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Capítulo Um
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“Damon!”
Um vento gelado espalhou o cabelo de Elena pelo seu rosto,
lágrimas caindo em seu suéter
leve. Folhas de carvalho formavam redemoinhos por entre as
fileiras de lápides, e as
árvores sacudiam juntas seus galhos em frenesi. As mãos de Elena
estavam frias, seus
lábios e suas bochechas estavam sem sensibilidade, mas ela se
mantinha encarando o grito
do vento diretamente, gritando através dele.
“Damon!”
Esse tempo era uma demonstração do Poder dele, com a intenção de
assustá-la. Mas isso
não funcionaria. O pensamente de este mesmo Poder sendo usado
contra Stefan acordou
uma grande fúria quente dentro dela que queimava contra o vento.
Se Damon tiver feito
alguma coisa para Stefan, se Damon tiver ferido ele...
“Maldito, me responda!” ela gritou para os carvalhos que limitavam
o cemitério.
Uma folha morta de carvalho que parecia uma mão marrom e murcha
voou até seu pé, mas
não houve nenhuma resposta. Acima, o céu estava cinza como vidro,
cinza como as lápides
cercando ela. Elena sentiu raiva e frustração ardendo em sua
garganta e cedeu. Ela estava
errada. Damon não estava aqui realmente; ela estava sozinha com o
grito do vento.
Ela virou-se— e ofegou.
Ele estava logo atrás dela, tão perto que suas roupas tocaram nele
enquanto ela se virava.
Nesta distância, ela deveria ter sentido outro humano parado lá,
deveria ter sentido o calor
de seu corpo ou ouvido ele. Mas Damon, é claro, não era humano.
Ela deu dois passos para trás antes que ela pudesse parar a si
mesma. Cada instinto que se
encontrava quieto enquanto ela gritava contra a violência do vento
estava agora pedindo
para ela correr.
Ela apertou seus punhos. “Onde está Stefan?”
Uma linha apareceu entre as sobrancelhas negras de Damon. “Que
Stefan?”
Elena andou até ele e deu um tapa.
Ela não havia pensado em fazer isto antes de fazer, e mais tarde
ela mal podia acreditar no
que tinha feito. Mas tinha sido um tapa bem forte, com toda a
força de seu corpo, e virou a
cabeça de Damon para o lado. Sua mão doía. Ela parou, tentando
acalmar sua respiração, e
observou ele.
Ele estava vestido como da primeira vez em que se encontraram, em
preto. Suaves botas
pretas, jeans pretos, suéter preto, e uma jaqueta de couro. E ele
parecia com Stefan. Ela não
sabia como ela não tinha percebido isso antes. Ele tinha o mesmo
cabelo preto, a mesma
pele pálida, a mesma boa aparência perturbadora. Mas seu cabelo
era liso, não ondulado, e
seus olhos eram pretos como a meia-noite, e sua boca era cruel.
Ele girou sua cabeça de volta lentamente para olhar ela, e ela viu
sangue aparecendo na
bochecha que ela bateu.
“Não minta para mim,” ela disse, sua voz tremendo. “Eu sei quem
você é. Eu sei o que
você é. Você matou o Sr. Tanner ontem a noite. E agora Stefan
desapareceu.”
“Ele desapareceu?”
“Você sabe que sim!”
Damon sorriu e parou imediatamente.
“Eu estou te avisando; se você tiver machucado ele—”
“Então o quê?” ele disse. “O que você vai fazer, Elena? O que você
pode fazer, contra
mim?
Elena caiu em silêncio. Pela primeira vez, ela percebeu que o
vento tinha parado. O dia
estava morto e silencioso a sua volta, como se eles estivessem
imóveis no centro de algum
grande círculo de poder. Parecia que tudo, o céu pesado, os
carvalhos e as faias roxas, o
próprio solo, estava conectado à ele, como se ele sugasse Poder de
tudo isso. Ele estava
com a sua cabeça ligeiramente para trás, seus olhos insondáveis e
cheios de cores estranhas.
“Eu não sei,” ela sussurrou, “mas eu vou achar alguma coisa.
Acredite em mim.”
