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A Furia





A Fúria

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Capítulo Um
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Elena entrou no clarão.
Abaixo de seus pés, pedaços de folhas outonais se congelavam na neve
lamacenta. Havia escurecido, e ainda que o temporal começava a diminuir,
o bosque ficava cada vez mais frio. Elena não sentia o frio.
Tampouco lhe importava a escuridão. Suas pupilas se abriram
completamente, recolhendo partículas diminutas de luz que haviam sido
impossíveis para um ser humano. Distinguiu com toda clareza as duas
figuras que forçavam um grande golpe.
Um tinha uma espessa cabeleira escura que o vento havia revirado e se
tornado um bagunçado mar de ondas. Era ligeiramente mais alto do que a
outra pessoa, e ainda que não pudesse ver seu rosto, de um certo modo
soube que seus olhos eram verdes.
O outro também tinha uma mata de cabelos escuros, mas os seus eram
mais finos e lisos, quase como a pelagem de um animal. Seus lábios
estavam tensionados para trás, mostrando os dentes com fúria, e a graça
preguiçosa do seu corpo estava posicionada como uma pantera. Seus
olhos eram negros.
Elena os observou por vários minutos sem se mover. Havia se esquecido
porque estava ali, por que a haviam arrastado até ali, nos ecos da briga em
sua mente. Há tão pouca distancia o clamor de sua raiva, seu ódio e sua
dor eram quase ensurdecedor, como gritos silenciosos surgindo dos
adversários. Estavam enlaçados em um combate de morte.
“Me pergunto qual deles vencerá”, pensou. Os dois estavam feridos e
sangravam, e o braço esquerdo do mais alto balançava de uma forma
sobrenatural. Contudo, acabava de empurrar o outro contra o tronco
retorcido de um carvalho, e sua fúria era tão forte que Elena podia senti-la
e saborea-la, assim como ouvi-la, e sabia que lhe estava proporcionando
uma força incrível.
E então Elena se lembrou por que havia ido ali. Como podia ter esquecido?
Ele estava ferido. Sua mente a havia chamado ali, a inundando com ondas
de raiva e dor. Ela estava ali para ajuda-lo, porque ela lhe pertencia.
As duas figuras estavam caídas no solo gelado agora, brigando como lobos,
grunhindo. Veloz e silenciosa, Elena foi até eles. O de cabelos ondulados e
olhos verdes – Stefan, sussurrou uma voz em sua cabeça – estava em
cima, com os dedos procurando desesperadamente a garganta do outro. A
cólera inundou Elena, a cólera e uma atitude protetora. Pôs o braço entre
os dois para segurar aquela mão que tentava estrangular, para tira-la até
acima dos dedos.
Nem lhe ocorreu que não seria forte o bastante para faze-lo. Era bastante
forte, isso era tudo. Atirou seu peso para um lado, arrancando-o de seu
oponente. Por acaso, fez pressão sobre o braço ferido, derrubando o
atacante de cara contra a neve lamacenta coberta de folhas. Então
começou a asfixia-lo por trás.
Seu ataque lhe havia pego de surpresa, mas não estava nem de longe
vencido. Devolveu o golpe, a mão sana buscando astuciosamente a
garganta da garota. O polegar se afundou em sua traquéia.
Elena se encontrou abraçando a mão, a tendo mordendo com seus dentes.
Sua mente não compreendia, mas o corpo sabia o que fazer. Seus dentes
eram uma arma e desgarraram a carne, fazendo correr o sangue.
Mas ele era mais forte que ela. Com uma violenta sacudida de ombros se
liberou e a retorceu entre suas mãos, a jogando no chão. E então foi ele
que esteve em cima dela, com o rosto contorcido por uma fúria animal. Ela
chiou, e pôs seus olhos como unhas, mas ele se afastou da mão com um
golpe.
Ia mata-la. Mesmo ferido, era muito mais forte que ela. Seus lábios tinham
se afastado para trás para mostrar os dentes machados de vermelho.
Como uma cobra estava pronto para atacar.
Então se deteve, dicernindo-a, enquanto sua expressão mudava.
Elena viu que os olhos verdes se arregalaram As pupilas que haviam
estado contraídas em pequenos pontos se ampliaram em um golpe. A
olhava fixamente, como se realmente a visse pela primeira vez.
Por que a olhava daquele modo? Por que não se limitava a acabar? A mão
férrea sobre seu ombro estava se soltando. O grunhido animal havia
desaparecido, sendo agora uma expressão de perplexidade e assombro. Se
sentou para trás e ajudou-a a sentar, sem deixar de olhar seu rosto nem
por um instante.
Elena – murmurou a voz quebrando-se – Elena, é você.
“É essa quem sou?”, pensou ela. “Elena?”.
Na realidade, não importava. Dirigiu uma veloz olhada na direção do velho
carvalho. Ele ainda estava ali, de pé entre as raízes que sobressaiam da
terra, ofegando, apoiando-se na arvore com uma mão. Ele a olhava com
seus olhos infinitamente negros e as sobrancelhas contraídas em uma
expressão irritada.
“Não se preocupe – pensou ela. – Eu posso me ocupar deste. Ele é
estúpido.” Logo voltou a se jogar no jovem de olhos verdes.
-Elena! – guinchou ele enquanto ela o derrubava de costas.
A mão sã empurrou seu ombro, sustentando-a no alto.
-Elena, sou eu, Stefan! Elena, me olhe!
Ela olhava e tudo que via era o pedaço da pele descoberta de seu pescoço.
Voltou a chiar, o lábio superior retrocedendo para mostrar-lhe os dentes.
Ele ficou paralisado.
Sentiu como a comoção reverberava por todo o corpo do jovem, viu que
sua olhada se quebrava. O rosto adquiriu a mesma palidez como se
alguém o tivesse golpeado no estomago. Sacudiu a cabeça ligeiramente
sobre o chão lamacento.
Não – sussurrou. – Oh, não...
Parecia estar dizendo para si mesmo, como se não esperasse que ela o
estivesse ouvindo. Estendeu uma mão até sua bochecha e ela tentou
morde-la.
-Ah, Elena... – murmurou ele.
Os últimos restos de fúria, de desejo animal de matar, haviam
desaparecido de seu rosto. Tinha os olhos atordoados, afligidos e
entristecidos.
E era vulnerável. Elena aproveitou o momento para lançar-se sobre a
carne descoberta de seu pescoço. Ele alçou o braço para detê-la, para
afasta-la, mas logo voltou a deixa-lo cair.
A olhou fixamente por um momento, com a dor de seus olhos alcançando
o ápice e logo, simplesmente, se abandonou. Deixou de lutar totalmente.
Ela sentia como acontecia, sentiu como a resistência abandonava seu
corpo. Ficou estendido sobre o chão gelado com restos de folhas de
carvalho no cabelo, olhando mais além dela, o céu negro e coberto de
nuvens.
“Acabe com ele”, disse uma voz cansada em sua mente.
Elena vacilou por um instante. Havia algo naqueles olhos que evocava
recordações em seu interior. Estar de pé embaixo da luz da lua, sentada
em um quarto de um sótão... Mas as recordações eram muito vagas. Não
conseguia lembra-los, e o esforço a atordoava e a enjoava.
E este tinha que morrer, este de olhos verdes chamado Stefan. Porque
havia machucado a ele, ao outro, a ele que era a razão de sua existência.
Ninguém podia machuca-lo e continuar vivo.
Cerrou os dentes sobre sua garganta e mordeu profundamente.
Notou no momento que não fazia como se devia. Não havia alcançado uma
artéria ou uma veia. Atacou a garganta, furiosa ante a própria
inexperiência. Era satisfatório morder algo, mas não saia muito sangue.
Contrariada, levantou a cabeça e voltou a morder, sentindo que o corpo
dele dava uma sacudida de dor.
Muito melhor. Havia encontrado uma veia dessa vez, mas não havia
desgarrado o suficiente. Um pequeno arranhado como aquele não serviria
de nada. O que precisava era desgarra-la por completo, para deixar que o
suculento sangue quente saísse a porções.
Sua vítima se estremeceu enquanto ela trabalhava, os dentes arranhando
e roendo. Começava a sentir como a carne cedia quando umas mãos a
tiraram de lá, alçando-a para trás.
Elena grunhiu sem soltar a garganta. Mas as mãos eram insistentes. Um
braço rodeou sua cintura, uns dedos se enroscaram em seus cabelos.
Forçou a ficar, aferrando-se com unhas e dentes a sua presa.
-Solte-o! Deixe-o!
A voz era seca e autoritária, como uma lufada de vento frio. Elena a
reconheceu e parou de se esforçar contra as mãos que a afastavam.
Quando a colocaram no chão e ela levantou os olhos para vê-lo, um nome
veio a sua mente. Damon. Seu nome era Damon. Lhe olhou fixamente com
expressão enfurecida, ressentida por ter sido arrancada se sua presa, mas
obediente.
Stefan estava saindo do chão, com o pescoço vermelho de sangue que
também corria por sua camisa. Elena lambeu os lábios, sentindo uma
pulsada parecida com uma retorção de fome mas que parecia provir de
cada fibra de seu ser. Voltou a ficar enjoada.
-Eu acho – disse Damom – que você disse que ela estava morta.
Olhava Stefan, que estava ainda mais pálido que antes, se é que isso era
possível. Aquele rosto branco estava cheio de infinito desespero.
-Olhe-a – foi tudo que ele disse.
