
além de, talvez, nas páginas editadas de uma revista de moda. Ou pintadas por um dos
velhos mestres como a face de um anjo. Era difícil decidir quem era o mais belo - talvez
a perfeita loira, ou o garoto com cabelos cor de bronze.
Estavam todos olhando para longe - longe um dos outros, longe dos outros alunos,
longe de qualquer coisa em particular que eu pudesse ver. Enquanto eu olhava a garota
mais baixa levantou com a bandeja - o refrigerante fechado, a maçã inteira - e foi
embora com um passo rápido e gracioso que deveria estar em uma passarela. Eu fiquei
olhando, maravilhada com os passos de dançarina dela, até ela largar a bandeja e sair
pela porta de trás, mais rápido do que eu imaginava ser possível. Meus olhos voltaram
logo para os outros, que estavam lá, sem mudanças.
— Quem são eles? — perguntei à garota da aula de espanhol, de quem eu não lembrava
o nome.
Enquanto ela olhava para ver de quem eu estava falando - apesar de já saber,
provavelmente, por causa do meu tom de voz - de repente ele olhou para ela, o mais
magro, o mais garoto de todos, talvez o mais jovem. Ele olhou para a garota do meu
lado por só uma fração de segundo e então seus olhos escuros se dirigiram aos meus.
Ele olhou para longe bem rápido, mais rápido do que eu conseguiria, apesar de numa
onde de vergonha eu tenha baixado meus olhos na mesma hora. Naquele pequeno
instante, seu rosto não aparentou interesse - era como se ela tivesse chamado o nome
dele, e ele olhara numa resposta involuntária, já tendo decidido que não ia responder.
A garota do meu lado riu envergonhada, olhando para a mesa, assim como eu.
— Aqueles são Edward e Emmett Cullen e Rosalie e Jasper Hale. A que foi embora é
Alice Cullen. Todos vivem juntos com o Dr. Cullen e a esposa dele. — Ela falou isso
meio entre os dentes.
Olhei meio de lado para o garoto lindo, que agora olhava para a bandeja dele, picando
um pãozinho com dedos pálidos e longos. Seus lábios se moviam rapidamente, seus
lábios perfeitos mal se abrindo. Os outros três ainda olhavam para longe, ainda assim eu
sentia que ele estava falando com eles.
Nomes estranhos e pouco populares, eu pensei. Os tipos de nomes que avós tinham.
Mas talvez fosse moda aqui - nomes de cidade pequena? Finalmente lembrei que a
garota ao meu lado se chamava Jessica, um nome perfeitamente comum. Havia duas
garotas chamadas Jessica na minha aula de História, em Phoenix.
— Eles são... muito bonitos. — lutei contra a óbvia falta de intensidade do que disse.
— Sim! — Jessica concordou dando outro risinho. — Mas eles já estão juntos - Emmett
e Rosalie, e Jasper e Alice. E moram juntos. — A voz dela continha todo o choque e
reprovação de uma cidade pequena, pensei criticamente. Mas se eu fosse honesta, teria
que admitir que até em Phoenix algo assim seria motivo de fofocas.
— Quais são os Cullens? — perguntei — Eles não se parecem...
— Ah, mas não são. O Dr. Cullen é bem jovem, tem uns 20 ou 30 e poucos. São todos
adotados. Já os Halle são irmão e irmã, gêmeos - são os loiros - e vivem com eles.
— Eles não são um pouco velhos pra isso?
— Agora sim, Jasper e Rosalie já têm dezoito anos, mas vivem com a Sra. Cullen desde
que tinham oito. Ela é tia deles ou algo assim.
— Isso é bem legal - deles cuidarem de todas essas crianças assim, sendo tão jovens.
— Acho que sim. — Jessica admitiu relutantemente, e fiquei com a impressão de que
ela não gostava do doutor e da esposa dela por algum motivo. Com os olhares que ela
dava na direção deles, imaginei que o motivo fosse inveja. — Mas acho que a Sra.
Cullen não pode ter filhos. — ela disse, como se isso diminuísse a bondade deles.
Durante toda essa conversa, meus olhos iam e voltavam para a mesa onde a estranha
família estava sentada. Eles continuavam olhando para as paredes e não comendo.
— Eles sempre moraram em Forks? — perguntei. Com certeza eu os teria notado em
algum dos meus verões aqui.
— Não. — ela disse num tom de voz que implicava que isso era óbvio, até alguém
recém chegado como eu deveria saber. — Eles vieram para cá dois anos atrás, vindos de
algum lugar no Alasca.
Senti uma onda de compaixão, e alívio. Compaixão porque, apesar de serem lindos,
eram de fora, claramente não eram aceitos. Alívio porque eu não era a única novata
aqui, e certamente não a mais interessante.
Enquanto eu os analisava, o mais novo, um dos Cullens, olhou para mim e nossos olhos
se encontraram, dessa vez com uma expressão evidente de curiosidade. Enquanto eu
esquivava meu olhar, me pareceu que no dele havia alguma expectativa não alcançada.
— Qual deles é o garoto de cabelos castanhos avermelhados? — perguntei. Espiei com
o canto do olho e ele ainda me encarava, mas não como os outros alunos tinham feito
durante todo o dia - a expressão dele era meio frustrada. Olhei para baixo novamente.
— Aquele é Edward. Ele é maravilhoso, lógico, mas não perca tempo. Ele não namora.
Nenhuma das garotas daqui são bonitas o suficiente para ele, aparentemente. — ela
desdenhou, um caso claro de rejeição. Fiquei me perguntando quando ele tinha rejeitado
ela.
Mordi o lábio para esconder um sorriso, e então olhei para ele novamente. Seu rosto
estava virado para o outro lado, mas me pareceu, pelos músculos do rosto, que ele sorria
também.
Após mais alguns minutos os outros quatro deixaram a mesa juntos. Todos eram
notoriamente graciosos - até mesmo o grandalhão. Era algo desconcertante de se
observar. O que se chamava Edward não olhou para mim novamente.
Fiquei na mesa com Jessica e seus amigos mais tempo do que ficaria se estivesse
sozinha ali. Estava ansiosa para não chegar atrasada nas aulas no meu primeiro dia.
Uma das minhas novas conhecidas, que gentilmente me lembrou que seu nome era
Angela, tinha Biologia II comigo no próximo período. Fomos juntas para a aula, em
silêncio. Ela era tímida também.
Quando entramos na sala de aula, Angela foi sentar-se numa mesa de laboratório, com
tampa preta, exatamente como as que eu estava acostumada. Ela já tinha um par. Na
verdade, todas as mesas estavam ocupadas, com a exceção de uma. Ao lado da fileira do
meio, reconheci Edward Cullen por seu cabelo peculiar, sentado ao lado da única
cadeira vazia.
Enquanto fui até o professor para me apresentar e pedir para que ele assinasse meu
papel, secretamente observava Edward. No momento em que passei, ele ficou rígido de
repente. Ele me encarou novamente, seus olhos encontraram os meus com a mais
estranha das expressões em seu rosto - era hostil, furiosa. Olhei para longe rapidamente,
chocada, ficando vermelha novamente. Tropecei num livro e precisei me segurar em
uma mesa. A menina sentada ali riu.
Tinha notado que os olhos dele eram negros, como carvão.
O Sr. Banner assinou meu papel e me entregou um livro sem o besteirol das
apresentações. Pude prever que nos daríamos bem. Obviamente, ele não tinha escolha a
não ser mandar eu me sentar na única classe vazia no meio da sal. Mantive meu olhar
baixo enquanto ia sentar ao lado dele, confusa com o olhar maldoso que ele tinha me
dado.
Não olhei para cima enquanto colocava o livro na mesa e me sentava, mas vi, com o
canto do olho, sua postura mudar. Ele estava se inclinando para longe de mim, sentado
bem na ponta da cadeira e virando a cara como seu eu tivesse cheiro ruim.
Discretamente, cheirei meu cabelo. Tinha cheiro de morangos, que era o perfume do
meu xampu preferido. Parecia um cheiro inocente o bastante. Deixei meu cabelo cair
sobre meu ombro direito, criando uma cortina escura entre nós, e tentei prestar atenção
no professor.
Infelizmente a aula era sobre anatomia celular, algo que eu já tinha estudado. Fui
fazendo anotações mesmo assim, sempre olhando para baixo.
Não conseguia me conter e, de vez em quando, olhava para o garoto estranho ao meu
lado, através da cortina de cabelo. Durante a aula toda ele não relaxou de posição,
sentado na ponta da cadeira, o mais longe possível de mim. Pude ver que sua mão sobre
a perna esquerda estava em punho, os tendões se destacando sob a pele clara. Também
não relaxou a mão sequer uma vez. As mangas da sua camisa branca estavam puxadas
até os cotovelos, e seu braço era surpreendentemente musculoso. Ele não era tão frágil
quanto parecia quando comparado com o irmão.
A aula parecia se arrastar mais do que as outras. Será que era por que o dia estava
finalmente acabando ou por que esperava que seu pulso fosse relaxar? Ele nunca o fez.
Ele estava tão imóvel que parecia que não respirava. Qual era o problema dele? Será
que isso era o comportamento normal dele? Me questionei sobre o que tinha pensado
sobre a amargura de Jessica durante o almoço. Talvez ela não fosse tão rancorosa como
eu pensava.
Não poderia ser comigo. Ele nunca tinha me visto na vida.
Espiei de novo e me arrependi. Ele estava me olhando novamente, seus olhos negros
cheios de repulsa. Enquanto me afastava dele, me espremendo na cadeira, a frase "se
olhar matasse" cruzou minha mente.
Naquele momento o alarme bateu alto, me assustando, e Edward Cullen já tinha se
levantado. Ele era muito mais alto do que tinha imaginado, e de costas para mim ele se
foi fluidamente. Antes que qualquer um dos outros estivesse de pé, ele já tinha saído
pela porta.
Fiquei congelada no lugar, olhando para ele. Ele era muito mau. Não era justo. Comecei
a juntar minhas coisas devagar, tentando bloquear a raiva que me consumia, para não
acabar chorando. Por algum motivo, meu humor tinha ligação com meus canais
lacrimais. Geralmente chorava quando estava com raiva, uma mania humilhante.
— Você não é Isabella Swan? — perguntou uma voz masculina.
Olhei para ver um garoto bonitinho, com cara de bebê, o cabelo loiro claro
cuidadosamente moldado com gel, sorrindo para mim de um jeito amigável. Ele, com
certeza, não achava que eu cheirava mal.
— Bella. — corrigi com um sorriso.
— Sou Mike.
— Oi, Mike.
— Precisa de ajuda pra encontrar sua próxima aula?
— Na verdade, estou indo para o ginásio. Acho que consegui achá-lo.
— Essa é minha próxima aula também. — ele parecia extasiado, apesar de não ser
muita coincidência numa escola tão pequena.
Fomos para a aula juntos. Ele era um conversador - ele falava bastante, o que facilitava
para mim. Ele tinha morado na Califórnia até os dez anos, então ele me entendia com
relação ao sol. E ele estava na minha aula de inglês também. Tinha sido a pessoa mais
legal que conhecera aquele dia.
Mas enquanto entrávamos no ginásio ele perguntou — Então, você fincou o lápis no
Edward Cullen ou o quê? Nunca o vi agir assim.
Então não tinha sido só eu que notara. E, aparentemente, não era assim que ele se
comportava normalmente. Decidi bancar a desentendida.
— Era o garoto sentado do meu lado em biologia? — perguntei ingenuamente.
— Sim. — ele disse — Parecia que ele estava com dor ou algo parecido.
— Não sei. — respondi — Nunca conversei com ele.
— É um cara estranho. — Mike ficou por ali ao invés de ir para o vestiário. — Se eu
tivesse tido a sorte de sentar do seu lado, teria conversado com você.
Sorri para ele antes de ir para o vestiário das meninas. Ele era legal e claramente
gostava de mim, mas isso não foi o bastante para diminuir minha irritação.
O professor de Educação Física, Treinador Clapp, me deu um uniforme mas não me fez
vesti-lo para a aula. Em Phoenix, só dois anos de EF eram obrigatórios, aqui, era
obrigatório durante todos os anos. Forks literalmente era o meu inferno na Terra.
Assisti a quatro jogos de vôlei ao mesmo tempo. Lembrando quantas vezes tinha
machucado a mim mesma - e os outros - jogando vôlei, me senti nauseada.
O sinal tocou finalmente. Fui lentamente até a secretaria para entregar minha papelada.
A chuva tinha parado, mas o vento estava mais forte e mais frio. Me enrolei mais nas
roupas.
Quando entrei na quente secretaria, quase me virei e saí de novo.
Edward Cullen estava parado à mesa logo na minha frente. Novamente reconheci aquele
cabelo cor de bronze e desarrumado. Ele pareceu não perceber a minha entrada. Me
encostei na parede, esperando a recepcionista poder me atender.
Ele estava conversando com ela numa voz baixa e atraente. Logo peguei o motivo da
conversa: ele queria trocar o período da aula de biologia para outro horário, qualquer
outro.
Não podia acreditar que era por minha causa. Tinha que ser outra coisa, algo que
acontecera antes de eu entrar na sala. A expressão em seu rosto tinha que ser por outro
motivo. Era impossível que esse estranho tivesse me detestado tanto assim, tão
subitamente.
A porta abriu novamente, e o vento frio entrou de repente, levantando os papéis sobre a
mesa, jogando meu cabelo sobre meu rosto. A garota que entrara simplesmente chegou
na mesa, colocou um bilhete na cesta de arame e saiu novamente. Mas Edward Cullen
ficou rígido e se virou lentamente para me olhar - o rosto dele era absurdamente lindo -
com olhos fulminantes e cheios de ódio. Por um instante senti puro medo, levantando os
pêlos dos meus braços. O olhar só durou um segundo, mas me congelou mais do que o
vento enregelante. Ele se virou novamente para a recepcionista.
— Deixa para lá, então. — ele disse apressadamente com uma voz aveludada. — Vejo
que é impossível. Muito obrigado pela ajuda. — se virou sem olhar para mim de novo e
saiu pela porta.
Fui calmamente até a mesa, meu rosto branco ao invés de vermelho, e entreguei o papel
assinado.
— Como foi seu primeiro dia, querida? — a recepcionista perguntou, maternalmente.
— Bem. — menti com a voz fraca. Ela não pareceu convencida.
Quando cheguei na caminhonete, era praticamente o último carro no estacionamento.
Ela era como um refúgio, a coisa mais perto de um lar que eu tinha nesse buraco verde e
úmido. Sentei lá dentro por um tempo, simplesmente olhando pelo vidro. Mas logo
estava frio o bastante para precisar do aquecedor, então virei a chave e o motor ganhou
vida. Peguei meu caminho de volta para a casa do Charlie, lutando para não chorar
durante todo o caminho.
2-LIVRO ABERTO
O outro dia foi melhor...e pior.
Foi melhor porque não estava chovendo ainda,apesar de as nuvens estarem densas e
opacas.Foi mais fácil porque eu já sabia o que esperar do meu dia.Mike veio se sentar
ao meu lado em Inglês,e me acompanhou até a minha próxima aula,com Eric Do Clube
De Xadrez encarando ele o tempo inteiro;era uma reclamação.As pessoas não ficaram
me olhando tanto quanto ontem.Eu sentei com um grande grupo que incluia
Mike,Eric,Jessica e muitas outras daquelas pessoas cujos nomes e rostos eu lembrava
agora.Eu comecei a sentir que agora eu andava na água, ao invés de afundar nela.
Foi pior porque eu estava cansada; eu ainda não conseguia dormir com o vento ecoando
ao redor da casa.Foi pior porque o Sr.Varner me chamou em Trigonometria quando a
minha mão não estava levantada e eu dei a resposta errada.Foi infeliz porque eu tive que
jogar Vôlei,e na única vez que eu não fugi da bola eu atingí a minha parceira de time na
cabeça com ela.E foi pior porque Edward Cullen não estava na escola.
durante a manhã inteira eu estive temendo o almoço,sentindo seus olhares bizarros.Parte
de mim queria confrontá-lo e ordenar que ele disesse qual era o problema.Enquanto eu
estava deitada acordada na cama,eu até imaginei o que eu diria.Mas eu me conhecia
bem demais pra achar que eu teria a coragem de fazer isso.Eu fiz o leão covarde do
Mágico de Oz parecer o Exterminador.
Mas quando eu entrei na cafeteria com Jéssica-tentando evitar que os meus olhos
vasculhassem o lugar procurando por ele,e falhando miserávelmente- eu ví que seus
quatro irmão estavam sentados juntos na mesma mesa,e ele não estava com eles.
Mike nos recebeu e nos guiou até a mesa dele.Jessica parecia alegre pela atenção,e as
amigas dela rapidamente se juntaram á nós. Enquanto eu tentava ouvir a conversa
fluente deles,eu estava terrivelmente desconfortável,esperando nervosamente pelo
momento que ele chegaria.Eu esperava que ele simplesmente me ignorasse quando
chegasse,e provasse que as minhas suspeitas eram falsas.
Ele não veio,e com o passar do tempo eu fiquei mais e mais nervosa.
Eu fui para Biologia mais confiante quando,ao final do almoço,ele ainda não havia
aparecido.Mike,que estava agindo como um cão de guarda,andou fielmente ao meu lado
até a sala de aula.Eu segurei o fôlego na porta,mas Edward Cullen também não estava
lá.Eu exalei e fui me sentar.Mike me seguiu, falando de uma viagem á praia que estava
pra acontecer.Ele se curvou na minha mesa até que o sinal tocou.Aí ele sorriu
tristemente pra mim e foi sentar perto de uma garota de aparelho e com um penteado
ruim.Parecia que eu teria que fazer alguma coisa em relação á Mike,e não seria fácil.Em
uma cidade como essa,em que todo mundo vive em cima de todo mundo,diplomacia é
essencial.Eu nunca tive muito tato;eu nunca tive muita prática em lidar com garotos
amigáveis demais.
Eu estava aliviada que teria a mesa para mim mesma,que Edward estava ausente.Eu
disse isso para mim mesma repetidamente.Era rudiculo, e egoísta,pensar que eu podia
afetar alguém desse jeito.Era impossível.E ainda assim eu não conseguia parar de pensar
que fosse verdade.
Quando o dia na escola finalmente acabou,e as minhas bochechas não estavam mais
coradas por causa do incidente no Vôlei,eu rapidamente coloquei as minhas calças jeans
e o meu suéter azul marinho.Eu saí correndo do vestiário feminino,contente de ver que
momentaneamente eu havia conseguido afastar o meu amigo cão de guarda.
Eu caminhei rapidamente até o estacionamento.Agora estava cheio de alunos.Eu entrei
na minha caminhonete e procurei na minha mochila pra ver se eu tinha tudo que eu
precisava.
noite passada eu descobrí que Charlie não sabia cozinhar nada além de ovos fritos e
bacon.Então eu pedí pra tomar conta dos detalhes da cozinha enquanto durasse a minha
estada.Ele ficou feliz o suficiente pra me passar a chava da sala do banquete.Então eu
estava com a minha lista de compras e o dinheiro do jarro no armário onde havia
DINHEIRO DA COMIDA escrito,e estava á caminho da Thriftway(axu q é o nome de
uma loja).
Eu dei ingnição no motor barulhento,ignorando as cabeças que viraram em minha
direção e dei ré cuidadosamente e entrei na fila de carros que esperava para sair do
estacionamento.Enquanto eu esperava,tentando fingir que o barulho ensurdecedor
estava vindo do carro de outra pessoa,eu ví os dois irmãos Cullen e os dois gêmeos Hale
entrando no carro deles.Era um Volvo novinho em folha.É claro.
Eu nunca havia reparado nas roupas deles antes-eu estav hipnotizada demais com os
rostos deles.Agora que eu havia olhado,era óbvio que todos eles se vestiam
excepcionalmente bem;simples,mas com roupas que claramente eram assinadas por
estilistas famosos.Com os seus rostos notáveis e com o estilo com que se
comportavam,eles podiam usar trapos e ainda ficarem bem.Parecia demais pra eles ter
tanto beleza quanto dinheiro.Até onde eu podia dizer,era assim que a vida funcionava na
maioria da vezes.No caso deles, isso não parecia ter comprado aceitação por aqui.
Não,eu não acreditava inteiramente nisso.A isolação deve ser desejo deles;eu não podia
imaginar nenhuma porta que não estivesse aberta á esse grau de beleza.
Eles olharam para a minha caminhonete barulhenta quando eu passei por eles,igual a
todo mundo.Eu mantive os meus olhos virados para a frente e fiquei aliviada quando
finalmente estava livre da escola.
A Thriftway não era longe da escola,só algumas ruas ao sul,fora da estrada.Era bom
estar dentro do supermercado;parecia normal.Eu fazia as compras em casa,e me moldei
aos padrões da tarefa familiar alegremente.
A loja era grande o suficiente pra me fazer não ouvir a chuva no telhado e esquecer de
onde eu estava.
Quando eu cheguei em casa,eu descarregeui as compras e enfiei elas em qualquer
espaço vazio que consegui achar.Eu esperava que Charlie não se incomodasse.Eu
embrulhei batatas em papel alumínio e coloquei no forno pra assar,cobri bifes com
molho marinado e equilibrei-os em cima de uma caixa de ovos,em uma frigideira.
Quando eu terminei de fazer isso,eu subí com a minha mochila.Antes de começar a
fazer o meu dever de casa,eu me troquei colocando uma calça seca e prendendo o meu
cabelo em um rabo de cavalo,e chequei meus e-mails pela primeira vez.Eu tinha três
mensagens.
"Bella",minha mãe escreveu...
ME ESCREVA ASSIM QUE CHEGAR.ME DIGA COMO FOI O SEU VÔO.ESTÁ
CHOVENDO? JÁ SINTO A SUA FALTA.JÁ ESTOU QUASE TERMINANDO DE
FAZER AS MALAS PARA A FLÓRIDA, MAS NÃO CONSIGO ACHAR A MINHA
BLUSA ROSA.
VOCÊ SABE ONDE EU DEIXEI? PHIL DIZ OI. MAMÃE.
Eu suspirei e fui para a próxima mensagem.Foi mandada oito horas depois da primeira.
"Bella",ela escreveu...
PORQUÊ VOCÊ AINDA NÃO ME RESPONDEU? O QUE VOCÊ ESTÁ
ESPERANDO?
MAMÃE.
A última foi de hoje de manhã.
ISABELLA,SE EU NÃO TIVER NOTÍCIAS DE VOCÊ ATÉ 5:30 DE TARDE DE
HOJE,EU VOU LIGAR PARA CHARLIE.
Eu olhei para o rélógio.Eu ainda tinha uma hora,mas minha mãe era bem conhecida por
agir precipitadamente.
MÃE
SE ACALME. EU ESTOU ESCREVENDO AGORA. NÃO FAÇA NADA
IMPRUDENTE.
BELLA.
Eu enviei essa e comecei de novo.
MÃE,
TUDO ESTÁ ÓTIMO.É CLARO QUE ESTÁ CHOVENDO.EU ESTAVA
ESPERANDO POR ALGO SOBRE O QUE ESCREVER.A ESCOLA NÃO É
RUIM,SÓ UM POUCO REPETITIVA.EU CONHECÍ UM PESSOAL LEGAL QUE
SENTA COMIGO NO ALMOÇO.
SUA BLUSA ESTÁ NA LAVANDERIA- VOCÊ DEVIA TER IDO BUSCAR ELA
SEXTA FEIRA.
CHARLIE COMPROU UMA CAMINHONETE,DÁ PRA ACREDITAR? EU
ADOREI.É MEIO VELHA, MAS TEM PORTE,O QUE É BOM,SABE,PRA MIM.
TAMBÉM SINTO SUA FALTA.EU VOU ESCREVER DE NOVO EM BREVE,MAS
NÃO VOU FICAR CHECANDO OS MEUS E-MAILS A CADA CINCO
MINUTOS.RELAXE,RESPIRE.EU TE AMO.
BELLA.
Eu decidí ler O MORRO DOS VENTOS UIVANTES-o romance que estamos
estudando atualmente em Inglês- de qualquer forma era só pela diversão,e era isso que
eu estava fazendo quando Charlie chegou em casa.Eu perdí a noção do tempo,e corrí
para tirar as batatas do forno e colocar o bife pra grelhar.
"Bella?",meu pai chamou quando me ouviu descer as escadas.
Quem mais? Eu pensei comigo mesma.
"Oi,pai,bem vindo ao lar"
"Obrigado".Ele tirou o colete da arma e tirou as botas enquanto eu entrava na
cozinha.Até onde eu sabia,meu pai nunca usou sua arma no trabalho.Mas ele a mantinha
pronta.Quando eu vinha aqui quando criança ele sempre tirava as balas assim que
entrava em casa.Acho que agora me considerava velha o suficiente pra não atirar em
mim mesma por acidente,e não deprimida o suficiente para não atirar em mim mesma
de propósito.
"O que tem para o jantar?",ele perguntou cautelosamente.Minha mãe era uma
cozinheira imaginativa e os experimentos dela não eram sempre comestíveis.Eu estava
surpresa,e triste,que ele parecia se lembrar daquela época.
"Bife e batatas",eu disse e ele pareceu aliviado.
Ele pareceu se sentir estranho de pé na cozinha sem fazer nada;ele foi pra a sala de estar
assistir TV enquanto eu trabalhava na cozinha.Ficávamos os dois mais confortáveis
desse jeito.Eu fiz uma salada enquanto os bifes grelhavam,e fiz a mesa.
Eu o chamei quando o jantar estava pronto,ele cheirou apreciadoramente enquanto
entrava na cozinha.
"O cheiro é bom,Bell."
"Obrigada"
Nós comemos em silêncio por alguns minutos.Não era desconfortável. Nenhum de nós
estava incomodado por estar quieto.Em alguns sentidos, nós servíamos para morar
juntos.
