Crepúsculo
(Twilight)
Esta é a Parte2
Se o perseguidor
chegar perto de Forks, nós
pegamos ele”.
“Eu sinto sua falta”, eu
sussurrei.
“Eu sei, Bella. Acredite em mim,
eu sei. É como se você tivesse levado metade de mim
com você”.
“Então, venha pegá-la”, eu
desafiei.
“Breve, assim que eu puder. Mas
eu vou te deixar a salvo primeiro”. A voz dele estava
dura.
“Eu te amo”, eu lembrei ele.
“Será que você poderia acreditar
que, a despeito de tudo em que eu te envolvi, eu te
amo também?”
“Sim, na verdade, eu posso”.
“Eu vou te buscar logo”.
“Eu estarei esperando”.
Assim que o telefone ficou mudo,
a nuvem de depressão começou a pairar sobre mim de
novo.
Eu me virei pra entregar o
celular pra Alice, e encontrei Jasper inclinado sobre a mesa,
onde Alice estava fazendo
desenhos num papel com o emblema do hotel. Eu me inclinei
no sofá, olhando por cima dos
ombros dela.
Ela desenhou uma sala: longa,
retangular, com uma sessão quadrada, mais fina lá no
final.
As placas de madeira estavam
expostas na longitudinal em todo o chão da sala. Nas
paredes, as linhas denotavam o
espaço de um espelho para o outro. E então,
atravessando os espelhos, acima
da altura cintura, uma longa faixa. A faixa que Alice
dizia ser dourada.
“É um estúdio de Balé”, eu disse,
repentinamente reconhecendo as formas familiares.
Eles olharam pra mim, surpresos.
“Você conhece essa sala?”. A voz
de Jasper parecia calma, mas havia algo por baixo
dela que eu não podia
identificar. Alice abaixou a cabeça para o seu trabalho, agora sua
mão voava sobre o papel, o
formato da saída de emergência no fundo da sala, o som e a
TV numa mesa baixa que ficava no
canto da frente da sala.
“Parece com um lugar que eu
costumava freqüentar para ter aulas de dança - quando eu
tinha oito ou nove anos. O
formato é o mesmo”.
Eu toquei o papel no local onde a
parte quadrada aparecia, estreitando a parte de trás da
sala. “É aqui que eram os banheiros
- as portas passavam pela outra sala de dança. Mas
o som ficava aqui” - eu apontei o
canto esquerdo - “Era mais velho e não havia uma TV.
Havia uma janela na sala de
espera - você podia ver a sala nessa posição se você olhasse
por ela”.
Alice e Jasper estavam olhando
pra mim.
“Você tem certeza de que é a
mesma sala?” Jasper perguntou, ainda calmo.
“Não, nem um pouco - eu creio que
todos os estúdios de dança sejam parecidos - os
espelhos, as barras”. Eu tracei
as barras nos espelhos com o dedo.
“É só que o formato me pareceu
familiar”. Eu toquei a porta, que ficava exatamente no
lugar onde eu lembrava.
“Você teria algum motivo pra ir
lá agora?” Alice perguntou, me tirando do devaneio.
“Não, fazem quase dez anos que eu
não vou lá. Eu era uma dançarina horrível - eles
sempre me colocavam no fundo dos
recitais”, eu admiti.
“Então não tem jeito disso estar
ligado á você?”, Alice perguntou atentamente.
“Não, eu nem acho que o dono seja
o mesmo. Eu estou certa de que é algum outro
estúdio de dança, em outro lugar”.
“Onde era o estúdio que você
freqüentava?”, Jasper perguntou numa voz casual.
“Era na esquina da casa da minha
mãe. Eu costumava ir andando pra lá depois da
escola...”, eu disse, minha voz
fugindo. Eu não perdi o olhar que eles trocaram.
“Aqui em Phoenix, então?”, a voz
dele ainda estava casual.
“Sim”, eu sussurrei. “Rua
cinqüenta e oito com Cactus”.
Nós todos sentamos em silêncio,
olhando para o desenho.
“Alice, o telefone é seguro?”
“Sim”, ela me assegurou. “O
número vai ser localizado em Washigton”.
“Então eu posso usá-lo para ligar
para a minha mãe”.
“Eu pensei que ela estivesse na
Flórida”.
“Ela está - mas ela vai voltar
pra casa em breve, e ela não pode voltar pra casa
enquanto...” Minha voz tremeu. Eu
estava pensando no que Edward havia dito, sobre a
fêmea ter estado na casa de
Charlie, na escola, onde meus documentos estariam.
“Como é que você vai
encontrá-la?”
“Eles não têm números permanentes
exceto em casa - ela tem que checar as mensagens
regularmente”.
“Jasper?”, Alice perguntou.
Ele pensou. “Eu acho que não pode
fazer mal nenhum - mas tome o cuidado de não
dizer onde está, é claro”.
Eu peguei o telefone ansiosamente
e disquei o número familiar. Ele tocou quatro vezes,
e então eu ouvi a voz a voz suave
da minha mãe me dizendo pra deixar uma mensagem.
“Mãe”, eu falei depois do bipe.
“sou eu. Escute, eu preciso que você faça uma coisa. É
importante. Assim que você
escutar essa mensagem, me ligue neste número”. Alice já
estava a meu lado, escrevendo o
número pra mim em cima do desenho dela. Eu o li
cuidadosamente, duas vezes. “Por
favor, não vá a lugar nenhum antes que eu tenha
falado com você. Não se preocupe,
eu estou bem, mas eu preciso falar com você
imediatamente, não importa a hora
que você receber esta ligação, está bem? Eu te amo,
mãe, tchau”. Eu fechei meus olhos
e rezei com todas as minhas forças pra que ela
recebesse a mensagem antes de ir
pra casa.
Eu sentei no sofá, batucando no
prato que continha as frutas, antecipando a longa noite.
Eu pensei em ligar pra Charlie,
mas eu não sabia se ele estaria em casa agora ou não. Eu
me concentrei no jornal,
assistindo histórias sobre a Flórida ou sobre o treinamento de
Primavera - greves, ou furacões
ou algum ataque terrorista - qualquer coisa que pudesse
fazer eles voltarem mais cedo pra
casa.
Imortalidade deve garantir
paciência infinita. Nem Jasper nem Alice pareciam sentir a
necessidade de alguma coisa pra
fazer. Por algum tempo, Alice desenhou os traços da
sala escura que ela havia visto,
tudo o que ela podia ver pela leve luz da TV. Mas
quando ela terminou, ela
simplesmente ficou olhando para o vazio das paredes, com
seus olhos eternos. Jasper,
também, parecia não ter nenhuma necessidade de se mover,
ou de dar uma olhadinha pelas
cortinas, eu sair correndo pela porta, como eu queria.
Eu devo ter pego no sono no sofá,
esperando o telefone tocar de novo. O toque frio de
Alice me acordou brevemente
enquanto ela me carregava para a cama, mas eu já estava
inconsciente antes de encostar no
travesseiro.
21. Ligação
Eu podia sentie que era cedo
demais quando eu acordei de novo, e eu sabia que os meus
horários do dia e da noite
estavam mudando lentamente. Eu fiquei deitada na minha
cama ouvindo as vozes baixinhas
de Alice e Jasper na outra sala. Era muito estranho
que elas fossem altas o
suficiente pra eu ouvir. Eu rolei até que meus pés tocassem o
chão e então me arrastei até a
sala.
O relógio da TV dizia que havia
acabado de passar das duas da manhã. Alice e Jasper
ainda estavam sentados no sofá,
Alice rabiscando de novo enquanto Jasper olhava por
cima do ombro dela. Eles não
olharam pra cima quando eu entrei, de tão concentrados
que estavam no trabalho de Alice.
Eu engatinhei até o lado de
Jasper pra espionar.
"Ela viu mais alguma
coisa?", eu perguntei baixinho pra ela.
"Sim. Alguma coisa trouxe
ele de volta á sala de videocassete, agora está claro".
Eu observei enquanto Alice
desenhava uma sala quadrada com vigas escuras que
atravessavam o teto. As paredes
eram cobertas de madeiras, um pouco escuras demais,
fora de moda. Um dos lados da
entrada era de pedra - uma lareira de pedra cor de broze
que ficava entre a entrada de
duas salas. Haviam uma grande janela na parede que dava
para o Sul, e uma abertura na
parede do lado oeste que dava uma visão para a sala de
estar.
O foco da sala por essa
perspectiva, a TV e o videocassete, que ficavam equilibrados
num aparedor pequeno demais,
estavam no lado do corredor que ficava mais próximo
do lado sul. Um sofá antigo
ficava no lado contrário ao da TV, uma mesa de café
redonda ficava na frente dele.
"O telefone fica aqui",
eu sussurrei, apontando.
Os dois pares de olhos me
encararam.
"É a casa da minha
mãe".
Alice já estava fora do sofé, com
o telefone na mão, discando. Eu olhei para a precisa
descrição da sala familiar da
minha mãe. Como não era do seu costume, Jasper
escorregou pra perto de mim. Ele
colocou levemente sua mão no meu ombro, e o seu
contato físico pareceu fazer sua
inflência calmante ser ainda mais forte.
O pânico ficou nublado,
desfocado.
Os lábios de Alice estavam
tremendo com a rapidez de suas palavras, o ruído baixo era
impossível de decifrar. Eu não
conseguia me concentrar.
"Bella", Alice disse,
eu olhei pra ela entorpecida.
"Bella, Edward está vindo te
buscar. Ele e Emmett e Carlisle vão te levar para algum
lugar, pra te esconder por algum
tempo".
"Edward está vindo?",
as três palavras eram como um manto de vida, que segurava
minha cabeça pra cima durante um
dilúvio.
"Sim, ele está pegando o
primeiro vôo para Seattle. Nós vamos encontrá-lo no aeroporto
e você irá com ele".
"Mas, minha mãe... ele veio
aqui pra pegar minha mãe, Alice!", a despeito de Jasper, a
histeria estava borbulhando nas
minhas palavras.
"Jasper e eu ficaremos até
que ela esteja a salvo".
"Eu não vou vencer, Alice.
Vocês não podem cuidar de todas as pessoas que eu conheço
pra sempre. Ele vai achar alguém,
ele vai machucar alguém que eu amo... Alice, eu não
consigo-".
"Nós vamos pegá-lo,
Bella", ela me assegurou.
"E se você se machucar,
Alice? Você acha que vai ficar tudo bem pra mim? Você acha
que ele só pode me machucar com a
minha família humana?"
Alice deu um olhar cheio de
significado pra Jasper. Uma pesada e profundo nuvem de
legargia passou por mim e os meus
olhos fecharam sem minha permissão. Minha mente
lutou contra a nuvem , se dando
conta do que estava acontecendo. Eu forcei meus olhos
a se abrirem e me levantei, me
distanciando das mãos de Jasper.
"Eu não quero voltar a
dormir", eu falei.
Eu andei para o quarto e fechei a
porta, bati ela na verdade, assim eu estaria livre para
ficar despedaçada em privacidade.
Dessa vez Alice não me seguiu. Por três horas e meia
eu olhei para a parede, curvada
como uma bola, me balançando. Minha mente estava
dando voltas, tentando encontrar
uma forma de sair desse pesadelo. Não havia
escapatória, não havia como
adiar. Eu só podia ver um final aparecendo sombriamente
no meu futuro. A única pergunta
era quantas pessoas se machucariam até que eu
chegasse la´.
O único consolo, a única
esperança que eu tinha, era que eu veria Edward em breve.
Talvez, se eu pudesse apenas ver
o rosto dele de novo, eu também poderia ver a solução
que me iludia agora.
Quando o telefone tocou, eu
voltei para a sala, um pouco envergonhada pelo meu
comportamento. Eu esperava não
ter ofendido nenhum dos dois, que eles soubessem o
quanto eu estava grata pelos
sacrifícios que eles estavam fazendo por minha culpa.
Alice estava atendendo ele tão
rapidamente como sempre, mas o que chamou minha
atenção foi que, pela primeira
vez, Jasper não estava no quarto. Eu olhei para o relógio -
eram cinco e meia da manhã.
"Eles estão entrando no
avião", Alice me disse. "Eles vão aterrisar as nove e quarenta e
cinco". Só mais algumas hora
para respirar até que ele estivesse alí.
"Onde está Jasper?"
"Ele foi fazer o
check-out".
"Vocês não vão ficar
aqui?"
"Não, nós vamos nos relocar
para algum lugar mais próximo da casa da sua mãe".
Meu estômago revirou
desconfortavelmente com as palavras dela.
Mas o telefone tocou de novo, me
distraindo. Ela pareceu surpresa, mas eu já estava me
aproximando, pegando
esperançosamente o telefone.
"Alô?", Alice perguntou.
"Não, ela está bem aqui". Ela me passou o telefone. Sua mãe,
ela murmurou.
"Alô?"
"Bella, Bella", era
avoz da minha mãe, num tom famíliar que eu já havia ouvido
milhares de vezes na minha
infância, toda vez que ficava na beira da calçada ou
desaparecia de vista num lugar
lotado.
Era o som do pânico.
Eu suspirei. Eu já estava
esperando isso, apesar de ter tentado poassar a mensagem da
forma mais calma possível,
levando em consideração a emergência da situação.
"Mãe, fique calma", eu
disse na minha voz mais tranquilizadora, caminhando
vagarosamente pra longe de Alice.
Eu não tinha certeza de que conseguiria mentir
convenientemente com os olhos
dela grudados em mim.
"Está tudo bem, tá legal? Só
me dê um minuto e eu vou explicar tudo, eu prometo".
Eu pausei, surpresa por ela ainda
não ter me interrompido.
"Mãe?"
"Tome muito cuidado pra não
falar nada até que eu diga". A voz que eu ouvi agora não
era familiar e era inesperada.
Era uma voz masculina baixa, uma voz muito agradável,
genérica - o tipo de voz que você
ouve no fundo de um comercial de carros luxuosos.
Ele falava muito rapidamente.
"Agora, eu não preciso
machucar sua mãe, então por favor, faça exatamente o que eu
disser e ela vai ficar bem".
Ele pausou por uma minuto enquanto eu só ouvia, muda de
horror. "Isso é muito
bom", ele parabenizou. "Agopra repita depois de mim, e tente
parecer natural. Por favor diga,
'Não, mãe, fique onde você está'".
"Não, mãe,fique onde você
está", minha voz mal passava de um sussurro.
"Eu vejo que isso vai ser
bem difícil". A voz estava divertida, ainda leve e amigável.
"Porque você não vai para
outro lugar pra que o seu rosto não arruine tudo? Não há
nenhuma razão pra sua mãe sofrer.
Enquanto você está andando, por favor diga 'Mãe,
por favor, me ouça'. Diga isso
agora".
"Mãe, por favor, me
ouça", minha voz implorou. Eu andei bem devagar para o quarto,
sentindo os olhos preocupados de
Alice na minhas costas. Eu fechei a porta atrás de
mim, tentando pensar claramente
apesar do terror que prendia meu cérebro.
"Agora, você está sozinha?
Só responda sim ou não".
"Sim".
"Mas eles ainda podem te
ouvir, eu tenho certeza".
"Sim".
"Tudo bem então", a voz
de concordância continuou. "diga, 'Mãe, confie em mim'".
"Mãe, confie em mim".
"Isso está funcionando
melhor do que eu esperava. Eu estava preparado para esperar,
mas a sua mãe chegou antes do
horário. É mais fácil assim, não é? Menos suspense,
menos ansiedade pra você".
Eu esperei.
""Agora eu quero que
você me ouça muito cuidadosamente. Eu vou precisar que você
se afaste dos seus amigos; você
acha que consegue fazer isso? Responda sim ou não".
"Não".
"Eu lamento ouvir isso. Eu
esperava que você fosse um pouco mais criativa que isso.
Você acha que poderia se afastar
deles se a vida da sua mãe dependesse disso? Rsponda
sim ou não".
De alguma forma, tinha que haver
um jeito. Eu me lembrei que estavamos indo ao
aeroporto. Aeroporto Sky Harbor
Internacional: lotado, pessoas atrasadas...
"Sim".