Uma mão sujeitou o queixo de Elena, levantando seu rosto para cima. Ela
devolveu diretamente a olhada dos olhos escuros entrecerrados de Damon.
Logo, largos e finos dedos tocaram seus lábios, sondando entre eles.
Instintivamente, Elena tentou morder, mas não muito forte. O dedo de
Damom localizou a afiada curva de uma presa e Elena a mordeu, dando
um mordisco parecido com o de um gatinho.
O rosto de Damom era inexpressivo, a olhada dura.
-Sabe onde está? – perguntou.
Elena olhou ao seu redor. Árvores.
-No bosque – disse com desconsideração, voltando a olha-lo.
-E quem é esse?
Ela seguiu a direção que indicava seu dedo.
-Stefan – respondeu com indiferença. – Seu irmão.
-E quem sou eu? Sabe quem eu sou?
Ela sorriu, mostrando seus dentes afiados.
-Claro que sei. Você é Damon, e eu te amo.
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Capitulo 2
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A voz de Stefan era tranqüilamente selvagem.
-Era isso que queria, não era, Damon? E agora o tem. Tinha que
transforma-la em uma de nós, como você. Não foi suficiente só mata-la.
Damon não afastou a vista dele. Estava olhando Elena intensamente
através dos olhos encobertos, ainda de joelhos segurando seu queixo.
-É a terceira vez que diz isso e estou começando a me cansar disso –
comentou levemente. Despenteado, com pouco fôlego, ainda assim se
encontrava consciente, sob controle. – Elena, por acaso eu matei você?
-É claro que não – disse Elena, entrelaçando seus dedos na mão livre.
Estava começando a ficar impaciente. De todo modo, do que estavam
falando? Ninguém havia sido assassinado.
-Nunca pensei que fosse um mentiroso – disse Stefan a Damon, a
amargura de sua voz não mudou. – Pensei em quase todas as outras
coisas, mas não isso. Nunca escutei antes você mesmo se encobrir.
-Em um minuto mais – disse Damon – vou perder meu temperamento.
“Que mais pode me fazer?” disse Stefan em resposta. “Me matar seria uma
misericórdia”.
-Minha misericórdia acabou há um século – disse Damon em voz alta.
Finalmente soltou o queixo de Elena. – O que se lembra de hoje? –
perguntou a ela.
Elena falou cansadamente, como uma criança recitando a lição tão odiada.
-Hoje foi do Dia do Fundador.
Flexionou seus dedos nele, ela olhou Damon. Era o máximo que podia
recordar por si mesma, mas não era o suficiente. Com esforço, tratou de se
lembrar de algo mais.
-Havia alguém no refeitório... Caroline – ela lhe ofereceu o nome, satisfeita.
– Ela ia ler meu diário na frente de todos, e isso era ruim porque... – Elena
se fundiu com suas memórias e se perdeu. – Não lembro porque, mas nós
a enganamos – ela sorriu para ele cautelosamente, conspiratoriamente.
-Oh, o “fizemos”, não é mesmo?
-Sim. E o tomaste dela. Fizeste por mim. – Os dedos de sua mão livre se
deslizaram por baixo de sua jaqueta, buscando a dura quina quadrada de
seu livro. – Porque você me ama – disse ela, encontrando-o e o arranhando
timidamente. – Você me ama, não é mesmo?
Houve um som tênue no centro da clareira. Elena se virou e viu que Stefan
havia virado seu rosto.
-Elena, o que aconteceu depois? – a voz de Damon a trouxe de volta.
-Depois? Depois tia Judith começou a discutir comigo. – Elena repensou
nisso por um momento e finalmente se deu de ombros. – Sobre... algo. Me
aborreci. Ela não é minha mãe. Ela não pode me dizer o que fazer.
A voz de Damon era seca.
-Não acredito que isso vá ser um problema agora. O que mais?
Elena suspirou pesadamente.
-Depois fui para o carro de Matt. – Ela mencionou o nome reflexivamente,
passando sua língua pelo canino. Nos olhos de sua mente, ela viu um
rosto atraente, cabelos loiros, ombros largos. – Matt.
-E aonde foi no carro de Matt?
-A ponte Wickery – disse Stefan, virando para eles. Seus olhos estavam
desolados.
-Não, não, a pensão – corrigiu Elena irritada. – Ia esperar por... mmm...
esqueci. De todos os modos, esperei ali. Então... então a tempestade
começou. Vento, chuva, tudo isso. Eu não gostava. Entrei no carro. Mas
algo vinha atrás de mim.
-Alguém vinha atrás de você – disse Stefan, olhando Damon.
-Algo – insistiu Elena.Ela teve o suficiente de interrupções. – Vamos até o
outro lado, só nós – disse a Damon, se ajoelhando de tal maneira que seu
rosto estivesse perto do dele.
-Em um minuto – disse ele. – Que tipo de coisa foi até você?
Ela retrocedeu, exasperada.
-Não sei que tipo de coisa! É algo que eu nunca tinha visto. Não como você
ou Stefan. Era... – as imagens se despedaçaram através de sua mente.
Névoa fluindo através do chão. O vento zunindo. Uma forma branca,
enorme, observando-a como se fosse feito da neblina. Postando-se sobre
ela como uma nuvem dirigida pelo vento.
-Talvez fosse só parte da tempestade – disse ela. – Mas pensei que queria
me machucar. Deixei aquele lugar. – Brincando com o zíper da jaqueta de
couro de Damon, ela sorriu secretamente e o olhou através de seus cílios.
Pela primeira vez, o rosto de Damon demonstrou emoções. Seus lábios se
retorceram em uma careta.
-E você se foi.
-Sim. Lembro que... alguém... me disse algo sobre água corrente. Coisas
ruins não podem cruza-la. Então que dirigi até Drowning Creek, através da
ponte. E então... – ela duvidou, franzindo o cenho, tratando de encontrar
uma sólida lembrança na nova confusão. Água, ela lembrava de água. E
alguém gritando. Mas nada mais. – Então o cruzei. – Ela concluiu no fim,
brilhantemente. – Devo ter feito já que estou aqui. E isso é tudo. Podemos
ir agora?
Damon não lhe respondeu.
-O carro ainda está no rio – disse Stefan. Ele e Damon se olharam entre
eles como dois adultos tendo uma discussão sobre a cabeça de uma
criança incomprendida, suas hostilidades foram suspensas por um
momento. Elena sentiu aumentar sua raiva. Ela abriu a boca, mas Stefan
continuou. – Bonnie, Meredith e eu o encontramos. Fui para debaixo
d’água e o vi, mas para então...
-Para então o que? – Elena continuou.
Os lábios de Damon se curvaram simuladamente.
-E você se rendeu diante dela? Você de todas as pessoas, devia ter pensado
no que aconteceria. Ou a idéia era tão repugnante para você que sequer a
considerou? Você preferia que ela estivesse realmente morta?
-Não tinha pulso nem respiração! – gritou Stefan. – E ela nunca teve
sangue o suficiente para transformá-la! – seus olhos se endureceram. –
Não de mim, pelo menos.
Elena abriu a boca de novo, mas Damon pousou o dedo nela para mantêla
calada. E disse sem problemas:
-E esse é o problema agora. Ou é tão cego para ver isso agora, também?
Me disse que veio por ela; olhe você mesmo para ela agora. Está em
choque, irracional. Oh, sim, até eu admito – se deteve para mostrar um
sorriso cego antes de continuar. – É mais do que a confusão normal depois
da transformação. Ela precisa de sangue, sangue humano, ou seu corpo
não terá força para terminar a transformação. Ela morrerá.
“A quem você se refere como irracional?” Elena pensou indignada.
-Estou bem – disse ela ao redor dos dedos de Damon. – Estou cansada,
isso é tudo. Ia dormir quando ouvi vocês brigando e vim para ajuda-lo. E
você nem sequer me deixou mata-lo – ela terminou desgostosa.
-Sim, por que não deixou? – disse Stefan. Estava olhando Damon como se
pudesse criar uma sepultura através dele com seus olhos. Qualquer rastro
de cooperação de sua parte havia desvanecido. – Era o mais fácil a se
fazer.
Damon se postou atrás dele, de maneira repentina e furiosa, sua própria
animosidade fluindo para se encontrar com a de Stefan. Respirava rápida e
ligeiramente.
-Talvez não me agradem as coisas fáceis – ele chiou. Então ele pareceu
ganhar controle de si mesmo uma vez mais. Seus lábios se curvaram em
irritação, e acrescentou. – Coloque desta maneira, meu querido irmão: Se
alguém terá a satisfação de mata-lo, esse alguém será eu. Ninguém mais.
Planejo terminar o serviço por mim mesmo. E é algo em que sou muito
bom, acredite.
-Já nos mostrou – disse Stefan calidamente, como se cada palavra o
adoecesse.
-Mas esta – disse Damon, virando para Elena com os olhos brilhantes – eu
não matei. Por que deveria? Podia tê-la transforma no momento que eu
quisesse.
-Talvez porque ela acabasse de se comprometer em casamento com
alguém.
Damon levantou a mão de Elena, ainda enrolada com a sua. No terceiro
dedo um anel de outro brilhou, com uma profunda pedra azul. Elena o
observou, recordando vagamente tê-lo visto antes. Então se encolheu de
ombros e se inclinou até Damon cansadamente.
-Bueno, agora – disse Damon olhando para baixo dela –, isso não parece
ser um problema, não é mesmo? Acho que ela deveria está agradecida de
ter esquecido você – ele olhou Stefan com um sorriso desagradável. – Mas
o encontraremos uma vez que ela ganhe consciência de si mesma.