"Então,você gostou da escola? Você fez amigos?"ele perguntou como que pra passar o
tempo.
"Bem,eu tenho algumas aulas com uma garota chamada Jéssica.Eu sento com as amigas
dela no almoço.E tem esse garoto,Mike,que é muito amigável.Todos parecm ser muito
legais."Com uma excessão.
"Esse deve ser Mike Newton.Bom garoto- Boa família.O pai dele é dono da loja de
suplementos esportivos que fica fora da cidade.Ele faz um bom dinheiro por causa
daqueles mochileiros que vêm á cidade."
"Você conhece a família Cullen?" eu perguntei hesitante.
"A família do Dr.Cullen? Claro.O Dr.Cullen é um ótimo homem"
"Eles...as crianças são um pouco diferentes.Eles não parecem se adequar muito bem na
escola."
Charlie me surpreendeu parecendo um pouco irritado.
"As pessoas dessa cidade." ele murmurou. "Dr.Cullen é um cirurgião brilhante que
poderia provavelmente trabalhar em qualquer hospital do mundo,ganhando dez vezes
mais do que o salário dele aqui." ele continuou,falando mais alto "Temos sorte por tê-lo
- sorte que a esposa dele quis viver numa cidade pequena.Ele é um aditivo á
comunidade e todos aqueles garotos são bem comportados e educados. Eu tive as
minhas dúvidas quando eles vieram pra cá,com todos aqueles adolescentes adotados.Eu
pensei que teríamos problemas com eles.Mas eles são todos muito maduros- eu nunca
tive nenhuma espécie de problema com nenhum deles.Isso é mais do que eu posso dizer
de algumas crianças cujas famílias viveram aqui por gerações.
E eles ficam juntos do jeito que uma família deve ficar- acampando ás vezes nos finais
de semana...Só porque eles são novos na cidade as pessoa têm que ficar falando."
Foi o discurso mais longo que eu já ví Charlie fazendo.Ele deve ser fortemente contra o
que quer que as pessoas estão dizendo.
Eu dei pra tras. "Eles pareceram bons o suficiente pra mim.Eu só reparei que eles ficam
muito sozinhos.Eles são todos muito atraentes." eu adicionei isso tentando parecer
complementar.
"Você devia ver o doutor" Charlie disse rindo "Que bom que ele é feliz no
casamento.Muitas enfermeiras se esforçam em se concentrar em seus trabalhos quando
ele está por perto"
Nós continuamos em silêncio até terminarmos de comer. Ele limpou a mesa enquanto
eu comecei a lavar os pratos. Ele voltou para a TV, e depois que eu terminei de lavar os
pratos á mão- nada de lavadora de pratos- eu subí sem vontade pra fazer o meu dever de
Matemática.
A noite finalmente estava quieta. Eu caí no sono rapidamente,
exausta.
O resto da semana foi sem novidades. Eu me acostumei á rotina das aulas. Na sexta eu
já era capaz de reconhecer,se não nomear,quase todos os alunos da escola. Na
ginástica,os garotos do meu timeaprenderam a não me passar a bola e a entrar
rapidamente na minha frente se o outro time tentasse se aproveitar da minha fraqueza.
Eu ficava alegremente fora do caminho deles.
Edward Cullen não voltou á escola.
Todos os dias eu observava ansiosamente quando os outros Cullen entravam na
cafeteria sem ele. Então eu podia relaxar e aproveitar a conversa da hora do almoço. Na
maioria das vezes a coversa era sobre uma viagem ao Prque Oceanográfico de La Push
dentro de duas semanas que Mike estava planejando. Eu fiu convidada e tive que
aceitar,mais por educação que por vontade. Praias têm que ser quentes e secas.
Na sexta eu já me sentia confortável entrando na sala de Biologia, sem me preocupar
que Edward pudesse estar lá.
Até onde eu sabia,ele havia desistido da escola. Eu tentei não pensar nele,mas eu não
podia suprimir totalmente a preocupação de que eu pudesse ser a responsável por sua
ausência,por mais ridiculo que parecesse.
Meu primeiro fim de semana em Forks passou sem incidentes. Charlie,
desacostumado á ficar na casa normalmente vazia,trabalhou a maior parte do fim de
semana. Eu limpei a casa,adiantei o dever de casa e escreví mais e-mails com bobagens
alegres para a minha mãe. Eu dirigí até a biblioteca pública no sábado,mas o estoque era
tão pobre que eu nem me encomodei em fazer um cartão;eu teria que arranjar uma data
pra visitar Olympia ou Seattle em breve e achar uma boa loja de livros.
Eu pensei á toa quantas milhas a caminhonete faria com um litro de gasolina...e tremí
com o pensamento.
A chuva permaneceu leve durante o fim de semana,quieta,então eu pude dormir bem.
As pessoas me cumprimenteram no estacionamento da escola na segunda de manhã. Eu
não sabia todos os nomes deles,mas eu acenei de volta e sorrí pra todos. Esta manhã
estava mais frio,mas felizmente não chovendo. Em Inglês,Mike sentou no assento de
costume ao meu lado.
Tivemos uma arguição sobre O Morro dos Ventos Uivantes,eu estava adiantada,muito
fácil.
Tudo por tudo,eu estava me sentindo muito mais confortável do que eu imaginei que
sentiria a esse ponto. Mais confortável do que eu jamais esperei me sentir aqui.
Quando saímos da sala, o ar estava cheio de pedaços brancos rodando.
Eu podia ouvir as pessoas gritando excitadamente umas para as outras. O vento mordeu
minhas bochechas,meu nariz.
"Uau", Mike disse, "Está nevando."
Eu olhei para os pedacinhos de algodão que estavam se alojando na calçada e dançando
errôneamente enquanto passavam pelo meu rosto.
"Eca". Neve. Lá se vai meu bom dia.
Ele pareceu surpreso."Você não gosta de neve?"
"Não,significa que está frio demais para chover". Obvio. "Além do mais,eu pensei que
elas deviam descer como flocos- sabe, unicos e essa coisa toda. Esses parecem
contonetes usados."
"Você nunca viu a neve cair?" ele perguntou sem acreditar.
"Claro que já." eu pausei "na TV."
Mike riu,e então uma grande,molhada bola de neve derretendo atingiu a parte de trás da
sua cabeça. Eu tinha minhas suspeitas sobre Eric, que estava andando pra longe, de
costas pra nós- na direção errada para a sua próxima aula. Aparentemente,Mike era da
mesma opinião. Ele se curvou e começou a juntou uma pilha de neve branca.
"Eu te vejo no almoço tá?" Eu continuei caminhando enquanto falava.
"Quando as pessoas começam a atirar coisas molhadas, eu vou pra dentro"
Ele só acenou com a cabeça,seus olhos na figura se distanciando de Eric.
Durante a manhã,todos falavam excitadamente sobre a neve; aparentemente era a
primeira nevasca do ano. Eu mantive minha boca fechada. Claro,era mais seca do que a
chuva- até que derretia nas suas meias.
Eu caminhei em alerta para a cafeteria com Jéssica. As bolas de neve voavam por todo
lugar. Eu mantive uma pasta na minha mão,pronta para usá-la como escudo se
necessário. Jessica achou hilário,mas algo na minha expressão não permitiu que ela
mesma me atingisse com uma bola de neve.
Mike nos alcansou quando passamos pela porta,rindo,com gelo derretendo pelos seus
cabelos arrepiados. Ele e Jéssica converssavam animadamente sobre a guerra de neve
quando entramos na fila para comprar a comida. Eu olhei para a mesa no canto por puro
hábito. E congelei onde eu estava. Haviam cinco pessoas na fila.
Jéssica me puxou pelo braço.
"Alô? Bella? O que você quer?"
Eu olhei para baixo; minhas orelhas estavam quentes. Eu não tinha motivos para me
sentir constrangida,eu lembrei a mim mesma. Eu não fiz nada errado.
"Qual o problema com Bella?", Mike perguntou a Jéssica.
"Nada",eu respondí."Hoje eu só quero um refrigerante".Eu me aproximei do fim da fila.
"Você não está com fome?",Jéssica perguntou.
"Na verdade, eu estou me sentindo um pouco enjoada.",eu falei,meus olhos ainda no
chão.
Eu esperei que eles pegassem suas comidas,e então segui eles até a mesa,meus olhos
nos meus pés.
Eu bebi o meu refrigerante devagar,meu estômago revirando. Mike perguntou duas
vezes,com preocupação desnecesséria,como eu estava me sentindo. Eu disse a ele que
não era nada,mas estava imaginando se eu deveria usar isso como desculpa para fugir
para a enfermaria e ficar lá durante a próxima hora.
Ridículo. Eu não devia precisar fugir.
Eu decidí me permitir dar uma olhada para a mesa da família Cullen.
Se ele estivesse me encarando,eu iria faltar Biologia como a covarde que eu era.
Eu mantive minha cabeça abaixada e olhei pra cima por baixo dos meus cílios. Nenhum
deles estava olhando na minha direção. Eu levantei a cabeça um pouco.
Eles estavam rindo. Edward,Jasper e Emmett todos eles estavam inteiramente cobertos
com neve derretendo. Alice e Rosalie se afastaram enquando Emmett balançava o
cabelo pingando dele na direção delas. Eles estavam aproveitando o dia de neve,igual a
todo mundo- só que eles pareciam mais com a cena de um filme do que o resto de nós.
Mas,sem contar os risos e brincadeira,havia algo diferente, e eu não
conseguia apontar qual era essa diferença. Eu examinei Edward mais cuidadosamente.
A pele dele estava menos pálida,eu decidí- talvez corada pela guerra de neve- os
círculos embaixo dos olhos dele estavam muito menos visíveis. Mas havia algo mais.
Eu refletí,
encarando,tentando notar a diferença.
"Bella,pra onde você tá olhando?",Jéssica se intrometeu,acompanhando
os meus olhos. Nesse preciso momento os olhos dele brilharam e se encontraram com
os meus.
Eu deixei minha cabeça cair,deixando meus cabelos cairem pra cobrir meu rosto. Eu
tinha certeza,no entanto,no momento que nossos olhos se encontraram, que ele não
parecia severo ou hostil como ele estava da última vez que eu o ví. Ele parecia curioso
de novo, insatisfeito de alguma forma.
"Edward Cullen está te encarando",Jéssica deu uma risadinha no meu ouvido.
"Ele não parece estar com raiva parece?",eu não pude deixar de perguntar.
"Não",ela respondeu parecendo confusa com a minha pergunta."Ele deveria estar?"
"Eu acho que ela não gosta de mim",eu confidenciei. Eu me sentí enjoada. Eu coloquei
minha cabeça abaixada no meu braço.
"Os Cullen não gostam de ninguém...bem,eles não prestam atenção suficiente em
ninguém pra gostar deles. Mas ele ainda está te encarando."
"Pare de olhar pra ele", eu sussurei.
Ela sorriu mas parou de olhar pra ele. Eu levantei minha cabeça o suficiente pra ter
certeza que ela faria isso,disposta a usar de violência se ela se opusesse.
Mike nos interrompeu- ele estava planejando uma batalha épica do temporal no
estacionamento da escola e queria que nós nos juntássemos. Jéssica concordou
alegremente.
O jeito como ela olhava para Mike não deixou muitas dúvidas de que ela toparia
qualquer coisa que ele propusesse. Eu fiquei em silêncio. Eu teria que me esconder no
ginásio até que o estacionamento estivesse vazio.
Pelo resto do horário do almoço eu mantive meus olhos muito cuidadosamente na
minha própria mesa. Eu estava decidida a honrar o negócio que fiz comigo mesma. Já
que ele não parecia estar com raiva
eu podir ir para a aula de Biologia. Meu estômago deu cambalhotas quando eu pensei
em sentar perto dele de novo.
Eu não queria muito ir para a sala de aula com Mike como sempre- ele parecia ser um
alvo popular para os atiradores de bolas de nevemas
quando nós foi para a porta,todos menos eu gemeram em coro.
Estava chovendo,lavando todos os traços de neve, levando-a embora em uma tira de
gelo que se estendia pela calçada. Eu levantei meu capuz,secretamente satisfeita. Eu
estaria livre para ir direto pra casa depois da Ginástica.
Mike continuou uma sequência de reclamações no caminho para o prédio quatro.
Uma vez dentro da sala de aula, eu ví aliviada que a minha mesa continuava vazia. A
aula não começou por alguns minutos e a sala zumbia com a conversa.Eu mantive os
meus olhos longe da porta, batucando á toa na capa do meu caderno.
Eu ouví muito claramente quando a cadeira próxima a mim se moveu, mas os meus
olhos se mantiveram cautelosamente no que eu estava fazendo.
"Olá",disse uma voz calma,musical.
Eu olhei pra cima,abismada porque ele estava falando comigo. Ele estava sentando tão
longe de mim quanto a mesa permitia,mas sua cadeira estava virada pra mim. O cabelo
dele estava pingando de tão molhado,desgrenhado- mesmo assim, parecia que ele havia
acabado de gravar um comercial de gel pra cabelo. Seu rosto estonteante era
amigável,aberto,um leve sorriso nos seus lábios indefectíveis. Mas seus olhos eram
cautelosos.
"Meu nome é Edward Cullen",ele continuou. "Eu não tive a oportunidade de me
apresentar na semana passada. Você deve ser Bella Swan."
Minha mente estava girando de tão confusa. Eu inventei a coisa toda?
Ele era perfeitamnete educado agora. Eu tinha que falar;ele estava esperando. Mas eu
não consegui pensar em nada convencional pra dizer.
"C-como você sabe o meu nome?",eu gaguejei.
Ele sorriu um sorriso leve,encantador.
"Oh, eu acho que todo mundo sabe o seu nome. A cidade inteira esteve esperando você
chegar"
Eu fiz uma careta. Eu sabia que havia sido algo assim.
"Não",eu insistí estupidamente."Eu quis dizer,porque você me chamou de Bella?"
Ele pareceu confuso. "Você prefere Isabella?"
"Não,eu gosto de Bella", eu disse. "Mas Charlie- quer dizer meu pai- deve me chamar
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de Isabella pelas costas- é assim que todos parecem me conhecer",eu tentei explicar,me
sentindo como a mais burra entre as burras.
"Oh",ele deixou sair. Eu olhei pro outro lado me sentindo estranha.
Por sorte,o Sr. Banner começou a aula nessa hora. Eu tentei me concentrar na
experiência que faríamos na hoje. Os slides na caixa estavam fora de ordem.
Trabalhando como parceiros de laboratório, nós tinhamos que separar os slides em tipos
de raizes das espécies de células das fases da mitose que eles representavam e
etiquetálas adequadamente. Nós não podíamos usar os nosso livros. Em vinte minutos
ele voltaria pra ver quem havia acertado.
"Comecem", ele ordenou.
"Primeiro as damas,parceira?" Edward perguntou. Eu olhei pra cima pra vê-lo sorrindo
um sorriso tão lindo que eu não podia fazer nada além de olhar pra ele como uma idiota.
"Ou eu posso começar,se você quiser". O sorriso sumiu;ele estava obviamente
imaginando se eu era mentalmente competente.
"Não", eu disse ficando corada. "Eu vou na frente."
Eu estava me mostrando,só um pouquinho. Eu já havia feito essa experiência,e eu sabia
o que eu estava procurando. Só podia ser fácil. Eu coloquei o primeiro slide no lugar
embaixo do microscópio e ajustei a lente para o objetivo de 40 X. Eu estudei o slide
brevemente.
Minha avaliação foi confiante."Prófase."
"Você se importa se eu der uma olhada?",ele perguntou quando eu comecei a remover o
slide. Amão dele segurou a minha, para me parar,
quando ele perguntou. Os dedos dele eram frios como gelo,como se ele tivesse
colocado-a no gelo antes de entrar na sala de aula. Mas não foi por isso que eu puxei
minha mão tão rápido. Quando ele tocou minha mão,eu sentí uma punção como se uma
corrente elétrica tivesse passado por nós.
"Me desculpe",ele murmurou tirando sua mão imediatamente. No entanto,ele continuou
tentando alcansar o microscópio. Eu observei ele,ainda vacilante,enquanto ele
examinava o microscópio por um tempo ainda menor do que eu.
"Prófase",ele concordou,escrevendo cuidadosamente no primeiro espaço em branco da
nossa folha de trabalho. Ele rapidamente trocou o primeiro slide pelo segundo,e então
olhou curiosamente para ele.
"Anáfase",ele murmurou,escrevendo no papel enquanto falava.
Eu mantive minha voz indiferente."Posso?"
Ele sorriu maliciosamente e me passou o microscópio.
Eu olhei pela lente ansiosamente,só pra me disapontar. Droga,ele estava certo.
"Slide três?",eu levantei minha mão sem olhar pra ele.
Ele me passou;parecia que ele estava sendo cuidadoso para não tocar minha pele de
novo.
Eu dei a olhada mais rápida que eu consegui.
"Intérfase".Eu passei o microscópio antes que ele pudesse pedir. Ele deu uma olhada
rápida e então escreveu. Eu podia ter escrito enquanto ele olhava sua escrita limpa e
elegante me intimidou. Eu não queria sujar a folha com os meus garranchos
desajeitados.
Nós terminamos antes que qualquer outra pessoa estivesse perto. Eu podia ver Mike e
sua parceira comparando dois slides de novo e de novo, e outro grupo tinha aberto o
livro por debaixo da mesa.
Isso não me deixou outra alternativa a não ser tentar não olhar pra ele...sem sucesso. Eu
olhei pra cima,e ele estava olhando pra mim, aquele inxplicável olhar de frustração nos
seus olhos. De repente eu percebí qual era a súbita diferença no rosto dele.
"Você usa lentes de contato?",eu soltei sem pensar.
Ele pareceu confuso pela minha pergunta inesperada. "No".
"Oh",eu murmurei."Eu achei que havia algo diferente nos seus olhos."
Ele encolheu os ombros e olhou pra longe.
De fato,eu tinha certeza que algo estava diferente. Eu lembrava vividamente aquela cor
negra nos olhos dele na última vez que ele olhou pra mim- a cor era facilmente notável
em contraste com a sua pele pálida e seu cabelo ruivo.Hoje os olhos dele tinham uma
cor completamente diferente:um ocre estranho,mais escuros que Whisky, mas com a
mesma tonalidade dourada. Eu não entendia como isso podia estar acontecendo,a não
ser que por algum motivo ele estivesse mentindo sobre as lentes de contato. Ou talvez
Forks estivesse me deixando louca no sentido literal da palavra.
Eu olhei pra baixo. As mãos dele estavam apertadas contras os punhos de novo.
O Sr.Banner veio até a nossa mesa nessa hora,pra ver porque não estavamos
trabalhando. Ele olhou por cima dos nossos ombros para ver a experiência completa,e
então olhar ainda mais atentamente para checar as respostas.
"Então,Edward,você não achou que Isabella podia ter uma chance com o microscópio?",
o Sr.Banner perguntou.
"Bella.",Edward corrigiu automaticamente. "Na verdade,ela identificou três dos cinco."
Sr.Banner olhou pra mim agora,sua expressão era cética.
"Você já fez essa experiência antes?",ele perguntou.
Eu sorrí timidamente, "Não com raízes de cebola."
"Blastula de peixe branco?"
"É"
Sr. Banner concordou com a cabeça."Você estava numa colocação avançada no
programa de Phoenix?"
"Sim."
"Bem",ele disse depois de um momento. "Eu acho que é bom que vocês dois são
parceiros de laboratório.",ele murmurou algo mais enquanto ia embora. Depois que ele
foi embora,eu comecei a batucar no meu caderno de novo.
"É uma pena sobre a neve,não é?" Edward perguntou. Eu tinha a sensação de que ele
estava se esforçando pra conversar bobagens comigo. A paranóia me atingiu de novo.
Era como se ele tivesse ouvido minha conversa com Jéssica no almoço e estivesse
tentando provar que eu estava errada.
"Não muito",eu respondí honestamente,ao invés de tentar ser normal como todo
mundo.Eu ainda estava tentando desalojar o estúpido sentimento de suspeita e não
conseguia me concentrar.
"Você não gosta do frio." Não era uma pergunta.
"Ou do molhado."
"Forks deve ser difícil de viver pra você",ele meditou.
"Você não faz idéia",eu murmurei obscuramente.
Ele pareceu fascinado pelo que eu disse,por algum motivo que eu não podia imaginar. O
rosto dele era uma distração tão grande que eu tentei não olhar pra ele mais do que a
cortesia pedia.
"Então, porque você veio pra cá?"
Ninguém havia me perguntado isso- não diretamente como ele perguntou,exigente.
"É...complicado."
"Eu acho que consigo acompanhar",ele pressionou.
Eu pausei por um longo momento,e então cometí o erro de encontra o seu olhar. Seus
olhos dourados escuros me confundiram,e eu respondí sem pensar.
"Minha mãe casou novamente",eu disse.
"Isso não parece tão complicado",ele discordou, ma de repemte estava simpático.
"Quando isso aconteceu?"
"Setembro passado",minha voz pareceu triste até para mim mesma.
"E você não gosta dele",Edward presumiuseu tom ainda gentil.
"Não,Phil é legal.Talvez novo demais,mas legal o suficiente"
"Porque você não ficou com eles?"
Eu não conseguia compreender o seu interesse,mas ele continuou a me olhar com olhos
penetrantes,como se a história chata da minha vida fosse de alguma forma vitalmente
importante.
"Phil viaja muito.Ele joga bola pra se sustentar." Eu dei um meio-sorriso.
"Eu já ouví falar dele?",ele perguntou,sorrindo em resposta.
"Provavelmente não. Ele não joga bem .Só na menor liga. Ele se muda muito."
"E sua mãe te mandou pra cá pra poder viajar com ele."ele disse novamente como uma
suposição,não uma pergunta.
Meu queixo levantou uma fração, "Não, ela não me mandou,eu mandei a mim mesma"
As sobrancelhas dele se encontraram."Eu não entendo.",ele admitiu e pareceu
excessivamente frustrado com o fato.
Eu suspirei. Porque eu estava explicando isso pra ele?
Ele continuou a me encarar com obvia curiosidade.
"No início ela ficou comigo,mas ela sentia a falta dele. Eu a fiz infeliz,então eu decidí
que estava na hora de passar umas horas de qualidade com Charlie." Minha voz estava
mal-humorada quando eu terminei.
"Mas agora você está infeliz",ele apontou.
"E?",eu desafiei.
"Isso não me parece justo",ele encolheu os ombros mas seus olhos ainda estavam
intensos.
Eu sorrí sem humor. "Nunca te contaram? A vida não é justa."
"Eu acredito que eu já tinha ouvido isso antes",ele concordou secamente.
"Então isso é tudo" eu insistí,me perguntando porque ele ainda estava me olhando
daquele jeito.
O olhar dele se tornou avaliativo. "Você faz um belo show",ele disse vagarosamente.
"Mas eu seria capaz de apostar que você está sofrendo mais do que deixa os outros
verem."
Eu fiz uma careta pra ele,tentando comtrolar o impulso de mostrar minha língua pra ele
como uma criança de cinco anos e olhei pro outro lado.
"Estou errado?"
Eu tentei ignorá-lo
"Eu acho que não",ele disse.
"Porque isso importa pra você?,eu perguntei irritada. Eu mantive os olhos
distantes,observando o professor andando pela sala.
"Essa é uma pergunta muito boa",ele murmurou,tão baixo que eu imaginei se ele estaria
falando consigo mesmo. Porém,depois de algund minutos de silêncio, eu percebí que
essa era a única resposta que eu receberia.
Eu suspirei e olhei para o quadro negro carrancuda.
"Eu estou te aborrecendo?",ele me perguntou parecendo divertido
Eu olhei pra ele sem pensar...e disse a verdade de novo. "Não exatamente. E u estou
aborrecida comigo mesma. Meu rosto é tão fácil de ler- minha mãe sempre me chama
de livro aberto.",eu fiz cara feia.
"Pelo contrário,eu acho você bem difícil de ler". Apesar de tudo o que eu disse e de tudo
que ele advinhou,ele parecia sincero.
"Você deve ser um bom leitor então",eu repliquei.
"Geralmente",ele sorriu largamente,mostrando uma série de dentes perfeitos e super
brancos.
Sr.Banner pediu ordem na sala, e eu me virei aliviada para ouvir.
Eu não conseguia acreditar que eu havia acabado de explicar minha vida melancólica
para esse bizarro e lindo garoto que pode ou não me desprezar. Ele pareceu absorvido
pela nossa conversa,mas agora eu podia ver pelo canto do meu olho,que ele estava se
mantendo longe de mim de novo,as mãos dele agarrando a borda da mesa,com inegável
tensão.
Eu tentei fingir que prestava atenção enquanto o Sr.Banner explicava com
transparências no projetor,o que eu havia visto antes com dificuldade pelo microscópio.
Mas os meus pensamentos eram indóceis.
Quando o sinal finalmente tocou,Edward correu tão rapidamente e graciosamente da
sala como na segunda feira passada. Eu o observei maravilhada.
Mike pulou rapidamente pra o meu lado e pegou os meus livro pra mim. Eu imaginei
com um rabinho balançando.
"Aquilo foi horrível",ele gemeu. "Todos eles pareciam exatamente iguais.Você tem
sorte por ter Cullen como parceiro."
"Eu não tive nenhum problema"eu disse,com raiva pela suposição dele.Eu me arrependí
do esnobismo na hora. "Eu já havia feito essa experiência",eu falei antes que eu pudesse
magoar os sentimentos dele.
"Cullen pareceu amigável o suficiente hoje",ele comentou enquanto vestíamos os
casacos de chuva.Ele não pareceu feliz com isso.
Eu tentei parecer indiferente:"Eu me pergunto qual era o problema dele na segunda
passada."