"Isso é melhor. Eu tenho
certeza que não será fácil, mais se eu tiver a mínima impressão
de que você tem companhia, bem,
isso vai ser muito ruim para a sua mãe", a voz
amigável prometeu. "Você já
deve nos conhecer suficientemente bem pra saber o quão
rapidamente eu vou saber se você
tentar trazer alguém com você. E como eu poderia
lidar rapidinho com a sua mãe se
esse fosse o caso. Você está me entendendo?
Responda sim ou não".
"Sim", minha voz
quebrou.
"Miuto bom, Bella. Agora
aqui está o que você precisa fazer. Eu quero que você vá para
a casa da sua mãe. Perto do
telefone haverá um número. Ligue pra ele e eu te direi pra
onde ir a partir daí". Eu já
sabia pra onde iria, e onde isso iria acabar. Mas eu seguiria
exatamente as instruções dele.
"Você pode fazer isso? Responda sim ou não".
"Sim".
"Antes do meio dia, por
favor, Bella. Eu não tenho o dia inteiro", ele disse
educadamente.
"Onde está Phil?", eu
perguntei.
"Aw, tome cuidado, Bella.
Espere até que eu te peça pra falar, por favor".
Eu esperei.
"Agora, isso é importante,
não deixe os seus amigos suspeitarem quando você voltar pra
eles. Diga pra eles que sua mãe
ligou, e que você conseguiu convencê-la a ficar longe de
casa por mais algum tempo. Agora
repita depois de mim 'Obrigada, mãe'. Diga agora".
"Obrigada, mãe", as
lágrimas estavam chegando. Eu tentei afastá-las.
"Diga 'Eu te amo, mãe, a gente
se vê logo'. Diga agora".
"Eu te amo, mãe", minha
voz estava grossa. "A gente se vê logo", eu prometi.
"Adeus, Bella. Eu estou
ansioso pra vê-la de novo". Ele desligou.
Eu segurei o telefone no meu
ouvido. Meu corpo estava congelado de terror - eu não
conseguia fazer meus dedos
solta-lo.
Eu sabia que tinha que pensar,
mas minha cabeça estava cheia com o som de pânico da
voz da minha mãe.. Os segundos
foram se passando enquanto eu lutava pra me
controlar.
Lentamente, lentamente, meus
pensamentos começaram a transpor a parede de tijolos
que a dor havia construido. Para
planejar. Eu não tinha escolhas, a não ser uma: ir para a
sala espelhada e morrer. Eu não
tinha garantias, nada pra dar que pudesse manter minha
mãe viva. Eu só podia esperar que
James se desse por satisfeito depois que James
ganhasse o jogo, que derrotar
Edward fosse o suficiente.
O desespero tomou conta de mim;
não tinha como barganhar, não havia nada que eu
pudesse oferecer ou recusar que
influenciasse ele. Mas eu ainda não tinha escolha. Eu
tinha que tentar.
Eu afastei o terror tão bem
quanto pude. Minha decisão estava tomada. Eu não ganhava
nada perdendo meu tempo
agonizando por causa do desfecho. Eu tinha que pensar com
clareza, porque Alice e Jasper
estavam esperando por mim, e despistá-los era
absolutamente essencial, e
absolutamente impossível.
Eu estava subitamente aliviada
por Jasper não estar lá. Se ele estivesse aqui pra sentir a
minha angústia nos últimos cinco
minutos, como era que eu ia evitar as suspeitas deles?
Eu afastei o medo, a ansiedade,
tentei sufocá-los. Eu não podia me dar ao luxo de sentílos.
Eu não sabia quando ele voltaria.
Eu me concentrei na minha fuga.
Eu tinha que rezar pra que a familiaridade com o
aeroporto funcionasse a meu
favor. D e alguma forma, eu tinha que manter Alice
longe...
Eu sabia que Alice estaria na
outra sala esperando por mim, curiosa. Mas eu tinha que
lidar com mais uma coisa em
particular, antes que Jasper voltasse.
Eu tinha que aceitar o fato de
que não veria Edward novamente, nem uma imagem do
seu rosto pra levar comigo para a
sala dos espelhos. Eu ai magoá-lo, e não podia dizer
adeus. Eu deixei as ondas de
tortura me lavarem por algum tempo, seguir seu caminho
por um tempo.
Então eu afastei elas também, e
fui enfrentar Alice.
A única expressão que eu consegui
controlar foi um olhar bobo, morto. Eu ví o alarme
dela e não esperei que ela
perguntasse. Eu só tinha um script, e agora não consegui
improvisar.
"Minha mãe estava
preocupada, ela queria voltar voltar pra casa. Mas está tudo bem, eu
convencí ela a ficar longe".
Minha voz estava sem sem vida.
"Nós vamos cuidar pra que
ela fique bem, Bella, não se preocupe".
Eu me virei; eu não podia
permitir que ela visse meu rosto agora.
Meu olho caiu sobre uma folha
vazia com o emblema do hotel em cima da mesa. Eu fui
até ela, um plano se formando.
Havia um envelope lá, também. Isso era bom.
"Alice", eu perguntei
lentamente, sem me virar, mantendo o nível da minha voz. "Se eu
escrever uma carta para a minha
mãe, você entregaria pra ela? Deixar na casa, eu quero
dizer".
"Claro, Bella", a voz
dela era cuidadosa. Ela podia me ver perdendo o controle. Eu tinha
que controlar melhor as minhas
emoções.
Eu fui para o meu quarto de novo,
e me ajoelhei na mesinha de cabeceira para escrever.
"Edward", eu escrevi.
Minha mão estava tremendo, a letra quase não era legível.
Eu te amo. Eu lamento muito. Ele
está com a minha mãe. Eu sei que isso pode não
funcionar. Eu lamento muito,
muito.
Não fique com raiva de Alice e
Jasper. Se eu conseguir me afastar deles vai ser um
milagre. Agradeça eles por mim.
Especialmente Alice, por favor.
E por favor, por favor, não vá
atrás dele. É isso que ele quer. Eu acho. Eu não vou
conseguir aguentar se alguém se
machucar por minha causa, especialmente você. Por
favor, isso é a única coisa que
eu posso te pedir agora. Por mim.
Eu te amo. Me perdoe.
Bella.
Eu dobrei a carta cuidadosamente,
e a coloquei no envelope. Eventualmente ele irai
encontrá-la. Eu esperava que ele
pudesse entender, e me escutar, só dessa vez.
Então eu cuidadosamente fechei
meu coração.
22. Esconde -
esconde
Levou muito menos tempo do que eu
espera - todo o terror, o desespero, a dor do meu
coração partido. Os minutos
estavam se passando mais devagar do que o normal. Jasper
ainda não tinha voltado quando eu
retornei para Alice. Eu estava com medo de ficar no
mesmo quarto com ela, com medo
que ela adivinhasse... e com medo de me esconder
dela pela mesma razão.
Eu teria pensado que estava longe
da possibilidade de me surpreender, meus
pensamentos estavam torturados e
desestabilizados, mas eu fiquei surpresa quando ví
Alice se inclinar na mesa,
agarrando a borda com as duas mãos.
"Alice?"
Ela não reagiu quando eu chamei o
nome dela, mas a cabeça dela estava se balançando
lentamente de um lado para o
outro, e eu ví o rosto dela. Seus olhos estavam vazios,
ofuscados... Meus pensamentos
viajaram para a minha mãe. Eu já estava atrasada?
Eu corri para o lado dela, me
lançando automaticamente pra pegar na mão dela.
"Alice!", a voz de
Jasper cortou, e então ele estava atrás dela, as mãos dele sobre as
mãos dela, fazendo elas soltarem
a borda da mesa. Do outro lado da sala, a porta estava
se fechando com um click
baixinho.
"O que foi?", ele quis
saber.
Ela desviou o rosto de mim e o
colocou no peito dele. "Bella", ela disse.
A cabeça dela se virou pra mim,
os olhos dela se prendendo aos meus, a expressão deles
ainda estava estranhamente vazia.
Eu me dei conta na hora de que ela não estava
falando comigo, ela estava
respondendo á pergunta de Jasper.
"O que você viu?", eu
disse - e não havia pergunta nenhuma no tom vazio, sem
importância da minha voz.
Jasper olhou pra mim asperamente.
Eu mantive a expressão vazia e esperei. Os olhos
dele estavam confusos enquanto
passavam rapidamente do rosto de Alice para o meu,
sentindo o caos... eu imagino que
tenha sido pelo que Alice havia acabado de ver.
Eu senti uma atmosfera tranquila
pousar ao meu redor. Eu a recebí bem, usando ela pra
manter os meus sentimentos em
disciplina, sobre controle.
Alice, também se recuperou.
"Nada, de verdade", ela
respondeu finalmente, a voz dela incrivelmente calma e
convincente. "Só o mesmo
quarto de antes".
Ela finalmente olhou pra mim, sua
expressão estava suave e reservada.
"Você queria tomar o café da
manhã?"
"Não, eu vou comer no
aeroporto". Eu estava muito calma também. Eu fui para o
banheiro pra tomar um banho.
Quase como se eu estivesse desenvolvendo o estranho
poder de Jasper, eu podia sentir
o desespero - bem dissimulado - selvagem de Alice para
que eu saisse da sala, para estar
sozinha com Jasper. Assim ela poderia dizer a ele que
os dois estavam fazendo alguma
coisa errada, que eles iam falhar...
Eu me aprontei metodicamente, me
concentrando em cada pequena tarefa. Eu deixei
meu cabelo solto, se torcendo,
cobrindo meu rosto.
O sentimento de paz que Jasper criou
funcionou e me ajudou a pensar com clareza. Me
ajudou a planejar. Eu procurei na
minha bolsa até que encontrei minha meia cheia de
dinheiro. Eu coloquei tudo que
havia nela no meu bolso.
Eu estava ansiosa para chegar ao
aeroporto,e feliz quando nós saímos por volta das sete.
Dessa vez eu me sentei sozinha no
fundo do carro escuro. Alice estava inclinada na
porta, seu rosto estava virado
pra Jasper, mas por trás dos óculos escuros, seus olhos se
viravam pra mim a cada segundo.
"Alice?", eu perguntei
indiferente.
Ela estava sendo cautelosa.
"Sim?"
"Como isso funciona? As
coisas que você vê?", eu olhei pra fora pela janela, e minha
voz soou aborrecida. "Edward
disse que não era definitivo... que as coisas mudam?"
Dizer o nome dele era mais
difícil do que eu pensei. Deve ter sido isso que alertou
Jasper, porque um flash de
serenidade invadiu o carro.
"Sim... as coisas
mudam", ela murmurou - esperançosamente, eu esperava. "Algumas
coisas são mais certas que
outras...como o clima.
As pessoas são mais difíceis. Eu
só vejo os caminhos onde as pessoas estão quando elas
ainda estão neles. Somente elas
podem mudar suas mentes - tomar uma decisão, não
importa o quanto ela seja pequena
- muda todo o futuro".
Eu balancei a cabeça
pensativamente. "Então você não conseguiu ver James em Phoenix
até que ele decidiu vir pra
cá".
"Sim", ela respondeu,
cautelosa de novo.
E ela não tinha me visto na sala
dos espelhos com James até que eu decidí ir encontrá-lo
lá. Eu tentei não pensar no que
mais ela havia visto. Eu tentei não fazer o meu pânico
deixar Jasper ainda mais
suspeito. De qualquer forma, eles iam estar me observando
ainda mais cuidadosamente depois
da visão de Alice. Isso ia ser impossível.
Nós chegamos no aeroporto. A
sorte estava comigo, ou talvez fosse somente pontos de
desvantagem. O avião de Edward
estava aterrisando no terminal quatro, o maior
terminal, onde a maioria dos vôos
desembarcava - então não era uma grande surpresa
que o dele fosse aterrisar lá.
Mas esse era o terminal que eu precisava: o maior o mais
confuso. E havia uma porta no
nível três que podia ser a minha única chance.
Nós paramos no quarto andar da
enorme garagem. Eu guiei o caminho, por conhecer
melhor o trajeto do que eles. Nós
pegamos o elevador até o nível três, onde os
passageiros desembarcavam. Alice
e Jasper ficaram um longo tempo no balcão
procurando os vôos que haviam
chegado. Eu ouvia eles discutindo os prós e contras de
Nova York, Atlanta, Chicago.
Lugares que eu nunca havia visitado. E nunca visitaria.
Eu esperei pela minha
oportunidade, impaciente, sem conseguir fazer meu pé parar de
se mexer.
Nós nos sentamos numa longa
fileira de cadeiras perto dos detectores de metal, Jasper e
Alice estavam fingindo observar
as pessoas, mas na cerdade estavam observando a
mim. Cada centímetro que eu me
mexia na cadeira era acompanhado por olhares nos
cantos dos olhos deles. Eu não
tinha esperanças. Será que eu deveria correr? Eles
ousariam me deter fisicamente
nesse local público? Ou eles simplesmente me
seguiriam?
Eu puxei o envelope sem lacre da
minha bolsa e o coloquei em cima da bolsa de couro
preto de Alice. Ela olhou pra
mim.
"Minha carta", eu
disse.
Ela afirmou com a cabeça e o
colocou embaixo da bolsa. Ele a encontraria rápido o
suficiente.
Os minutos foram se passando e o
momento da chegada de Edward se aproximava. Era
impressionante como cada célula
do meu corpo parecia saber que ele estava chegando, e
ansiava pela sua chegada.
Isso dificultou as coisas. Eu me
peguei tentando inventar desculpas pra ficar, pra vê-lo
antes e depois escapar. Mas eu
sabia que isso era impossível se eu queria ter alguma
chance de escapar.
Várias vezes Alice se ofereceu
pra ir pegar meu café da manhã comigo. Depois, eu disse
pra ela, ainda não.
Eu olhei para o painel de vôos,
observando enquanto vôos após vôos chegavam no
horário. O vôo de Seattle se
aproximava a cada segundo do topo do painél.
E então, quando eu só tinha meia
hora para escapar, os números mudaram. O vôo dele
estava dez minutos adiantado. Eu
não tinha mais tempo.
"Eu acho que vou comer
agora", eu disse rapidamente.
Alice ficou de pé. "Eu vou
com você".
"Você se importa se Jasper
vier?", eu perguntei. "Eu estou me sentindo um pouco...", eu
não terminei a frase. Meus olhos
já estavam selvagens o suficiente pra convencê-los do
que eu não precisei dizer.
Jasper ficou de pé. Os olhos de
Alice estavam confusos, mas - eu ví aliviada - não
suspeitos. Ela deve estar
atribuindo a visão dela á alguma manobra do perseguidor, e
não a uma traição minha.
Jasper caminhou silenciosamente
ao meu lado, sua mão na curva das minhas costas,
como se ele estivesse me guiando.
Eu fingi um pouco de interesse pelos poucos
restaurantes do aeroporto, minha
cabeça estava procurando aquilo que eu realmente
queria. E lá estava ele, virando
o corredor, fora da visão aguda de Alice: o banheiro
feminino do terceiro nível.
"Você se importa?", eu
perguntei a Jasper enquanto passavamos. "Só vai demorar um
momentinho".
"Eu vou ficar aqui",
ele disse.
Assim que a porta se fechou atrás
de mim, eu já estava correndo. Eu me lembrei da
outra vez que me perdi nesse
banheiro, porque ele tem duas saídas.
Do lado de fora das portas, eu
tinha que correr uma curta distância até os elevadores, e
se Jasper ficasse onde ele disse
que ficaria, ele jamais poderia me ver. Eu não olhei pra
trás enquanto corria. Essa era a
minha única chance, e mesmo que ele me visse, eu tinha
que continuar correndo. As
pessoas me olharam,mas eu ignorei elas. Virando na
esquina, os elevadres estavam me
esperando, eu corri em frente, jogando minha mão nas
portas que estavam se fechando de
um elevador que estava descendo. Dentro, eu me
espremi entre os passageiros
irritados, e chequei pra ter certeza de que haviam apertado
o botão para o nível um. Ele já
estava aceso e as portas se fecharam.
Assim que a porta se abriu eu já
estava fora de novo, e ouvi o som de murmúrios
aborrecidos atrás de mim. Eu me
controlei enquanto passava pelos guardas nos carroséis
de bagagem, mas comecei a correr
de novo quando as portas da saída começaram a
aparecer.