Podemos perguntar qual de nós ela escolherá. Ok?
Stefan sacudiu sua cabeça.
-Como é possível que você sugira isso? Depois do que aconteceu... – sua
voz se cortou.
-Com Katherine? Posso dizer se você não pode. Katherine tomou uma
decisão estúpida e ela pagou o preço por isso. Elena é diferente, ela
conhece sua própria mente. Mas não importa se concorda – acrescentou,
ignorando a nova proposta de Stefan. – O fato é que ela está fraca agora e
precisa de sangue. Vou fazer que ela o tenha e então procurarei quem fez
isso a ela. Pode vir ou não, como preferir. – Se levantou, levantando Elena
com ele. – Vamos.
Elena foi voluntariamente, agradecida por poder se mover. Os bosques
estavam interessantes esta noite, nunca havia notado antes. As corujas
mandavam seus tristes e aterradores prantos através das árvores e os
ratos se escondiam longe de seus pés. O ar estava frio nos remendos, como
se congelasse primeiro os vazios e profundos do bosque. Notou que era
fácil se mover silenciosamente ao lado de Damon através da folhas secas,
era só questão se ser cuidadoso onde fosse pisar. Não olhou para trás para
saber se Stefan os estava seguindo.
Reconheceu o lugar onde deixaram o bosque. Havia estado nesse lugar
mais cedo. Agora, entretanto, havia um tipo de atividade frenética em
andamento: luzes vermelhas e azuis brilhavam nos carros, projetores
iluminavam as sombrias silhuetas escuras das pessoas. Elena os olhou
cuidadosamente. Vários eram familiares. Essa mulher, por exemplo, de
rosto magro e olhos ansiosos – tia Judith? E o homem alto ao lado dela, o
noivo de tia Judith, Robert?
“Deve haver alguém mais com eles”, pensou Elena. Um garoto de cabelo
pálido como o de Elena. Mas, por mais que tentou, não pôde conjurar
nome algum.
As duas garotas abraçadas, paradas em um círculo de oficiais, “lembro
delas”, pensou. A pequena de cabelo ruivo que chorava era Bonnie. A alta
com cabelos escuros varridos, Meredith.
-Mas ela não está na água – dizia Bonnie a um homem de uniforme. Sua
voz tremia a beira da histeria.- Vimos Stefan sair. Já disse a vocês mais de
cem vezes.
-E a deixaram aí com ele?
-Tivemos que deixa-lo. O temporal estava piorando e algo se aproximava...
-Esqueça isso – Meredith a interrompeu. Ela soava ligeiramente mais
calma que Bonnie. – Stefan disse que se ele tivesse que deixa-la, a deixaria
debaixo dos salgueiros.
-E onde está Stefan agora? – perguntou outro oficial uniformizado.
-Não sabemos. Voltamos para ajuda-lo. Provavelmente nos seguiu. Mas
sobre o que aconteceu com Elena... – Bonnie se virou e cravou os ombros
nos ombros de Meredith.
“Estavam aborrecidas comigo”, lembrou Elena. Que estúpido de sua parte.
Posso deixar isso claro, de qualquer modo. Ela começou a seguir a luz,
mas Damon a impediu do regresso. Ela o olhou, ferida.
-Não dessa maneira. Escolhe quem quer e o atraímos para fora – disse.
-Quem eu queira para que?
-Para se alimentar, Elena. É uma caçadora agora. Essas são suas presas.
Elena pressionou sua língua contra um canino duvidosamente. Nada ali
fora luzia como comida para ela. Entretanto, porque Damon disse, se
inclinou a lhe dar o beneficio da duvida.
-O que você escolher – disse obrigadamente.
Damon inclinou sua cabeça para trás, os olhos se cerraram inspecionando
a cena como um expert avaliando uma pintura.
-Bem, o que acha de um par de bons pára-médicos?
-Não – disse uma voz atrás deles.
Damon observou levemente sobre seus ombros Stefan.
-Por que não?
-Porque já teve ataques demais. Talvez precise de sangue humano, mas ela
não tem por que caça-los.
O rosto de Stefan era cálido e hostil, mas havia um ar de determinação
sombria nele.
-Há alguma outra maneira? – perguntou Damon ironicamente.
-Você sabe que sim. Encontrar alguém que esteja disposto... alguém que
possa ser influenciado a estar disposto. Alguém que faria por Elena e que
seja o suficiente forte para manejar isso, mentalmente.
-E suponho que você saiba onde podemos encontrar tal pessoa de
virtudes.
-A leve a escola. Encontrarei vocês lá – disse Stefan e desapareceu.
Deixou a atividade ainda em movimento, as luzes iluminando, as pessoas
murmurando. Enquanto as deixavam, Elena notou algo estranho. No meio
do rio, iluminado por refletores, se encontrava um automóvel. Estava
completamente submergido exceto pela parte dianteira que se encontrava
atracado fora da água.
“Que lugar tão bobo para se estacionar um carro”, pensou ela, enquanto
seguia Damon de volta ao bosque.
Stefan começava a sentir de novo.
Doía. Pensou que passava de sentir dor, a sentir qualquer coisa. Quando
tirou o corpo sem vida de Elena da água escura, pensou que nada podia
machuca-lo de novo porque nada podia se igualar aquele momento.
Estava errado.
Se deteve e parou com seu braço bom encostado em um carro, cabisbaixo,
respirando profundamente. Quando a neblina vermelha começou a se
dissipar e pôde ver de novo, seguir adiante, mas a dor da queimadura no
peito continuou sem diminuir nem um pouco. “Pare de pensar nela”, disse
a si mesmo, sabendo que isso não serviria de nada.
Mas não estava realmente morta. Isso não contava para algo? Pensou que
nunca voltaria a escutar sua voz de novo, a sentir sua pele...
E agora, quando ela o tocou, queria mata-lo.
Se deteve de novo, enjoando-se, temeroso que fosse adoecer.
Vê-la dessa forma era uma tortura pior do que vê-la jazendo fria e morta.
Talvez essa seja a razão porque Damon a deixou viver. Talvez essa fosse a
vingança de Damon.
E talvez Stefan só devesse fazer o que havia planejado fazer depois de
matar Damon. Esperar até o amanhecer e tirar o anel de prata que os
protegia da luz do sol. Parado, banhado no duro abraço daqueles raios até
queimarem da sua carne até o ossos e acabasse a dor de uma vez por
todas.
Mas sabia que não o faria. Enquanto Elena caminhasse pela terra, nunca
a deixaria. Mesmo que o odiasse, mesmo se ela amaldiçoasse seu espírito.
Faria qualquer coisa que estivesse em suas mãos para mantê-la a salvo.
Stefan parou na pensão. Precisava se limpar antes de deixar que os
humanos o vissem. Em seu quarto, limpou o sangue de seu rosto e de seu
pescoço e examinou seu braço. O processo de cura havia começado e com
concentração pôde acelerar o processo. Estava consumindo sua força com
rapidez; a briga com seu irmão o havia debilitado. Mas isso era importante.
Não devido a dor – notou timidamente – sim porque precisava se adaptar.
Damon e Elena esperavam fora da escola. Pôde sentir a impaciência de seu
irmão e a nova presença de Elena na escuridão.
-É melhor que isso funcione – disse Damon.
Stefan não disse nada. O auditório da escola era outro centro de comoção.
As pessoas pareciam ter desfrutado o baile do Dia do Fundador; de fato,
aqueles que permaneciam através da tempestade se encontravam postados
nos arredores ou em pequenos grupos conversando. Stefan olhou na porta,
buscando com sua mente uma presença em particular.
O havia encontrado. Uma cabeça loira estava sentada em uma mesa no
canto.
Matt.
Matt continuou de frente e olhou ao redor, confuso. Stefan o convidou a
sair. “Precisava de ar fresco”, pensou, insinuando a sugestão no
subconsciente de Matt. Sente a necessidade de sair por um momento.
Para Damon, parado invisível justamente atrás da luz, ele disse: “leve-a a
escola, a sala de fotografia. Ela sabe onde é. Não se mostrem até que eu os
diga”. Então retrocedeu e esperou que Matt aparecesse.
Matt saiu, seu rosto desenhado voltado para o céu sem lua. Começou
violentamente quando Stefan começou a falar.
-Stefan! Está aqui! – desespero, esperança e horror começava a dominar
seu rosto. Correu até Stefan. – Eles a... a trouxeram de volta? Há alguma
notícia?
-O que ouviu exatamente?
Matt o observou por um momento antes de responder.
-Bonnie e Meredith vinheram dizendo que Elena havia ido a ponte Wickery
em meu carro. Disse que ela... – pausou um momento e soltou – Stefan
não é verdade, é? – seus olhos começavam a umedecer.
Stefan olhou para o outro lado.
-Oh, Deus – disse Matt com dificuldade. Virou de costas para Stefan,
pressionando a palmas de suas mãos contra seus olhos. – Não posso
acreditar. Não é verdade. Não pode ser verdade.
-Matt... – tocou o ombro do garoto.
-Sinto muito – a voz de Matt era áspera e rude. – Deve estar atravessando
um inferno e aqui estou eu, piorando as coisas.
“Mas do que imagina”, pensou Stefan, sua mão se afastou. Veio com a
intenção de usar seus poderes para persuadir Matt. Agora isso era
impossível. Não podia faze-lo, não a seu primeiro e único amigo humano
que havia tido naquele lugar.