Eu não consegui me concentrar na conversa de Mike enquanto caminhávamos para a
aula de Eduacação Física,e também não fiz muito pra me manter concentrada. Ele
nobremente cobriu a minha posição e a sua própria,então eu só saia da minha posição
quando era a minha vez de sacar. O meu time se abaixava e saia do caminho sempre que
era a minha vez.
A chuva era só uma névoa quando eu caminhei para o estacionamento,mas eu estava
mais contente quando eu entrei na cabine seca. Eu liguei o aquecedor,pela primeira vez
sem me importar com o barulho ensurdecedor do motor. Eu baixei o zíper do meu
casaco,baixei o capuz e afofei meu cabelo para que o aquecedor o secasse no caminho
pra casa.
Eu olhei ao redor pra ter certeza de que o caminho estava limpo. Foi aí que eu ví a
figura ereta,branca. Edward Cullen estava enconstado na porta do seu Volvo á três
carros de distância de mim e olhando atentamente na minha direção.
Eu rapidamente olhei pra longe e dei a ré na caminhonete quase batendo num Toyota
Corolla na minha pressa.
Pra sorte do Corolla,eu pisei no freio a tempo. Esse é exatamente o tipo de carro que o
meu carro deixaria em pedacinhos. Eu respirei fundo,olhando pra fora pelo outro lado
do meu carro,e cautelosamente tirei o carro,com mais sucesso.
Eu olhei direto para a frente quando eu passei pelo Volvo,mas pela minha visão
periférica,eu poderia jurar que ví ele rindo.
3. Fenômeno
Quando eu abri meus olhos essa manhã, algo estava diferente.
Era a luz. Ainda estava a luz cinza-esverdeada de um dia nublado na floreta, mas estava
mais claro de alguma forma. Eu percebi que não havia nenhuma névoa vendando minha
janela.
Eu me levantei pra olhar lá fora, e então gemi horrorizada.
Uma fina camada de neve cobria o jardim, varria a parte de cima da minha
caminhonete, e deixava a estrada toda branca.
Mas essa não era a pior parte.
Toda a chuva de ontem tinha congelado, virado gelo — cobrindo o topo das árvores em
fantástico padrões deslumbrantes, e cobrindo a calçada com um gelo mortal. Eu tive
bastante dificuldade para não cair no chão seco; poderia estar mais seguro para eu voltar
agora para cama.
Charlie tinha ido para o trabalho antes de eu descer escada abaixo. De muitos modos,
vivendo com Charlie tinha como eu ter meu próprio lugar, e eu fiquei me divertindo
sozinha, mesmo sem ter ninguém.
Eu joguei rapidamente no chão uma tigela de cereal e um pouco de suco de laranja da
caixa de papelão. Eu me sentia excitada para ir para a escola, e isso me assustou. Eu
sabia que não era o estímulo do ambiente, percebi que estava me antecipando, ou meu
novo grupo de amigos. Eu tinha que ser honesta comigo mesma, eu sabia que estava
ansiosa para chegar a escola porque eu veria Edward Cullen.
E isso era mesmo muito estúpido.
Eu deveria o estar evitando completamente depois de minha conversa desmiolada e
embaraçosa ontem.
E eu suspeitava dele; por que ele deveria mentir sobre os olhos dele? Eu ainda estava
amedrontada pela hostilidade que eu às vezes sentia emanando dele, e eu ainda ficava
com a língua-amarrada sempre que olhava a face perfeita dele.
eu estava plenamente cosciente que nás eramos opostos que não se atraíam. Então eu
não devia estar absolutamente tão ansiosa pra ver ele hoje.
Eu tive que usar toda a minha concentração pra conseguir sobreviver á descida nos
tijolos cobertos se gelo da entrada. Eu quase perdí o equilíbrio quando finalmente
cheguei á caminhonete, mas eu conseguí me agarrar no retrovisor e me salvar.
Claramente, hoje seria um pesadelo.
Dirigindo para a escola, eu me distraí do medo de cair e as minhas especulações não
desejadas sobre Edward Cullen e pensando em Mike e Eric, e na diferença óbvia em
como os garotos adolescentes me tratavam aqui.
Eu tinha certeza que era exatamente a mesma que era em Phoenix. Talvez fosse só
porque os garotos de Phoenix me viram passar por todas as fases estranhas da
adolescencia e ainda pensavam em mim daquele jeito. Talvez fosse porque eu era
novidade aqui, onde as novidades são algo muito raro. Talvez o meu jeito desajeitado
fosse visto como uma coisa mais encarecedora do que patética, me transformando numa
donzela ao invés de algum tormento. Qualquer que fosse a razão, o comportamento de
cãozinho de Mike e a aparente rivalidade de Eric eram desconcertantes.Eu não tinha
certeza que não preferia ser ignorada.
Minha caminhonete parecia não ter problemas com o gelo preto que cobria a estrada.
apesar disso, eu dirigi bem devagar pra não cravar uma espécie de trilha na rua
principal.
Quando eu saí do meu carro na escola eu ví porque eu tive tão poucos problemas.
Algo prateado chamou minha atenção, e eu caminhei para o fundo da caminhonete -
segurando cautelosamente o suporte lateral- para examinar os meus pneus. Haviam
pequenas correntes cruzadas em formatos de diamantes ao redor deles. Charlie deve ter
acordado sabe-se lá que horas pra colocar as correntes nos meus pneus. De repente eu
sentí minha garganta apertando. Eu não estava acostumada a ser cuidada, e a
preocupação de Charlie me pegou de surpresa.
Eu estava no canto de trás da minha caminhonete, tentando lutar com a onda de
emoções que as correntes de neve troxeram, quando eu ouví um som estranho. Era
como um arranhão muito alto, estava rapidamente se tornando dolorosamente alto. Eu
olhei para cima,estarrecida.
Eu ví várias coisas simultâneamente. Nada estav se mexendo em câmera lenta como
acontece nos filmes. ao invés disso, a adrenalina pareceu fazer o meu cérebro trabalhar
muito mais rápido, e eu fui capaz de absorver em detalhes claros várias coisas ao
mesmo tempo.
Edward Cullen estava parado quatro carros á minha frente me encarando horrorizado. O
rosto dele se destacou do mar de rostos, todos petrificados com a mesma expressão de
choque. Mas de mais imediata importância havia uma van azul escura derrapando,
pneus guinchando contra os freios, girando selvagemente no gelo do estacionamento. Ia
bater num dos cantos traseiros da minha caminhonete, e eu estava entre eles. Eu nem
tive tempo de fechar os meus olhos. Logo antes de ouvir o barulho de algo se quebrando
vindo da carroceria da minha caminhonete, alguma coisa bateu em mim, forte, mas não
da direção que eu estava esperando. Minha cabeça bateu contra o gelo empretecido, e eu
senti alguma coisa sólida e fria me pressionando no chão. Eu estava deitada no chão
atrás do carro de pintura queimada que estava estacionado próximo ao meu.
Mas eu não tive a chance de prestar atenção em mais nada porque a van ainda estava
vindo. Ela havia feito uma curva no fundo da minha caminhonete, e ainda girando e
deslizando, estava prestes a colidir comigo de novo.
Uma voz baixa me disse que alguem estava comigo,e a voz era impossível não
reconhecer. Duas mãos longas, brancas ficaram protetoramente na minha frente e a van
parou a um palmo de distância de mim, as mãos grandes cabendo perfeitamente num
vão profundo na lateral da van. As mãos dele se moveram tão rápido que ficaram fora
de foco.
Uma delas estava de repente agarrando o fundo da van, e alguma coisa estava me
puxando,empurrando minhas pernas como se elas fossem de uma boneca de trapo até
que elas encostaram no pneu do carro com a pintura queimada. O baque de um som
metáloco fez meus ouvidos doerem, e a van estava estabilizada no chão, vidro caindo no
asfalto - exatamente onde minhas pernas haviam estado.
Tudo ficou absolutamente silencioso por um longo segundo antes da gritaria
começar.Mas mais claramente que a gritaria, eu podia ouvir a voz baixa, desesperada de
Edward no meu ouvido.
"Bella? Você está bem?"
"Eu estou bem". Minha voz soou estranha. Eu sentei sentar, e me dei conta que ele
estava me apertando do lado do corpo dele com muita força.
"Tenha cuidado",ele avisou quando eu relutei," eu acho que você bateu bem forte com a
cabeça".
Eu me dei conta de uma dor pulsante centrada bem acima da minha orelha esquerda.
"Au", eu disse, surpresa.
"Foi o que eu pensei". "A voz dele, incrivelmente, fez parecer que ele estav prendendo
uma risada.
"Como diabos..." eu parei, tentando limpar minha mente,me orientar.
"Como é que você chegou aqui tão rápido?"
"Eu estava parado bem ao seu lado, Bella" ele disse, seu tom estava sério de novo.
Eu tornei a sentar, e dessa vez ele deixou, soltando o seu braço da minha cintura e
escorregando pra o mais longe de mim que foi possível no espaço limitado. Eu olhei
para a expressão preocupada, inocente dele e mais uma vez estava disorientada pela
força dos seus olhos dourados. O que é que eu estava perguntando a ele?
E então eles nos encontraram, uma multidão de pessoas com lágrimas saindo dos olhos
e escorrendo pelo rosto, gritando umas para as outras, gritando para nós.
"Não se mexam" alguém instruiu.
"Tirem Tyler da van!" outra pessoa gritou.
Havia um fluxo de atividade ao nosso redor. Eu tentei levantar, mas as mãos frias de
Edward me puxaram pra baixo pelo ombro.
"Fique quieta por enquanto".
"Mas está frio", eu reclamei. Eu me surpreendí quando ele gargalhou baixinho.
Havia uma margem no som.
"Você estava bem alí", de repente eu lembrei, e a gargalhada dele parou na hora. "Você
estava perto do seu carro".
A expressão dele ficou dura. "Não, eu não estava."
"Eu ví você". Tudo ao nosso redor estava um caos. Eu pude ouvir a voz áspera de
adultos se aproximando da cena. Mas eu obstinadamente me mantive na nossa
discussão; eu estava certa, e ele ia ter que admitir.
"Bella, eu estava em pé com você, e eu te tirei do caminho." Ele usou todo o poder
imenso, devastador do seu olhar em mim, como se estivesse tentando me comunicar
algo crucial.
"Não", eu apertei minha mandíbula.
O dourado dos seus olhos brilhou. "Por favor, Bella".
"Porque?" eu perguntei.
"Confie em mim." ele alegou, a voz dele opressiva.
Eu podia ouvir o som de sirenes agora. "Você promete que vai me explicar tudo
depois?"
"Tá bom" ele disse, subtamente exasperado.
"Tá bom", eu repeti enfurecida.
Foi preciso seis paramédicos e dois professores- Sr. Varner e treinador Clapp- para
afastar a van o suficiente pra trazer macas até nós. Edward veementemente recusou a
dele, e eu tentei fazer o mesmo,mas o traidor contou a eles que eu tinha batido a minha
cabeça e que provavelmente tinha tido uma concussão. Eu quase morrí de humilhação
quando eles colocaram o suporte de pescoço. Parecia que a escola inteira estava lá,
assistindo sóbriamente enquanto eles me colocaram no fundo da ambulância. Edward
pôde ir na frente.
Era enlouquecedor.
pra piorar a situação, o chefe Swan chegou antes que eles pudessem me colocar a uma
distância segura.
"Bella!", ele gritou em pânico quando me reconheceu na maca.
"Eu estou completamente bem, Char- pai.", eu suspirei. "Não tem nada errado comigo."
Ele se virou para o paramédico mais próximo para pedir uma segundo opinião. Eu
desliguei ele da minha mente pra tentar considerar a confusão de imagens inexplicáveis
se agitando loucamente na minha cabeça.
Quando eles me tiraram de perto do carro, eu pude ver um buraco profundo na lateral do
carro do carro com a pintura queimada- uma cavidade muito distinta que se ajustava ao
contorno dos ombros de Edward...como se ele tivesse se forçado contra o carro com
força suficiente para danificar a estrutura de metal...
E lá estava a família dele, olhando de longe, com expressões que iam da desaprovação á
furia mas que não continham nenhuma espécie de preocupação com a segurança do
irmão.
Eu tentei encontrar uma solução lógica que pudesse explicar o que havia acabado de
ver- uma solução que excluísse a possibilidade de eu ser louca.
Naturalmente, a ambulância conseguiu uma escolta policial. Eu me sentí ridícula em
cada intante enquanto eles me tiravam de lá. O que piorou a situação foi que Edward
entrou no hospital por suas próprias pernas. Eu apertei meus dentes.
Eles me colocaram na sala de emergência, uam sala longa com uma fileira de camas
separadas por cortinas em tom pastel. Uma enfermeira colocou um medidor de pressão
arterial no meu braço e um termometro embaixo da minha língua. Já que ninguém se
incomodou em puxar a cortina para me proferir alguma privacidade, eu decidí que não
era mais obrigada a usar aquele suporte para pescoço ridículo.
Quando a enfermeira foi embora, eu rapidamente soltei o Velcro e joguei ele embaixo
da cama.
Houve outro fluxo do pessoal do hospital, outra maca foi trazida para o meu lado. Eu
reconhecí Tyler Crowley da minha aula de História embaixo das bandagens apertadas
na cabeça dele que estava coberta de sangue. Tyler pareceu 100 vezes pior do que eu me
sentia.
Mas ele estava me encarando ansiosamente.
"Bella, me desculpe."
"Eu estou bem, Tyler- você parece horrível, está tudo bem?" Enquanto falávamos, as
enfermeiras começaram a tirar as bandagens encharcadas dele, deixando expostas uma
porção de cortes superfíciais em toda a sua testa e na bochecha esquerda.
Ele me ignorou. "Eu pensei que fosse matar você!Eu estav indo rápido demais e batí
errado no gelo..."
Ele choramingou enquanto a enfermeira tocava o seu rosto de leve.
"Não se preocupe com isso; você errou a pontaria."
"Como é que você saiu do caminho tão rápido? Você estava lá, e de repente não estava
mais..."
"Umm... Edward me tirou do caminho."
"Quem?"
"Edward Cullen- ele estava do meu lado." Eu sempre mentí muito mal; eu não soei nem
um pouco convicente.
"Cullen? Eu não ví ele...uau, foi rápido demais, eu acho. Ele está bem?"
"Eu acho que sim. Ele tá aqui, em algum lugar, mas eles não o fizeram usar uma maca".
Eu sabia que eu não estava louca. O que aconteceu? Não havia nenhuma forma de
explicar o que tinha visto.
Então eles me levaram pra fazer um raio-x. Eu disse a eles que não havia nada errado
comigo, e eu estava certa. Nem uma concussão. Eu perguntei se podia ir embora, mas a
enfermeira disse que eu tinha que falar com um médico antes. Então eu estava presa na
sala de emergência, esperando, sendo molestada pelos pedidos contantes de desculpa de
Tyler e pelas promessas de que ele ia me recompensar.
Eu tentei convencê-lo de que estava bem, mas ele continuou se atormentando.
Finalmente, eu fechei os meus olhos e ignorei ele. Ele continuou com o seu discurso
cheio de remorso.
"Ela está dormindo?", perguntou uma voz musical. Meus olhos se abriram.
Edward estava no pé da minha cama, sorrindo. Eu encarei ele. Não foi
fácil- seria mais natural admirá-lo.
"Ei, Edward, eu lamento muito -" Tyler começou.
Edward levantou a mão para parar ele.
"Sem sangue, sem danos ",ele disse mostrando seus dentes brilhantes.
Ele foi se sentar na borda da cama de Tyler, me encarando. Ele sorriu de novo.
"Então, qual é o veredito?" ele me perguntou.
"Não tem absolutamente nada de errado comigo, mas eles não querem me deixar ir
embora.", eu reclamei.
"Como é que você não está acorrentado numa cama como o resto de nós?"
"Tudo depende dos seus contatos", ele respondeu. "Mas não se preocupe, eu vim pra te
animar."
Nessa hora um médico virou no corredor e o meu queixo caiu. Ele era jovem, ele era
loiro... e muito mais bonito do que qualquer estrela de cinema que eu já tenha visto. No
entanto, ele era pálido e parecia cansado, com círculos embaixo dos olhos. Pela
descrição de Charlie, esse tinha que ser o pai de Edward.
"Então senhorita Swan", Dr. Cullen disse numa voz notavelmete atraente, "como é que
você está se sentindo?"
"Eu estou bem", eu repetí pela última vez,eu esperava.
Ele caminhou para o painél de luz em cima da minha cabeça, e o ligou.
"Seu raio-x parece bom", ele disse. "A sua cabeça está doendo?Edward disse que você
bateu com força."
"Ela está bem", eu repeti com um suspiro, olhando de relance na direção de Edward.
Os dedos frios do doutor tatearam levemente no meu crânio. Ele percebeu quando eu
gemí.
"Delicado?" ele perguntou.
"Na verdade não", podia ser pior.
Eu ouví uma gargalhada e olhei pra ver o sorriso complacente de Edward. Eu revirei os
olhos.
"Bem, o seu pai está na sala de espera- você pode ir pra casa com ele agora. Mas volte
se você tiver vertigens ou se tiver qualquer problema com a sua visão."
"Eu posso voltar para a escola?", eu perguntei, imaginando Charlie tentando ser
atencioso.
"Talvez você devesse pegar leve hoje".
Eu dei uma olhada pra Edward. "Ele vai poder voltar para a escola?"
"Alguém tem que espalhar a boa notícia que nós sobrevivemos", Edward disse fazendo
chacota.
"Na verdade", Dr. Cullen corrigiu. "Parece que toda a escola está na sala de espera."
"Ah não", eu gemí cobrindo o rosto com as mãos.
Dr. Cullen ergueu as sobrancelhas. "Você quer ficar?"
"Não, não!" Eu insisti jogando as minhas pernas pelo lado da cama e me colocando
rápido de pé. Rápido demais- eu cambaleei, e Dr. Cullen me sugurou. Ele pareceu
preocupado.
"Eu estou bem." Eu assegurei pra ele. Não tinha porque dizer pra ele que os meus
problemas com o equilíbrio não tinham nada a ver com o fato de eu ter batido com a
cabeça.
"Tome Tylenol para a dor" ele sugeriu enquanto me sustentava.
"Não dóe tanto", eu insisti.
"Parece que você teve muita sorte", Dr. Cullen disse enquanto assinava a meu quadro
com um gesto floreado.
"Sorte que Edward estava do meu lado", eu emendei com um olhar duro na direção do
objeto da minha declaração.
"Oh, bem, sim", Dr. Cullen concordou, subitamente ocupado com uns papéis na frente
dele.Depois ele olhou pro outro lado, pra Tyler, e andou até a próxima cama. Minha
intuição flutuou; o Dr. sabia de tudo.
"Eu temo que você terá que ficar conosco um pouco mais de tempo". Ele disse para
Tyler e começou a checar os cortes dele.
Assim que o Dr. ficou de costas eu me aproximei de Edward.
"Será que eu posso falar com você por um minutinho?" eu cochichei por baixo do
fôlego. Ele deu um passo se afastando de mim, sua mandíbula subitamente apertada.
"Seu pai está esperando por você", ele disse entre dentes.
Eu olhei de relance pra Dr. Cullen e Tyler.
"Eu gostaria de falar com você em particular, se você não se incomodar.", eu pressionei.
Ele me olhou fixamente, e depois me deu as costas e caminhou pelo longo quarto. Eu
praticamente tive que correr para acompanhá-lo.
Assim que viramos na curva para um pequeno corredor, ele se virou para me encarar.
"O que você quer?" ele perguntou, parecendo aborrecido. Seus olhos eram frios.
A expressão nada amigável dele me intimidou. Minhas palavras sairam com menos
severidade do que eu pretendia. "Você me deve uma explicação", eu lembrei ele.
"Eu salvei a sua vida- eu não te devo nada"
Eu vacilei com o resentimento na voz dele. "Você prometeu."
"Bella, você bateu com a cabeça, você não sabe do que está falando"
o tom dele era cortante.
Agora o meu temperamento estava em chamas, eu encarei ele desafiadoramente. "Não
tem nada errado com a minha cabeça".
Ele me encarou de volta. "O que você quer de mim, Bella?"
"Eu quero saber a verdade," eu disse."Eu quero saber porque estou mentindo por você."
"O que você acha que aconteceu?", ele soltou.
Saiu num sopro.
"Tudo o que eu sei é que você não estava em nenhum lugar perto de mim- Tyler
também não viu você, então não diga que eu batí muito forte com a cabeça. Aquela van
ia esmagar nós dois- e não esmagou, e as suas mãos deixaram buracos na lateral dela- e
você deixou um buraco na lateral daquele outro carro, e você não está absolutamente
machucado. E a van devia ter amassado as minhas pernas, mas você estava segurando
ela..." Eu tinha noção do quanto aquilo soava louco, e eu não pude continuar. Eu estava
com tanta raiva que podia sentir as lágrimas chegando; eu tentei forçá-las a desaparecer
apertando os meus dentes juntos.
Ele estava me olhando incrédulo. Mas o rosto dele estava tenso, na defensiva.
"Você acha que eu tirei uma van de cima de você?". O tom dele questionava a minha
sanidade, mas só me deixou mais suspeitas. Era como uma fala perfeitamente decorada
por um ator talentoso.
Eu simplesmente afirmei com a cabeça uma vez, mandíbula apertada.
"Ninguém vai acreditar nisso, sabe." agora a voz dele tinha um tom de zombaria.
"Eu não vou contar pra ninguem". Eu disse cada palavra vagarosamnete,
cuidadosamnete controlando a minha raiva.
A surpresa apareceu no rosto dele. "Então porque isso importa?"
"Importa pra mim" eu insistí. "Eu não gosto de mentir- então seria melhor se eu tivesse
uma boa razão pra fazer isso."
"Será que você não pode só me agradecer e esquecer isso?"
"Obrigada", eu disse fumaçando e esperando.
"Você não vai desistir, vai?"
"Não."
"Nesse caso... eu espero que você gosto do desapontamento."
Nós nos olhamos em silêncio. Eu fui a primeira a quebrar o silêncio, tentando manter o
foco. Eu corria o risco de me distrair com o seu rosto lívido,glorioso. Era como tentar
encarar um anjo destruidor.
"Porque você se incomoda?" eu perguntei frigidamente.
Ele pausou, por um instante seu rosto estonteante ficou inesperadamente vulnerável.
_________________________________________________3




"Eu não sei", ele cochichou.
Aí ele me deu as costas e caminhou pra longe de mim.
Eu estava com tanta raiva que demorou uns minutos até que eu pudesse me mover.
Quando eu consegui andar, eu caminhei lentamente lentamente para a saída no final do
corredor.
A sala de espera estava mais desagradável do que eu temia. Parecia que todos os rostos
que eu conhecia em Forks estavam lá, me encarando. Charlie correu para o meu lado; eu
levantei as mãos.
"Não tem nada de errado comigo", eu assegurei solenemente. Eu ainda estava
importunada, sem o mínimo humor pra conversinha.
"O que o doutor disse?"
"Dr. Cullen me viu, e ele disse que eu estava bem e que podia ir pra casa.", eu suspirei.
Mike e Jéssica e Eric estavam todos lá, começando a vir na nossa direção. "Vamos
logo", eu apressei.
Charlie colocou o braço atrás das minhas costas, não necessariamente me tocando, e me
guiou até as portas de vidro da saída. Eu acenei timidamente para os meus amigos,
esperando convencê-los de que eles não precisavam mais se preocupar comigo.
Era um enorme alívio- a primeira vez que já me sentí assim - entra na viatura.
Nós dirigimos em silêncio. Eu estava tão presa nos meus pensamentos que praticamente
nem reparei que Charlie estava lá. Eu tinha certeza que a postura defensiva de Edward
era uma confirmação de todas as bizarrices que eu ainda não podia acreditar que tinha
testemunhado.
Quando nós chegamos em casa, Charlie finalmente falou.
"Umm... você vai precisar ligar pra Renée", ele baixou a cabeça, em sinal de culpa.
Eu estava apática. " Você contou á mamãe!"
"Desculpe."
Eu batí a porta da viatura um pouco mais forte do que o necessário quando saí.
Minha mãe estava histérica, é claro. Eu tive que dizer a ela que estava bem pelo menos
umas trinta vezes antes dela se acalmar. Ela me implorou pra voltar pra casa- esqucendo
que nossa casa estava vazia naquele momento- mas as súplicas dela foram mais fáceis
de resistir do que eu imaginava. Eu estava consumida pelo mistério que Edward
representava. E uma pouco mais obsecada pelo próprio Edward.
Burra, burra, burra.
Eu não estava tão ansiosa pra deixar Forks quanto eu deveria estar, como qualquer
pessoa normal e sã deveria estar.
Eu decidí que devir ir dormir mais cedo naquela noite. Charlie continuou cuidando de
mim ansiosamente, e isso estava me deixando nervosa. Eu parei no caminho pra pegar
três Tylenol no banheiro. Eles ajudaram, e quando a dor passou, eu peguei no sono.
Essa foi a primeira noite que eu sonhei com Edward Cullen.
4. Convite
No meu sonho estava muito escuro, e a pouco luz que havia lá parecia estar vindo da
pele de Edward. Eu não conseguia ver ele, só as costas dele enquanto ele andava pra
longe de mim, me deixando na escuridão. Não importava o quanto eu corresse, eu não
conseguia acompanhá-lo; não importava o quanto eu gritasse por ele, ele nunca se
virava. Confusa, eu acordei no meio da noite e não conseguí mais dormir pelo que
pareceu ser um longo tempo. Depois disso, ele estava nos meus sonhos praticamente
toda noite, mas sempre distante, nunca a meu alcance.
O mês que se seguiu ao acidente foi incômodo, tenso, e, a princípio, até embaraçoso.
Para meu desânimo, eu me tornei o centro das atenções pelo resto da semana.