Eu não tinha como saber se Jasper
já estava procurando por mim.
Se ele estivesse sentindo o meu
cheiro, eu só tinha alguns segundos. Eu pulei pra fora
pelas portas automáticas, quase
me chocando com os vidros porque elas se abriram
devagar demais.
Não havia nenhum taxí á vista na
longa curva lotada.
Eu não tinha tempo. Alice e
Jasper não demoraria a se dar conta que eu tinha ido
embora, se é que já não haviam
percebido. Eles me achariam num piscar de olhos.
Um transporte público para o
Hyatt estava fechando as portas a alguns metros de
distância atrás de mim.
"Espere!", eu chamei,
correndo, acenando para o motorista.
"Esse é o transporte para o
Hyatt", o motorista disse confuso enquanto abria as portas.
"Sim", eu gritei,
"é pra lá que eu estou indo". Eu subí os degraus correndo.
Ele olhou curioso para as minhas
poucas bagagens, mas então levantou os ombros, sem
se importar o suficiente pra
perguntar.
A maioria dos bancos estava
vazia. Eu me sentei tão longe dos viajantes quanto foi
possível, e olhei pra fora da
janela enquanto primeiro a calçada, depois o aeroporto iam
se afastando.
Eu não pude deixar de imaginar
Edward, onde ele iria ficar na pista quando descobrisse
até onde o meu cheiro ia. Eu não
choraria ainda, eu disse pra mim mesma. Eu ainda
tinha um grande caminho a
percorrer.
Minha sorte continuou. Na frente
do Hyatt, um casal de aparecia cansada estava tirando
a última mala deles da mala de um
táxi. Eu pulei pra fora do transporte e corri para o
táxi, deslizando no banco atrás
do motorista. O casal cansado e o motorista do
transporte público olharam pra
mim surpresos.
Eu disse o endereço da minha mãe
ao surpreso motorista de táxi. "Eu preciso chegar aí o
mais rápido possível".
"Isso é em Scottsdale",
ele reclamou.
Eu joguei quatro notas de vinte
no banco.
"Isso vai ser
suficiente?"
"Claro, garota, sem
problemas."
Eu me encostei no banco, cruzando
meus braços no colo. A cidade familiar cmeçou a
passar correndo por mim, mas eu
não olhava para a janela.
Eu disse para mim mesma para
manter o controle. Eu estava determinada a não estragar
as coisas a esse ponto, agora que
o meu plano estava completamente sucedido. Não
havia motivo pra mergulhar em
mais medo, mais ansiedade. Minha tarefa estava
passada, agora eu só tinha que
cumpri-la.
Então, ao invés de entrar em
pânico, eu fechei meus olhos e passei os vinte minutos da
viagem com Edward. Eu imaginei
que tinha ficado no aeroporto pra me encontrar com
Edward. Eu visualizei como eu
ficaria na ponta dos pés, pra ver o seu rosto mais rápido.
Como ele se moveria rapidamente,
graciosamente entre as pessoas que nos separavam.
E então eu correria para fechar
os metros restantes entre nós - descuidada, como sempre
- e eu estaria nos seus braços de
mármore, finalmente a salvo.
Eu me perguntei pra onde nós
teríamos ido. Pra algum lugar á Norte, pra que ele
pudesse sair durante o dia. Ou
talvez algum lugar muito remoto, para que pudéssemos
sair juntos no sol de novo. Eu
imaginei ele numa costa, sua pele brilhando como o mar.
Não importaria quanto tempo nós
tivéssemos que nos esconder.
Ficar presa num quarto de hotel
com ele seria uma espécie de paraíso. Tantas perguntas
que eu ainda tinha que fazer pra
ele. Eu podia falar com ele pra sempre, não dormir
nunca, nunca sair de perto dele.
Eu podia ver o rosto dele tão
claramente agora... quase ouvir a voz dele. E, a despeito de
todo o terror e da falta de
esperança, eu estava flutuando de felicidade. Eu estava tão
envolvida nos meus sonhos de
fuga, que perdi a noção dos segundos passando.
"Ei, qual é o número?"
A pergunta do motorista perfurou
minhas fantasias, deixando todas as cores escaparem
das minhas adoráveis ilusões.
Medo, vazio e dor estavam esperando pra preencher o
vazio que elas deixaram pra trás.
"Cinqüenta e oito - vinte
um", minha voz saiu estrangulada. O motorista olhou pra mim,
nervoso por eu estar tendo uma
crise ou alguma coisa assim.
"Então, aqui estamos".
Ele estava ansioso pra me ver fora do carro dele, provavelmente
com medo que eu pedisse o troco.
"Obrigada", eu
murmurei. Não havia necessidade de ter medo, eu lembrei pra mim
mesma. A casa estava vazia. Eu
tinha que correr; minha mãe estava esperando por mim,
assustada, dependendo de mim. _________________________________________________9
Eu corri para a porta, me
abaixando automaticamente pra pegar a chave embaixo do
tapete. Eu destranquei a porta.
Estava escuro lá dentro, vazio, normal. Eu corri para o
telefone, ligando a luz da
cozinha no caminho. Lá, no balcão branco, estava um número
de dez dígitos escritos com uma
letra pequena, organizada. Meus dedos tremiam no
teclado, cometendo erros. Eu tive
que desligar e começar tudo de novo. Dessa vez eu
me concentrei só nos botões,
cuidadosamente apertando um de cada vez. Eu conseguí.
Eu segurei o telefone na minha
orelha com a mão tremendo. Só chamou uma vez.
"Olá, Bella", a voz
calma atendeu. "Isso foi muito rápido. Eu estou impressionado."
"Minha mãe está bem?"
"Ela está perfeitamente bem.
Não se preocupe, Bella, eu não estou disputando ela. A
não ser que você não tenha vindo
sozinha, é claro". Leve, divertido.
"Eu estou sozinha".
Eu nunca estive tão sozinha a
minha vida inteira.
"Muito bom. Agora, você sabe
onde é o estúdio de balé que fica na esquina da sua
casa?"
"Sim, eu sei como chegar
aí".
"Bem , então, eu te vejo em
breve".
Eu desliguei.
Eu corrí para a porta, pela
porta, e para o calor escaldante.
Não havia tempo de olhar pra trás
para a minha casa, e eu não queriam vê-la como ela
estava agora - vazia, um simbolo
de medo e não um santuário. A última pessoa a andar
entre aquelas paredes familiares
era o meu inimigo.
Pelo canto do meu olho, eu quase
conseguia ver aminha mãe na sombra do eucalipto
onde eu brincava quando era
criança. Ou ajoelhada no monte de sujeira perto da caixa
de correio, o cemetério de todas
as flores que ela tentou plantar. A smemórias eram
melhores do que qualquer realidade
que eu pudesse ver hoje. Mas eu corri pra longe
delas, virei a esquina, deixando
tudo pra trás.
Eu me sentia tão lenta, como se
eu estivesse correndo na areia molhada- eu não parecia
conseguir me impulsionar o
suficiente no concreto. Eu tropecei várias vezes, caindo
uma, me segurando com as mãos,
arranhando elas na calçada, e então me levantando
pra continuar correndo em frente.
Mas pelo menos eu consegui chegar na esquina. Só
mais uma rua agora; eu corrí, o
suor caindo pelo meu rosto, eu estava ofegante. O sol
estava quente ne minha pele,
brilhando demais quando entrava em contato com o
concreto branco e me cegava. Eu
me sentí perigosamente exposta. Mais impetuosa do
que eu jamais sonhei ser capaz,
eu desejava as florestas verdes, protetoras de Forks... de
casa.
Quando eu virei a esquina, na
Cactus, eu podia ver o estúdio, exatamente como eu
lembrava dele. O estacionamento
estava vazio, as venezianas verticais estavam
fechadas. Eu não conseguia mais
correr - não conseguia mais respirar; o esforço e o
medo me esgotaram. Eu pensei na
minha mãe pra manter meus pés se movendo, um na
frente do outro.
Enquanto eu me aproximava eu
consegui ver a subscrição dentro da porta.
Estava escrito á mão num papel
rosa escuro; dizia que o estúdio estava fechado para as
férias de primavera. Eu toquei a
maçaneta e virei ela cuidadosamente. Estava aberta. Eu
lutei pra respirar e abrí a
porta.
O saguão estava escuro e vazio,
frio, o ar-condicionado estava funcionando. As cadeiras
de plástico estavam expostas ao
longo das paredes, e o tapete tinha cheiro de shampoo.
O palco de dança oeste estava
vazio, e eu podia ver pela janela de visão aberta. O palco
de dança leste, a maior sala,
estava com as luzes acesas. Mas as cortinas estavam
fechadas na janela.
O terror me pegou tão forte que
eu estava, literalmente, presa por ele. Eu não conseguia
fazer meus pés se moverem.
E então a voz da minha mãe me
chamou.
"Bella, Bella?", o
mesmo tom histérico de pânico. Eu me grudei na porta para ouvir o
som da voz dela.
"Bella, você me assustou! Nunca
faça isso comigo de novo!", a voz dela continuou
enquanto eu corria pela sala
longa, de teto baixo.
Eu olhei em volta, tentando
descobrir de onde a voz dela estava vindo. Eu ouvi uma
risada, e me virei pra ver de
onde ela estava vindo.
Lá estava ela, na tela da TV,
espalhando meu cabelo de alívio. Era o dia de ação de
gração, e eu tinha doze anos. Nós
tinhamos ido para a Califórnia, no ano anterior á
morte dela. Nós fomos para a
praia um dia, e eu fui muito longe na beira do pier. Eu ví
meus pés falhando, procurando
equilíbrio.
"Bella? Bella?", ela
chamou por mim amedrontada.
E a tela da Tv ficou azul.
Eu me virei lentamente. Ele
estava em pé muito rígido perto da saída de emergência no
fundo, então eu não havia notado
ele antes. Na mão dele havia um controle remoto. Nós
olhamos um para o outro por um
longo momento, então ele sorriu.
Ele caminhou na minha direção,
perto demais, e então passou por mim pra colocar o
controle perto do video cassete.
Eu me virei cuidadosamente pra observá-lo.
"Me perdoe por isso, Bella,
mas não é melhor que a sua mãe não tenha que se envolver
nisso?", a voz dele era
cortês, carinhosa.
E então eu me toquei. Minha mãe
estava a salvo. Ela ainda estava na Flórida. Ela nunca
recebeu minha mensagem. Ela nunca
sentiu medo pelos olhos vermelhos escuros no
rosto anormalmente pálido que
estava na minha frente agora. Ela estava a salvo.
"Sim", eu respondi,
minha voz saturada de alívio.
"Você não parece estar com
raiva por eu ter te enganado".
"Eu não estou". Minha
súbita situação me encorajou. O que imporatava agora? Estaria
acabado em breve. Charlie e minha
mãe não se machucariam nunca, não haveria nada a
temer. Eu me senti quase
vertiginosa. Alguma parte analítica da minha mente me disse
que eu estava perto de romper de
tanto estresse.
"Que estranho. Você está
falando a verdade". Seus olhos me estudaram com interesse.
Sua iris estavam quase pretas, só
um pouco da cor rubi perto dos cantos. Sede. "Eu vou
dar esse crédito ao seu bando,
vocês humanos podem ser bem interessantes. Eu acho
que consigo ver a graça de
observar vocês. É impressionante - alguns de vocês não tem
o menor senso de interesse por sí
próprios".
Ele estava a alguns passos de
mim, com os braços cruzados, me olhando cheio de
curiosidade.
Não havia nenhuma ameaça no seu
rosto ou na sua posição. Ele tinha uma aparência
muito comum, nada de especial nem
no seu rosto nem no seu corpo. Só a pele branca e
os círculos embaixo dos olhos aos
quais eu já estava tão acostumada. Ele usava uma
camisa azul clara de mangas
compridas e jeans de um azul desgastado.
"Eu acho que você vai me
dizer que o seu namorado vai te vingar?", ele me perguntou,
parecendo esperançoso.
"Não, eu acho que não. Pelo
menos eu pedí pra ele não fazer isso".
"E o que foi que ele
respondeu?"
"Eu não sei", era estranhamente
fácil conversar com esse gentíl caçador. "Eu deixei uma
carta pra ele".
"Que romântico, uma última
carta. E você acha que ele vai honrar seu pedido?". Sua
voz estava um pouco mais dura
agora, o sarcasmo casando com o seu tom educado.
"Eu espero que sim".
"Hmmmm. Então as nossas
esperanças são diferentes. Veja, isso tudo foi fácil demais,
rápido demais. Pra ser honesto,
eu estou desapontado. Eu esperava um desafio muito
maior. E, no final,tudo que eu
precisei foi de um pouco de sorte".
Eu esperei em silêncio.
"Quando Victória não
conseguiu pegar seu pai, eu tive que saber um pouco mais sobre
você. Não havia nenhum sentido em
correr o planeta inteiro a sua procura quando eu
podia confortavelmente esperar
por você no lugar de minha escolha. Então, depois que
eu falei com Victória, eu decidi
vir a Phoenix pra fazer uma visita a sua mãe. Eu ouvi
você dizendo que estava indo pra
casa. Primeiro eu nem sonhei que você estivesse
falando sério. Mas depois eu
imaginei. Os humanos podem ser muito previsíveis; eles
gostam de estar em algum lugar
familiar, algum lugar seguro. E seria a estratégia
perfeita ir para o único lugar
onde você não deveria estar se escondendo - o lugar pra
onde você disse que iria.
"Mas é claro que eu não
tinha certeza, foi só um chute. Eu geralmente tenho um
pressentimento em relação á minha
presa, um sexto sentido, se você preferir. Eu escutei
a sua mensagem para a sua mãe
quando cheguei na casa dela, mas é claro que eu não
sabia de onde você estava
ligando. Foi muito útili ter o seu telefone, mas pelo que eu
sabia você podia estar até na
Antártida, e o jogo não ia funcionar a não ser que você
estivesse por perto.
"Então o seu namorado pegou
um avião pra Phoenix. Victória estava monitorando eles
pra mim, naturalmente; num jogo
com tantos jogadores, não se pode estar sozinho. E
então eles me disseram o que eu
esperava saber, que você estava aqui afinal. Eu estava
preparado; eu já tinha assistido
os charmosos videos caseiros. E aí foi só uma questão
de blefe.
"Fácil de mais, você vê,
realmente não se aplica aos meus padrões. Então, você entende,
eu estava esperando que você
estivesse errada sobre o seu namorado. Edward, não é?"
Eu não respondi. O desafio já
estava cansando. Eu sentí que ele já estava acabando de se
regozijar.
O discurso não era pra mim mesmo.
Não havia nenhuma glória em me derrotar, uma
humana fraca.
"Você se importaria, muito,
se eu mesmo deixasse uma carta para o seu Edward?"
Ele deu um passo pra trás e tocou
uma câmera do tamanho de uma mão que estava
cuidadosamente posicionada em
cima do som. Uma pequena luz vermelha indicava que
ela já estava ligada. Ele ajustou
ela algumas vezes, abriu o visor. Eu olhei pra ele
horrorizada.
"Me desculpe, mas eu não
acho que ele será capaz de resistir eme caçar depois que ele
assistir isso. E eu não quero que
ele perca nada. Era tudo pra ele, é claro. Você é
simplesmente uma humana, que
infelizmente estava no lugar errado, na hora errada, e
com o grupo errado, eu devo
dizer".
Ele deu um passo em minha
direçao, sorrindo. "Antes de começarmos..."
Eu senti uma pontada de náusea no
meu estômago enquanto ele falava. Isso era lgo que
eu não estava esperando.
"Eu só gostaria de esfregar
isso, só um pouco. A resposta estava lá o tempo inteiro, e eu
estava com medo que Edward a
visse e estragasse toda a minha diversão. Isso
aconteceu, oh, há muitos anos
atrás. A única vez que uma presa me escapou.