Sua outra única opção era dizer a verdade a Matt. Deixar que Matt
tomasse sua própria decisão, que soubesse tudo a respeito.
-Se houvesse algo que pudesse fazer por Elena neste momento – disse -,
você faria?             
Matt estava muito perdido em suas emoções para perguntar que tipo de
pergunta estúpida era essa.
-Qualquer coisa – disse quase com raiva, cobrindo com sua manga seus
olhos. – Faria qualquer coisa por ela.
Olhou para Stefan com algo de desafio. Sua respiração tremia.
“Ótimo!”, pensou Stefan, sentindo o repentino profundo abismo em seu
estômago. “Ganhou uma viagem para a Zona do Crepúsculo”.
-Vem comigo – disse. – Tenho uma coisa para ti amostrar.



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Capitulo 3
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Elena e Damon aguardavam na sala escura. Stefan pôde sentir sua
presença no pequeno anexo enquanto abria a porta da sala de fotografia
que estava aberta e deixava Matt entrar.
-Pensei que estas portas devessem estar fechadas – disse Matt enquanto
Stefan ligava o interruptor que acendi a luz.
-Estavam – disse Stefan. Não sabia o que mais dizer para preparar Matt
para o que viria. Nunca antes havia revelado tão deliberadamente para um
humano.
Se deteve, quieto, até que Matt virou e o olhou. A sala de aula era fria e
silenciosa e o ar parecia pesado. Enquanto o momento se aproximava, viu
a expressão de Matt mudar lentamente de uma expressão desconcertante
de dor a uma de moléstia.
-Não estou entendendo – disse Matt.
-Sei que você não entende – foi até Matt, tirou de propósito as barreiras
que ocultavam seus poderes a percepção humana. Viu a reação no rosto
de Matt enquanto a moléstia se fundia em medo. Matt falava e sacudia a
cabeça, sua respiração começava a acelerar.
-Mas o que... – disse, sua voz se agravava.
-Possivelmente há um monte de coisas que deve estar pensando sobre
mim – disse Stefan. – O por que uso óculos escuros fortes. Porque não
como. Por que meus reflexos são tão rápidos.
Matt tinha suas costas contra o quadro negro agora. Sua garganta se
fechou como se estivesse tragando. Stefan, com seus sentidos de predador,
pôde escutar o coração de Matt palpitar deliberadamente.
-Não – disse Matt.
-Devia ter adivinhado, devia ter perguntado a você mesmo o que me fazia
tão diferente de todos os outros.
-Não. Quero dizer... Não importa. Me mantenho fora das coisas que não
são da minha importância.
Matt se dirigia a porta, seus olhos se cravaram nela em um movimento
vagamente perceptível.
-Não faça isso, Matt. Não quero machucar você, mas não pode ir agora.
Ele pôde sentir vagamente a necessidade de liberar a emanação de Elena
às escondidas. “Espera”, disse a ela.
Matt se manteve quieto, renunciando qualquer tentativa de se afastar.
-Se quer me assustar, já conseguiu – disse em voz baixa. – O que você
quer mais?
“Agora”, Stefan disse a Elena. Disse a Matt:
-Vire.
Matt virou. E sufocou um grito.
Elena se manteve ali, mas não a Elena da tarde, quando Matt a viu pela
última vez. Agora seus pés estavam descalços debaixo da bainha de seu
longo vestido. As finas pregas do vestido branco que ela carregava se
endureceram como cristais de gelo que brilhavam na luz. Sua pele, sempre
linda, aparentava um brilho invernal e seu cabelo dourado pálido parecia
sobreposto por um brilho prateado. Mas a verdadeira diferença estava em
seu rosto. Esses olhos de cor azul profundo estavam fechados
profundamente, praticamente com um aspecto dorminhoco e mesmo
assim pareciam despertos de maneira pouco natural. E uma olhada de
pretensão sensual e ansiedade se fez ao redor de seus lábios. Ela estava
mais linda do que nunca havia sido em sua vida, mas era uma beleza
aterradora.
Enquanto Matt olhava, paralizado, a rosada língua de Elena lambeu os
lábios.
-Matt – disse, persistindo sobre a primeira consoante do nome. Logo
sorriu.
Stefan ouviu a respiração interna incrédula de Matt e o soluço próximo
quando finalmente se afastou dele.
“Está bem”, disse, enviando um pensamento a Matt em um aumento de
Poder. Enquanto Matt se aproximava bobamente dele, com os olho abertos
em choque, acrescentou:
-Então agora você sabe.
A expressão de Matt dizia que ele não queria saber, e Stefan pôde ver a
reação em seu rosto. Damon deu um passo para fora junto a Elena e se
moveram um pouco para a direita, acrescentando sua presença a
carregada atmosfera da sala.
Matt estava rodeado. Os três se fecharam ao redor dele, inumanamente
bonitos, inatamente ameaçadores.
Stefan pôde cheirar o medo de Matt. Era o medo desamparado de um
coelho para a raposa, de um rato para a coruja. E Matt estava certo de ter
medo. Eles eram os caçadores e ele era a presa. Seu trabalho na vida era
mata-lo.
E justamente agora os instintos estavam saindo do controle. Os instintos
de Matt he diziam para se assustar e correr, e eram reflexos disparados na
mente de Stefan. Quando a presa corre, o predador o caça, simples assim.
Os três predadores foram apresentados, um segundo, e Stefan sentiu que
não poderia ser responsável das conseqüências se Matt corresse
desesperadamente.
“Não queremos machuca-lo”, disse a Matt. “É Elena quem precisa de você,
e o que precisa não o deixará permanentemente prejudicado. Nem sequer
terá que o machucar, Matt”. Mas os músculos de Matt permaneciam
tensos como se fosse escapar e Stefan se deu conta que os três o estavam
acercando, movendo-se cada vez mais perto, prontos para impedir
qualquer escape.
“Você disse que faria qualquer coisa por Elena”, recordou a Matt
desesperadamente e viu que tomou uma decisão.
Matt liberou sua respiração, a tensão se drenou de seu corpo.
-Tem razão, eu disse – sussurrou. Visivelmente se abraçou antes de
continuar. – Do que precisa?
Elena se inclinou para frente e pousou um dedo no pescoço de Matt,
marcando o caminho da artéria.
-Não essa – disse Stefan rapidamente. – Você não quer mata-lo. Diga,
Damon – acrescentou quando Damon não fez nenhum esforço para
impedir. “Diga”.
-Tente aqui ou aqui – Damon apontou com clinica eficiência, sustentando
o queixo de Matt para cima. Era o suficientemente forte para que Matt não
pudesse romper o toque e Stefan sentiu ressurgir o pânico.
“Confia em mim, Matt”. Se moveu para trás do corpo humano. “Mas tem
que ser sua decisão”, terminou, lavado repentinamente em compaixão.
“Pode mudar de opinião”.
Matt duvidou e então falou entre dentes:
-Não. Ainda quero ajuda-la. Quero ajudar você, Elena.
-Matt – sussurrou, os olhos azuis como um fio de diamante se pousaram
sobre ele. Então mudou a vista para sua garganta até seus lábios
parcialmente faminta. Não havia sinal de incerteza como que ela
demonstrou quando Damon lhe sugeriu para se alimentar de páramédicos.
– Matt – sorriu de novo e então o golpeou como uma ave
caçadora.
Enquanto Matt trabalhava para relaxar, uma ajuda inesperada veio de
Elena, que irradiava pensamentos cálidos e felizes de um filhote de lobo
sendo alimentado. Obteve a técnica de mordida correta na primeira
tentativa e se encheu de orgulho inocente e com crescente satisfação
enquanto as pulsadas afiadas de fome cessavam. E com apreciação por
Matt, Stefan se deu conta, com um repentino choque de ciúmes. Ela não
odiava Matt nem queria mata-lo, porque não aparentava nenhum risco a
Damon. Era aficionada por Matt.
Stefan a deixou tomar o necessário enquanto fosse seguro para Matt e
então interveio. “É o suficiente, Elena. Você não quer machuca-lo”.Mas
teve que tomar os esforços dele, Damon, e um tonto Matt para tira-la de
sua presa.
-Ela precisa descansar – disse Damon. – A levarei a algum lugar onde fique
segura. – Não estava perguntando a Stefan, estava anunciando.
Enquanto se afastavam, sua voz mental acrescentou, para os ouvidos de
Stefan: “Ainda não me esqueci da maneira em que me atacou, irmão.
Falaremos disso depois”.
Stefan o olhou. Notou como os olhos de Elena permaneciam sob Damon,
como o seguia sem perguntar nada. Mas agora estava fora de perigo; o
sangue de Matt havia lhe dado a força que precisava. Isso era tudo do que
Stefan tinha que fazer, e disse a si mesmo que era tudo o que importava.
Virou para observar a expressão atordoada de Matt. O garoto humano se
afundou em uma das cadeiras de plástico e ficou olhando para frente.
Então seus olhos alcançaram os de Stefan e se observaram mutuamente
de uma maneira lúgubre.
-Então – disse Matt – agora eu sei – sacudiu sua cabeça virando-a de
maneira discreta. – Mas ainda não posso acreditar – murmurou. Seus
dedos pressionaram cautelosamente o lado do pescoço e se sacudiu de
dor. – Esse cara... Damon. Quem é ele?
-Meu irmão mais velho – disse Stefan sem emoção. – Como sabe o nome
dele?
-Estava na casa de Elena semana passada. O gato brigou com ele – Matt
se deteve, recordando algo claramente. – E Bonnie teve algum tipo de
desajuste psíquico.
