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Parte 1
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Interfone. Ele chegou! Deixei subir. Enquanto ele pega o elevador,
checo os
últimos detalhes: cabelos escovados, pele cheirosa, boca pronta
para o que der e vier.
No quarto, a cama à espera, a luz bem leve. Para completar o
clima, coloco um CD (se
ele for chato, toco baladinhas, techno, para agitar um pouco; se
for legal, prefiro Jota
Quest, Emerson Nogueira, uma coisa mais romântica). Visto uma saia
bem curta e
provocante, com um top que valoriza meus seios. Tudo fácil de
tirar. Ou de ser tirado.
Calço sandálias bem altas. Não que me importe de ser baixinha. Faz
parte do meu
charme. Toca a campainha. Atendo. Ele entra. Me beija no rosto e
se apresenta, já que é
sua primeira vez comigo. Mesmo sem precisar, faço o mesmo. Pego
ele pela mão e o
levo até o sofá. Em clima de namoro, a conversa começa e logo ruma
para a putaria.
- Hoje, quero te pegar de jeito, por trás.
- Mas você quer minha boceta ou meu cu?
- Eu quero tudo, ele responde no meu ouvido enquanto passeia sua
mão pelas
minhas coxas.
Sua boca ofegante roça o meu pescoço; sinto a barba por fazer,
enquanto com
minhas mãos entre suas pernas sinto o mundo virar pedra. Com um
puxão dele, o top
desliza e meus seios pulam para fora. Como quem descobre um novo
brinquedo, deixo
que ele segure firme, mas com carinho, O bico do meu seio fica
intumescido com aquela
língua atrevida passeando pela auréola. Sinto sua respiração
quente, ofegante. Lambe
um seio, depois o outro, junta os dois com as mãos, querendo
encher a boca como um
garoto guloso. Na confusão de roupas tiradas com pressa, ele puxa
minha calcinha e
desce com a boca até o umbigo. Pára. Me olha com um jeito sacana.
- você quer que eu te chupe?
- Quero.
- Agora, ou depois?
- Você é quem sabe. A língua é sua.
- Mas a boceta é sua.
- Então, quero agora.
Gozei muito, sem precisar de nenhum esforço interior. Foi bom de
verdade. E
estava só começando. Subimos a pequena escada de caracol do
meuflat direto para o
quarto. E ele ja foi encapotando o pau, para aproveitar o
meladinho da boceta, e
engatamos o mais comportado papis e mamis.
- Cavalga em cima de mim.
Primeiro, montei de frente e, com ele todinho dentro de mim, me
virei de bumbum
para ele. Não demorou muito até que ele saísse de mim e me pedisse
para retribuir com a
boca a gentileza. Chupei até ele gozar, com ele agarrando com
delicadeza meus cabelos
longos.
Mal deu tempo de a gente conversar. Ainda com a boca, reanimei o
menino. Num 69
alucinado, ele começou a brincar na minha bunda. Isso me excitou.
Não resisti e montei.
Ele, todo engatado no meu cu, me levantou e me botou de quatro. No
fim, pediu para
gozar na minha boca mais uma vez. Deixei. O CD chegou ao final
quase junto com o
nosso segundo tempo. Game over. O fim do CD é o sinal de que a
hora que ele tem
comigo acabou. Se quiser, pode tomar um banho, pagar o que
combinamos por telefone
e...Até logo.
Sem ressentimentos. A fila anda. Serviço prestado, pagamento feito
(e conferido,
de forma discreta, sem ele perceber, claro). Ele foi o primeiro
cliente do dia.
Tenho mais cinco pela frente. Com menos de uma hora e um banho
entre um cliente e
outro, mal tenho tempo de me refazer. Prefiro fazer tudo de uma
vez, cumprir logo minha
meta de cinco programas diários e ficar livre o quanto antes.
Hoje, a agenda está
funcionando.
Quando eu ou o cliente nos atrasamos, o jeito é o próximo que
chega ficar lá na
recepção, esperando. Até tudo recomeçar. O ritual da chegada, do
check-list do corpo e
do quarto assim que o interfone toca é o mesmo para os que virão,
O segundo cliente é o
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tipo de cara bem tímido, que você tem de pegar pela mão e com quem
se tem de conduzir
a transa. Foi mecânico. Com ele, não consigo gozar, pois a trepada
é tensa - para os
dois. O terceiro, moleque de tudo, tem fôlego (e rapidez) para me
comer três vezes. Como
é o terceiro programa comigo, batizei-o de coelhinho - mas ele não
sabe. Na base da
rapidinha, quem não tem tempo de gozar sou eu. Não faz mal: rola
afinidade e a gente
sempre conversa bastante.