Tyler Crowley estava impossível, me seguindo, obeseca com a idéia de me recompensar
de algum modo. Eu tentei convencê-lo de que o que mais queria era que ele esquecesse
o que aconteceu - especialmente já que nada aconteceu comigo - mas ele continuou
insistindo.
Ele me seguiu entre as aulas e se sentou na nossa agora lotada mesa do almoço. Mike e
Eric eram ainda menos amigáveis com ele do que um com o outro, o que me deixou
preocupada por estar ganhando outro fã indesejado.
Ninguém pareceu preocupado com Edward, apesar de eu ter explicado milhões de vezes
que ele era o herói - como ele me tirou do caminho e quase foi atingido também. Eu
tentei ser convincente. Jéssica, Mike, Eric e todos os outros sempre comentavam que
eles nem sequer tinham visto ele lá até que a van foi tirada do caminho.
Eu pensei comigo mesma porque ninguém havia visto ele em pé lá longe, antes que ele
estivesse de repente, impossivelmente salvando a minha vida. Com pesar, eu me dei
conta da possível causa - ninguém estava tão conscinte da presença de Edward quanto
eu estava. Ninguém mais observava ele como eu. Que pena.
Edward nunca estava cercado de espectadores ansiosos pela sua atenção. As pessoas
evitavam ele como sempre. Os Cullen e os Hales se sentavam na mesma mesa como
sempre, sem comer,falando apenas uns com os outros.
Nenhum deles, especialmente Edward, olhou mais na minha direção.
Quando ele sentava perto de mim na sala, tão longe de mim quanto a mesa permitia, ele
parecia totalmente alheio á minha presença. Só de vez em quando, quando os pulsos
dele se apertavam - a pele ficava ainda mais branca ao redor dos ossos - eu ficava
imaginando se ele estava mesmo tão inconscinte quanto queria fazer parecer.
Ele desejava não ter me tirado do caminho da van de Tyler - pra mim não havia outra
conclusão.
Eu queria muito falar com ele, e no dia depois do acidente eu tentei. Na última vez que
eu ví ele, fora da sala de emergência, nós dois estávamos tão furiosos. Eu ainda estava
com raiva por ele não confiar em mim a ponto de dizer a verdade, apesar de eu estar
cumprindo com a minha parte do trato perfeitamente. Mas ele tinha de fato salvado a
minha vida, não importa como. Durante a noite a minha raiva se transformou em
gratidão.
Ele já estava sentado quando eu entrei em Biologia, olhando diretamente pra frente. Ele
não deu nenhum sinal de que sabia que eu estava lá.
"Olá Edward", eu disse agradavelmente, pra mostrá-lo que eu ia me comportar
direitinho.
Ele virou uma fração na minha direção sem olhar pra mim, balançou a cabeça uma vez,
e então olhou pro outro lado.
E esse foi o último contato que eu tive com ele, apesar dele estar lá, a um passo de mim,
todos os dias. As vezes eu ficava observando ele, sem conseguir me controlar - á
distância, contudo, na cafeteria ou no estacionamento. Eu observava como os seus olhos
dourados ficavam perceptivelmente mais e mais pretos a cada dia. Mas na aula eu não
dava mais atenção a ele do que ele dava pra mim.
Eu estava arrasada. E os sonhos continuavam.
Apesar das minhas mentiras deslavadas, a tenacidade doas meus e-mails alertaram
Renée para a minha depressão, e ela ligou algumas vezes, preocupada. Eu tentei
convencê-la de que era só o clima que estava me deixando pra baixo.
Mike, ao menos, parecia estar satisfeito pela óbvia frieza entre mim e meu parceiro de
laboratório.
Eu podia ver que ele andava preocupado que o salvamento arriscado de Edward tivesse
me impressionado, e ele parecia aliviado que pareceu ter o efeito o oposto. Ele ficou
mais confiante, sentando na borda da minha mesa pra conversar antes da aula de
Biologia começar, ignorando Edward tão completamente quanto ele ignorava nós dois.
A neve foi embora de vez depois daquele dia perigosamente gelado. Mike estava
desapontado porque não pôde fazer a sua briga de bola de neve, mas satisfeito que a ida
á praia seria o mais breve possível. A chuva, porém, continuou pesada e as semanas
foram passando.
Jéssica me alertou de outro evento despontando no horizonte - ela ligou na primeira
Terça-feira de Março pra pedir minha permissão pra convidar Mike para o baile da
escolha das garotas dentro de duas semanas.
"Tem certeza que você não se importa...você não estava planejando convidá-lo?" ela
insistiu quando eu disse que não me importava nem um pouco.
"Não Jess, eu não vou." eu garantí pra ele. Dançar estava além do alcance dasminha
habilidades.
"Vai ser muito divertido", a tentativa de convite dela foi meio falsa. Eu suspeitava que
Jéssica gostava mais da minha inexplicável popularidade do que da minha companhia
propriamente dita.
"Se divirta com Mike", eu encoragei.
No outro dia, eu fiquei surpresa que Jéssica não estava sendo a mesma pessoa em
Trigonometria e Espanhol. Ela estava quieta enquanto andava ao meu lado entre as
aulas, e eu estava com medo de perguntar o por quê. Se Mike deixou ela na mão, eu
seria a última pessoa pra quem ela iria querer contar.
Meus medos cresceram no almoço quando Jéssica se sentou tão longe de Mike quanto
foi possível, conversando animadamente com Eric. Mike estava estranhamente quieto.
Mike ainda estava calado quando me acompanhou á aula, a expressão desconfortável no
rosto dele era um mal sinal. Mas ele não tocou no assunto até que eu estava sentada e
ele estava curvado sobre a minha mesa.
Como sempre, eu estava eletricamente consciente da presença de Edward sentado ao
alcance do meu toque, distante como se ele fosse um fruto da minha imaginação.
"Então", Mike disse olhando pro chão, "Jéssica me convidou para o baile de primavera".
"Isso é ótimo". Eu fiz a minha voz ficar contente e entusiasmada.
"Você vai se divertir muito com a Jéssica"
"Bem...", ele gaguejou enquanto examinava o meu sorriso, claramente discontente com
a minha resposta. "Eu disse a ela que precisava pensar."
"Porque você faria isso?" eu deixei a desaprovação aparecer no meu tom, apesar de
estar aliviada que ele não tinha dado um não definitivo á ela.
O rosto dela estava vermelho quando ele olhou pro chão de novo. A piedade me deixou
balançada.
"Eu estava imaginando se...bem, se você estava planejando me convidar."
Eu parei um segundo, odiando a onda de culpa que passou por mim. Mas eu ví, pelo
canto dos meus olhos, quando um reflexo fez Edward virar a cabeça na minha direção.
"Mike, eu acho que você devia dizer sim pra ela", eu disse.
"Você já convidou outra pessoa?" Será que Edward percebeu os olhos de Mike na
direção dele?
"Não," eu garantí pra ele "eu nem sequer vou ao baile."
"Porque não?", Mike quis saber.
Eu não queria falar sobre os perigos que dançar representava, então eu rapidamente
inventei novos planos.
"Eu vou pra Seattle esse Sábado", eu expliquei. Eu precisava sair da cidade mesmo- de
repente era o momento perfeito pra ir.
"Você não pode ir outra semana?"
"Desculpa, não", eu disse. "Então você não devia fazer Jess esperar mais- é rude."
"É, você está certa." ele murmurou, e se virou, arrasado, pra voltar pro seu lugar.
Eu fechei os meus olhos e pressionei os dedos nas minhas têmporas, tentando tirar a
culpa e a pena da minha cabeça. O Sr. Banner começou a falar. Eu suspirei e abrí os
olhos.
E Edward estava me olhando cheio de curiosidade, aquele mesmo olhar de frustração
ainda mais distinto agora nos seus olhos pretos.
Eu olhei de volta, surpresa, esperando que ele olhasse rapidamente pra longe. Mas ao
invés disso, ele continuou me olhando intensamente nos olhos. Eu não afastaria o olhar
de jeito nenhum. Minhas mãos começaram a tremer.
"Sr. Cullen", o professor chamou, querendo a resposta para uma pergunta que eu não
tinha ouvido.
"O ciclo dos caranguejos", Edward respondeu, parecendo relutante enquanto ele virava
pra olhar para o Sr. Banner.
Eu olhei para os meus livros assim que estava livre do olhar dele, tentando me
encontrar.Covarde como sempre, eu coloquei o meu cabelo sobre o meu ombro direito
pra esconder o meu rosto. Eu não conseguia acreditar na onda de emoções pulsando no
meu corpo - só porque ele olhou pra mim pela primeira vez em seis semanas.
Eu não podia permitir que ele tivesse esse nível de influência sobre mim. Era patético.
Pior que patético, não era saudável.
Eu fiz o que pude pra não me dar conta da presença dele pela hora restante, e, já que era
impossível, pelo menos fiz de tudo pra ele não se dar conta que eu me dava conta da
presença dele. Quando o sinal finalmente tocou, eu me virei de costas pra ele pra juntar
as minhas coisas, esperando que ele fosse embora imediatamente, como sempre.
"Bella?" a voz dele não devia soar tão familiar pra mim, como se eu conhecesse esse
som por toda a minha vida e não por apenas algumas semanas.
Eu virei devagar, sem vontade. Eu não queria sentir o que eu sabia que ia sentir quando
olhasse para o seu rosto mais que perfeito. A minha expressão era cautelosa quando eu
finalmente me virei pra ele; a expressão dele era ilegível. Ele não disse nada.
"O que? Você já está falando comigo de novo?" eu finalmente perguntei, um pouco de
petulância desintencional na minha voz.
Os lábios dele se contorceram, lutando contra um sorriso. "Na verdade não", ele
admitiu.
Eu fechei meus olhos e inalei vagarosamente pelo nariz, consciente de que os meus
dentes estavam se apertando. Ele esperou.
"Então o que você quer, Edward?" eu perguntei, mantendo meus olhos fechados; era
mais fácil conversar coerentemente com ele desse jeito.
"Me desculpe", ele pareceu sincero."Eu estou sendo muito rude, eu sei. Mas desse jeito
é melhor, mesmo."
Eu abrí meus olhos. O rosto dele estava sério.
"Eu não sei o que você quer dizer", eu disse, minha voz cautelosa.
"É melhor se nós não formos amigos", ele explicou. "Confie em mim".
Meus olhos reviraram. Eu já ouví isso antes.
"É uma pena que você não tenha descoberto isso mais cedo", eu falei entre meus dentes.
"Você podia ter se poupado desse arrependimento".
"Arrependimento?", a palavra e o meu tom obviamente pegaram ele de surpresa.
"Arrependimento pelo quê?"
"Por não ter simplesmente deixado aquela van estúpida passar por cima de mim."
Ele estava incrédulo. Ele me olhava em descrença.
Quando ele finalmente falou, ele parecia com raiva. "Você acha que eu me arrependo de
ter salvado a sua vida?"
"Eu sei que você se arrepende." , eu disse.
"Você não sabe de nada", ele definitivamente estava com raiva.
Eu virei rapidamente a minha cabeça, prendendo a minha mandíbula pra não soltar de
vez todas as acusações que tinha contra ele.
Eu juntei os meus livros, então me levantei e caminhei até a porta.
Eu planejava sair da sala dramaticamente da sala, mas é claro que eu batí a minha bota
da porta e derrubei os meus livros. Eu fiquei lá por um momento, pensando em deixálos.
Então eu suspirei e me abaixei para apanhá-los. Ele estava lá; eles já tinha os
colocado numa pilha. Ele me passou eles, sua expressão dura.
"Obrigada", eu disse geladamente.
Ele revirou os olhos.
"De nada", ele devolveu.
Eu me levantei, dei as costas pra ele e fui pra aula de ginástica sem olhar pra trás.
A ginástica foi brutal. Nós estavamos jogando Basquete. Meu time nunca me passava a
bola, e isso era bom, mas eu caí muito. As vezes eu derrubava as pessoas comigo. Hoje
eu estava pior que o normal porque minha cabeça estava cheia de Edward. Eu tentei me
concentrar nos meus pés, mas ele voltava a inundar meus pensamentos quando eu mais
precisava de equilíbrio.
Eu estava aliviada, como sempre, por ir embora. Eu quase corrí pro meu carro; havíam
tantas pessoas que eu queria evitar. A caminhonete sofreu o mínimo de danos pelo
acidente. Eu tive que trocar os faróis, e quando ela fosse pintada ficaria perfeita.
Os pais de Tyler tiveram que vender a van por partes.
Eu quase tive um ataque do coração quando ví uma silhueta alta, escura encostada na
lateral da minha caminhonete. Então eu me dei conta que era só Eric. Eu comecei a
andar de novo.
"Ei Eric", eu chamei.
"Oi Bella."
"O que foi?" eu disse enquanto destravava a porta. Eu não estava prestando atenção ao
tom desconfortável da voz dele, então suas próximas palavras me pegaram de surpresa.
"Uh, eu estava só imaginando...se você não gostaria de ir ao baile de primavera
comigo." A voz dele desapareceu na última palavra.
"Eu pensei que fosse escolha das garotas" eu disse, assustada demais pra ser
diplomática.
"Bem, é..." ele admitiu, envergonhado.
Eu recuperei minha compostura e tentei sorrir docemente. "Obrigada por me convidar,
mas eu vou pra Seattle nesse dia."
"Ah", ele disse. "Talvez da próxima vez."
"Claro", eu concordei e aí mordí meu lábio. Eu não queria que ele levasse isso muito a
sério.
Ele foi embora, em direção á escola. Eu ouví uma gargalhada baixinha.
Edward estava passando pela minha caminhonete, olhando diretamente pra frente, seus
lábios pressionados. Eu abrí a porta e pulei pra dentro, batendo ela com força atrás de
mim.
Eu liguei o motor desafiadoramente e dei a ré saindo pelo corredor.
Edward já estava em seu carro, a duas vagas de distância, deslizando vagarosamente na
minha frente, me atrapalhando.
Ele parou lá- pra esperar sua família; eu podia ver eles caminhando nessa direção, mas
ainda perto da cafeteria. Eu pensei em arrancar o retrovisor do seu Volvo, mas haviam
muitas testemunhas. Eu olhei no meu espelho retrovisor. Uma fila estava começando a
se formar.
Diretamente atrás de mim, Tyler Crowley estava no seu Sentra usado, recentemente
adquirido, acenando. Eu estava agitada demais pra prestar atenção nele.
Enquanto eu estava sentada lá, olhando pra todos os cantos menos pro carro na minha
frente, eu ouví uma batidinha na minha janela do lado do passageiro. Eu olhei; era
Tyler. Eu olhei de novo no meu retrovisor, confusa. O carro dele ainda estava ligado, a
porta esquerda aberta. Eu me estendí pela cabine pra abrir a janela. Estava dura. Eu abrí
até a metade, depois desistí.
"Desculpa, Tyler, eu estou presa atrás de Cullen", eu estava aborrecida- obviamente o
engarrafamento não era culpa minha.
"Oh, eu sei- eu só queria te perguntar uma coisa enquanto estamos presos aqui", ele
sorriu largamente.
Isso não podia estar acontecendo.
"Você vai me convidar para o baile de primavera?" ele continuou.
"Eu não vou estar na cidade Tyler", minha voz pareceu um pouco aguda. Eu tinha que
lembrar que não era culpa dele que Mike e Eric já tinham acabado com a minha cota de
paciência por aquele dia.
"É, Mike disse isso", ele admitiu.
"Então porque -"
Ele encolheu os ombros. "Eu estava pensando que você só não queria machucá-lo"
OK, foi culpa dele.
"Desculpe, Tyler", eu disse tentando esconder minha irritação. "Eu estou mesmo saindo
da cidade"
"Tudo bem. Ainda temos o baile de fim de ano."
E antes que eu pudesse responder, ele estava caminhando de volta pro seu carro. Eu
podia sentir o choque no meu rosto. Eu olhei pra frente pra ver Alice, Rosalie, Emmett e
Jasper todos entrando no Volvo. No espelho retrovisor dele, os olhos de Edward
estavam em mim. Ele estava inquestionávelmente se balançando de rir, como se ele
tivesse ouvido cada palavra de Tyler.
Meu pé se aproximou do acelerador... um empurrãozinho não ia machucar nenhum
deles, só aquela pintura prateada do Volvo. Eu acelerei o motor.
Mas eles estavam todos dentro, e Edward estava indo embora. Eu dirigí pra casa
devagar, cuidadosamente, murmurando pra mim mesma durante o caminho inteiro.
Quando eu cheguei em casa, eu resolví fazer enchiladas de frango pro jantar. Era um
longo processo, e me manteria ocupada. Enquanto eu estava picando as cebolas e o
chili, o telefone tocou. Eu estava quase com medo de atender, mas podia ser Charlie ou
minha mãe.
Era Jéssica, e ela estava exultante; Mike alcançou ela depois da escola para aceitar o seu
convite. Eu comemorei brevemente com ela enquanto me movimentava. Ela tinha que
desligar. Ela tinha que ligar pra Angela e Lauren pra contar a elas. Eu sugerí - com uma
inocência casual- que talvez Angela, a garota tímida que tinha Biologia comigo, podia
convidar Eric. E Lauren, uma garota reservada que sempre me ignorava na mesa do
almoço, podia convidar Tyler; eu tinha ouvido dizer que eles estavam disponíveis. Jess
achou que essa era uma ótima idéia. Agora que ela tinha certeza de Mike, ela realmete
pareceu sincera quando disse que gostaria que eu fosse para o baile. Eu dei a desculpa
de Seattle.
Depois que eu desliguei, eu tentei me concentrar no jantar- cortando o frango
especialmente; eu não queria fazer outra visitaá sala de emergência. Mas a minha
cabeça estava rodando, tentando analizar cada palavra que Edward havia dito hoje. O
que ele queria dizer com , era melhor que não fôssemos amigos?
Meu estômago revirou quando eu entendí o que ele queria dizer. Ele deve ter reparado
no quanto eu estava absorvida por ele; ele não deve querer que eu me engane...então não
poderiamos ser amigos... porque ele não estava nem um pouco interessado em mim.
É claro que ele não estava interessado em mim, eu pensei com raiva, meus olhos
pulsando- uma reação ás cebolas. Eu não era interessante. E ele era. Interessante...e
brilhante...e misterioso...e perfeito...e lindo...
...E possívelmente capaz de levantar vans com uma mão só.
Bom, tudo bem. Eu podia deixá-lo em paz. Eu ia deixá-lo em paz. Eu ia suportar a
sentença dada por mim mesma aqui no purgatório, e talvez alguma escola no Sul,
possivelmente no Havaí ia me dar uma bolsa de estudos.
Eu me concentrei em praias ensolaradas e palmeiras enquanto terminava as enchiladas e
colocava elas no forno.
Charlie pareceu desconfiado quando chegou em casa e sentiu o cheiro dos pimentões.
Eu não podia culpá-lo- a única comida Mexicana próxima do comestível estava no Sul
da Califórnia. Mas ele era um policial, mesmo que um policial de uma cidade pequena,
então ele foi corajoso o suficiente pra dar a primeira mordida. Ele pareceu gostar. Era
engraçado observar enquanto ele começava a confiar em mim na cozinha.
"Pai?" eu perguntei quando ele já estava quase acabando.
"Sim, Bella?"
"Um, só queria te dizer que eu vou pra Seattle no próximo Sábado...tudo bem?" Eu não
queria pedir permissão- deixava uma má imagem- mas eu achei rude, então mudei de
idéia no fim.
"Porque?", ele pareceu surpreso, como se ele não pudesse imaginar algo que Forks não
pudesse oferecer.
"Bom, eu queria ir pegar alguns livros- a biblioteca daqui é bem limitada- e talvez vez
algumas roupas." Eu tinha mais dinheiro do que estava acostumada, desde que, graças
ao Charlie, eu não precisei comprar um carro. Não que a caminhonete não fosse cara em
se tratando de gasolina.
"Essa caminhonete provavelmente não faz uma milhagem muito boa com a gasolina",
ele disse fazendo um eco com os meus pensamentos.
"Eu sei, eu vou parar em Montesano e Olympia- e Tacoma se precisar."
"Você vai sozinha?", ele perguntou, e eu não conseguí dizer se ele pensava que eu
tivesse um namorado secreto ou se ele só estava preocupado por causa do carro.
"Sim".
"Seattle é uma cidade grande, você pode se perder", ele disse.
"Pai, Phoenix é cinco vezes maior que Seattle- e eu sei ler um mapa, não se preocupe."
"Você quer que eu vá com você?"
Eu tentei ser profissional enquanto escondia o meu horror.
"Está tudo bem pai. Eu provavelmente estarei em provadores o dia inteiro- muito
chato."
"Oh, OK". O pensamento de passar o dia inteiro sentado em lojas de roupas de mulher
acalmou ele imediatamente.
"Obrigada." eu sorrí pra ele.
"Você vai estar de volta á tempo pro baile?"
Grrr. So numa cidade pequena como essa os pais sabem quando são os bailes.
"Não- eu não danço pai." Ele, de todas as pessoas,devia entender isso- eu não herdei os
problemas de equilíbrio da minha mãe.
Ele entendeu. "Oh, tudo bem." Ele se tocou.
Na manhã seguinte, quando eu estacionei no estacionamento, eu deliberadamente
estacionei o mais distante possível do Volvo prateado. Eu não queria cair em tentação e
acabar fazendo ele merecer um carro novo. Saindo da cabine, eu deixei as chaves
cairem numa poça aos meus pés. Enquanto eu me abaixava para apanhá-las, uma mão
branca pegou-as num flash antes que eu pudesse tentar.
Edward Cullen estava bem na minha frente, encostado casualmente na minha
caminhonete.
"Como você faz isso?"
"Faz o que?" Ele me passou as chaves enquanto falava. Quando eu ia apanhá-las ele
jogou elas na palma da minha mão.
"Aparece do nada"
"Bella, não é culpa minha que você não é particularmente observadora" a voz dele era
quieta como sempre- aveludada, emudecida.
Eu olhei para o seu rosto perfeito. Os olhos dele estavam claros hoje de novo, uma cor
dourada da cor do mel, profunda.
Então eu tive que olhar pra baixo pra reagrupar os meus pensamentos agora confusos.
"Porque aquela pataquada no tráfego ontem?" eu perguntei de uma vez, ainda olhando
pra longe. "Eu pensei que você devia estar me ignorando e não me irritando até a
morte."
"Aquilo foi pro bem de Tyler, não pro meu. Eu tinha que dar uma chance a ele." ele riu
silenciosamente.
"Você..." eu gaguejei. Eu não conseguí pensar numa palavra ruim o suficiente.
Eu sentí que o calor daminha raiva podia queimá-lo fisicamente, mas ele parecia estar se
divertindo.
"Eu não estou fingindo que você não existe", ele continuou.
"Então você está tentando me irritar até a morte? Já que Tyler não conseguiu terminar o
trabalho?"
A raiva transpareceu nos seus olhos. Os seus lábios se pressionaram até formar uma
linha fina, todos os sinais de humor tinham desaparecido.
"Bella, você é muito absurda", ele disse, sua voz baixa estava fria.
Minhas palmas coçaram- eu queria tanto bater em alguma coisa. Eu estava surpresa
comigo mesma. Normalmente eu não era uma pessoa violenta. Eu dei as costas e
comecei a caminhar.
"Espere", ele chamou. Eu continuei andando, caminhando furiosamente pela chuva.
Mas ele estava perto de mim, acompanhando o passo facilmente.
"Me desculpe por ser rude", ele disse enquanto andávamos. Eu ignorei ele. "Eu não
estou dizendo que não é verdade", ele continuou, "Mas mesmo assim foi rude."
"Porque você não me deixa em paz?", eu murmurei.
"Eu queria perguntar uma coisa, mas você me desconcentrou",ele riu.
Ele parecia ter recuperado o bom humor.
"Você tem alguma disordem de múltipla personalidade?", eu perguntei severamente.
"Você está fazendo de novo".
Eu suspirei. "Tá bom, o que você quer perguntar?"
"Eu estava imaginando se no Sábado da próxima semana- você sabe, no dia do baile de
primaveira-"
"Você está tentando ser engraçado ?" Eu interrompí me virando pra ele. Meu rosto ficou
encharcado quando eu olhei pra cima pra ver sua expressão.
Seus olhos estavam estranhamente divertidos. "Será que você pode me deixar terminar
por favor?"
Eu mordí meu lábio e juntei minhas mãos, entrelaçando meus dedos, assim eu não faria
nada de que eu pudesse me arrepender.
"Eu ouví você dizendo que vai pra Seattle nesse dia, e eu estava imaginando se você
quer uma carona."
Isso foi inesperado.
"O que?" Eu não tinha idéia de onde ele queria chegar.
"Você quer uma carona até Seattle?"
"Com quem?" eu perguntei, mistificada.
"Comigo, obviamente". Ele pronunciou cada sílaba, como se estivesse falando com
alguém mentalmente incapacitado.
Eu ainda estava atordoada. "Porque?
"Bom, eu estava planejando ir á Seattle nas próximas semanas, e, pra ser honesto, eu
não tenho certeza se o seu carro aguenta."
"Minha caminhonete funciona muito bem, obrigada pela preocupação." Eu comecei a
andar de novo, mas eu estava muito surpresa pra manter o mesmo nível de raiva.
"Mas a sua caminhonete consegue chegar até lá com um tanque de gasolina?" Ele
acompanhou o meu passo de novo.
"Eu não vejo como isso pode ser da sua conta." Estúpido dono do Volvo brilhante.
"O desperdício de bens findáveis é da conta de todo mundo."
"Honestamente, Edward",eu sentíuma alegria percorrer meu corpo quando eu disse o
nome dele. "Eu não consigo te acompanhar. Eu pensei que você não queria ser meu
amigo."
"Eu disse que seria melhor se não fôssemos amigos, não que eu não queria ser."