-Teve uma premonição? O que ela disse?
-Ela disse... ela disse que a morte estava na casa.
Stefan ficou observando a porta por onde Damon e Elena haviam passado.
-Estava certa.
-Stefan, o que está acontecendo? – um tom de apelação entrou na voz de
Matt. – Continuo sem entender. O que aconteceu com Elena? Vai ser
assim para sempre? Não há nada que se possa fazer a respeito?
-Ser como? – disse Stefan brutalmente. – Desorientada? Um vampiro?
Matt olhou para um lado.
-Ambos.
-Primeiro, ela ficará mais racional agora que se alimentou. É isso que
Damon pensa de qualquer forma. Por outro lado, só há uma coisa que se
pode fazer para mudar sua condição. – Enquanto os olhos de Matt se
abriram com esperança esboçada, Stefan continuou. – Pode pegar uma
estaca de madeira e crava-la em seu coração. Então ela já não será uma
vampira nunca mais. Simplesmente estará morta.
Matt se levantou e foi para a janela.
-Não poderá mata-la, entretanto, por que isso já passou. Se afogou no rio,
Matt. Mas devido a quantidade de sangue suficiente de mim... – pausou
para clarear sua voz – e, ainda, por meu irmão, ela se transformou em vez
de morrer. Despertou como uma caçadora, como nós. Isso será tudo que
ela será agora.
Ainda de costas, Matt respondeu:
-Sempre soube que havia algo de diferente em você. Disse a mim mesmo
que era simplesmente porque era de outro continente – sacudiu sua
cabeça de novo em auto-desprezo. – Mas, dentro de mim sabia que era
algo mais. E algo me dizia para continuar confiando em você. E foi o que
eu fiz.
-Como quando foi comigo para conseguir verbena.
-Sim. Como isso. – Acrescentou. – Pode me dizer agora para que diabos
era?
-Para a proteção de Elena. Queria manter Damon longe dela. Mas parece
que isso não era o que ela queria - não pôde esconder a dor, a crua
traição, em sua voz.
Matt virou.
-Não a julgue antes de saber tudo o que aconteceu, Stefan. É algo que eu
aprendi.
Stefan estava assustado; então lhe mostrou um pequeno sorriso sem
graça. Como o par de Elena, ele e Matt estavam na mesma posição agora.
Se perguntou se seria tão legal quanto Matt tinha sido. Levar sua derrota
como um cavalheiro.
Não pensou assim.
Fora, um som começou a soar. Era inaudível aos ouvidos humanos e
Stefan quase o ignorou até que as palavras penetraram em sua
consciência.
Então lembrou do que havia feito na escola há apenas algumas horas. Até
agora, havia esquecido tudo sobre Tyler Smallwood e seus rudes amigos.
Agora sua memória voltava; vingança e horror fecharam sua garganta.
Havia estado fora de sua mente por causa da dor sobre Elena e sua razão
se escapara pela pressão. Mas essa não era a desculpa para o que havia
feito. Estavam todos mortos? Teria ele, quem jurara há muito tempo não
voltar a matar ninguém, assassinado três pessoas nesse dia?
-Stefan, espera. Aonde vai?
Como não respondeu, Matt o seguiu, quase correndo para alcança-lo, fora
do edifício principal da escola havia o piso escuro. Do outro lado do
campo, o sr. Shelby estava parado na cabana Quonset.
O rosto do zelador estava cinza e coberta de líneas de horror. Parecia que
tentava gritar, mas só um pequeno gemido saiu de sua boca. Usando o
cotovelo para abrir espaço, Stefan olhou a sala e teve um curioso
sentimento de deja vu.
Parecia a sala do Carniceiro Louco da Casa Amaldiçoada. Exceto que isto
não era uma montagem feita para os visitantes. Era real.
Os corpos estavam espalhados por todos os lados, em meio a fragmentos
de madeira e vidro da janela quebrada. Toda a superfície visível estava
coberta por sangue marrom e sinistro enquanto secava. E uma olhada nos
corpos revelava o por que: cada um deles tinha um par de lívidas feridas
púrpuras em seus pescoços. Exceto por Caroline: seu pescoço não tinha
marcas, mas seus olhos estavam brancos e observando.
Atrás de Stefan, Matt estava hiperventilando.
-Stefan, Elena não... ela não...
-Silêncio – respondeu Stefan bruscamente. Olhou de novo o sr. Shelby,
mas o zelador havia tropeçado no carrinho de vassouras e panos e estava
inclinado sobre ele. O vidro grunhia debaixo dos pés de Stefan enquanto
cruzava o piso para se inclinar sobre Tyler.
Não estava morto. Um sentimento de alivio explodiu em Stefan quando se
deu conta. O peito de Tyler se movia debilmente e quando Stefan levantou
a cabeça do garoto seus olhos se abriram um pouco, cristalinos e sem
vista.
“Você não se lembra de nada”, disse Stefan mentalmente. Mesmo tendo
dito, se perguntou por que se importava. Deveria deixar Fell’s Church,
corta-lo todo agora e nunca mais voltar.
Mas não podia. Não enquanto Elena estivesse ali.
Reuniu a mente inconsciente do resto das vitimas dentro da sua mente e
os disse o mesmo, alimentando no mais profundo de seus cérebros. Não
recordavam quem os atacou. A noite anterior estava completamente em
branco.
Enquanto fazia, sentiu seus Poderes mentais tremerem como músculos
cansados. Estava perto do esgotamento.
Fora, o sr. Shelby encontrou por fim sua voz e estava gritando. Cansado,
Stefan deixou cair a cabeça através de seus dedos de volta ao piso e virou.
Os lábios de Matt estavam contraídos para dentro, seu nariz se queimava,
como se tivesse cheirado algo desagradável. Seus olhos eram os olhos de
um estranho.
-Elena não pode – sussurrou. – Você o fez.
“Silêncio”, Stefan o empurrou, passando por um lado até o agradável frio
da noite, colocando distância entre ele e a sala, sentindo o ar frio em sua
pele quente. Passos correndo pelas redondezas do refeitório lhe diziam que
alguns humanos haviam ouvido por fim os gritos do zelador.
-Você o fez, não é mesmo? – Matt havia seguido Stefan fora do campo. Sua
voz dizia que tentava entende-lo.
Stefan se virou para ele.
-Sim, o fiz – grunhiu. Olhava Matt até embaixo sem ocultar nenhuma de
suas ameaças de aborrecimento em seu rosto. – Eu disse a você, Matt,
somos caçadores. Assassinos. Vocês são as ovelhas, nós somos os lobos. E
Tyler estava pedindo por isso cada dia desde que cheguei.
-Pedindo por um soco na cara, sim. Como se não tivesse feito isso antes.
Mas... isso? – Matt cessou seu passo, olhando nos olhos de Stefan, sem
medo. Tinha coragem psíquica; tinha que admitir isso. – E nem sequer
sente pena? Nem sequer se arrepende disso?
-Por que deveria? – disse Stefan friamente, vagamente. – Você se arrepende
quando como bistecas demais? Sente pena da vaca? – pôde observar a
olhada de incredibilidade doente e o pressionou, levando a dor em seu
peito mais profundamente. Era melhor que Matt se mantivesse afastado
nesses momentos, muito afastado. Ou Matt poderia terminar como aqueles
corpos na cabana de Quonset. – Sou o que sou, Matt. E se não pode lidar
com isso, deveria se manter fora.
Matt se manteve de frente para ele por um momento, a incredibilidade
doente se transformou lentamente em desilusão doente. Os músculos ao
redor de sua mandíbula se destacaram. Então, sem dizer uma palavra,
virou os calcanhares e se afastou caminhando.
Elena estava no cemitério.
Damon a havia deixado ali, exaltando que ela deveria ficar ali até que ele
voltasse. Entretanto, não queria ficar sentada. Se sentia cansada, mas não
realmente com sono e o novo sangue a afetava como um relâmpago de
cafeína. Queria sair e explorar.
O cemitério estava cheio de atividade apesar de que não havia humanos a
vista. Uma raposa observava sigilosamente pelas sombras através do
caminho do rio. Pequenos roedores caminhavam nos túneis embaixo o
longo e frondoso pasto ao redor das lapides, guinchando e correndo. Uma
coruja voava quase silenciosamente através da velha igreja onde cantava
em um campanário um misterioso grito.
Elena se levantou e o seguiu. Isso era muito melhor do que se esconder no
pasto como um rato ou um roedor. Olhou ao redor da velha igreja
interessada usando seus afiados sentidos para examina-la. A maior parte
do teto havia se desprendido e só três muros estavam de pé, mas o
campanário se mantinha como um monumento entre os escombros.
Em um lado estava a tumba de Thomas e Honoria Fell, como um longo
caixão. Elena olhava com seriedade por baixo dentro dos rostos de
mármore da tampa de suas estatuas. Permaneciam em tranqüilo repouso,
seus olhos fechados, suas mãos fechadas ao redor de seus peitos. Thomas
Fell parecia sério e um pouco inconformado, mas Honoria parecia
totalmente triste. Elena pensou de maneira perdida em seus próprios pais,
repousando lado a lado no moderno cemitério.
“Irei para casa, é para lá onde vou”, pensou. Tinha se lembrado do lugar.
Podia desenha-lo agora: seu bonito quarto com cortinas azuis e moveis de
madeira cor cereja e sua pequena lareira. E algo importante debaixo do
piso de seu closet.
