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Crepúsculo PARTE4



Crepúsculo
(Twilight)

Esta é a Parte2





Se o perseguidor
chegar perto de Forks, nós pegamos ele”.
“Eu sinto sua falta”, eu sussurrei.
“Eu sei, Bella. Acredite em mim, eu sei. É como se você tivesse levado metade de mim
com você”.
“Então, venha pegá-la”, eu desafiei.
“Breve, assim que eu puder. Mas eu vou te deixar a salvo primeiro”. A voz dele estava
dura.
“Eu te amo”, eu lembrei ele.
“Será que você poderia acreditar que, a despeito de tudo em que eu te envolvi, eu te
amo também?”
“Sim, na verdade, eu posso”.
“Eu vou te buscar logo”.
“Eu estarei esperando”.
Assim que o telefone ficou mudo, a nuvem de depressão começou a pairar sobre mim de
novo.
Eu me virei pra entregar o celular pra Alice, e encontrei Jasper inclinado sobre a mesa,
onde Alice estava fazendo desenhos num papel com o emblema do hotel. Eu me inclinei
no sofá, olhando por cima dos ombros dela.
Ela desenhou uma sala: longa, retangular, com uma sessão quadrada, mais fina lá no
final.
As placas de madeira estavam expostas na longitudinal em todo o chão da sala. Nas
paredes, as linhas denotavam o espaço de um espelho para o outro. E então,
atravessando os espelhos, acima da altura cintura, uma longa faixa. A faixa que Alice
dizia ser dourada.
“É um estúdio de Balé”, eu disse, repentinamente reconhecendo as formas familiares.
Eles olharam pra mim, surpresos.
“Você conhece essa sala?”. A voz de Jasper parecia calma, mas havia algo por baixo
dela que eu não podia identificar. Alice abaixou a cabeça para o seu trabalho, agora sua
mão voava sobre o papel, o formato da saída de emergência no fundo da sala, o som e a
TV numa mesa baixa que ficava no canto da frente da sala.
“Parece com um lugar que eu costumava freqüentar para ter aulas de dança - quando eu
tinha oito ou nove anos. O formato é o mesmo”.
Eu toquei o papel no local onde a parte quadrada aparecia, estreitando a parte de trás da
sala. “É aqui que eram os banheiros - as portas passavam pela outra sala de dança. Mas
o som ficava aqui” - eu apontei o canto esquerdo - “Era mais velho e não havia uma TV.
Havia uma janela na sala de espera - você podia ver a sala nessa posição se você olhasse
por ela”.
Alice e Jasper estavam olhando pra mim.
“Você tem certeza de que é a mesma sala?” Jasper perguntou, ainda calmo.
“Não, nem um pouco - eu creio que todos os estúdios de dança sejam parecidos - os
espelhos, as barras”. Eu tracei as barras nos espelhos com o dedo.
“É só que o formato me pareceu familiar”. Eu toquei a porta, que ficava exatamente no
lugar onde eu lembrava.
“Você teria algum motivo pra ir lá agora?” Alice perguntou, me tirando do devaneio.
“Não, fazem quase dez anos que eu não vou lá. Eu era uma dançarina horrível - eles
sempre me colocavam no fundo dos recitais”, eu admiti.
“Então não tem jeito disso estar ligado á você?”, Alice perguntou atentamente.
“Não, eu nem acho que o dono seja o mesmo. Eu estou certa de que é algum outro
estúdio de dança, em outro lugar”.
“Onde era o estúdio que você freqüentava?”, Jasper perguntou numa voz casual.
“Era na esquina da casa da minha mãe. Eu costumava ir andando pra lá depois da
escola...”, eu disse, minha voz fugindo. Eu não perdi o olhar que eles trocaram.
“Aqui em Phoenix, então?”, a voz dele ainda estava casual.
“Sim”, eu sussurrei. “Rua cinqüenta e oito com Cactus”.
Nós todos sentamos em silêncio, olhando para o desenho.
“Alice, o telefone é seguro?”
“Sim”, ela me assegurou. “O número vai ser localizado em Washigton”.
“Então eu posso usá-lo para ligar para a minha mãe”.
“Eu pensei que ela estivesse na Flórida”.
“Ela está - mas ela vai voltar pra casa em breve, e ela não pode voltar pra casa
enquanto...” Minha voz tremeu. Eu estava pensando no que Edward havia dito, sobre a
fêmea ter estado na casa de Charlie, na escola, onde meus documentos estariam.
“Como é que você vai encontrá-la?”
“Eles não têm números permanentes exceto em casa - ela tem que checar as mensagens
regularmente”.
“Jasper?”, Alice perguntou.
Ele pensou. “Eu acho que não pode fazer mal nenhum - mas tome o cuidado de não
dizer onde está, é claro”.
Eu peguei o telefone ansiosamente e disquei o número familiar. Ele tocou quatro vezes,
e então eu ouvi a voz a voz suave da minha mãe me dizendo pra deixar uma mensagem.
“Mãe”, eu falei depois do bipe. “sou eu. Escute, eu preciso que você faça uma coisa. É
importante. Assim que você escutar essa mensagem, me ligue neste número”. Alice já
estava a meu lado, escrevendo o número pra mim em cima do desenho dela. Eu o li
cuidadosamente, duas vezes. “Por favor, não vá a lugar nenhum antes que eu tenha
falado com você. Não se preocupe, eu estou bem, mas eu preciso falar com você
imediatamente, não importa a hora que você receber esta ligação, está bem? Eu te amo,
mãe, tchau”. Eu fechei meus olhos e rezei com todas as minhas forças pra que ela
recebesse a mensagem antes de ir pra casa.
Eu sentei no sofá, batucando no prato que continha as frutas, antecipando a longa noite.
Eu pensei em ligar pra Charlie, mas eu não sabia se ele estaria em casa agora ou não. Eu
me concentrei no jornal, assistindo histórias sobre a Flórida ou sobre o treinamento de
Primavera - greves, ou furacões ou algum ataque terrorista - qualquer coisa que pudesse
fazer eles voltarem mais cedo pra casa.
Imortalidade deve garantir paciência infinita. Nem Jasper nem Alice pareciam sentir a
necessidade de alguma coisa pra fazer. Por algum tempo, Alice desenhou os traços da
sala escura que ela havia visto, tudo o que ela podia ver pela leve luz da TV. Mas
quando ela terminou, ela simplesmente ficou olhando para o vazio das paredes, com
seus olhos eternos. Jasper, também, parecia não ter nenhuma necessidade de se mover,
ou de dar uma olhadinha pelas cortinas, eu sair correndo pela porta, como eu queria.
Eu devo ter pego no sono no sofá, esperando o telefone tocar de novo. O toque frio de
Alice me acordou brevemente enquanto ela me carregava para a cama, mas eu já estava
inconsciente antes de encostar no travesseiro.
21. Ligação
Eu podia sentie que era cedo demais quando eu acordei de novo, e eu sabia que os meus
horários do dia e da noite estavam mudando lentamente. Eu fiquei deitada na minha
cama ouvindo as vozes baixinhas de Alice e Jasper na outra sala. Era muito estranho
que elas fossem altas o suficiente pra eu ouvir. Eu rolei até que meus pés tocassem o
chão e então me arrastei até a sala.
O relógio da TV dizia que havia acabado de passar das duas da manhã. Alice e Jasper
ainda estavam sentados no sofá, Alice rabiscando de novo enquanto Jasper olhava por
cima do ombro dela. Eles não olharam pra cima quando eu entrei, de tão concentrados
que estavam no trabalho de Alice.
Eu engatinhei até o lado de Jasper pra espionar.
"Ela viu mais alguma coisa?", eu perguntei baixinho pra ela.
"Sim. Alguma coisa trouxe ele de volta á sala de videocassete, agora está claro".
Eu observei enquanto Alice desenhava uma sala quadrada com vigas escuras que
atravessavam o teto. As paredes eram cobertas de madeiras, um pouco escuras demais,
fora de moda. Um dos lados da entrada era de pedra - uma lareira de pedra cor de broze
que ficava entre a entrada de duas salas. Haviam uma grande janela na parede que dava
para o Sul, e uma abertura na parede do lado oeste que dava uma visão para a sala de
estar.
O foco da sala por essa perspectiva, a TV e o videocassete, que ficavam equilibrados
num aparedor pequeno demais, estavam no lado do corredor que ficava mais próximo
do lado sul. Um sofá antigo ficava no lado contrário ao da TV, uma mesa de café
redonda ficava na frente dele.
"O telefone fica aqui", eu sussurrei, apontando.
Os dois pares de olhos me encararam.
"É a casa da minha mãe".
Alice já estava fora do sofé, com o telefone na mão, discando. Eu olhei para a precisa
descrição da sala familiar da minha mãe. Como não era do seu costume, Jasper
escorregou pra perto de mim. Ele colocou levemente sua mão no meu ombro, e o seu
contato físico pareceu fazer sua inflência calmante ser ainda mais forte.
O pânico ficou nublado, desfocado.
Os lábios de Alice estavam tremendo com a rapidez de suas palavras, o ruído baixo era
impossível de decifrar. Eu não conseguia me concentrar.
"Bella", Alice disse, eu olhei pra ela entorpecida.
"Bella, Edward está vindo te buscar. Ele e Emmett e Carlisle vão te levar para algum
lugar, pra te esconder por algum tempo".
"Edward está vindo?", as três palavras eram como um manto de vida, que segurava
minha cabeça pra cima durante um dilúvio.
"Sim, ele está pegando o primeiro vôo para Seattle. Nós vamos encontrá-lo no aeroporto
e você irá com ele".
"Mas, minha mãe... ele veio aqui pra pegar minha mãe, Alice!", a despeito de Jasper, a
histeria estava borbulhando nas minhas palavras.
"Jasper e eu ficaremos até que ela esteja a salvo".
"Eu não vou vencer, Alice. Vocês não podem cuidar de todas as pessoas que eu conheço
pra sempre. Ele vai achar alguém, ele vai machucar alguém que eu amo... Alice, eu não
consigo-".
"Nós vamos pegá-lo, Bella", ela me assegurou.
"E se você se machucar, Alice? Você acha que vai ficar tudo bem pra mim? Você acha
que ele só pode me machucar com a minha família humana?"
Alice deu um olhar cheio de significado pra Jasper. Uma pesada e profundo nuvem de
legargia passou por mim e os meus olhos fecharam sem minha permissão. Minha mente
lutou contra a nuvem , se dando conta do que estava acontecendo. Eu forcei meus olhos
a se abrirem e me levantei, me distanciando das mãos de Jasper.
"Eu não quero voltar a dormir", eu falei.
Eu andei para o quarto e fechei a porta, bati ela na verdade, assim eu estaria livre para
ficar despedaçada em privacidade. Dessa vez Alice não me seguiu. Por três horas e meia
eu olhei para a parede, curvada como uma bola, me balançando. Minha mente estava
dando voltas, tentando encontrar uma forma de sair desse pesadelo. Não havia
escapatória, não havia como adiar. Eu só podia ver um final aparecendo sombriamente
no meu futuro. A única pergunta era quantas pessoas se machucariam até que eu
chegasse la´.
O único consolo, a única esperança que eu tinha, era que eu veria Edward em breve.
Talvez, se eu pudesse apenas ver o rosto dele de novo, eu também poderia ver a solução
que me iludia agora.
Quando o telefone tocou, eu voltei para a sala, um pouco envergonhada pelo meu
comportamento. Eu esperava não ter ofendido nenhum dos dois, que eles soubessem o
quanto eu estava grata pelos sacrifícios que eles estavam fazendo por minha culpa.
Alice estava atendendo ele tão rapidamente como sempre, mas o que chamou minha
atenção foi que, pela primeira vez, Jasper não estava no quarto. Eu olhei para o relógio -
eram cinco e meia da manhã.
"Eles estão entrando no avião", Alice me disse. "Eles vão aterrisar as nove e quarenta e
cinco". Só mais algumas hora para respirar até que ele estivesse alí.
"Onde está Jasper?"
"Ele foi fazer o check-out".
"Vocês não vão ficar aqui?"
"Não, nós vamos nos relocar para algum lugar mais próximo da casa da sua mãe".
Meu estômago revirou desconfortavelmente com as palavras dela.
Mas o telefone tocou de novo, me distraindo. Ela pareceu surpresa, mas eu já estava me
aproximando, pegando esperançosamente o telefone.
"Alô?", Alice perguntou. "Não, ela está bem aqui". Ela me passou o telefone. Sua mãe,
ela murmurou.
"Alô?"
"Bella, Bella", era avoz da minha mãe, num tom famíliar que eu já havia ouvido
milhares de vezes na minha infância, toda vez que ficava na beira da calçada ou
desaparecia de vista num lugar lotado.
Era o som do pânico.
Eu suspirei. Eu já estava esperando isso, apesar de ter tentado poassar a mensagem da
forma mais calma possível, levando em consideração a emergência da situação.
"Mãe, fique calma", eu disse na minha voz mais tranquilizadora, caminhando
vagarosamente pra longe de Alice. Eu não tinha certeza de que conseguiria mentir
convenientemente com os olhos dela grudados em mim.
"Está tudo bem, tá legal? Só me dê um minuto e eu vou explicar tudo, eu prometo".
Eu pausei, surpresa por ela ainda não ter me interrompido.
"Mãe?"
"Tome muito cuidado pra não falar nada até que eu diga". A voz que eu ouvi agora não
era familiar e era inesperada. Era uma voz masculina baixa, uma voz muito agradável,
genérica - o tipo de voz que você ouve no fundo de um comercial de carros luxuosos.
Ele falava muito rapidamente.
"Agora, eu não preciso machucar sua mãe, então por favor, faça exatamente o que eu
disser e ela vai ficar bem". Ele pausou por uma minuto enquanto eu só ouvia, muda de
horror. "Isso é muito bom", ele parabenizou. "Agopra repita depois de mim, e tente
parecer natural. Por favor diga, 'Não, mãe, fique onde você está'".
"Não, mãe,fique onde você está", minha voz mal passava de um sussurro.
"Eu vejo que isso vai ser bem difícil". A voz estava divertida, ainda leve e amigável.
"Porque você não vai para outro lugar pra que o seu rosto não arruine tudo? Não há
nenhuma razão pra sua mãe sofrer. Enquanto você está andando, por favor diga 'Mãe,
por favor, me ouça'. Diga isso agora".
"Mãe, por favor, me ouça", minha voz implorou. Eu andei bem devagar para o quarto,
sentindo os olhos preocupados de Alice na minhas costas. Eu fechei a porta atrás de
mim, tentando pensar claramente apesar do terror que prendia meu cérebro.
"Agora, você está sozinha? Só responda sim ou não".
"Sim".
"Mas eles ainda podem te ouvir, eu tenho certeza".
"Sim".
"Tudo bem então", a voz de concordância continuou. "diga, 'Mãe, confie em mim'".
"Mãe, confie em mim".
"Isso está funcionando melhor do que eu esperava. Eu estava preparado para esperar,
mas a sua mãe chegou antes do horário. É mais fácil assim, não é? Menos suspense,
menos ansiedade pra você".
Eu esperei.
""Agora eu quero que você me ouça muito cuidadosamente. Eu vou precisar que você
se afaste dos seus amigos; você acha que consegue fazer isso? Responda sim ou não".
"Não".
"Eu lamento ouvir isso. Eu esperava que você fosse um pouco mais criativa que isso.
Você acha que poderia se afastar deles se a vida da sua mãe dependesse disso? Rsponda
sim ou não".
De alguma forma, tinha que haver um jeito. Eu me lembrei que estavamos indo ao
aeroporto. Aeroporto Sky Harbor Internacional: lotado, pessoas atrasadas...