"Oh, obrigada, isso esclarece tudo" Sarcasmo pesado. Eu percebí que tinha parado de
caminhar de novo. Estávamos sob o teto da cafeteria agora, então eu podia olhar para o
seu rosto com mais facilidade. O que certamente não ajudou muito na claridade do
pensamento.
"Seria mais...prudente se você não fosse minha amiga", ele explicou. "Mas eu estou
cansado de tentar ficar longe de você, Bella."
Seus olhos estavam gloriosamente intensos enquanto ele pronunciava a última frase, sua
voz flamejante. Eu não conseguia lembrar de respirar.
"Você vai pra Settle comigo?" ele perguntou, ainda intenso.
Eu ainda não conseguia falar, então só balancei a cabeça.
Ele sorriu brevemente, então seu rosto ficou sério.
"Você realmente devia ficar longe de mim", ele avisou. "Te vejo na aula."
Ele se virou abruptamente e caminhou pra o lugar de onde tinhamos vindo.
5. Tipo Sanguíneo
Eu fui pra aula de inglês totalmente ofuscada. Eu nem me dei conta quando eu entrei na
sala que a aula já tinha começado.
"Obrigado por se juntar a nós, Srta. Swan". Sr Mason disse me tom de afronta. Eu corei
e corrí pro meu lugar.
Foi só no final da aula que eu percebi que Mike não estava sentado no seu lugar de
sempre ao meu lado. Eu sentí uma ponta de culpa. Mas ele e Eric me encontraram na
porta como sempre, então eu imaginei que eu estivesse um pouco desculpada. Mike
pareceu se tornar mais ele mesmo enquanto caminhávamos, ganhando entusiasmo
enquanto ele falava da previsão pro clima pra esse fim de semana.
A chuva daria uma pequena trégua, então talvez seu passeio á praia fosse possível.
Eu tentei parecer eufórica, pra me redimir por ter desapontado ele ontem. Era difícil;
com chuva ou sem, a temperatura continuaria um pouco baixa, isso se tivéssemos sorte.
O resto da manhã passou num sopro. Era difícil de acreditar que eu não tinha apenas

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imaginado o que Edward havia me dito, e a expressão nos olhos dele. Talvez fosse só
um sonho muito convincente que eu confundí com a realidade. Isso parecia mais
prvável do que eu sendo apelativa pra ele em qualquer sentido.
Eu estava muito impaciente e aflita quando eu e Jéssica entramos na cafeteria. Eu queria
ver seu rosto, ver se ele havia voltado a ser a pessoa fria, indiferente que eu conhecí
pelas últimas semanas. Ou se, por algum milagre, eu realmente tinha ouvido o que eu
achava que tinha ouvido essa manhã. Jéssica estava tagarelando sobre os seus planos
para o baile - Lauren e Angela haviam convidado os outros garotos e eles estavam todos
indo juntos- completamente alheia á minha desatenção.
Desapontamento me inundou quando os meus olhos se concentraram na mesa dele. Os
outros quatro estavam lá, mas ele estava ausente. Ele foi pra casa? Eu segui a ainda
tagarelante Jéssica pela fila, arrasada. Eu tinha perdido o meu apetite - eu não comprei
nada além de uma garrafa de limonada. Eu só queria ir me sentar e mofar.
"Edward Cullen está olhando pra você de novo", Jéssica disse, finalmente quebrando a
minha distração com o nome dele. "Eu me pergunto porque ele está se sentando sozinho
hoje."
Minha cabeça deu um salto. Eu segui o olhar dela pra ver Edward, sorrindo, me
observando de uma mesa vazia no lado contrário de onde ele se sentava de costume.
Assim que ele encontrou meus olhos ele fez um gesto com o dedo indicador pedindo pra
que eu me juntasse a ele. Enquanto eu o encarava sem acreditar, ele piscou pra mim.
"Ele tá chamando você?" Jéssica perguntou com um assombro muito insultante.
"Talvez ele precise de ajuda com o dever de casa de Biologia", eu murmurei pro bem
dela. "Umm, é melhor eu ir ver o que ele quer".
Eu podia sentir ela me encarando enquanto eu me afastava.
Quando eu alcancei a mesa dele, eu fiquei de pé atrás da cadeira na frente dele, incerta.
"Porque você não se senta comigo hoje?" ele me perguntou, sorrindo.
Eu sentei automaticamente, observando ele com cuidado. Ele ainda estava sorrindo. Era
difícil de acreditar que alguém tão bonito pudesse ser real. Eu temia que ele
desaparecesse repentinamente numa nuvem de fumaça, e eu acordasse.
Ele parecia estar esperando que eu dissesse alguma coisa.
"Isso é diferente", eu finalmente consegui dizer.
"Bem...", ele pausou, depois suas palavras sairam todas de uma só vez. "Eu decidí que
já que eu estou indo pro inferno, é melhor fazer direito."
Eu esperei pra que ele dissesse alguma coisa que fizesse sentido. Os segundos foram
passando.
"Você sabe que eu não faço idéia do que você quer dizer", finalmente eu apontei.
"Eu sei", Ele sorriu de novo, e então mudou de assunto. "Eu acho que os seus amigos
estão bravos comigo por roubar você."
"Eles vão sobreviver", eu podia sentir o olhar deles cravados nas minhas costas.
"Porém, eu posso não te devolver", ele disse com um brilho estranho no olhar.
Eu engolí seco.
Ele sorriu. "Você parece preocupada".
"Não", eu disse, ridiculamente, minha voz fugiu.
"Surpresa, na verdade...o que causou tudo isso?"
"Eu já te disse... eu me cansei de tentar ficar longe de você. Então, eu estou desistindo."
Ele ainda estava sorrindo, mas seus olhos estavam sérios.
"Desistindo?", eu repetí confusa.
"Sim- desistindo de tentar ser bonzinho. Eu vou fazer o que eu quiser agora, e deixar
acontecer o que tiver de acontecer." Seu sorriso sumiu enquanto ele explicava, sua voz
adquiriu um tom duro.
"Você me perdeu de novo."
O sorriso arrebatador reapareceu.
"Eu sempre falo demais quando estou com você- esse é um dos problemas."
"Não se preocupe, eu não entendo nada mesmo.", eu disse.
"Eu estou contando com isso."
"Então, em Inglês simples, nós somos amigos agora?"
"Amigos...", ele meditou, em dúvida.
"Ou não." eu murmurei.
Ele sorriu. "Bem, nós podemos tentar, eu suponho. Mas eu te aviso que eu não sou um
bom amigo pra você." Por trás do sorriso, se aviso era de verdade.
"Você diz muito isso.", eu notei, tentando acalmar o nervosismo no meu estômago e
manter minha voz calma.
"Sim, porque você não está me ouvindo. Eu estou esperando que você acredite em mim.
Se você for esperta, você vai me evitar."
"Eu acho que você também já deixou clara a sua opinião sobre o meu intelecto.", meus
olhos reviraram.
Ele sorriu.
"Então, enquanto eu estou sendo...não esperta, nós vamos tentar ser amigos?" eu lutei
pra entender a confusa mudança.
"Isso parece correto."
Eu olhei para as minhas mãos entrelaçadas na garrafa de limonada, sem saber o que
fazer agora.
"No que você está pensando?", ele perguntou curiosamente.
Eu olhei pra os seus profundos olhos dourados, fiquei abobalhada, e como sempre,
soltei toda a verdade.
"Eu estou tentando descobrir o que você é."
A mandíbula dele se contraiu, mas ele continuou sorrindo com algum esforço.
"Está tendo alguma sorte?", ele perguntou num tom desinteressado.
"Não muita", eu admiti.
Ele gargalhou. "Quais são as suas teorias?"
Eu corei. Durante o último mês eu estive entre Bruce Wayne e Peter Parker.
Não tinha jeito de eu dizer isso.
"Você não vai me contar?" ele perguntou inclinando a cabeça pra um lado com um
sorriso chocantemente tentador.
Eu balancei minha cabeça. "Muito embaraçoso".
"Isso é muito frustrante, sabe", ele reclamou.
"Não", eu discordei rapidamente, meus olhos revirando. "Eu não consigo imaginar
porque isso seria frustrante- só porque uma pessoa se recusa a te dizer o que ela está
pensando, só porque ela está só criando pequenas observações obscuras que te mantêm
você acordado se perguntando o que elas poderiam querer dizer com aquilo... agora,
porque isso seria frustrante?"
Ele fez uma careta.
"Ou melhor", eu continuei, o tom de aborrecimento saindo livremente agora. "Digamos
que essa pessoa tanbém fez algumas coisas bizarras- de salvar a sua vida sob
circunstâncias impossíveis um dia pra depois tratar você como uma estranha no outro
dia, e ele nunca explica nada disso, mesmo se ele prometeu. Isso, também seria muito
não frustrante."
"Você tem um temperamento um pouco forte, não tem?"
"Eu não gosto de duplos padrões".
Nós encaramos um ao outro, sem sorrir.
Ele deu uma olhada por cima do meu ombro, e então,inesperadamente, ele sorriu
silenciosamente.
"O que é?"
"O seu namorado parece estar pensando que eu estou sendo rude com você- ele está se
questionando se deve ou não vir aqui apartar a nossa briga.", ele sorriu silenciosamente
de novo.
"Eu não sei do que você está falando", eu disse frigidamente. "Mas de qualquer forma,
eu tenho certeza que você está enganado."
"Eu não estou. Eu já te disse, a maioria das pessoas é fácil de ler."
"Exceto eu, é claro."
"Sim. Exceto você.", seu humor mudou de repente; seus olhos se tornaram pensativos.
"Eu me pergunto o porquê disso."
Eu tive que olhar pra longe da intensidade do seu olhar. Eu me concentrei em tirar o
rótulo da minha garrafa de limonada. Eu tomei um gole, olhando para a mesa sem
enxergá-la.
"Vicê não está com fome?", ele perguntou distraído.
"Não", eu não estava a fim de dizer que o meu estômago já estava cheio- de borboletas.
"Você?" eu olhei para a mesa vazia na frente dele.
"Não, eu não estou com fome." Eu não entendí a expressão dele - parecia que ele estava
de divertindo com algum tipo de piada secreta.
"Você pode me fazer um favor?", eu perguntei depois de um segundo de hesitação.
De repente ele estava cauteloso. "Depende do que você quer".
"Não é muito", eu garantí.
Ele esperou, cauteloso, mas curioso.
"Eu só estava imaginando...se você poderia me avisar com antecedência na próxima vez
que você resolver me ignorar para o meu próprio bem. Só pra eu me preparar.", eu olhei
para a garrafa de limonada enquanto falava, passando o dedo na boca da garrafa.
"Parece justo." Ele estava pressionando os lábios pra não rir quando eu olhei pra cima.
"Obrigada."
"Então posso ter uma resposta em retorno?" ele pediu.
"Uma."
"Me diga uma das suas teorias."
Opa. "Essa não."
"Você não qualificou, você só prometeu uma resposta", ele me lembrou.
"Você também já quebrou suas promessas.", eu lembrei pra ele também.
"Só uma teoria- eu não vou rir."
"Vai sim". eu tinha certeza disso.
Ele olhou pra baixo e depois olhou pra mim por entre seus longos cílios negros, seus
olhos chamuscando.
"Por favor?", ele respirou se inclinando na minha direção.
Eu pisquei, minha mente ficando obscurecida. Santa Mãe, como é que ele faz isso?
"Er, o que?", eu perguntei ofuscada.
"Por favor,me diga só uma teoria.", seus olhos ainda grudados em mim.
"Hum, bem, mordido por uma aranha radioativa?" Ele fazia hipnose, também? Ou eu
era um caso sem esperança?
"Isso não é muito criativo". ele zombou.
"Me desculpe, é tudo que eu tenho", eu disse amuada.
"Você não está nem perto", ele caçoou.
"Nada de aranhas?"
"Não"
"E nada de radioatividade?"
"Nada"
"Droga", eu suspirei.
"Kryptonita também não me incomoda", ele gargalhou.
"Você não podia rir, lembra?"
Ele lutou pra recompor o rosto.
"Eu vou descobrir mais cedo ou mais tarde", eu avisei.
"Eu gostaria que você não tentasse". Ele estava sério de novo
"Porque...?"
"E se eu não for um super-herói? E se eu for o bandido?", ele sorriu brincando, mas seus
olhos eram impenetráveis.
"Oh", eu disse,agora muitas da dicas que ele havia dado faziam sentido."Eu entendo."
"Entende?" seu rosto estava abruptamente severo, como se ele estivesse com medo de
ter falado demais.
"Você é perigoso?" eu chutei, meu pulso disparou quando eu me dei conta da verdade
nas minhas palavras. Ele era perigoso. Ele esteve tentando me dizer isso o tempo
inteiro.
Ele só olhou pra mim, os olhos cheios de uma emoção que eu não conseguia
compreender.
"Mas não mau." eu balancei minha cabeça. "Não, eu não acredito que você seja mau."
"Você está errada." A voz dele era praticamente inaudível. Ele olhou pra baixo, roubou
a tampa daminha garrafa e começou a rodá-la entre os dedos.. Eu olhei pra ele,
imaginando porque eu não sentia medo. Ele falava sério - isso era óbvio. Mas eu só me
sentia ansiosa, no limite...e mais que tudo, fascinada. Da mesma forma que eu sempre
me sentia quando estava perto dele.
O silêncio durou até que eu percebí que a cafeteria estava quase vazia.
Eu fiquei de pé num pulo." Nós vamos nos atrasar".
"Eu não vou á aula hoje", ele disse rodando a tampa tão rápido que era só um vulto.
"Porque não?"
"É saudável faltar a aula de vez em quando.", ele sorriu pra mim, mas seus olhos ainda
pareciam confusos.
"Bom, eu vou indo", eu disse pra ele. Eu era covarde demais pra arriscar ser pega. Ele
voltou a atenção pra sua tampinha. "Até mais tarde então."
Eu hesitei, dividida, mas então o sinal tocou e eu saí correndo pela porta- dando uma
ultima olhada pra confirmar que ele não tinha se movido nem um centímetro.
Enquanto eu meio que corria para a minha aula, minha cabeça estava girando mais
rápida que uma hélice. Tão poucas perguntas foram respondidas em relação áquelas que
foram perguntadas. Ao menos a chuva tinha parado.
Eu estava com sorta; o Sr. Banner ainda não estava na sala quando eu cheguei. Eu me
arrumei rapidamente no meu lugar, consciente de que tanto Mike quanto Angela
estavam olhando pra mim. Mike parecia ressentido, e Angela parecia surpresa, e até
demonstrou um pouco de reverência.
Sr. Banner entrou então, pedindo ordem na sala. Ele estava equilibrando umas caixinhas
pequenas nos braços. Ele colocou eleas na mesa de Mike e pediu pra ele começar a
distribuí-las pela classe.
"Tudo bem, pessoal, eu quero que vocês peguem um pedaço de cada caixa.", ele disse
enquanto tirava um par de luvas de borracha do seu jaleco e colocava-as nas mãos. O
som agudo das luvas de borracha batendo contra o pulso dele pareceu um mal presságio
pra mim. "A primeira coisa é uma cartão de instrução", ele continuou, pegando um
cartão branco com quatro quadrados marcados nele."A segunda é um aplicador-",ele
segurou alguma coisa que parecia ter dentes "-e a terceira é uma micro-agulha
esterilizada". Ele pegou um pacote de plástico azul e abriu. O aparador era quase
invisível a essa distância, mas o meu estômago deu voltas.
"Eu vou passar com um conta gotas para preparar os seus cartões, então por favor não
comece até que eu chegue em vocês". Ele começou na mesa de Mike de novo,
cuidadosamente colocando uma gota de água em cada quadradinho. "Agora eu quero
que cada um de vocês fure o seu dedo cuidadosamente com a agulha..." Ele agarrou a
mão de Mike e enfiou a agulha na pontinha do seu dedo do meio. Oh não.
Um suor frio começou a sair na minha testa.
"Ponham uma pequena gotinha de sangue em cada quadradinho". Ele demonstrou
pegando o dedo de Mike e apertando até o sangue sair. Eu engolí convulssivamente,
meu estômago pesando.
"E então aplique no cartão", ele terminou, segurando o cartão com gotas vermelhas pra
todos nós vermos. Eu fechei os meus olhos, tentando ouvir além do zumbido nos meus
ouvidos.
"A cruz vermelha está vindo á Port Angeles no próximo fim de semana, então eu pensei
que todos vocês podiam saber o seu tipo sanguínio". Ele parecia orgulhoso de sí mesmo.
"Aqueles que ainda não tem dezoito anos vão precisar da permissão dos seus pais- eu
tenho documentos na minha mesa."
Ele continuou passando na sala com as suas gotinhas de água. Eo cloquei a minha
bochecha no topo da mesa fria e tentei me manter consciente. Em todo lugar ao meu
redor eu podia ouvir gemidos, reclamações e gargalhadas dos meus colegas de classe
enquanto eles furavam seus dedos. Eu respirava calmamente pra dentro e pra fora pela
minha boca.
"Bella, você está bem?" o Sr. Banner perguntou. A voz dele estava perto da minha
cabeça, e pareceu alarmada.
"Eu já sei meu tipo sanguínio Sr. Banner", eu disse com a voz fraca.
Eu estava com medo de levantar a minha cabeça.
"Você está se sentindo desfalecer?"
"Sim, senhor", eu murmurei, me chutando por dentro por não ter faltado a aula quando
eu tive a chance.
"Alguém pode levar Bella á enfermaria por favor?", ele pediu.
Eu não precisei olhar pra cima pra saber que Mike foi voluntário.
"Você pode andar?" o Sr. Banner perguntou.
"Sim", eu murmurei. Só me tirem daqui, eu pensei. Eu vou rastejando.
Mike pareceu ansioso quando colocou o braço dele ao redor da minha cintura e colocou
meu braço sobre seus ombros. Eu me inclinei pesadamente nele enquanto saíamos da
sala.
Mike me guiou lentamente pelo campus. Quando estávamos passando pela cafeteria,
fora do campo de visão da sala de aula, quando o Sr. Banner não podia mais ver, eu
parei.
"Será que você pode me deixar sentar um minuto, por favor?", eu implorei.
Ele me ajudou a sentar na beira da calçada.
"E o que quer que você faça, mantenha a sua mão no bolso", eu avisei. Eu ainda estava
muito atordoada. Eu caí pro lado, encostando o meu rosto no cimento frio, sujo da
calçada e fechei meus olhos. Isso pareceu ajudar um pouco.
"Uau, você está verde, Bella", Mike disse nervosamente.
"Bella?", uma voz diferente chamou de longe.
Não! Por favor diga que eu estou imaginando essa voz horrivelmente familiar.
"Qual o problema- ela está machucada?" A voz dele estava mais próxima agora, e ele
parecia aflito.
Eu não estava imaginando. Eu apertei meus olhos, esperando morrer. Ou pelo menos,
não vomitar.
Mike pareceu estressado. "Eu acho que ela está passando mal. Eu não sei o que
aconteceu, ela nem furou o dedo."
"Bella", a voz de Edward estava bem ao meu lado, aliviada agora. "Você consegue me
ouvir?"
"Não", eu gemí. "Vá embora".
Ele sorriu.
"Eu estava levando ela para a enfermaria", Mike explicou em tom de defesa, "Mas ela
não conseguiu ir adiante".
"Eu vou levar ela", Edward disse. Eu ainda podia ver o sorriso na voz dele. "Você pode
voltar para a sala de aula."
"Não", Mike protestou. "Sou eu quem deve fazer isso".
De repente a calçada desapareceu. Meus olhos se abriram com o susto.
Edward tinha me pego nos braços, tão facilmente como se eu não pesasse nada.
"Me ponha no chão!" Por favor, por favor não me deixe vomitar nele.
Ele já estava caminhando antes que eu terminasse de falar.
"Ei!" Mike chamou, já muito atrás de nós.
Edward ignorou ele. "Você parece horrível", ele me disse sorrindo.
"Me coloque de volta na calçada", eu gemí. O movimento da caminhada não estava
ajudando muito. Ele me segurou longe do corpo dele, cuidadosamente, aguentando todo
o meu peso só nos braços- ele não parecia estar se incomodando.
"Então você passa mal quando vê sangue?", ele perguntou. Isso parecia divertido pra
ele.
Eu não respondí. Eu fechei meus olhos e lutei contra a náusea com todas as minha
forças, apertando meus lábios.
"E nem é o seu próprio sangue" ele continuou, se divertindo.
Eu não sei como ele conseguiu abrir a porta enquanto me carregava, mas de repente
estava quente, então eu sabia que estávamos do lado de dentro.
"Meu Deus", eu ouví uma voz de mulher suspirar.
"Ela passou mal na aula de Biologia", Edward explicou.
Eu abrí meus olhos. Eu estava na secretaría e Edward continuou avançando em direção
á enfermaria. A Sr. Cope, a recepcionista ruiva da secretaría, passou na frente dele para
abrir a porta. A enfermeira que tinha cara de vovó, tirou os olhos de um livro, pasma,
enquanto Edward me carregava pelo quarto e me colocava gentilmente em cima do
papel que cobria o colchão de vinil na única cama.
Então ele se afastou e foi se inclinar numa parede tão distante quanto foi possível. Seus
olhos estavam brilhando, exitados.
"Ela só está um pouco enjoada", ele garatiu para a enfermeira. "Eles estão testando o
sangue na aula de Biologia."
A enfermeira balançou a cabeça. "Sempre tem um."
Ele tentou abafar um riso.
"Fique um pouco deitada, meu bem; vai passar logo".
"Eu sei", eu suspirei. A náusea já estava desaparecendo.
"Isso acontece muito?", ela perguntou.
"As vezes", eu admití. Edward tossiu para disfaçar outra risada.
"Você pode voltar para a sala agora", ela disse pra ele.
"Eu devo ficar com ela", ele disse com tanta autoridade que- mesmo torcendo os lábiosa
enfermeira não discutiu mais.
"Eu vou pegar um pouco de gelo pra você colocar na sua testa, querida",ela disse pra
mim e então saiu da sala.
"Você estava certo", eu gemí deixando os meus olhos fechados.
"Eu geralmente tenho- mas sobre o que em particular desta vez?"
"Faltar a aula é saudável." eu pratiquei respirar uniformemente.
"Você ma assustou por um minuto lá fora", ele admitiu depois de uma pausa. O tom que
ele usou fez parecer que ele estava confessando uma fraqueza vergonhosa.
"Eu pensei que Mike estava arrastando o seu cadáver pra enterrá-lo no bosque".
"Ha ha". Eu ainda estava com os olhos fechados, mas estava me sentindo melhor a cada
minuto.
"Honestamente- eu já ví cadáveres com uma cor melhor. Eu já estava preocupado em ter
que vingar o seu assassinato".
"Pobre Mike. Eu aposto que ele está bravo".
"Ele absolutamente me detesta.", Edward disse alegremente.
"Você não tem como saber disso". eu discuti, mas depois imaginei se ele tinha como
saber.
"Eu ví o rosto dele- eu posso dizer."
"Como você me viu? Eu pensei que você estivesse escondido".Eu estava quase bem
agora, apesar de que os enjôos iam passar mais rápido se eu tivesse comido alguma
coisa no almoço. Por outro lado, talvez fosse bom que o meu estômago estivesse vazio.
"Eu estava no meu carro ouvindo um CD". Uma resposta tão normal- me surpreendeu.
Eu ouví a porta abrir e abrí os olhos pra ver a enfermeira entrar com uma compressa fria
na mão.
"Aqui, querida". Ela colocou-a na minha testa. "Você parece melhor", ela falou.
"Eu acho que estou bem", eu disse, me sentando. Só um pequeno zumbido nos meus
ouvidos, nada girando. As paredes verdes estavam exatamente onde deveriam estar.
Eu ví que a enfermeira estava prestes a me fazer deitar de novo, mas a porta se abriu
nessa hora, a Sra Cope colocou a cabeça pra dentro.
"Tem outro aqui", ela avisou.
Eu descí pra deixar a cama livre para o próximo inválido.
"Eu devolví a compressa para a enfermeira. "Aqui, eu não preciso mais disso."
Então Mike entrou, agora carregando um pálido Lee Stephens, outro garoto da nossa
aula de Biologia. Eu e Edward ficamos colados na parede pra dar espaço á eles.
"Oh não", Edward murmurou. "Bella, vá para a secretaria".
Eu olhei pra ele, confusa.
"Confie em mim- vá."
Eu me virei e saí antes que a porta se fechasse, deixando a enfermaria. Eu podia sentir
Edward bem atrás de mim.
"Você realmente me ouviu", ele parecia abismado.
"Eu sentí o cheiro de sangue", eu disse, torcendo o nariz. Lee não estava passando mal
por causa dos outros, como eu.
"As pessoa não podem cheirar sangue", ele me contradisse.
"Bem, eu consigo- é isso que me deixa doente. Tem cheiro de ferrugem e...sal."
Ele estava me encarando com uma expressão ilegível.
"O que é?", eu perguntei.
"Não é nada".
Nessa hora Mike saiu, olhando pra mim e Edward.
O olhar que ele passou pra Edward confirmou o que Edward disse sobre detestar. Ele
olhou de volta pra mim, seus olhos mal-humorados.
"Você parece melhor", ele acusou.
"Mantenha a sua mão no bolso", eu avisei de novo.
"Não está mais sangrando", ele murmurou. "Você vai voltar pra aula?"
"Você tá brincando? Eu vou voltar pra cá na certa."
"É, eu acho...Então, você vai esse fim de semana? Para a praia?" Enquanto ele falava,
ele deu outra olhada na direção de Edward, que estava inclinado no balcão, tão imóvel
quanto uma escultura, olhando para o nada.
Eu tentei soar o mais amigável possível. "Claro, eu disse que ia."
"Vamos nos encontar na loja do meu pai, as dez." Os olhos dele foram parar em Edward
de novo, pensando se ele estava dando informação demais. Alinguagem corporal que ele
usou, deixou bem claro que não era um convite em aberto.