"Veja, esse vampiro que
estava tão apaixonado pela vítima, fez a escolha que seu
Edward foi fraco demais pra
fazer. Quando o velho que eu conhecia estava atrás da
amiginha dele, ele roubou ela do
asilo onde trabalhava - eu nunca vou entender essa
obcessão que alguns vampiros têm
por vocês humanos - e assim que ele a libertou ele a
deixou em segurança. Ela nem
pareceu notar a dor, a pobre criaturinha. Ela esteve presa
naquele buraco negro da cela
durante tanto tempo. Cem anos antes ela teria sido
queimada numa estaca pelas visões
dela. Na decada de 1920 ela foi jogada num asilo
com tratamentos de choque. Quando
ela abriu os olhos, forte com a fresca juventude, foi
como se ela nunca tivesse visto o
sol antes. O vampiro velho transformou ela numa
nova forte vampira, então não
havia mais motivo pra eu tocar nela". Ele suspirou. "Eu
destruí o outro velho em
vingança".
"Alice", eu respirei,
aturdida.
"Sim, sua amiguinha. Eu
fiquei surpreso por vê-la naquela clareira. Então eu acho que a
seu grupo vai tirar algum
conforto disso tudo. Eu peguei você, mas eles têm ela. Aúnica
vítima que me escapou, uma honra,
na verdade.
"E ela cheirava tão bem. Eu
ainda lamento não ter podido prová-la. Ela cheirava ainda
melhor que você. Desculpe - eu
não pretendia te ofender. Você tem um cheiro bom.
Floral, de alguma forma..."
Ele deu outro passo na minha
direção, até ficar a apenas alguns centímentros de
distância. Ele levantou uma mecha
do meu cabelo e cheirou ela deliciado. Então ele
gentlimente colocou a mecha de
volta no lugar, e eu senti os dedos gelados dele na
minha garganta. Ela alisou
rapidamente a minha bochecha com o polegar, seu rosto
estava curioso. Eu queria tanto
correr, mas estava congelada. Eu não conseguia nem
balançar.
"Não", ele murmurou pra
sí mesmo enquanto abaixava a mão, "eu não entendo". Ele
suspirou. "Bem, eu acho que
devemos começar logo. E então eu vou poder ligar pra os
seus amigos e dizer onde te
encontrar, e a minha pequena mensagem".
Eu definitivamente estava
passando mal agora. Havia dor se aproximando, eu podia ver
nos olhos dele. Pra ele não seria
suficiente ganhar, se alimentar e ir embora. Não haveria
um fim rápido como eu esperava.
Meus joelhos começaram a tremer, eu eu temia que
fosse cair.
Ele deu um passo pra trás e
começou a andar em círculos, casualmente, como se ele
estivesse tentando ter uma visão
melhor da estátua de um museu. Seu rosto ainda estava
aberto e amigável enquanto ele
decidia por onde começar.
Então ele rastejou pra frente, se
arrastando daquele jeito que eu já conhecia, e seu
sorriso prazeiroso cresceu
lentamente, até que não era mais um sorriso e sim uma
contorção dos dentes, expostos e
brilhantes.
Eu não consegui me conter - eu
tentei correr. Foi tão inútil quanto eu imaginei que seria,
como meus joelhos já estavam
fracos, o pânico tomou conta e eu tropecei no caminho á
saída de emergência.
Ele estava na minha frente num
flash. Eu não vi se ele usou as mãos ou os pés de tão
rápido que foi. Um golpe
destruidor atingiu meu peito - eu me senti voando pra trás, e
então eu ouví o crash quando
minha cabeça bateu contra os espelhos. O vidro rachou,
alguns pedaços tremendo e alguns
caindo no chão perto de mim.
Eu estava atordoada demais pra sentir
a dor. Eu ainda não conseguia respirar.
Ele andou lentamente na minha
direção.
"Esse é um efeito muito
bom",ele disse, examinando o estado do vidro, sua voz
amigável de novo. "Eu achei
que essa sala daria um toque visual dramático ao meu
filmezinho. Foi por isso que eu
escolhi esse lugar pra te encontrar. É perfeito não é?"
Eu ignorei ele, lutando pra me
equilibrar nas mãos e nos joelhos, rastejando até a outra
porta.
Ele estava em cima de mim na
hora, seu pé pisando com força na minha perna. Eu ouvi
o estalo antes de sentir a dor.
Mas então eu sentí, e então não pude segurar o meu grito
de agonia. Eu me virei pra
alcançar minha perna, e ele estava de pé ao meu lado,
sorrindo.
"Você gostaria de repensar o
seu último pedido?", ele perguntou prazeirosamente. A
ponta do pé dele cutucou minha
perna e eu ouví um grito penetrante, eu fiquei chocada
ao perceber que ele era meu.
"Você não iria preferir que
Edward tentasse me encontrar?", ele testou.
"Não!", eu resmunguei.
"Não, Edward, não-", então alguma coisa atingiu meu rosto, me
jogando de novo na direção dos
espelhos.
Além da dor da minha perna, eu
sentí o rasgo do vidro na minha cabeça onde ele entrou.
Então, uma umidade quente começou
a se espalhar no meu cabelo com uma velocidade
alarmante. Eu podia sentir ela
inundar o ombro da minha camisa, podia ouví-la
pingando no chão de madeira. O
cheiro dela fez meu estômago revirar.
Apesar da náusea e do enjôo eu ví
algo que me deu uma repentina, final ponta de
esperança. Seus olhos meramente
intencionados antes, agora queimavam com uma
necessidade incontrolável. O
sangue - espalhando o vermelho na minha blusa branca,
formando rapidamente uma poça no
chão - estava deixando ele louco de sede. Não
importava o quanto as intenções
fossem originais, ele não poderia continuar com isso
por muito tempo.
Que seja rápido agora, era tudo o
que eu podia esperar enquanto o fluxo de sangue que
saia da minha cabeça levava minha
consciência com ele. Meus olhos estavam se
fechando.
Eu ouvi, como se estivesse
embaixo da água, o rosno final do caçador. Eu podia ver,
através dos longos túneis em que
meus olhos haviam se transformado, a figura escura
dele vindo na minha direção. Como
meu esforço final, eu levantei miha mão num gesto
instintivo pra proteger meu
rosto. Meus olhos se fecharam e eu flutuei.
23. O anjo
Enquanto eu flutuava, eu sonhei.
Onde eu flutuava, embaixo de uam
água escura, eu ouvi o som mais feliz que minha
mente poderia imaginar -tão
lindo, tão animador, quanto era horrível. Era um outro
rosnado; um rosnado mais profundo,
mais selvagem que estava cheio de fúria.
Eu fiu trazida de volta, quase á
superfície, por uma dor pulsante na minha mão meio
levantada, mas eu não consegui
achar o caminho o suficiente pra abrir os olhos.
E então eu sabia que estava
morta.
Porque, pela água pesada, eu ouvi
o som de um anjo chamando meu nome, me
chamando para o único céu que eu
queria.
"Ah, não, Bella, não!",
a voz do anjo chorava horrorizada.
Por trás daquele som desejado
havia outro barulho - um horrível ruído de tumulto do
qual minha mente se afastava. Um
violento rugido baixo, um chocante barulho de
estalo, e um som alto e agudo, de
repente apareceram...
Em vez disso eu tentei me
concentrar na voz do anjo.
"Bella, por favor! Bella, me
ouça, por favor, por favor, Bella, por favor!", ele implorou.
Sim, eu queria dizer. Qualquer
coisa. Mas eu não conseguia encontrar meus lábios.
"Carlisle!", o anjo
chamou, agonia na sua voz perfeita. "Bella, Bella, ah, não, por favor,
não, não!" E o anjo chorava
sem lágrimas, soluços despedaçados.
Um anjo não deveria chorar, era
errado. Eu tentei encontrá-lo, dizê-lo que estava tudo
bem, mas a água era profunda
demais, estava me pressionando, e eu não podia respirar.
Ouve um ponto pressionado na
minha cabeça. Doeu. Então, quando a dor quebrou a
escuridão chegando até mim,
outras dores vieram, dores mais fortes. Eu chorei,
ofegante, quebrando o caminho
pela escuridão.
"Bella!", o anjo
chamou.
"Ela perdeu algum sangue,
mas o corte na cabeça não é fundo", uma voz calma me
informou. "Cuidado com a
perna dela, está quebrada".
Um rugido de raiva ficou
estrangulado no lábios do meu anjo.
Eu senti uma coisa me cutucando
do meu lado. Isso não podia ser o paraíso, podia?
Havia dor demais pra isso.
"e algumas costelas também,
eu acho", continuou a voz metódica.
Mas as dores agudas estavam
sumindo. Havia uma dor nova, uma dor escaldante na
minha mão que apagava todas as
outras.
Alguém estava me queimando.
"Edward", eu tentei
dizer pra ele,mas minha voz estava muito pesada e lenta. Nem eu
conseguia me entender.
"Bella, você vai ficar bem.
Você pode me ouvir, Bella? Eu te amo."
"Edward", eu tentei de
novo. Minha voz estava um pouco mais clara.
"Sim, eu estou aqui"
"Está doendo", eu
solucei.
"Eu sei, Bella, eu sei"
- então na outra direção, angustiado- "Você não pode fazer
nada?"
"Minha bolasa, por favor...
Tape a respiração, Alice, vai ajudar", Carlisle prometeu.
"Alice?", eu gemí.
"Ela está aqui, ela sabia
onde te encontrar".
"Minha mão está
doendo", eu tentei dizer pra ele.
"Eu sei, Bella. Carlisle vai
te dar alguma coisa, a dor vai parar".
"Minha mão está
quimando!", eu gritei, finalmente escapando dos últimos vestígios da
escuridão, meus olhos se abrindo.
Eu não podia ver o rosto dele, havia algo escuro e
quentinho que estava nublando
meus olhos. Porque eles não podiam ver o fogo e apagálo?
A voz dele estava amedrontada.
"Bella?"
"O fogo! Alguém apague o
fogo!", eu gritei enquanto ele me queimava.
"Carlisle! A mão dela!"
"Ele mordeu ela", a voz
de Carlisle não estava mais calma, estava pasma.
Eu ouví Edward prender o fôlego,
horrorizado.
"Edward, você tem que fazer
isso". Era a voz de Alice, perto da minha cabeça. Dedos
frios limparam a umidade dos meus
olhos.
"Não!", ele berrou.
"Pode haver uma
chance", Carlisle disse.
"O que?", Edward
implorou.
"Veja se consegue sugar o veneno
pra fora. A ferida ainda está limpa". Enquanto
Carlisle falava, eu podia sentir
uma pressão maior na minha cabeça, alguma coisa
cutucando e puxando o meu couro
cabeludo. A dor que isso causava estava perdida na
dor do fogo.
"Isso vai funcionar?",
a voz de Alice estava tensa.
"Eu não sei", Carlisle
disse. "Mas temos que nos apressar".
"Carlisle, eu", Edward
hesitou. "Eu não sei se consigo fazer isso".
Havia agonia na sua linda voz de
novo.
"A decisão é sua, Edward, de
qualquer forma. Eu não posso ajudá-lo. Eu preciso fazer
esse sangramento parar aqui, se
nós vamos tirar sangue da mão dela".
Eu me estorci na dor da tortura
insuportável, o movimento fazendo a dor da minha
perna queimar intensamente.
"Edward!", eu gritei.
Eu me dei conta de que meus olhos estavam fechados de novo. Eu
abri eles, desesperada para achar
o rosto dele. E eu o encontrei. Finalmente eu
conseguia ver o seu rosto
perfeito, olhando pra mim, contorcido numa máscara de
indecisão e dor.
"Alice, me dê alguma coisa
para parar a perna dela!", Carlisle estava curvado sobre
mim, trabalhando na minha cabeça.
"Edward, você precisa fazer isso agora, ou então
será tarde demais".
O rosto de Edward estava cansado.
Eu observei enquanto a dúvida dos seus olhos era
subitamente trocada por uam
determinação gritante. A mandíbula dele se apertou. Eu
senti seus dedos frios, fortes,
na minha mão que estava queimando, ele colocou ela no
lugar. Então sua cabeça se
inclinou sobre ela, e os lábios frios dele se pressionaram na
minha pele.
Primeiro a dor foi pior. Eu
gritei e me contorci contra as mãos geladas que me
seguravam no lugar. Eu ouví avoz
de Alice tentando me acalmar. Alguma coisa pesada
segurava minha perna no chão, e
Carlisle segurava minha cabeça presa no vão do seu
braço de pedra.
Então, lentamente, minhas
estorções se acalmaram enquanto minha mão ia ficando mais
e mais entorpecida. O fogo estava
diminuindo, se concentrando em um pequeno ponto.
Eu senti minha consciência
sumindo enquanto a dor diminuia. Eu estava com medo de
cair nas águas escuras de novo,
com medo de perdê-lo na escuridão.
"Edward", eu tentei
dizer, mas eu não conseguia ouvir minha voz. Eles podiam me
ouvir.
"Ele está bem aqui,
Bella".
"Fique, Edward, fique
comigo..."
"Eu vou". A voz dele
estava tensa, mas de alguma forma triumfante.
Eu suspirei contente.
O fogo havia desaparecido, as
outras dores estavam adormecidas, vazando pelo meu
corpo.
"Está tudo fora?",
Carlisle perguntou de algum lugar distante.
"O sangue dela está
limpo", Edward disse baixinho. "Eu pude sentir o gosto da
morfina".
"Bella?", Carlisle me
chamou.
Eu tentei responder.
"Mmmmmmmm?"
"O fogo foi embora?"
"Sim", eu suspirei.
"Obrigada, Edward".
"Eu te amo.", ele
respondeu.
"Eu sei", eu respirei,
cansada demais.
Eu ouví o meu som favorito no
mundo inteiro: a risada baixinha de Edward, fraca de
alivio.
"Bella?", Carlisle
chamou de novo.
Eu fiz uma careta; eu queria
dormir. "O que?"
"Onde está a sua mãe?"
"Na Flórida", eu
suspirei. "Ele me enganou, Edward. Ele assistiu aos nossos vídeos. O
ultraje na minha voz era uma entonação
frágil de dor.
Mas isso me lembrou.
"Alice", eu tentei
abrir meus olhos. "Alice, o vídeo - ele conhecia você, Alice, ela sabia
de onde você tinha vindo".
Eu tentei falar urgentemente, mas minha voz estava grogue.
"Eu cheirei gasolina",
eu acrescentei, surpresa entre a neblina que havia no meu cérebro.
"É hora de mover ela",
Carlisle disse.
"Não, eu quero dormir",
eu reclamei.
"Você pode dormir, meu bem,
eu vou carregar você", Edward me confortou.
E eu estava nos braços dele,
embalada no peito dele - flutuando, toda a dor havia
desaparecido.
"Durma agora, Bella",
foram suas últimas palavras que eu ouvi.
24. Um Impasse
Meus olhos abriram para uma
brilhante, branca luz. Eu estava em um quarto que não me
era familiar, um quarto branco. A
parede perto de mim estava cobertas por longas
venezianas verticais; acima da
minha cabeça, as ofuscantes luzes me cegaram. Eu estava
apoiada em uma dura, irregular
cama - uma cama com grades. O travesseiro era liso e
grumoso. Havia um irritante som
de bip vindo de algum lugar. Eu tinha esperanças de
que significasse que eu ainda
estava viva. Morte não devia ser tão desconfortável.
Minhas mãos estavam completamente
deformadas com tubos claros, e alguma coisa
estava amarrada cruzando meu
rosto, embaixo do meu nariz. Eu levantei minha mão
para tirar aquilo.
"Não, não faça." E
dedos frios alcançaram minha mão.
"Edward?" Eu virei
minha cabeça vagarozamente, e seu delicado rosto estava apenas à
uma polegada do meu, seu queixo
apoiado na beira da minha grade. Eu percebi que eu
estava viva, dessa vez com
agradecimento e sublimidade. "Oh, Edward. Eu sinto
muito!"
"Shhhh," ele me
silenciou. "Tudo está bem agora."
"O que aconteceu?" Eu
não conseguia lembrar perfeitamente, e minha meste se rebelava
contra mim enquanto eu tentava
relembrar.
"Eu quase cheguei tarde
demais. Eu podia ter chegado tarde demais," ele sussurrou, sua
voz atormentada.
"Eu fui tão estúpida,
Edward. Eu achei que ele estava com minha mãe."