"Sim".
"Isso é melhor. Eu tenho certeza que não será fácil, mais se eu tiver a mínima impressão
de que você tem companhia, bem, isso vai ser muito ruim para a sua mãe", a voz
amigável prometeu. "Você já deve nos conhecer suficientemente bem pra saber o quão
rapidamente eu vou saber se você tentar trazer alguém com você. E como eu poderia
lidar rapidinho com a sua mãe se esse fosse o caso. Você está me entendendo?
Responda sim ou não".
"Sim", minha voz quebrou.
"Miuto bom, Bella. Agora aqui está o que você precisa fazer. Eu quero que você vá para
a casa da sua mãe. Perto do telefone haverá um número. Ligue pra ele e eu te direi pra
onde ir a partir daí". Eu já sabia pra onde iria, e onde isso iria acabar. Mas eu seguiria
exatamente as instruções dele. "Você pode fazer isso? Responda sim ou não".
"Sim".
"Antes do meio dia, por favor, Bella. Eu não tenho o dia inteiro", ele disse
educadamente.
"Onde está Phil?", eu perguntei.
"Aw, tome cuidado, Bella. Espere até que eu te peça pra falar, por favor".
Eu esperei.
"Agora, isso é importante, não deixe os seus amigos suspeitarem quando você voltar pra
eles. Diga pra eles que sua mãe ligou, e que você conseguiu convencê-la a ficar longe de
casa por mais algum tempo. Agora repita depois de mim 'Obrigada, mãe'. Diga agora".
"Obrigada, mãe", as lágrimas estavam chegando. Eu tentei afastá-las.
"Diga 'Eu te amo, mãe, a gente se vê logo'. Diga agora".
"Eu te amo, mãe", minha voz estava grossa. "A gente se vê logo", eu prometi.
"Adeus, Bella. Eu estou ansioso pra vê-la de novo". Ele desligou.
Eu segurei o telefone no meu ouvido. Meu corpo estava congelado de terror - eu não
conseguia fazer meus dedos solta-lo.
Eu sabia que tinha que pensar, mas minha cabeça estava cheia com o som de pânico da
voz da minha mãe.. Os segundos foram se passando enquanto eu lutava pra me
controlar.
Lentamente, lentamente, meus pensamentos começaram a transpor a parede de tijolos
que a dor havia construido. Para planejar. Eu não tinha escolhas, a não ser uma: ir para a
sala espelhada e morrer. Eu não tinha garantias, nada pra dar que pudesse manter minha
mãe viva. Eu só podia esperar que James se desse por satisfeito depois que James
ganhasse o jogo, que derrotar Edward fosse o suficiente.
O desespero tomou conta de mim; não tinha como barganhar, não havia nada que eu
pudesse oferecer ou recusar que influenciasse ele. Mas eu ainda não tinha escolha. Eu
tinha que tentar.
Eu afastei o terror tão bem quanto pude. Minha decisão estava tomada. Eu não ganhava
nada perdendo meu tempo agonizando por causa do desfecho. Eu tinha que pensar com
clareza, porque Alice e Jasper estavam esperando por mim, e despistá-los era
absolutamente essencial, e absolutamente impossível.
Eu estava subitamente aliviada por Jasper não estar lá. Se ele estivesse aqui pra sentir a
minha angústia nos últimos cinco minutos, como era que eu ia evitar as suspeitas deles?
Eu afastei o medo, a ansiedade, tentei sufocá-los. Eu não podia me dar ao luxo de sentílos.
Eu não sabia quando ele voltaria.
Eu me concentrei na minha fuga. Eu tinha que rezar pra que a familiaridade com o
aeroporto funcionasse a meu favor. D e alguma forma, eu tinha que manter Alice
longe...
Eu sabia que Alice estaria na outra sala esperando por mim, curiosa. Mas eu tinha que
lidar com mais uma coisa em particular, antes que Jasper voltasse.
Eu tinha que aceitar o fato de que não veria Edward novamente, nem uma imagem do
seu rosto pra levar comigo para a sala dos espelhos. Eu ai magoá-lo, e não podia dizer
adeus. Eu deixei as ondas de tortura me lavarem por algum tempo, seguir seu caminho
por um tempo.
Então eu afastei elas também, e fui enfrentar Alice.
A única expressão que eu consegui controlar foi um olhar bobo, morto. Eu ví o alarme
dela e não esperei que ela perguntasse. Eu só tinha um script, e agora não consegui
improvisar.
"Minha mãe estava preocupada, ela queria voltar voltar pra casa. Mas está tudo bem, eu
convencí ela a ficar longe". Minha voz estava sem sem vida.
"Nós vamos cuidar pra que ela fique bem, Bella, não se preocupe".
Eu me virei; eu não podia permitir que ela visse meu rosto agora.
Meu olho caiu sobre uma folha vazia com o emblema do hotel em cima da mesa. Eu fui
até ela, um plano se formando. Havia um envelope lá, também. Isso era bom.
"Alice", eu perguntei lentamente, sem me virar, mantendo o nível da minha voz. "Se eu
escrever uma carta para a minha mãe, você entregaria pra ela? Deixar na casa, eu quero
dizer".
"Claro, Bella", a voz dela era cuidadosa. Ela podia me ver perdendo o controle. Eu tinha
que controlar melhor as minhas emoções.
Eu fui para o meu quarto de novo, e me ajoelhei na mesinha de cabeceira para escrever.
"Edward", eu escrevi. Minha mão estava tremendo, a letra quase não era legível.
Eu te amo. Eu lamento muito. Ele está com a minha mãe. Eu sei que isso pode não
funcionar. Eu lamento muito, muito.
Não fique com raiva de Alice e Jasper. Se eu conseguir me afastar deles vai ser um
milagre. Agradeça eles por mim. Especialmente Alice, por favor.
E por favor, por favor, não vá atrás dele. É isso que ele quer. Eu acho. Eu não vou
conseguir aguentar se alguém se machucar por minha causa, especialmente você. Por
favor, isso é a única coisa que eu posso te pedir agora. Por mim.
Eu te amo. Me perdoe.
Bella.
Eu dobrei a carta cuidadosamente, e a coloquei no envelope. Eventualmente ele irai
encontrá-la. Eu esperava que ele pudesse entender, e me escutar, só dessa vez.
Então eu cuidadosamente fechei meu coração.
22. Esconde - esconde
Levou muito menos tempo do que eu espera - todo o terror, o desespero, a dor do meu
coração partido. Os minutos estavam se passando mais devagar do que o normal. Jasper
ainda não tinha voltado quando eu retornei para Alice. Eu estava com medo de ficar no
mesmo quarto com ela, com medo que ela adivinhasse... e com medo de me esconder
dela pela mesma razão.
Eu teria pensado que estava longe da possibilidade de me surpreender, meus
pensamentos estavam torturados e desestabilizados, mas eu fiquei surpresa quando ví
Alice se inclinar na mesa, agarrando a borda com as duas mãos.
"Alice?"
Ela não reagiu quando eu chamei o nome dela, mas a cabeça dela estava se balançando
lentamente de um lado para o outro, e eu ví o rosto dela. Seus olhos estavam vazios,
ofuscados... Meus pensamentos viajaram para a minha mãe. Eu já estava atrasada?
Eu corri para o lado dela, me lançando automaticamente pra pegar na mão dela.
"Alice!", a voz de Jasper cortou, e então ele estava atrás dela, as mãos dele sobre as
mãos dela, fazendo elas soltarem a borda da mesa. Do outro lado da sala, a porta estava
se fechando com um click baixinho.
"O que foi?", ele quis saber.
Ela desviou o rosto de mim e o colocou no peito dele. "Bella", ela disse.
A cabeça dela se virou pra mim, os olhos dela se prendendo aos meus, a expressão deles
ainda estava estranhamente vazia. Eu me dei conta na hora de que ela não estava
falando comigo, ela estava respondendo á pergunta de Jasper.
"O que você viu?", eu disse - e não havia pergunta nenhuma no tom vazio, sem
importância da minha voz.
Jasper olhou pra mim asperamente. Eu mantive a expressão vazia e esperei. Os olhos
dele estavam confusos enquanto passavam rapidamente do rosto de Alice para o meu,
sentindo o caos... eu imagino que tenha sido pelo que Alice havia acabado de ver.
Eu senti uma atmosfera tranquila pousar ao meu redor. Eu a recebí bem, usando ela pra
manter os meus sentimentos em disciplina, sobre controle.
Alice, também se recuperou.
"Nada, de verdade", ela respondeu finalmente, a voz dela incrivelmente calma e
convincente. "Só o mesmo quarto de antes".
Ela finalmente olhou pra mim, sua expressão estava suave e reservada.
"Você queria tomar o café da manhã?"
"Não, eu vou comer no aeroporto". Eu estava muito calma também. Eu fui para o
banheiro pra tomar um banho. Quase como se eu estivesse desenvolvendo o estranho
poder de Jasper, eu podia sentir o desespero - bem dissimulado - selvagem de Alice para
que eu saisse da sala, para estar sozinha com Jasper. Assim ela poderia dizer a ele que
os dois estavam fazendo alguma coisa errada, que eles iam falhar...
Eu me aprontei metodicamente, me concentrando em cada pequena tarefa. Eu deixei
meu cabelo solto, se torcendo, cobrindo meu rosto.
O sentimento de paz que Jasper criou funcionou e me ajudou a pensar com clareza. Me
ajudou a planejar. Eu procurei na minha bolsa até que encontrei minha meia cheia de
dinheiro. Eu coloquei tudo que havia nela no meu bolso.
Eu estava ansiosa para chegar ao aeroporto,e feliz quando nós saímos por volta das sete.
Dessa vez eu me sentei sozinha no fundo do carro escuro. Alice estava inclinada na
porta, seu rosto estava virado pra Jasper, mas por trás dos óculos escuros, seus olhos se
viravam pra mim a cada segundo.
"Alice?", eu perguntei indiferente.
Ela estava sendo cautelosa. "Sim?"
"Como isso funciona? As coisas que você vê?", eu olhei pra fora pela janela, e minha
voz soou aborrecida. "Edward disse que não era definitivo... que as coisas mudam?"
Dizer o nome dele era mais difícil do que eu pensei. Deve ter sido isso que alertou
Jasper, porque um flash de serenidade invadiu o carro.
"Sim... as coisas mudam", ela murmurou - esperançosamente, eu esperava. "Algumas
coisas são mais certas que outras...como o clima.
As pessoas são mais difíceis. Eu só vejo os caminhos onde as pessoas estão quando elas
ainda estão neles. Somente elas podem mudar suas mentes - tomar uma decisão, não
importa o quanto ela seja pequena - muda todo o futuro".
Eu balancei a cabeça pensativamente. "Então você não conseguiu ver James em Phoenix
até que ele decidiu vir pra cá".
"Sim", ela respondeu, cautelosa de novo.
E ela não tinha me visto na sala dos espelhos com James até que eu decidí ir encontrá-lo
lá. Eu tentei não pensar no que mais ela havia visto. Eu tentei não fazer o meu pânico
deixar Jasper ainda mais suspeito. De qualquer forma, eles iam estar me observando
ainda mais cuidadosamente depois da visão de Alice. Isso ia ser impossível.
Nós chegamos no aeroporto. A sorte estava comigo, ou talvez fosse somente pontos de
desvantagem. O avião de Edward estava aterrisando no terminal quatro, o maior
terminal, onde a maioria dos vôos desembarcava - então não era uma grande surpresa
que o dele fosse aterrisar lá. Mas esse era o terminal que eu precisava: o maior o mais
confuso. E havia uma porta no nível três que podia ser a minha única chance.
Nós paramos no quarto andar da enorme garagem. Eu guiei o caminho, por conhecer
melhor o trajeto do que eles. Nós pegamos o elevador até o nível três, onde os
passageiros desembarcavam. Alice e Jasper ficaram um longo tempo no balcão
procurando os vôos que haviam chegado. Eu ouvia eles discutindo os prós e contras de
Nova York, Atlanta, Chicago. Lugares que eu nunca havia visitado. E nunca visitaria.
Eu esperei pela minha oportunidade, impaciente, sem conseguir fazer meu pé parar de
se mexer.
Nós nos sentamos numa longa fileira de cadeiras perto dos detectores de metal, Jasper e
Alice estavam fingindo observar as pessoas, mas na cerdade estavam observando a
mim. Cada centímetro que eu me mexia na cadeira era acompanhado por olhares nos
cantos dos olhos deles. Eu não tinha esperanças. Será que eu deveria correr? Eles
ousariam me deter fisicamente nesse local público? Ou eles simplesmente me
seguiriam?
Eu puxei o envelope sem lacre da minha bolsa e o coloquei em cima da bolsa de couro
preto de Alice. Ela olhou pra mim.
"Minha carta", eu disse.
Ela afirmou com a cabeça e o colocou embaixo da bolsa. Ele a encontraria rápido o
suficiente.
Os minutos foram se passando e o momento da chegada de Edward se aproximava. Era
impressionante como cada célula do meu corpo parecia saber que ele estava chegando, e
ansiava pela sua chegada.
Isso dificultou as coisas. Eu me peguei tentando inventar desculpas pra ficar, pra vê-lo
antes e depois escapar. Mas eu sabia que isso era impossível se eu queria ter alguma
chance de escapar.
Várias vezes Alice se ofereceu pra ir pegar meu café da manhã comigo. Depois, eu disse
pra ela, ainda não.
Eu olhei para o painel de vôos, observando enquanto vôos após vôos chegavam no
horário. O vôo de Seattle se aproximava a cada segundo do topo do painél.
E então, quando eu só tinha meia hora para escapar, os números mudaram. O vôo dele
estava dez minutos adiantado. Eu não tinha mais tempo.
"Eu acho que vou comer agora", eu disse rapidamente.
Alice ficou de pé. "Eu vou com você".
"Você se importa se Jasper vier?", eu perguntei. "Eu estou me sentindo um pouco...", eu
não terminei a frase. Meus olhos já estavam selvagens o suficiente pra convencê-los do
que eu não precisei dizer.
Jasper ficou de pé. Os olhos de Alice estavam confusos, mas - eu ví aliviada - não
suspeitos. Ela deve estar atribuindo a visão dela á alguma manobra do perseguidor, e
não a uma traição minha.
Jasper caminhou silenciosamente ao meu lado, sua mão na curva das minhas costas,
como se ele estivesse me guiando. Eu fingi um pouco de interesse pelos poucos
restaurantes do aeroporto, minha cabeça estava procurando aquilo que eu realmente
queria. E lá estava ele, virando o corredor, fora da visão aguda de Alice: o banheiro
feminino do terceiro nível.
"Você se importa?", eu perguntei a Jasper enquanto passavamos. "Só vai demorar um
momentinho".
"Eu vou ficar aqui", ele disse.
Assim que a porta se fechou atrás de mim, eu já estava correndo. Eu me lembrei da
outra vez que me perdi nesse banheiro, porque ele tem duas saídas.
Do lado de fora das portas, eu tinha que correr uma curta distância até os elevadores, e
se Jasper ficasse onde ele disse que ficaria, ele jamais poderia me ver. Eu não olhei pra
trás enquanto corria. Essa era a minha única chance, e mesmo que ele me visse, eu tinha
que continuar correndo. As pessoas me olharam,mas eu ignorei elas. Virando na
esquina, os elevadres estavam me esperando, eu corri em frente, jogando minha mão nas
portas que estavam se fechando de um elevador que estava descendo. Dentro, eu me
espremi entre os passageiros irritados, e chequei pra ter certeza de que haviam apertado
o botão para o nível um. Ele já estava aceso e as portas se fecharam.