O quarto traz a amante para uma festinha a três. Uma mulher muito
interessante -
e entendida do riscado. Não era bonita, porém me acendeu. Se eu
não me controlo, e a
amiguinha dele também, quase que ele fica "na mão",
literalmente. Claro que eu não ia
deixar isso acontecer... Enquanto ela me chupava, com ele me
comendo, cavalguei
gostoso e gozei. Não pela cavalgada, mas pela língua.
O quinto era estilo "homem para casar". Não rolou química,
mas teve muita
afinidade. Quarentão, conseguiu fazer uma coisa que eu nunca tinha
visto:
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gozou sem nem tocar no pau enquanto eu chupava o saco dele. Ah,
ele me trouxe uma
torta de limão. Muito boa. Depois de eu cavalgar um pouquinho, o
segundo tempo
terminou com ele gozando na minha boca.
O sexto e último do dia quer que eu o leve a um clube de swing. É
sua primeira vez
em uma casa dessas. Mais um que vou levar para o mau caminho...
Como a noite estava gostosa, e fazia tempo que eu não usava
vestido, escolhi um que, na
verdade, é apenas um pedaço de pano: tem um decotão na frente e é
do comprimento
que cobre apenas o bumbum e a boceta. Aproveitei para ir com uma
sandália de amarrar
na perna. Queria arrasar. E, claro, consegui. Eu era a mais
gostosa do Marrakesh
naquela noite. Mas ele, mesmo depois de bebermos e dançarmos um
pouco, não
conseguia entrar no clima de suruba.
-Não estou à vontade numa sala com tanta gente trepando.
Fomos para a única sala onde homens desacompanhados podem entrar.
Sentei
em um sofazinho vazio e ele começou a me chupar. Do nada,
apareceram uns caras.
Sentou um de cada lado no sofá e outros dois ficaram de pé, só
olhando. Quando ele
percebeu o movimento, se assustou e acabamos indo para um
quartinho privativo, só nós
dois.
Como tinha rolado química, nem fiz questão de trocar de casal. Ele
também não quis.
Rolou a noite toda. Chupeta, espanhola, beijo grego... Sempre que
vou num swing, fico
excitada com a chance de, numa dessas trocas, ficar com uma mulher
interessante. Hoje,
para sorte do meu cliente, só havia tiazinhas. Nada contra as
tias, só que não me dão
tesão. Quase rolou com um quarentão que me puxou, mas ele estava
desacompanhado.
Mesmo que não tenha rolado de eu chupar nenhuma boceta ou de ter
trocado de casal, a
madrugada valeu muito. Cheguei em casa às 5h30 da manhã.
Transas enlouquecidas, surubas, muitos homens (e mulheres)
diferentes por dia,
noites quase sem fim. O que pode ser excitante para muitas garotas
como eu, na
efervescência dos vinte anos, para mim é rotina. É meu dia-a-dia
de labuta já faz três
anos. Trabalhando cinco dias por semana, com uma média de cinco
programas por dia - é
só você fazer as contas para saber quantas vezes já transei por
dinheiro. Por mais que eu
chegue a curtir, a gozar de verdade, ainda assim é trabalho.
Trabalho que escolhi por não
ter outra escolha quando... Bem, é uma longa história. A minha,
pessoal, e a da Bruna.
Sim, somos duas. Com duas histórias diferentes numa mesma garota:
eu.
Um desconhecido. Eu dançava sozinha quando esse menino me puxou
para um
beijo. Minha primeira balada à noite. Nem perguntei seu nome. Meu
primeiro programa de
"adulto". Liberdade aos 13 anos, quase 14. Não fazia nem
meia hora que eu havia
chegado. Meu primeiro beijo. Ali mesmo, do beijo passamos ao
amasso, no meio da pista.
Quando eu menos esperava, ele me largou. Tudo assim, sem
sentimento, sem trocar uma
palavra. Naquela noite, fiquei com outros dez garotos diferentes.
Não bastava um: tinham
que ser vários para me satisfazer. Raquel despertava para o sexo.
