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Esta é a Parte 2
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Alguns foram alunos brilhantes.
Gostava de despir o uniforme do menino bem devagar. Era fácil
tirar aquelas
calças de agasalho, que deixavam ver, antes de tudo, um volume
característico entre as
pernas. Segurava nos seus paus bem duros, sem querer, no entanto,
que gozassem sem
fazer nada. Na primeira vez, o risco de isso acontecer, por causa
da ansiedade, é sempre
alto. Então, começava chupando, para ajudar a relaxar. Acho que,
quando chupo um
garoto, ele curte mais do que meter de verdade. E, claro, eles
adoram.
Que tara, não? Com esses meninos, só de ir com a cara, deixei
muitos botarem na minha
boca sem camisinha. Acho que ensinei bem muitos deles. E foram,
quase sempre,
transas tranqüilas. Nada de malabarismos. Papis e mamis bem
gostoso. O negócio deles
é meter e curtir. As fantasias e variações só vêm com o tempo. Com
os mais experientes,
não é bem assim.
Eu fazia de tudo para manter a fama de "santinha" com
meus pais. Voltava da
balada e comentava com eles apenas o quanto havia dançado. Uma
noite, porém,
cheguei em casa com o pescoço bem marcado das chupadas do Thiago,
um menino com
quem fiquei várias vezes. Nunca namoramos porque, quando o vi no
claro, a beleza que a
escuridão sugeria não dava nem sinal de existir. E também não
queria mais machucar os
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lábios com nossos beijos. O fato de nós dois usarmos aparelho fixo
era mesmo torturante.
Mas o roxo das chupadas estava lá. Não houve maquiagem que desse
jeito. E olha que
eu tentei.
Mamãe percebeu, claro, e me obrigou a ir à escola no dia seguinte
com uma blusa
de linho que cobria o pescoço. Esforço inútil: passei o maior
calor e os hematomas não
foram escondidos Não tive vergonha, não. A fama de galinha no
colégio pouco me
importava. Era como se eu fosse um menino. Para eles, ter fama de
galinha era sinal de
macheza. Para mim, era um troféu, a prova de que alguém me desejou
numa noite Uma
noite de sexo selvagem, quem sabe? Eu sabia da verdade. Eles, não.
Esse era o grande
barato. Foi o meu jeito de chamar a atenção de todo mundo.
Eu, uma garota de 13 anos, cheia de espinhas pelo rosto, ainda
meio gordinha,
mesmo com vinte quilos a menos, à base de regime. Nenhum garoto da
escola me dava
bola, nem na rua, nem em lugar nenhum. Apenas na noite. No escuro,
eu devia parecer
bonita. Como me pareceu o Thiago. Nessas de me auto-afirmar,
comecei também a fumar
escondida dentro do banheiro do colégio. Fui, sim, uma verdadeira
maria-vai-com-asoutras.
Eu andava com a turminha "do mal". Muitos deles, com 12
ou 13 anos, já
fumavam maconha. Eu não queria ser tachada de careta, mas ia ficar
só no cigarro de
cravo, meu preferido. Que graça tinha dar uns tragos numa ervinha
enrolada num papel
fino escondido pelos becos do Paraíso, em volta da escola,
enquanto matávamos aula?
Só para ficar rindo à toa e falando merda, coisas sem nexo?
Queimei a língua assim que
queimei meu primeiro beck, logo que fiz 14 anos.
Nessa idade, por mais que a gente se ache adulto, no fundo não dá
para ter muita
convicção das coisas... Quando comecei a fumar, por exemplo, eu
não gostava do sabor,
da tontura que sentia, nem sabia tragar direito - e isso era a
morte para mim.
- Olha lá a Raquel, não sabe nem tragar.
Fazer papel de boba no meio da turma? Treinei muito até conseguir
esquecer o
gosto ruim e a tosse. Tudo para me encaixar no modelo, ser uma
igual aos meus amigos.
Igual? Amigos? Esses "amigos" se foram. Os vícios
ficaram. E não só esses. Com
bebidas foi mais ou menos a mesma coisa. Eu não gostava do sabor,
não via graça lquem
me viu e quem me vê...). Um dia, para mostrar que estava por
dentro, pedi para um cara
do colegial, mais velho comprar uma latinha de cerveja que
entornei de uma vez para não
ter de sentir muito o gosto. Pedi outra e mais outra, também
devidamente viradas em um
gole só. Depois da terceira, tudo estava girando. Entre a euforia
e o calor da bebedeira,
tinha o medo de que algum paisana, um daqueles seguranças do
colégio que ficavam
disfarçados rondando a vizinhança para pegar alunos fazendo
bobagens, me desse um
flagra.
Todo esse esforço para ser cool, fumar, beber e badalar começou a
se refletir nos meus
boletins que, quando eu não conseguia interceptar nas
correspondências com a ajuda do
porteiro do prédio, misteriosamente chegavam às mãos da minha mãe.
Lá estavam as
faltas que eu sempre tentava justificar dizendo que o professor
não ouvia minha voz
dizendo presente) e as notas a cada dia piores, mais difíceis de
explicar. Nada disso,
porém, me impediu de continuar mentindo e aprontando.
Para compensar a bandalheira, não podia dar bandeira com as notas
da escola.
Como cabulava todo dia, e não conseguia entender nada das matérias
pelos livros,
comecei a colar. Os exames das diversas séries, no Bandeirantes,
são impressos em
papéis coloridos. Simples: eu comprava papéis da mesma cor das
minhas provas e, em
casa, copiava neles a matéria que eu achava que cairia. A idéia
não era minha: vários
alunos do Bandeirantes faziam isso. Eu, para variar, só acompanhei
a massa. Quando o
professor não estava olhando, enfiava essa folha no meio da prova.
Perfeito!
A tática funcionou comigo até a última prova do ano, de História.
Só precisava de
um ponto para passar, mas caí em tentação. E também nas garras da
professora.
Expulsa da sala, no caminho para casa, andava meio atordoada,
assustada com o que
meu pai diria ou faria, e quase fui atropelada. Antes tivesse
sido. Enrolei muito para subir.
Toquei a campainha. Meu pai abriu a porta.
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- E aí, filha, como foi na prova?
Desandei a chorar. Para minha surpresa, ele me abraçou. Comecei a
chorar ainda
mais, agora de vergonha.
- Se souber, o senhor vai querer me matar.
Contei a verdade, esperando sentir sua mão me batendo. Nem sei por
que: ele
nunca havia encostado sequer um dedo em mim. Ele só quis saber o
que me levou a isso
e me fez prometer nunca mais colar. Essa não seria a única
surpresa, nem a única lição
que tirei daí. No dia em que minha mãe foi chamada ao colégio para
conversar com a
professora, esta disse que era normal os alunos colarem. E que
minha cola estava muito
grande.
Rindo, mostrou aquele papel enorme. "Você tem que aprender a
fazer umas menores."
Não acreditei: ganhei uma lição de "faça você mesmo".
Ela ainda me elogiou, disse que
me daria o tal ponto por eu ter sido uma aluna que não dava
problemas. Eu? Que aprontei
todas nas aulas dela - isso quando eu ia. A generosidade humana
tem caminhos
realmente muito estranhos.
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Já estávamos no quarto há quase meia hora. Apesar da rapidez,
tanto o primeiro
quanto o segundo tempo foram muito bons. Tínhamos mais meia hora,
mas o mocinho
não dava sinais de que chegaria a uma terceira gozada. Deitado ao
meu lado, os dois
nus, ele me pediu colo. Se aconchegou nos meus braços e lá ficou,
brincando com os
dedos nos meus seios, deslizando pela barriga e voltando. Foi ele
quem quebrou o
silêncio. "Eu tenho tesão pela minha própria mãe."
Gosto de conversar com meus clientes. Converso muito e eles acabam
se abrindo
comigo. Já ouvi cada coisa... É o meu lado psicóloga. Queria ser
psiquiatra, mas sei que
não conseguiria nunca entrar em medicina. A psicologia está ali,
bem pertinho. E é isso
que vou fazer, quando voltar a estudar. Material para estudo é que
não vai faltar. Bem,
não era esse o assunto. Eu já tinha lido Édipo, aquele livro que
fala do sujeito que sentia
atração pela mãe, a Jocasta. Porém, para mim, aquilo não passava
de uma ficção da
tragédia grega. Até aquela confissão à queima-roupa. Aquele cara,
com sua franqueza,
despertou minha curiosidade. Falamos muito sobre isso e ele me
contou que sua mãe
engravidou dele muito novinha, com 16 anos. Ele já devia ter uns
44 anos, pois, segundo
ele, a mãe estava com 60.
A atração vem da infância (olha que coisa freudiana!). Quando ele
era menininho, a mãe
ficava andando de calcinha e sutiã pela casa, bem à vontade. Essa
imagem ficou
impressa nele. Tomavam banho juntos e tudo. O desejo e a fantasia
o acompanharam a
vida toda. Mesmo hoje, na idade em que está, o cara é fissurado
por transar com ela.
Depois do programa, ele disse que me daria o quanto eu quisesse se
conseguisse fazer
com que ela fosse para a cama com ele. Dei corda na história e
pedi dez mil reais.
Confesso que o dinheiro era tentador, mas não tinha a menor idéia
de como convencê-la
a dormir com o filho. Ele me contou como imaginava que seria o
sexo, de como ele ia tirar
a roupa dela, cheirar sua calcinha, lambê-la inteira, as posições.
Mil fantasias. Que
continuam só na cabeça dele. Na lista de "desejos
inconfessáveis", os que mais mexem
comigo são os de pedofilia. Um dia, vou casar e ter meus filhos.
Tremo com essa
possibilidade. A primeira vez que um deles se abriu (e foram
muitos depois dele) eu tinha
18 anos e ainda não tinha colocado silicone (o que aconteceu
alguns meses depois do
meu aniversário. Foram 240 mililitros em cada seio, mais pelo
trabalho do que por mim
mesma. Nunca ouviu falar da "espanhola"? Vou falar disso
depois). Meu corpo, naquela
época, era bem de menininha. Parecia que eu ainda tinha 15 anos.
Isso, eu sabia,
deixava alguns clientes malucos. "Filhinha, vem com o titio,
deixa eu comer você. Mas
esse, no meio da conversa, depois do programa, se confessou
pedófilo. Me perguntou se
eu não conhecia alguma menina menor de idade, de 13 ou 14 anos no
máximo. E nisso
também ele não foi o único. Chegou a me contar como o desejo
despertava. Ele sente
tesão pela sobrinha de 5 anos. Foi contando e um filminho foi
passando pela minha
cabeça. Ele coloca a menina no colo dele, um carinho normal entre
tio e sobrinha. E o
pênis dele fica duro na hora. A criança não percebe nada, não tem
como saber, não
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entende o que está acontecendo. Ele tentou tocá-la, passar suas
mãos nela enquanto
dormia, mas a menina acordou. Não julgo ninguém, nem suas
fantasias. Quem sou eu?
Mas me dou o direito, sim, de ficar assustada e de ter os meus
limites.
Minha vontade de descobrir tudo sobre a vida parecia não ter fim
quando fiz 14
anos. Claro, sobravam dúvidas. Uma delas dizia respeito à minha
sexualidade. Já havia
dado muito prazer aos garotos que masturbei nas baladas, já havia
segurado muitos p...
duros, mas não sabia se aquele era o limite do prazer. Tinha
curiosidade de saber como
era ter contato com o corpo de outra mulher. E muito medo também.
E se fosse lésbica?
Naquela fase da vida, só existem duas cores: o preto e o branco.
Se não sou preto, só
posso ser branco. Mas procurava não pensar muito nisso.
Um dia, na escola, o garoto que sentava na minha frente levou uma
Playboy. Ele
começou a olhar a revista no meio da aula, e eu de papagaio de
pirata, superantenada no
que via. Nunca tinha visto revistas de mulheres nuas. Essas coisas
não entravam na
minha casa. Imagine a vergonha de comprar uma na banca. Pedi para
ver. Ele me
emprestou e eu adorei. Na hora do intervalo, não tive dúvidas:
roubei a Playboy do
menino, enfiei na mochila e levei para casa. Eu já tinha me
masturbado vendo a G
Magazine - tinha comprado montes delas. Mas nunca tinha gozado
vendo aqueles caras
de pau duro. Quem sabe se, olhando para as mulheres, eu finalmente
gozaria. Bingo!