Assim que a porta se abriu eu já estava fora de novo, e ouvi o som de murmúrios
aborrecidos atrás de mim. Eu me controlei enquanto passava pelos guardas nos carroséis
de bagagem, mas comecei a correr de novo quando as portas da saída começaram a
aparecer.
Eu não tinha como saber se Jasper já estava procurando por mim.
Se ele estivesse sentindo o meu cheiro, eu só tinha alguns segundos. Eu pulei pra fora
pelas portas automáticas, quase me chocando com os vidros porque elas se abriram
devagar demais.
Não havia nenhum taxí á vista na longa curva lotada.
Eu não tinha tempo. Alice e Jasper não demoraria a se dar conta que eu tinha ido
embora, se é que já não haviam percebido. Eles me achariam num piscar de olhos.
Um transporte público para o Hyatt estava fechando as portas a alguns metros de
distância atrás de mim.
"Espere!", eu chamei, correndo, acenando para o motorista.
"Esse é o transporte para o Hyatt", o motorista disse confuso enquanto abria as portas.
"Sim", eu gritei, "é pra lá que eu estou indo". Eu subí os degraus correndo.
Ele olhou curioso para as minhas poucas bagagens, mas então levantou os ombros, sem
se importar o suficiente pra perguntar.
A maioria dos bancos estava vazia. Eu me sentei tão longe dos viajantes quanto foi
possível, e olhei pra fora da janela enquanto primeiro a calçada, depois o aeroporto iam
se afastando.
Eu não pude deixar de imaginar Edward, onde ele iria ficar na pista quando descobrisse
até onde o meu cheiro ia. Eu não choraria ainda, eu disse pra mim mesma. Eu ainda
tinha um grande caminho a percorrer.
Minha sorte continuou. Na frente do Hyatt, um casal de aparecia cansada estava tirando
a última mala deles da mala de um táxi. Eu pulei pra fora do transporte e corri para o
táxi, deslizando no banco atrás do motorista. O casal cansado e o motorista do
transporte público olharam pra mim surpresos.
Eu disse o endereço da minha mãe ao surpreso motorista de táxi. "Eu preciso chegar aí o
mais rápido possível".
"Isso é em Scottsdale", ele reclamou.
Eu joguei quatro notas de vinte no banco.
"Isso vai ser suficiente?"
"Claro, garota, sem problemas."
Eu me encostei no banco, cruzando meus braços no colo. A cidade familiar cmeçou a
passar correndo por mim, mas eu não olhava para a janela.
Eu disse para mim mesma para manter o controle. Eu estava determinada a não estragar
as coisas a esse ponto, agora que o meu plano estava completamente sucedido. Não
havia motivo pra mergulhar em mais medo, mais ansiedade. Minha tarefa estava
passada, agora eu só tinha que cumpri-la.
Então, ao invés de entrar em pânico, eu fechei meus olhos e passei os vinte minutos da
viagem com Edward. Eu imaginei que tinha ficado no aeroporto pra me encontrar com
Edward. Eu visualizei como eu ficaria na ponta dos pés, pra ver o seu rosto mais rápido.
Como ele se moveria rapidamente, graciosamente entre as pessoas que nos separavam.
E então eu correria para fechar os metros restantes entre nós - descuidada, como sempre
- e eu estaria nos seus braços de mármore, finalmente a salvo.
Eu me perguntei pra onde nós teríamos ido. Pra algum lugar á Norte, pra que ele
pudesse sair durante o dia. Ou talvez algum lugar muito remoto, para que pudéssemos
sair juntos no sol de novo. Eu imaginei ele numa costa, sua pele brilhando como o mar.
Não importaria quanto tempo nós tivéssemos que nos esconder.
Ficar presa num quarto de hotel com ele seria uma espécie de paraíso. Tantas perguntas
que eu ainda tinha que fazer pra ele. Eu podia falar com ele pra sempre, não dormir
nunca, nunca sair de perto dele.
Eu podia ver o rosto dele tão claramente agora... quase ouvir a voz dele. E, a despeito de
todo o terror e da falta de esperança, eu estava flutuando de felicidade. Eu estava tão
envolvida nos meus sonhos de fuga, que perdi a noção dos segundos passando.
"Ei, qual é o número?"
A pergunta do motorista perfurou minhas fantasias, deixando todas as cores escaparem
das minhas adoráveis ilusões. Medo, vazio e dor estavam esperando pra preencher o
vazio que elas deixaram pra trás.
"Cinqüenta e oito - vinte um", minha voz saiu estrangulada. O motorista olhou pra mim,
nervoso por eu estar tendo uma crise ou alguma coisa assim.
"Então, aqui estamos". Ele estava ansioso pra me ver fora do carro dele, provavelmente
com medo que eu pedisse o troco.
"Obrigada", eu murmurei. Não havia necessidade de ter medo, eu lembrei pra mim
mesma. A casa estava vazia. Eu tinha que correr; minha mãe estava esperando por mim,

assustada, dependendo de mim. _________________________________________________9


Eu corri para a porta, me abaixando automaticamente pra pegar a chave embaixo do
tapete. Eu destranquei a porta. Estava escuro lá dentro, vazio, normal. Eu corri para o
telefone, ligando a luz da cozinha no caminho. Lá, no balcão branco, estava um número
de dez dígitos escritos com uma letra pequena, organizada. Meus dedos tremiam no
teclado, cometendo erros. Eu tive que desligar e começar tudo de novo. Dessa vez eu
me concentrei só nos botões, cuidadosamente apertando um de cada vez. Eu conseguí.
Eu segurei o telefone na minha orelha com a mão tremendo. Só chamou uma vez.
"Olá, Bella", a voz calma atendeu. "Isso foi muito rápido. Eu estou impressionado."
"Minha mãe está bem?"
"Ela está perfeitamente bem. Não se preocupe, Bella, eu não estou disputando ela. A
não ser que você não tenha vindo sozinha, é claro". Leve, divertido.
"Eu estou sozinha".
Eu nunca estive tão sozinha a minha vida inteira.
"Muito bom. Agora, você sabe onde é o estúdio de balé que fica na esquina da sua
casa?"
"Sim, eu sei como chegar aí".
"Bem , então, eu te vejo em breve".
Eu desliguei.
Eu corrí para a porta, pela porta, e para o calor escaldante.
Não havia tempo de olhar pra trás para a minha casa, e eu não queriam vê-la como ela
estava agora - vazia, um simbolo de medo e não um santuário. A última pessoa a andar
entre aquelas paredes familiares era o meu inimigo.
Pelo canto do meu olho, eu quase conseguia ver aminha mãe na sombra do eucalipto
onde eu brincava quando era criança. Ou ajoelhada no monte de sujeira perto da caixa
de correio, o cemetério de todas as flores que ela tentou plantar. A smemórias eram
melhores do que qualquer realidade que eu pudesse ver hoje. Mas eu corri pra longe
delas, virei a esquina, deixando tudo pra trás.
Eu me sentia tão lenta, como se eu estivesse correndo na areia molhada- eu não parecia
conseguir me impulsionar o suficiente no concreto. Eu tropecei várias vezes, caindo
uma, me segurando com as mãos, arranhando elas na calçada, e então me levantando
pra continuar correndo em frente. Mas pelo menos eu consegui chegar na esquina. Só
mais uma rua agora; eu corrí, o suor caindo pelo meu rosto, eu estava ofegante. O sol
estava quente ne minha pele, brilhando demais quando entrava em contato com o
concreto branco e me cegava. Eu me sentí perigosamente exposta. Mais impetuosa do
que eu jamais sonhei ser capaz, eu desejava as florestas verdes, protetoras de Forks... de
casa.
Quando eu virei a esquina, na Cactus, eu podia ver o estúdio, exatamente como eu
lembrava dele. O estacionamento estava vazio, as venezianas verticais estavam
fechadas. Eu não conseguia mais correr - não conseguia mais respirar; o esforço e o
medo me esgotaram. Eu pensei na minha mãe pra manter meus pés se movendo, um na
frente do outro.
Enquanto eu me aproximava eu consegui ver a subscrição dentro da porta.
Estava escrito á mão num papel rosa escuro; dizia que o estúdio estava fechado para as
férias de primavera. Eu toquei a maçaneta e virei ela cuidadosamente. Estava aberta. Eu
lutei pra respirar e abrí a porta.
O saguão estava escuro e vazio, frio, o ar-condicionado estava funcionando. As cadeiras
de plástico estavam expostas ao longo das paredes, e o tapete tinha cheiro de shampoo.
O palco de dança oeste estava vazio, e eu podia ver pela janela de visão aberta. O palco
de dança leste, a maior sala, estava com as luzes acesas. Mas as cortinas estavam
fechadas na janela.
O terror me pegou tão forte que eu estava, literalmente, presa por ele. Eu não conseguia
fazer meus pés se moverem.
E então a voz da minha mãe me chamou.
"Bella, Bella?", o mesmo tom histérico de pânico. Eu me grudei na porta para ouvir o
som da voz dela.
"Bella, você me assustou! Nunca faça isso comigo de novo!", a voz dela continuou
enquanto eu corria pela sala longa, de teto baixo.
Eu olhei em volta, tentando descobrir de onde a voz dela estava vindo. Eu ouvi uma
risada, e me virei pra ver de onde ela estava vindo.
Lá estava ela, na tela da TV, espalhando meu cabelo de alívio. Era o dia de ação de
gração, e eu tinha doze anos. Nós tinhamos ido para a Califórnia, no ano anterior á
morte dela. Nós fomos para a praia um dia, e eu fui muito longe na beira do pier. Eu ví
meus pés falhando, procurando equilíbrio.
"Bella? Bella?", ela chamou por mim amedrontada.
E a tela da Tv ficou azul.
Eu me virei lentamente. Ele estava em pé muito rígido perto da saída de emergência no
fundo, então eu não havia notado ele antes. Na mão dele havia um controle remoto. Nós
olhamos um para o outro por um longo momento, então ele sorriu.
Ele caminhou na minha direção, perto demais, e então passou por mim pra colocar o
controle perto do video cassete. Eu me virei cuidadosamente pra observá-lo.
"Me perdoe por isso, Bella, mas não é melhor que a sua mãe não tenha que se envolver
nisso?", a voz dele era cortês, carinhosa.
E então eu me toquei. Minha mãe estava a salvo. Ela ainda estava na Flórida. Ela nunca
recebeu minha mensagem. Ela nunca sentiu medo pelos olhos vermelhos escuros no
rosto anormalmente pálido que estava na minha frente agora. Ela estava a salvo.
"Sim", eu respondi, minha voz saturada de alívio.
"Você não parece estar com raiva por eu ter te enganado".
"Eu não estou". Minha súbita situação me encorajou. O que imporatava agora? Estaria
acabado em breve. Charlie e minha mãe não se machucariam nunca, não haveria nada a
temer. Eu me senti quase vertiginosa. Alguma parte analítica da minha mente me disse
que eu estava perto de romper de tanto estresse.
"Que estranho. Você está falando a verdade". Seus olhos me estudaram com interesse.
Sua iris estavam quase pretas, só um pouco da cor rubi perto dos cantos. Sede. "Eu vou
dar esse crédito ao seu bando, vocês humanos podem ser bem interessantes. Eu acho
que consigo ver a graça de observar vocês. É impressionante - alguns de vocês não tem
o menor senso de interesse por sí próprios".
Ele estava a alguns passos de mim, com os braços cruzados, me olhando cheio de
curiosidade.
Não havia nenhuma ameaça no seu rosto ou na sua posição. Ele tinha uma aparência
muito comum, nada de especial nem no seu rosto nem no seu corpo. Só a pele branca e
os círculos embaixo dos olhos aos quais eu já estava tão acostumada. Ele usava uma
camisa azul clara de mangas compridas e jeans de um azul desgastado.
"Eu acho que você vai me dizer que o seu namorado vai te vingar?", ele me perguntou,
parecendo esperançoso.
"Não, eu acho que não. Pelo menos eu pedí pra ele não fazer isso".
"E o que foi que ele respondeu?"
"Eu não sei", era estranhamente fácil conversar com esse gentíl caçador. "Eu deixei uma
carta pra ele".
"Que romântico, uma última carta. E você acha que ele vai honrar seu pedido?". Sua
voz estava um pouco mais dura agora, o sarcasmo casando com o seu tom educado.
"Eu espero que sim".
"Hmmmm. Então as nossas esperanças são diferentes. Veja, isso tudo foi fácil demais,
rápido demais. Pra ser honesto, eu estou desapontado. Eu esperava um desafio muito
maior. E, no final,tudo que eu precisei foi de um pouco de sorte".
Eu esperei em silêncio.
"Quando Victória não conseguiu pegar seu pai, eu tive que saber um pouco mais sobre
você. Não havia nenhum sentido em correr o planeta inteiro a sua procura quando eu
podia confortavelmente esperar por você no lugar de minha escolha. Então, depois que
eu falei com Victória, eu decidi vir a Phoenix pra fazer uma visita a sua mãe. Eu ouvi
você dizendo que estava indo pra casa. Primeiro eu nem sonhei que você estivesse
falando sério. Mas depois eu imaginei. Os humanos podem ser muito previsíveis; eles
gostam de estar em algum lugar familiar, algum lugar seguro. E seria a estratégia
perfeita ir para o único lugar onde você não deveria estar se escondendo - o lugar pra
onde você disse que iria.
"Mas é claro que eu não tinha certeza, foi só um chute. Eu geralmente tenho um
pressentimento em relação á minha presa, um sexto sentido, se você preferir. Eu escutei
a sua mensagem para a sua mãe quando cheguei na casa dela, mas é claro que eu não
sabia de onde você estava ligando. Foi muito útili ter o seu telefone, mas pelo que eu
sabia você podia estar até na Antártida, e o jogo não ia funcionar a não ser que você
estivesse por perto.
"Então o seu namorado pegou um avião pra Phoenix. Victória estava monitorando eles
pra mim, naturalmente; num jogo com tantos jogadores, não se pode estar sozinho. E
então eles me disseram o que eu esperava saber, que você estava aqui afinal. Eu estava
preparado; eu já tinha assistido os charmosos videos caseiros. E aí foi só uma questão
de blefe.
"Fácil de mais, você vê, realmente não se aplica aos meus padrões. Então, você entende,
eu estava esperando que você estivesse errada sobre o seu namorado. Edward, não é?"
Eu não respondi. O desafio já estava cansando. Eu sentí que ele já estava acabando de se
regozijar.
O discurso não era pra mim mesmo. Não havia nenhuma glória em me derrotar, uma
humana fraca.
"Você se importaria, muito, se eu mesmo deixasse uma carta para o seu Edward?"
Ele deu um passo pra trás e tocou uma câmera do tamanho de uma mão que estava
cuidadosamente posicionada em cima do som. Uma pequena luz vermelha indicava que
ela já estava ligada. Ele ajustou ela algumas vezes, abriu o visor. Eu olhei pra ele
horrorizada.
"Me desculpe, mas eu não acho que ele será capaz de resistir eme caçar depois que ele
assistir isso. E eu não quero que ele perca nada. Era tudo pra ele, é claro. Você é
simplesmente uma humana, que infelizmente estava no lugar errado, na hora errada, e
com o grupo errado, eu devo dizer".
Ele deu um passo em minha direçao, sorrindo. "Antes de começarmos..."
Eu senti uma pontada de náusea no meu estômago enquanto ele falava. Isso era lgo que
eu não estava esperando.
"Eu só gostaria de esfregar isso, só um pouco. A resposta estava lá o tempo inteiro, e eu
estava com medo que Edward a visse e estragasse toda a minha diversão. Isso
aconteceu, oh, há muitos anos atrás. A única vez que uma presa me escapou.