Um desconhecido. Mesmo nervosa, eu me apresento com um texto
ensaiado ali, na hora:
- Sou a Bruna, faço oral, vaginal e anal".
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Completei dizendo minha idade falsa, "18 anos", sem
saber que nenhuma garota
faz disso marketing pessoal. Ninguém podia saber que era meu
primeiro programa. Fazia
apenas meia hora que eu havia saído da casa dos meus pais para
chegar àquela nova
casa.
Minha estréia aos 17 anos. Não diria àquele estranho que nunca
tinha feito sexo por
dinheiro. Ele me escolheu, de cara. Eu queria sumir, sair correndo
e voltar para a casa
dos meus pais. Em vez disso, subimos para o quarto. Penso na minha
mãe. Um estranho
me toca e quer transar sem camisinha. "Ela deve estar
sofrendo." Não deixo ele me tocar.
Depois de ele brincar de ginecologista comigo, enfiando seu dedo e
cheirando para saber
se estava "tudo bem", me penetrou com camisinha. Eu só
pensava:
- Vou pegar o dinheiro desse cara e voltar para casa. Ainda dá
tempo de desistir e
ir embora.
Acabei fazendo seis programas naquela tarde. Nunca mais voltei
para casa. Nunca
mais vi meus pais. Bruna nasceu para o sexo. Pouco mais de três
anos separam esses
dois momentos tão distantes um do outro. No primeiro, Raquel
mudava da água para o
vinho, da meiga filha mimada para uma adolescente sem freio, mentirosa.
Havia treinado
muito beijo no espelho do banheiro, na laranja, no braço, sempre
confiante nas dicas das
revistas de meninas. Ao vivo, tinha sido muito melhor. No segundo,
achei no meu corpo,
entre as pernas, a chave da liberdade e o meu ganha-pão, mesmo que
isso significasse
mentir minha idade e colocar em prática, por cem reais o programa,
com quarenta reais
de lucro para mim, o pouco que havia aprendido em seis transas com
um namoradinho
sério e outro ficante.
Na pista da Kripton, em plena Vila Olímpia, a cada noite de balada
eu queria mais
e mais. Ia de saia bem curta, para facilitar as coisas para quem
quisesse sentir com as
mãos o que a quase escuridão não deixava mostrar. Se não transei
bem ali, se não quis
perder no meio da pista minha virgindade, não foi por falta de
oportunidade. O prazer que
experimentava ao sentir o pênis do garoto, duro por minha causa
debaixo das calças, me
roçando aqui e ali, era quase irresistível. Quase...
Abri muito zíper de garotos na pista mesmo, só para baixar sua
cueca e puxar seu
pênis um pouco para fora para brincar. Não tinha a menor idéia de
como masturbar um
homem, até que um deles me pediu, com todas as letras: "Bate
uma pra mim". Sem
saída, disse a verdade: "Não sei". Encostados em uma
parede próxima da pista, comigo,
sem graça, ouvindo seu riso sacana, ele pacientemente pegou minha
mão e me ensinou o
movimento. Dali para a frente, só não fiz isso com quem não quis.
É fantástico fazer um
cara gozar, sentir prazer. Comecei a punhetar todos com quem
ficava enquanto dançava.
Ninguém à volta percebia, pois muitos estavam ocupados fazendo
exatamente a
mesma coisa que eu e meu ficante da vez. Cheguei mesmo a ver
muitos casais transando
de verdade nos sofás. Com os seguranças do lugar, não havia
problemas, se pegassem
um casal mais atirado ou exibicionista, pediam apenas para
maneirar.
Nunca transei na balada. Houve muitas oportunidades, mas nenhuma
coragem.
Para perder a virgindade, teria que ser com alguém especial. Sou
romântica. Não que
isso me impedisse de começar a deixar que os garotos me tocassem
mais intimamente.
Sob a saia bem curta, abaixava um pouco minha calcinha e, só com o
contato das mãos
entre minhas coxas e na minha vagina, ficava super- molhada.
Achava que aquilo era
gozar. Só depois descobri que "chegar lá" era mais,
muito mais - e melhor. Aprendi que o
gozo, para mim, começa com um friozinho na barriga. Mesmo assim,
não queria transar.