Depois dessa conquista, a do orgasmo vendo fotos de mulheres, a
curiosidade tinha de
sair do papel e ir para a realidade.
Fui a uma festa de debutantes com uma amiga – super amiga - e
combinei de
dormir na caso dela depois. Bebemos champanhe até não poder mais,
ficamos bem
alegrinhas. Em casa, ela resolveu tomar banho.
- Pô, você tá demorando aí dentro.
- Não tô te ouvindo - Entrei no banheiro para brigar com ela.
- Eu também quero tomar banho
- Entra aqui no box, então - ela respondeu, na boa, sem malícia.
Aí eu entrei...lembro a sensação de prazer e torpor de estar ali,
frente a frente com
outra menina, nua, tomando banho diante de mim.
- O que foi?
- Nada.
O tesão foi tomando conta, mas não dei o primeiro passo. Apesar
daquela
confusão toda dentro de mim, do desejo, da vontade, da
disponibilidade, do medo, achei
tudo estranho. Eu só olhava. Isso passou, porém, assim que ela
tomou a iniciativa.
Debaixo do chuveiro quente, o banheiro esfumaçado, nós duas ali,
molhadas, em silêncio,
e as mãos dela passeando delicadamente por mim, pelo meu corpo. A
cada toque, me
deixava levar. Retribuia. Recebia de volta. Um corpo igual ao meu.
Um sexo igual ao meu.
Feminino, arredondado, suave. Ficamos naquela noite e foi muito
bom.
Nunca mais isso se repetiu com ela. Ambas ficamos envergonhadas.
Também
nunca falamos a respeito daquela noite. E a amizade esfriou. Como
posso contar ou ouvir
coisas de uma amiga com quem já fui para a cama? Voltamos a nos
reencontrar, algum
tempo depois; nos reaproximamos, mas a amizade nunca mais foi
igual. Acho que não
deveríamos ter ficado naquela noite. Preferia ter minha amiga de
volta, por melhor que
tenha sido a experiência.
Um dia, pintaram dois clientes juntos.
- Vocês querem ir um de cada vez?
- Queremos ao mesmo tempo.
- Uau! Será que eu agüento?
Nunca tinha feito dupla penetração (a tal DP). Dizem que a
curiosidade matou o
gato. No meu caso, o gato (ou a gata) tem sete vidas e continua
vivinho.
- Vamos nessa!
No início, nem sabia para quem eu dava mais atenção. Comecei
chupando um,
quando o outro veio e se ajoelhou ao lado do amigo e eu passei a
fazer rodízio de picolé.
Beijava um, depois o outro. Fiquei pensando se ia rolar alguma
coisa entre eles, como
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costuma rolar entre as mulheres num ménage. Mas saquei que entre
eles não haveria
contato nenhum. Só as cabeças dos p... encostavam uma na outra, e
mesmo assim
quando eu juntava e tentava chupar os dois ao mesmo tempo. Missão
difícil.., embora não
impossível.
Estar com dois homens à minha disposição me deu uma incrível
sensação de
poder. Um deles se deitou e eu comecei a chupá-lo de quatro. O
outro veio por trás e
cravou na minha boceta. Depois de ficarmos um tempão engatados
nessa posição, o que
me comia por trás resolveu colocar no cu, o que eu chupava
escorregou por baixo de mim
e, com muito jeito, penetrou minha boceta. Senti os dois paus
brigando dentro de mim. E
olha que não eram dos pequenos.
- Tá sentindo a luta de espadas dentro de você?
- E que luta...
Tudo bem que os movimentos ficam mais contidos. Melhor ainda: dá
para fazer
tudo num ritmo diferente. E descobri que adoro DP. O que estava no
anal gozou primeiro
e saiu do quarto. Rolou um tempão ainda comigo cavalgando o outro,
até ele gozar. Só
depois que terminou é que vi que a gozada do primeiro tinha
escorrido para o lençol. Ai,
que saco...
A rotina das garotas de programa tem um lado bem pouco glamouroso.
Eu dividia
meu quarto ajeitado, mas simples, com as camas, armário grande,
espelhos e uns
quadros impessoais na parede, parecidos com os de hotel, com
outras quatro garotas.
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Nada que lembre o que se vê no cinema, por exemplo, com
penteadeira de puta cheia de
badulaques. Como também era lá que trabalhávamos, tínhamos de
cuidar da limpeza
geral. Nos revezávamos na varrição, na hora de tirar o pó. Nem
todas curtiam o trabalho,
mas ficar num lugar sujo não rola... Lavar a roupa de cama e a
toalha dos clientes era
tarefa da lavanderia. Mas são as garotas que trocam. Senão, dá
nojo. Só que
(segredo) não é uma roupa de cama para cada cliente. Tem vezes que
é a mesma o dia
todo, onde vários homens já se deitaram. Dá uma esticadinha e
pronto. Eu vivia pedindo à
gerência para poder trocar. Como não tinham tantos lençóis assim,
e não dava para
gastar tanto com lavanderia, a gerente ficava brava e dizia não.
Às vezes eu sujava o
lençol de propósito com gel só para não ter jeito. Ela brigava
comigo, claro. Mas eu não
estava nem aí. Nessas ocasiões, precisava mesmo trocar.
A primeira vez que mudei de casa foi sete meses depois de começar
a trabalhar,
mais ou menos. Na verdade, a cafetina da Franca me expulsou, junto
com mais duas
meninas, porque alguém dedurou que fumávamos maconha escondidas.
Apesar de ter
conhecido meninas bacanas, com histórias bem parecidas, rola muita
inveja. Afinal, uma
garota é concorrente da outra. Por isso, nunca quis ir trabalhar
em casas como o Café
Photo ou o Bahamas. Imagina: se já rola isso entre dez, no privê,
o que não deve rolar
com cem? Também não curto ter de ficar xavecando cliente para ele
fazer programa
comigo: ou ele me quer, vem e transa, ou estou fora. Como nessa
profissão o que vale é
seu corpo, também tem aquela de a garota ficar botando defeito na
outra. E não é fácil
fazer amizade de verdade nesse meio. Nunca trabalhei em empresa,
mas acho que deve
ser igual... Quando você é escolhida pelo cliente então, tem de
sair da sala de costas,
porque, nessa hora, abrem a tampa do serpentário. Numa dessas, uma
inimiga oculta
resolveu dar com a língua nos dentes com a história do beck só
para me foder. Deu certo.
Acabei indo parar numa casa amarela, na alameda Jurupis, bem perto
do shopping
Ibirapuera. Tinha de continuar a viver. E a trabalhar. Por ironia
do destino, isso durou
poucos meses. A Mari me ligou um dia dizendo que tinha muitos
clientes indo embora da
Franca sem fazer programa por não me encontrar mais lá. Resultado:
a cafetina, Larissa,
teve que engolir um pouco o orgulho e me chamar de volta. Gostava
da casa e voltei, mas
só para trabalhar, já que eu tinha alugado um flat para mim, na
Miruna, em Moema.
Apesar de ter torrado muita grana com bebida, maconha e cocaína,
eu tinha
juntado um dinheirinho lá na Franca, antes de me expulsarem. Como
não conseguia abrir
conta em banco nenhum (tente fazer isso com 18 anos, sendo garota
de programa, sem
profissão reconhecida e sem endereço fixo, a não ser o do privê),
ficava andando com o
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dinheiro dentro de um saquinho, na maior insegurança. Aluguei o
flat mais para ter onde
esconder as minhas economias - e dormia lá porque "já tava
pago mesmo".
A volta para a Franca não foi o que eu esperava. As meninas que eu
conhecia não
estavam mais lá e tudo ficou muito estranho. Precisava de ação, de
novidade, de um
horizonte. Também estava deprimida, sem rumo e queria muito parar
com o pó. Sabia
que se não desse uma virada na minha história, ia me perder total,
sem objetivo, só
trepando o dia todo para cheirar e fumar tudo depois do
expediente. Enfim: a imagem da
puta sem esperança, que vira bagaça e acaba sozinha fazendo ponto
numa calçada ou
pendurada numa janela de um casarão velho. Pensava só em juntar
dinheiro para poder
ser mais dona do meu nariz, sem ficar sustentando cafetão. Então,
teria que trabalhar
mais. Uma menina, que morava no mesmo flat que eu, me falou do
"Vintão". Ganha um
doce quem adivinhar por que esse nome. Fiquei muito curiosa para
saber como uma
menina podia se vender por 20 reais.
Se o negócio era quantidade e alto giro de capital, lá vamos nós.
Ela me levou até
esse lugar, no Campo Belo. Negócio de alta rotatividade, muitos
quartinhos individuais,
luxo zero - idem de higiene. Bagaceira, pulgueiro, pocilga mesmo.
Imaginem que o quarto
é tão pequeno que só cabem uma cadeira fuleira e um colchão de
solteiro no chão, com
um lençol podre por cima (que só é trocado uma vez por dia). A
trepada é rapidinha, 10
ou 15 minutos: programas expressos, dez reais para a o cafetão,
dez reais para a garota.
Queria muito ver a cara dos clientes. Tinha de tudo ali: gari,
faxineiro, os caras que
ganham salário mínimo. Caras a fim de uma gozada, nada mais. Mas,
surpresa: tinha
boyzinho e cara bem de vida, também. Peguei um engenheiro
quarentão e que transava
forte, me pegava de Jeito. Curiosa, não me contive.
- Por que você vem aqui se pode ir a um lugar melhor?
- Prefiro sair todo dia a fazer um programão num dia só. Por isso
venho aqui todos
os dias.
Passei a admirar mais as pessoas práticas depois que ouvi essa
resposta. Foram
dois dias apenas de "Vintão". Embora dois dias bem
didáticos, confesso. A grande
queimada de filme da minha vida no Bandeirantes aconteceu em
outubro de 1999. Eu
tinha 15 anos. Dessa vez, não deu para reverter. Nem tinha como.
Eu morria de tesão por
um garoto da minha classe. Bonito, loiro, branquinho, parecia um
anjo, de olhos bem
azuis. Mas seu jeito, metido e meio cafajeste, estragava tudo. Até
o dia em que ele
começou a dar em cima de mim.
Numa aula no laboratório de física, a professora apagou a luz
durante uma
experiência. Estávamos todos de pé, ao redor do experimento. Ele ficou
colado em mim.
De repente, bem de mansinho, pegou minha mão. Com o coração
disparado, deixei. Ele
foi me guiando. Levou minha mão até o seu pênis. Segurei por cima
da calça. Ele já
estava duro. Achei que todo mundo estivesse escutando meu coração
bater
alucinadamente O medo falou mais alto e eu tirei a mão. Ele não
desistiu.
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Veio para trás
de mim e ficou me encoxando ali, no meio de todo mundo. Não
resisti: ele estava dando
em cima de mim! Da Raquel, a gordinha! Eu estava toda molhada,
excitada e assustada.
Não sei quanto tempo ficamos assim, com ele encostando seu pau
duro em mim por trás,
me provocando, acendendo meu tesão. Como era a última aula daquela
tarde, e já estava
ficando escuro, ele se ofereceu para me acompanhar no trajeto para
casa. Na verdade,
queria me convencer a ir para algum lugar e fazer o que não
tínhamos conseguido
terminar durante a aula.
- já está tarde, minha mãe vai me dar bronca.
- Diz que foi estudar anatomia com um colega
- Vamos deixar para outro dia - Fiz um pouco de doce. Até que ele
me dobrou.
- Pô, você não vai me deixar assim, na mão, vai? Eu sei que você
também quer.
Paramos junto ao muro de uma escola que ficava na rua de trás da
minha casa. Na
hora, não deixei que ele me beijasse, mas acabei batendo uma para
ele ali, no meio da
rua deserta, mesmo sem vontade. No dia seguinte, na aula, ele
continuou insistindo,
mandou bilhetinhos e eu não resisti mais. Tinha chegado a minha
hora. Depois da aula,
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uma nova aventura. No caminho, ele parou para comprar camisinhas.
Entrei em pânico,
como em tantas outras "quase" vezes em que transei. Não
queria que minha primeira vez
fosse assim. Nem que ele percebesse que eu ainda era virgem.