"Veja, esse vampiro que estava tão apaixonado pela vítima, fez a escolha que seu
Edward foi fraco demais pra fazer. Quando o velho que eu conhecia estava atrás da
amiginha dele, ele roubou ela do asilo onde trabalhava - eu nunca vou entender essa
obcessão que alguns vampiros têm por vocês humanos - e assim que ele a libertou ele a
deixou em segurança. Ela nem pareceu notar a dor, a pobre criaturinha. Ela esteve presa
naquele buraco negro da cela durante tanto tempo. Cem anos antes ela teria sido
queimada numa estaca pelas visões dela. Na decada de 1920 ela foi jogada num asilo
com tratamentos de choque. Quando ela abriu os olhos, forte com a fresca juventude, foi
como se ela nunca tivesse visto o sol antes. O vampiro velho transformou ela numa
nova forte vampira, então não havia mais motivo pra eu tocar nela". Ele suspirou. "Eu
destruí o outro velho em vingança".
"Alice", eu respirei, aturdida.
"Sim, sua amiguinha. Eu fiquei surpreso por vê-la naquela clareira. Então eu acho que a
seu grupo vai tirar algum conforto disso tudo. Eu peguei você, mas eles têm ela. Aúnica
vítima que me escapou, uma honra, na verdade.
"E ela cheirava tão bem. Eu ainda lamento não ter podido prová-la. Ela cheirava ainda
melhor que você. Desculpe - eu não pretendia te ofender. Você tem um cheiro bom.
Floral, de alguma forma..."
Ele deu outro passo na minha direção, até ficar a apenas alguns centímentros de
distância. Ele levantou uma mecha do meu cabelo e cheirou ela deliciado. Então ele
gentlimente colocou a mecha de volta no lugar, e eu senti os dedos gelados dele na
minha garganta. Ela alisou rapidamente a minha bochecha com o polegar, seu rosto
estava curioso. Eu queria tanto correr, mas estava congelada. Eu não conseguia nem
balançar.
"Não", ele murmurou pra sí mesmo enquanto abaixava a mão, "eu não entendo". Ele
suspirou. "Bem, eu acho que devemos começar logo. E então eu vou poder ligar pra os
seus amigos e dizer onde te encontrar, e a minha pequena mensagem".
Eu definitivamente estava passando mal agora. Havia dor se aproximando, eu podia ver
nos olhos dele. Pra ele não seria suficiente ganhar, se alimentar e ir embora. Não haveria
um fim rápido como eu esperava. Meus joelhos começaram a tremer, eu eu temia que
fosse cair.
Ele deu um passo pra trás e começou a andar em círculos, casualmente, como se ele
estivesse tentando ter uma visão melhor da estátua de um museu. Seu rosto ainda estava
aberto e amigável enquanto ele decidia por onde começar.
Então ele rastejou pra frente, se arrastando daquele jeito que eu já conhecia, e seu
sorriso prazeiroso cresceu lentamente, até que não era mais um sorriso e sim uma
contorção dos dentes, expostos e brilhantes.
Eu não consegui me conter - eu tentei correr. Foi tão inútil quanto eu imaginei que seria,
como meus joelhos já estavam fracos, o pânico tomou conta e eu tropecei no caminho á
saída de emergência.
Ele estava na minha frente num flash. Eu não vi se ele usou as mãos ou os pés de tão
rápido que foi. Um golpe destruidor atingiu meu peito - eu me senti voando pra trás, e
então eu ouví o crash quando minha cabeça bateu contra os espelhos. O vidro rachou,
alguns pedaços tremendo e alguns caindo no chão perto de mim.
Eu estava atordoada demais pra sentir a dor. Eu ainda não conseguia respirar.
Ele andou lentamente na minha direção.
"Esse é um efeito muito bom",ele disse, examinando o estado do vidro, sua voz
amigável de novo. "Eu achei que essa sala daria um toque visual dramático ao meu
filmezinho. Foi por isso que eu escolhi esse lugar pra te encontrar. É perfeito não é?"
Eu ignorei ele, lutando pra me equilibrar nas mãos e nos joelhos, rastejando até a outra
porta.
Ele estava em cima de mim na hora, seu pé pisando com força na minha perna. Eu ouvi
o estalo antes de sentir a dor. Mas então eu sentí, e então não pude segurar o meu grito
de agonia. Eu me virei pra alcançar minha perna, e ele estava de pé ao meu lado,
sorrindo.
"Você gostaria de repensar o seu último pedido?", ele perguntou prazeirosamente. A
ponta do pé dele cutucou minha perna e eu ouví um grito penetrante, eu fiquei chocada
ao perceber que ele era meu.
"Você não iria preferir que Edward tentasse me encontrar?", ele testou.
"Não!", eu resmunguei. "Não, Edward, não-", então alguma coisa atingiu meu rosto, me
jogando de novo na direção dos espelhos.
Além da dor da minha perna, eu sentí o rasgo do vidro na minha cabeça onde ele entrou.
Então, uma umidade quente começou a se espalhar no meu cabelo com uma velocidade
alarmante. Eu podia sentir ela inundar o ombro da minha camisa, podia ouví-la
pingando no chão de madeira. O cheiro dela fez meu estômago revirar.
Apesar da náusea e do enjôo eu ví algo que me deu uma repentina, final ponta de
esperança. Seus olhos meramente intencionados antes, agora queimavam com uma
necessidade incontrolável. O sangue - espalhando o vermelho na minha blusa branca,
formando rapidamente uma poça no chão - estava deixando ele louco de sede. Não
importava o quanto as intenções fossem originais, ele não poderia continuar com isso
por muito tempo.
Que seja rápido agora, era tudo o que eu podia esperar enquanto o fluxo de sangue que
saia da minha cabeça levava minha consciência com ele. Meus olhos estavam se
fechando.
Eu ouvi, como se estivesse embaixo da água, o rosno final do caçador. Eu podia ver,
através dos longos túneis em que meus olhos haviam se transformado, a figura escura
dele vindo na minha direção. Como meu esforço final, eu levantei miha mão num gesto
instintivo pra proteger meu rosto. Meus olhos se fecharam e eu flutuei.
23. O anjo
Enquanto eu flutuava, eu sonhei.
Onde eu flutuava, embaixo de uam água escura, eu ouvi o som mais feliz que minha
mente poderia imaginar -tão lindo, tão animador, quanto era horrível. Era um outro
rosnado; um rosnado mais profundo, mais selvagem que estava cheio de fúria.
Eu fiu trazida de volta, quase á superfície, por uma dor pulsante na minha mão meio
levantada, mas eu não consegui achar o caminho o suficiente pra abrir os olhos.
E então eu sabia que estava morta.
Porque, pela água pesada, eu ouvi o som de um anjo chamando meu nome, me
chamando para o único céu que eu queria.
"Ah, não, Bella, não!", a voz do anjo chorava horrorizada.
Por trás daquele som desejado havia outro barulho - um horrível ruído de tumulto do
qual minha mente se afastava. Um violento rugido baixo, um chocante barulho de
estalo, e um som alto e agudo, de repente apareceram...
Em vez disso eu tentei me concentrar na voz do anjo.
"Bella, por favor! Bella, me ouça, por favor, por favor, Bella, por favor!", ele implorou.
Sim, eu queria dizer. Qualquer coisa. Mas eu não conseguia encontrar meus lábios.
"Carlisle!", o anjo chamou, agonia na sua voz perfeita. "Bella, Bella, ah, não, por favor,
não, não!" E o anjo chorava sem lágrimas, soluços despedaçados.
Um anjo não deveria chorar, era errado. Eu tentei encontrá-lo, dizê-lo que estava tudo
bem, mas a água era profunda demais, estava me pressionando, e eu não podia respirar.
Ouve um ponto pressionado na minha cabeça. Doeu. Então, quando a dor quebrou a
escuridão chegando até mim, outras dores vieram, dores mais fortes. Eu chorei,
ofegante, quebrando o caminho pela escuridão.
"Bella!", o anjo chamou.
"Ela perdeu algum sangue, mas o corte na cabeça não é fundo", uma voz calma me
informou. "Cuidado com a perna dela, está quebrada".
Um rugido de raiva ficou estrangulado no lábios do meu anjo.
Eu senti uma coisa me cutucando do meu lado. Isso não podia ser o paraíso, podia?
Havia dor demais pra isso.
"e algumas costelas também, eu acho", continuou a voz metódica.
Mas as dores agudas estavam sumindo. Havia uma dor nova, uma dor escaldante na
minha mão que apagava todas as outras.
Alguém estava me queimando.
"Edward", eu tentei dizer pra ele,mas minha voz estava muito pesada e lenta. Nem eu
conseguia me entender.
"Bella, você vai ficar bem. Você pode me ouvir, Bella? Eu te amo."
"Edward", eu tentei de novo. Minha voz estava um pouco mais clara.
"Sim, eu estou aqui"
"Está doendo", eu solucei.
"Eu sei, Bella, eu sei" - então na outra direção, angustiado- "Você não pode fazer
nada?"
"Minha bolasa, por favor... Tape a respiração, Alice, vai ajudar", Carlisle prometeu.
"Alice?", eu gemí.
"Ela está aqui, ela sabia onde te encontrar".
"Minha mão está doendo", eu tentei dizer pra ele.
"Eu sei, Bella. Carlisle vai te dar alguma coisa, a dor vai parar".
"Minha mão está quimando!", eu gritei, finalmente escapando dos últimos vestígios da
escuridão, meus olhos se abrindo. Eu não podia ver o rosto dele, havia algo escuro e
quentinho que estava nublando meus olhos. Porque eles não podiam ver o fogo e apagálo?
A voz dele estava amedrontada. "Bella?"
"O fogo! Alguém apague o fogo!", eu gritei enquanto ele me queimava.
"Carlisle! A mão dela!"
"Ele mordeu ela", a voz de Carlisle não estava mais calma, estava pasma.
Eu ouví Edward prender o fôlego, horrorizado.
"Edward, você tem que fazer isso". Era a voz de Alice, perto da minha cabeça. Dedos
frios limparam a umidade dos meus olhos.
"Não!", ele berrou.
"Pode haver uma chance", Carlisle disse.
"O que?", Edward implorou.
"Veja se consegue sugar o veneno pra fora. A ferida ainda está limpa". Enquanto
Carlisle falava, eu podia sentir uma pressão maior na minha cabeça, alguma coisa
cutucando e puxando o meu couro cabeludo. A dor que isso causava estava perdida na
dor do fogo.
"Isso vai funcionar?", a voz de Alice estava tensa.
"Eu não sei", Carlisle disse. "Mas temos que nos apressar".
"Carlisle, eu", Edward hesitou. "Eu não sei se consigo fazer isso".
Havia agonia na sua linda voz de novo.
"A decisão é sua, Edward, de qualquer forma. Eu não posso ajudá-lo. Eu preciso fazer
esse sangramento parar aqui, se nós vamos tirar sangue da mão dela".
Eu me estorci na dor da tortura insuportável, o movimento fazendo a dor da minha
perna queimar intensamente.
"Edward!", eu gritei. Eu me dei conta de que meus olhos estavam fechados de novo. Eu
abri eles, desesperada para achar o rosto dele. E eu o encontrei. Finalmente eu
conseguia ver o seu rosto perfeito, olhando pra mim, contorcido numa máscara de
indecisão e dor.
"Alice, me dê alguma coisa para parar a perna dela!", Carlisle estava curvado sobre
mim, trabalhando na minha cabeça. "Edward, você precisa fazer isso agora, ou então
será tarde demais".
O rosto de Edward estava cansado. Eu observei enquanto a dúvida dos seus olhos era
subitamente trocada por uam determinação gritante. A mandíbula dele se apertou. Eu
senti seus dedos frios, fortes, na minha mão que estava queimando, ele colocou ela no
lugar. Então sua cabeça se inclinou sobre ela, e os lábios frios dele se pressionaram na
minha pele.
Primeiro a dor foi pior. Eu gritei e me contorci contra as mãos geladas que me
seguravam no lugar. Eu ouví avoz de Alice tentando me acalmar. Alguma coisa pesada
segurava minha perna no chão, e Carlisle segurava minha cabeça presa no vão do seu
braço de pedra.
Então, lentamente, minhas estorções se acalmaram enquanto minha mão ia ficando mais
e mais entorpecida. O fogo estava diminuindo, se concentrando em um pequeno ponto.
Eu senti minha consciência sumindo enquanto a dor diminuia. Eu estava com medo de
cair nas águas escuras de novo, com medo de perdê-lo na escuridão.
"Edward", eu tentei dizer, mas eu não conseguia ouvir minha voz. Eles podiam me
ouvir.
"Ele está bem aqui, Bella".
"Fique, Edward, fique comigo..."
"Eu vou". A voz dele estava tensa, mas de alguma forma triumfante.
Eu suspirei contente.
O fogo havia desaparecido, as outras dores estavam adormecidas, vazando pelo meu
corpo.
"Está tudo fora?", Carlisle perguntou de algum lugar distante.
"O sangue dela está limpo", Edward disse baixinho. "Eu pude sentir o gosto da
morfina".
"Bella?", Carlisle me chamou.
Eu tentei responder. "Mmmmmmmm?"
"O fogo foi embora?"
"Sim", eu suspirei. "Obrigada, Edward".
"Eu te amo.", ele respondeu.
"Eu sei", eu respirei, cansada demais.
Eu ouví o meu som favorito no mundo inteiro: a risada baixinha de Edward, fraca de
alivio.
"Bella?", Carlisle chamou de novo.
Eu fiz uma careta; eu queria dormir. "O que?"
"Onde está a sua mãe?"
"Na Flórida", eu suspirei. "Ele me enganou, Edward. Ele assistiu aos nossos vídeos. O
ultraje na minha voz era uma entonação frágil de dor.
Mas isso me lembrou.
"Alice", eu tentei abrir meus olhos. "Alice, o vídeo - ele conhecia você, Alice, ela sabia
de onde você tinha vindo". Eu tentei falar urgentemente, mas minha voz estava grogue.
"Eu cheirei gasolina", eu acrescentei, surpresa entre a neblina que havia no meu cérebro.
"É hora de mover ela", Carlisle disse.
"Não, eu quero dormir", eu reclamei.
"Você pode dormir, meu bem, eu vou carregar você", Edward me confortou.
E eu estava nos braços dele, embalada no peito dele - flutuando, toda a dor havia
desaparecido.
"Durma agora, Bella", foram suas últimas palavras que eu ouvi.
24. Um Impasse
Meus olhos abriram para uma brilhante, branca luz. Eu estava em um quarto que não me
era familiar, um quarto branco. A parede perto de mim estava cobertas por longas
venezianas verticais; acima da minha cabeça, as ofuscantes luzes me cegaram. Eu estava
apoiada em uma dura, irregular cama - uma cama com grades. O travesseiro era liso e
grumoso. Havia um irritante som de bip vindo de algum lugar. Eu tinha esperanças de
que significasse que eu ainda estava viva. Morte não devia ser tão desconfortável.
Minhas mãos estavam completamente deformadas com tubos claros, e alguma coisa
estava amarrada cruzando meu rosto, embaixo do meu nariz. Eu levantei minha mão
para tirar aquilo.
"Não, não faça." E dedos frios alcançaram minha mão.
"Edward?" Eu virei minha cabeça vagarozamente, e seu delicado rosto estava apenas à
uma polegada do meu, seu queixo apoiado na beira da minha grade. Eu percebi que eu
estava viva, dessa vez com agradecimento e sublimidade. "Oh, Edward. Eu sinto
muito!"
"Shhhh," ele me silenciou. "Tudo está bem agora."
"O que aconteceu?" Eu não conseguia lembrar perfeitamente, e minha meste se rebelava
contra mim enquanto eu tentava relembrar.
"Eu quase cheguei tarde demais. Eu podia ter chegado tarde demais," ele sussurrou, sua
voz atormentada.