Ele riu de repente, e o coração de Elena deu uma sacudida e
começou a bater
rigorosamente. Deus, ele era bonito. *Belo era uma palavra fraca
para descrevê-lo*. Como
costume, a risada durou apenas um momento, mas mesmo quando seus
lábios já estavam
sossegados ela deixava traços no seu olhar.
“Eu acredito em você,” ele disse, relaxando, olhando ao redor do
cemitério. Então ele se
virou e estendeu a mão para ela. “Você é muito boa para o meu
irmão,” ele disse
casualmente.
Elena pensou em atirar a mão para longe, mas ela não queria tocar
nele novamente. “Diga me
onde ele está.”
“Depois, possivelmente - por um preço.” Ele retirou sua mão, assim
que Elena percebeu
que nela havia um anel como o de Stefan: prateado e lápis lazuli.
Lembre-se disso, ela
pensou ferozmente. É importante.
“Meu irmão,” ele continuou, “é um tolo. Ele acha que porque você
parece com Katherine
você é fraca e facilmente conduzida como ela. Mas ele está errado.
Eu podia sentir sua
raiva do outro lado da cidade. Eu posso sentir agora, uma luz
branca como o sol do deserto.
Você tem força, Elena, mesmo como você é. Mas você pode ser muito
mais forte...”
Ela olhou fixamente para ele, sem entender, não gostando da troca
de assunto. “Eu não sei
do que você está falando. E o que isso tem haver com o Stefan?”
“Eu estou falando de Poder, Elena.” De repente, ele deu um passo
para perto dela, seus
olhos fixos nos dela, sua voz suave e urgente. “Você já tentou
todas as outras coisas, e nada
satisfez você. Você é a garota que tem tudo, mas sempre tem algo
fora do seu alcance, algo
que você precisa desesperadamente e que não pode ter. Isto é o que
eu estou te oferecendo.
Poder. Vida eterna. E sentimentos que você nunca sentiu antes.”
Agora ela entendia, e bílis subiu até a sua garganta. Ela
sufocou-se em horror e repudio.
“Não”.
“Por que não?” ele sussurrou. “Por que não tentar, Elena? Seja
honesta. Não tem uma parte
de você que quer isto?” Seus olhos negros estavam cheios de calor
e intensidade que
segurava ela petrificada, incapaz de olhar para outro lugar. “Eu
posso acordar coisas dentro
de você que têm estado dormindo durante toda sua vida. Você é
forte o bastante para viver
no escuro, para gloriar-se nele. Você pode se tornar a rainha das
sombras. Por que não
pegar este Poder, Elena? Deixe-me ajudá-la a pegar isto."
“Não,” ela disse, puxando seus olhos para longe dele. Ela não
olharia para ele, não deixaria
ele fazer isso com ela. Ela não deixaria ele fazê-la esquecer...
fazê-la esquecer...
"É o segredo final, Elena," ele disse. Sua voz era tão
afável quanto as pontas dos seus dedos
que tocavam a garganta dela. "Você será feliz como nunca
antes."
Havia algo terrivelmente importante que ela deveria lembrar. Ele
estava usando o Poder
para fazê-la esquecer isto, mas ela não deixaria ele fazê-la
esquecer...
"E nós vamos ficar juntos, você e eu." As pontas frias
de seus dedos afagaram o lado do
pescoço dela, deslizando sob o colarinho do suéter. "Só nos
dois, para sempre."
Houve uma pontada repentina de dor enquanto os dedos dele roçaram
duas minúsculas
feridas na carne do pescoço dela, e a memória dela clareou.
Fazê-la esquecer de...Stefan.
Isto era o que ele queria tirar da mente dela. As memórias sobre
Stefan, sobre seus olhos
verdes e seu sorriso que sempre tinha tristeza por trás. Mas nada
poderia forçar Stefan para
fora de seus pensamentos agora, não depois do que eles
compartilharam. Ela se afastou de
Damon, batendo aqueles dedos frios para o lado. Ela olhou
diretamente para ele.
"Eu já achei o que eu quero," ela disse brutalmente.
"E com quem eu quero estar para
sempre."
Escuridão brotou nos olhos dele, uma raiva fria que se espalhou
pelo ar entre eles. Olhando
dentro daqueles olhos, Elena pensou em uma cobra pronta para dar o
bote.