Paramos em uma rua
sem saída.
- Não vai rolar
- Qual é?
- Eu fiquei de sair com minha mãe.
- Nada disso, a gente chegou até aqui e não vai ficar por isso
mesmo - Quis
novamente ir embora, mas ele não deixou.
-Daqui você não escapa sem ao menos fazer um boquete pra mim
Não tinha mais saída. Só sairia de lá se fizesse um oral nele.
Também não poderia
dizer que não sabia fazer isso. E a vergonha? Nunca tinha colocado
um pau na minha
boca, não tinha a menor idéia de como fazer aquilo. Me imaginei
chupando um picolé. Eu
agachada no chão, ele encostado na parede, com as calças arriadas,
agarrando meus
cabelos, sincronizando o vaivém. Não curti essa de ficar
empurrando minha cabeça. Eu
segurava seu pau pela base, junto do saco. Se deixasse, ele ia
enfiar tudo para dentro.
Estava com medo de engasgar, mas muito excitada. Pela situação,
pelo gosto do garoto,
pelo cheiro dele, pelo ato em si, pelo medo de ser flagrada.
Não demorou muito, ele começou a gemer de verdade, arfando,
empurrando seu
pau com força entre meus lábios. Então, com um empurrão mais
forte, veio aquele gosto
estranho, direto na minha garganta. Ele gozou dentro da minha
boca. Só não tive
coragem de engolir. Não sei se é verdade, mas ele me disse que
aquela tinha sido a
melhor chupada da vida dele. Bem, estreei com elogios da
crítica... Só sei que ele
realmente gemeu gostoso.
Só me faltou, mais uma vez, coragem para dizer que aquela tinha
sido minha
primeira vez. Prometemos que aquilo morreria ali, entre nós. Muito
boba, eu mesma
quebrei a promessa: contei para uma "amiga", que
idolatrava o cara. Ele, pelo visto,
também não manteve a boca fechada. A fofoca correu a série toda em
poucos dias.
Ninguém veio me perguntar se era verdade, ouvir o meu lado da
história. Só ouvia as
risadinhas e sentia os olhares na minha direção. Alguns de
malícia. Outros, de nojo.
Como num passe de mágica, sumiu todo mundo. Nem as minhas
"amigas" ficaram
a meu lado. Fiquei absolutamente sozinha. Era a vergonha de serem
vistos comigo. Uma
menina veio me perguntar quanto eu cobrava. Disse que nada. Não
devia ter feito isso.
Me senti injustiçada. Até mesmo aquelas que já não eram mais
virgens ajudaram a criar e
espalhar minha fama de puta pelo colégio. Mas segurei minha barra.
Ia à escola
normalmente e, mesmo sozinha e machucada, derramei poucas lágrimas
por causa disso,
apesar de estar sofrendo de verdade com a situação. Eu só tinha 15
anos! Até o dia em
que, não agüentando mais hipocrisia, disse:
- Fiz, gostei e faria de novo.
Serviu para calar algumas bocas. Eu sei que não cometi nenhum
crime. Então
caiu outra ficha: o que o garoto tinha contado? Homem tem essa
mania idiota e infantil de
aumentar tudo, de contar vantagem. Nunca soube se isso aconteceu,
já que ninguém
falava comigo. Nem ele. Mas acho que ele se vangloriou, sim, de
ter "transado" comigo. A
história, claro, foi parar na diretoria. Neguei tudo e negaria até
a morte. Nesse dia,
desabei. Cheguei em casa chorando e contei tudo para minha mãe.
Bem, nem tudo.
Disse que havia saído da escola para beijar um garoto e que
ficaram inventando que eu
tinha transado com ele, que tinha feito sexo oral nele. Era o fim
da oitava série e minha
mãe achou melhor me mudar de colégio. Não sei se ela acreditou em
mim. Ou
simplesmente fingiu, como eu. O Bandeirantes viraria história.
Isso se um menino de lá
não tivesse também mudado para o Maria Imaculada e caído na mesma
classe que eu.
História devidamente espalhada, Raquel mais uma vez marginalizada.
Quer saber?
Fodam-se!
A experiência do "Vintão" tinha sido muito interessante,
de verdade. Embora não
fosse para mim. Eu trabalho com meu corpo e, claro, fico cansada.
Sem querer brincar
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com trocadilhos, essa "vida fácil" não é mole, não.
Fazer dez programas por dia beira a
insanidade. Fica tudo dolorido. O negócio era experimentar outro
privê, tomar fôlego e
começar novamente. Mas com outra cabeça. Fui parar numa casa da
rua Michigan, no
Brooklin. Hoje sei por que tinha de passar por lá: foi onde ganhei
o meu "sobrenome".
Sempre gostei muito de mar. Uma de minhas duas irmãs tinha uma
casa no Guarujá e eu
sempre descia. Saudades... No mar, tive meus únicos momentos
sozinha, sem ninguém
por perto. Cheguei a surfar até de prancha nos points de lá. Mas
ninguém sabia disso.
Havia duas "Brunas" trabalhando na casa. Um cliente
escolheu a Bruna e a gerente levou
a outra para ele:
- Não é essa, quero a surfistinha. Gostei do cara. Foi um programa
em que rolou
química e afinidade.
- Por que você me chamou de surfistinha?
- Você tem estilo.
- Taí, gostei!
Quando saí dessa casa e comecei a trabalhar em flat, tinha de
arrumar um
sobrenome que combinasse comigo. Lembrei da história e não tive
dúvidas: eu seria a
Bruna Surfistinha. Já falei que uma das coisas que mais me
irritavam nos privês era a
história das roupas. Bem, lá vai mais uma história de bastidores.
Na Michigan, era o
pessoal da própria casa que lavava as roupas de banho (as de cama
iam para a
lavanderia). Tinham umas quatro máquinas de lavar e um monte de
varal para secar. Só
que, na chegada do inverno, quando surgem mais clientes, não fazia
sol e as benditas
não secavam de jeito nenhum. Na sala onde as garotas ficavam
aguardando tinha um
aquecedor. A gente descia do programa com a toalha, a gerente
colocava na frente do
aquecedor, deixava secar um pouquinho, dava uma olhada para ver se
não tinha
nenhuma manchinha e embrulhava de novo. Lavou, tá novo, não? E
vários homens se
enxugavam com a mesma toalha. Coisa feia.
Toda essa confusão, a descoberta do desejo, as fofocas, a perda
dos amigos, o
fato de eu ter sido sempre gordinha, tudo me levou a um lance
doloroso. Eu fiquei com
depressão, tomava Prozac e tudo. Uma neura de engordar de novo, no
meio disso tudo,
me levou à bulimia. Enchia a cara com doces e depois, na maior,
enfiava os dedos na
garganta e virou uma compulsão. Eu tinha fome, comia muito, acho
que devido ao
remédio e à ansiedade, para em seguida sair correndo da mesa e
colocar tudo para fora.
Quando voltava da escola, passava por uma loja e comprava, todo
santo dia, vinte reais
em doces e chocolates.
Praticamente engolia tudo de uma vez, só para sentir o gosto, e,
dois minutos
depois, dava um jeito de tirar aquilo de mim. Minha mãe sacou, até
pelo barulho da
descarga depois de cada refeição e de cada escapada. Para
disfarçar, comecei a vomitar
em um jornal, só para não precisar dar a descarga. Sei lá por que
veio essa maldita
depressão. Quer dizer, até sei: me achava gorda, feia, era adotada,
tinha um monte de
problemas com meu pai. Quando cheguei aos 16 anos, depois da
cagada no
Bandeirantes e de a história ter me perseguido também no
Imaculada, me vi, não
bastasse tudo isso, sem amigos. A situação chegou em um ponto do
qual não via saída.
Planejei me matar. Tinha de ser algo rápido, que não me fizesse
sentir dor ou correr o
risco de continuar viva, mas tetraplégica, por exemplo. Um
revólver seria o ideal. Meu pai
tinha um em casa. Legalizado, claro. Não que ele alguma vez
tivesse usado; isso veio do
tempo em que morávamos na chácara. Eu sabia onde ele guardava a
arma.
Um dia, sozinha em casa, estava mesmo no fundo do poço. Peguei a
arma onde
meu pai a escondia e, mesmo trêmula, levei o cano à boca. Estranho
segurar uma arma.
Ela é fria, seu peso não combina com seu tamanho. Parecia que eu
tinha nas mãos algo
de outro planeta, local que bem poderia ser meu destino final após
experimentar o
primeiro e último tiro que daria na vida. Fechei os olhos e, com o
dedão, me preparei para
pressionar o gatilho. Tinha uma pressão absurda dentro de mim, da
minha cabeça, dentro
do meu peito. Contei até três e aquela merda estava sem balas.
Mesmo assim, recobrei a
vontade de ir até o final. Revirei tudo e achei um saquinho onde
meu pai guardava as
18
balas. Não sei o que deu em mim, mas não consegui colocar nenhuma
bala no revólver.
Achei melhor desistir. Por enquanto.
Passou uma semana e eu continuava péssima. Tomava Prozac para
ficar
acordada e outra droga para dormir. Acho que nenhuma teve o efeito
esperado, pois
passei cada noite desses sete dias repassando minha vida a limpo,
vendo quanta coisa
eu tinha que resolver. E resolvi tentar de novo. Esperei todos
irem dormir, coloquei uma
cadeira junto à janela da sala, que era a única que não tinha
tela, e concluí que cair do
nono andar seria fatal, como eu pretendia. Subi, coloquei uma
perna para fora da janela e,
com metade do corpo para dentro e outra para o nada, fiquei
pensando nas coisas ruins
da minha existência. Isso me daria a força necessária para dar o
salto. Não consegui
pensar em nada que fosse tão ruim assim a ponto de me fazer tomar
impulso. Só vieram
coisas boas a minha mente: meus sonhos, a vontade de fazer as
pazes com meus pais. A
coragem, que já não era muita, se mandou pela janela antes de mim.
Nunca mais tentei. Queria viver. Então, tinha de fazer algo por
mim. Eu já tinha
namorado dois garotos, um do Bandeirantes e outro do colégio Maria
Imaculada, sem
nunca ter passado com eles o limite de uns bons amassos, pegação e
um ou outro oral.
Vão achar que estou mentindo, mas eu ainda era tecnicamente virgem
aos 17 anos! Ou
seja: nenhum menino havia enfiado seu pau em mim. O que, também
tecnicamente,
qualifica uma garota a ser ou não virgem. Sinceramente, não teria
motivo nenhum para
mentir sobre isso agora. Como minha mãe fazia marcação cerrada, e
eu não queria que
minha primeira vez fosse encostada no muro de uma rua escura, ou
numa pista de dança,
ficava difícil atender a todos os requisitos. Claro, eu também
tinha de estar realmente
apaixonada. Sonhava em arrumar um namorado para ir morar com ele,
não importava a
idade que eu tivesse.
O terceiro namorado da minha vida eu arrumei pela internet. Lá em
casa, meu pai
e eu tínhamos, cada um, o seu próprio computador, o que garantia
certa privacidade,
mesmo que no mundo virtual. Sempre fui maluca pela internet e
passava horas
navegando, escrevendo coisas e, claro, paquerando no virtual. Até
que me apaixonei por
um garoto pela tela do computador. Sério. Marcamos encontro e
tudo. No cara a cara,
achei ele horrível. Se não fosse a paixão. Começamos a namorar de
verdade. Em casa,
sofremos muito preconceito, pois ele era motoboy. A fílhinha de
papai, classe média,
namorando um cara assim Meu pai não aceitou, de jeito nenhum.
- Não quero você namorando um pobre, um motoboy. Imagina você
casando com
um tipo assim, que não vai poder te sustentar; você vai ter que
trabalhar.