"Eu fui tão estúpida, Edward. Eu achei que ele estava com minha mãe."
"Ele enganou a todos nós."
"Eu tenho que ligar para Charlie e para minha mãe," Eu percebi pela neblina.
"Alice ligou para eles. Renée está aqui - bem, aqui no hospital. Ela está comendo
alguma coisa nesse momento."
"Ela está aqui?" Eu tentei sentar, mas o giro da minha cabeça ficou mais rápido, e sua
mão me empurrou gentilmente para o travasseiro.
"Ele vai estar de volta logo," ele prometeu. "E você tem que ficar tranqüila."
"Mas o que você disse a ela?" Eu entrei em pânico. Eu não queria ficar tranquila. Minha
mãe estava lá e eu estava me recuperando do ataque de um vampiro. "Porque você disse
a ela que eu estou aqui?"
"Você caiu por dois andares de uma escada e por uma janela." Ele pausou. "Você tem
que admitir, isso podia ter acontecido."
Eu suspirei, e isso doeu. Eu olhei para baixo para meu corpo embaixo do lençol, para o
grande bloco que era minha perna.
"O quão mal eu estou?" Eu perguntei.
"Você tem uma perna quebrada, quatro costelas quebradas, algumas fendas em seus
ossos, machas roxas cobrindo cada polegada de seu corpo, e você perdeu um monte de
sangue. Eles fizemos alguma transfusões em você. Eu não gostei disso - isso fez você
cheirar completamente diferente por um tempo."
"Isso deve ter sido uma boa mudança pra você."
"Não, eu gosto de como você cheira."
"Como você fez isso?" Eu perguntei calmamente. Ele soube o que eu quis dizer de
primeira.
"Eu não tenho certeza." Ele olhou pra longe dos meus olhos curiosos, levantando minha
mão enfaixada da cama e segurando gentilmente com a dele, cuidadoso em não romper
o fio que me conectava aos monitores.
Eu esperei pacientemente pelo resto.
_________________________________________________1
Ele continuou sem responder a minha contemplação. "Era impossível... parar," ele
sussurrou. "Impossível. Mas eu fiz." Ele olhou pra cima finalmente, com um meio
sorriso. "Eu tenho que te amar."
"Eu não tenho um gosto tão bom quanto o cheiro?" Eu sorri em resposta. Aquilo
machucou meu rosto.
"Até melhor - melhor do que eu imaginava."
"Sinto muito," Eu me desculpei.
Ele levantou seus olhos para o teto. "De todas as coisas para se desculpar."
"Pelo que eu devia me desculpar?"
"Por chegar muito perto de ficar pra longe de mim pra sempre"
"Sinto muito" Eu me desculpei novamente.
"Eu sei porque você fez isso." Sua voz era reconfortante. "Era ainda irracional, é claro.
Você deveria ter me esperado, deveria ter me contado."
"Você não me deixaria ter ido."
"Não," ele concordou em um tom amargo, "Eu não deixaria."
Algumas memórias muito desagradáveis estavam começando a voltar para mim. Eu
estremeci, e então recuei.
Ele estava instantaneamente inquieto. "Bella, o que aconteceu?"
"O que aconteceu com James?"
"Depois que eu o separei de você, Emmet e Jasper tomaram conta dele." Havia uma
feroz conotação de pesar em sua voz.
Isso me confundiu. "Eu não vi Emmet e Jasper lá."
"Eles tiveram que sair do quarto... tinha muito sangue."
"Mas você ficou."
"Sim, eu fiquei."
"E Alice, e Carlisle..." Eu falei curiosa.
"Eles também te amam, você sabe."
Um flash de imagens dolorosas da última vez que eu tinha visto Alice me lembrou de
uma coisa. "Alice viu a fita?" Eu perguntei ansiosamente.
"Sim". Um novo som obscureceu a voz dele, um tom de ódio.
"Ela sempre esteve no escuro, por isso não conseguia lembrar".
"Eu sei. Ela entende agora". A voz dele estava uniforme, mas seu rosto estava negro de
fúria.
Eu tentei alcansar o rosto dele com a minha mão livre, mas alguma coisa me parou. Eu
olhei pra baixo pra ver o tubo puxando minha mão.
"Ugh", eu estremecí.
"O que foi?", ele perguntou ansiosamente - distraído, mas não o suficiente. A escuridão
não abandonou os olhos dele completamente.
"Agulhas", eu expliquei, desviando o olhar daquela que estava na minha mão. Eu me
concentrei nos ladrilhos do teto e tentei respirar fundo a despeito da dor nas minhas
costelas.
"Medo de agulhas", ele murmurou pra si mesmo por baixo do fôlego, balançando a
cabeça. "Oh, um vampiro sádico, tentando torturar ela até a morte, claro, sem problema,
ela corre pra encontrá-lo. Um tubo na mão, por outro lado..."
Eu revirei meus olhos. Eu fiquei satisfeita de ver que pelo menos isso não doia. Eu
decidí mudar de assunto.
"Porque você está aqui?", eu perguntei.
Ele olhou pra mim, primeiro a confusão depois a dor tocou os olhos dele. As
sobrancelhas dele ficaram juntas quando ele fez uma careta.
"Você quer que eu vá embora?"
"Não!", eu protestei, horrorizada pelo pensamento. "Não, eu quis dizer, porque minha
mãe acha que você está aqui? Eu preciso lembrar da história direitinho pra quando ela
voltar".
"Oh",ele disse, e a testa dele se suavizou num mármore de novo. "Eu vim pra Phoenix
pra colocar algum senso na sua cabeça, pra te convencer a voltar pra Forks". Os olhos
dele eram tão intensos e tão sinceros, que eu mesma quase acreditei nele. "Você
concordou em me ver e foi dirigindo até o hotel onde eu estava com Carlisle e Alice - é
claro de que estava aqui com a supervisão de meu pai", ele inseriu virtuosamente, "Mas
você tropeçou nas escadas á caminho do meu quarto e... bem, você já sabe o resto.
Porém, você não precisa lembrar dos detalhes;
você tem uma desculpa muito boa pra não se lembrar dos detalhes mais importantes".
Eu pensei nisso por um momento. "Tem algumas falhas nessa história. Como nenhuma
janela quebrada".
"Na verdade não", ele disse. "Alice se divertiu um pouco demais fabricando as
evidências. Tudo já foi cuidado de forma muito convincente - você poderia
provavelmente até processar o hotel se você quisesse. Você não tem nada com o que se
preocupar", ele prometeu, alisando minha bochecha com o mais leve dos toques. "Seu
único trabalho agora é sarar".
Eu não estava tão envolvida pelas dores ou pela névoa dod medicamentos pra não
responder ao toque dele. O bipe do monitor pulou erraticamente - agora ele não era mais
o único que podia ouvir o meu coração se comportando mal.
"Isso vai ser vergonhoso", eu murmurei pra mim mesma.
Ele gargalhou, e um olhar especulativo apareceu nos olhos dele. "Hmm, eu imagino..."
Ele se inclinou; o barulho do bipe acelerou selvagemente antes mesmo que seus lábios
me tocassem. Mas quando me tocaram, mesmo que com a mais leve pressão, o bipe
parou completamente.
Ele pulou pra trás abruptamente, sua expressão ansiosa se tornando de alívio enquanto o
monitor reportava meu coração voltando a bater.
"Parece que eu vou ter que ser mais cuidadoso com você do que o normal".
Ele fez uma careta.
"Eu não terminei de beijar você", eu reclamei. "Não me faça ter que ir até aí".
Ele sorriu largamente, e se inclinou pra pressionar seus lábios gentilmente nos meus. O
monitor ficou louco. Mas então seus lábios se esticaram. Ele se afastou.
"Eu acho que estou ouvindo sua mãe", ele disse, sorrindo largamente de novo.
"Não me deixe", eu chorei, uma sensação irracional de pânico passando por mim. Eu
não podia deixá-lo ir - ele podia desaparecer de novo.
Ele leu o terror nos meus olhos por um breve segundo. "Eu não vou", ele prometeu
solenemente, e então sorriu. "Eu vou tirar uma soneca".
Ele saiu da cadeira de plástico ao meu lado e foi para um sofá de couro falso azulturquesa
reclinável que havia no pá da cama, inclinando ele pra trás, e fechando seus
olhos.
Ele ficou perfeitamente imóvel.
"Não esqueça de respirar", eu sussurrei sarcasticamente. Ele respirou fundo, os olhos
ainda fechados.
Eu podia ouvir minha mãe agora. Ela estava falando com alguém, talvez uma
enfermeira, ela parecia cansada e aborrecida. Eu queria pular da cama e correr pra ela,
pra acalmar ela, pra prometer que estava tudo bem. Mas eu não estava em forma pra
pular, então eu esperei pacientemente.
A porta abriu um pouquinho, e ela observou pela abertura.
"Mãe!", eu sussurrei, minha voz cheia de amor e alívio.
Ela olhou para a figura imóvel de Edward no sofá reclinável, e foi na ponta dos pés até
minha cama.
"Ele não vai embora nunca, não é?", ela murmurou pra sí mesma.
"Mãe, eu estou tão feliz de ver você!"
Ela se inclinou pra me abraçar gentilmente, e eu senti lágrimas quentes rolando nas
bochechas dela.
"Bella, eu estava tão chateada!"
"Me desculpe, mãe. Mas vai ficar tudo bem agora, está tudo bem". Eu confortei ela.
"Eu estou feliz só por ver seus olhos abertos", ela sentou na borda da cama.
De repente eu me dei conta de que não sabia quando era. "Por quanto tempo eu fiquei
fechada?"
"É sexta, querida, você esteve fora por algum tempo".
"Sexta?", eu estava chocada. Eu tentei me lembrar que dia era quando... mas eu não
queria pensar nisso.
"Eles tiveram que te manter sedada por algum tempo, querida - você tem um monte de
ferimentos".
"Eu sei", eu podia sentí-los.
"Você teve sorte porque o Dr. Cullen estava lá. Ele é um homem muito legal... porém
novo demais. E ele parece mais um modelo do que um médico..."
"Você conheceu Carlisle?"
"E a irmã de Edward. Ela é uma garota adorável".
"Ela é", eu concordei sinceramente.
Ela olhou por cima do ombro para Edward, que ainda estava com oe olhos fechados no
sofá.
"Você não me contou que tinha tão bons amigos em Forks".
Eu bajulei e então gemí.
"O que dói?", ela perguntou ansiosamente, se virando pra mim de novo. Os olhos de
Edward vieram na minha direção.
"Eu estou bem", eu assegurei aos dois. "Eu só tenho que lembrar de não me mexer". Ele
voltou á sua sonora soneca.
Eu usei a vantagem da distração pelo comentário da minha mãe pra evitar que assunto
não fosse para o meu comportamento menos-cuidadoso. "Onde está Phil?", eu perguntei
rapidamente.
"Flórida - oh, Bella! Você nunca vai adivinhar! Quando estamos prestes a ir embora, as
melhores notícias!"
"Phil conseguiu um contrato?", eu adivinhei.
"Sim! Como você adivinhou! Os Suns, dá pra acreditar?"
"Isso é ótimo, mãe", eu disse com todo o entusiasmo que pude, apesar de não ter a
mínima idéia de quem ela estava falando.
"E você vai gostar tanto de Jacksonsville", ela esguichava enquanto eu olhava
vagamente pra ela. "Eu fiquei um pouco preocupada quando Phil começou a falar de
Akron, com toda aquela neve e tudo mais, porque você sabe que eu odeio o frio, mas
Jacksonsville! É sempre ensolarado, e a umidade não étão ruim assim. Nós achamos a
casa mais fofa, amarela, com a ornamentação branca, e com uma entrada como a dos
filmes antigos, e um enorme carvalho, e é só a alguns minutos do oceano, e você terá
seu próprio banheiro-"
"Espere, mãe", eu interrompí. Edward ainda estava com os olhos fechados, mas estava
tenso demais pra fingir que estava adormecido.
"Do que é que você tá falando? Eu não vou para a Flórida. Eu vivo em Forks".
"Mas você não tem que viver mais, sua boba", ela riu. "Phil vai conseguir ficar mais
parado agora... nós falamos muito sobre isso, e o que eu vou fazer é deixar de ir a alguns
jogos, metade do tempo com ele, metade do tempo com você".
"Mãe", eu hesitei, imaginando o melhor jeito de ser diplomática sobre isso. "Eu quero
viver em Forks. Eu já estou acostumada com a escola, eu tenho algumas amigas" - ela
olhou pra Edward de novo quando eu falei das amigas, então eu tentei outra direção.
"Charlie precisa de mim. Ele fica sozinho lá, e ele não sabe cozinhar nem um pouco".
"Você quer ficar em Forks?", ela perguntou, desnorteada. Essa era uma idéia
inconcebível para ela. E então os olhos dela Foram parar em Edward de novo.
"Porque?"
"Eu te disse - escola, Charlie, ai!", eu levantei os ombros. Má idéia.
As mãos dela flutuaram por cima de mim sem poder fazer nada, tentando encontrar um
lugar onde ela pudesse segurar em segurança. Ela encontrou minha testa; não haviam
bandagens lá.
"Bella, querida, você odeia Forks", ela me lembrou.
"Não é tão ruim assim".
Ela fez uma careta olhando pra frente e pra trás entre Edward e eu, dessa vez muito
deliberadamente.
"É esse garoto?", ela sussurrou.
Eu abri minha boca para mentir, mas os olhos dela estavam me analisando, e eu sabia
que ela veria além da mentira.
"Ele é parte disso", eu admiti. Eu não precisava contar qual era o tamanho da parte.
"Então, você teve uma chance de conversar com Edward?", eu perguntei.
"Sim", ela hesitou olhando para a sua forma perfeitamente imóvel. "E eu quero falar
com você sobre isso".
Uh-oh. "Sobre o que?", eu perguntei.
"Eu acho que esse garoto está apaixonado por você", ela acusou, mantendo a voz baixa.
"Eu também acho que sim", eu confiei.
"E como você se sente em relação a ele?" Ela escondeu muito mal a curiosidade na voz
dela.
Eu suspirei, desviando o olhar. Não importava o quanto eu amasse minha mãe, essa não
era uma conversa que eu queria ter com ela.
"Eu estou louca por ele". Aí - isso parece com algo que uma adolescente diria sobre o
primeiro namorado dela.
"Bem, ele parece muito legal, e, minha nossa, ele é incrivelmente lindo, mas você é tão
jovem, Bella...", a voz dela estava incerta; até onde eu podia lembrar, essa era a primeira
vez desde que eu tinha oito anos que eu ouví alguma coisa aproximada de autoridade
materna. Eu reconheci aquele tom razoável mas firme que nós tinhamos nas nossas
conversas sobre homens.
"Eu sei,mãe. Não se preocupe. É só uma paixonite", eu acalmei ela.
"Isso mesmo", ela concordou, facilmente agradada.
Então ela suspirou e deu uma olhada cheia de culpa para o grande relógio redondo na
parede.
"Você precisa ir?"
Ela mordeu o lábio. "Phil deve ligar em pouco tempo... eu não sabia quando você
acordaria..."
"Sem problemas, mãe", eu tentei não mostrar muito o alívio pra que ela se sentisse um
pouco culpada. "Eu não vou ficar sozinha".
"Eu volto logo. Eu estive dormindo aqui, sabe", ela anunciou, orgulhosa de sí mesma.
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"Oh, mãe, você não precisava fazer isso! Você pode dormir em casa - eu nunca iria
reparar". A onda de medicamentos pra dor fazia a minha concentração dificil mesmo
agora, apesar de, aparentemente, eu ter ficado dormindo durante dias.