Cheguei muito perto de ir até o fim algumas vezes. Por duas vezes,
entrei no carro,
eu e meu ficante tiramos nossas roupas, fizemos de tudo e eu fui
até onde conseguia. E
olha que já era bem longe. Na hora de transar de verdade, de ser
penetrada, ficava
arrependida e com medo.
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- Eu preciso ir embora.
- Agora que a gente tá no embalo?
- É que meu pai vem me pegar daqui a pouco.
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- Ele espera - dizia o outro, já com o pau duro para fora da calça
e as mãos
parecendo dois polvos, cheias de dedos em cima de mim.
- Não dá.
- Mas você já tá quase pelada, já fizemos quase tudo. Só falta o
principal...
- Vai ficar faltando, me desculpe.
Sempre arrumava uma desculpa e caía fora. Para o garoto, mais
velho e maior de
idade, eu seria apenas "mais uma". E eu não queria ser
apenas "mais uma". Me sentiria
usada. Ainda restava um pouco de razão na minha cabeça romântica.
Transar ali para
nunca mais ver o cara? Não era meu ideal de primeira vez. Sem
falar no medo da dor e
do sangramento do qual falavam as revistas de adolescentes. Achava
que sangraria
horrores, como uma torneirinha de sangue.
No fundo, era inexperiência mesmo. Sem querer confessar ser
virgem, e
igualmente sem coragem para pedir uma camisinha, me imaginava no
lugar de uma
amiga que engravidou aos 15 anos. Ela nem sequer sabia quem era o
pai da criança.
- Mãe, quem é o meu pai?
- Não sei, filho. - E eu sei bem o que significava esse tipo de
diálogo.
No meu primeiro dia na casa da Franca, a última coisa que eu
queria era que
descobrissem minha falta de experiência. Cheguei lá pelas duas da
tarde, depois de ter
caminhado desde o Paraíso, onde morava, deixando para trás tudo o
que tinha: mãe, pai,
quarto, roupas. Carregava um fichário e a mochila do colégio com
poucas roupas e muitos
biquínis para usar no meu primeiro emprego. Perda de tempo:
nenhuma das garotas
trabalhava de biquini.
Sem roupa decente para trabalhar, as outras garotas me arrumaram
umas coisas
horrorosas. Justo eu, que sempre me expressei pelo uso de marcas
de grife, que
compensavam minha gordurinha e minha síndrome de patinho feio.
Tive de me
conformar. Sabia que um dia ganharia meu dinheiro e compraria tudo
outra vez. A
cafetina da casa da Franca, Larissa, foi a única para quem disse
uma parte da verdade.
Ela me pediu o RG, e não tive como esconder: eu só tinha 17 anos.
- Não diga nada a ninguém sobre isso - ela me aconselhou.
Por mais que tentasse bancar a experiente na frente das outras
garotas, de cara
dei bandeira:
- Com que nome você trabalha? - perguntou Larissa.
- Raquel - disse, sem um pingo de malícia.
- Nenhuma garota de programa usa seu nome de verdade. Aqui, vai
ter de trocar.
- Você combina com Bruna - disparou a Mari, que acabou virando uma
boa amiga.
Não me lembro por que, quando foi ou quantos anos eu tinha, mas
não esqueço
que cresci com a história de ser adotada na cabeça. Quando tinha
cinco anos, perguntei à
minha mãe. Diante da resposta positiva, não tive coragem de
perguntar o que significava,
afinal, adoção. Levei minha dúvida para a professora da escola,
que me explicou que as
pessoas adotadas foram bebês abandonados em um lugar porque a mãe
não podia ou
não queria criar. Depois disso, vem um casal e escolhe uma dessas
crianças para a
adoção.
- Escolher? - Me senti um objeto.
Por mais que meus pais sempre tivessem me tratado como filha, foi
difícil não me
revoltar, mesmo que guardasse isso só para mim. Pô, filho era o
que nascia da barriga.
Só comecei a aceitar o contrário bem mais tarde. Talvez tarde
demais. Tentava levar tudo
numa boa, pois tinha mesmo uma família. Mas sempre vinha alguém e
comentava que eu
era muito diferente das minhas irmãs mais velhas e da minha mãe.
Ela é bem européia,
pele clarinha, cabelos e olhos escuros, traços delicados. A gente
só se parece na altura:
ela é tão baixinha quanto eu. As vezes, até trocávamos algumas
roupas, uns casacos.