"Ele enganou a todos
nós."
"Eu tenho que ligar para
Charlie e para minha mãe," Eu percebi pela neblina.
"Alice ligou para eles.
Renée está aqui - bem, aqui no hospital. Ela está comendo
alguma coisa nesse momento."
"Ela está aqui?" Eu
tentei sentar, mas o giro da minha cabeça ficou mais rápido, e sua
mão me empurrou gentilmente para
o travasseiro.
"Ele vai estar de volta
logo," ele prometeu. "E você tem que ficar tranqüila."
"Mas o que você disse a
ela?" Eu entrei em pânico. Eu não queria ficar tranquila. Minha
mãe estava lá e eu estava me
recuperando do ataque de um vampiro. "Porque você disse
a ela que eu estou aqui?"
"Você caiu por dois andares
de uma escada e por uma janela." Ele pausou. "Você tem
que admitir, isso podia ter
acontecido."
Eu suspirei, e isso doeu. Eu
olhei para baixo para meu corpo embaixo do lençol, para o
grande bloco que era minha perna.
"O quão mal eu estou?"
Eu perguntei.
"Você tem uma perna
quebrada, quatro costelas quebradas, algumas fendas em seus
ossos, machas roxas cobrindo cada
polegada de seu corpo, e você perdeu um monte de
sangue. Eles fizemos alguma transfusões
em você. Eu não gostei disso - isso fez você
cheirar completamente diferente
por um tempo."
"Isso deve ter sido uma boa
mudança pra você."
"Não, eu gosto de como você
cheira."
"Como você fez isso?"
Eu perguntei calmamente. Ele soube o que eu quis dizer de
primeira.
"Eu não tenho certeza."
Ele olhou pra longe dos meus olhos curiosos, levantando minha
mão enfaixada da cama e segurando
gentilmente com a dele, cuidadoso em não romper
o fio que me conectava aos
monitores.
Eu esperei pacientemente pelo
resto.
_________________________________________________1
Ele continuou sem responder a
minha contemplação. "Era impossível... parar," ele
sussurrou. "Impossível. Mas
eu fiz." Ele olhou pra cima finalmente, com um meio
sorriso. "Eu tenho que te
amar."
"Eu não tenho um gosto tão
bom quanto o cheiro?" Eu sorri em resposta. Aquilo
machucou meu rosto.
"Até melhor - melhor do que
eu imaginava."
"Sinto muito," Eu me
desculpei.
Ele levantou seus olhos para o
teto. "De todas as coisas para se desculpar."
"Pelo que eu devia me
desculpar?"
"Por chegar muito perto de
ficar pra longe de mim pra sempre"
"Sinto muito" Eu me
desculpei novamente.
"Eu sei porque você fez
isso." Sua voz era reconfortante. "Era ainda irracional, é claro.
Você deveria ter me esperado,
deveria ter me contado."
"Você não me deixaria ter
ido."
"Não," ele concordou em
um tom amargo, "Eu não deixaria."
Algumas memórias muito
desagradáveis estavam começando a voltar para mim. Eu
estremeci, e então recuei.
Ele estava instantaneamente
inquieto. "Bella, o que aconteceu?"
"O que aconteceu com
James?"
"Depois que eu o separei de
você, Emmet e Jasper tomaram conta dele." Havia uma
feroz conotação de pesar em sua
voz.
Isso me confundiu. "Eu não
vi Emmet e Jasper lá."
"Eles tiveram que sair do
quarto... tinha muito sangue."
"Mas você ficou."
"Sim, eu fiquei."
"E Alice, e
Carlisle..." Eu falei curiosa.
"Eles também te amam, você
sabe."
Um flash de imagens dolorosas da
última vez que eu tinha visto Alice me lembrou de
uma coisa. "Alice viu a
fita?" Eu perguntei ansiosamente.
"Sim". Um novo som
obscureceu a voz dele, um tom de ódio.
"Ela sempre esteve no
escuro, por isso não conseguia lembrar".
"Eu sei. Ela entende
agora". A voz dele estava uniforme, mas seu rosto estava negro de
fúria.
Eu tentei alcansar o rosto dele
com a minha mão livre, mas alguma coisa me parou. Eu
olhei pra baixo pra ver o tubo
puxando minha mão.
"Ugh", eu estremecí.
"O que foi?", ele
perguntou ansiosamente - distraído, mas não o suficiente. A escuridão
não abandonou os olhos dele
completamente.
"Agulhas", eu
expliquei, desviando o olhar daquela que estava na minha mão. Eu me
concentrei nos ladrilhos do teto
e tentei respirar fundo a despeito da dor nas minhas
costelas.
"Medo de agulhas", ele
murmurou pra si mesmo por baixo do fôlego, balançando a
cabeça. "Oh, um vampiro
sádico, tentando torturar ela até a morte, claro, sem problema,
ela corre pra encontrá-lo. Um
tubo na mão, por outro lado..."
Eu revirei meus olhos. Eu fiquei
satisfeita de ver que pelo menos isso não doia. Eu
decidí mudar de assunto.
"Porque você está
aqui?", eu perguntei.
Ele olhou pra mim, primeiro a
confusão depois a dor tocou os olhos dele. As
sobrancelhas dele ficaram juntas
quando ele fez uma careta.
"Você quer que eu vá
embora?"
"Não!", eu protestei,
horrorizada pelo pensamento. "Não, eu quis dizer, porque minha
mãe acha que você está aqui? Eu
preciso lembrar da história direitinho pra quando ela
voltar".
"Oh",ele disse, e a
testa dele se suavizou num mármore de novo. "Eu vim pra Phoenix
pra colocar algum senso na sua cabeça,
pra te convencer a voltar pra Forks". Os olhos
dele eram tão intensos e tão
sinceros, que eu mesma quase acreditei nele. "Você
concordou em me ver e foi
dirigindo até o hotel onde eu estava com Carlisle e Alice - é
claro de que estava aqui com a
supervisão de meu pai", ele inseriu virtuosamente, "Mas
você tropeçou nas escadas á
caminho do meu quarto e... bem, você já sabe o resto.
Porém, você não precisa lembrar
dos detalhes;
você tem uma desculpa muito boa
pra não se lembrar dos detalhes mais importantes".
Eu pensei nisso por um momento.
"Tem algumas falhas nessa história. Como nenhuma
janela quebrada".
"Na verdade não", ele
disse. "Alice se divertiu um pouco demais fabricando as
evidências. Tudo já foi cuidado
de forma muito convincente - você poderia
provavelmente até processar o
hotel se você quisesse. Você não tem nada com o que se
preocupar", ele prometeu,
alisando minha bochecha com o mais leve dos toques. "Seu
único trabalho agora é
sarar".
Eu não estava tão envolvida pelas
dores ou pela névoa dod medicamentos pra não
responder ao toque dele. O bipe
do monitor pulou erraticamente - agora ele não era mais
o único que podia ouvir o meu
coração se comportando mal.
"Isso vai ser
vergonhoso", eu murmurei pra mim mesma.
Ele gargalhou, e um olhar especulativo
apareceu nos olhos dele. "Hmm, eu imagino..."
Ele se inclinou; o barulho do
bipe acelerou selvagemente antes mesmo que seus lábios
me tocassem. Mas quando me
tocaram, mesmo que com a mais leve pressão, o bipe
parou completamente.
Ele pulou pra trás abruptamente,
sua expressão ansiosa se tornando de alívio enquanto o
monitor reportava meu coração
voltando a bater.
"Parece que eu vou ter que
ser mais cuidadoso com você do que o normal".
Ele fez uma careta.
"Eu não terminei de beijar
você", eu reclamei. "Não me faça ter que ir até aí".
Ele sorriu largamente, e se
inclinou pra pressionar seus lábios gentilmente nos meus. O
monitor ficou louco. Mas então
seus lábios se esticaram. Ele se afastou.
"Eu acho que estou ouvindo
sua mãe", ele disse, sorrindo largamente de novo.
"Não me deixe", eu
chorei, uma sensação irracional de pânico passando por mim. Eu
não podia deixá-lo ir - ele podia
desaparecer de novo.
Ele leu o terror nos meus olhos
por um breve segundo. "Eu não vou", ele prometeu
solenemente, e então sorriu.
"Eu vou tirar uma soneca".
Ele saiu da cadeira de plástico
ao meu lado e foi para um sofá de couro falso azulturquesa
reclinável que havia no pá da
cama, inclinando ele pra trás, e fechando seus
olhos.
Ele ficou perfeitamente imóvel.
"Não esqueça de
respirar", eu sussurrei sarcasticamente. Ele respirou fundo, os olhos
ainda fechados.
Eu podia ouvir minha mãe agora.
Ela estava falando com alguém, talvez uma
enfermeira, ela parecia cansada e
aborrecida. Eu queria pular da cama e correr pra ela,
pra acalmar ela, pra prometer que
estava tudo bem. Mas eu não estava em forma pra
pular, então eu esperei
pacientemente.
A porta abriu um pouquinho, e ela
observou pela abertura.
"Mãe!", eu sussurrei,
minha voz cheia de amor e alívio.
Ela olhou para a figura imóvel de
Edward no sofá reclinável, e foi na ponta dos pés até
minha cama.
"Ele não vai embora nunca,
não é?", ela murmurou pra sí mesma.
"Mãe, eu estou tão feliz de
ver você!"
Ela se inclinou pra me abraçar
gentilmente, e eu senti lágrimas quentes rolando nas
bochechas dela.
"Bella, eu estava tão
chateada!"
"Me desculpe, mãe. Mas vai
ficar tudo bem agora, está tudo bem". Eu confortei ela.
"Eu estou feliz só por ver
seus olhos abertos", ela sentou na borda da cama.
De repente eu me dei conta de que
não sabia quando era. "Por quanto tempo eu fiquei
fechada?"
"É sexta, querida, você
esteve fora por algum tempo".
"Sexta?", eu estava
chocada. Eu tentei me lembrar que dia era quando... mas eu não
queria pensar nisso.
"Eles tiveram que te manter
sedada por algum tempo, querida - você tem um monte de
ferimentos".
"Eu sei", eu podia
sentí-los.
"Você teve sorte porque o
Dr. Cullen estava lá. Ele é um homem muito legal... porém
novo demais. E ele parece mais um
modelo do que um médico..."
"Você conheceu
Carlisle?"
"E a irmã de Edward. Ela é
uma garota adorável".
"Ela é", eu concordei
sinceramente.
Ela olhou por cima do ombro para
Edward, que ainda estava com oe olhos fechados no
sofá.
"Você não me contou que
tinha tão bons amigos em Forks".
Eu bajulei e então gemí.
"O que dói?", ela
perguntou ansiosamente, se virando pra mim de novo. Os olhos de
Edward vieram na minha direção.
"Eu estou bem", eu
assegurei aos dois. "Eu só tenho que lembrar de não me mexer". Ele
voltou á sua sonora soneca.
Eu usei a vantagem da distração
pelo comentário da minha mãe pra evitar que assunto
não fosse para o meu
comportamento menos-cuidadoso. "Onde está Phil?", eu perguntei
rapidamente.
"Flórida - oh, Bella! Você
nunca vai adivinhar! Quando estamos prestes a ir embora, as
melhores notícias!"
"Phil conseguiu um
contrato?", eu adivinhei.
"Sim! Como você adivinhou!
Os Suns, dá pra acreditar?"
"Isso é ótimo, mãe", eu
disse com todo o entusiasmo que pude, apesar de não ter a
mínima idéia de quem ela estava
falando.
"E você vai gostar tanto de
Jacksonsville", ela esguichava enquanto eu olhava
vagamente pra ela. "Eu
fiquei um pouco preocupada quando Phil começou a falar de
Akron, com toda aquela neve e
tudo mais, porque você sabe que eu odeio o frio, mas
Jacksonsville! É sempre
ensolarado, e a umidade não étão ruim assim. Nós achamos a
casa mais fofa, amarela, com a
ornamentação branca, e com uma entrada como a dos
filmes antigos, e um enorme
carvalho, e é só a alguns minutos do oceano, e você terá
seu próprio banheiro-"
"Espere, mãe", eu
interrompí. Edward ainda estava com os olhos fechados, mas estava
tenso demais pra fingir que
estava adormecido.
"Do que é que você tá
falando? Eu não vou para a Flórida. Eu vivo em Forks".
"Mas você não tem que viver
mais, sua boba", ela riu. "Phil vai conseguir ficar mais
parado agora... nós falamos muito
sobre isso, e o que eu vou fazer é deixar de ir a alguns
jogos, metade do tempo com ele,
metade do tempo com você".
"Mãe", eu hesitei,
imaginando o melhor jeito de ser diplomática sobre isso. "Eu quero
viver em Forks. Eu já estou
acostumada com a escola, eu tenho algumas amigas" - ela
olhou pra Edward de novo quando
eu falei das amigas, então eu tentei outra direção.
"Charlie precisa de mim. Ele
fica sozinho lá, e ele não sabe cozinhar nem um pouco".
"Você quer ficar em Forks?",
ela perguntou, desnorteada. Essa era uma idéia
inconcebível para ela. E então os
olhos dela Foram parar em Edward de novo.
"Porque?"
"Eu te disse - escola,
Charlie, ai!", eu levantei os ombros. Má idéia.
As mãos dela flutuaram por cima
de mim sem poder fazer nada, tentando encontrar um
lugar onde ela pudesse segurar em
segurança. Ela encontrou minha testa; não haviam
bandagens lá.
"Bella, querida, você odeia
Forks", ela me lembrou.
"Não é tão ruim assim".
Ela fez uma careta olhando pra
frente e pra trás entre Edward e eu, dessa vez muito
deliberadamente.
"É esse garoto?", ela
sussurrou.
Eu abri minha boca para mentir,
mas os olhos dela estavam me analisando, e eu sabia
que ela veria além da mentira.
"Ele é parte disso", eu
admiti. Eu não precisava contar qual era o tamanho da parte.
"Então, você teve uma chance
de conversar com Edward?", eu perguntei.
"Sim", ela hesitou
olhando para a sua forma perfeitamente imóvel. "E eu quero falar
com você sobre isso".
Uh-oh. "Sobre o que?",
eu perguntei.
"Eu acho que esse garoto
está apaixonado por você", ela acusou, mantendo a voz baixa.
"Eu também acho que
sim", eu confiei.
"E como você se sente em
relação a ele?" Ela escondeu muito mal a curiosidade na voz
dela.
Eu suspirei, desviando o olhar.
Não importava o quanto eu amasse minha mãe, essa não
era uma conversa que eu queria
ter com ela.
"Eu estou louca por
ele". Aí - isso parece com algo que uma adolescente diria sobre o
primeiro namorado dela.
"Bem, ele parece muito
legal, e, minha nossa, ele é incrivelmente lindo, mas você é tão
jovem, Bella...", a voz dela
estava incerta; até onde eu podia lembrar, essa era a primeira
vez desde que eu tinha oito anos
que eu ouví alguma coisa aproximada de autoridade
materna. Eu reconheci aquele tom
razoável mas firme que nós tinhamos nas nossas
conversas sobre homens.
"Eu sei,mãe. Não se
preocupe. É só uma paixonite", eu acalmei ela.
"Isso mesmo", ela
concordou, facilmente agradada.
Então ela suspirou e deu uma
olhada cheia de culpa para o grande relógio redondo na
parede.
"Você precisa ir?"
Ela mordeu o lábio. "Phil
deve ligar em pouco tempo... eu não sabia quando você
acordaria..."
"Sem problemas, mãe",
eu tentei não mostrar muito o alívio pra que ela se sentisse um
pouco culpada. "Eu não vou
ficar sozinha".
"Eu volto logo. Eu estive
dormindo aqui, sabe", ela anunciou, orgulhosa de sí mesma.
_________________________________________________2
"Oh, mãe, você não precisava
fazer isso! Você pode dormir em casa - eu nunca iria
reparar". A onda de
medicamentos pra dor fazia a minha concentração dificil mesmo
agora, apesar de, aparentemente,
eu ter ficado dormindo durante dias.
"Eu estava nervosa
demais", ela admitiu timidamente. "Aconteceu algum crime no
bairro, e eu não gosto de ficar
lá sozinha".