"Eu estava nervosa demais", ela admitiu timidamente. "Aconteceu algum crime no
bairro, e eu não gosto de ficar lá sozinha".
"Crime?", eu perguntei alarmada.
"Alguém invadiu aquele estúdio de dança na esquina da nossa casa e tocou fogo nele -
não sobrou nada! E eles deixaram um carro roubado lá na frente. Você lembra de
quando tinha aulas de dança lá, querida?"
"Eu me lembro", eu me arrepiei e estremecí.
"Eu posso ficar, bebê, se você precisar de mim".
"Não, mãe, eu vou ficar bem. Edward vai ficar comigo".
Pareceu que esse era o motivo pelo qual ela queria ficar. "Eu vou voltar á noite", isso
pareceu tanto um aviso quanto uma promessa, e ela olhou para Edward de novo quando
disse isso.
"Eu te amo, mãe".
"Eu te amo também, Bella. Tente ser mais cuidadosa quando anda, querida. Eu não
quero perder você".
Os olhos de Edward continuaram fechados, mas um sorriso largo apareceu no rosto
dele.
Uma enfermeira invadiu o quarto nessa hora pra checar meus tubos e fios. Minha mãe
beijou minha testa, deu uma tapinha na minha mão com o curativo e foi embora.
A enfermeira estava checando o papel da minha avaliação e o monitor do meu coração.
"Você está se sentindo ansiosa, querida? O seu coração está parecendo um pouco rápido
aqui".
"Eu estou bem", eu assegurei ela.
"Eu vou dizer á medica que está cuidando de você que você está acordada. Ela vai vir te
ver em um minuto".
Assim que ela fechou a porta, Edward estava á meu lado.
"Você roubou um carro?", eu ergui minhas sobrancelhas.
Ele sorriu, sem arrependimento. "Era um bom carro, muito rápido".
"Como foi a sua soneca?", eu perguntei.
"Interessante", os olhos dele estreitaram.
"O que?"
Ele olhou pra baixo enquanto falava. "Eu estou surpreso. Eu pensei que a Flórida... e a
sua mãe... bem, eu pensei que isso era tudo o que você podia querer".
Eu olhei pra ele sem compreender. "Mas você ficaria preso o dia inteiro em casa na
Flórida. E você só poderia sair durante a noite, como um vampiro de verdade".
Ela quase sorriu, mas não exatamente. E o rosto dele estava grave.
"Eu ficaria em Forks, Bella. Ou algum lugar assim", ele explicou.
"Algum lugar onde eu não te machucasse mais".
No início eu não toquei. Eu continuei a olhar pra ele com o olhar vazio enquanto as
palavras se encaixavam uma a uma na minha cabeça como um horrível quebra-cabeça.
Eu mal tinha consciencia do som do meu coração acelerando, apesar de que, a minha
respiração que estava hiperventilando, me deixou consciente da dor aguda das minhas
costelas protestando.
Ele não disse nada; ele observou meu rosto cautelosamente enquanto uma dor que não
tinha nada a ver com meus ossos quebrados, um dor que era muito pior, ameaçava me
deixar aos pedaços.
E então outra enfermeira entrou propositalmente no quarto. Edward estava rígido como
uma pedra enquanto ela olhava pra mim primeiro com um olho treinado e depois para o
monitor.
"Está na hora dos remédios pra dor agora, querida?", ela perguntou carinhosamente,
dando tapinhos no tubo de entrada.
"Não, não", eu murmurei, tentando esconder a agonia que havia na minha voz. "Eu não
preciso de nada agora". Eu não podia me dar ao luxo de fechar os olhos agora.
"Não precisa ser corajosa, querida. É melhor se você não se estressar; você deve
descansar".
Ela esperou, mas eu só balancei minha cabeça.
"Ok", ela suspirou. "Aperte o botão quando estiver pronta".
Ela deu uma olhada pra Edward e depois deu outra olhada ansiosa pra o monitor, antes
de ir.
As mãos frias dele estavam no meu rosto; eu olhei pra ele com os olhos bem abertos.
"Shhh, Bella, acalme-se".
"Não me deixe", eu implorei com uma voz quebrada.
"Eu não vou", ele prometeu. "Agora relaxe antes que eu chame a enfermeira pra te
sedar".
Mas meu coração não conseguia se aquietar.
"Bella", ele acariciou meu rosto ansiosamente. "Eu não vou a lugar nenhum. Eu vou
ficar aqui até quando você precisar de mim".
"Você promete que não vai me deixar?", eu sussurrei. Eu tentei controlar a minha
respiração, pelo menos. Minhas costelas estavam reclamando.
O cheiro do hálito dele era um calmante. Pareceu diminuir as dores da minha respiração.
Ele continuou segurando o meu olhar enquanto meu corpo relaxava lentamente e o bipe
voltava ao ritmo normal. Os olhos dele estavam escuros, mais próximos do preto do que
do dourado hoje.
"Melhor?", ele perguntou.
"Sim", eu disse cautelosamente.
Ele balançou a cabeça e murmurou alguma coisa impossível de entender. Eu achei ter
entendido a palavra " Reação".
"Porque você disse isso?", eu sussurrei, tentando evitar que a minha voz tremesse.
"Você se cansou de ter que ficar me salvando o tempo inteiro? Você quer que eu vá
embora?"
"Não, eu não quero ficar sem você, Bella, é claro que não. Seja racional. E eu também
não tenho problema nenhum em salvar você - isso se não fosse pelo fato de que sou eu
que está te colocando em risco... que eu sou a razão pela qual você está aqui".
"Sim, você é a razão", eu fiz uma careta. "A razão pela qual eu estou aqui -viva".
"Por pouco", a voz dele era um sussurro. "Coberta de gaze e de gesso e quase
impossibilitada de se mexer".
"Eu não estava me referindo á mais recente experiência de quase-morte", eu disse
rugindo, irritada. "Eu estava falando das outras- você pode escolher uma.
"Se não fosse por você eu estaria dando um passeio pelo cemetério de Forks".
Ele estremeceu com as minhas palavras, mas o olhar de perseguição não deixou os
olhos dele.
"No entanto, essa não é a pior parte", ele continuou a sussurrar. Ele agia como se eu não
tivesse falado. "Não ver você lá no chão... amassada e quebrada". A voz dele estava
chocada. "Não foi pensar que eu estava atrasado. Nem mesmo ouvir você gritando de
dor - todas essas memórias insuportáveis que eu vou carregar comigo por toda a
eternidade. Não, a pior parte foi sentir... saber que eu não podia parar. Acreditar que eu
mesmo fosse acreditar você".
"Mas você não matou".
"Mas eu podia. Tão facilmente".
Eu precisava ficar calma... mas ele estava tentando se convencer a me deixar, e o pânico
fluia nos meus pulmões, tentando sair.
"Me prometa", eu sussurrei.
"O que?"
"Você sabe o que", eu estava começando a ficar com raiva agora. Ele estava tão
teimosamente determinado a continuar na negativa.
Ele ouviu a mudança na minha voz, seus olhos se estreitaram. "Eu não pareço ser forte o
suficiente pra ficar longe de você, então eu acho que você seguirá seu caminho... quer
isso mate você ou não", ele acrescentou duramente.
"Bom", ele, porém, não prometeu - um fato que eu não deixei passar.
O pânico só estava meio controlado; eu não tinha mais controle para segurar a raiva.
"Você me disse como parou... agora eu quero saber porque", eu quis saber.
"Porque?", ele perguntou cautlosamente.
"Porque você fez isso? Porque você não deixou o veneno se espalhar? A essas horas eu
seria como você".
Os olhos de Edward pareceram ficar completamente negros, e eu me lembrei que isso
era uma coisa que eu nunca quis que eu soubesse. Alice deve ter estado preocupada com
as coisas que descobriu sobre sí mesma... ou então fou muito cuidadosa com os
pensamentos dela perto dele - claramente ele não sbia que ela tinha me enchido com
todas as conversas sobre os mecanismos dos vampiros. Ele estava surpreso, e furioso.
As narinas dele inflaram e a boca dele parecia ter sudo esculpida numa pedra.
Ele não ia responder, isso estava claro.
"Eu serei a primeira a admitir que não tenho nenhuma experiência com
relacionamentos", eu disse. "Mas me parece lógico... um homem e uma mulher tem que
ser parecidos em algo... como, um deles não pode sempre estar sendo abatido e o outro
salvando. Eles tem que salvar uma ao outro igualmente".
Ele dobrou os braço do lado da minha cama e descansou o queixo nos braços. Sua
expressão era suave, a raiva havia abrandado. Evidentemente ele havia decidido que não
estava com raiva de mim. Eu esperava ter uma chance de avisar Alice antes que ele se
encontrasse com ela.
"Você me salvou". Ele disse baixinho.
"Eu não posso ser Lois Lane", eu insistí. "Eu quero ser o Superman também".
"Você não sabe o que está pedindo". A voz dele era suave; ele olhava intencionalmente
para a pontinha do travesseiro.
"Eu acho que sei."
"Bella, eu não sei. Eu já tive quase noventa anos pra pensar nisso e ainda não tenho
certeza".
"Você queria que Carlisle não tivesse salvado você?"
"Não, eu não desejo isso", ele parou antes de continuar. "Mas a minha vida estava
acabada. Eu não estava desistindo de nada".
"Você é a minha vida. Você é a única coisa que eu me incomodaria em perder". Eu
estava ficando melhor nisso. Era muito mais fácil admitir o quanto eu precisava dele.
No entanto, ele estava muito calmo. Decidido.
"Eu não posso fazer isso, Bella. Eu não vou fazer isso com você".
"Porque não?", minha garganta arranhou e as palavras não sairam tão altas como eu
havia planejado. "Não me diga que é muito difícil! Depois de hoje, ou eu acho alguns
dias atrás... de qualquer forma, depois daquilo, isso não devia ser nada".
Ele olhou pra mim.
"E a dor?", ele perguntou.
Eu embranquecí. Eu não pude evitar. Mas eu tentei evitar que a minha expressão
mostrasse que eu lembrava da dor... do fogo nas minhas veias.
"Isso é problema meu", eu disse. "Eu posso aguentar".
"É impossível aguentar a coragem a partir do momento que ela se transforma em
loucura".
"Isso não é problema. Três dias. Grande coisa".
Edward fez outra careta quando as minhas palavras relembraram ele de que eu estava
mais bem informada do que deveria estar. Eu observei ele reprimir, observei os olhos
dele ficarem especulativos.
"Charlie?", ele perguntou curtamente. "Renée?"
Os minutos se passaram em silêncio enquanto eu lutava pra responder a pergunta dele.
Eu abri a minha boca, mas nenhum som saiu dela. Eu fechei ela de novo. Ele esperou, e
a sua expressão se tornou trimfante porque ele sabia que eu não tinha nenhuma resposta
de verdade.
"Olha, isso também não é nenhum problema", eu finalmente murmurei, minha voz não
estava convincente, como sempre quando eu mentia.
"Renée sempre fez as escolhas que funcionavam pra ela - e ela sempe quis que eu
fizesse o mesmo. E a alegria de Charlie, ele está acostumado a ficar sozinho. Eu não
posso tomar conta dele pra sempre. Eu tenho a minha própria vida pra viver".
"Exatamente", ele cortou. "E eu não vou acabar com ela pra você".
"Se você está está esperando pra ficar comigo no meu leito de morte, eu tenho notícias
pra você! Eu estava lá!"
"Você vai se recuperar", ele me lembrou.
Eu respirei fundo pra me acalmar, ignorando o espasmo de dor que isso causava. Eu
encarei ele, ele me encarou de volta. Não havia compromisso no rosto dele.
"Não", eu disse lentamente. "Eu não vou".
A testa dele se enrrugou. "É claro que vai. Você pode ficar com um cicatriz ou duas..."
"Você está errado", eu insistí. "Eu vou morrer".
"Sério, Bella", ele estava ansioso agora. "Você vai sair daqui em alguns dias. Duas
semanas no máximo".
Eu olhei pra ele. "Eu posso não morrer agora... mas eu vou morrer alguma hora. A cada
minuto do dia, eu chego mais perto. Eu vou ficarvelha".
Ele fez uma careta quando se tocou do que eu estava falando, pressionando seus longos
dedos nas têmporas e fechando os olhos. "Isso é o que supostamente acontece. É assim
que deve acontecer.
Aconteceria se eu não existisse- e eu não deveria existir".
Eu soprei. Ele abriu os olhos surpreso. "Isso é estúpido. Isso é como alguém que acabou
de ganhar na loteria, pegando o dinheiro, e dizendo, 'Olha, vamos voltar a ser como as
coisas deviam ser. É melhor assim'. Eu não vou aceitar isso".
"Eu não sou bem um premio de loteria", ele rugiu.
"Isso mesmo. Você é muito melhor".
Ele rolou os olhos e ajeitou os lábios. "Bella, nós não vamos mais continuar com essa
discussão. Eu me recuso a te amaldiçoar á noite eterna e esse é o fim".
"Se você acha que acaba aqui, você não me conhece muito bem", eu avisei ele.
"Você não é o único vampiro que eu conheço".
Os olhos dele ficaram pretos de novo. "Alice não ousaria".
E por um momento ele pareceu tão assustador que eu não pude deixar de acreditar - Eu
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não podia imaginar uma pessoa corajosa o suficiente pra passar por cima dele.
"Alice já viu isso, não foi?", eu adivinhei. "É por isso que as coisas que ela fala
aborrecem você. Ela sabe que eu serei como vocês... um dia"
"Ela está errada. Ela também viu você morta, mas isso também não aconteceu".
"Você nunca vai me pegar apostando contra Alice".
Nós olhamos um para o outro por um longo tempo. Estava silencioso, exceto pelo
barulho das máquinas, o bipe, as gotas, o tique do grande relógio na parede. Finalmente
a expressão dele se suavisou.
"Então onde isso nos deixa?", eu imaginei.
Ele gargalhou sem humor. "Eu acredito que se chama impasse".
Eu suspirei, "Ouch", eu murmurei.
"Como você está se sentindo?", olhando para o botão da enfermeira.
"Eu estou bem", eu mentí.
"Eu não acredito em você", ele disse gentilmente.
"Eu não vou voltar a dormir".
"Você precisa descansar. Toda essa discussão não faz bem a você".
"Então desista", eu provoquei.
"Boa tentativa". Ele alcançou o botão.
"Não!"
Ele me ignorou.
"Sim?", o comunicador na parede respondeu.
"Eu acho que estamos prontos para mais remédios para a dor", ele disse calmamente,
ignorando minha expressão furiosa.
"Eu vou mandar a enfermeira", a voz parecia muito entediada.
"Eu não vou tomar", eu prometi.
Ele olhou na direção do saco de flúidos ao pendurada do lado da minha cama. "Eu acho
que eles não vão te pedir pra engolir nada".
O meu coração começou a bater forte. Ele viu o medo nos meus olhos e suspirou
frustrado.
"Bella, você está sentindo dor. Você precisa relaxar pra se curar. Porque você está sendo
tão difícil? Eles não vão mais colocar agulhas em você".
"Eu não estou com medo das agulhas", eu murmurei. "Eu estou com medo de fechar
meus olhos".
Então ele sorriu o seu sorriso torto, e pegou meu rosto entre as mãos dele. "Eu disse que
não vou pra lugar nenhum. Não tenha medo. Enquanto isso te fizer feliz, eu vou ficar
aqui".
Eu sorrí de volta, ignorando a dor nas minhas bochechas. "Você está falando de pra
sempre, sabe".
"Oh, você vai superar isso - é só uma paixonite".
Eu balancei minha cabeça sem acreditar - isso me deixou tonta. "Eu fiquei chocada
quando Renée comprou essa. Eu sei que você sabe mais que isso".