Mas as semelhanças ficavam por aí. Minhas duas irmãs, ao
contrário, são iguaizinhas à
minha mãe.
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Mesmo um tio meu jamais me tratou como sobrinha. Para os que não
conheciam
meu pai, a desculpa era:
- ela puxou a ele.
Nem na sombra: ele tem 1,92 m., é gordo, branquinho. Em alguns
momentos, para
me defender desse preconceito, dessa agressão, minha mãe mentia
para os
desconhecidos, inventava algo para me resguardar. Quanta inveja eu
senti das minhas
amiguinhas que se pareciam com seus pais, com sua família de
verdade! A raiva ia dos
meus pais biológicos para os adotivos. Quando brigávamos, eu os
chamava de tio e tia.
Coitada da minha mãe... Mas eu não tinha maturidade nem estrutura
para lidar com isso
sozinha.
Com sete anos, em 1991, voltamos todos para Sorocaba, local de
origem da minha
família adotiva também. Ou melhor, nos mudamos para nossa chácara,
em Araçoiaba da
Serra. Meu pai havia sofrido um acidente e tivera de parar de
trabalhar. Um dia, na
garagem do prédio, se abaixou para pegar alguma coisa e, quando
levantou, bateu a
cabeça numa viga mais baixa do teto. Aquela pancada afetou seriamente
seu cérebro,
nem sei explicar como. Só quando o vi desmaiado pela primeira vez,
no meio da sala,
senti o quanto era grave. Quando meu pai viu que não tinha como
continuar trabalhando,
no auge de sua carreira de Direito, se abateu, ficou muito deprimido.
Foi melhor mesmo a
gente se mudar para a chácara.
Apesar de ter sido uma fase muito tensa e difícil com a doença do
meu pai, não
tenho do que me queixar: enquanto era poupada, sempre que
possível, do clima de
doença, brincava muito, inclusive com minha mãe e, às vezes, até
com meu pai. Ele
pendurou uma tabela de basquete no quintal, no meio das árvores de
frutas, e eu passava
horas treinando, sonhando em um dia ser uma profissional. Com
minha altura, seria mais
um sonho do tipo impossível.
Para mim, todas as prostitutas de São Paulo estavam na Augusta. Eu
já havia
passado por lá muitas vezes, inclusive com meus pais.
- Olha lá aquelas putas. – alguém comentava.
Como é que uma mulher chega nesse ponto? - eu pensava. Para mim,
só tinha
putas ali, naquela rua suja, feia. Ou, então, elas viviam naquelas
casinhas velhas, caindo
aos pedaços, com mulheres muito maquiadas penduradas nas janelas,
chamando os
homens que passam pela rua. Lá dentro, bastava elas abrirem as
pernas e esperarem o
cliente gozar: pronto. A tal "vida fácil". Garota de
programa seria assim, também? Não
pelos anúncios de jornal. "Você, menina de 18 a 25 anos,
atenda a executivos ganhando
no mínimo mil reais por semana”.
Nas semanas anteriores à minha fuga, quando já estava decidida a
sair de casa,
comprei jornais para ver os classificados e cabulei aulas para
visitar muitos desses
lugares: boates, privês, casas de massagem. Não vi nada que se
aproximasse daquela
imagem bagaceira da Augusta, muito menos das mulheres acabadas. A
maioria dos
lugares, como o Bahamas, era de bom gosto, elegante mesmo. Por
fora, você nem se
toca do que é lá dentro. Casas que encheram meus olhos. As garotas
que vi por lá não
tinham nada de anormal, não tinham "puta" estampado na
testa nem ficavam na porta se
oferecendo a quem passasse.
O privé da alameda Franca, nos Jardins, foi a minha escolha. Eu
não sabia fazer
nada, nem tinha experiência ou segundo grau completo. Para sair de
casa, teria que
pagar para ver - e ganhar os tais mil reais pelo que fizesse. O
preconceito foi embora e eu
disse:
- Vou ter que ser isso.
E, confesso: fantasiei muito com a possibilidade de ter vários
homens e comecei a
gostar da idéia. Afinal, só tinha transado seis vezes, de modo bem
mecânico, e nunca
tinha visto um filme pornô na minha vida. Ia ser a chance de
descobrir até onde o sexo
podia me levar.
- Isso, abre bem as pernas.
- Está bom assim?