"Eu estarei lá", eu prometí.
"Eu te vejo na aula de eduacação física, então", ele disse, se movendo devagar até a
porta.
"A gente se vê", eu disse. Ele olhou pra mim de novo, fazendo biquinho, e então,
enquanto ele passava vagarosamente pela porta, seus ombros cairam. Uma onda de
simpatia passou pelo meu corpo. Eu pensei em como seria ver o seu rosto triste de
novo...na aula de educação física.
"Educação física", eu gemí.
"Eu posso cuidar disso", eu não percebí Edward se aproximando de mim, mas agora ele
estava falando no meu ouvido. "Vá se sentar e fique pálida", ele cochichou.
Isso não era muito difícil; eu já era naturalmente pálida, e o meu recente show deixou
um rastro de suor na minha testa.
Eu sentei em uma das cadeiras e descansei a cabeça na parede com os meus olhos
fechados. Crises de enjôo sempre me deixavam cansada.
Eu ouví Edward falando levemente no balcão"
"Sra Cope?"
"Sim?", eu não ouví ela voltar para a mesa.
"A próxima aula de Bella é de Educação física, e eu não acho que ela se sente bem o
suficiente. Na verdade, eu acho que eu devia levar ela pra casa agora.Você acha que
pode liberá-la dessa aula?" A voz dele parecia mel derretendo. Eu podia imaginar como
os olhos dele estavam persuasivos agora.
"Você também precisa ser liberado, Edward?" A Sra Cope flutuou. Porque eu não podia
fazer isso?
"Não, eu tenho aula com a Sra Goff, ela não vai se incomodar."
"Ok, então está tudo acertado. Melhoras, Bella", ela falou pra mim.
Eu balancei a cabeça fracamente, levantando ela só um pouco.
"Você consegue caminhar, ou prefere que eu te carregue de novo?" Quando voltou da
recepção, sua expressão estava sarcástica.
"Eu vou caminhando".
Eu me levantei vagarosamente, e ainda estava bem. Ele segurou a porta pra mim, seu
sorriso educado mas seus olhos estavam zombando de mim. Eu saí para a névoa fria,fria
que estava começando a aparecer no céu- enquanto ela limpava o suor da minha testa.
"Obrigada", eu disse enquanto ele me seguia. "Quase vale a pena ficar doente pra perder
Educação física."
"É só pedir", ele olhava diretamente prá frente, andando na chuva.
"Então você vai? Sábado, eu quero dizer." Eu estava esperando que ele fosse, mas
parecia difícil. Eu não conseguia imaginá-lo enchendo uma van com os amigos da
escola; ele não pertencia a esse mundo. Mas eu esperava que ele me desse uma razão
pra querer ir a essa excursão.
"Onde vocês todos estão indo, exatamente?" Ele ainda estava olhando pra frente, sem
expressão.
"Vamos á La Push, para a praia". Eu estudei o rosto dele, tentando entendê-lo. Os olhos
dele pareceram estreitar imperceptivelmente.
Ele olhou pra mim com o canto dos olhos, sorrindo. "Eu não acho que eu tenha sido
convidado".
Eu suspirei. "Eu acabei de te convidar".
"Eu e você não vamos mais pedir tanto do pobre Mike esse fim de semana. Nós não
queremos que ele tenha uma colapso". Os olhos dele dançaram; ele gostava da idéia
mais do que devia.
"Mike boboca", eu cochichei, preocupada com o jeito que elçe disse "eu e você". Eu
gostei disso mais do que eu devia.
Nos estávamos perto do estacionamento agora. Eu fui andando para a esquerda na,
direção do meu carro. Algo agarrou minha jaqueta e me puxou de volta.
"Onde é que você pensa que vai?", ele perguntou, enfurecido. Ele estava agarrando a
minha jaqueta com o punho inteiro segurando com um mão.
Eu estava confusa. "Eu vou pra casa".
"Você não me ouviu prometer que te levaria pra casa em segurança? Você acha que eu
vou te deixar dirigir nessas condiçôes?" A voz dele estava indignada.
"Que condições? E a minha caminhonete?", eu reclamei.
"Eu vou pedir pra Alice levá-la depois da escola". Ele já estava me arrastando em
direção ao carro dele, me puxando pela jaqueta. Eo acompanhei pra não cair de costas
no chão. Ele provavelmente ia me arrastar de volta de qualquer jeito mesmo.
"Me solta!", eu insistí. Ele me ignorou. Eu andei a passos largos na calçada molhada até
que chegamos no Volvo. Então ele finalmente me libertou. Eu quase me batí na porta do
passageiro.
"Você é muito mandão", eu gritei.
"Está aberta", foi tudo o que ele respondeu. Ele foi para o lado do motorista.
"Eu sou perfeitamente capaz de dirigir até em casa!", eu fiquei parada perto do carro,
fumaçando. Estava chovendo mais forte agora, e eu não tinha levantado o meu capuz,
então meu cabelo estava grudando nas minhas costas. Ele abaixou o vidro automático e
se inclinou no banco. "Entre no carro, Bella".
Eu não respondí. Eu estava calculando as minhas chances de alcançar meu carro antes
dele me pegar. Eu tenho que admitir, as chances não eram boas.
"Eu vou pegar você de novo", ele ameaçou, adivinhando meu plano.
Eu tentei manter toda a dignidade que pude ao entrar no carro dele. Mas não tive muito
sucesso- eu parecia um gato escaldado e as minhas botas esguicharam.
"Isso foi completamente desnecessário", eu disse meio durona.
Ele não respondeu. Ele mexeu nos controles, aumentando o aquecedor e abaixando a
música. Enquanto ele saía do estacionamento, eu estava me preparando pra dar a ele o
tratamento do silêncio - meu rosto demonstrando as minhas intenções- mas então eu
reconhecí a música que estava tocando, e a minha curiosidade foi além das minhas
intenções.
"Clair De Lune?", eu perguntei, surpresa.
"Você conhece Debussy?", ele também surpreso.
"Não muito", eu admití. "Minha mãe toca muita muita musica clássica em casa. Eu só
conheço as minhas favoritas."
"É uma das minhas favoritas também", ele olhou para a chuva lá fora, perdido em
pensamentos.
Eu escutei a música, relaxando no couro cinza claro do banco. Era impossível não
responder a melodia familiar, tranquilizadora.
A chuva transformou tudo lá fora em uma névoa cinza e verde. Eu comecei a perceber
que estávamos indo rápido demais; apesar disso, o carro se movia com tanta
uniformidade e calma que eu nem sentia a velocidade. Somente a cidade passando
rápido me fazia reparar.
"Como é a sua mãe?", ele me perguntou de repente.
Eu olhei pra ele pra ver ele me observando com olhos curiosos.
"Ela se parece muito comigo, mas ela é mais bonita", eu disse. Ele ergueu as
sobrancelhas. "Eu tenhomuito de Charlie em mim. Ela é mais divertida que eu, e mais
corajosa. Ela é irresponsável e um pouco excêntrica e uma cozinheira muito
imprevisível. Ela é minha melhor amiga." Eu parei. Falar sobre ela estava me deixando
deprimida.
"Quantos anos você tem, Bella?", A voz dele parecia frustrada por algum motivo que eu
não conseguia imaginar. Ele parou o carro, e eu me dei conta de que já estávamos na
casa de Charlie. A chuva estava tão forte que eu mal conseguia ver a casa. Era como se
o carro estivesse dentro de um rio.
"Eu tenho dezessete", eu respondí um pouco confusa.
"Você não parece ter dezessete".
Seu tom era de reprovação; me fez rir.
"O que foi?", ele perguntou, curioso de novo.
"Minha mãe sempre diz que eu nascí com trinta e cinco anos de idade e que fico mais
velha a cada ano que passa." Eu sorrí e então suspirei. "Bem, alguém tem que ser o
adulto". Eu pausei por um segundo. "Você também não parece um jovenzinho", eu
notei.
Ele fez uma careta e mudou de assunto.
"Então porque sua mãe se casou com Phil?"
Eu estava surpresa que ele ainda lembrava do nome; eu só o mencionei uma vez, há
quase dois meses atrás. Eu levei algum tempo pra responder.
"Minha mãe...ela é muito jovem para a idade dela. Acho que Phil a faz se sentir ainda
mais jovem. De qualquer forma, ela é louca por ele." Eu balancei minha cabeça. A
atração era um mistério pra mim.
"Você aprova?", ele perguntou.
"Isso importa?" eu apontei. "Eu quero que ela seja feliz...e é ele que ela quer."
"Isso é muito generoso...eu imagino", ele refletiu.
"O quê?"
"Se ela estenderia a mesma cortesia pra você, você acha? Não importa qual seja a sua
escolha?" De repente ele estava atento, seus olhos procurando os meus.
"E-eu acho que sim" Eu gaguejei. "Mas de qualquer forma ela é uma mãe, apesar de
tudo. É um pouco diferente".
"Nada muito assustador então" ele brincou.
Eu sorrí em resposta. "O que você quer dizer com assustador? Vários piercings
corporais e tatuagens gigantescas?"
"É uma definição, eu acho".
"Qual é a sua definição?"
Mas ele ignorou minha pergunta e me fez outra. "Você acha que eu poderia ser
assustador?" Ele ergueu uma sobrancelha e a leve sombra de um sorriso iluminou o seu
rosto.
Eu pensei por um momento, refletindo se seria melhor falar a verdade ou mentir. Eu
decidí que seria melhor dizer a verdade.
"Hmmmm... eu acho que você poderia ser, se você quisesse."
"Você está com medo de mim agora?" O sorriso desapareceu e o seu rosto celestial
estava sério de novo.
"Não" mas eu respondí rápido demais. O sorriso reapareceu.
"Então, agora você vai me falar sobre a sua família?" eu perguntei pra distraí-lo. "Deve
ser uma história bem mais interessante do que a minha".
Ele estava instantâneamente cauteloso. "O que você quer saber?"
"Os Cullen te adotaram?", eu verifiquei.
"Sim".
Eu hesitei por um momento. "O que aconteceu com os seus pais?"
"Eles morreram há muitos anos atrás." O tom dele era decisivo.
"Eu lamento", eu murmurei.
"Na verdade eu não lembro deles muito claramente. Carlisle e Esme são meus pais a
muito tempo agora."
"E você ama eles". Não era uma pergunta. Era óbvio pela maneira que ele falava deles.
"Sim". Ele sorriu. "Eu não poderia imaginar duas pessoas melhores".
"Você tem muita sorte."
"Eu sei que tenho."
"E seu irmão e sua irmã?"
Ele deu uma olhada para o relógio no teto.
"Meu irmão e minha irmã, e Jasper e Rosalie por falar nele, vão ficar bem bravos se
tiverem que ficar na chuva esperando por mim".
"Oh, desculpe, eu acho que você tem que ir". Eu não queria sair do carro.
"E provavelmente você quer o seu carro aqui antes que Charlie chegue em casa, assim
você não terá que contar pra ele sobre o acidente na aula de Biologia." Ele sorriu pra
mim.
"Eu tenho certeza que ele já sabe. Não existem segredos em Forks". Eu suspirei.
Ele sorriu, mas havia algo mais nesse sorriso.
"Se divirta na praia...ótimo clima pra um banho de sol." Ele olhou para a chuva caindo.
"Eu não vou ver você amanhã?"
"Não. Emmett e eu vamos começar o fim de semana mais cedo."
"O que vocês vão fazer?" Uma amiga podia perguntar isso, né? Eu esperava que o
desapontamento não estivesse muito aparente na minha voz.
"Nós vamos fazer uma caminhada na Selva de Pedra da Cabra, á Sul de Rainier."
Eu lembrei que Charlie disse que os Cullen iam acampar frequentemente.
"Hum, bem, divirta-se". Eu tentei demonstrar entusiasmo. Eu não acho que o enganei,
apesar disso. Um sorriso estava brincando nos cantos dos lábios dele.
"Será que você poderia fazer uma coisa por mim esse fim de semana?".
Ele se virou pra me olhar diretamente nos olhos, utilizando todo o poder dos seus olhos
dourados flamejantes.
Eu balancei a cabeça desamparadamente.
"Não se ofenda, mas você parece ser uma dessas pessoas que atraem acidentes como um
imã. Então...tente não cair no oceano ou ser atingida por algo, está bem?" Ele deu um
sorriso torto.
O desamparo fugiu enquanto ele falava. Eu encarei ele.
"Eu vou ver o que posso fazer", eu soltei enquanto saía para a chuva. Eu batí a porta
atrás de mim com força excessiva.
Ele ainda estava sorrindo quando foi embora.
6. Histórias Assustadoras.
Eu sentei no meu quarto, tentando me concentrar no terceiro capítulo de Macbeth, eu
estava tentando ouvir quando meu carro chagasse. Eu pensei que mesmo com a chuva
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torrencial, eu poderia ouvir o ronco do motor. Mas quando eu dei uma olhadinha pela
cortina- de novo- ele estava lá.
Eu não estava muito ansiosa pelo Sexta-feira, e as minhas expectativas foram mais que
atendidas. É claro que houveram alguns comentários. Especialmente Jéssica que parecia
já estar totalmente atualizada com a história. Por sorte, Mike ficou calado e ninguém
soube do envolvimento de Edward na história. Jéssica, no entanto, tinha algumas
perguntas pra fazer na hora do almoço.
"Então o que Edward Cullen queria ontem na hora do almoço?", Jéssica perguntou na
aula de Trigonometria.
"Eu não sei", eu disse sinceramente. "Ele não chegou ao ponto".
"Você parecia um pouco aborrecida", ela pescou.
"Eu?",minha expressão não dizia nada.
"Sabe, eu nunca tinha visto ele sentar com ninguém além da sua família antes. Aquilo
foi estranho".
"Estranho", eu concordei. Ela pareceu nervosa, ela balançava seus cachos pretos
impacientemente- eu imaginei que ela estava esperando por uma boa fofoca pra passar
por aí.
A pior parte da sexta-feira foi que, apesar de saber que ele não estaria lá, eu ainda
esperava que ele estivesse. Quando eu entrei na cafeteria com Jéssica e Mike, eu não
conseguí deixar de olhar para a mesa dele, onde Rosalie, Alice e, Jasper estavam
conversando, com as cabeças próximas umas das outras. Eu não conseguí evitar a
escuridão que me envolveu quando eu me dei conta de que não sabia quando voltaria a
vê-lo.
Na minha mesa de sempre, todos estavam cheios de planos para o dia seguinte. Mike
estava animado de novo, depositando muita confiança no homem do tempo que havia
prometido sol amanhã. Eu acho que já ouví isso antes. Hoje estava mais morno- quase
15 graus. Talvez a excursão não fosse um desastre total.
Eu interceptei algumas olhadas pouco amigáveis de Lauren no almoço, e eu não entendí
até que todos nós fomos andando juntos para a sala.
Eu estava bem atrás dela, a um passo do seu cabelo liso, louro cinzento, e ela estava
claramente inconsciente disso.
"...Não sei porque Bella"- ela zombou com o meu nome- "não se senta com os Cullen de
agora em diante".
Eu ouví ela cochichando com Mike. Eu nunca havia percebido que voz chata, nasal, ela
tinha, e eu estava surpresa com a malícia que havia nela. Eu nem seguer conhecia ela
direito, certamente não bem o suficiente pra ela não gostar de mim- pelo menos eu
achava. "Ela é minha amiga; ela se senta conosco", Mike disse lealmente, mas também
demarcando um pouco de território.
Eu parei pra deixar Jess e Angela me passarem. Eu não queria ouvir mais nada.
Naquela noite no jantar, Charlie pareceu entusiasmado com a minha viagem á La Push
na manhã seguinte. Eu acho que ele se sentia culpado por me deixar sozinha nos fins de
semana, mas ele passou anos demais construindo os seus hábitos pra quebrá-los agora.
É claro que ele já sabia o nome de todas as pessoas que iam, e os dos pais deles, e os
dos avós deles também, provavelmente. Ele parecia aprovar. Eu me perguntei se ele
aprovaria o meu plano de ir á Seattle com Edward Cullen. Não que eu fosse dizer isso
pra ele.
"Pai, você conhece algum lugar chamado Pedra da Cabra ou alguma coisa assim? Eu
acho que é a sul da montanha Rainier", eu perguntei casualmente.
"Sim- porque?"
Eu levantei os ombros. "Alguns garotos estão falando de ir acampar lá".
"Não é um lugar muito bom pra acampar". Ele pareceu surpreso. "Ursos demais.
Algumas pessoas vão lá na temporada de caça."
"Oh", eu murmurei. "Talvez eu tenha ouvido o nome errado".
Eu tentei dormir, mas uma estranha claridade amarela me acordou. Eu abrí os meus
olhos pra ver uma clara luz amarela entrando pela minha janela. Eu não podia acreditar.
Eu corrí para a janela pra me certificar, e lá estava ele, o sol.
Ele estava mal posicionado no céu, baixo demais, e não demonstrava estar tão próximo
quanto deveria, mas definitivamente era o sol. As nuvens inundavam o horizonte, mas
uma grande mancha azul estava visível bem no meio. Eu fiquei grudada na janela o
máximo de tempo que pude, com medo de que se eu fosse embora o azul desaparecesse.
A Loja de Equipamentos Atléticos dos Newton era á Norte da cidade. Eu já havia vistoa
loja, mas nunca havia parado lá antes - eu nunca precisei dos suplementos requeridos
pra ficar muito tempo fora de casa. No estacionamento, eu reconhecí o Suburban de
Mike e o Sentra de Tyler. Enquanto eu estacionava próximo ao carro deles, eu ví o
grupo em pé na frente do Suburban. Eric estava lá, junto de outros garotos que tinham
aula comigo; eu tinha quase certeza que eles se chamavam Ben e Conner. Jess estava lá,
acompanhada de Angela e Lauren. Três outras garotas estavam com elas, incluindo uma
garota que eu derrubei na aula de Educação física. Essa garota me deu uma olhada feia e
cochichou alguma coisa para Lauren. Lauren balançou seu cabelo louro e me deu uma
olhada de nojo.
Ia ser um dia daqueles.
Pelo menos Mike estava feliz em me ver.
"Você veio!", ele disse, encantado. "E eu disse que ia fazer sol, não disse?"
"Eu disse que viria", eu lembrei a ele.
"Só estamos esperando Lee e Samantha...a não ser que você tenha convidado mais
alguém",ele disse.
"Não", eu disse levemente, rezando pra não ser pega na mentira. Mas ao mesmo tempo,
esperando que um milagre acontecesse, e Edward aparecesse.
Mike pareceu satisfeito.
"Você vai no meu carro? É isso ou a minivan da mãe do Lee".
"Claro".
Ele sorriu cheio de alegria. Deixar Mike feliz é tão fácil.
"Você pode ir na janela",ele prometeu. Eu escondí a minha tristeza.
Não era tão fácil deixar Mike e Jéssica felizes ao mesmo tempo. Eu podia ver Jéssica
nos observando agora.
Apesar disso, os números estavam ao meu favor. Lee trouxe mais duas pessoa, e de
repente, todos os lugares foram ocupados.
Eu consegui enfiar Jéssica entre Mike e eu no banco da frente do Suburban. Mike podia
ter sido mais educado me relação a isso, mas pelo menos Jéssica pareceu satisfeita.
Eram só vinte e cinco quilômetros de Forks á La Push, com suas lindas, florestas verdes
e densas na beira da maioria das estradas no caminho ao grande Rio Quillayute. Eu
estava feliz por ter ficado com o ascento da janela. Tinhamos baixado as janelas - o
Suburban ficou um pouco claustrofóbico com nove pessoas dentro dele- e eu tentei
absorver todos os raios de sol que pude.
Eu já tinha ido nas praias de La Push durante os meus verões em Forks com Charlie,
então os primeiros quilômetros de praia eram familiares pra mim. Ainda era de tirar o
fôlego. A água era de um cinza-escuro, mesmo no sol, e haviam encostas de pedra, de
um cinza pesado. As ilhas apareciam nas águas do porto rodeadas por recifes de corais,
alcançando ápices desiguais, e coroadas com coqueiros que flutuavam com a brisa. A
praia própriamente dita, só tinha uma fina faixa de areia perto da água, atrás das águas
apareciam milhares de pedras grandes e com aparencia suave que pareciam
uniformemente cinza de longe, mas olhando de perto elas eram de todas as cores que
uma pedra poderia ser: terracota, verde-mar, lavanda, azul cinzento, dourado-areia. A
pequena encosta estava lotada com grandes árvores, descoloridas numa cor branca de
osso, por causa das ondas do mar, algumas muito próximas umas das outras contra os
limites da floresta, outras sozinhas, fora do alcance das ondas.
Havia um vento fresco vindo das ondas, fresco e revigorante. Pelicanos flutuavam sobre
as ondas enquanto gaivotas e uma águia solitária voavam acima deles. As nuvens ainda
circulavam o céu, ameaçando invadir a qualquer momento, mas por enquanto, o sol
brilhava bravamente no céu azul.
Nós descemos para a praia, Mike nos guiando para um círculo feito com troncos de
árvores que obviamente já havia sido usado para festas como a nossa antes. Já havia
uma fogueira preparada, cheia de cinzas pretas.
Eric e o garoto que eu achava que se chamava Ben começaram a recolher galhos dos
salgueiros mais secos perto da floresta, e logo eles haviam construído uma cabaninha
com galhos no topo da velha fogueira.
"Você já viu uma fogueira construída com galhos de salgueiro?" Mike me perguntou.
Eu estava sentada num dos troncos descoloridos; as outras garotas reunidas, fofocando
excitadamente, nos meus dois lados. Mike ficou de joelhos perto da fogueira, acendendo
um dos galhos com um isqueiro.
"Não", eu respondí enquanto ele colocava o galho de volta na fogueira.
"Então você vai gostar disso aqui- observe as cores". Ele acendeu oputro galho e
colocou junto com o primeiro. As chamas começaram a avançar rapidamente nos galhos
secos.
"É azul", eu disse surpresa.
"É por causa do sal. É bonito, não é?" Ele acendeu mais um pedaço e colocou onde as
chamas ainda não haviam alcançado, e veio sentar ao meu lado. Felizmente, Jess estava
no outro lado dele. Ela virou e começou a reclamar sua atenção. Eu observei as
estranhas chamas azuis e verdes crescerem em direção ao céu.
Depois de meia hora de bate-papo, alguns garotos quiseram ir caminhar perto das
piscinas naturais. Era um dilema. Por um lado, eu amava as piscinas naturais. Elas
haviam me fascinado quando eu era criança; elas eram uma das poucas coisas que me
faziam querer voltar á Forks. Por outro lado, eu tinha caído muito nelas. Nada demais
quando se tem sete anos e se está com o seu pai. Isso me lembrou do pedido de Edward
- não caia no mar.
Foi Lauren que decidiu por mim. Ela não quis ir, e ela definitivamente estava usando os
sapatos errados pra esse tipo de coisa. A maioria das garotas além de Jéssica e Angela
também quiseram ficar. Eu esperei até Tyler dizer que ficaria com elas antes de me
juntar silenciosamente ao grupo pró-caminhada. Mike me deu um sorriso gigantesco
quando viu que eu estava vindo.
A caminhada não foi muito longa, apesar de eu ter odiado não poder ver o céu de dentro
do bosque.
O verde claro da floresta ficava estranho com as risadas dos adolescentes, muito altas e
alegres para se harmonizarem com os painéis verdes ao meu redor. Eu tinha que
observar cuidadosamente cada passo que eu dava, evitando as pedras abaixo e os
troncos acima, e logo eu acabei ficando pra trás. Eventualmente eu saí dos confins
verdes da floresta e encontrei a encontra de pedras de novo.
A maré estava baixa, e um pequeno riozinho passava por nós indo a caminho do mar.
Perto dos pedregulhos, haviam pequenas piscinas que nunca estavam completamente
secas por causa da água despejada do oceano.
Eu fui muito cuidadosa pra não me inclinar demais nos tanques de água do mar. Os
outros não tinham medo, se inclinando nas rochas, brincando nas beiradas. Eu encontrei
uma pedra que parecia muito estável perto de uma das piscinas maiores e me sentei lá
cuidadosamente, encantada com o aquário natural abaixo de mim. Os buquês de
anêmonas brilhantes balançavam sem parar na corrente invisível, conchas tortas
apareciam nas beiras, escondendo os caranguejos dentro delas, estrelas do mar ficavam
imóveis sobre as pedras e umas sobre as outras, enquanto uma pequena enguia preta
com listras brancas nadava contra as ervas daninhas para voltar para o mar.
Eu estava completamente absorvida,exceto por uma pequena parte do meu cérebro que
imaginava onde Edward estaria agora, e o que ele estaria me dizendo se estivesse aqui
comigo.
Finalmente os rapazes ficaram com fome, e eu fiquei de pé para acompanhá-los de
volta. Eu tentei acompanhá-los melhor dessa vez por dentro da floresta, então
naturalmente eu caí algumas vezes. Eu arranjei uns arranhões artificiais nas minhas
mãos, e os joelhos dos meus jeans estavam manchados de verde, mas podia ser pior.
Quando nós voltamos para a praia, o grupo que deixamos havia se multiplicado.
Enquanto nos aproximávamos, podíamos ver os cabelos brilhantes, muito pretos e a
pele cor de cobre dos nossos visitantes, adolescentes das reservas próximas que vieram
se socializar.
A comida já estava sendo passada, e os garotos correram para pegar as suas partes
enquanto Eric nos apresentava a cada um no círculo de troncos. Angela e eu fomos as
últimas a chegar, e, enquanto Eric falava nossos nomes, eu reparei num garoto mais
jovem sentado numa das pedras perto da fogueira olhando pra mim cheio de interesse.