Para ele, família era como a dele: minha mãe nunca trabalhou,
apesar de ser
formada em Letras e ter sido professora, por algum tempo, em Sorocaba,
antes de se
casar com meu pai. Coitada, que tédio: ver tv o dia todo, cuidar
da casa, das filhas, falar
bobagens ao telefone. A paixão é cega, surda e descerebrada. Muda,
nunca. Brigava com
meus pais todos os dias. Acho que foi por causa disso que armei
até não poder mais para
acabar de vez com minha virgindade. Imagina o malabarismo. Meus
pais tinham ido viajar
e minhas irmãs não moravam mais conosco. Minha mãe, quando estava
fora, sempre
pedia para a empregada dormir lá em casa - na sala, para ser mais
específica. Ela
sempre dormia cedo, o que era um facilitador. Planejei tudo. Meu
namorado chegou no
prédio e me ligou pelo celular. Sem levantar suspeitas, disse que
ia no apartamento de
uma amiga. Desci, encontrei com ele e subimos juntos pelo elevador
de serviço, para
evitar ter de interfonar. No meu andar, ele ficou escondido na
escada. Muito excitante,
mesmo. Parecia coisa de filme.
Meu coração disparava sem motivo nenhum; morria de medo de alguma
coisa não
dar certo. Pedi um delivery de jantar. Assim que a comida chegou,
pedi para a empregada
descer para pegar. Era o tempo de ele entrar furtivamente em casa
pela porta da cozinha
e ir se esconder no armário embutido do meu quarto, enquanto eu
disfarçava um pouco
na sala. Peguei a comida, deixei a parte da empregada para ela
comer sozinha e fui me
trancar no quarto. Ele saiu do armário (no bom sentido), jantou
comigo e esperamos até
ouvir o ronco da empregada. De barriga cheia, ela logo dormia.
Saímos do meu quarto,
19
com todo cuidado para não acordá-la, e fomos para o quarto dos
meus pais. Claro: tinha
de ser em cama de casal... A transa não deu muito certo nas
primeiras duas noites (das
cinco) em que repetimos esse esquema. Só na terceira é que tive
coragem de transar. Foi
uma loucura, muito ruim, pois foi planejado. Foi algo bem
mecânico. Eu senti o hímen se
romper e ficou por isso mesmo. No fim das contas, só perdi a
virgindade. Não, aquilo não
foi sexo. Doeu muito, eu nem podia gritar ou fazer barulho. Levou
um tempo até eu
transar de verdade. Valeu a pena? Sim. Eu imaginava que virar a
"mulher" de alguém, por
inteiro, seria mais uma razão para eu decidir, finalmente, sair de
casa para morar com ele.
Mas percebi que não precisava casar com ninguém para fazer isso. E
tinha de ser rápido.
Meus seios eram pequenos, proporcionais ao meu corpo. Eu estava
contente com
eles, mas não era hora de pensar em mim. Lá fui eu, com minhas
economias, turbinar os
peitinhos. E não foram só os seios que aumentaram: entrou outro
"prato" no cardápio da
Bruna Surfistinha: oral, vaginal, anal e... espanhola! Se ainda
não adivinhou o que é, eu
conto. Eu aperto os dois seios e, naquele apertadinho macio, faço
um "genérico" de
boceta Para mim, no começo era engraçado, pois parecia que eu
estava vendo a transa
como se estivesse dentro da vagina, com a cabeça do pau aparecendo
e desaparecendo,
bem perto da minha boca. Com os mais bem-dotados, dá até para
emendar um "dois em
um", com umas lambidas na cabecinha quando ela chega perto.
Já tive clientes que só
conseguiam gozar assim.
Estava trabalhando como garota de programa há quase um ano quando
pintou
meu primeiro casal (de uma longa série) lá na Michigan. Quer
dizer, a primeira dupla.
Ambos eram casados, sim - mas não um com o outro. Eles chegaram e
eu, curiosa, fui
medindo a mulher. Confesso que fiquei muito excitada. Chupar outra
garota enquanto o
cara chupa você é uma sensação indescritível. Nem preciso fazer
força para gozar de
verdade. Ela retribuiu a gentileza e me chupou com gosto. Enquanto
ela ficava com a
língua na minha boceta, eu engolia o pau dele. Adorei ser o centro
das atenções deles.
Enquanto ele me comia, deitado, ela se oferecia toda pra mim,
lambia meus seios, me
dava um banho de língua com ele engatado em mim. Nos beijamos, nos
esfregamos nos
chupamos. Se não fosse por mim, o coitado teria de ficar batendo
punheta. Gozei umas
duas vezes.
Essa foi a primeira vez que transamos, e estranhei ela ter ficado
muito mais
interessada em mim do que nele. Nada contra, mas não me pareceu
natural. Se eu não
desse um pouco de atenção ao rapaz, seria como se ele não
estivesse lá. Saquei que ela
tinha nojo dele, escapando a cada investida, a cada toque, a cada
tentativa de beijar,
chupar. Enquanto ele tomava banho, nós duas começamos a conversar.
Eles eram
amantes há algum tempo, mas o interesse dela era pelo dinheiro
dele, e não pelo prazer
que o fato de serem amantes poderia proporcionar. O marido dela
não tinha condições de
dar nem metade do que o amante dava para ela. Carro do ano, jóias,
enfim, presentes de
amante mesmo.
Eles só podiam se encontrar uma vez por semana, durante duas
horas. Para se
livrar do fardo de fazer sexo com ele, ela passou a exigir outra
mulher na cama com eles.
Inventou que gostava (mas parecia gostar, mesmo), só para fazer o
tempo correr mais
rápido quando houvesse esses tais encontros. Não sei se ela
inventou isso para dar uma
desculpa, embora fizesse sentido, pelo que vi. Essa mulher era uma
exceção, com
certeza. Depois que sair com casais virou rotina, e me iniciou no
interessante mundo dos
clubes de swing, consegui chegar a uma conclusão sobre a alma
feminina: elas gostam
de estar com outra mulher. Esse papo de "realizar a fantasia
do marido" é para a minoria.
É a desculpa útil. Mulher é mais tímida, reservada, tem medo dos
tabus. É claro que há
casais em que se torna evidente o marido ter forçado a barra,
obrigado a mulher a sair
com outra. Estas chegam com medo, travadas, não sabem o que fazer.
Foi meio constrangedora uma ocasião em que a mulher chegou a
chorar na minha
frente pelo ciúmes de ver o marido comigo. Mas tem as outras, que
até incentivam. Essas
juram que, se fizerem isso, os maridos não terão necessidade de
traí-las, pois estarão
sempre juntos nas aventuras sexuais. Se elas soubessem quantos
deles voltaram
20
sozinhos depois. Sem falar nos que tinham vindo antes. Já ouvi
muito "quando ela vier
aqui, você finge que nunca me viu na vida, hein?". Sinto pena
delas. Estão sendo
enganadas e não sabem. Ou fingem não saber, não perceber, sei lá.
Nunca vou ter essa
ilusão de ser liberal para evitar a traição. Não existe essa de
satisfação total nem garantia
de nada.
Engraçado, são tantas as razões de cada uma dessas mulheres para
chegar a
dividir sua cama e seu marido com mais alguém: medo, prazer,
ciúmes, curiosidade,
insegurança, fantasia. Mas, no fundo, acredito que toda mulher
goste mesmo de mulher.
Se homem gosta de homem eu já não sei, pois quando rola de estar
com dois ao mesmo
tempo, mesmo nas "festinhas" com direito a DP e tudo,
nunca vi nada entre eles (o que é
uma pena). Se fazem quando estão sozinhos, já é outro
departamento... Já vivi a
intimidade do sexo com muita gente, homens e mulheres, e sei do
que estou falando. Vou
dar uma excelente psicóloga, pode escrever. A história do namorado
motoboy, as
mentiras que eu contava só para conseguir o que eu queria, as
aprontadas e minhas
notas no colégio, tudo isso só ajudou a azedar minha relação com
meu pai.
_________________________________________2
Ele ainda
tentou dar um jeito: levei bomba no primeiro colegial e, quando
passei para o segundo,
me mandou para o São Luís para ver se um novo ambiente ajudaria.
Não adiantou nada:
eu continuava sem o menor saco para estudar.
Eu e meu pai tínhamos brigas terríveis, mas ele nunca havia me
batido, por mais
que eu temesse o contrário No fundo, sempre achei que merecia. Por
isso, vou revelar a
verdadeira história de por que eu apanhei do meu pai pela primeira
vez. Nunca contei isso
a ninguém por absoluta vergonha mesmo. Eu roubava. Não, não sou
ladra profissional.
Começou quando eu tinha uns oito anos e a gente morava em
Araçoiaba. Lá, tinha uma
quitanda com um baleiro sobre o balcão. Como tinha só uma
atendente, que estava
ocupada com minha mãe, era muito fácil pegar as balas escondido e
igualmente
escondida eu as saboreava. Sabia que bastava pedir que minha mãe
compraria quantas
eu quisesse. Mas o barato era a adrenalina, o medo do proibido e o
risco de ser
apanhada. Só uma vez eu me descuidei e minha mãe perguntou de onde
vinham aquelas
balas. Menti: "Ganhei na escola". Passou pouco tempo até
eu descobrir outras facetas
dessa vontade incontrolável: os doces não eram suficientes e eu me
descobri compulsiva
por dinheiro. É isso mesmo: o dinheiro sempre me dominou.
Imagine: eu, com oito anos, pegando dinheiro dos meus pais! Como
meu pai quase
não podia sair, por causa da doença, sempre havia dinheiro na
casa. Naquela época, nem
era real ainda. Não tinha a menor idéia do valor do dinheiro, mas
já sabia que pedir (no
que certamente seria atendida) era menos excitante do que pegar.
Comecei pegando
algumas notas, de vez em quando, daquele bolinho que ele sempre
guardava. Então, ia
até uma loja e perguntava à vendedora o que dava para comprar.
Mesmo assim, continuei
pegando coisas em outros lugares. Principalmente doces. Tínhamos
um motorista só para
me levar e buscar na escola, que era em Sorocaba, já que meu pai
não podia me levar e
minha mãe não gostava de dirigir até lá. No caminho, sempre pedia
para ele parar na
Real, uma padaria maravilhosa da cidade, inventando que minha mãe
havia pedido para
eu comprar alguma coisa. Eu tinha o dinheiro na minha bolsinha e
nem estava tanto
assim com vontade de comer doces ou chocolate. Fiz isso durante
muito tempo, até que
um dia não sei por que, minha mãe resolveu me levar à escola
naquele dia. Ela parou na
tal padaria e me pediu para ir até lá comprar alguma coisa. Na
volta, veio com um papo
muito estranho: tinha visto uma menina sendo levada aos safanões
pelo segurança da
loja até o escritório. E ficou dizendo que a garota havia sido
apanhada pelas câmeras de
segurança furtando coisas da padaria. Eu nem sonhava que existisse
isso nas lojas. Até
hoje não sei se ela sabia de alguma coisa (era bem provável, já
que todo mundo ali
conhecia minha mãe e devem ter dado um toque) e escolheu esse
caminho para me dar
um susto, ou se a história era mesmo verdadeira. Só sei que parei
de pegar fora de casa.
Só fora de casa. Lá dentro, era sempre em cash.
Todos os dias, quando a gente já havia voltado para São Paulo, eu
pegava ao
menos cinqüenta reais. O que valia era a sensação do proibido, até
porque eu ganhava
21
mesada deles e, se precisasse de mais, bastava pedir. Eu fiquei
tão fissurada nesse
negócio que não deixava passar um dia sequer sem pegar dinheiro.
Minha mãe me
flagrou duas vezes, e o seu perdão (pedido aos prantos, com
lágrimas e vergonha
verdadeiras) parecia um green card para eu continuar fazendo. Ela
até chegava a
comentar com meu pai, na minha frente, que estava sumindo dinheiro
da carteira dela -
acho que na esperança de que eu me tocasse e parasse com aquilo.
Doce ilusão.
Comecei a pegar no colégio, também. Eram só dez reais aqui e
acolá, nada grandioso.
Ninguém levava mais do que isso para a aula. Eu esperava o pessoal
sair para o recreio,
voltava para a sala e vasculhava as bolsas. Até o dia em que uma
menina da classe
deixou trinta reais em cima da carteira e eu nem pisquei: fui lá e
peguei na caradura. Deu
diretoria... Alguém me viu voltando para a sala no intervalo e
dedurou.
Quando a diretora perguntou, não procurei mentir e assumi:
"Fui eu mesma". Ela
me perguntou se eu estava usando drogas. Seria bobagem admitir
isso, já que eu não
gastava tudo o que pegava com erva. Resolvi mentir. O castigo
seria devolver o dinheiro.