"Crime?", eu perguntei
alarmada.
"Alguém invadiu aquele
estúdio de dança na esquina da nossa casa e tocou fogo nele -
não sobrou nada! E eles deixaram
um carro roubado lá na frente. Você lembra de
quando tinha aulas de dança lá,
querida?"
"Eu me lembro", eu me
arrepiei e estremecí.
"Eu posso ficar, bebê, se
você precisar de mim".
"Não, mãe, eu vou ficar bem.
Edward vai ficar comigo".
Pareceu que esse era o motivo
pelo qual ela queria ficar. "Eu vou voltar á noite", isso
pareceu tanto um aviso quanto uma
promessa, e ela olhou para Edward de novo quando
disse isso.
"Eu te amo, mãe".
"Eu te amo também, Bella.
Tente ser mais cuidadosa quando anda, querida. Eu não
quero perder você".
Os olhos de Edward continuaram
fechados, mas um sorriso largo apareceu no rosto
dele.
Uma enfermeira invadiu o quarto
nessa hora pra checar meus tubos e fios. Minha mãe
beijou minha testa, deu uma
tapinha na minha mão com o curativo e foi embora.
A enfermeira estava checando o
papel da minha avaliação e o monitor do meu coração.
"Você está se sentindo
ansiosa, querida? O seu coração está parecendo um pouco rápido
aqui".
"Eu estou bem", eu
assegurei ela.
"Eu vou dizer á medica que
está cuidando de você que você está acordada. Ela vai vir te
ver em um minuto".
Assim que ela fechou a porta,
Edward estava á meu lado.
"Você roubou um
carro?", eu ergui minhas sobrancelhas.
Ele sorriu, sem arrependimento.
"Era um bom carro, muito rápido".
"Como foi a sua
soneca?", eu perguntei.
"Interessante", os
olhos dele estreitaram.
"O que?"
Ele olhou pra baixo enquanto
falava. "Eu estou surpreso. Eu pensei que a Flórida... e a
sua mãe... bem, eu pensei que
isso era tudo o que você podia querer".
Eu olhei pra ele sem compreender.
"Mas você ficaria preso o dia inteiro em casa na
Flórida. E você só poderia sair
durante a noite, como um vampiro de verdade".
Ela quase sorriu, mas não
exatamente. E o rosto dele estava grave.
"Eu ficaria em Forks, Bella.
Ou algum lugar assim", ele explicou.
"Algum lugar onde eu não te
machucasse mais".
No início eu não toquei. Eu
continuei a olhar pra ele com o olhar vazio enquanto as
palavras se encaixavam uma a uma
na minha cabeça como um horrível quebra-cabeça.
Eu mal tinha consciencia do som
do meu coração acelerando, apesar de que, a minha
respiração que estava
hiperventilando, me deixou consciente da dor aguda das minhas
costelas protestando.
Ele não disse nada; ele observou
meu rosto cautelosamente enquanto uma dor que não
tinha nada a ver com meus ossos
quebrados, um dor que era muito pior, ameaçava me
deixar aos pedaços.
E então outra enfermeira entrou
propositalmente no quarto. Edward estava rígido como
uma pedra enquanto ela olhava pra
mim primeiro com um olho treinado e depois para o
monitor.
"Está na hora dos remédios
pra dor agora, querida?", ela perguntou carinhosamente,
dando tapinhos no tubo de entrada.
"Não, não", eu
murmurei, tentando esconder a agonia que havia na minha voz. "Eu não
preciso de nada agora". Eu
não podia me dar ao luxo de fechar os olhos agora.
"Não precisa ser corajosa,
querida. É melhor se você não se estressar; você deve
descansar".
Ela esperou, mas eu só balancei
minha cabeça.
"Ok", ela suspirou.
"Aperte o botão quando estiver pronta".
Ela deu uma olhada pra Edward e
depois deu outra olhada ansiosa pra o monitor, antes
de ir.
As mãos frias dele estavam no meu
rosto; eu olhei pra ele com os olhos bem abertos.
"Shhh, Bella,
acalme-se".
"Não me deixe", eu
implorei com uma voz quebrada.
"Eu não vou", ele
prometeu. "Agora relaxe antes que eu chame a enfermeira pra te
sedar".
Mas meu coração não conseguia se
aquietar.
"Bella", ele acariciou
meu rosto ansiosamente. "Eu não vou a lugar nenhum. Eu vou
ficar aqui até quando você
precisar de mim".
"Você promete que não vai me
deixar?", eu sussurrei. Eu tentei controlar a minha
respiração, pelo menos. Minhas
costelas estavam reclamando.
O cheiro do hálito dele era um
calmante. Pareceu diminuir as dores da minha respiração.
Ele continuou segurando o meu
olhar enquanto meu corpo relaxava lentamente e o bipe
voltava ao ritmo normal. Os olhos
dele estavam escuros, mais próximos do preto do que
do dourado hoje.
"Melhor?", ele
perguntou.
"Sim", eu disse
cautelosamente.
Ele balançou a cabeça e murmurou
alguma coisa impossível de entender. Eu achei ter
entendido a palavra "
Reação".
"Porque você disse
isso?", eu sussurrei, tentando evitar que a minha voz tremesse.
"Você se cansou de ter que
ficar me salvando o tempo inteiro? Você quer que eu vá
embora?"
"Não, eu não quero ficar sem
você, Bella, é claro que não. Seja racional. E eu também
não tenho problema nenhum em
salvar você - isso se não fosse pelo fato de que sou eu
que está te colocando em risco...
que eu sou a razão pela qual você está aqui".
"Sim, você é a razão",
eu fiz uma careta. "A razão pela qual eu estou aqui -viva".
"Por pouco", a voz dele
era um sussurro. "Coberta de gaze e de gesso e quase
impossibilitada de se
mexer".
"Eu não estava me referindo
á mais recente experiência de quase-morte", eu disse
rugindo, irritada. "Eu
estava falando das outras- você pode escolher uma.
"Se não fosse por você eu
estaria dando um passeio pelo cemetério de Forks".
Ele estremeceu com as minhas
palavras, mas o olhar de perseguição não deixou os
olhos dele.
"No entanto, essa não é a
pior parte", ele continuou a sussurrar. Ele agia como se eu não
tivesse falado. "Não ver
você lá no chão... amassada e quebrada". A voz dele estava
chocada. "Não foi pensar que
eu estava atrasado. Nem mesmo ouvir você gritando de
dor - todas essas memórias
insuportáveis que eu vou carregar comigo por toda a
eternidade. Não, a pior parte foi
sentir... saber que eu não podia parar. Acreditar que eu
mesmo fosse acreditar você".
"Mas você não matou".
"Mas eu podia. Tão
facilmente".
Eu precisava ficar calma... mas
ele estava tentando se convencer a me deixar, e o pânico
fluia nos meus pulmões, tentando
sair.
"Me prometa", eu
sussurrei.
"O que?"
"Você sabe o que", eu
estava começando a ficar com raiva agora. Ele estava tão
teimosamente determinado a
continuar na negativa.
Ele ouviu a mudança na minha voz,
seus olhos se estreitaram. "Eu não pareço ser forte o
suficiente pra ficar longe de você,
então eu acho que você seguirá seu caminho... quer
isso mate você ou não", ele
acrescentou duramente.
"Bom", ele, porém, não
prometeu - um fato que eu não deixei passar.
O pânico só estava meio
controlado; eu não tinha mais controle para segurar a raiva.
"Você me disse como parou...
agora eu quero saber porque", eu quis saber.
"Porque?", ele
perguntou cautlosamente.
"Porque você fez isso?
Porque você não deixou o veneno se espalhar? A essas horas eu
seria como você".
Os olhos de Edward pareceram
ficar completamente negros, e eu me lembrei que isso
era uma coisa que eu nunca quis
que eu soubesse. Alice deve ter estado preocupada com
as coisas que descobriu sobre sí
mesma... ou então fou muito cuidadosa com os
pensamentos dela perto dele -
claramente ele não sbia que ela tinha me enchido com
todas as conversas sobre os
mecanismos dos vampiros. Ele estava surpreso, e furioso.
As narinas dele inflaram e a boca
dele parecia ter sudo esculpida numa pedra.
Ele não ia responder, isso estava
claro.
"Eu serei a primeira a
admitir que não tenho nenhuma experiência com
relacionamentos", eu disse.
"Mas me parece lógico... um homem e uma mulher tem que
ser parecidos em algo... como, um
deles não pode sempre estar sendo abatido e o outro
salvando. Eles tem que salvar uma
ao outro igualmente".
Ele dobrou os braço do lado da
minha cama e descansou o queixo nos braços. Sua
expressão era suave, a raiva
havia abrandado. Evidentemente ele havia decidido que não
estava com raiva de mim. Eu
esperava ter uma chance de avisar Alice antes que ele se
encontrasse com ela.
"Você me salvou". Ele
disse baixinho.
"Eu não posso ser Lois
Lane", eu insistí. "Eu quero ser o Superman também".
"Você não sabe o que está
pedindo". A voz dele era suave; ele olhava intencionalmente
para a pontinha do travesseiro.
"Eu acho que sei."
"Bella, eu não sei. Eu já
tive quase noventa anos pra pensar nisso e ainda não tenho
certeza".
"Você queria que Carlisle
não tivesse salvado você?"
"Não, eu não desejo
isso", ele parou antes de continuar. "Mas a minha vida estava
acabada. Eu não estava desistindo
de nada".
"Você é a minha vida. Você é
a única coisa que eu me incomodaria em perder". Eu
estava ficando melhor nisso. Era
muito mais fácil admitir o quanto eu precisava dele.
No entanto, ele estava muito
calmo. Decidido.
"Eu não posso fazer isso,
Bella. Eu não vou fazer isso com você".
"Porque não?", minha
garganta arranhou e as palavras não sairam tão altas como eu
havia planejado. "Não me
diga que é muito difícil! Depois de hoje, ou eu acho alguns
dias atrás... de qualquer forma,
depois daquilo, isso não devia ser nada".
Ele olhou pra mim.
"E a dor?", ele
perguntou.
Eu embranquecí. Eu não pude
evitar. Mas eu tentei evitar que a minha expressão
mostrasse que eu lembrava da
dor... do fogo nas minhas veias.
"Isso é problema meu",
eu disse. "Eu posso aguentar".
"É impossível aguentar a
coragem a partir do momento que ela se transforma em
loucura".
"Isso não é problema. Três
dias. Grande coisa".
Edward fez outra careta quando as
minhas palavras relembraram ele de que eu estava
mais bem informada do que deveria
estar. Eu observei ele reprimir, observei os olhos
dele ficarem especulativos.
"Charlie?", ele
perguntou curtamente. "Renée?"
Os minutos se passaram em
silêncio enquanto eu lutava pra responder a pergunta dele.
Eu abri a minha boca, mas nenhum
som saiu dela. Eu fechei ela de novo. Ele esperou, e
a sua expressão se tornou
trimfante porque ele sabia que eu não tinha nenhuma resposta
de verdade.
"Olha, isso também não é
nenhum problema", eu finalmente murmurei, minha voz não
estava convincente, como sempre
quando eu mentia.
"Renée sempre fez as
escolhas que funcionavam pra ela - e ela sempe quis que eu
fizesse o mesmo. E a alegria de
Charlie, ele está acostumado a ficar sozinho. Eu não
posso tomar conta dele pra
sempre. Eu tenho a minha própria vida pra viver".
"Exatamente", ele
cortou. "E eu não vou acabar com ela pra você".
"Se você está está esperando
pra ficar comigo no meu leito de morte, eu tenho notícias
pra você! Eu estava lá!"
"Você vai se
recuperar", ele me lembrou.
Eu respirei fundo pra me acalmar,
ignorando o espasmo de dor que isso causava. Eu
encarei ele, ele me encarou de
volta. Não havia compromisso no rosto dele.
"Não", eu disse
lentamente. "Eu não vou".
A testa dele se enrrugou. "É
claro que vai. Você pode ficar com um cicatriz ou duas..."
"Você está errado", eu
insistí. "Eu vou morrer".
"Sério, Bella", ele
estava ansioso agora. "Você vai sair daqui em alguns dias. Duas
semanas no máximo".
Eu olhei pra ele. "Eu posso
não morrer agora... mas eu vou morrer alguma hora. A cada
minuto do dia, eu chego mais
perto. Eu vou ficarvelha".
Ele fez uma careta quando se
tocou do que eu estava falando, pressionando seus longos
dedos nas têmporas e fechando os
olhos. "Isso é o que supostamente acontece. É assim
que deve acontecer.
Aconteceria se eu não existisse-
e eu não deveria existir".
Eu soprei. Ele abriu os olhos
surpreso. "Isso é estúpido. Isso é como alguém que acabou
de ganhar na loteria, pegando o
dinheiro, e dizendo, 'Olha, vamos voltar a ser como as
coisas deviam ser. É melhor
assim'. Eu não vou aceitar isso".
"Eu não sou bem um premio de
loteria", ele rugiu.
"Isso mesmo. Você é muito
melhor".
Ele rolou os olhos e ajeitou os
lábios. "Bella, nós não vamos mais continuar com essa
discussão. Eu me recuso a te
amaldiçoar á noite eterna e esse é o fim".
"Se você acha que acaba
aqui, você não me conhece muito bem", eu avisei ele.
"Você não é o único vampiro
que eu conheço".
Os olhos dele ficaram pretos de
novo. "Alice não ousaria".
E por um momento ele pareceu tão
assustador que eu não pude deixar de acreditar - Eu
_________________________________________________
3
não podia imaginar uma pessoa
corajosa o suficiente pra passar por cima dele.
"Alice já viu isso, não
foi?", eu adivinhei. "É por isso que as coisas que ela fala
aborrecem você. Ela sabe que eu
serei como vocês... um dia"
"Ela está errada. Ela também
viu você morta, mas isso também não aconteceu".
"Você nunca vai me pegar
apostando contra Alice".
Nós olhamos um para o outro por
um longo tempo. Estava silencioso, exceto pelo
barulho das máquinas, o bipe, as
gotas, o tique do grande relógio na parede. Finalmente
a expressão dele se suavisou.
"Então onde isso nos
deixa?", eu imaginei.
Ele gargalhou sem humor. "Eu
acredito que se chama impasse".
Eu suspirei, "Ouch", eu
murmurei.
"Como você está se
sentindo?", olhando para o botão da enfermeira.
"Eu estou bem", eu
mentí.
"Eu não acredito em
você", ele disse gentilmente.
"Eu não vou voltar a
dormir".
"Você precisa descansar.
Toda essa discussão não faz bem a você".
"Então desista", eu
provoquei.
"Boa tentativa". Ele
alcançou o botão.
"Não!"
Ele me ignorou.
"Sim?", o comunicador
na parede respondeu.
"Eu acho que estamos prontos
para mais remédios para a dor", ele disse calmamente,
ignorando minha expressão
furiosa.
"Eu vou mandar a
enfermeira", a voz parecia muito entediada.
"Eu não vou tomar", eu
prometi.
Ele olhou na direção do saco de
flúidos ao pendurada do lado da minha cama. "Eu acho
que eles não vão te pedir pra
engolir nada".
O meu coração começou a bater
forte. Ele viu o medo nos meus olhos e suspirou
frustrado.
"Bella, você está sentindo
dor. Você precisa relaxar pra se curar. Porque você está sendo
tão difícil? Eles não vão mais
colocar agulhas em você".
"Eu não estou com medo das
agulhas", eu murmurei. "Eu estou com medo de fechar
meus olhos".
Então ele sorriu o seu sorriso
torto, e pegou meu rosto entre as mãos dele. "Eu disse que
não vou pra lugar nenhum. Não
tenha medo. Enquanto isso te fizer feliz, eu vou ficar
aqui".
Eu sorrí de volta, ignorando a
dor nas minhas bochechas. "Você está falando de pra
sempre, sabe".
"Oh, você vai superar isso -
é só uma paixonite".
Eu balancei minha cabeça sem
acreditar - isso me deixou tonta. "Eu fiquei chocada
quando Renée comprou essa. Eu sei
que você sabe mais que isso".
"Isso é a beleza de ser
humano", ele me disse. "As coisas mudam".