Eu sentei perto de Angela, e Mike nos trouxe sanduíches e uma rodada de refrigerante
para aqueles que pediram, enquanto o garoto que parecia ser o mais velho do grupo foi
dizendo os nomes dos outros sete que estavam com ele. Eu só lembrei o de uma das
garotas que também se chamava Jéssica, e o garoto que reparou em mim que se
chamava Jacob.
Era relaxante estar com Angela; ela era o tipo de pessoa que fazia você se sentir bemela
não precisava preencher o silêncio com conversinhas. Ela me deixou livre pra pensar
enquanto nós comiamos. E eu estava pensando em como o tempo passava
desconjuntadamente em Forks, passando num sopro as vezes, com algumas imagens
claramente se destacando de outras. E então, outras vezes, cada segundo era
significante, gravando na minha memória. Eu sabia exatamente o que causava a
diferença, e isso me perturbava.
Durante o almoço as nuvens começaram a avançar, se esquivando no céu azul, ficando
momentaneamente na frente do sol, formando longas sombras na praia, e escurecendo
as ondas.
Enquanto terminavam de comer, as pessoas começaram a formar grupos de duas e de
três pessoas. Algumas caminharam até as ondas, tentando subir nas pedras de superfície
cortante. Outros estavam formando uma segunda excursão ás piscinas. Mike - com
Jéssica na cola dele- foi até uma loja na vila. Alguns dos garotos da localidade foram
com eles; outros se juntaram á caminhada. Quando todos eles sumiram, eu estava
sentada sozinha no meu tronco, Luren e Tyler estavam se ocupando com um som que
alguém havia pensado em trazer, e três garotos das reservas se juntaram ao círculo,
incluindo aquele garoto chamado Jacob e o garoto mais velho que havia servido de
apresentador.
Alguns minutos depois que Angela foi embora com os excursionistas, Jacob se
aproximou para tomar o lugar dela á meu lado. Ele parecia ter catorze, talvez quinze, e
tinha um cabelo longo, brilhante amarrado atrás da cabeça com um elástico de borracha
perto da nuca. A pele dele era linda, sedosa e com uma cor saudável; seus olhos eram
escuros, bem posicionados no alto das maçãs bem feitas do seu rosto. Ele tinha só um
pouco de infantilidade que havia permanecido no seu queixo. No geral, um rosto bonito.
No entanto, minha boa impressão em relação a aparência dele foi apagada pelas
primeiras palavras que sairam da boca dele.
"Você é Isabella Swan, não é?"
Era que nem o primeiro dia de aula.
"Bella", eu suspirei.
"Eu sou Jacob Black", ele me deu a mão num gesto amigável. "Você comprou a
caminhonete do meu pai"
"Oh", eu disse, aliviada, balançando sua mão macia e brilhante. "Você é o filho de
Billy; eu devia me lembrar de você."
"Não, eu sou o mais novo da família- você deve lembrar das minhas irmãs mais velhas"
"Rachel e Rebecca", eu lembrei de repente. Charlie e Billy haviam nos jogado juntas
durante muitas das minhas visitas, pra nos mantermos ocupadas enquanto eles
pescavam. Eramos todas muito tímidas pra fazer algum progresso como amigas. É claro
que eu já tinha tido excessos de raiva suficientes pra acabar com as pescarias quando eu
tinha onze anos.
"Elas estão aqui?", eu examinei as garotas na beira do mar, imaginando se conseguia
reconhecer alguma delas agora.
"Não", Jacob balançou a cabeça. "Rachel recebeu uma bolsa de estudos no estado de
Washington, e Rebecca casou com um surfista de Samoa- agora ela vive no Havaí".
"Casada. Uau". Eu estava aturdida. As gêmeas eram mais velhas que eu pouco mais de
um ano.
"Então você gosta da caminhonete?",ele perguntou.
"Eu adoro. Trabalha muito bem."
"É, mas é muito lenta", ele sorriu. "Eu fiquei muito aliviado quando Charlie comprou
ela. Meu pai não me deixaria trabalhar em construir outro carro quando tínhamos outro
carro perfeitamente bom lá."
"Não é tão lenta", eu argumentei.
"Você já tentou passar de 80?"
"Não", eu admití.
"Bom. Não tente." ele riu.
Eu não pude deixar de rir também. "Ela se sai muito bem em colisões", eu saí em defesa
do meu carro.
"Eu acho que um tanque não poderia destruir aquele monstro velho", ele concordou com
outra risada.
"Então você constrói carros?", eu perguntei impressionada.
"Quando eu tenho tempo livre, e partes. Você não saberia como eu posso pôr as mãos
num cilíndro mestre para um Volkswagen Rabbit 1986, saberia?", ele disse brincando.
Ele tinha uma vóz rouca, prazerosa.
"Desculpa", eu sorrí. "Eu não tenho visto nenhum ultimamente, mas eu vou manter
meus olhos abertos pra você", como se eu soubesse o que é isso. Era muito fácil
conversar com ele.
Ele me mostrou um sorriso brilhante, olhando pra mim de um jeito apreciativo que eu
estava começando a reconhecer. Eu não fui a única a reparar.
"Você já conhece Bella, Jacob?", Lauren perguntou- num tom que me pareceu insolente
- do outro lado da fogueira.
"Nós meio que nos conhecemos desde que eu nascí", ele sorriu olhando pra mim de
novo.
"Que legal", ela não pareceu achar nem um pouco legal, e seus olhos pálidos, puxados,
reviraram.
"Bella", ela me chamou novamente, observando meu rosto cuidadosamente. "Eu acabei
de falar com Tyler que era uma pena que nenhum dos Cullen possa ter vindo hoje.
Ninguém pensou em convidá-los?" A expressão de preocupação dela não era
convincente.
"Você quer dizer a família do doutor Carlisle Cullen?" o garoto alto,mais velho
respondeu antes que eu tivesse a chance, para irritação de Lauren. Ele estava mais pra
homem que pra garoto e sua voz era muito grossa.
"Sim, você conhece eles?", ela perguntou sem querer, se virando um pouco na direção
dele.
"Os Cullen não vem aqui", ele perguntou num tom que fechou o assunto, ignorando a
pergunta dela.
Tyler, tentando ganhar a atenção dela de volta, perguntou a Lauren a sua opinião sobre
um CD que ele segurava. Ela estava distraída.
Eu olhei para o garoto com a voz grossa, com um pé atrás, mas ele já estava olhando
para a floresta atrás de nós. Ele tinha dito que os Cullen não viriam aqui; mas o tom dele
implicava algo mais- que eles não eram permitidos de vir; que eles eram proibidos.
Seus modos deixaram uma má impressão em mim, e eu tentei ignorar isso sem sucesso.
Jacob atrapalhou minha meditação. "Então, Forks já está te levando á loucura?"
"Oh, eu diria que isso é uma confidência", eu sorrí. Ele sorriu compreendendo.
Eu ainda estava pensando no breve comentário sobre os Cullen, e eu tive uma
inspiração repentina. Era um plano estúpido, mas eu não tive nenhuma idéia melhor. Eu
rezei pra que o jovem Jacob não tivesse muita experiência com as garotas, assim ele não
veria além da minha falsa máscara de interesse.
"Você quer caminhar pela praia comigo?" eu perguntei, tentando imitar aquela olhada
que Edward dava por debaixo dos cílios. Eu não poderia ter o mesmo efeito nem de
perto, eu tinha certeza, mas Jacob me pareceu interessado o suficiente.
Enquanto andávamos para o norte pelas pedras multicoloridas na direção dos salgueiros,
as nuvens finalmente fecharam o céu, fazendo o mar ficar escuro e a temperatura baixar.
Eu enfiei as minhas mãos bem no findo dos bolsos da minha jaqueta.
"Então, você tem quantos? Dezesseis?", eu perguntei, tentando não parecer uma idiota
enquanto flutuava os meus cílios do jeito que eu via as garotas fazendo na TV.
"Eu acabei de fazer quinze", ele admitiu, lisonjeado.
"Mesmo?", meu rosto estava cheio de falsa surpresa. "Eu pensei que você fosse mais
velho"
"Eu sou alto pra minha idade", ele explicou.
"Você vem muito á Forks?", eu perguntei arfando, como se eu esperasse que a resposta
fosse sim. Eu soei idiota até pra mim mesma. Eu temia que ele se virasse contra mim
com nojo, me acusando de fraude, mas ele ainda parecia estar lisonjeado.
"Não muito", ele admitiu com uma careta.
"Mas quando meu carro estiver pronto eu posso vir quantas vezes eu quiser- quando eu
tiver minha carteira de motorista", ele emendou.
"Quem era o outro garoto falando com Lauren? Ele pareceu um pouco velho pra estar
andando com a gente", eu propositadamente me coloquei no grupo dos jovens pra
demostrar que eu preferia Jacob.
"Aquele é Sam- ele tem dezenove", ele me informou.
"O que era que ele estava falando sobre a família do doutor?", eu perguntei
inocentemente.
"Os Cullen? Oh, eles não podem entrar na reserva." Ele olhou pra longe, na direção da
Ilha James, enquanto ele confirmava o que eu pensava ter ouvido na voz de Sam.
"Por que não?"
Ele olhou de volta pra mim, mordendo o lábio. "Oops. Eu não devia estar falando nada
sobre isso."
"Oh, eu não vou contar pra ninguém, eu só estou curiosa". Eu tentei deixar meu sorriso
atraente, imaginando se eu estava indo longe demais.
Ele sorriu de volta, entretanto, parecendo atraido. Então ele levantou uma das
sombrancelhas e sua voz ficou ainda mais rouca que antes.
"Você gosta de histórias assustadoras?", ele perguntou obscuramente.
"Eu adoro". Eu fiz um esforço pra parecer interessada.
Jacob caminhou para essa árvore próxima que tinha uns galhos que pareciam com patas
de aranhas enormes. Ele se inclinou num dos galhos tortos enquanto eu sentava
embaixo dele, no tronco da árvore. Ele olhou para as rochas, um sorriso começando a
aparecer nos cantos dos seus lábios grossos. Eu podia ver que ele tentava deixar a
história interessante. Eu tentei não deixar o interesse vital que eu sentia aparecer nos
meus olhos.
"Você conhece alguma das nossas antigas histórias, sobre de onde viemos- os Quileutes,
eu digo?", ele começou.
"Na verdade não", eu admití
"Bom, existem muitas lendas, algumas delas datam da época do Dilúvio- supostamente,
alguns dos nossos ancestrais Quileutes amarraram suas canoas nos topos das árvores
mais altas da montanha pra se salvarem, como Noé fez com a Arca", ele sorriu pra
mostrar o pouco crédito que ele dava a essas histórias.
"Outra lenda diz que nós somos descendentes dos lobos- e que os lobos ainda são
nossos irmãos. É contra a lei tribal matar eles
"Então tem as lendas sobre Os Frios". A voz dele ficou um pouco mais baixa
"Os Frios?", agora eu não estava fingindo minha intriga.
"Sim. Existem lendas sobre os frios como existem sobre os lobos, e algumas delas são
muito mais recentes. De acordo com a lenda, o meu próprio tataravô conhecia alguns
deles. Foi ele quem criou o tratado que os mantêm fora das nossas terras." Ele revirou
os olhos.
"Seu tataravô?", eu encoragei.
"Ele era um líder tribal, como meu pai. Sabe, os frios são os inimígos naturais dos
lobos- bem, não do lobo, mas os lobos que se transformam em homens, como os nossos
ancestrais. Você os chamaria de lobisomens".
"Lobisomens têm inimigos?"
"Só um".
Eu olhei pra ele ansiosamente, tentando fazer a minha impaciência se transformar em
admiração.
"Entenda", Jacob continuou. " Os frios são tradicionalmente nossos inimigos. Mas esse
grupo que veio para o nosso território na época do meu tataravô era diferente. Eles não
caçavam do jeito que os outros caçavam- eles não representavam perigo para a nossa
tribo. Então meu tataravô fez um trato com eles. Se eles prometessem ficar longe das
nossas terras, nós não iriamos expor eles para os cara-pálida". Ele piscou pra mim.
"Se eles não eram perigosos, então porque...?", eu tentei entender, lutando pra não
deixá-lo perceber o quanto eu estava levando essa história a sério.
"É sempre um risco para os humanos ficar perto dosfrios, mesmo se eles forem
civilizados como esse clã era. Nunca se sabe quando eles podem estar com fome demais
pra resistir". Ele deliberadamente colocou um tom de ameaça na voz dele.
"O que você quer dizer com 'civilizados'?"
"Eles diziam que não caçavam humanos. Ao invés disso, eles supostamente eram
capazes de se alimentar de animais".
Eu tentei manter minha voz casual.
"Então o que eles tinham a ver com os Cullen? Eles são parecidos com os frios que seu
avô conheceu?".
"Não", ele parou dramaticamente. "Eles são os mesmos".
Ele deve ter pensado que a expressão no meu rosto era medo inspirado pela história. Ele
sorriu, satisfeito, e continuou.
"Tem mais deles agora, uma nova fêmea e um novo macho, mas os outros são os
mesmos. Na época do meu tataravõ eles já conheciam o líder, Carlisle. Ele esteve aqui e
foi embora antes que o seu povo chegasse", ele estava lutando pra não sorrir.
"E o que eles são?", eu finalmente perguntei. " O que são os frios?"
Ele sorriu obscuramente.
"Bebedores de sangue", ele respondeu com uma voz arrepiante. "Vocês chamam eles de
Vampiros."
Eu olhei para as ondas depois que ele disse isso, sem ter certeza do que o meu rosto
estava demonstrando.
"Você ficou arrepiada", ele disse deliciado.
"Você é um bom contador de histórias", eu cumprimentei ele, ainda olhando para as
ondas.
"Uma história bem louca, não é? Não é de se admirar que o meu pai não quer que a
gente fale disso pra ninguém"
Eu ainda não conseguia controlar a minha expressão o suficiente pra olhar pra ele. "Não
se preocupe, eu não vou espalhar".
"Eu acho que acabei de violar o acordo", ele sorriu.
"Eu vou levar isso pro meu túmulo", eu prometí, e então estremecí.
"Sério, mesmo, não diga nada pro Charlie. Ele já ficou bem bravo com o meu pai depois
que descobriu que ninguém estava indo ao hospital desde que o Dr. Cullen começou a
trabalhar lá".
"Eu não vou contar, claro que não."
"Então você acha que somos um bando de nativos supersticiosos ou o que?", ele
perguntou em tom de brincadeira,mas com uma ponta de preocupação. Eu ainda não
tinha tirado os olhos do oceano. Eu me virei pra ele e sorrí tão naturalmente quanto
pude.
"Não. Apesar disso, eu acho que você é um bom contador de histórias. Eu ainda estou
arrepiada, viu?", eu levantei meu braço.
"Legal", ele sorriu.
Então o barulho das pedras batendo umas contra as outras nos alertou de que alguém
estava vindo. Nossas cabeças levantaram ao mesmo tempo pra ver Mike e Jéssica á
cinquenta metros de nós e vindo na nossa direção.
"Aí estava você, Bella", Mike disse aliviado, balançando seu braço sobre a cabeça.
"Esse é o seu namorado?" Jacob perguntou, alertado pelo tom de ciúmes na voz de
Mike. Eu estava surpresa que fosse tão óbvio.
"Não, definitivamente não." Eu cochichei. Eu estava tremendamente agradecida a
Jacob, e ansiosa pra deixó-lo tão feliz quanto fosse possível. Eu pisquei pra ele, me
virando de costas pra Mike quando fiz isso. Ele sorriu, estimulado pelo meu flerte.
"Então quando eu conseguir a minha carteira de motorista...", ele começou.
"Vocêdevia vir me visitar em Forks. Nós podemos sair uma hora dessas". Eu me sentí
culpada quando disse isso, sabendo que eu estava usando ele. Mas eu realmente gostei
de Jacob. Ele era alguém que podia facilmente ser meu amigo.
_________________________________________________6




Mike nos alcançou agora, com Jéssica alguns passos atrás. Eu podia ver seus olhos
avaliando Jacob, e parecendo satisfeito pela sua óbvia juventude.
"Onde você esteve?", ele perguntou, apesar da resposta estar bem na frente dele.
"Jacob estava apenas me contando umas histórias locais", eu respondí. "Foi muito
interessante".
Eu sorri calidamente pra Jacob e ele sorriu abertamente de volta.
"Bem", Mike parou, cuidadosamente avaliando a situação enquanto observava a nossa
camaradagem. "Já estamos indo embora- parece que vai chover logo".
Todos nós olhamos para o céu. Certamente parecia que ia chover".
"Ok" ,e eu levantei num pulo. "Eu estou indo."
"Foi bom te ver de novo", Jacob disse, e eu podia ver que Mike pareceu um pouco
insultado.
"Foi mesmo. Da próxima vez que Charlie for visitar Billy, eu vou junto", eu prometí.
O sorriso cresceu no seu rosto. "Isso seria legal".
"E obrigada", eu disse sinceramente.
Eu levantei o meu capuz enquanto andávamos pelas rochas em direção ao
estacionamento.
Algumas gotas já começavam a cair, fazendo pequenas manchas nas rochas onde elas
caiam. Quando chegamos ao Suburban os outros já estavam lotando todos os espaços
atrás. Eu me enfiei no banco de trás com Angela e Tyler, anunciando que eu tinha tido a
minha chance de ir na janela. Angela só olhou pela janela para a tempestade que se
formava, e Lauren se entortou no banco pra ganhar toda a atenção de Tyler, então eu
pude simplesmente encostar minha cabeça na banco e fechar os meus olhos e fazer o
máximo pra não pensar.
7. Pesadelo
Eu disse a Charlie que tinha um monte de dever de casa pra fazer, e que não queria nada
pra comer. Haviam um jogo de Basquete sobre o qual ele tava todo exitado, apesar de
que eu não conseguia imaginar o que havia de tão especial sobre isso, então ele não
estava prestando atenção em nada diferente no meu rosto ou no meu tom.
Quando eu cheguei no meu quarto, eu tranquei a porta. Eu cavei na minha mesa até
encontrar meus velhos fones, e pluguei eles no meu CD player. Eu peguei um CD que
Phil havia me dado de Natal. Era de uma das minhas bandas favoritas, mas eles usaram
baixo e agudo demais pro meu gosto. Eu o coloquei no lugar e deitei na cama. Eu
coloquei os fones, apertei Play, e aumentei o volume até que machucou os meus
ouvidos. Eu fechei meus olhos,mas aluz ainda incomodava, então eu coloquei um
travesseiro em cima do meu rosto.
Eu me concentrei bem calmamente na música, tentando entender a letra, para desvendar
os complicados padrões da bateria. Na terceira vez que eu ouví o CD, eu conhecia pelo
menos as letras dos refrões. Eu estava surpresa de ver que no fim eu realmente gostei da
banda, assim que eu conseguí ultrapassar o barulho. Eu teria que agradecer ao Phil mais
um vez.
E funcionou. O barulho perturbador tornou impossível pensar- que era o propósito da
tentativa. Eu ouví o Cd de novo e de novo, até que eu estava acompanhando todas as
músicas, até que, finalmente, eu peguei no sono.
Ei abrí meus olhos num lugar familiar. Consciente em algum lugar da minha mente de
que eu estava sonhando, eu reconhecí a luz verde da floresta. Eu podia ouvir as ondas
batendo nas rochas em algum lugar próximo. E eu sabia que se eu encontrasse o oceano,
eu encontraria o sol, mas então, Jacob Black estava lá, apertando a minha mão, me
levando de volta para a parte escura da floresta.
"Jacob? Qual é o problema?", eu perguntei. Seu rosto estava assustado enquanto ele
lutava com todas as suas forças contra a minha resistência; eu não queria voltar para o
escuro.
"Corra, Bella, você precisa correr", ele cochichou, aterrorizado.
"Por aqui, Bella" eu ouvia a voz de Mike me chamando por dentro das árvores
escuras,mas eu não conseguia vê-lo.
"Porque?", eu perguntei, ainda lutando contra Jacob, agora desesperada para achar o sol.
Mas Jacob largou a minha mão e ganiu, tremendo de repente, caindo no chão escuro da
floresta. Ele se contorcia enquanto eu observava cheia de horror.
"Jacob!", eu gritei. Mas ele tinha sumido. Em seu lugar havia um grande lobo com um
pêlo marrom-avermelhado com olhos pretos. O lobo foi pra longe de mim, em direção á
costa, os pêlos nos seus ombros estavam eriçados, leves urros saindo entre os seus
caninos expostos.
"Bella, corra", Mike chamou de novo atrás de mim. Mas eu não me virei. Eu estava
vendo uma luz se aproximar de mim vindo da praia.
Então Edward saiu de dentro das árvores, sua pele brilhando fracamente, seus olhos
negros e perigosos. Ele levantou uma mão e me convidou a ir com ele.
O lobo ganiu á meus pés.
Eu dei um passo, indo na direção de Edward.
"Confie em mim", ele pediu.
Eu dei outro passo.
O lobo se lançou no espaço entre eu e o vampiro, os caninos virados na direção da
jugular.
"Não!", eu acordei pulando na minha cama.
Meu movimento súbito fez com que os fones puxassem o CD player da mesa e ele fez
um ruído enorme no chão de madeira.
Minha luz ainda estava acesa, e eu estava completamente vestida na cama, de sapatos.
Eu olhei, desorientada, para o relógio na minha penteadeira. Eram cinco e meia da
manhã.
Eu gemí, caí pra trás, e rolei sobre o meu rosto, chutando as minhas botas. Mesmo
assim, eu estava desconfortável demais pra chegar em qualquer lugar próximo do sono.
Eu rolei de volta e desabotoei o meu jeans, tirando eles de uma forma estranha enquanto
eu tentava ficar na horizontal. Eu podia sentir a trança no meu cabelo, um volume
desconfortável contra o meu crânio. Eu me virei de lado e tirei o elástico, rapidamente
desfazendo a trança com os meus dedos. Eu coloquei o travesseiro sobre os meus olhos.
Foi inútil, é claro. Meu subconsciente havia drenado todas as imagens que eu estava
tentando evitar tão desesperadamente. Eu ía ter que enfrentá-las agora.
Eu sentei, minha cabeça rodou um pouco enquanto o sangue descia. Primeiras coisas
primeiro, eu pensei comigo mesma, feliz por adiar aquelas coisas pelo máximo de
tempo possível. Eu levei minha bolsa para o banheiro.
O banho, porém, não demorou tanto quanto eu esperava. Mesmo demorando para secar
meu cabelo, eu logo estava sem coisas pra fazer no banheiro. Eu me enrolei numa toalha
e fui para o meu quarto. Eu não sabia se Charlie ainda estava dormindo ou se já havia
saído. Eu fui olhar pela janela, a viatura não estava mais lá.
Pescaria de novo.
Eu me vestí lentamente com o meu sweater mais confortável e então arrumei minha
cama- algo que eu nunca fiz. Eu não podia mais adiar. Eu fui para a minha mesa e liguei
meu velho computador.
Eu odiava usar a Internet aqui. Meu modem era tristemente ultrapassado, meu serviço
grátis era inferior; só a conexão demorou tanto que eu decidí ir buscar um tigela de
cereal para mim enquanto eu esperava.
Eu comí vagarosamente, mastigando cada pedaço cuidadosamente. Quando eu terminei
eu lavei a tigela e a colher, sequei os dois e guardei. Meus pés se arrastavam enquanto
eu subia pela escada. Eu fui até o meu CD player primeiro, pegando ele do chão e
colocando-o precisamente no centro da mesa. Eu tirei os fones, e então os guardei na
gaveta da mesa. Então eu liguei o Cd, colocando nas músicas mais barulhentas.
Com outro suspiro, eu me virei para o computador. Naturalmente a tela estava lotada de
pop-ups. Eu sentei na minha cadeira e comecei a fechar todas as janelinhas.
Eventualmente eu conseguí entar no meu site de buscas favorito. Eu fechei mais algund
pop-ups e digitei uma só palavra.
Vampiro.
Levou um tempo enlouquecedor, é claro. Quando os resultados apareceram, havia muito
o que peneirar -tudo de filmes e programas de Tv á jogos de Vídeo-game, bandas de
metal, e companias de cosméticos góticas.
Então eu achei um site que parecia promissor - Vampiros de A á Z.
Eu esperei pacientemente até que ele baixasse, clicando rapidamente em todas as
janelinhas que apareciam na tela. Finalmente a tela estava completa - um fundo branco
simples com letras pretas, com escrita acadêmica. Duas frases me saudaram na página
inicial:
Pelo vasto mundo obscuro dos fantasmas e demônios não existe figura tão terrível,
nenhuma figura tão horripilante e detestável, mesmo assim causadora de tal fascinação,
como o vampiro, que é nem fantasma nem demônio,mas ainda assim, divide a natureza
obscura e possue as terríveis e misteriosas qualidades de ambos.-
Reverendo Montague Sommers.
Se existe no mundo uma coisa tão bem-atestada, essa coisa são os vampiros.
Provas não faltam - entrevistas oficiais, testemunhos de pessoas conhecidas, de
cirurgiões, de padres, de magistrados; as provas judiciais são mais completas. E com
tudo isso, quem é que não acredita em vampiros?-
Rousseau
O resto do site era uma lista em ordem alfabética dos diferentes mitos envolvendo
vampiros ao redor do mundo. O primeiro no qual eu cliquei, o Danag, era um vampiro
das Filipinas supostamente responsável por trazer o tarô para as ilhas há muito tempo
atrás. O mito ainda contava que Danag trabalhou com os humanos durante muitos
anos,mas a parceria acabou quando uma mulher cortou o seu dedo e o Danag sugou toda
a sua vitalidade, gostando tanto do sabor do seu sangue que acabou drenando totalmente
o sangue do seu corpo.
Eu lí cuidadosamente todas as descrições, procurando por alguma coisa que me
parecesse familiar, pra não dizer plausível. Parecia que a maioria das histórias de
vampiros possuiam lindas mulheres como demônios e crianças como vítimas; eles
pareciam querer criar histórias para explicar os altos índices de mortalidade entre as
crianças,e criar para os homens uma boa desculpa para serem infiéis.