Adivinha o que eu fiz? Peguei em casa. Caso encerrado, pero no
mucho. Imagina se não
continuou sumindo dinheiro no colégio... Mas, das outras vezes, só
paguei a fama sem
deitar na cama. Eu realmente achei que, devolvendo a grana,
ficaria tudo bem. No
entanto a diretora resolveu chamar minha mãe e contar tudo. Ela
ficou arrasada, muito
brava comigo, brigamos e tudo. Mas, àquela altura do campeonato,
por mais que eu
quisesse parar (e eu queria), não conseguia. Tinha de pegar cada
vez mais. Tudo para
alimentar outro vício: a compulsão por compras. Eu só comprava
futilidades, mas tinha
uma necessidade maluca de comprar. E isso demandava cada vez mais
dinheiro.
A coisa estava tão fora de controle que até os dólares que minha
irmã
_________________________________________2
guardou
(sobras da viagem aos Estados Unidos para conhecer meu cunhado)
entraram na dança.
Antes de voltar para o exterior para casar, ela resolveu fazer uma
obra no apartamento
dela e, com medo dos pedreiros, levou o dinheiro lá para casa. Eu
pegava uma ou outra
nota de dólar e, quando vi, tinha roubado todas. E a coisa não
parava. Comecei a vender
meus livros em sebos, até acabar com todos.
Comecei a levar outros de casa. Chega! Prometi a mim mesma que não
faria mais
isso. Quando prometo algo, eu cumpro. Dessa vez, não deu. Um dia,
quando ninguém
estava em casa, comecei a xeretar as gavetas atrás de algum
dinheiro. Encontrei um
gravador e um monte daquelas fitinhas cassetes. Comecei a ouvir e
descobri que minhas
conversas ao telefone haviam sido todas gravadas. Tudo bem que eu
havia feito um
monte de cagadas, mas aquilo era invasão demais. No começo de
2002, pensei: "Se eu
pegar bastante dinheiro e comprar tudo o que quiser, depois eu
paro". Me lembrei de um
conjunto de jóias da Vívara que meu pai havia dado a minha mãe
como presente de
aniversário de casamento no ano anterior e que ela nunca havia
usado. Tentei vender só
o anel, mas ninguém me dava mais do que cinqüenta reais por ele,
por mais que sua
pedra fosse rara. Desisti temporariamente da idéia, até que, num
rompante, resolvi pegar
o estojo com todo o conjunto.
Soube de um lugar na Oscar Freire que comprava jóias e pagava bem.
Então, levei
tudo na mochila para o colégio. Eu havia até me esquecido de que
estava lá quando uma
amiga me pediu alguma coisa e eu falei que ela podia pegar na
bolsa. Foi um auê: parou
a aula e até a professora veio ver o que estava acontecendo,
tamanho o escândalo que a
menina fez. A professora perguntou por que eu estava carregando
aquilo, e eu, mais uma
vez, menti: era um presente do namorado que eu ia emprestar a uma
amiga para ir a uma
festa. No fim da aula, lá fui eu à tal loja da Oscar Freire. O
cara reconheceu o valor das
jóias, mas disse que só podia pagar quinhentos reais. Disse não, é
lógico. Voltei para
casa com o estojo, guardei novamente no armário, embora a
perspectiva de ter
quinhentos reais fosse muito tentadora. Era muito dinheiro para
uma garota de 17 anos.
Pensava nas coisas que poderia comprar com essa grana e não
resisti. Minha mãe, que
nunca havia usado aquelas jóias, nem ia dar pela falta delas. No
dia seguinte, fechei o
negócio. Tomei um táxi e, na mesma hora, me arrependi. Pedi ao
motorista que desse a
volta no quarteirão e voltei à loja. Adivinha quanto ele queria
para eu comprar tudo de
22
volta? Dois mil e quinhentos reais!!! De onde eu tiraria essa
grana toda? Deixei para lá. O
que estava feito, estava feito.
Em maio, minha mãe resolveu colocar as tais jóias para irmos a um
casamento.
Evidente: ela não as achou. Chegou a perguntar para mim se eu
havia visto - e eu menti,
claro. Ela revirou a casa inteira atrás das benditas jóias e
acabou colocando outras. Foi
um alívio - mesmo que temporário. No dia seguinte, um sábado, ela
colocou a casa de
pernas para o ar. Juro que tive vontade de chegar nela e contar
tudo, mas não soube
como. "Foi a empregada!", concluiu minha mãe. Eu fiquei
morrendo de culpa, pois a
empregada trabalhava com a família há quase vinte anos e não achei
justo que ela
levasse a culpa. Mas continuei no silêncio.
Na semana seguinte, minha mãe chegou em casa dizendo que viera do
colégio e
que a diretora contara a ela que eu andava com atitudes estranhas;
dando
_________________________________________2
presentes a
minhas amigas (estava me desfazendo das minhas coleções de
adesivos e papéis de
cartas, só isso). Como prato principal, a revelação: a história da
jóia vista na sala de aula
chegou aos seus ouvidos.
- Se foi você, quero as jóias de volta - disse ela, imaginando que
ainda estivessem
comigo.
Não teve jeito e eu confessei tudo, inclusive a venda. Ela quis
saber por quanto eu
havia vendido, porém isso não revelei. Cena de horror, embora
minha mãe garantisse que
não contaria nada ao meu pai, com medo da reação dele, de ele ter
algum troço, já que
ainda deveria estar pagando as prestações do presente, ou até
mesmo de ele me bater.
Passou pouco tempo até que cheguei em casa e vi minha mãe com
aquela expressão
terrível que só ela sabe fazer quando está brava. Ela disse
apenas:
- Não agüentei e contei tudo para o seu pai.
Nisso, eu o vi vindo da sala na minha direção. Sem dizer nada,
começou a me
bater, bater, bater. De mão fechada, aberta, de tudo quanto é
jeito. Não sei como,
começaram a chegar pessoas lá em casa: minhas irmãs, os amigos
delas, meu cunhado.
Virou platéia. Meu pai me arrastou até o sofá e continuou batendo.
Quando ele cansava,
eu pedia para ele bater mais. Já que não tinha conseguido me
matar, aquela era a
chance: "Me mata de uma vez. Eu deixo você me matar";
ele dizia:
- Eu vou te matar, mesmo, de pancada.
Resolvi enfrentar. Não derramei uma lágrima sequer. Queria me
mostrar forte, por
mais machucada que tivesse. Meu pai falou que já havia falado com
alguns juízes amigos
dele e que eu ia direto para a Febem. Apanhei até a hora que meus
pais saíram para dar
queixa de mim. Fiquei sendo vigiada pelas minhas irmãs, que,
claro, me censuraram. Me
"lembraram" de que eu havia sido adotada por amor, que
eu tinha tudo o que elas nunca
tiveram, pois nem sempre meus pais tiveram grana. Mas eu
enfrentava todo mundo, nem
sei por quê. Na volta, meu pai continuou a me bater, até cansar.
Fui para o meu quarto e
deitei com a roupa que estava, sem nem tomar banho. Ele entrou no
quarto, me deu um
tapa no rosto e disse:
- Toma mais um.
Foram três dias assim, até que ele parou de me bater. Nunca mais
fiquei sozinha.
Sempre tinha alguém me vigiando, em casa, na rua, no caminho para
a escola. À noite,
eles trancavam as duas saídas do apartamento e iam dormir. Durante
o dia, trancavam as
portas do escritório e do quarto deles, com medo que eu roubasse
mais alguma coisa.
Uma semana depois, meu pai chegou para mim e disse:
- Hoje é sua audiência.
Bem, se ele não me matou, melhor mesmo seria ir para a Febem. Ele
e minha
mãe foram de táxi. Eu ganhei um bilhete de metrô e algumas
orientações de como chegar
até lá. No meio do caminho, pensei em fugir, mas tive medo e
resolvi enfrentar o juiz.
Quando cheguei lá, ficamos em uma sala onde estavam muitas mães de
garotos presos,
pois era dia de audiência para ver quem seria solto. Na hora que
entrou aquela fila de
meninos de mãos dadas, obrigados a olhar para o chão sem virar o
rosto, muitas delas
começaram a chorar vendo os filhos.
23
- Vai escolhendo aí quem vai ser seu namorado na Febem - disse meu
pai.
Nem sei, mas acho que meninos e meninas ficam separados lá dentro.
Ele disse
isso mais para me machucar. Ainda mais. Minha mãe só chorava; não
dizia nada. Fomos
chamados para a sala da juíza (ainda bem que era mulher). Eu
estava com o coração na
mão. Primeiro falou meu pai. Depois, minha mãe, que confirmou
minha rebeldia e os
problemas que eu estava causando, que eles não sabiam mais o que
fazer comigo e que
estavam decepcionados. Na minha vez, menti dizendo que tudo isso
era por causa da
maconha. Alguma coisa até era, porém não tudo. Disse que estava
arrependida, embora
para mim fosse indiferente ir para a Febem ou voltar para casa. Na
vez da juíza, ouvi o
sermão.
- Eu conheço sua família, trabalhei com sua irmã, sei como são
boas pessoas. No
seu lugar, eu valorizaria tudo isso. Você estudou em bons
colégios, não tinha razão para
fazer o que fez. Já que você diz que o problema é a maconha, não
vou fazer nada com
você. Vou passar uma lista de clínicas de desintoxicação para você
parar com a droga. O
processo que seu pai abriu vai ficar aqui comigo, arquivado, pois
tenho certeza de que
isso é uma coisa de adolescente, que pode e vai mudar. Não vou
colocar você, que é
estudada, no meio dos outros que nunca tiveram, e dificilmente
terão, as oportunidades
que teve na vida e a chance de mudar o que foi feito. Se teus pais
não te deram uma
chance, eu vou dar, para você provar que mudou."
Ficou por isso mesmo. Acabei não indo para clínica nenhuma, pois
meu pai jurou
que nunca mais gastaria um tostão comigo e as clínicas eram todas
pagas e caras. Eu até
o vi dando uma olhada no papel algumas vezes, no entanto nunca se
tocou no assunto. A
promessa de secar a fonte financeira foi cumprida à risca. Eu fui
transferida do São Luís
para o Brasílio Machado, um colégio estadual. Cortaram minha
mesada, me tiraram da
academia. Só recebia os passes para ir à escola. Eu ia a pé do
Paraíso à Vila Mariana e
vendia os passes em troca de dez reais por semana. Quase nada, mas
dava-se um jeito:
conseguia comprar cigarros, ao menos. Baladas? Nem pensar. Nessa
escola, conheci
muita gente boa, mas muita gente do mal, que roubava para ter
dinheiro, mesmo que não
fossem, vamos dizer
assim, carentes. Quase entrei no meio deles, mas escapei. Havia um
japinha que vivia
correndo atrás de uma garota lá da Michigan. Mas que acabou
ficando comigo mesmo, já
que levou uma esnobada.
- Eu tenho uma fantasia.
- Qual?
- Eu adoro depilar as putinhas.
- eu já tenho bem pouquinho.
- Não faz mal, eu quero raspar tudo e deixar sua boceta peladinha.
Sacando um aparelho e o creme de barbear de sua pasta, meu
"barbeiro japa" foi
tirando os poucos pêlos que eu tinha. Fiquei carequinha. Sensação
nova e excitante.
Tentei continuar a transa, mas a sessão de fantasias ainda não
havia terminado: ele
queria fotografar, deixei, só que quando ele já havia tirado um
monte de fotos foi que caiu
de boca. Lei da selva: matou, tem de comer. No meu caso,
descascou, tem de chupar. Só
depois desse ritual foi que transamos sossegados. Apesar da tara,
ficamos no _________________________________________2
b
om e
velho papis e mamis.
Na putaria, a gente entra em contato com um lado mais verdadeiro e
menos
hipócrita das pessoas. Elas não escondem seus desejos mais
secretos, liberam fetiches
que não confessariam a ninguém, nem sob tortura. Com uma garota de
programa,
ninguém precisa fazer jogo de cena. Eles vêm até mim para realizar
suas fantasias.
Funcionamos como terapeutas, às vezes. Meu critério de normalidade
mudou muito
desde que passei a viver do sexo. Mesmo assim, em algumas ocasiões
há situações
difíceis de esquecer. Trabalhando nos privês, descobri que tem
muitos homens casados,
muitos mesmo, geralmente entre 35 e 45 anos, que querem é que você
seja "ativa" para
eles.