Meus olhos reviraram. "Não
segure o fôlego".
Ele estava sorrindo quando a
enfermeira entrou, segurando uma seringa.
"Com licença", ela
disse bruscamente pra Edward.
Ele se levantou e cruzou o
pequeno quarto, se encostando na parede.
Ele cruzou os braços e esperou.
Eu mantive meus olhos nele, ainda apreensiva. Ele
encontrou meus olhos calmamente.
"Aí está, meu bem". A
enferemeira sorriu enquanto enjetava o medicamento no tubo.
"Você vai se sentir melhor
agora".
"Obrigada", eu
murmurei, sem entusiasmo. Não demorou muito. Eu pude sentir a
sonolência invadir minha corrente
sanguínea quase imediatamente.
"Eu acho que isso será
suficiente", ela disse enquanto minhas pálpebras se fechavam.
Ela deve ter deixado o quarto,
porque alguma coisa suave e gelada estava tocando o
meu rosto.
"Fique", a palavra saiu
mal articulada.
"Eu fico", ele
prometeu. A voz dele era linda, como uma canção de ninar.
"Como eu já disse, enquanto
isso te fizer feliz... enquanto isso for o melhor pra você".
Eu tentei balançar a minha
cabeça, mas ela estava pesada demais. "N é a mesma coisa",
eu murmurei.
Ele riu. "Não se preocupe
com isso agora, Bella. Você pode discutir comigo quando se
acordar".
Eu acho que sorri.
"Tá".
Eu pude sentir os lábios dele no
meu ouvido.
"Eu te amo", ele
sussurrou.
"Eu também".
"Eu sei", ele sorriu
baixinho.
Eu virei minha cabeça
levemente... procurando. Ele sabia o que eu estava procurando.
Seua lábios tocaram o meus
gentilmente.
"Obrigada", eu suspirei.
"Á disposição".
Eu já não estava mais
completamente lá. Mas eu lutei contra o torpor lentamente. Havia
só mais uma coisa que eu queria
dizer pra ele.
"Edward?", eu lutei pra
pronunciar o nome dele claramente.
"Sim?"
"Eu aposto em Alice",
eu murmurei.
E então a noite se fechou sobre
mim.
Epílogo: Uma
Ocasião
Edward me ajudou a entrar no
carro dele, sendo muito cuidadoso com os detalhes de
seda e chiffon, as flores que ele
colocou nos meus cachos estilosamente elaborados, e o
grande gesso na minha perna. Ele
ignorou a expressão de raiva da minha boca.
Depois que ele me ajeitou, ele
foi para o banco do motorista e saímos pelo caminho
longo e estreito.
"Em que ponto você pretende
me dizer exatamente onde estamos indo?", eu perguntei
fazendo beicinho. Eu odiava
surpresas. E ele sabia disso.
"Eu estou chocado que você
ainda não tenha descoberto". Ele jogou um sorriso de
zombaria na minha direção, e a
minha respiração ficou presa na garganta. Será que um
dia eu ia me acostumar á
perfeição dele?
"Eu mencionei que você está
muito bonito, não mencionei?", eu verifiquei.
"Sim", ele sorriu
largamente de novo. Eu nunca havia visto ele vestido de preto antes,e,
com o contraste na pela pálida
dele, a sua beleza era absolutamente surreal. Isso eu não
podia negar, até o fato de que
ele estava usando um smoking estava me deixando
nervosa.
Não tão nervosa quanto o meu
vestido, ou o sapato. Só um sapato, já que o meu pé
estava seguramente preso no
gesso. Mas o salto agulha, preso apenas pelos laços de fita
de cetim, certamente não iam me
ajudar quando eu tentasse me movimentar.
"Eu não vou mais voltar se
Alice continuar me tratando como a Barbie porquinho-daíndia
quando eu vier". Eu
estorqui. Eu passei a melhor parte do dia presa no banheiro
estonteantemente grande de Alice,
eu fui uma vítima desamparada enquanto ela
brincava de cabeleireira e
maquiadora. Quando eu tentava escapar ou reclamava, ela me
lembrava que não tinha memórias
de como era ser humana, e me pedia para não
atrapalhar a sua vigorosa
diversão. Então ela me vestiu com um vestido ridículo - azul
escuro, cheio de detalhes e sem
os ombros, com uma etiqueta francesa que eu não
consegui ler - um vestido que
combinava mais com uma passarela do que com Forks.
Nada de bom podia sair de uma
vestimenta formal, disso eu tinha certeza.
A não ser... mas eu estava com
medo de colocar as minhas suspeitas em palavras,
mesmo em minha própria cabeça.
Eu fui distraída pelo som do
telefone tocando. Edward puxou o telefone do bolso do seu
paletó, olhando brevemente no
identificador de chamadas antes de atender.
"Alô, Charlie", ele
disse cautelosamente.
"Charlie?", eu fiz uma
careta.
Charlie tem sido... difícil desde
o meu retorno á Forks. Ele compartimentou minha má
experiência em duas reações. Com
Carlisle ele era quase idolatradamente grato. Por
outro lado, ele estava
teimosamente preso á idéia de que era culpa de Edward - porque
se não fosse por culpa dele eu
não teria ido embora de casa em primeiro lugar. E
Edward estava longe de discordar
dele. Nesses dias eu estava tendo regras que nunca
tive antes: Toque de recolher...
horários de visita.
Alguma coisa que Charlie disse
fez os olhos de Edward crescer de descrença, e então
um grande sorriso apareceu no
rosto dele.
"Você está brincando!",
ele deu uma risada.
"O que é?", eu quis
saber.
Ele me ignorou. "Porque você
não me deixa falar com ele?" Edward sugeriu com um
prazer evidente. Ele esperou por
um segundo.
"Olá, Tyler. Aqui é Edward
Cullen". A voz dele estava amigável, na superfície. Eu
conhecia esse tom bem o
suficiente pra ouvir a leve ponta de ameaça. O que é que Tyler
estava fazendo na minha casa? A
horrível verdade começou a descer sobre mim. Eu
olhei novamente para o vestido
inapropriado que Alice havia me forçado a usar.
"Eu lamento se houve alguma
espécie de falta de comunicação, mas Bella não está
disponível essa noite". O
tom de Edward mudou e a ameaça ficou de repente muito mais
evidente enquanto ele continuava.
"Pra falar a verdade, ela
não estará disponível noite nenhuma, quando se tratar de
alguém que não seja eu mesmo. Sem
ofensa. Eu lamento pela sua noite". Ele não
parecia lamentar nem um pouco. E
então ele fechou o telefone com um estalo, um
grande sorriso no rosto dele.
Meu rosto e meu pescoço estavam
vermelhos de raiva.
Eu podia sentir as lágrimas
induzidas pela raiva começarem a encher meus olhos.
Ele olhou pra mim surpreso.
"A última parte foi demais? Eu não pretendia te ofender".
Eu ignorei isso.
"Você está me levando para o
baile!", eu gritei.
Agora era embaraçosamente óbvio.
Se eu estivesse prestando um pouco de atenção, eu
teria reparado a data nos
cartazes que estavam decorando os prédios da escola. Mas eu
nunca sonhei que ele me
submeteria a isso. Será que ele não me conhecia nem um
pouco?
Ele não estava esperando a força
da minha reação, isso estava claro.
Ele pressionou os lábios e
revirou os olhos. "Não seja difícil, Bella".
Meus olhos foram para a janela;
nós já estávamos no meio do caminho para a escola.
"Porque você está fazendo
isso comigo?", eu quis saber, horrorizada.
Ele fez um gesto para o smoking.
"Sério, Bella, o que você achou que estivéssemos indo
fazer?"
Eu estava mortificada. Primeiro,
porque eu não vi o óbvio. E também porque minha a
vaga suspeita - esperança, na
verdade - do porque eu estivesse me arrumando o dia
inteiro, enquanto Alice me transformava
numa Rainha da beleza, estavam muito
distantes da realidade.
As minhas esperanças pareciam
muito bobas agora.
Eu achei que havia alguma ocasião
brotando. Mas baile! Essa foi a última coisa que
passou pela minha cabeça.
Lágrimas de raiva rolaram pelas
minhas bochechas. Eu lembrei com desânimo que
estava descaracteristicamente
usando rímel. Eu limpei rapidamente embaixo dos olhos
pra prevenir qualquer mancha.
Minha mão não estava preta quando eu a puxei; Talvez
Alice soubesse que precisaria de
maquiagem á prova de água.
"Isso é completamente
ridículo. Porque você está chorando?", ele quis saber frustrado.
"Porque eu estou com
raiva!"
"Bella", ele usou toda
a força dos seus ardentes olhos dourados em mim.
"O que?", eu murmurei,
distraída.
"Me distraia", ele
insistiu.
Seus olhos estavam derretendo
toda a minha fúria. Era impossível brigar com ele
quando ele trapaceava daquele
jeito. Eu desisti sem glória.
"Está bem", eu fiz
beicinho, sem conseguir sem tão efetiva quanto eu esperava ser. "Eu
vou quieta. Mas você vai ver. Eu
sempre estou aberta á mais má sorte. Eu
provavelmente vou quebrar minha
outra perna. Olhe pra esse sapato! É uma
armadilha!", eu levantei
minha perna como evidência.
"Hmmmm", ele olhou para
a minha perna por mais tempo do que o necessário. "Me
lembre de agradecer Alice por
essa noite".
"Ela vai estar lá?"
Isso me confortou um pouquinho.
"Com Jasper, Emmett... e
Rosalie", ele admitiu.
O sentimento de conforto
desapareceu. Eu não fiz muito progresso com Rosalie, apesar
de estar em muitos bons termos
com o seu as vezes marido. Emmett gostava de me ter
por perto - ele achava que as
minhas reações humanas bizarras eram hilárias... ou talvez
fosse só o fato de que eu caia
muito que ele achava engraçado. Rosalie agia como se eu
nem existisse. Enquanto eu
balançava a minha cabeça pra dissipar a direção que os
meus pensamentos tinham tomado,
eu pensei em outra coisa.
"Charlie está nisso
tudo?", eu perguntei, suspeitando de repente.
"É claro", ele sorriu,
e depois gargalhou. "No entanto, aparentemente, Tyler não estava".
Eu travei meus dentes. Como Tyler
podia ter se iludido tanto, eu não podia imaginar.
Na escola, onde Charlie não podia
nos atrapalhar, Edward e eu éramos inseparáveis -
exceto por aqueles raros dias de
sol.
Estávamos na escola agora; o
conversível vermelho de Rosalie era notável. As nuvens
estavam finas hoje, haviam alguns
finos raios de sol escapando no céu á oeste.
Ele saiu e deu a volta no carro
pra abrir minha porta. Ele levantou sua mão.
Eu fiquei teimosamente sentada no
meu banco, com os braços cruzados, sentindo uma
punção secreta de presunção.
O estacionamento estava lotado de
pessoas vestidas formalmente: testemunhas. Ele não
podia me remover á força do carro
como já teria feito se estivéssemos sozinhos.
Ele suspirou. "Quando alguém
tenta te matar, você é corajosa como um leão - e aí,
quando alguém menciona
dançar...", ele balançou a cabeça.
Eu engoli seco. Dançar.
"Bella, eu não vou deixar
nada te machucar - nem você mesma. Eu não vou largar de
você em hora nenhuma, eu
prometo".
Eu pensei nisso e de repente
estava me sentindo muito melhor. Ele podia ver isso no
meu rosto.
"Isso, agora", ele
disse gentilmente. "Não vai ser tão ruim assim". Ele abaixou e passou
um dos braços pela minha cintura.
Eu segurei a outra mão dele e ele me puxou pra fora
do carro.
Ele manteu o braço apertado ao
meu redor, me segurando enquanto eu mancava em
direção á escola.
Em Phoeniz, eles fazem bailes em
salões de hotéis. Esse baile era no ginásio da escola,
é claro. Possivelmente era o
único espaço grande o suficiente para um baile. Quando
nós entramos, eu dei uma
risadinha. Realmente havia balões com formatos e
ornamentos de papel crepe
enfeitando as paredes.
"Isso parece um filme de
terror esperando pra acontecer", eu ri silenciosamente.
"Bem", ele murmurou
enquanto nos aproximávamos da mesa dos ingressos - ele estava
carregando a maior parte do meu
peso, mas eu ainda tinha que arrastar e empurrar o
meu pé para frente - tem mais
vampiros presentes do que o necessário".
Eu olhei para o espaço de dança;
um espaço grande havia se aberto no espaço, onde dois
casais rodopiavam graciosamente.
Os outros dançarinos se empurravam nos lados para
dar espaço á eles - ninguém
queria contrastar com o brilho deles.
Emmett e Jasper estavam
intimidantes e indefectíveis em seus smokings. Alice estava
arrebatadora num vestido de cetim
preto com detalhes geométricos que abriam
triângulos na sua pele branca da
cor da neve. E Rosalie estava... bem, Rosalie. Ela
estava além da imaginação. Seu
vívido vestido vermelho era aberto nas costas, apertado
na panturrilha onde se abria um
detalhe flutuante, com um decote que ia do seu pescoço
até a cintura. Eu senti pena de
todas as garotas presentes, eu mesma incluída.
"Você quer que vá fechar as
portas pra que você possa massacrar os moradores da
cidade sem levantar
suspeita?", eu sussurrei conspirando.
"E onde é que você se
encaixa nesse esquema?", ele olhou pra mim.
"Oh, eu estou com os
vampiros, é claro".
Ele sorriu com relutância.
"Qualquer coisa pra se mandar do baile".
"Qualquer coisa".
Ele comprou nossos ingressos, e
então me virou na direção da pista de dança. Eu me
agarrei nele e levantei meu pé.
"Eu tenho a noite
inteira", ele avisou
Eventualmente ele me arrastou pra
onde a família dele estava rodopiando elegantemente
- em um estilo que não se
adequava nem um pouco á música que estava tocando agora.
Eu observei horrorizada.
"Edward", minha
garganta estava tão seca que eu quase não consegui sussurrar. "Eu
honestamente não posso
dançar!", eu podia sentir o pânico borbulhando no meu peito.
"Não se preocupe,
boba", ele sussurrou de volta. "Eu posso". Ele colocou meus
braços
ao redor do pescoço dele e me
levantou pra colocar os pés dele embaixo dos meus.
E então estávamos rodopiando
também.
"Eu me sinto como se tivesse
cinco anos de idade", eu sorri depois de alguns minutos de
rodopio sem esforços.
"Você parece ter cinco
anos", ele murmurou, me puxando mais pra perto por um
segundo, assim meus pés ficaram á
alguns centímetros do chão por alguns segundos.
Alice encontrou meu olhar numa volta
e sorriu me encorajando - eu sorri de volta. Eu
estava surpresa de perceber que
eu realmente estava aproveitando... um pouco.
"Ok, isso não é inteiramente
ruim", eu admiti.
Mas Edward estava olhando na
direção das portas, e o rosto dele aparentava raiva.
_________________________________________________4
"O que foi?", eu me
perguntei em voz alta. Eu segui o olhar dele, desorientada pelos
rodopios, mas eu finalmente vi o
que estava incomodando ele. Jacob Black, não de
smoking, mas com uma camisa de
mangas longas e de gravata, seu cabelo puxado pra
trás no seu rabo de cavalo de
sempre, estava atravessando a pista em nossa direção.
Depois do primeiro choque do
reconhecimento, eu não pude deixar de me sentir mal por
Jacob. Ele estava claramente
desconfortável - dolorosamente desconfortável.
O rosto dele estava pedindo
desculpas enquanto seus olhos encontravam os meus.
Edward rosnou bem baixinho.
"Se comporte" eu
soprei.
A voz de Edward estava severa.
"Ele quer conversar com você".
Jacob chegou até nós nessa hora,
a vergonha e as desculpas ainda mais evidentes no
rosto dele.
"Ei, Bella, eu estava
esperando que você estivesse aqui". Jacob soou como se ele
estivesse esperando exatamente o
contrário. Mas o sorriso dele estava tão cálido como
sempre.
"Oi, Jacob", eu sorri
de volta. "E aí?"