"Isso é a beleza de ser humano", ele me disse. "As coisas mudam".
Meus olhos reviraram. "Não segure o fôlego".
Ele estava sorrindo quando a enfermeira entrou, segurando uma seringa.
"Com licença", ela disse bruscamente pra Edward.
Ele se levantou e cruzou o pequeno quarto, se encostando na parede.
Ele cruzou os braços e esperou. Eu mantive meus olhos nele, ainda apreensiva. Ele
encontrou meus olhos calmamente.
"Aí está, meu bem". A enferemeira sorriu enquanto enjetava o medicamento no tubo.
"Você vai se sentir melhor agora".
"Obrigada", eu murmurei, sem entusiasmo. Não demorou muito. Eu pude sentir a
sonolência invadir minha corrente sanguínea quase imediatamente.
"Eu acho que isso será suficiente", ela disse enquanto minhas pálpebras se fechavam.
Ela deve ter deixado o quarto, porque alguma coisa suave e gelada estava tocando o
meu rosto.
"Fique", a palavra saiu mal articulada.
"Eu fico", ele prometeu. A voz dele era linda, como uma canção de ninar.
"Como eu já disse, enquanto isso te fizer feliz... enquanto isso for o melhor pra você".
Eu tentei balançar a minha cabeça, mas ela estava pesada demais. "N é a mesma coisa",
eu murmurei.
Ele riu. "Não se preocupe com isso agora, Bella. Você pode discutir comigo quando se
acordar".
Eu acho que sorri. "Tá".
Eu pude sentir os lábios dele no meu ouvido.
"Eu te amo", ele sussurrou.
"Eu também".
"Eu sei", ele sorriu baixinho.
Eu virei minha cabeça levemente... procurando. Ele sabia o que eu estava procurando.
Seua lábios tocaram o meus gentilmente.
"Obrigada", eu suspirei.
"Á disposição".
Eu já não estava mais completamente lá. Mas eu lutei contra o torpor lentamente. Havia
só mais uma coisa que eu queria dizer pra ele.
"Edward?", eu lutei pra pronunciar o nome dele claramente.
"Sim?"
"Eu aposto em Alice", eu murmurei.
E então a noite se fechou sobre mim.
Epílogo: Uma Ocasião
Edward me ajudou a entrar no carro dele, sendo muito cuidadoso com os detalhes de
seda e chiffon, as flores que ele colocou nos meus cachos estilosamente elaborados, e o
grande gesso na minha perna. Ele ignorou a expressão de raiva da minha boca.
Depois que ele me ajeitou, ele foi para o banco do motorista e saímos pelo caminho
longo e estreito.
"Em que ponto você pretende me dizer exatamente onde estamos indo?", eu perguntei
fazendo beicinho. Eu odiava surpresas. E ele sabia disso.
"Eu estou chocado que você ainda não tenha descoberto". Ele jogou um sorriso de
zombaria na minha direção, e a minha respiração ficou presa na garganta. Será que um
dia eu ia me acostumar á perfeição dele?
"Eu mencionei que você está muito bonito, não mencionei?", eu verifiquei.
"Sim", ele sorriu largamente de novo. Eu nunca havia visto ele vestido de preto antes,e,
com o contraste na pela pálida dele, a sua beleza era absolutamente surreal. Isso eu não
podia negar, até o fato de que ele estava usando um smoking estava me deixando
nervosa.
Não tão nervosa quanto o meu vestido, ou o sapato. Só um sapato, já que o meu pé
estava seguramente preso no gesso. Mas o salto agulha, preso apenas pelos laços de fita
de cetim, certamente não iam me ajudar quando eu tentasse me movimentar.
"Eu não vou mais voltar se Alice continuar me tratando como a Barbie porquinho-daíndia
quando eu vier". Eu estorqui. Eu passei a melhor parte do dia presa no banheiro
estonteantemente grande de Alice, eu fui uma vítima desamparada enquanto ela
brincava de cabeleireira e maquiadora. Quando eu tentava escapar ou reclamava, ela me
lembrava que não tinha memórias de como era ser humana, e me pedia para não
atrapalhar a sua vigorosa diversão. Então ela me vestiu com um vestido ridículo - azul
escuro, cheio de detalhes e sem os ombros, com uma etiqueta francesa que eu não
consegui ler - um vestido que combinava mais com uma passarela do que com Forks.
Nada de bom podia sair de uma vestimenta formal, disso eu tinha certeza.
A não ser... mas eu estava com medo de colocar as minhas suspeitas em palavras,
mesmo em minha própria cabeça.
Eu fui distraída pelo som do telefone tocando. Edward puxou o telefone do bolso do seu
paletó, olhando brevemente no identificador de chamadas antes de atender.
"Alô, Charlie", ele disse cautelosamente.
"Charlie?", eu fiz uma careta.
Charlie tem sido... difícil desde o meu retorno á Forks. Ele compartimentou minha má
experiência em duas reações. Com Carlisle ele era quase idolatradamente grato. Por
outro lado, ele estava teimosamente preso á idéia de que era culpa de Edward - porque
se não fosse por culpa dele eu não teria ido embora de casa em primeiro lugar. E
Edward estava longe de discordar dele. Nesses dias eu estava tendo regras que nunca
tive antes: Toque de recolher... horários de visita.
Alguma coisa que Charlie disse fez os olhos de Edward crescer de descrença, e então
um grande sorriso apareceu no rosto dele.
"Você está brincando!", ele deu uma risada.
"O que é?", eu quis saber.
Ele me ignorou. "Porque você não me deixa falar com ele?" Edward sugeriu com um
prazer evidente. Ele esperou por um segundo.
"Olá, Tyler. Aqui é Edward Cullen". A voz dele estava amigável, na superfície. Eu
conhecia esse tom bem o suficiente pra ouvir a leve ponta de ameaça. O que é que Tyler
estava fazendo na minha casa? A horrível verdade começou a descer sobre mim. Eu
olhei novamente para o vestido inapropriado que Alice havia me forçado a usar.
"Eu lamento se houve alguma espécie de falta de comunicação, mas Bella não está
disponível essa noite". O tom de Edward mudou e a ameaça ficou de repente muito mais
evidente enquanto ele continuava.
"Pra falar a verdade, ela não estará disponível noite nenhuma, quando se tratar de
alguém que não seja eu mesmo. Sem ofensa. Eu lamento pela sua noite". Ele não
parecia lamentar nem um pouco. E então ele fechou o telefone com um estalo, um
grande sorriso no rosto dele.
Meu rosto e meu pescoço estavam vermelhos de raiva.
Eu podia sentir as lágrimas induzidas pela raiva começarem a encher meus olhos.
Ele olhou pra mim surpreso. "A última parte foi demais? Eu não pretendia te ofender".
Eu ignorei isso.
"Você está me levando para o baile!", eu gritei.
Agora era embaraçosamente óbvio. Se eu estivesse prestando um pouco de atenção, eu
teria reparado a data nos cartazes que estavam decorando os prédios da escola. Mas eu
nunca sonhei que ele me submeteria a isso. Será que ele não me conhecia nem um
pouco?
Ele não estava esperando a força da minha reação, isso estava claro.
Ele pressionou os lábios e revirou os olhos. "Não seja difícil, Bella".
Meus olhos foram para a janela; nós já estávamos no meio do caminho para a escola.
"Porque você está fazendo isso comigo?", eu quis saber, horrorizada.
Ele fez um gesto para o smoking. "Sério, Bella, o que você achou que estivéssemos indo
fazer?"
Eu estava mortificada. Primeiro, porque eu não vi o óbvio. E também porque minha a
vaga suspeita - esperança, na verdade - do porque eu estivesse me arrumando o dia
inteiro, enquanto Alice me transformava numa Rainha da beleza, estavam muito
distantes da realidade.
As minhas esperanças pareciam muito bobas agora.
Eu achei que havia alguma ocasião brotando. Mas baile! Essa foi a última coisa que
passou pela minha cabeça.
Lágrimas de raiva rolaram pelas minhas bochechas. Eu lembrei com desânimo que
estava descaracteristicamente usando rímel. Eu limpei rapidamente embaixo dos olhos
pra prevenir qualquer mancha. Minha mão não estava preta quando eu a puxei; Talvez
Alice soubesse que precisaria de maquiagem á prova de água.
"Isso é completamente ridículo. Porque você está chorando?", ele quis saber frustrado.
"Porque eu estou com raiva!"
"Bella", ele usou toda a força dos seus ardentes olhos dourados em mim.
"O que?", eu murmurei, distraída.
"Me distraia", ele insistiu.
Seus olhos estavam derretendo toda a minha fúria. Era impossível brigar com ele
quando ele trapaceava daquele jeito. Eu desisti sem glória.
"Está bem", eu fiz beicinho, sem conseguir sem tão efetiva quanto eu esperava ser. "Eu
vou quieta. Mas você vai ver. Eu sempre estou aberta á mais má sorte. Eu
provavelmente vou quebrar minha outra perna. Olhe pra esse sapato! É uma
armadilha!", eu levantei minha perna como evidência.
"Hmmmm", ele olhou para a minha perna por mais tempo do que o necessário. "Me
lembre de agradecer Alice por essa noite".
"Ela vai estar lá?" Isso me confortou um pouquinho.
"Com Jasper, Emmett... e Rosalie", ele admitiu.
O sentimento de conforto desapareceu. Eu não fiz muito progresso com Rosalie, apesar
de estar em muitos bons termos com o seu as vezes marido. Emmett gostava de me ter
por perto - ele achava que as minhas reações humanas bizarras eram hilárias... ou talvez
fosse só o fato de que eu caia muito que ele achava engraçado. Rosalie agia como se eu
nem existisse. Enquanto eu balançava a minha cabeça pra dissipar a direção que os
meus pensamentos tinham tomado, eu pensei em outra coisa.
"Charlie está nisso tudo?", eu perguntei, suspeitando de repente.
"É claro", ele sorriu, e depois gargalhou. "No entanto, aparentemente, Tyler não estava".
Eu travei meus dentes. Como Tyler podia ter se iludido tanto, eu não podia imaginar.
Na escola, onde Charlie não podia nos atrapalhar, Edward e eu éramos inseparáveis -
exceto por aqueles raros dias de sol.
Estávamos na escola agora; o conversível vermelho de Rosalie era notável. As nuvens
estavam finas hoje, haviam alguns finos raios de sol escapando no céu á oeste.
Ele saiu e deu a volta no carro pra abrir minha porta. Ele levantou sua mão.
Eu fiquei teimosamente sentada no meu banco, com os braços cruzados, sentindo uma
punção secreta de presunção.
O estacionamento estava lotado de pessoas vestidas formalmente: testemunhas. Ele não
podia me remover á força do carro como já teria feito se estivéssemos sozinhos.
Ele suspirou. "Quando alguém tenta te matar, você é corajosa como um leão - e aí,
quando alguém menciona dançar...", ele balançou a cabeça.
Eu engoli seco. Dançar.
"Bella, eu não vou deixar nada te machucar - nem você mesma. Eu não vou largar de
você em hora nenhuma, eu prometo".
Eu pensei nisso e de repente estava me sentindo muito melhor. Ele podia ver isso no
meu rosto.
"Isso, agora", ele disse gentilmente. "Não vai ser tão ruim assim". Ele abaixou e passou
um dos braços pela minha cintura. Eu segurei a outra mão dele e ele me puxou pra fora
do carro.
Ele manteu o braço apertado ao meu redor, me segurando enquanto eu mancava em
direção á escola.
Em Phoeniz, eles fazem bailes em salões de hotéis. Esse baile era no ginásio da escola,
é claro. Possivelmente era o único espaço grande o suficiente para um baile. Quando
nós entramos, eu dei uma risadinha. Realmente havia balões com formatos e
ornamentos de papel crepe enfeitando as paredes.
"Isso parece um filme de terror esperando pra acontecer", eu ri silenciosamente.
"Bem", ele murmurou enquanto nos aproximávamos da mesa dos ingressos - ele estava
carregando a maior parte do meu peso, mas eu ainda tinha que arrastar e empurrar o
meu pé para frente - tem mais vampiros presentes do que o necessário".
Eu olhei para o espaço de dança; um espaço grande havia se aberto no espaço, onde dois
casais rodopiavam graciosamente. Os outros dançarinos se empurravam nos lados para
dar espaço á eles - ninguém queria contrastar com o brilho deles.
Emmett e Jasper estavam intimidantes e indefectíveis em seus smokings. Alice estava
arrebatadora num vestido de cetim preto com detalhes geométricos que abriam
triângulos na sua pele branca da cor da neve. E Rosalie estava... bem, Rosalie. Ela
estava além da imaginação. Seu vívido vestido vermelho era aberto nas costas, apertado
na panturrilha onde se abria um detalhe flutuante, com um decote que ia do seu pescoço
até a cintura. Eu senti pena de todas as garotas presentes, eu mesma incluída.
"Você quer que vá fechar as portas pra que você possa massacrar os moradores da
cidade sem levantar suspeita?", eu sussurrei conspirando.
"E onde é que você se encaixa nesse esquema?", ele olhou pra mim.
"Oh, eu estou com os vampiros, é claro".
Ele sorriu com relutância. "Qualquer coisa pra se mandar do baile".
"Qualquer coisa".
Ele comprou nossos ingressos, e então me virou na direção da pista de dança. Eu me
agarrei nele e levantei meu pé.
"Eu tenho a noite inteira", ele avisou
Eventualmente ele me arrastou pra onde a família dele estava rodopiando elegantemente
- em um estilo que não se adequava nem um pouco á música que estava tocando agora.
Eu observei horrorizada.
"Edward", minha garganta estava tão seca que eu quase não consegui sussurrar. "Eu
honestamente não posso dançar!", eu podia sentir o pânico borbulhando no meu peito.
"Não se preocupe, boba", ele sussurrou de volta. "Eu posso". Ele colocou meus braços
ao redor do pescoço dele e me levantou pra colocar os pés dele embaixo dos meus.
E então estávamos rodopiando também.
"Eu me sinto como se tivesse cinco anos de idade", eu sorri depois de alguns minutos de
rodopio sem esforços.
"Você parece ter cinco anos", ele murmurou, me puxando mais pra perto por um
segundo, assim meus pés ficaram á alguns centímetros do chão por alguns segundos.
Alice encontrou meu olhar numa volta e sorriu me encorajando - eu sorri de volta. Eu
estava surpresa de perceber que eu realmente estava aproveitando... um pouco.
"Ok, isso não é inteiramente ruim", eu admiti.
Mas Edward estava olhando na direção das portas, e o rosto dele aparentava raiva.
_________________________________________________4

"O que foi?", eu me perguntei em voz alta. Eu segui o olhar dele, desorientada pelos
rodopios, mas eu finalmente vi o que estava incomodando ele. Jacob Black, não de
smoking, mas com uma camisa de mangas longas e de gravata, seu cabelo puxado pra
trás no seu rabo de cavalo de sempre, estava atravessando a pista em nossa direção.
Depois do primeiro choque do reconhecimento, eu não pude deixar de me sentir mal por
Jacob. Ele estava claramente desconfortável - dolorosamente desconfortável.
O rosto dele estava pedindo desculpas enquanto seus olhos encontravam os meus.
Edward rosnou bem baixinho.
"Se comporte" eu soprei.
A voz de Edward estava severa. "Ele quer conversar com você".
Jacob chegou até nós nessa hora, a vergonha e as desculpas ainda mais evidentes no
rosto dele.
"Ei, Bella, eu estava esperando que você estivesse aqui". Jacob soou como se ele
estivesse esperando exatamente o contrário. Mas o sorriso dele estava tão cálido como
sempre.
"Oi, Jacob", eu sorri de volta. "E aí?"