- Você tem brinquedinhos? - eles perguntam ao telefone.
24
- Sim, muitos.
- E quais são?
- Tem de tudo. Basta me dizer com o que você gosta de brincar.
- Tem vibrador?
Essa é uma abordagem muito comum, acredite. O que me fez virar
cliente assídua
de sex shop. É um mundo bem divertido, além de pervertido. Há
vários "brinquedinhos",
pomadas, cremes, roupas, fantasias, perfumes, lingeries. E camisinhas
(que eu compro
para dar aos meus clientes), além de um monte de gente que passa
por cima da
vergonha e carrega sua figura insuspeita para dentro das lojas em
busca de excitação.
Ficam expostos uns consolos enormes, boceta de borracha, bonecas
infláveis. Foi num
desses sex shop que eu vi um cara comprando uma boneca e logo
pensei: se algum dia
um namorado ou meu marido disserem que já transou com uma coisa
dessas, é fim de
caso.
Hoje freqüento um sex shop aqui mesmo em Moema que é um barato: só
entram
mulheres. A gente fica mais à vontade, sem aqueles homens olhando,
curiosos, apenas
para ver o que a mulherada compra. E tem umas coisas
engraçadinhas: um canudinho e
um jogo de talheres em formato de pau, que eu comprei para a minha
casa. Às vezes,
vou só para ver as novidades. Putz, quase mudei de assunto.
Voltando: bem, o que esses
homens querem é que eu vire o "bruninho", que enfie um
vibrador bem grande neles, que
coma mesmo. Faço muitos programas em que o trabalho é vestir a
calcinha com o
consolo preso e mandar ver, sem dó. Modéstia à parte, acho que
como muito bem. São
caras que você olha na rua e vê que são pais de família, uns caras
bem comuns. Não
comi só esses que fazem o tipo "paizão", não. Já enrabei
também muito cara bombado de
academia, que posa de macho, tem preconceito contra homossexuais,
mas que, no
fundo, no "vamos ver", tem tara por ficar de quatro, ser
dominado. Acho que eles não têm
coragem de procurar um homem e se sentem menos bichas se forem
comidos por uma
mulher. No fim das contas, tudo isso vira coisa normal Assim como
é normal brochar. Só
os homens não sabem disso.
Um dia, chegou um moleque novinho, bem alto. Estava pra lá de
tímido. Fui
abraçá-lo. Com a minha altura, fiquei com o ouvido colado no
coração dele. Batia bem
acelerado. Além de tímido, estava ansioso. Não conversamos muito,
mas posso dizer que
foi um programa "exótico". Ele começou a chupar meus
peitos e percebi algo diferente.
Ele não estava chupando: estava mamando em mim! E ficou assim por
um bom tempo.
Quando ele soltou, disfarçadamente dei uma apertada nos bicos,
para ver se não estava
saindo leite. Brincadeira...Depois da mamação, foi a minha vez de
cair de boca. Acho que
fazia um tempão que ele não batia umazinha, pois seu gozo foi
muito intenso e farto. O
pau dele ficou latejando um tempão na minha boca. Fui ao banheiro
para me limpar e,
assim que voltei, ele já pegou minha mão e levou ao seu pau mole.
Uau! Ele não quer dar
nem o respiro regulamentar! Voltei a chupar seu pau mole. Bem,
fiquei nessa durante
meia hora. Não tem coisa pior do que ficar chupando pau mole. E
nada de o "menino"
ressuscitar. Sorte dele que não cobrei pelos mililitros de saliva
que gastei naquele dia. E
ele foi ficando puto, xingava o pau, reclamava como se conversasse
com "ele". Ficou sem
graça comigo por ter "brochado" no segundo tempo.
Pudera: eu nunca vi essa coisa de
dar "duas sem sacar da moringa".
Ele acabou indo para o banheiro para bater umazinha por conta e
ver se o negócio subia.
Como eu sei? Na porta do quarto fazia a sombra dele balançando.
Eis um caso típico de
problema na cabeça de cima.
Um ponto final com duas sentenças diferentes. Esse foi o saldo da
briga com meu
pai. Precisava fugir dali, ir viver minha vida, antes que ele
decidisse se e como eu deveria
vivê-la. Naquela casa de portas trancadas, eu era uma espécie de
cobaia humana.
Primeiro as portas trancadas, depois as gravações e, agora, o
silêncio total: ninguém mais
falava comigo ali. Só tinha mesmo minha gatinha para me fazer um
pouco de companhia.
Justo eu, que tenho horror de ficar sozinha. Sem querer, uma noite
ouvi meus pais
conversando sobre me mandar para um lugar, sem dizer que lugar era
esse. Nem sabia o
25
que pensar. Me senti uma menininha novamente, sozinha, imóvel e
assustada em seu
quarto escuro, medrosa como sempre fui (e ainda sou), imaginando
um monstro debaixo
da cama. No meu caso, ele dormia no quarto ao lado - e sua maldade
parecia um segredo
inconfessável. Se eu escapei de ir para a Febem, o que será que
ele tinha em mente?
Essa foi a mais tenebrosa e a mais
longa jornada noite adentro da minha vida.
Certo dia em julho, do nada, minha mãe me avisou que eu iria para
o Guarujá no
dia seguinte. Quem é que, depois de uma história maluca como essa,
manda a filha se
divertir na praia? Percebi, até pelo silêncio da minha mãe, que
não se tratava de um sinal
de arrependimento: eles realmente estavam planejando algo para mim
e me queriam
longe dali. Você acredita que meu pai só me deu 50 reais para eu
passar duas semanas?
Tudo bem que eu ia ficar na casa de uma amiga, mas aquilo, claro,
não duraria nem um
dia. Como não durou. Embora não quisesse pegar mais dinheiro de
ninguém, nem que
fosse emprestado pela pessoa, me passou uma idéia pela cabeça:
fazer sexo por
dinheiro. Nem sei de onde tirei essa idéia, mas lá fui eu. Saí uma
noite sozinha para
passear no calçadão paquerando os homens sozinhos. Se algum
chegasse junto, eu ia
dizer que era garota de programa e que, para fazer sexo comigo, ia
ter de pagar. Vários
homens pararam e alguns até se aproximaram. Eu é que não tive
coragem de falar nada.
Não era uma coisa que eu queria ou sabia fazer. Não sabia como
vender meu corpo.
Desisti e pedi dinheiro emprestado para um amigo que era a fim de
mim. Ele me deu 150
reais.
- Quando puder, você me devolve - nunca mais o vi.
Depois que voltei dessa viagem, feliz de verdade como há muito
tempo não me
sentia, e nem sei por que, meus pais nem se viraram da TV para
responder ao meu
"cheguei!". Nunca mais minha mãe conversou comigo. Não
sentiria nada se meu pai
nunca mais olhasse na minha cara. Mas nunca mais ouvir "minha
filha" na voz acolhedora
da minha mãe talvez seja o mais perto da solidão da morte que já
cheguei. Nunca mais
queria sentir isso de novo. Nunca mais. O incômodo silêncio foi se
arrastando pelos dias,
pesado. Seja lá o que fosse que tivessem pensado em fazer comigo,
como me mandar
para um colégio interno, me emancipar para poder me colocar para
fora de casa ou coisa
parecida, eu não esperaria para ver. Meu tempo estava se
esgotando.
Comecei a comprar jornais apenas para ler os classificados. Vi que
minha
inexperiência seria um obstáculo intransponível. Todos os caminhos
me levavam à única
coisa que uma garota como eu poderia fazer. Assim começou minha
peregrinação pelas
casas que colocavam os anúncios nos jornais, atrás de garotas
entre 18 e 25 anos, para
ganhar os tais "mil reais por semana". Visitei casas de
massagem, privês e até boates. No
dia 8 de outubro de 2002, vinte dias antes de completar 18 anos,
tomei coragem de falar
para o meu pai que eu sairia de casa para trabalhar. Repetindo que
não me daria mais
nada se eu fosse embora, perguntou como é que eu esperava
sobreviver. Na minha santa
ingenuidade, porém firme no propósito de afrontá-lo, falei que
seria massagista para
executivos. Mas eu realmente pensava assim, pois os anúncios
diziam isso: massagem.
Uma menina de uma casa que visitei também falou que só a massagem
era um preço "x";
se o cliente quisesse sexo, pagaria a diferença para a menina no
quarto. Eu ia ficar
mesmo só na massagem. Ele, claro, ficou uma fera. Estava pronta e
disposta a apanhar
novamente. No lugar da mão pesada, veio a voz, confusa,
desorientada, desconcertada.
Ele começou a conversar comigo. Nervoso, sim. Bravo, sim. Mas
tentava conversar
comigo. Tarde demais para começar a conversar. Ele não tinha o
menor jeito para isso.
Eu insistia, sinceramente, na ingenuidade: "Mas pai, é só
massagem, não é sexo. Eu não
vou fazer sexo, só vou fazer a massagem". Tudo o que ele não
havia falado comigo a vida
inteira, e especialmente desde que foi estabelecido o "voto
de silêncio" em nossa casa,
vomitou naquela noite, O que ele queria, de verdade, era me fazer
desistir de ir embora.
Ouvi tudo calada. Meu silêncio alimentava sua verve. Puta...
Vagabunda... Piranha... As
frases sucediam, como se ele nem parasse para respirar.
26
Abatido, terminou a conversa deixando escapar um desejo (será?),
uma quase
sentença de morte:
- Toda puta tem Aids. Eu lamento muito que vá morrer sozinha,
aidética, no Emílio
Ribas.
Então ta, se para ser livre tivesse de ser puta, era o que eu
seria. E se tivesse que
morrer, que assim fosse. Eu já havia transado com muitos homens.
De alguns, nem me
lembrava mais. É certo que há outros inesquecíveis. Como um cara
supercarente que
apareceu um dia. Ele era claramente complexado e inseguro. Triste.
Uma hora, como
quem está longe, conversando consigo mesmo, começou a cantarolar a
música que
estava tocando. Confesso que fiquei emocionada com aquela cena.
Eis ali um homem
que precisava de refúgio. Mas não foi só por isso que ele me marcou.
Quando eu vi o
corpo dele nu, levei um susto. Primeiro porque o cara era
magérrimo. Segundo, tinha um
pau enorme! Acho que é o maior que já vi. O programa foi péssimo,
pois estava
preocupada com o que ele estava sentindo. Ele precisava de ajuda e
eu não sabia o que
fazer... Além disso, não conseguia chupar direito. Era tão grande
que só entrava a
cabecinha (modo de dizer) na minha boca. Na hora de colocar a
camisinha, então, foi um
parto. Era muito apertada para ele e fazia o pau amolecer. Mesmo
assim, deu para
transarmos um pouco. Foi uma das poucas vezes em que senti o pau
bater no meu útero.
Uma sensação nova, afinal. Ele gozou batendo punheta em cima dos
meus peitos,
despejou um litro de porra e se foi. Fiquei com uma impressão
estranha de que tinha
faltado algo naquele programa. O quê? Quem sabe eu devesse ter
dito alguma coisa. Sei
lá, deve ser mesmo apenas impressão. Mas sei bem como é estar
angustiada.
Em dezembro de 2003, já havia comprado um computador para mim. Era
um jeito
de compensar os momentos de solidão. Sempre fui maluca por navegar
na internet e
tinha descoberto a febre dos blogs. Todo mundo estava fazendo o
seu e parecia ser uma
coisa interessante, divertida. Se a curiosidade matou o gato, no
meu caso não foi bem
assim. Decidi procurar no Google por blogs de garotas de programa,
só para ver como
era a vida, o dia-a-dia de outra menina como eu, comparar. Na
internet tem de tudo, não
tem? Surpresa: não encontrado! Busquei de novo, com todas as
ferramentas que existem
na rede. Nada! Eu vivia sozinha, coisa que detesto. Tenho medo,
sei lá. Eu tinha
conhecido uma moça realmente do bem: a Gabi, que tinha um flat no
mesmo prédio que
eu e que hoje é minha melhor amiga. Numa noite de baixo-astral,
interfonei para ela vir
ficar comigo, mas ela não podia. Fiquei quase maluca. Assim decidi
escrever no blog tudo
o que eu queria ter dito para ela naquela noite. Alguém ia ver.