Encontrou seu caminho na rua Maple pelo instinto que corria
profundamente por sua memória, deixando que seus pés a guiassem. Era
uma casa velha, muito velha, com um grande pórtico e grandes janelas na
frente. O carro de Robert estava estacionado na entrada.
Elena caminhou até a porta principal e então se deteve. Havia uma razão
pela qual as pessoas não deviam vê-la, apesar de que não podia se lembrar
qual era o motivo no momento. Duvidou e então subiu agilmente a árvores
de galhos até a janela de seu quarto.
Mas não ia ser capaz de entrar sem ser notada. Uma mulher estava
sentada na cama com o quimono de seda vermelha de Elena em sua volta,
olhando-o. A tia Judith. Robert estava parado no vestíbulo, falando com
ela. Elena notou que podia escutar o murmúrio de vozes mesmo através do
vidro.
-... fora amanhã de novo – estava dizendo. – Enquanto não há tempestade.
Irão atrás em cada centímetro do bosque e a encontrarão, Judith. Você vai
ver. – A tia Judith não disse nada e continuava soando cada vez mais
desesperada. – Não podemos perder as esperanças, não importa o que as
garotas digam...
-Não adianta, Bob – tia Judith havia levantado sua cabeça finalmente e
seus olhos estavam vermelhos, mas secos. – Não adianta nada.
-Os esforços para o resgate? Não quero vê-la falando desse jeito – se
sentou ao lado dela.
-Não, não é só isso... Apesar do que sei, no coração, eu sei que não vamos
encontra-la viva. Me refiro... Tudo. Nós. O que aconteceu foi nossa culpa...
-Não é verdade. Foi um acidente muito horrível.
-Sim, mas a deixamos passar. Se não houvéssemos sido tão duros com
ela, nunca teria dirigido só nem tinha ultrapassado a tempestade. Não,
Bob, não tente me calar; quero que me escute. – Tia Judith tomou um
profundo suspiro e continuou. – Tampouco foi só hoje. Elena estava tendo
problemas já faz muito tempo. Mas por estar preocupada comigo mesma –
conosco – para lhe dar um pouco de atenção. Posso enxergar isso agora. E
agora que Elena... se foi... não quero que aconteça o mesmo com
Margareth.
-O que está dizendo?
-Estou dizendo que não posso em casar com você, não agora, como
havíamos planejado. Talvez nunca – sem voltar a olha-lo, disse
suavemente. – Margareth tem perdido tanto. Não quero que sinta que está
me perdendo também.
-Ela não perderá você. Ao contrario, ela estará ganhando alguém mais,
porque estarei aqui. Você sabe o que sinto por ela.
-Sinto muito, Bob, mas não consigo ver dessa maneira.
-Não pode estar falando sério. Depois de todo esse tempo que temos
passado aqui... depois de tudo que fizemos...
A voz de tia Judith era drenada e implacável.
-Estou falando sério.
Empoleirada na janela, Elena olhou Robert curiosamente. Uma veia
palpitava em seu rosto e ele estava avermelhado.
-Você se sentirá diferente amanhã.
-Não. Não é assim.
-Não estará pensando em...
-Eu estou pensando. Não me diga para mudar de idéia porque não vou
mudar.
Por um instante Robert olhou ao redor com incompreensiva frustração,
então sua expressão se obscureceu. Quando falou, sua voz era ampla e
fria.
-Entendo. Bom, se esta é a resposta final, então já estou indo.
-Bob – tia Judith virou, assustada, mas já estava fora da porta. Se
levantou, vacilante, como se não estivesse segura se deveria ir atrás dele
ou não. Seus dedos se amassaram no material vermelho que estava
segurando.
-Bob! – o chamou de novo, mais urgentemente, e se virou para jogar o
quimono na cama de Elena antes de ir atrás dele.
Mas no momento em que se virou, ficou boquiaberta, uma mão voou até
sua boca. Seu corpo inteiro ficou rígido. Seus olhos se cravaram em Elena
através do prateado do painel de vidro. Por um longo momento, olharam
uma a outra, sem nenhuma das duas se mover. A mão de tia Judith se
afastou da boca e começou a gritar.

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Capítulo 4
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Algo puxou Elena para longe da árvore e, uivando um protesto, ela caiu e
ficou de pé como um gato. Seus joelhos atingiram o chão um segundo
mais tarde e ficaram machucados.
Ela deu ré, os dedos fechados em garras para atacar quem quer que
tivesse feito isso. Damon deu um tapa em sua mão.
“Por que você me agarrou?” ela exigiu.
“Por que você não ficou onde eu te coloquei?” ele retrucou.
Eles olharam um para o outro, igualmente furiosos. Então Elena se
distraiu. A gritaria ainda continuava no andar de cima, aumentada agora
pelas pancadas e batidas na janela. Damon acotovelou-a contra a casa,
onde eles não podiam ser vistos de cima.
“Vamos nos afastas desse barulho,” ele disse meticulosamente, olhando
para cima. Sem esperar por uma resposta, ele pegou o braço dela. Elena
resistiu.
“Eu tenho que entrar lá!”
Você não pode.” Ele lhe lançou um sorriso de dentes arreganhados. “Eu
quero dizer literalmente. Você não pode entrar nessa casa. Você não foi
convidada.”
Momentariamente confusa, Elena deixou-o rebocá-la por alguns passos.
Então ela afundou seus calcanhares novamente.
“Mas eu preciso do meu diário!”
“O quê?”
“Está no armário, debaixo do piso de madeira. E eu preciso dele. Eu não
posso dormir sem o meu diário.” Elena não sabia porque ela estava
fazendo tanto estardalhaço, mas parecia importante.
Damon pareceu exasperado; então, seu rosto clareou. “Aqui,” ele disse
calmamente, seus olhos cintilando. Ele retirou algo de sua jaqueta.
“Pegue.”
Elena olhou sua oferta com desconfiança.
“É o seu diário, não é?”
“Sim, mas é o meu velho. Eu quero o meu novo.”
“Esse vai ter que servir, porque é tudo que você vai ganhar. Venha antes
que eles acordem a vizinhança inteira.” Sua voz tinha ficado fria e
comandadora novamente.
Elena avaliou o livro que ele segurava. Era pequeno, com uma capa de
veludo azul e um cadeado em latão. Talvez não a edição mais nova, mas
era familiar a ela. Ela decidiu que era aceitável.
Ela deixou Damon guiá-la para a noite.
Ela não perguntou para onde estavam indo. Ela não ligava muito. Mas ela
reconheceu a casa na Avenida Magnolia; era onde Alaric Saltzman estava
morando.
E foi Alaric que abriu a porta da frente, chamando Elena e Damon para
dentro.
O professor de história parecia estranho, contudo, e não parecia realmente
vê-los. Seus olhos estavam embaçados e moviam como um robô.
Elena lambeu seus lábios.
“Não,” Damon disse curtamente “Não é para morder esse. Há algo suspeito
nele, mas você deve ficar segura o bastante na casa. Eu já dormi aqui
antes. Aqui em cima.” Ele a guiou por um lance de escada para um ático
com uma pequena janela. Estava lotado com objetos armazenados: trenós,
esquis, uma rede. Bem no final, um velho colchão estava deitado no chão.
“Ele nem saberá que você está aqui de manhã. Deite-se.” Elene obedeceu,
assumindo uma posição que parecia natural para ela. Ela deitou de
costas, mãos dobrados sobre o diário que ela segurava perto de seu peito.
Damon derrubou uma peça de lanolina em cima dela, cobrindo seus pés
nus.
“Vá dormir, Elena,” ele disse.
Ele inclinou-se sobre ela, e por um momento ela achou que ele iria... fazer
alguma coisa.
Seus pensamentos estavam desorganizados demais. Mas os noturnos
olhos negros dele encheram sua visão. Então ele se afastou, e ela
conseguiu respirar novamente. A melancolia do ático assentou sobre ela.
Seus olhos se fecharam e ela dormiu.
Ela acordou lentamente, reunindo informação sobre onde ela estava,
pedaço por pedaço.
O ático de alguém, pelo que parecia. O que ela estava fazendo aqui?
Ratos ou camundongos estavam lutando em algum lugar entre as pilhas
de objetos colgados por lanolina, mas o som não a incomodava.
O traço mais fraco da luz pálida aparecia nas beiradas da janela tapada.
Elena empurrou seu cobertor improvisado e levantou-se para investigar.
Era definitivamente o ático de alguém, e não o de alguém que ela conhecia.
Ela sentia como se tivesse estado doente por um longo tempo e tivesse
acabado de acordar de sua doença. Que dia é hoje? ela se perguntou.
Ela conseguia ouvir vozes abaixo dela. Escada abaixo. Algo disse a ela para
ser cuidadosa e silenciosa. Ela ficou com medo de fazer algum tipo de
perturbação. Ela abriu a porta do ático calmamente sem fazer barulho e
cuidadosamente desceu a escada. Olhando para baixo, ela conseguia ver a
sala de estar. Ela a reconheceu; ela tinha sentado no otomano quando
Alaric Saltzman tinha dado uma festa. Ela estava na casa dos Ramsey.
E Alaric Saltzman estava lá embaixo; ela conseguia ver o topo da cabeça
cor de areia dele.
A voz dele a estarreceu. Após um momento ela percebeu que era porque
ele não soava estúpido ou idiota ou como Alaric geralmente soava na aula.
Ele não estava fluindo uma tagarelice psicótico, tampouco. Ele estava
falando fria e decisivamente com outros dois homens.