"Eu posso atrapalhar?",
ele pediu tentadoramente, olhando pra Edward pela primeira
vez. Eu estava chocada de ver que
Jacob nem precisou olhar pra cima. Ele já deve ter
crescido uns cinco centímetros
desde a primeira vez que eu vi ele.
O rosto de Edward estava
composto, sua expressão vazia. A única resposta dele foi me
colocar cuidadosamente nos meus
próprios pés, e dar um passo pra trás.
"Obrigado", Jacob disse
amigavelmente.
Edward só balançou a cabeça,
olhando pra mim atentamente antes de se virar e ir
embora. Jacob colocou as mãos na
minha cintura, e eu coloquei as minhas mãos nos
ombros dele.
"Nossa, Jake, qual é a sua
altura agora?"
Ele estava presumido. "Um e
oitenta e quatro".
Nós não estávamos realmente
dançando - minha perna tornava isso impossível. Ao
invés disso ele se movimentava
estranhamente de um lado pra o outro sem movermos
os pés. Estava tudo bem; o súbito
crescimento tinha o deixado parecendo meio
desequilibrado e desordenado, ele
provavelmente não era um dançarino melhor que eu.
"Então,como é que você veio
parar hoje?", eu perguntei realmente curiosa.
Levando em conta a reação de
Edward, eu já podia advinhar.
"Você acredita que meu pai
me pagou vinte pratas pra que eu viesse ao seu baile?", ele
admitiu, um pouco envergonhado.
"Sim, eu acredito", eu
murmurei. "Bem, pelo menos eu espero que você aproveite, pelo
menos. Já viu algo que você
gostasse?", eu caçoei, balançando a cabeça na direção de
um grupo de garotas alinhadas na
parede com os enfeites.
"Sim", ele suspirou.
"Mas ela está acompanhada".
Ele olhou pra baixo pra me olhar
nos olhos só por um segundo - então nós dois
desviamos o olhar, envergonhados.
"Aliás, você está muito
bonita", ele acrescentou, timidamente.
"Umm, obrigada. Então,
porque Billy te pagou pra vir até aqui?" eu perguntei
rapidamente, apesar de já saber a
resposta.
Jacob não pareceu agradecido pela
mudança no assunto; ele desviou o olhar,
desconfortável de novo. "Ele
disse que aqui seria um lugar 'seguro' pra conversar com
você. Eu juro que o velho está
enlouquecendo".
Eu me juntei á risada dele
fracamente.
"De qualquer forma, ele
disse que se eu te dissesse uma coisa, ele me daria o cilindro
mestre que eu preciso", ele
confessou com um sorriso envergonhado.
"Me diga, então. Eu quero
que você termine o seu carro". Eu sorri de volta. Pelo menos
Jacob não acreditava em nada
disso. Isso tornava a situação um pouco mais fácil. Na
parede, Edward estava olhando o
rosto dele, seu próprio rosto estava sem expressão. Eu
ví uma garota do segundo ano com
um vestido rosa olhar pra ele com uma tímida
especulação, mas ele não pareceu
estar consciente da presença dela.
Jacob desviou o olhar de novo,
envergonhado. "Não fique com raiva, tá?"
"Não tem jeito de eu ficar
com raiva de você, Jacob", eu assegurei pra ele. "Eu não vou
nem ficar com raiva de Billy. Só
diga o que você tem que dizer".
"Bem - isso é estúpido, me
desculpe, Bella - ele quer que você termine com o seu
namorado. Ele me disse pra te
pedir 'por favor'".
Ele balançou a cabeça com
desgosto.
"Ele ainda é supersticioso,
né?"
"É. Ele ficou... meio fora
de sí quando você se machucou em Phoenix.
Ele não acreditou..." Jacob
parou se sentindo embaraçado.
Eu revirei meus olhos. "Eu
caí".
"Eu sei disso", ele
disse rapidamente.
"Ele acha que Edward tem
alguma coisa a ver com isso", eu não estava perguntando, e
independente da minha promessa,
eu estava com raiva.
Jacob não me olhou nos olhos.
Nós não estávamos nem nos
incomodando em nos mexer com a música, apesar das
mãos dele ainda estarem na minha
cintura, e as minhas no pescoço dele.
"Olha, Jacob, eu sei que
Billy provavelmente não vai acreditar nisso, mas só pra que
você saiba" - ele olhou pra
mim agora, respondendo ao novo tom severo na minha voz -
"Edward realmente salvou
minha vida. Se não fosse por Edward e seu pai, eu estaria
morta".
"Eu sei", ele aclamou,
mas pareceu que as minhas palavras haviam afetado ele um
pouco. Talvez ele seja capaz de
convencer Billy disso, pelo menos.
"Ei, eu lamento que você
tenha que ter vindo fazer isso, Jacob", eu me desculpei. "De
qualquer forma, você ganhou as
suas partes, não é?"
"É", ele ainda parecia
estranho... chateado.
"Tem mais?", eu
perguntei sem acreditar.
"Esqueça", ele
murmurou. "Eu vou arrumar um emprego e conseguir o dinheiro
sozinho".
Eu olhei pra ele até que ele
olhou pra mim. "Cospe logo, Jacob".
"É ruim demais".
"Eu não ligo. Me diga",
eu insisti.
"Ok, mas, Deus, isso é
ruim". Ele balançou a cabeça. "Ele disse pra te dizer, não, pra te
avisar, que - e são palavras
dele, não minhas -". Ele levantou uma mão da minha cintura
e fez pequenos gestos no ar -
"Ele estará observando". Ele esperou timidamente pela
minha reação.
Pareceu uma coisa de algum filme
sobre a máfia. Eu ri alto.
"Eu lamento por você ter que
fazer isso, Jake", eu ri silenciosamente.
"Eu não me importei tanto
assim". Ele sorriu aliviado. Seus olhos estavam apreciativos
enquanto vasculhavam rapidamente
o meu vestido. "Então, eu digo pra ele que você o
mandou cuidar dos assuntos
dele?", ele perguntou esperançosamente.
"Não", eu suspirei.
"Diga a ele que eu estou agradecida. Eu sei que as intenções eram
boas".
A música acabou, eu tirei meus
braços.
As mãos dele hesitaram na minha
cintura, e ele olhou para a minha perna engessada.
"Você quer dançar de novo?
Ou eu posso te ajudar a ir a algum outro lugar?"
Edward respondeu por mim.
"Está tudo bem, Jacob. Eu cuido dela".
Jacob vacilou, e olhou com os
olhos arregalados pra Edward, que estava bem ao nosso
lado.
"Oi, eu não te vi aí",
ele gaguejou. "Eu acho que a gente se vê por aí, Bella".
Ele deu um passo pra trás,
acenando sem vontade.
Eu sorri. "É, a gente se vê
depois".
"Desculpe", ele disse
de novo antes de se virar para as portas.
Edward colocou seus braços ao
redor do meu corpo quando a próxima música começou.
Era um pouco agitada demais para
dança lenta, mas isso não pareceu preocupá-lo. Eu
coloquei minha cabeça no peito
dele, contente.
"Se sentindo melhor?",
eu caçoei.
"Na verdade não", ele
disse resumidamente.
"Não fique com raiva de
Billy", eu suspirei. "Ele só se preocupa pelo bem de Charlie.
Não é nada pessoal".
"Eu não estou irritado com
Billy", ele me corrigiu com uma voz entrecortada. "Mas o
filho dele já está me
irritando".
Eu me separei pra olhar pra ele.
O rosto dele estava sério.
"Porque?"
"Primeiro de tudo, ele me
fez quebrar minha promessa".
Eu olhei pra ele confusa.
Ele deu um meio sorriso. "Eu
prometi que não ia me separar de você essa noite", ele
explicou.
"Oh. Bem, eu te
perdôo".
"Obrigado. Mas tem outra
coisa". Edward fez uma careta.
Eu esperei pacientemente.
"Ele te chamou de
bonita", ele finalmente continuou, sua careta ficando ainda mais
profunda. "Isso é
praticamente um insulto, pelo jeito como você está hoje. Você está
muito mais que linda".
_________________________________________________5
Eu sorri. "Eu acho que você
está sendo influenciado".
"Eu não acho que seja isso.
Além do mais, eu tenho uma ótima visão".
Nós estávamos rodopiando de novo,
meus pés em cima dos dele enquanto ele me
segurava bem juntinho.
"Então, você vai explicar a
razão pra isso tudo?", eu imaginei.
Ele olhou pra mim, confuso, e eu
olhei significantemente para o papel crepe nas
paredes.
Ele considerou por um momento, e
então mudou de direção, rodopiando comigo até a
multidão de pessoas na porta dos
fundos. Eu peguei uma olhada de Jéssica e Mike,
dançando e olhando pra mim
curiosamente.
Jéssica acenou, e eu sorri de
volta rapidamente.
Angela estava lá também,
parecendo abençoadamente feliz nos braços do pequeno Ben
Cheney; ela não olhava pra os
olhos dele que era uma cabeça menor que ela. Lee e
Samantha; Lauren olhando na nossa
direção, com Conner; eu podia dizer o nome de
todos os rostos que passaram
rodopiando por nós. E então estávamos do lado de fora, na
fria, e fraca luz do por do sol
que estava sumindo. Assim que estávamos sozinhos, ele
me pegou nos braços, e me
carregou no chão escuro até que alcançamos os bancos
embaixo das grandes sombras das
árvores anciãs. Ele se sentou lá, me mantendo
embalada no peito dele.
A lua já estava no céu, visível
através das nuvens, e o rosto pálido dele brilhava na luz
branca.
Sua boca estava dura, seus olhos
confusos.
"O ponto?" eu perguntei
suavemente.
Ele me ignorou, olhando para a
lua.
"É o crepúsculo, de
novo", ele murmurou. "Outro final. Não importa quanto os dias
sejam perfeitos, eles sempre têm
que acabar".
"Algumas coisas não têm que
acabar", eu murmurei por entre os dentes, subitamente
tensa.
Ele suspirou.
"Eu te trouxe para o
baile", ele disse lentamente, finalmente respondendo a minha
pergunta. "Porque eu não
queria que você perdesse nada. Eu não quero que a minha
presença tire nada de você, se eu
puder evitar. Eu quero que você seja humana. Eu
quero que você viva a sua vida
como se eu tivesse morrido em 1918 como eu deveria ter
morrido".
Eu tremi com as palavras dele, e
então balancei a cabeça com raiva.
"Em que estranha dimensão
paralela eu iria para um baile por vontade própria? Se você
não fosse milhares de vezes mais
forte que eu, eu nunca deixaria você se livrar dessa".
Ele sorriu brevemente, mas o
sorriso não alcançou os olhos dele. "Não foi tão ruim
assim, você mesma disse
isso".
"Mas isso é porque eu estou
com você".
Nós ficamos quietos por um
instante; ele olhava para a lua e eu olhava para ele. Eu
queria que houvesse alguma forma
de explicar pra ele o quanto minha vida humana era
desinteressante.
"Você me diz uma
coisa?", ele me perguntou, olhando pra mim com um leve sorriso.
"Eu não digo sempre?"
"Só me prometa que você vai
dizer", ele insistiu, sorrindo.
Eu sabia que ia me arrepender
disso quase instantaneamente. "Tá bom".
"Você pareceu honestamente
surpresa quando soube que eu estava te trazendo pra cá",
ele começou.
"Eu estava", eu
interferi.
"Exatamente", ele
concordou. "Mas você devia ter outra teoria... eu estou curioso - para
o que você pensou que eu
estivesse me vestindo?"
Sim, arrependimento instantâneo.
Eu curvei os lábios, hesitando.
"Eu não quero te
dizer".
"Você prometeu", ele
protestou.
"Eu sei".
"Qual é o problema?"
Ele sabia que era pura verginha
que estava me segurando. "Eu acho que vai te deixar
com raiva - ou triste".
As sobrancelhas se juntaram sobre
os olhos dele enquanto ele pensava nisso. "Eu ainda
quero saber. Por favor?"
Eu suspirei. Ele esperou.
"Bem... eu achei que fosse
algum tipo de... ocasião. Mas eu não achei que fosse uma
coisa tão humana... baile!"
eu ridicularizei.
"Humana?", ele
perguntou vazio. Ele se prendeu na palavra chave.
Eu olhei pra baixo para o meu
vestido, dedilhando um pedaço de chiffon. Ele esperou
em silêncio.
"Tudo bem", eu
confessei rapidamente. "Então eu estava esperando que você tivesse
mudado de idéia... que você fosse
me mudar, afinal".
Uma dúzia de emoções passou pelo
rosto dele. Algumas eu reconheci: raiva... dor... e
então quando ele pareceu se
recompor a expressão dele ficou divertida.
"E você pensou que isso
seria uma ocasião black-tie, não pensou?" ele zombou, tocando
a lapela do paletó do smoking
dele.
Eu fiz uma carranca pra esconder
minha vergonha. "Eu não sei como essas coisas
funcionam. Pra mim, pelo menos,
parecia mais racional do que um baile". Ele ainda
estava sorrindo. "Não é
engraçado", eu disse.
"Não, você está certa, não
é", ele concordou, o sorriso desaparecendo. "No entanto, eu
preferia tratar disso como uma
piada, do que acreditar que você estava falando sério".
"Mas eu estou falando
sério".
Ele suspirou profundamente.
"Eu sei. Você quer mesmo tanto assim?"
A dor estava de volta nos olhos
dele. Eu mordí meu lábio e afirmei com a cabeça.
"Tão pronta para isso ser o
fim", ele murmurou, quase pra sí mesmo.
"Pronta para esse ser o
último crepúsculo da vida dele, apesar da sua vida estar só
começando. Você está pronta pra
abrir mão de tudo".
"Não é o fim, é o
começo", eu discordei por baixo do meu fôlego.
"Eu não valho a pena",
ele disse tristemente.
"Você se lembra de quando me
disse que eu não me via muito claramente?", eu
perguntei, erguendo minhas
sobrancelhas. "Você obviamente tem o mesmo problema".
"Eu sei o que eu sou".
Eu suspirei.
Mas o humor dele se virou pra
mim. Ele curvou os lábios, e os olhos dele estavam
sondando. Ele examinou meu rosto
por um longo momento.
"Você está pronta agora, então?",
ele perguntou.
"Umm", eu engoli seco.
"Sim?"
Ele sorriu e inclinou sua cabeça
lentamente até que seus lábios frios passaram na minha
pele, bem abaixo do contorno da
minha mandíbula.
"Agora mesmo?", ele
sussurrou, a respiração dele estava fria no meu pescoço. Eu me
arrepiei involuntariamente.
"Sim", eu sussurrei,
assim minha voz não teria a chance de falhar. Se ele achasse que eu
estava blefando, ele ficaria
decepcionado. Eu já havia tomado a decisão, e tinha certeza.
Não importava que o meu corpo estivesse
rígido feito uma tábua, minhas mãos curvadas
nos punhos, minha respiração
descompassada...
Ele gargalhou sombriamente, e se
afastou. O rosto dele parecia desapontado.
"Você realmente acredita que
eu desistiria assim tão fácil", ele disse com um leve tom
de divertimento na voz dele.
"Uma garota pode
sonhar".
As sobrancelhas dele se ergueram.
"É com isso que você sonha? Ser um monstro?"
"Não exatamente", eu
fiz uma careta pela escolha das palavras dele.
Monstro, realmente. "Eu
sonho mais em estar com você por toda a eternidade".
A expressão deve mudou, se
suavizou e ficou triste pela súbita dor na minha voz.
"Bella". Seus dedos
lentamente traçaram os contornos dos meus lábios. "Eu vou ficar
com você - isso não é o
suficiente?"
Eu sorri por baixo dos dedos
dele. "Suficiente por enquanto".
Ele fez uma careta pela minha
tenacidade. Ninguém ia se render essa noite. Ele exalou,
e o som foi praticamente um
rosnado.
Eu toquei o rosto dele.
"Olha", eu disse. "Eu te amo mais do que tudo no mundo junto.
Isso não é o suficiente?"
"Sim, é suficiente",
ele respondeu sorrindo. "Suficiente pra sempre".
E ele se inclinou pra tocar a minha garganta com
seus lábios frios mais uma vez.
______________________________________Fim

Nenhum comentário:
Postar um comentário