Quem sabe se minha
família não veria? O que eu queria, de verdade, era que qualquer
pessoa viesse me
socorrer, me salvar. Da minha vida, da minha história. De mim.
Para dar um jeito naquela angústia, escrevi no meu blog um
desabafo muito forte
falando de tudo isso. Eu estava muito deprê. Fiz um resumo da
minha vida e escrevi que
não valia a pena fazer programa e que, se pudesse voltar no tempo,
nunca teria escolhido
esse caminho. Isso num blog de uma garota de programa...No dia
seguinte, um pouco
melhor, resolvi deletar tudo. As pessoas iam pensar que, além de
puta, eu era louca.
Acho que tudo aconteceu por causa do Natal, que estava perto. Eu
pensava na minha
mãe, na minha casa. Meu entusiasmo pelo blog esfriou um pouco e eu
deixei para lá.
No dia 1. de janeiro de 2004, pensei: "Vou retomar o meu
blog". Já que era uma
espécie de diário, tinha tudo a ver começar nesse dia. Foi por isso
que decidi contar a
minha rotina em vez de desabafar. E ia poder, também, registrar de
modo diferente tudo o
que eu anotava na minha agenda, principalmente os detalhes de cada
cliente. Sempre
pensei em fazer uma estatística mais detalhada quando eu saísse da
putaria. Só para ter
uma idéia, posso garantir, com cem por cento de certeza, que
setenta por cento deles são
casados. Sempre pergunto o motivo para a traição, levando-se em
conta que estão
pagando por sexo. Há apenas dois tipos de resposta: enjoaram do
sexo com a mulher ou
as mulheres não são tão liberais a ponto de eles declararem todas
as suas fantasias.
Apenas vinte por cento são solteiros convictos que não têm tempo
ou saco para balada
27
(ou não conseguem conquistar ninguém) e os dez por cento restantes
são noivos ou
comprometidos.
Nunca imaginei que isso fosse ser interessante para alguém. Mas ia
ser divertido
para mim. Imaginem, poder classificaras transas, contar como eram.
Dessa maneira
inventei as cotações.
Transa mecânica: mecânica mesmo, sem química, quando estou
cansada, sem
paciência. Fico olhando no relógio, controlando o tempo, que não
passa; faço tudo com
má vontade, apesar de fazer o máximo para o cliente gozar rápido e
ir embora. Tem
vezes que até bufo.
- Vamos mudar de posição? - sugere o cliente.
- Humpf. respondo, sem saco total, já que não posso soltar um
palavrão. Rs... Não
me esforço nem para gemer.
Namoradinho: quando rola química, como se fôssemos namoradinhos de
verdade,
naquele clima de primeira transa entre os dois, no motel, se
beijando, se abraçando, com
carinho, sexo cuidadoso, papai-e-mamãe (sim, papis e mamis).
Putaria: é clima de putaria, precisa traduzir? Eu me sinto puta de
verdade, faço
sexo com vontade, não sei bem explicar. Namoradinhos, mesmo com
entusiasmo, não
me considero puta. Aqui, sim.
Nessa época, o meu blog era no site Terra. Uma noite, quando fui
postar, escrevi a
senha e apareceu uma mensagem dizendo que a senha estava errada.
Era uma sextafeira
e por essa razão eu teria que esperar até segunda para poder
resolver isso. No domingo,
resolvi tentar novamente e, para a minha surpresa, vi que tinha um
post novo e, pior, não
era o que eu tinha escrito! Então, concluí que alguém tinha
invadido o meu computador e
roubado a minha senha... Chorei muito de raiva! Na segunda liguei
para o Terra e
consegui entrar em contato com o responsável pelo webloger.
Expliquei o que tinha
acontecido e eles conseguiram recuperar a minha senha depois de
uma semana.
_________________________________________2
Em todos esses dias, a pessoa continuou postando se passando por
mim. Fiquei
com medo de que essa pessoa escrevesse algo que me comprometesse.
Mas não
ocorreu isso. A pessoa se contentou em me imitar direitinho, tanto
que em alguns posts
eu até pensava que era eu mesma que tinha escrito aquilo tudo.
Recuperei a senha,
deletei tudo o que eu não tinha escrito e expliquei aos leitores o
acontecimento. Não
passou um mês e roubaram a senha novamente. Dessa vez foi bem
pior, pois além de a
pessoa se passar por mim, ainda postou os arquivos que roubou no
Word do meu
computador. Eram arquivos muito comprometedores já que alguns
capítulos do meu livro
foram copiados e colados no blog. Dessa vez chorei mais e fiquei
várias noites sem
dormir, imaginando quem poderia ter feito isso e por qual motivo.
Consegui recuperar
minha senha novamente, porém desisti de manter o blog. Até que um
amigo que trabalha
com informática me sugeriu que eu tivesse um site particular, no
qual poderia continuar
com o blog e ainda colocar minhas fotos.
Foi com este site que comecei a ter sucesso. Com as fotos conquistei
a
credibilidade das pessoas que não acreditavam que aquele blog era
de uma garota de
programa de verdade. Eu recebia vários e-mails de pessoas
duvidando de mim. Muitos,
inclusive, achavam que era um homem fantasiando tudo aquilo. Foi
com esta mudança de
endereço eletrônico que o meu blog adquiriu repercussão. Até
porque muitos pensaram -
e ainda pensam - que o fato de as minhas senhas terem se perdido
foi um lance de
marketing para chamar atenção.
De uma hora para outra havia tantos visitantes no blog que fiquei
assustada. Algo
tão espantoso acontecia que o próprio iBest me chamou para dizer
que o meu blog estava
em segundo lugar no top link. Eu não tinha noção de que isso
pudesse ir tão longe. No
começo, me assustei com essa repercussão. É estranho imaginar que
um monte de gente
sabe da sua vida, como se estivessem invadindo minha casa e
revirando as gavetas. Ao
mesmo tempo, descobri que era isso exatamente o que eu queria, que
as pessoas lessem
28
sobre a minha vida. Ao menos sobre a pública. Não a da Raquel, mas
a da Bruna
Surfistinha.
Fui dormir pela última noite naquela casa. A conversa tinha me
abalado muito.
Realmente, meu pai não confiava em mim. Nem na minha capacidade de
me cuidar
sozinha. Ele fez com que me sentisse uma inútil. Prometi a mim
mesma que essa seria a
última vez que permitiria isso. Vindo dele ou de qualquer outro
homem na face da terra.
Alternei momentos de angústia e de grande excitação. Em poucas
horas, seria livre para
ir onde quisesse, para fazer o que me desse vontade. Amanheceu um
dia lindo. Não sei
por que, mas algo acontece dentro de mim quando o sol brilha num
dia frio. Cria-se uma
sensação de irrealidade, de sonhar acordada, aquela luz forte no
céu azul, mas que não
pode aquecer. Uma linda mentira. Essa foi a primeira coisa que vi,
quando acordei às dez
horas da manhã. Logo o encantamento desse cenário de sonho deu seu
lugar à realidade
de minha dúvida mais cruel, é isso mesmo o que desejo fazer da
minha vida? Sabia que,
se saísse, seria para sempre. Não teria volta. Nem por mim, nem
por meus pais.
Preparei minha mochila do colégio com algumas peças de roupa. Não
poderia sair
dali com uma mala. Ao vasculhar o armário, vi cada peça de roupa e
lamentei não poder
levar todas elas. Separei umas calcinhas, uma roupinha para
dormir, uma camiseta, uma
blusinha, alguns biquínis para trabalhar e, com a roupa do corpo
mais o casaco que
vestiria, estava feita a minha bagagem. Minha gatinha só observava
a movimentação.
Tentei escondê-la dentro da bolsa, mas ela não topou.
"Bem", pensei, "mais uma coisa
que vai ficar para trás, com minhas roupas da Guaraná Brasil e da
Pólo Ralph Lauren,
meu quarto e minhas lembranças."
Fui para a sala e fiquei sentada à mesa de jantar, fingindo fazer
minha lição de
casa. Na verdade, fiquei olhando para minha mãe, silenciosa, de
costas para mim,
preparando algo na cozinha. Reconhecia que ela não merecia passar
por tudo aquilo. No
entanto, era o que eu queria fazer. Ou o que tinha que fazer.
Pensava que, em pouco
tempo, ela perderia duas filhas: minha irmã mais velha e também
minha madrinha, que
conheceu um americano pela internet e se mudou para se casar lá e
não voltou mais.
Estava eufórica por um lado, embora triste por outro. Olhando
aquela mulher que um dia
abriu mão da própria vida para ficar com um marido, cuidar da casa
e dos filhos, até de
mim, que não era sua filha de verdade, senti uma imensa vontade de
dividir com ela
minha decisão. Mostrar que nada daquilo era por ela, mas por mim.
Eu até poderia seguir
seus passos e abrir mão de mim, fazer tudo igual ao que ela tinha
feito. Bati o martelo.
Sem perceber, comecei a colocar tudo o que queria dizer a ela no
papel. Não foi
premeditado. Foi espontâneo e sincero, como há muito tempo eu não
conseguia ser.
Agradeci por tudo o que tinha feito por mim, pedi perdão pela dor
que ela sentiria, mas
deixei claro que estava indo buscar a minha felicidade, onde quer
que ela estivesse.
Desejei que, dessa maneira, ela e meu pai também pudessem voltar a
ser felizes, sem
mim, sem meus problemas. Reli a carta, que parecia a de um
suicida. Não conseguiria
escrever nada diferente, porém. De certa maneira, algo morria em
mim naquele dia.
Deixei a carta em cima da mesa, apanhei o fichário e a mochila. Eu
sempre saía pela
porta da cozinha. Passei por minha mãe, que estava fazendo o
almoço, de costas para
mim, encostada na pia.
- Tchau, mãe - Ela não me respondeu. Ela não se virou.
Eu sabia que era para nunca mais. Ela não. Fiquei parada na porta
um segundo,
olhando para ela. Ela não se virou. Me arrependo tanto do abraço que
não tive coragem
de dar naquela hora. Eu amo minha mãe. Ela não sabia. Ela não se
virou. Não veio
nenhuma palavra, nenhum gesto. Nem dela, nem meu. Me virei. Em
silêncio, fechei a
porta atrás de mim. Tchau, mãe.
29
O diário de uma garota de programa
Quarta, 27
PRIMEIRO PROGRAMA
Perfil do cliente: a princípio, doidinho. Depois, até que ficou
legalzinho. E é muito
safadinho. Não rolou química nem afinidade.
Estilo do programa: mecânico.
Fato interessante: ele comeu minha boceta pensando que fosse o cu
Mas a culpa não foi
minha. Eu juro.
Fato engraçado: ele jurou que eu tinha fumado um beck. Não era
verdade. Eu juro.
Primeiro tempo: nos chupamos, mas ninguém gozou assim. Ainda bem.
Daí, cavalguei
até ele virar os olhinhos.
Segundo tempo: fiquei de quatro e fizemos anal... ops... vaginal,
até ele gozar.
Desde junho de 2004, meus relatos no www.brunasurfistinha.com
eram todos desse
jeito: padronizados, bem básicos, sem muitos detalhes. Era uma
época em que chegava a
fazer até dez programas por dia. Não sobrava muito tempo para
escrever tudo. Eu só
tinha tempo, entre um programa e outro, de anotar tudo em um papel
para depois jogar no
computador. Mesmo assim, por causa do blog, virei uma espécie de
musa inspiradora
para as punhetas de meninos e marmanjos. E comecei a ter certa
notoriedade. Não era
bem isso o que eu queria, mas, já que aconteceu. Em agosto de
2004, a revista Época
me procurou para entrevistas; uma edição especial da Capricho
(Mina) também fez
matéria comigo. Dei entrevista para a Vzp, diversos jornais e umas
revistas de
sacanagem; apareci em vários sites, participei de chats e, um dia,
me chamaram para ir
ao Superpop, programa da Luciana Gimenez. Foi uma chance dupla:
primeiro, ia mostrar
meu rosto para que acreditassem que eu existia e era eu mesma
(sim, tinha um monte de
Brunas Surfistinhas falsas começando a pipocar por aí usando o meu
nome, como a tal
Samara, que se passou por mim no Orkut e até criou uma comunidade:
CHEGA DE
BRUNA SURFISTINHA).