“Ela pode estar em qualquer lugar, até mesmo bem debaixo dos nossos
narizes. Mais provável fora da cidade, contudo. Talvez na floresta.”
“Por que na floresta?” disse um dos homens. Elena conhecia essa voz,
também, e aquele careca. Era o Sr. Newcastle, o diretor da escola.
“Lembre-se, as primeiras duas vítimas foram achadas perto da floresta,”
disse o outro homem.
Era o Dr. Feinberg? Elena pensou. O que ele estava fazendo aqui? O que
eu estou fazendo aqui?
“Não, é mais do que isso,” Alaric dizia. Os outros homens estavam
escutando-o com respeito, até mesmo com deferência. “A floresta está
conectada a isso. Eles podem ter um esconderijo lá, uma toca onde podem
entrar se forem descobertos. Se houver um, eu acharei.”
“Tem certeza?” disse o Dr. Feinberg.
“Tenho certeza,” Alaric disse brevemente.
“E é onde você acha que Elena está,” disse o diretor. “Mas ela ficará lá? Ou
ela voltará para a cidade?”
“Eu não sei.” Alaric marchou alguns passos e pegou um livro de uma
mesinha de centro, correndo seu dedão por ele distraidamente.
“Um jeito de descobrir é observar as amigas dela. Bonnie McCullough e
aquela garota de cabelos escuros, Meredith. As chances são de que elas
serão as primeiras a verem-na. É assim que geralmente acontece.”
“E uma vez que nós a tenhamos localizado?” Dr. Feinberg perguntou.
“Deixe isso comigo,” Alaric disse silenciosa e carrancudamente. Ele fechou
o livro e o derrubou na mesinha de centro com um som
perturbadoramente conclusivo.
O diretor espiou seu relógio. “É melhor eu ir andando; a cerimônia começa
as dez. Presumo que ambos estarão lá?” Ele parou a caminho da porta e
olhou para trás, sua postura irresoluta. “Alaric, espero que cuide disso.
Quando eu te chamei, as coisas não tinham chegado a esse ponto. Agora
eu estou começando a me perguntar–”
“Eu consigo cuidar disso, Brian. Eu te disse; deixe comigo. Você prefereria
ter a Robert E. Lee em todos os jornais, não apenas como cenário da
tragédia mas também como ‘A Escola Mal-Assombrada do Condado de
Boone.’? Um lugar de reunião para demônios? A escola onde os mortosvivos
andam? É esse o tipo de publicidade que você quer?”
O Sr. Newcastle hesitou, mordendo seu lábio, então acenou, ainda
parecendo infeliz. “Tudo bem, Alaric. Mas faça isso rápido e de forma
limpa. Te verei na Igreja.” Ele saiu e o Dr. Feinberg o seguiu.
Alaric ficou de pé lá por algum tempo, aparentemente encarando o vazio.
Por fim ele acenou uma vez e ele próprio saiu pela porta da frente.
Elena lentamente arrastou-se de volta escada acima.
Agora, o que fora tudo isso? Ela se sentia confusa, como se estivesse
flutuando livre no tempo e no espaço. Ela precisava saber que dia era, por
que ela estava aqui, e por que ela se sentia tão assustada. Por que ela
sentia tão intensamente que ninguém devia vê-la ou ouví-la por notá-la.
Olhando ao redor do ático, ela não viu nada que lhe daria alguma ajuda.
Onde ela estava deitada havia apenas o colchão e a lanolina – e um
livrinho azul.
Seu diário! Avidamente, ela o agarrou e o abriu, pulando as entradas.
Elas paravam no dia 17 de outubro; elas não ajudavam a descobrir a data
de hoje. Mas enquanto ela olhava para a escrita, imagens formaram na
sua mente, pendurando-se como pérolas para formar memórias.
Fascinada, ela lentamente sentou-se no colchão. Ela folheou de volta para
o começo e começou a ler sobre a vida de Elena Gilbert.
Quando ela terminou, ela estava fraca com medo e terror. Pontos
brilhantes dançaram e cintilaram perante seus olhos. Havia tanta dor
naquelas páginas. Tantos esquemas, tantos segredos, tanta necessidade.
Era a história de uma garota que se sentia perdida em sua própria cidade
natal, em sua própria família. Que estivera procurando por... algo, algo
que ela nunca conseguia alcançar. Mas não foi isso que causava esse
pânico palpitante em seu peito que drenava toda a energia de seu corpo.
Não era por causa disso que ela sentia como se estivesse caindo mesmo
estando sentada tão retamente quanto conseguia. O que causava o pânico
era que ela se lembrava.
Ela se lembrava de tudo.
Da ponte, da água corrente. Do horror a medida que o ar deixava seus
pulmões e não havia nada além de líquido para respirar. O jeito como
tinha machucado. E o instante final quando tinha parado de machucar,
quando tudo tinha parado. Quando tudo... parara.
Ah, Stefan, eu estava tão assustada, ela pensou. E o mesmo medo estava
dentro dela agora. Na floresta, como ela pôde ter se comportado daquela
maneira com Stefan? Como ela pôde ter se esquecido dele, de tudo que ele
significava para ela? O que a tinha feito agir dessa maneira?
Mas ela sabia. No centro de seu consciente, ela sabia. Ninguém levantava e
andava de um afogamento assim. Ninguém levantava e andava viva.
Lentamente, ela levantou e foi olhar pela janela tapada. O painel
escurecido de vidro agia como um espelho, jogando reflexos de volta a ela.
Não era o reflexo que ela vira em seu sonho, onde ela tinha percorrido um
corredor de espelhos que pareciam ter vida própria. Não havia nada
dissimulado ou cruel nesse rosto. Mesmo assim, estava sutilmente
diferente do que ela estava acostumada a ver.
Havia um brilho pálido em sua pele e um vazio notável em seus olhos.
Elena tocou com as pontas dos dedos em seu pescoço, de ambos os lados.
Foi onde Stefan e Damon tinham ambos tomado seu sangue. Tinham
realmente sido vezes o bastante, e ela tinha realmente tomado o bastante
deles em troca?
Deve ter sido. E agora, pelo resto da sua vida, pelo resto da sua existência,
ela teria que se alimentar como Stefan se alimentava. Ela teria que...
Ela afundou em seus joelhos, pressionando sua testa contra a madeira
nua de uma parede. Eu não posso, ela pensou.
Ah, por favor, eu não posso; eu não posso.
Ela nunca havia sido muito religiosa. Mas das profundezas dela, seu
horror estava fluindo, e cada partícula de seu ser juntou-se em um grito
por ajuda. Ah, por favor, ela pensou. Ah, por favor, por favor, me ajude.
Ela não pediu por nada específico; ela não conseguia reunir seus
pensamentos tanto assim. Só: Ah, por favor me ajude, ah por favor, por
favor.
Após um momento ela se levantou novamente.
Seu rosto ainda estava pálido mas assustadoramente lindo, como
porcelana fina iluminada de dentro. Seus olhos ainda estavam manchados
com sombras. Mas havia uma resolução neles.
Ela tinha que encontrar Stefan. Se houvesse alguma esperança para ela,
ele saberia. E se não houvesse... bem, ela precisava ainda mais dele. Não
havia nenhum outro lugar que ela queria estar exceto com ele.
Ela fechou a porta do ático cuidadosamente atrás dele enquanto saia.
Alaric Saltzman não podia descobrir seu esconderijo. Na parede, ela viu
um calendário com os dias até 4 de dezembro riscados. Quatro dias desde
a última noite de sábado. Ela tinha dormido por quatro dias.
Quando ela alcançou a porta da frente, ela se encolheu da luz do dia do
lado de fora. Machucava.
Mesmo o céu estando tão nublado que chuva ou a neve pareciam
iminentes, machucava os olhos dela. Ela teve que se forçar a deixar a
segurança da casa, e então ela sentiu uma paranóia torturante sobre ficar
exposta do lado de fora. Ela escapou ao lado de cercas, ficando próxima a
árvores, pronta para derreter nas sombras. Ela própria se sentia como
uma sombra – ou um fantasma, com o longo vestido branco de Honoria
Fell. Ela deixaria qualquer um que a visse de cabelos em pé.
Mas toda sua circunspecção pareceu um desperdício. Não havia ninguém
nas ruas para vê-la; a cidade podia ter sido abandonada. Ela passou por
casas aparentemente desertas, jardins abandonados, lojas fechadas. Logo
em seguida ela viu carros estacionados alinhando a rua, mas eles estavam
vazios, também.
E então ela viu uma forma contra o céu que a fez parar de andar. Um
campanário, branco contra as pesadas nuvens escuras. As pernas de
Elena tremeram enquanto ela se forçou a deslizar para mais perto do
edifício. Ela conhecera essa Igreja por toda a sua vida; ela tinha visto a
cruz gravada naquela parede mil vezes. Mas agora que ela se aproximava
dela era como se um animal preso fosse se soltar e mordê-la. Ela
pressionou uma mão na parede de pedra e escorregou-a para cada vez
mais perto do símbolo entalhado.
Quando seus dedos esticados tocaram o braço da cruz, seus olhos se
encheram e sua garganta doeu. Ela deixou sua mão deslizar por ela até
que cobriu gentilmente a gravação.
Então ela se inclinou contra a parede e deixou as lágrimas saírem.
Eu não sou malvada, ela pensou. Eu fiz coisas que não devia. Eu pensei
muito em mim mesma; eu nunca agradeci Matt e Bonnie e Meredith por
tudo que fizeram por mim. Eu devia ter brincado mais com Margaret e ter
sido mais boazinha com a tia Judith. Mas eu não sou malvada. Eu não
sou amaldiçoada.