"Não seja estúpida como o meu irmão," ele disse. "
Ou eu terei que te tratar da mesma
forma."
Ela estava assustada agora. Ela não poderia evitar, não com o frio
se derramando dentro
dela, resfriando seus ossos. O vento estava começando de novo, os
galhos sacudindo-se.
"Diga-me onde ele está, Damon."
"Nesse momento? Eu não sei. Você não pode parar de pensar
sobre ele por um instante?"
"Não!" ela estremeceu, seu cabelo chicoteando na sua
face novamente.
"E esta é sua resposta final, hoje? Esteja certa sobre jogar
este jogo comigo, Elena. As
conseqüências não são para se dar risadas."
"Eu estou certa." Ela teve que interromper antes que ele
recomeçasse de novo. "E você não
pode me intimidar, Damon, ou você não notou? No momento em que
Stefan me contou o
que você foi, o que você fez, você perdeu qualquer poder que
poderia ter sobre mim. Eu te
odeio. Você me dá nojo. E não existe nada que você possa fazer
contra mim, nunca mais."
A face dele se alterou, a sensibilidade torcendo-se e
congelando-se, tornando-se cruel e
amargamente dura. Ele riu, mas esta risada continuou. “Nada?” ele
disse. “Eu posso fazer
qualquer coisa com você, e com as pessoas que você ama. Você não
tem idéia, Elena, do
que eu posso fazer. Mas você vai aprender.”
Ele deu um passo para trás, e o vento cortou Elena como uma faca.
Sua visão pareceu estar
embaçando. Era como se manchas de claridade enchessem o ar na
frente de seus olhos.
“O inverno está chegando, Elena,” ele disse, e sua voz estava
clara e arrepiante mesmo
sobre o uivo do vento. “Uma estação rancorosa. Antes de ela
chegar, você terá aprendido o
que eu posso e não posso fazer. Antes que o inverno chegue aqui,
você terá se juntado a
mim. Você será minha.”
A claridade rodopiada estava cegando-a, e ela não conseguia mais
ver o volume escuro da
figura dele. Agora até mesmo a voz dele estava desvanecendo-se.
Ela se abraçou com os
próprios braços, com a cabeça curvada para baixo, seu corpo todo
tremendo. Ele sussurrou,
“Stefan—”
“Oh, e mais uma coisa,” a voz de Damon retornou. “Você perguntou
mais cedo sobre meu
irmão. Não se incomode procurando por ele, Elena. Eu o matei na
noite passada.”
Ela levantou a cabeça, mas não havia nada para ver, apenas a
brancura vertiginosa, que
queimava seu nariz e suas bochechas e grudava seus cílios. Foi só
então, quando os finos
grãos caíram na sua pele, que ela percebeu o que eles eram: flocos
de neve.
Estava nevando no dia primeiro de novembro. Acima de sua cabeça, o
sol já tinha ido
embora.
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Capítulo Dois
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Um crepúsculo sobrenatural suspendia-se por sobre o cemitério
abandonado. Neve
embaçava os olhos de Elena, e o vento insensibilizava o seu corpo
como se ela tivesse
entrado numa correnteza de água gelada. No entanto, teimosamente,
ela não retornou para o
cemitério novo e para a estrada além dele. Considerando o melhor
que pode, a Ponte
Wickery estava logo à sua frente. Ela se dirigiu para lá.
A polícia achou o carro abandonado de Stefan na Estrada Old Creek.
Isto significava que
ele havia deixado-o em algum lugar entre Riacho Drowning e a
floresta. Elena tropeçou no
caminho que seguia através do cemitério, mas ela continuou se
movendo, a cabeça baixa,
os braços apertando seu suéter claro para si. Ela conhecia este
cemitério toda a sua vida, e
ela poderia achar seu caminho através dele cega.
No momento em ela que cruzou a ponte, seus temores tinha
tornado-se dolorosos. Não
estava nevando tão forte agora, mas o vento estava ainda pior. Ele
cortava através de suas
roupas como se elas fossem de papel, e tomaram o seu fôlego.