"Eu posso atrapalhar?", ele pediu tentadoramente, olhando pra Edward pela primeira
vez. Eu estava chocada de ver que Jacob nem precisou olhar pra cima. Ele já deve ter
crescido uns cinco centímetros desde a primeira vez que eu vi ele.
O rosto de Edward estava composto, sua expressão vazia. A única resposta dele foi me
colocar cuidadosamente nos meus próprios pés, e dar um passo pra trás.
"Obrigado", Jacob disse amigavelmente.
Edward só balançou a cabeça, olhando pra mim atentamente antes de se virar e ir
embora. Jacob colocou as mãos na minha cintura, e eu coloquei as minhas mãos nos
ombros dele.
"Nossa, Jake, qual é a sua altura agora?"
Ele estava presumido. "Um e oitenta e quatro".
Nós não estávamos realmente dançando - minha perna tornava isso impossível. Ao
invés disso ele se movimentava estranhamente de um lado pra o outro sem movermos
os pés. Estava tudo bem; o súbito crescimento tinha o deixado parecendo meio
desequilibrado e desordenado, ele provavelmente não era um dançarino melhor que eu.
"Então,como é que você veio parar hoje?", eu perguntei realmente curiosa.
Levando em conta a reação de Edward, eu já podia advinhar.
"Você acredita que meu pai me pagou vinte pratas pra que eu viesse ao seu baile?", ele
admitiu, um pouco envergonhado.
"Sim, eu acredito", eu murmurei. "Bem, pelo menos eu espero que você aproveite, pelo
menos. Já viu algo que você gostasse?", eu caçoei, balançando a cabeça na direção de
um grupo de garotas alinhadas na parede com os enfeites.
"Sim", ele suspirou. "Mas ela está acompanhada".
Ele olhou pra baixo pra me olhar nos olhos só por um segundo - então nós dois
desviamos o olhar, envergonhados.
"Aliás, você está muito bonita", ele acrescentou, timidamente.
"Umm, obrigada. Então, porque Billy te pagou pra vir até aqui?" eu perguntei
rapidamente, apesar de já saber a resposta.
Jacob não pareceu agradecido pela mudança no assunto; ele desviou o olhar,
desconfortável de novo. "Ele disse que aqui seria um lugar 'seguro' pra conversar com
você. Eu juro que o velho está enlouquecendo".
Eu me juntei á risada dele fracamente.
"De qualquer forma, ele disse que se eu te dissesse uma coisa, ele me daria o cilindro
mestre que eu preciso", ele confessou com um sorriso envergonhado.
"Me diga, então. Eu quero que você termine o seu carro". Eu sorri de volta. Pelo menos
Jacob não acreditava em nada disso. Isso tornava a situação um pouco mais fácil. Na
parede, Edward estava olhando o rosto dele, seu próprio rosto estava sem expressão. Eu
ví uma garota do segundo ano com um vestido rosa olhar pra ele com uma tímida
especulação, mas ele não pareceu estar consciente da presença dela.
Jacob desviou o olhar de novo, envergonhado. "Não fique com raiva, tá?"
"Não tem jeito de eu ficar com raiva de você, Jacob", eu assegurei pra ele. "Eu não vou
nem ficar com raiva de Billy. Só diga o que você tem que dizer".
"Bem - isso é estúpido, me desculpe, Bella - ele quer que você termine com o seu
namorado. Ele me disse pra te pedir 'por favor'".
Ele balançou a cabeça com desgosto.
"Ele ainda é supersticioso, né?"
"É. Ele ficou... meio fora de sí quando você se machucou em Phoenix.
Ele não acreditou..." Jacob parou se sentindo embaraçado.
Eu revirei meus olhos. "Eu caí".
"Eu sei disso", ele disse rapidamente.
"Ele acha que Edward tem alguma coisa a ver com isso", eu não estava perguntando, e
independente da minha promessa, eu estava com raiva.
Jacob não me olhou nos olhos.
Nós não estávamos nem nos incomodando em nos mexer com a música, apesar das
mãos dele ainda estarem na minha cintura, e as minhas no pescoço dele.
"Olha, Jacob, eu sei que Billy provavelmente não vai acreditar nisso, mas só pra que
você saiba" - ele olhou pra mim agora, respondendo ao novo tom severo na minha voz -
"Edward realmente salvou minha vida. Se não fosse por Edward e seu pai, eu estaria
morta".
"Eu sei", ele aclamou, mas pareceu que as minhas palavras haviam afetado ele um
pouco. Talvez ele seja capaz de convencer Billy disso, pelo menos.
"Ei, eu lamento que você tenha que ter vindo fazer isso, Jacob", eu me desculpei. "De
qualquer forma, você ganhou as suas partes, não é?"
"É", ele ainda parecia estranho... chateado.
"Tem mais?", eu perguntei sem acreditar.
"Esqueça", ele murmurou. "Eu vou arrumar um emprego e conseguir o dinheiro
sozinho".
Eu olhei pra ele até que ele olhou pra mim. "Cospe logo, Jacob".
"É ruim demais".
"Eu não ligo. Me diga", eu insisti.
"Ok, mas, Deus, isso é ruim". Ele balançou a cabeça. "Ele disse pra te dizer, não, pra te
avisar, que - e são palavras dele, não minhas -". Ele levantou uma mão da minha cintura
e fez pequenos gestos no ar - "Ele estará observando". Ele esperou timidamente pela
minha reação.
Pareceu uma coisa de algum filme sobre a máfia. Eu ri alto.
"Eu lamento por você ter que fazer isso, Jake", eu ri silenciosamente.
"Eu não me importei tanto assim". Ele sorriu aliviado. Seus olhos estavam apreciativos
enquanto vasculhavam rapidamente o meu vestido. "Então, eu digo pra ele que você o
mandou cuidar dos assuntos dele?", ele perguntou esperançosamente.
"Não", eu suspirei. "Diga a ele que eu estou agradecida. Eu sei que as intenções eram
boas".
A música acabou, eu tirei meus braços.
As mãos dele hesitaram na minha cintura, e ele olhou para a minha perna engessada.
"Você quer dançar de novo? Ou eu posso te ajudar a ir a algum outro lugar?"
Edward respondeu por mim. "Está tudo bem, Jacob. Eu cuido dela".
Jacob vacilou, e olhou com os olhos arregalados pra Edward, que estava bem ao nosso
lado.
"Oi, eu não te vi aí", ele gaguejou. "Eu acho que a gente se vê por aí, Bella".
Ele deu um passo pra trás, acenando sem vontade.
Eu sorri. "É, a gente se vê depois".
"Desculpe", ele disse de novo antes de se virar para as portas.
Edward colocou seus braços ao redor do meu corpo quando a próxima música começou.
Era um pouco agitada demais para dança lenta, mas isso não pareceu preocupá-lo. Eu
coloquei minha cabeça no peito dele, contente.
"Se sentindo melhor?", eu caçoei.
"Na verdade não", ele disse resumidamente.
"Não fique com raiva de Billy", eu suspirei. "Ele só se preocupa pelo bem de Charlie.
Não é nada pessoal".
"Eu não estou irritado com Billy", ele me corrigiu com uma voz entrecortada. "Mas o
filho dele já está me irritando".
Eu me separei pra olhar pra ele. O rosto dele estava sério.
"Porque?"
"Primeiro de tudo, ele me fez quebrar minha promessa".
Eu olhei pra ele confusa.
Ele deu um meio sorriso. "Eu prometi que não ia me separar de você essa noite", ele
explicou.
"Oh. Bem, eu te perdôo".
"Obrigado. Mas tem outra coisa". Edward fez uma careta.
Eu esperei pacientemente.
"Ele te chamou de bonita", ele finalmente continuou, sua careta ficando ainda mais
profunda. "Isso é praticamente um insulto, pelo jeito como você está hoje. Você está
muito mais que linda".
_________________________________________________5

Eu sorri. "Eu acho que você está sendo influenciado".
"Eu não acho que seja isso. Além do mais, eu tenho uma ótima visão".
Nós estávamos rodopiando de novo, meus pés em cima dos dele enquanto ele me
segurava bem juntinho.
"Então, você vai explicar a razão pra isso tudo?", eu imaginei.
Ele olhou pra mim, confuso, e eu olhei significantemente para o papel crepe nas
paredes.
Ele considerou por um momento, e então mudou de direção, rodopiando comigo até a
multidão de pessoas na porta dos fundos. Eu peguei uma olhada de Jéssica e Mike,
dançando e olhando pra mim curiosamente.
Jéssica acenou, e eu sorri de volta rapidamente.
Angela estava lá também, parecendo abençoadamente feliz nos braços do pequeno Ben
Cheney; ela não olhava pra os olhos dele que era uma cabeça menor que ela. Lee e
Samantha; Lauren olhando na nossa direção, com Conner; eu podia dizer o nome de
todos os rostos que passaram rodopiando por nós. E então estávamos do lado de fora, na
fria, e fraca luz do por do sol que estava sumindo. Assim que estávamos sozinhos, ele
me pegou nos braços, e me carregou no chão escuro até que alcançamos os bancos
embaixo das grandes sombras das árvores anciãs. Ele se sentou lá, me mantendo
embalada no peito dele.
A lua já estava no céu, visível através das nuvens, e o rosto pálido dele brilhava na luz
branca.
Sua boca estava dura, seus olhos confusos.
"O ponto?" eu perguntei suavemente.
Ele me ignorou, olhando para a lua.
"É o crepúsculo, de novo", ele murmurou. "Outro final. Não importa quanto os dias
sejam perfeitos, eles sempre têm que acabar".
"Algumas coisas não têm que acabar", eu murmurei por entre os dentes, subitamente
tensa.
Ele suspirou.
"Eu te trouxe para o baile", ele disse lentamente, finalmente respondendo a minha
pergunta. "Porque eu não queria que você perdesse nada. Eu não quero que a minha
presença tire nada de você, se eu puder evitar. Eu quero que você seja humana. Eu
quero que você viva a sua vida como se eu tivesse morrido em 1918 como eu deveria ter
morrido".
Eu tremi com as palavras dele, e então balancei a cabeça com raiva.
"Em que estranha dimensão paralela eu iria para um baile por vontade própria? Se você
não fosse milhares de vezes mais forte que eu, eu nunca deixaria você se livrar dessa".
Ele sorriu brevemente, mas o sorriso não alcançou os olhos dele. "Não foi tão ruim
assim, você mesma disse isso".
"Mas isso é porque eu estou com você".
Nós ficamos quietos por um instante; ele olhava para a lua e eu olhava para ele. Eu
queria que houvesse alguma forma de explicar pra ele o quanto minha vida humana era
desinteressante.
"Você me diz uma coisa?", ele me perguntou, olhando pra mim com um leve sorriso.
"Eu não digo sempre?"
"Só me prometa que você vai dizer", ele insistiu, sorrindo.
Eu sabia que ia me arrepender disso quase instantaneamente. "Tá bom".
"Você pareceu honestamente surpresa quando soube que eu estava te trazendo pra cá",
ele começou.
"Eu estava", eu interferi.
"Exatamente", ele concordou. "Mas você devia ter outra teoria... eu estou curioso - para
o que você pensou que eu estivesse me vestindo?"
Sim, arrependimento instantâneo. Eu curvei os lábios, hesitando.
"Eu não quero te dizer".
"Você prometeu", ele protestou.
"Eu sei".
"Qual é o problema?"
Ele sabia que era pura verginha que estava me segurando. "Eu acho que vai te deixar
com raiva - ou triste".
As sobrancelhas se juntaram sobre os olhos dele enquanto ele pensava nisso. "Eu ainda
quero saber. Por favor?"
Eu suspirei. Ele esperou.
"Bem... eu achei que fosse algum tipo de... ocasião. Mas eu não achei que fosse uma
coisa tão humana... baile!" eu ridicularizei.
"Humana?", ele perguntou vazio. Ele se prendeu na palavra chave.
Eu olhei pra baixo para o meu vestido, dedilhando um pedaço de chiffon. Ele esperou
em silêncio.
"Tudo bem", eu confessei rapidamente. "Então eu estava esperando que você tivesse
mudado de idéia... que você fosse me mudar, afinal".
Uma dúzia de emoções passou pelo rosto dele. Algumas eu reconheci: raiva... dor... e
então quando ele pareceu se recompor a expressão dele ficou divertida.
"E você pensou que isso seria uma ocasião black-tie, não pensou?" ele zombou, tocando
a lapela do paletó do smoking dele.
Eu fiz uma carranca pra esconder minha vergonha. "Eu não sei como essas coisas
funcionam. Pra mim, pelo menos, parecia mais racional do que um baile". Ele ainda
estava sorrindo. "Não é engraçado", eu disse.
"Não, você está certa, não é", ele concordou, o sorriso desaparecendo. "No entanto, eu
preferia tratar disso como uma piada, do que acreditar que você estava falando sério".
"Mas eu estou falando sério".
Ele suspirou profundamente. "Eu sei. Você quer mesmo tanto assim?"
A dor estava de volta nos olhos dele. Eu mordí meu lábio e afirmei com a cabeça.
"Tão pronta para isso ser o fim", ele murmurou, quase pra sí mesmo.
"Pronta para esse ser o último crepúsculo da vida dele, apesar da sua vida estar só
começando. Você está pronta pra abrir mão de tudo".
"Não é o fim, é o começo", eu discordei por baixo do meu fôlego.
"Eu não valho a pena", ele disse tristemente.
"Você se lembra de quando me disse que eu não me via muito claramente?", eu
perguntei, erguendo minhas sobrancelhas. "Você obviamente tem o mesmo problema".
"Eu sei o que eu sou".
Eu suspirei.
Mas o humor dele se virou pra mim. Ele curvou os lábios, e os olhos dele estavam
sondando. Ele examinou meu rosto por um longo momento.
"Você está pronta agora, então?", ele perguntou.
"Umm", eu engoli seco. "Sim?"
Ele sorriu e inclinou sua cabeça lentamente até que seus lábios frios passaram na minha
pele, bem abaixo do contorno da minha mandíbula.
"Agora mesmo?", ele sussurrou, a respiração dele estava fria no meu pescoço. Eu me
arrepiei involuntariamente.
"Sim", eu sussurrei, assim minha voz não teria a chance de falhar. Se ele achasse que eu
estava blefando, ele ficaria decepcionado. Eu já havia tomado a decisão, e tinha certeza.
Não importava que o meu corpo estivesse rígido feito uma tábua, minhas mãos curvadas
nos punhos, minha respiração descompassada...
Ele gargalhou sombriamente, e se afastou. O rosto dele parecia desapontado.
"Você realmente acredita que eu desistiria assim tão fácil", ele disse com um leve tom
de divertimento na voz dele.
"Uma garota pode sonhar".
As sobrancelhas dele se ergueram. "É com isso que você sonha? Ser um monstro?"
"Não exatamente", eu fiz uma careta pela escolha das palavras dele.
Monstro, realmente. "Eu sonho mais em estar com você por toda a eternidade".
A expressão deve mudou, se suavizou e ficou triste pela súbita dor na minha voz.
"Bella". Seus dedos lentamente traçaram os contornos dos meus lábios. "Eu vou ficar
com você - isso não é o suficiente?"
Eu sorri por baixo dos dedos dele. "Suficiente por enquanto".
Ele fez uma careta pela minha tenacidade. Ninguém ia se render essa noite. Ele exalou,
e o som foi praticamente um rosnado.
Eu toquei o rosto dele. "Olha", eu disse. "Eu te amo mais do que tudo no mundo junto.
Isso não é o suficiente?"
"Sim, é suficiente", ele respondeu sorrindo. "Suficiente pra sempre".
E ele se inclinou pra tocar a minha garganta com seus lábios frios mais uma vez.

______________________________________Fim

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