Em segundo lugar, acreditava que meus pais iam me ver e perceber
que, sim, faço
programa, mas estou bem. Não estou jogada em qualquer canto. Mesmo
as entrevistas
eu dei pensando nisso. Até mesmo a do Pânico, da rádio Jovem Pan
(divertidíssima). Por
sinal, eles foram muito gentis, por mais que eu tivesse medo de
que fossem zoar comigo -
o que não aconteceu. Eles até evitaram abrir para perguntas dos
ouvintes. Sei lá, acho
que é uma lição de vida para todos nós. Torço para que, no dia em
que tudo isso passar,
_________________________________________2
eu possa voltar a me aproximar deles.
No dia em que fui ao Superpop, os efeitos da exposição aconteceram
antes
mesmo de eu aparecer no ar ou de sair de casa. O carro da produção
chegou na
recepção do flat e o motorista pediu para me avisarem. O porteiro,
claro, perguntou se eu
ia aparecer na TV e, mais óbvio ainda, assistiu ao programa, que é
ao vivo. Não precisa
dizer que a história se espalhou. Isso não mudou a forma como os
funcionários daqui me
tratam.
Só teve uma época em que o gerente pegou no meu pé, dizendo que os
outros
hóspedes estavam se queixando de eu trazer muitos homens para cá.
Eu nunca vi
ninguém no corredor. Era coisa dele mesmo. No entanto, ao verem
que me tornara
"famosa", acabou. Passaram a me respeitar mais (não que
tenham me desrespeitado em
algum momento). Percebi que o blog, além de atrair muita gente que
nunca tinha feito
programa comigo, também podia ser um "algo mais" de
diversão para os meus clientes.
Eles adoram ver qual é a minha avaliação de sua performance. Tanto
que há, até hoje,
um aviso:
30
OS PROGRAMAS MAIS "INTERESSANTES OU BACANAS" DA SEMANA.
CASO
VOCÊ TENHA FEITO PROGRAMA COMIGO NESTE PERÍODO, E EU NÃO RELATEI,
NÃO SE DESESPERE. TENTE NOVAMENTE QUANDO PUDER.
E muitos realmente tentam muitas vezes. Bom para os negócios, não?
Quando a
vida estabilizou numa média de cinco ou seis programas diários (de
segunda a sexta, só
depois do almoço), resolvi apimentar meu blog. Mas tudo sempre
pensando em não
entregar o cliente. Só ele sabe de quem estou falando. Há coisas
como uma tatuagem, o
lugar de um piercing, algum detalhe do corpo ou de personalidade
que podem acabar
dedurando o cara. E essa não é a minha intenção. A gente sabe que
tem meninas de
programa que acabam infernizando a vida do cliente, até
chantageando. Mas essa,
definitivamente, não é a praia da Surfistinha. Meu barato é outro.
Uma coisa que todo
mundo sempre pergunta é se consigo ter prazer com meus clientes.
Claro que sim. Por
mais profissional que seja, se rola química, afinidade e tesão,
não vou aproveitar? Afinal,
brincar em serviço é o meu serviço. Sou paga para realizar as
fantasias dos outros (por
mais que eu tenha as minhas, guardo para mim.
Como "pessoa jurídica", tenho minha rotina profissional
de fazer as coisas, é um
"padrão Bruna de qualidade"). Apesar desse lado lúdico e
de "conhecer" tanta gente,
confesso que rola uma solidão. Não consigo ficar sozinha. Tenho de
cuidar de alguém e
sentir que alguém cuida de mim. Não sou uma máquina. Percebo que
vai acontecer algo
legal quando o cliente está realmente a fim de me dar prazer. Se é
isso o que ele está
querendo, por que não dar a ele? Ou, ao menos, me esforçar. É
certo que às vezes não
rola. Nem com o que costumo chamar de "esforço interior"
- exercícios de pompoarismo,
com os músculos da vagina, que potencializam a força do orgasmo.
Eu uso essa "força"
para os clientes que fazem questão de que eu goze. Para ir mais
rápido... Esses,
certamente, não entram no blog. Apesar dessa vida que levo,
consegui ter, além de
muitos rolos, alguns namorados. O último durou quatro meses. É,
pouco tempo. Mas,
para quem tem uma rotina como a minha, foi um longo tempo. Nos
conhecemos por
intermédio de um amigo comum. Bem, não era amigo, até virar. Esse
menino começou a
me ligar diversas vezes, e começamos a conversar muito. Comigo,
virou amigo, nada de
transa. Não faço sexo com meus amigos. Uma noite, eu estava à toa
noflat com a Gabi e
falei para ele vir e trazer um amigo para ficar com ela.
Nada de putaria, queria companhia mesmo, jogar conversa fora e, se
rolasse algo,
seria pessoal. Ele trouxe, sim, um amigo: meu namorado! Quando nos
vimos, foi uma
coisa de filme, arrebatadora e recíproca. Ele sabia quem eu era,
que fazia programas e
tudo. Mesmo assim, ficou comigo naquela noite e começamos a
namorar. A sensação era
ótima: voltava a ser apenas uma mulher que gostava de um homem e
que sentia algo por
ele. O namoro era como o de qualquer menina da minha idade: sair,
cinema, dançar, ficar
bundando em casa, rir, conversar e, lógico, transar. Sei bem
separar o sexo de trabalho
do sexo com o namorado, com amor, ou paixão, ou seja lá qual for o
barato da relação.
Minha cabeça e meu corpo estão cansados, mas quando encontro a
pessoa que está
comigo, eu quero transar, de verdade. Às vezes, é um esforço para
mim. Mas é péssimo
não dar atenção a quem está com você. Afinal, o cara já agüenta a
barra de namorar uma
puta e eu ainda deixo faltar logo sexo para ele? Mesmo sabendo de
saída tudo sobre
mim, assim como os que vieram antes dele, ele não conseguiu
segurar a onda da minha
profissão e da exposição que começou a rolar com o blog e tudo mais,
meus "15 minutos
de fama". Que pena: esses minutinhos vão passar e eu vou
continuar aqui, sendo eu
mesma.
No meio de todo aquele brilho, de toda a atenção que recebia por
causa das
entrevistas e, claro, dos programas de tv, teve gente que me
conhecia antes e ligou para
mim, numa boa, para conversar. Teve gente, por outro lado, que
ligou para me lembrar de
que ser uma puta tem seu preço em qualquer tempo. Um menino que
estudou comigo no
Bandeirantes telefonou e me deixou péssima.
- Ê, Raquel, quem diria, hein? Virou puta!
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O que mais me doeu é que o propósito dele era me machucar.
- Todo mundo que estudou com a gente está no segundo ou terceiro
ano da
faculdade e só você virou puta.
Ele me inferiorizou, me tocou de um jeito que eu não queria. Com
certeza eu já
tinha pensado nisso, em como era a vida de quem tinha estudado
comigo, que todos
estavam progredindo. Até hoje não sei bem por que ele fez isso.
Ele não ganhou nada me
violentando desse modo. Porém, já que eu saí na chuva.
Tem quem acredite que garotas de programa não sentem carência,
vontade de
transar só por transar. Que babaquice. Seria o mesmo que dizer que
um cozinheiro não
sente fome. Deve ser por isso que, mesmo trabalhando com sexo, eu
viva me
masturbando. Quero chegar ao prazer com minhas próprias fantasias.
A última aprontada
que eu dei como "pessoa física" acabou levando o cara a
ser demitido. Isso mesmo!
Quem me contou o desfecho da história foi a Natacha, uma amiga que
vira prima nos
programas surubinha quando os clientes não trazem sua própria
"priminha". Nós duas
tínhamos ido a uma balada normal, por diversão, lá nos Jardins.
Cheguei a contar no
blog, dizendo em que casa tinha sido (é provável que algum
dedo-duro tenha lido e, por
causa disso, o cara foi demitido). Fiquei maus, mas era ele que
estava trabalhando, não
eu. Eu tinha bebido muito. Quando isso acontece, fico fácil, perco
mesmo o controle.
Aliás, acho que toda mulher nessa situação fica fácil e com tesão.
A casa tem dois ambientes. Eu estava no andar de cima, onde ele
trabalhava como
garçom no bar. Percebi que ele me olhava - e fiquei olhando de
volta, claro, paquerando
na caradura. Em certo momento, fui buscar outra cerveja no balcão;
ele se insinuou para
mim e eu não agüentei: dei um beijo nele. Pedi a ele um guardanapo
para eu anotar meu
telefone, para a gente se encontrar fora dali.
- Não, vamos fazer o seguinte: eu vou ao banheiro, você dá um
tempo e me segue.
A gente fica lá, rapidinho.
Foi mais de meia hora. Quando a gente saiu, tinha uma baita fila
na porta. O
banheiro é unissex e eu saí morrendo de vergonha. Fazia um tempão
que eu não
transava com quem eu quisesse. Precisava transar assim, com quem
eu estivesse a fim -
e não por dinheiro. Já tinha perdido as esperanças de me envolver
novamente com
alguém. Mas, no dia dos namorados de 2005, me senti uma garota
comum de novo: fui
pedida em namoro. Isso mesmo!!! Pelo Pedro. Ele era casado e
sempre falava de como o
casamento ia mal, que não se separava por causa das duas filhas
pequenas. Nunca tinha
saído com nenhuma garota de programa, mas acompanhava o meu blog,
tinha ficado
curioso para me conhecer e, como ele mesmo disse, "virou meu
fã". Acabamos fazendo
sete programas juntos, desde que nos conhecemos, até virarmos
amigos. Há poucos
meses ele tinha se separado da mulher. No dia 12 de junho,
surpresa!, ele me pede em
namoro. Ele já havia dado umas indiretas de que me bancaria se eu
quisesse parar de
fazer programa. Expliquei (e ele, com muita maturidade, entendeu)
que saí de casa para
ser independente. Ele me respeita e segura bem a barra de estar
comigo. Tanto que já
moramos juntos e temos planos para o futuro. Sinto que ele é o
amor da minha vida.
Minha mãe certamente iria adorá-lo. Sempre brinco com ele que,
depois dessa minha
experiência, aprendi todas as desculpas que os maridos dão para as
mulheres para pular
o muro. Ele vai ter de ser muito criativo se algum dia cair nessa
tentação... Coitado do
Pedro.
Quinta, 4
QUINTO PROGRAMA
Êêêê! Até que enfim alguém me chamou para ir ao swing.!! Chegamos
às 23 horas
e saímos às quatro. Ele já tinha saído comigo umas três vezes. Com
ele me deu, pela
primeira vez, uma sensação estranha no final da noite. Acabei
chorando no quarto de
casais. Hoje tava lotado, mas não estava legal, apesar de ter um
pessoal bonito. Havia
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muitos molequinhos sozinhos, muita mulher fresca e, no labirinto,
às quintas, é permitida
a entrada de homens sozinhos. Ou seja: não dá pra ficar passeando
por lá, porque fica
parecendo urubu em cima da carniça. Sério... Mas o som estava
excelente, com muito
flashback. Tocou até uma das minhas músicas preferidas (não sei o
nome, mas sei que é
do The Mamas & The Papas). Para
azar dos homens, quinta também é dia de show de
stripper só para a mulherada. Não fui puxada para o meio dos
shows, como quase
sempre acontece. Até mesmo porque eu não estava a fim. Trocamos
três vezes de casal,
mas apenas uma delas valeu a pena pra mim. No primeiro, a menina
era muito gostosa,
mas ela não ficava com mulher, para minha infelicidade. Quando
tirei minha blusa, ela
apertou meu peito e disse:
- é silicone, né, fia?
Me chamar de fia , ainda mais no meio do sexo, foi brochante. Ri
na caradura.
Odeio que me chamem de filha, e muito menos de fia Ninguém merece
ficar ouvindo
sinopse de filme no meio do swing. O parceiro dela também era um
moleque chato, que
queria gozar no meu peito. Não aceitei, mas ele insistiu. Como não
gosto de ver ninguém
insistindo em algo que não estou a fim de fazer, acabei falando
que deixava. Na hora em
que ele foi gozar, eu sacaneei: saí da frente e nenhuma gotinha de
porra caiu em mim. A
segunda troca foi com um japinha de quem eu até gostei, mas na
hora "H", não curti.
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