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- Deixa o doutor examinar essa boceta, para ver se está tudo
certinho.
Vem um dedo, depois outro, que ele tira e cheira. Hummm, você
passou no exame
médico. Após estrear com o "ginecologista", que dizia
ter certeza de que a garota não
estava doente apenas cheirando seus dedos depois de enfiá-los
nela, a ilusão de "abrir as
pernas e pronto" não resistiu. Nem a fantasia de ter muitos
homens diferentes, pois
pensava na minha referência de homem. Mas foi bom ter tido um
"tratamento de choque"
para ver se queria mesmo ter minha independência.
Foi difícil estar na cama com uma pessoa estranha mesmo que fosse
o ajeitadinho
metido a ginecologista. Imagine, então, subir com um velho japonês
de sessenta anos,
gordo, imenso. Ele foi o meu segundo. Nunca pensei na vida em
pegar um cara assim. No
entanto, ele me pegou - e me pagou. Para dizer não, teria de pagar
à casa o que o cliente
pagaria pelo programa. Esse era o acordo. Fiz minhas contas: para
ganhar cem reais,
tinha e fazer três programas. Ser escolhida, e não escolher. Não é
à toa que tanta garota
de programa cheira cocaína e puxa muita maconha. Senti isso na
pele. Cheirando e
fumando.
O japa foi tirando a roupa, e eu só pensando em dinheiro. Tinha
uma hora pela
frente com aquilo. Ele era mais velho que meu pai! Só pensava em
fazer ele gozar logo
para acabar de uma vez com aquilo. Chegamos a conversar um pouco.
O pau não subia;
eu chupava, esfregava, e nada. Veio um monte de sensações,
cheiros, coisas que eu não
queria sentir. Fingia para mim mesma não sentir. Ele passava a mão
em mim. Não gostei.
Até hoje, às vezes, tenho nojo de ver uma mão fazendo carinho no
meu corpo.
Faço neles, mas nem sempre curto receber. Só transo ouvindo
música, que me ajuda a
divagar, a entrar em outra sintonia (além de o CD durar exatamente
o tempo do
programa, o que me ajuda a controlar a hora trabalhada). Há vezes
em que imagino outro
homem ali, um namorado. E olho para o lado, só para não ver a mão
passeando por mim,
pela minha intimidade. É uma questão de pele. Mas fui em frente e
consegui fazer o
japonês ficar de pau duro. Não sabia o que era pior.
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Botei nele uma camisinha, fiquei por cima dele, cavalguei, ele me
comeu e, claro,
não foi bom. Foi mais do que mecânico. Nesse dia, cheguei a chorar
com outro cliente.
Para todos que me comeram naquele dia, contei que era meu primeiro
dia como garota
de programa. Todo mundo sempre se dá algo para compensar um dia
ruim, uma semana
difícil. Com garotas que vivem do sexo, não é diferente. "Eu
mereço!", pensei. Com o
primeiro dinheiro de putaria que consegui ganhar e juntar, me dei
um celular de presente.
Me senti recompensada, de alguma maneira, por cada vez que engoli
meu nojo para não
perder o programa. É engraçado, mas nunca senti nojo do cara antes
de chegar na cama,
qualquer que fosse sua aparência. É só quando chega lá, mesmo. Não
por algo que o
cara tenha no corpo, um defeito ou uma cicatriz (embora tenha
minhas preferências...). O
que me pega é o cheiro. O cheiro do corpo. Tem homem que toma
banho e não adianta.
Tem os que chegam com bafo, também. Esses são os piores. Por isso
beijos são uma
coisa delicada. Eu não beijo todos. E nem todos querem beijar.
Os carentes são os que mais beijam. Só que, mesmo não estando a
fim, tenho de
beijar. E vai do jeito que dá, meio sem vontade. Eu não tenho
muita escolha. Faz parte do
meu negócio. Então respiro fundo e vamos lá. Os pouco mais de três
anos que vivemos
na chácara chegavam ao fim. Meu pai já estava bem melhor das
seqüelas do acidente e
eles decidiram que seria importante para minha educação voltar
para São Paulo. Afinal,
eu iria para a quinta série em 1995. Minha irmã mais velha já
havia se mudado para
Cajuru, próximo a Ribeirão Preto, por causa de trabalho. A do meio
estava morando em
nosso apartamento. Por isso, meus pais compraram um novo para nós,
no mesmo bairro.