Stefan, ela pensou, e virou-se para a Estrada Old Creek, marchando
para o norte. Ela não
acreditava no que Damon tinha dito. Se Stefan estivesse morto ela
saberia. Ele estava vivo,
em algum lugar, e ela tinha de achá-lo. Ele poderia estar em
qualquer lugar fora desta
claridade rodopiada; ele poderia estar ferido, congelando.
Vagamente, Elena sentiu que já
não estava sendo racional. Todos os seus pensamentos tinha se
restringido em apenas uma
idéia. Stefan. Encontrar Stefan.
Estava se tornando mais difícil continuar pela estrada. Na sua
direita estavam os carvalhos,
na sua esquerda, as águas rápidas do Riacho Drowning. Ela vacilou
e desacelerou. O vento
não mais parecia tão forte, mas ela se sentia muito cansada. Ela
precisava se sentar e
descansar, por apenas um minuto.
Enquanto ela desfalecia ao lado da estrada, ela de repente
percebeu o quanto tinha sido
boba saindo para procurar Stefan. Stefan viria a ela. Tudo o que
ela precisava fazer era
sentar e esperar. Ele provavelmente estava vindo agora mesmo.
Elena fechou os olhos e inclinou sua cabeça contra os seus joelhos
esticados. Ela se sentia
muito mais aquecida agora. Sua mente deixava-se levar e ela viu
Stefan, o viu sorrindo para
ela. Os braços dele em volta dela eram fortes e seguros, e ela
relaxou contra ele, feliz por
deixar o medo e a tensão. Ela estava em casa. Ela estava onde
pertencia. Stefan não
deixaria nada machucá-la.
Mas então, em vez de abraçá-la, Stefan estava sacudindo-a. Ele
estava arruinando a bela
tranqüilidade de seu descanso. Ela viu o seu rosto, pálido e
urgente, seus olhos verdes
escurecidos com o sofrimento. Ela tentou falar para ele ficar
calmo, mas ele não ouvia.
Elena, levante-se, ele dizia, e ela sentiu a força naqueles olhos
verdes querendo que ela
fizesse isto. Elena, levante-se agora—
“Elena, levante-se!” a voz estava alta e fina e amedrontada.
“Vamos lá, Elena!” Levante-se!
Nos não podemos carregar você!”
Piscando, Elena trouxe uma face para seu foco. Era pequena e tinha
forma de um coração,
com uma bela, e quase translúcida pele, constituída por massas de
cachos macios e
vermelhos. Grandes olhos castanhos, com flocos de neve nos cílios,
olhavam preocupados
para ela.
“Bonnie,” ela disse lentamente. “O que você está fazendo aqui?”
“Me ajudando a procurar por você,” falou uma segunda e mais baixa
voz no outro lado de
Elena. Ela se virou ligeiramente para ver elegantes sobrancelhas
arqueadas e pele
azeitonada. Os olhos escuros de Meredith, normalmente tão
irônicos, estavam aflitos agora,
também. “Levante-se, Elena, a menos que você queira se tornar uma
princesa do gelo de
verdade.”
Havia neve por cima dela toda, como um casaco de pele branco.
Duramente, Elena ficou
em pé, apoiando-se fortemente nas duas outras garotas. Elas a
carregaram até o carro de
Meredith.
Deveria estar mais quente dentro do carro, mas as terminações
nervosas de Elena estavam
voltando à vida, fazendo-a tremer, dizendo para ela o quanto ela
estava fria. O inverno é
uma estação rancorosa, ela pensou enquanto Meredith dirigia.
“O que está acontecendo, Elena?” disse Bonnie do banco de trás. “O
que você pensava que
estava fazendo, fugindo da escola desse jeito? E como você pode
vir aqui?”
Elena hesitou, então sacudiu sua cabeça. Ela não queria mais nada
além de contar para
Bonnie e Meredith tudo. Contar à elas toda a terrível história
sobre Stefan e Damon e o que
tinha realmente acontecido na noite passada com o Sr. Tanner e
sobre depois. Mas ela não
podia.
Mesmo que elas acreditassem, não era um segredo dela para contar.
“Todo mundo saiu para procurar você,” Meredith falou. “A escola
toda estava transtornada,
e sua tia estava quase frenética.”