Quando ela conseguiu enxergar novamente, ela olhou para cima para o
edifício. O Sr. Newcastle tinha dito algo sobre a Igreja. Era essa a qual ele
se referia?
Ela evitou a frente da Igreja e a entrada principal. Havia uma porta lateral
que levava ao trifório, e ela deslizou pelas escadas sem fazer barulho e
olhou para baixo da galeria.
Ela viu de uma só vez porque as ruas tinham estado tão vazias. Parecia
que todos em Fell’s Church estavam aqui, cada assento em cada banco da
igreja preenchido, e os fundos da Igreja lotado completamente com pessoas
de pé. Encarando as fileiras da frente, Elena percebeu que ela reconhecia
cada rosto; eles eram membros da turma dos veteranos, e os vizinhos, e
amigos da tia Judith. Tia Judith estava lá, também, usando o vestido preto
que ela tinha usado no funeral dos pais de Elena.
Ai, meu Deus, Elena pensou. Seus dedos agarraram o corrimão. Até agora
ela estivera ocupada demais olhando para escutar, mas a monotonia
silenciosa da voz do Reverendo Bethea solveu-se repentinamente em
palavras.
“… partilhas nossas lembranças dessa garota muito especial,” ele disse, e
moveu-se para o lado.
Elena observou o que aconteceu depois com uma sensação sobrenatural
de que ela tinha um assento de camarote na peça. Ela não estava de
maneira alguma envolvida nos eventos lá embaixo no palco; ela era
somente uma espectadora, mas era a vida dela que ela estava assistindo.
O Sr. Carson, pai de Sue Carson, subiu e falou sobre ela. Os Carsons a
conheciam desde que ela nascera, e ele contava sobre os dias que ela e
Sue tinham brincado no jardim da frente deles no verão. Ele contava sobre
a jovem linda e realizada que ela tinha se tornado. Ele ficou com um
caroço em sua garganta e teve que parar e tirar seus óculos.
Sue Carson subiu. Ela e Elena não eram amigas próximas desde o ensino
fundamental, mas elas ainda se davam bem.
Sue tinha sido uma das poucas garotas que ficara do lado de Elena depois
que Stefan ficara sob suspeita no assassinato do Sr. Tanner. Mas agora
Sue estava chorando como se tivesse perdido uma irmã.
“Muitas pessoas não foram legais com a Elena depois do Dia das Bruxas,”
ela disse, limpando seus olhos e continuando. “E eu sei que isso a
magoou. Mas Elena era forte. Ela nunca mudava só para satisfazer o que
as outras pessoas achavam que ela deveria ser. E eu a respeito por isso,
tanto...” a voz de Sue hesitou. “Quando eu estava concorrendo a Rainha
das Boas-Vindas, eu queria ser escolhida, mas eu sabia que não seria e
estava tudo bem. Porque se a Robert E. Lee já teve uma rainha, foi Elena.
E eu acho que ela sempre será agora, porque é assim que iremos lembrar
dela. E eu acho que nos próximos anos as garotas que forem para nossa
escola talvez se lembrarão dela e pensarão sobre como ela manteve-se fiel
àquilo que achava que era certo...” Dessa vez Sue não conseguiu nivelar
sua voz e o reverendo levou-a de volta para seu assento.
As garotas na turma dos veteranos, mesmo aqueles que tinham sido as
mais indecentes e vingativas, estavam chorando e dando as mãos.
Garotas que Elena sabia com certeza que a odiavam estavam fungando. De
repente ela era a melhor amiga de todo mundo.
Havia garotos chorando, também. Chocada, Elena contraiu-se para mais
perto do corrimão. Ela não conseguia parar de assistir, mesmo sendo a
coisa mais horrível que ela já tenha visto.
Frances Decatur levantou, seu rosto comum mais comum do que nunca
com o luto. “Ela saiu do seu caminho para ser legal comigo,” ela disse
roucamente. “Ela me deixou almoçar com ela.”
Tolice, Elena pensou. Eu só falei com você em primeiro lugar porque você
era útil em achar informação sobre o Stefan. Mas era o mesmo com cada
pessoa que subiu no púlpito; ninguém conseguia achar palavras o
suficiente para enaltecer Elena.
“Eu sempre a admirei…”
“Ela era um ídolo para mim...”
“Uma das minhas estudantes favoritas...”
Quando Meredith se levantou, o corpo todo de Elena endureceu. Ela não
sabia se conseguia lidar com isso. Mas a garota de cabelo escuro era uma
das poucas pessoas na Igreja que não estava chorando, apesar de seu
rosto ter um olhar sério e triste que lembrava Elena de Honoria Fell como
ela parecia em sua tumba.
“Quando eu penso na Elena, eu penso nos bons tempos que tivemos
juntas,” ela disse, falando silenciosamente e com seu costumeiro autocontrole.
“Elena sempre tinha ideias, e ela conseguia transformar o trabalho mais
chato em uma diversão. Eu nunca disse isso a ela, e agora eu queria ter
dito. Eu queria falar com ela mais uma vez, só para que ela soubesse. E se
Elena pudesse me ouvir agora”– Meredith olhou ao redor da Igreja e tomou
um longo fôlego, aparentemente para se acalmar– “se ela pudesse me ouvir
agora, eu diria a ela o quanto esses bons tempos significaram para mim, e
o quanto eu desejo que ainda os pudessemos ter. Como as noites de
quinta em que costumávamos sentar juntas no quarto dela, praticando pro
grupo de debate. Eu queria que pudéssemos fazer isso só mais uma vez
como costumávamos.”
Meredith tomou outro longo fôlego e balançou sua cabeça. “Mas eu não
posso, e isso que machuca.”
Do que você está falando? Elena pensou, seu infortúnio interrompido pelo
estupefamento. Nós costumávamos praticar para o grupo de debate nas
noites de quarta, não quinta. E não era no meu quarto; era no seu. E não
era divertido coisa algum; de fato, nós acabamos desistindo porque ambas
odiávamos aquilo...
De repente, observando o rosto cuidadosamente composto de Meredith, tão
calmo do lado de fora para cobrir a tensão dentro, Elena sentiu seu
coração começar a golpear.
Meredith estava mandando uma mensagem, uma mensagem que só Elena
seria capaz de entender.
O que queria dizer que Meredith esperava que Elena fosse capaz de ouvíla.
Meredith sabia.
Stefan tinha contado a ela? Elena escaneou as fileiras abaixo de pessoas
em luto, percebendo pela primeira vez que Stefan não estava entre elas.
Nem Matt. Não, não parecia provável que Stefan tivesse contado a
Meredith, ou que Meredith tivesse escolhido esse jeito de fazer uma
mensagem chegar a ela se ele tivesse. Então Elena se lembrou do jeito que
Meredith olhara para ela na noite que elas resgataram Stefan do poço,
quando Elena pediu para ser deixado sozinha com Stefan.
Ela lembrava-se daqueles afiados olhos escuros estudando seu rosto mais
de uma vez nos últimos meses, e do jeito como Meredith parecia ficar mais
silenciosa e pensativa cada vez que Elena aparecia com um pedido
estranho.
Meredith tinha adivinhado então. Elena se perguntava quanto da verdade
ela tinha juntado.
Bonnie estava subindo agora, chorando sinceramente. Isso era
surpreendente; se Meredith sabia, por que ela não tinha contado a
Bonnie? Mas talvez Meredith tivesse apenas uma suspeita, algo que ela
não queria dividir com Bonnie no caso de ser apenas uma esperança falsa.
O discurso de Bonnie foi tão emocional quanto o de Meredith tinha sido
controlado. Sua voz ficava falhando e ela ficava tendo que afastar as
lágrimas de suas bochechas. Finalmente o Reverendo Bethea foi até lá e
deu-lhe algo branco, um lenço ou algum lencinho de papel.
“Obrigada,” Bonnie disse, limpando seus olhos jorrantes. Ela inclinou sua
cabeça para trás para olhar para o teto, ou para reganhar seu equilíbrio ou
para pegar inspiração. Quando ela o fez, Elena viu algo que ninguém
conseguiu ver: ela viu o rosto de Bonnie se esvair de cor e expressão, não
como alguém prestes a desmaiar, mas de um jeito que era familiar demais.
Um arrepio passou pela espinha de Elena. Não aqui. Ah, Deus, de todas as
horas e lugares, não aqui.
Mas já estava acontecendo. O queixo de Bonnie se abaixou; ela estava
olhando para a congregação novamente. Exceto que dessa vez ela não
parecia vê-los de modo algum, e a voz que vinha da garganta de Bonnie
não era a voz de Bonnie.
“Ninguém é o que aparenta. Lembrem-se disso. Ninguém é o que aparenta.”
Então ela simplesmente ficou ali, sem se mover, encarando diretamente
para frente com olhos vazios.
As pessoas começaram a se mover e olharem uma para outra. Houve um
murmúrio de preocupação.
“Lembrem-se disso – lembrem-se – ninguém é o que aparentam…” Bonnie
oscilou repentinamente, e o Reverendo Bethea correu para ela enquanto
outro homem precipitava-se do outro lado.
O segundo homem tinha uma careca que estava agora brilhando de suor –
o Sr. Newcastle, Elena percebeu.E lá nos fundos da Igreja, caminhando
pela nave, estava Alaric Saltzman. Ele alcançou Bonnie justo quando ela
desmaiou, e Elena ouviu um passo atrás dela na escada.



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