Cada um teria seu canto. Realmente moderno, levando em conta os
conceitos morais dos
meus pais: uma morando no interior e a outra morando sozinha. Se
fosse verdade que os
mais velhos amolecem as coisas para os mais jovens, não teria com
que me preocupar.
Com a mudança, tive de deixar para trás uma bóxer, Lunna, minha
preferida, o
weimaraner Fedra e o Paco, um vira-lata. Porém, o mais importante
deixado lá foi um
pedaço da minha infância, da minha felicidade. Voltar para São
Paulo, por mais que eu
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amasse a cidade, virou um tormento. Meus pais tinham medo de
assalto, de estupro, de
tudo. E me prendiam. Para quem foi criada solta, brincando na rua
ou no quintal, era a
morte ficar presa naquele apartamento no Paraíso, já tinha 11 anos
e queria fazer do
mundo o meu quintal. Minhas amigas começavam a ir ao shopping, às
matinês
dançantes, e eu não podia. Sem liberdade, passei a mentir para ir
onde queria.
Minha mãe tinha ciúmes de mim. E demonstrava isso. Nem namorar,
mesmo que
fosse o carinha mais perfeito do mundo, eu podia. já meu pai...
Ele nunca fez seu papel
de pai. Tudo bem, teve o acidente, a doença, ele deixou sua carreira
brilhante bem no
topo, viveu uma depressão fodida. Hoje sei que, muitas vezes, ser
agressivo comigo era
culpa de tanto remédio tarja preta que ele tinha que tomar. Se
antes eu o culpava,
percebo agora que não foi bem assim.
A tal fase de adolescente rebelde que o excesso de proteção
desencadeou ficou
quase fora de controle, e as brigas, principalmente com meu pai,
viraram rotina. Quase
sempre pensava em sair de casa ou ir atrás dos meus pais
biológicos para saber se eles
me queriam de volta. Se a razão para me abandonar fosse
financeira, não haveria
problemas. Eu trabalharia, me bancaria. A única direção que
poderia me ajudar na busca
dos meus verdadeiros pais estava em Sorocaba, onde nasci e fui
adotada. Mas, na
verdade, nunca fui atrás.
Eu estudava no colégio Bandeirantes, tradicional e superpuxado -
tanto que,
quando passei com muito sacrifício, mas sem recuperação, para a
sexta série, fiquei na
última sala da turma, a 6s4. Quem estudou já sabe bem o que essa
pecha significa...
Meus pais, no entanto, estavam orgulhosos de mim, mesmo assim. Se
por um lado eu
queria liberdade, e mentia muito para consegui-la, por outro ainda
tinha meus próprios
preconceitos e dúvidas. E bancava a boa filha.
Minha irmã do meio, que hoje tem 30 anos, começou a namorar um rapaz
que
meus pais não aprovavam. Ela já morava sozinha. Bem... Digamos que
nem sempre.
Minha mãe
descobriu esse pequeno detalhe. A pressão para que terminasse o
namoro foi grande e
ela não teve dúvida: desapareceu com o cara. Vi o sofrimento dos
meus pais com essa
situação. Eu não podia ficar indiferente a isso. Quanta raiva
senti da minha irmã. O quanto
rezei para que meus pais não sofressem tanto... Acho que foi a
única vez na vida em que
rezei pedindo alguma coisa, e nem era para mim. Eu sempre agradeço
pela proteção e
só. Acho que Deus não faz nada por nós, além de nos proteger. Mas
eu queria que Ele
fizesse por meus pais. Mal sabia que eu mesma, dividida entre a
censura à minha irmã e
o desejo de liberdade, apertaria o botão de replay nessa história.
Quando o romance da minha irmã acabou, pelo visto por decisão do
rapaz, ela
voltou para nossa casa deprimida, quase doente, falando em morte e
tudo o mais. Meus
pais não passaram a mão na cabeça dela, dizendo "filhinha
querida, nós te amamos
tanto". Deixaram claro que queriam que ela sentisse a dor dos
seus próprios erros. Eles a
ignoravam, não conversavam com ela. E eu seguia o exemplo deles,
por mais que minha
vontade fosse abraçá-la, dizer a ela que estava tudo bem.
Lembro o dia em que vi minha mãe conversando seriamente com ela.