“Desculpa,” falou Elena de forma apática, tentando parar sua
tremedeira violenta. Elas
viraram na Rua Maple e pararam na casa dela.
Tia Judith estava esperando lá dentro com um cobertor quente. “Eu
sabia que se elas te
encontrassem, você estaria quase congelada,” ela disse numa voz
alegre determinada
enquanto ela alcançava Elena. “Neve no dia depois do Dia das
Bruxas! Eu mal posso
acreditar. Onde vocês garotas encontraram ela?”
“Na Estrada Old Creek , depois da ponte,” disse Meredith.
A face fina de tia Judith perdeu cor. “Perto do cemitério? Onde os
ataques aconteceram?
Elena, como você pode...?” A voz dela se arrastava para fora
enquanto ela olhava para
Elena. “Nos não vamos falar mais nada sobre isso agora,” ela
falou, tentando readquirir sua
maneira alegre. “Vamos tirar essas roupas molhadas.”
“Eu tenho que voltar assim que estiver seca,” disse Elena. Seu
cérebro estava funcionando
de novo, e uma coisa estava clara: ela não tinha visto realmente
Stefan lá fora; tinha sido
um sonho. Stefan ainda estava perdido.
“Você não tem que fazer nada do tipo,” disse Robert, o noivo de
tia Judith. Elena
praticamente não tinha notado ele parado em um dos lados até
então. Mas seu tom não
tolerou nenhum argumento. “A policia está procurando por Stefan;
você deixe para eles o
trabalho deles,” ele disse.
“A polícia acha que ele matou o Sr. Tanner. Mas ele não matou.
Você sabe disto, não
sabe?” Enquanto tia Judith retirava seu mais externo suéter
encharcado, Elena olhou de
uma face para outra buscando por ajuda, mas elas estavam da mesma
forma. “Vocês sabem
que ele não fez isto,” ela repetiu, quase desesperadamente.
Houve um silêncio. “Elena,” Meredith falou por fim, “ninguém quer
pensar que ele fez.
Mas— bem, isto parece mal, ele fugindo dessa forma.”
“Ele não fugiu. Não mesmo! Ele não—”
“Elena, acalme-se,” falou tia Judith. “Não fique tão agitada. Eu
acho que você deve estar
ficando doente. Estava tão frio lá fora, e você teve apenas poucas
horas de sono na noite
passada...” Ela colocou uma mão na bochecha de Elena.
De repente era tudo muita coisa para Elena. Ninguém acreditava
nela, nem suas amigas e
sua família. Neste momento, ela se sentiu rodeada de inimigos.
“Eu não estou doente,” ela choramingou, afastando-se.
“E eu não estou doida também—o que quer que vocês pensem. Stefan
não fugiu e não
matou o Sr. Tanner, e eu não me importo se nenhum de vocês
acreditam em mim...” ela
parou, sufocando-se. Tia Judith estava preocupada em volta dela,
apresando-a escada
acima, e ela deixou-se ser apressada. Mas ela não foi para cama
quando tia Judith sugeriu
que ela deveria estar cansada. Em vez disso, uma vez que ela tinha
despertado, ela se
sentou no sofá da sala de estar perto da lareira, com cobertores
amontoados em volta de si.
O telefone tocou a tarde toda, e ela ouviu tia Judith falando com
amigos, vizinhos, a escola.
Ela afirmou para todos que Elena estava bem. A... a tragédia da
noite passada havia
inquietado ela um pouco, era tudo, e ela parecia um pouco febril.
Mas ela ficaria boa como
nova depois de um descanso.
Meredith e Bonnie sentaram do lado dela. “Você quer conversar?”
Meredith falou numa
voz baixa. Ele balançou a cabeça, olhando para o fogo. Eles
estavam todos contra ela. E tia
Judith estava errada, ela não estava bem. Ela não estaria bem até
que Stefan fosse achado.
Matt passou por lá, neve cobrindo seu cabelo louro e sua parka
(jaqueta com capuz) azul
escura. Enquanto ele entrava no cômodo, Elena olhou para ele
esperançosa. Ontem Matt
tinha ajudada a salvar Stefan, quando o resto da escola queria
linchar ele. Mas hoje ele
retornou seu olhar esperançoso com um de sério pesar, e a
preocupação nos seus olhos era
apenas para ela.