Muitas das histórias envolviam espíritos desencarnados e avisos sobre enterros
impróprios.
Nada se parecia muito com o que eu via nos filmes, só alguns poucos, como o Hebreu
Estrie e o polonês Upier, que ocasionalmente estavam ocupados bebendo sangue.
Só três links me chamaram a atenção: O romênio Varacolaci, um morto-vivo poderoso,
que podia aparecer como um humano lindo, com a pele pálida; o Eslovaco Nelapsi, uam
criatura tão forte e veloz que pode um vilarejo inteiro em apenas uma hora depois da
meia-noite; e um outro,o Stregoni benefici.
Sobre esse havia penas uma breve frase.
Stregoni benefici: Um vampiro italiano, destinado a ser do lado do bem, e inimigo
mortal dos vampiros maus.
Era um alivio, aquele link, o único mito que aclamava a existência de vampiros do bem.
No geral,porém, havia pouco que coincidisse com as histórias de Jacob ou com as
minhas próprias observações. Eu fiz um pequeno catálogo na minha mente enquanto eu
lía e cuidadosamente comparava cada mito. Velocidade, força, beleza, pele pálida, olhos
que mudam de cor. E então o critério de Jacob: bebedores de sangue, inimigos dos
lobisomens, peles frias e imortais.
Haviam muito poucos mitos que se encaixavam em cada fator.
E então, outro problema, que eu lembrei de um pequeno número de filmes que eu havia
assitido e que foi trazidoá tona pela leitura de hoje - vampiros não devaim poder sair de
dia, o sol poderia transaformá-los em cinzas. Eles dormem em caixões o dia inteiro e só
saem á noite.
Importunada, eu desliguei o computador no botão pricipal, sem esperar pra que ele
desligasse apropriadamente. Apesar da minha irritação, eu estava extremamente
envergonhada. Era tudo tão estúpido. Eu estava sentada no meu quarto, pesquisando
sobre vampiros. O que é que havia de errado comigo? Eu decidí que grande parte da
culpa estava na entrada de Forks - uma península inteira, pra falar a verdade.
Eu queria sair de casa, mas não havia nenhum lugar que eu quisesse ir que ficasse a
menos de três dias de viagem de carro.
Eu calcei as minhas botas mesmo assim, sem ter certeza de pra onde eu iria, e descí as
escadas. Eu vestí o meu casaco de chuva sem olhar o clima e saí porta á fora.
Estava nublado, mas ainda não estava chuvendo. Eu ignorei minha caminhonete e
comecei a avançar á norte a pé, virando no quintal de Charlie e andando em direção á
floresta. Não demorou muito até que eu já estivesse longe o suficiente da casa pra não
ver mais a estrada, pra que o único som audível fosse o som dos meus passos na terra e
as gotas de orvalho que caiam das copas.
Haviam um leve rastro da trilhas que guiava o caminho pra dentro da floresta, de outra
forma eu jamais me arriscaria a ir lá sozinha daquele jeito. Meu senso de direção era
desastroso; eu podia me perder em lugares muito mais seguros. A trilha continuava mais
e mais funda dentro da floresta, mais longe do que eu podia dizer. Ela passava pelas
árvores ordenadas e pelas cicutas, pelas madeiras de teixos e pelos arbustos. Eu só
conhecia vagamente as árvores ao meu redor, e o que eu sabia era só de ver Charlie
apontando elas pra mim da viatura há anos atrás. Muitas delas eu não conhecia, outras
delas eu não tinha como ver porque elas estava completamente cobertas de parasitas
verdes.
Eu seguí na trilha tão longe quanto a minha raiva me levou. Quando ela começou a
abrandar, eu diminuí o ritmo. Algumas gotas cairam em mim da árvore sobre minha
cabeça, mas eu não sabia dizer se era de uma chuva que estava começando ou do
orvalho de ontem, que estava nas folhas, que agora estavam lentamente voltando para a
terra. Uma árvore recentemente derrubada - eu sabia que era recente porque ela ainda
não estava completamente coberta de musgos - descansava sobre o tronco de outra das
suas irmãs, criando um banquinho a apenas uns poucos passos da trilha. Eu passei pelos
galhos e cuidadosamente, me certificando de que a minha jaqueta estava entre o ascento
sujo e as minhas roupas onde quer que elas tocassem, e inclinei minha cabeça protegida
com o capuz contra a árvore ainda em pé.
Esse foi o lugar errado pra vir. Eu devia ter advinhado, mas onde mais eu poderia ter
ido? A floresta era de um verde escuro e se parecia demais com a cena do sonho de
ontem pra permitir á minha mente um pouco de paz. Agora que já não haviam mais os
sons de passos, o silêncio era penetrante.
Os pássaros estavam quietos, também, e as gotas caiam com uma certa frequência, então
devia ser a chuva. As samambaias ficavam mais altas que eu, agora que eu estava
sentada, e eu sabia que alguém podia andar entre os troncos a três passos de distância e
não me enxergar.
Aqui entre as árvores era muito mais fácil acreditar nos absurdos que haviam me
deixado envergonhada em casa.
Nada mudou nesse floresta por milhares de anos, e todos os mitos e lendas de centenas
de locais diferentes me pareciam muito mais possíveis aqui do que no meu quarto.
Eu me forcei a focar nas duas perguntas mais vitais que eu tinha que responder, mas eu
fiz isso sem vontade.
Primeiro, eu tinha que decidir se a história que Jacob me contou sobre os Cullen podia
ser verdade.
Imediatamente minha mente respondeu com um ressonante não. Era ridículo e mórbido
pensar em tais coisas. Mas o que, então? Eu perguntei a mim mesma.
Não havia nenhuma explicação razoável que explicasse como eu estava viva nesse
momento. Eu escutei mais uma vez na minha cabeça as coisas que eu observei sozinha:
a incrível velocidade, a força, os olhos mudando de preto pra dourado e preto de novo, a
beleza inumana, a pele pálida, gelada. E mais - pequenas coisas que se registraram
lentamente - como eles nunca comiam, a graça perturbadora com a qual se
movimentevam. E o jeito como eles falavam b, com um sotaque pouco familiar e frases
que se encaixariam melhor num romance da virada do século do que numa sala de aula
do século vinte e um.
Ele faltou a aula no dia em que fariamos o teste sanguínio. Ele não disse que não iria
para a praia até que eu disse pra onde íamos. Ele parecia saber o que todos ao redor dele
estavam pensando... exceto eu.
Ele haviam me dito que o vilão, perigoso...
Poderiam os Cullen ser Vampiros?
Bem, eles eram alguma coisa. Alguma coisa fora das possibilidades de justificações
rationais estava acontecendo diante dos meus olhos incrédulos. Fossem os frios de
Jacob ou as minhas teorias sobre super-heróis, Edward Cullen não era...humano.
Ele era algo mais.
Então- talvez. Essa seria a minha única resposta sobre o assunto no momento.
E então a pergunta mais importante de todas. O que é que eu ia fazer se fosse verdade?
Se Edward fosse vampiro - eu mal podia me forçar a pensar nas palavras - então o que
eu deveria fazer? Envolver outra pessoa estava absolutamente fora de questão. Nem eu
mesma conseguia acreditar; ninguém a quem eu contasse ia me dar bola.
Só duas opções pareciam práticas. A primeira era seguir o conselho dele: ser inteligente,
evitá-lo tanto quanto fosse possível. Cancelar os nossos planos, e voltar a ignorá-lo o
máximo que eu pudesse. Fingir que havia uma parede de vidro impenetrável nos
separando na aula quando éramos forçados a ficar juntos. DIzer pra ele me deixar em
paz- e falar sério dessa vez.
Eu estava presa num repentino sentimento de agonia quando pensei nessa alternativa.
Minha mente rejeitou a dor, rapidamente me levando á próxima opção.
Eu não podia fazer nada de diferente. Afinal, se ele era algo...sinistro, até agora ele não
fez nada pra me machucar. Na verdade, Tyler teria muito do que se arrepender se ele
não tivesse agido tão rápido. Tão rápido, eu discutí comigo mesma, que pode ter sido
simplesmente uma questão de reflexos. Mas se eram reflexos que salvavam vidas, não
podia ser tão ruim. Eu considerei. Minha cabeça girava sobre eixos invisíveis.
De uma coisa eu tinha certeza, se é que eu tinha certeza de alguma coisa. O Edward
obscuro nomeu sonho da noite passada foi só um reflexo meu medo das palavras de
Jacob, e não de Edward.
Mesmo assim, quando eu gritei aterrorizada por causa do ataque do lobisomem, não foi
o medo do lobo que fez o "não" brotar dos meus lábios. Foi o medo que ele pudesse se
machucar- mesmo quando ele me chamou com os caninos expostos, eu temí por ele.
E eu sabia que aí estava a minha resposta. Eu não sabia nem se havia outra escolha, na
verdade. Eu já estava envolvida demais. Agora que eu sabia- se eu sabia - eu não podia
fazer nada sobre os meus segredos assustadores. Porque quando eu pensava nele, na voz
dele, nos seus olhos hipnóticos, a força magnética de sua personalidade, eu não queria
nada além de estar com ele agora mesmo.
Mesmo se... Mas eu não conseguia pensar nisso agora. Não aqui, na floresta escura, não
quando a chuva fazia tudo escurecer como o crepúsculo sobre as copas das árvores e
pareciam com passos no chão de terra. Eu tremí e me levantei rapidamente do meu local
de ocultação, preocupada que de alguam forma a trilha tivesse desaparcido com a
chuva.
Mas estava lá, a salvo e clara, seguindo o seu caminho pelo labirinto respingante.
Eu a seguí apressadamente, meu capuz próximo do meu rosto, me surpreendendo,
quando quase me batia nas árvores, com o quanto havia ido longe. Eu comecei a
imaginar se eu realmente estava saíndo de la,ou me embrenhando ainda mais nos
confins da floresta. Antes que eu tivesse um ataque de pânico, porém, eu comecei a
reparar em alguns espaços entre as teias de galhos. E então eu ouví um carro passando
na rua, e eu estava livre, a grama de Charlie se estendia na minha frente, a casa de
recebendo, prometendo calor e meias secas. Era só meio dia quando eu entrei. Eu subí e
me vestí para o resto do dia, jeans e uma camiseta, já que eu ia ficar me casa. Eu não
tive que me esforçar muito pra me concentrar na tarefa do dia- um trabalho sobre
Macbeth que era pra ser entregue na quarta-feira. Eu me concentrei no perfil do duro
projeto contentemente, mais serena do que eu me sentia desde...bem, desde a última
quinta-feira, pra ser honesta
Esse sempre foi meu jeito, de qualquer forma. Tomar decisões era a parte difícil pra
mim, isso eu tinha que reconhecer. Mas uma vez que a decisão estivesse tomada, eu
simplesmente fazia o que tinha que ser feito- geralmente aliviada por ter tomado uma
decisão. Ás vezes o alivio era corrompido pelo desespero, como a minha decisão de vir
pra Forks. Mas isso era melhor do que degladiar com as alternativas.
Essa era uma decisão ridiculamente fácil de aceitar. Perigosamente fácil.
Então o dia estava quieto, produtivo - eu terminei o meu trabalho antes das oito.
Charlie chegou com uma bela captura, e eu fiz um lembrete mental para comprar um
livro de receitas pra peixes quando eu fosse pra Seattle na semana que vem. Os calafrios
que percorriam a minha espinha toda vez que eu pensava nesa viagem não eram
diferentes dos que eu tinha antes da história de Jacob Black. Eles deveriam ser
diferentes, eu pensei. Eu devia ter medo - eu sabia que devia, mas eu não conseguia
sentir o tipo certo de medo.
Eu não sonhei naquela noite, exausta por ter começado o meu dia tão cedo, e ter
dormido tão mal durante a noite. Eu acordei, pela segunda vez desde que eu cheguei em
Forks, com o brilho amarelo de um dia de sol. Eu fui olhar pela janela, aturdida por ver
que mal havia uma nuvem no céu, e aquelas que haviam eram só pedacinhos macios de
algodão que não poderiam estar carregando chuva alguma. Eu abrí a janela, surpresa por
ela ter aberto tão facilmente, sem emperrar, mesmo sem ter sido aberta em todos esses
anos - e suguei o ar relativamente seco.
Estava quase quente e quase não ventava. Meu sangue pulsava elétrico nas veias.
Charlie estava terminando o café da manhã quando eu descí, e ele percebeu o meu
humor imediatamente.
"Belo dia lá fora". Ele comentou.
"Sim", eu concordei com um sorriso.
Ele sorriu de volta, seus olhos castanhos se enverrugando nos cantos. Quando Charlie
sorría era mais fácil perceber porque minha mãe havia aceitado se casar tão rápido.
Grande parte daquele jovem romântico havia desaparecido antes que eu tivesse nascido,
como o cabelo castanho e cacheado- mesma cor, se não textura dos meus- tinham
sumido, lentamente revelando mais e mais a pele brilhante da testa dele. Mas quando ele
sorria, eu podia ver um pouco do homem que fugiu com Renée quando ela não era nem
dois anos mais velha do que eu sou agora.
Eu tomei meu café da manhã alegremente, observando as partículas de poeira que
apareciam por causa da luz do sol que entrava pela janela de trás. Charlie deu adeus, e
eu ouví a viatura se afastar de casa. Eu hesitei na porta de casa, a mão na minha jaqueta.
Deixá-la em casa era tentador. Com um suspiro, eu a embrulhei no braço e saí para a luz
brilhante que eu já não via há meses.
Á custo de cotovêlos melados de graxa, eu conseguí abrir as duas janelas da minha
caminhonete quase completamente. Eu fui uma das primeiras a chegar na escola; eu
nem tinha olhado para o relógio na minha pressa de sair. Eu estacionei e me dirigí para
os bancos de piquenique raramente utilizados, no lado sul da cafeteria. Os bancos ainda
estavam um pouco sujos, então eu sentei na minha jaqueta, feliz por dar um uso a ela.
Meu dever de casa já estava terminado- resultado de uma vida social desgraçada - mas
haviam alguns problemas de Trigonometria que eu não sabia se estavam certos. Eu
peguei meu livro cheia de vontade de trabalhar, mas na metade do primeiro problema eu
já estava sonhando acordada, olhando a luz do sol brincar com as árvores e suas casacas
vermelhas.
Eu olhava desatentamente para as margens do meu dever de casa. Depois de alguns
minutos, eu me dei conta de que havia desenhado cinco pares de olhos pretos me
olhando pela página. Eu os apaguei com uma borracha.
"Bella!", eu ouví alguém chamar, e parecia ser Mike.
Eu olhei em volta para me dar conta de que a escola já estava cheia enquanto eu estava
sentada aqui, ausente. Todo mundo estava usando camisetas, alguns até de shorts,
apesar de a temperatura não estar acima dos 18 graus.
Mike estava vindo na minha direção vestindo besmudas Khaki e uma camisa de Rúgby
listrada, acenando.
"Ei,Mike", eu cumprimentei, acenando de volta, incapaz de ser pouco receptiva numa
manhã como essa.
Ele veio se sentar ao meu lado, os seus cabelos arrepiados tinham uma brilhante cor
dourada no sol, um sorriso rasgando o seu rosto. Ele estava tão contente em me ver que
eu n~]ao pude deixar de me sentir gratificada.
"Eu não tinha reparado antes- o seu cabelo é um pouco rúivo", ele comentou, pegando
entre os dedos uma mecha que estava flutuando com a brisa suave.
"Só no sol".
Eu fiquei um pouco desconfortável quando ele colocou a mecha atrás da minha orelha.
"Belo dia, não é?"
"Meu tipo de dia", eu concordei.
"O que você fez ontem?", o tom dele era provavelmente muito autoritário.
"Eu trabalhei no meu projeto." Eu não mencionei que já havia acabado- não havia
necessidade de parecer presumida.
Ele bateu na testa com a mão. "Oh, é -é pra quinta-feira, não é?"
"Umm, quarta, eu acho"
"Quarta?" ele fez uma careta. "Isso não é bom... O que você está escrevendo no seu?"
"Se o tratamento de Shakespeare para com as mulheres era misógino".
Ele me encarou como se eu tivesse falado em Latin.
"Eu acho que terei que trabalhar nisso hoje á noite", ele disse, vazio. "Eu ia te perguntar
se você queria sair".
"Oh", eu fui pega fora de guarda. Porque eu não podia mais conversar com Mike sem a
situação ficar estranha?
"Bom, nós podíamos sair pra jantar ou alguma coisa assim...e eu podia trabalhar nisso
depois", ele sorriu pra mim esperançosamente.
"Mike", eu odiava ser colocada contra a parede. "Eu acho que não é a melhor idéia".
O rosto dele desmoronou. "Porque não?",ele perguntou, seus olhos cuidadosos. Meus
pensamentos foram parar em Edward, imaginando se era nisso que ele estava pensando
também.
"Eu acho... e se você repetir isso em outro lugar eu vou te espancar até a morte", eu
ameacei. "Mas eu acho que machucaria os sentimentos de Jéssica."
Ele estava desnorteado, obviamente ele não havia pensado nisso. "Jéssica?"
"Sério, Mike, você é cego?"
"Oh", ele exalou - claramente confuso. Eu me aproveitei disso pra fazer a minha fuga.
"É hora da aula, eu não posso me atrasar de novo", eu agarrei os meus livros e os enfiei
na minha mochila.
Nós caminhamos em silêncio até a sala de aula, e a expressão dele estava distraída. Eu
esperava que fossem quais fossem esses sentimentos nos quais ele estava inundado, que
eles o levassem para a direção correta.
Quando eu ví Jéssica em trigonometria, ela estava estourando de entusiasmo. Ela,
Angela, e Lauren estavam indo á Port Angeles esta noite pra comprar vestidos para o
baile, e ela queria que eu fosse também, apesar de eu não precisar de um vestido. Não
havia o que decidir. Podia até ser legal sair da cidade com algumas amigas, mas Lauren
estaria lá. E quem abe o que eu poderia estar fazendo nessa noite... mas definitivamente
não erame envolver nesse tipo de situação. É claro que eu estava feliz com o sol. Mas
esse não era o único responsável pelo meu humor eufórico, nem de perto.
Então eu dei a ela um talvez, dizendo a ela que eu teria que falar com Charlie antes.
Ela não falou de nada alkém do baile no caminh para a aula de Espanhol, continuando
depois da aula como se nem tivesse sido interrompida, cinco minutos depois estávamos
indo almoçar. Eu estava preocupada demais com os meus próprios pensamentos pra
pensar no que ela estava dizendo. Eu estava dolorosamente ansiosa pra ver não só ele,
mas todos os Cullen- pra compará-los ás novas suspeitas que estavam na minha mente.
Enquanto eu cruzava a entrada da cafeteria, eu sentí o primeiro formigamento de medo
descer a minha espinha e se alojar no meu estômago. Será que eles tinham como
adivinhar o que eu estava pensando? E então eu tive um outro formigamento- será que
Edward estaria esperando pra sentar comigo?
Como de costume, eu olhei para a mesa dos Cullen. Um arrepio de pânico fez meu
estômago tremer quando eu percebí que ela estava vazia.
Com um resto de esperança eu vasculhei o resto da cafeteria, esperando encontrá-lo
sozinho, esperando por mim.
O lugar estava praticamente lotado- nós nos atrasamos em Espanhol- mas não havia
sinal de Edward ou de ninguém da sua família. A desolação me atingiu com uma força
devastadora.
Eu cambaleei ao lado de Jéssica, sem me importar mais em fingir que estava prestando
atenção.
Nós estavamos atrasadas o suficiente pra encontrar todo mundo na nossa mesa. Eu
evitei uma cadeira vazia ao lado de Mike e preferí me sentar ao lado de Angela. Eu
vagamente reparei que Mike segurou a cadeira educadamente pra Jéssica se sentar, e o
rosto dela se iluminou em resposta.
Angela perguntou algumas sobre o trabalho sobre Macbeth, que eu respondí tão
naturalmente quanto pude enquanto mergulhava em sofrimento. Ela, também, me
convidou para sair essa noite com elas, e agora eu concordei, me agarrando em qualquer
coisa que me distraísse.
Eu me dei conta de que estava agarrando a última ponta de esperança quando entrei na
aula de Biologia, ví o lugar vazio, e me deixei levar por outra onda de desapontamento.
O resto do dia passou devagar, sem graça. Na Educação Física, nós tivemos uma
palestra sobre os princípios do Badminton, a próxima tortura á qual eles iam me expor.
A melhor parte foi que o treinador não chegou a terminar, então amanhã eu teria outro
dia livre. Não importa que depois desse dia eles iam me armar com uma raquete antes
de me soltar no resto dos estudantes.
Eu estava feliz em deixar a escola, então eu podia fazer beicinho e me lastimar
livremente antes de sair com Jéssica e companhia.
Mas logo que eu entrei na casa de Charlie, Jéssica ligou pra cancelar os nossos planos.
Eu tentei parecer feliz por Mike ter convidado ela para jantar - eu realmente estava feliz
que ele finalmente parecia estar entendendo - mas o meu entusiasmo pareceu falso até
para os meus próprios ouvidos. Ela remarcou as compras para amanhã.
O que me deixou com poucas escolhas no que se trata de distrações.
Eu tinha peixe marinando para o jantar, com salada e pão que sobrou da noite passada,
então não havia nada pra fazer nesse aspecto. Eu passei meia hora concentrada no dever
de casa, mas depois eu já estava de saco cheio disso também. Eu chequei meu E-mail,
lendo milhares de cartas antigas da minha mãe, ficando mais animada enquanto elas
progrediam para o presente. Eu suspirei e digitei uma resposta rápida.
MÃE,
DESCULPE. EU ESTIVE FORA. EU FUI Á PRAIA COM ALGUNS AMIGOS. E
TIVE QUE FAZER UM TRABALHO.
Minhas desculpas era honestamente patéticas, então eu desistí.
HOJE ESTÁ FAZENDO SOL LÁ FORA - EU SEI, EU TAMBÉM ESTOU
CHOCADA - ENTÃO EU VOU LÁ FORA PARA SUGAR TODA A VITAMINA D
QUE EU PUDER. EU AMO VOCÊ.
BELLA.
Eu decidí matar um hora com leitura não-relacionada com a escola. Eu tinha uma
pequena coleção de livros que eu trouxe comigo pra Forks,o maior volume se tratava de
um apanhado das obras de Jane Austen. Eu selecionei um e me dirigí para o quintal,
levando uma colcha antiga que havia no armário.
No quintal pequeno, quadrado de Charlie, eu dobrei a colcha no meio e deitei na sombra
das árvores na grama aparada que sempre seria um pouco úmida, não importava quanto
o sol brilhasse.
Eu deitei sobre o estômago, cruzando os tornozelos no ar, passando os livros tentando
decidir qual deles eu escolheria. Os meus favoritos eram Orgulho e Preconceito e Razão
e Sensibilidade. Eu tinha lido o primeiro mais recentemente, então eu comecei com
Razão e Sensibilidade, só par me lembrar que o herói da história se chamava Edward,
com raiva, eu abri Mansfield Park, mas o herói desse livro se chamava Edmund, que era
perto o suficiente.
Não haviam outros nomes disponíveis no século dezoito? Eu fechei o livro, aborrecida,
e me virei de costas. Eu não pensaria em mais nada além do calor na minha pele, eu
disse a mim mesma severamente. A briza ainda estava leve, mas fez as mechas do meu
cabelo soprarem no meu rosto, e isso fez um pouco de cócegas.
Eu joguei o meu cabelo pra cima da minha cabeça, deixando ele descansar na colcha
embaixo de mim, e me concentrei de novo no calor que tocava os meus cílios, as maçãs
do meu rosto, meu nariz, meus lábios, meus braços, meu pescoço, que passava pelo
pano da minha camiseta leve...
A próxima coisa da qual eu tive consciência foi do som da viatura de Charlie, virando
nos tijolos da entrada. Eu sentei supresa, me dando contade que a luz havia ido embora,
por trás da árvores, e que eu tinha pego no sono. Eu olhei ao redor, confusa, com o
sentimento de que eu não estava mais sozinha.
"Charlie?", eu perguntei, mas eu podia ouvir a porta da frente batendo.
Eu levantei rápido, tolamente atordoada, juntando a colcha suja e os meus livros.
Eu corrí pra dentro pra colocar óleo pra ferver na frigideira, percebendo que o jantar ia
atrasar.
Charlie estava pendurando o seu cinturão e tirando as botas quando eu entrei.
"Desculpa, pai, o jantar ainda não está pronto- eu peguei no sono lá fora", eu repremí
um bocejo.
"Não se preocupe", ele disse. "Eu queria saber o placar do jogo, mesmo."
Eu assistí TV com Charlie depois do jantar pra ter alguma coisa pra fazer. Não havia
nada interessante pra assistir, mas ele sabia que eu não gostava de beiseball, então ele
colocou num canal bobo que nem um de nós gostava. Apesar disso, ele pareceu feliz,
por estarmos fazendo alguma coisa juntos. E foi bom, a despeito da minha depressão,
deixá-lo feliz.
"Pai", eu disse durante os comerciais, "Jéssica e Angela vão procurar vestidos para o
baile amanhã em Port Angeles, e elas querem que eu as ajude a escolher...você se
importa se eu for com elas?"
"Jéssica Stanley?",ele perguntou.
"E Angela Weber". Eu suspirei quando tive que lhe passar os detalhes.
Ele estava confuso. "Mas você não vai para o baile, não é?"
"Não, pai, eu vou ajudar elas a encontar os vestidos- você sabe, vou dar críticas
construtivas". Eu não teria que explicar isso para um mulher.
"Bem, Ok". Ele pareceu perceber que era uma coisa do departamento feminino.
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