Eu já
conhecia aquela expressão: mamãe ficava vermelha, seus olhos
secavam, ficavam sem
brilho nenhum. Sua fala era calma, mas num tom de voz estranho,
que não deixava
dúvidas a respeito da seriedade de suas palavras. A testa franzia
de maneira diferente,
exibindo rugas que só apareciam quando ela estava brava. Era pior
do que apanhar - por
mais que nunca tivesse recebido um tapa sequer. No final, claro,
viram a seriedade da
coisa e a apoiaram. E lá foi minha irmã para o psiquiatra. Comigo
foi a mesma coisa. Por
que não falavam conosco? Por que nossos problemas tinham de ser
resolvidos com
estranhos? Eu queria falar, mas com eles. Não discordo do método
que usaram, pois
talvez não conhecessem outro. Com meus filhos, no entanto, acho
que farei diferente
quando a hora chegar.
Sempre imaginei que a primeira vez para uma menina tivesse mais
peso do que
para um menino. Estava enganada. A cada cabaço que tiro, fico mais
e mais convencida
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disso. Tudo bem que, no futuro, eles nem se lembrem direito com
quem foi (difícil, no meu
caso...), mas a sensação de estar frente a frente com uma mulher,
poder tocá-la, ter nas
mãos, em vez de uma revista com fotos de mulheres peladas, uma de
carne e osso...
Finalmente, descobrir a consistência de um seio, aprender como
pegá-lo, passear com a
mão na gruta de prazeres escondidos que toda mulher carrega entre
as coxas. Poder
cheirar, lamber. Sinto alguns deles, nos seus 13, 14 anos,
trêmulos diante da nudez.
Posso quase ler seus pensamentos. "Posso pegar?", é o
que mais ouço deles, querendo
apalpar meus seios. Mãos geladas, geralmente. Sinto no ar o medo
de falhar . Ou da
comparação com o pau de outros caras. Ou ainda de, quase morto de
ansiedade, gozar
sem nem ao menos completar o que está fazendo ali. Conduzo,
ensino, realizo. Me sinto
especial. De certo modo, estarei para sempre na memória de cada um
daqueles meninos
- tão "crianças" quanto eu. E foram muitos.
Como o colégio Dante Alighieri ficava perto da casa onde
trabalhava, já deu pra
imaginar quantas virgindades "desapareceram" por lá...
Os moleques iam em turma.
Como não podia entrar menor de idade (mas eu já trabalhava lá,
claro), ligavam de um
orelhão para saber se estava tudo certo, se não tinha risco de
aparecer polícia. Eles
vinham num bando enorme, embora fosse tudo com muito respeito, sem
zona. Parecia
uma excursão gigante, com os garotos usando as calças de agasalho
azuis com a faixa
amarela e a camiseta básica de malha com o nome do colégio
estampado no peito.
Vestidos assim, pareciam ainda mais crianças. A gente deixava a
porta da casa
entreaberta e eles entravam
correndo. Todas nós adorávamos aqueles meninos. Eles não iam lá
para zoar e gastavam
bem.
Eu, com 17 anos, subindo com moleques de 12, 13 ou 14 anos. Muitos
eram
clientes freqüentes, a maioria era virgem. Que estranho: eu, que
era inexperiente, estar
na cama com alguém ainda mais inexperiente! Mas acabava sendo
natural. Nessa idade,
os meninos são meio afoitos. No começo, foi estranho, difícil até.
Mas eu me acostumei. E
descobri como fazer eles relaxarem e irem até o fim.
"Devagar." "Tá machucando?" "Sim,
faz assim, ó." Não há cartilha que substitua uma boa
professora.
Acabava sendo quase sempre a escolhida. Afinal, não parecia tão
mais velha do
que as meninas por quem eles já tinham batido muitas punhetas,
suspirando de paixão.
Subia com o garoto. Só quando chegávamos ao quarto alguns deles
confessavam ser
virgens. "Você não conta para os meus amigos que é minha
primeira vez?" "Não tenho
por que contar, respondia. Nunca ri de nenhum deles. Eu, rir da
inexperiência? Ensinava
como pegar nos meus seios, deixava que me despissem, que me
tocassem, me
cheirassem, que vissem de perto como era "a diferença".
Ensinava como abrir o primeiro
sutiã da vida deles, aquele que ninguém esquece. Ligava o som e
conduzia meu show.
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