O desapontamento era insuportável. “O que você está fazendo aqui?”
Elena demandou.
“Mantendo sua promessa de ‘tomar conta de mim’?
Havia uma tremulação de mágoa em seus olhos. Mas a voz de Matt
estava nivelada. “É
parte disto, talvez. Mas eu tentaria tomar conta de você de
qualquer forma, não importa o
que eu tenha prometido. Eu tenho estado preocupado com você. Ouça,
Elena—”
Ela não estava com humor para ouvir ninguém. “Bom, eu estou bem,
obrigada. Pergunte a
qualquer um aqui. Então você poderá parar de se preocupar. Além
disso, não sei por que
você deveria manter uma promessa para um assassino.”
Surpreendido, Matt olhou para Meredith e Bonnie. Então ele balançou
sua cabeça
atarantadamente. “Você não está sendo justa.”
Elena não estava com humor para ser justa também. “Eu te disse,
você pode parar de se
preocupar comigo, e com os meus problemas. Eu estou bem,
obrigada.”
A inferência era óbvia. Matt se virou para a porta no mesmo
momento em que tia Judith
apareceu com sanduíches.
“Desculpe, eu tenho que ir,” ele murmurou, apressando-se para a
porta. Ele saiu sem olhar
para trás.
Meredith, e Bonnie, e tia Judith e Robert tentaram conversar
enquanto eles comiam uma
refeição cedo perto do fogo. Elena não podia comer e não falava. O
único que não estava
péssimo era a irmã de Elena, Margaret. Com o otimismo de quatro
anos, ela se aconchegou
à Elena e ofereceu alguns de seu doces do Dia das Bruxas.
Elena abraçou sua irmã fortemente, sua face imprensada no cabelo
loiro claro de Margaret
por um momento. Se Stefan pudesse ter ligado para ela ou enviado
uma mensagem para
ela, já teria feito nesse momento. Nada no mundo teria impedido
ele, ao menos que ele
estivesse gravemente ferido, ou preso em algum lugar, ou...
Ela não se deixaria pensar sobre o último “ou”. Stefan estava
vivo; ele tinha que estar vivo.
Damon era um mentiroso.
Mas Stefan estava com problemas, e ela tinha que achá-lo de algum
jeito. Ela preocupou-se
com isto durante a noite, desesperadamente tentando pensar num
plano. Uma coisa estava
clara; Ela estava por sua conta. Ela não podia confiar em ninguém.
Ficou escuro. Elena moveu-se no sofá e forçou um bocejo.
“Eu estou cansada,” Ela disse quietamente. “Talvez eu esteja
doente afinal. Eu acho que
vou para cama.”
Meredith estava olhando para ela intensamente. “Eu estava
pensando, Senhorita Gilbert,”
ela disse, virando-se para tia Judith, “que talvez Bonnie e eu
devêssemos ficar. Para fazer
companhia à Elena.”
“Que idéia ótima,” disse tia Judith, agradecida. “Contanto que
seus pais não se importem,
eu ficaria feliz em ter vocês aqui.”
“É um longo caminho de volta à Herron. Eu acho que vou ficar,
também.” Robert disse,
“Eu posso ficar no sofá aqui.” Tia Judith protestou dizendo que
havia muitos quartos de
hóspedes no andar superior, mas Robert foi inflexível. O sofá
estaria bom para ele, ele
disse.
Depois de olhar uma vez do sofá para o corredor onde a porta da
frente estava claramente
no seu campo de visão, Elena sentou impassível. Eles tinham
planejado isto entre si, ou
pelo menos eles estavam todos nisto agora. Eles estavam tendo
certeza de que ela não sairia
de casa.
Quando ela saiu do banheiro um pouco mais tarde, envolvida em seu
quimono de seda
vermelha, ela encontrou Meredith e Bonnie sentadas em sua cama.
“Bem, olá, Rosencrantz e Guildenstern,” ela disse amargamente.
Bonnie, que tinha estado depressiva, agora parecia alarmada. Ela
olhou de relance para
Meredith duvidosa.
“Ela sabe quem nós somos. Ela quer dizer que acha que nós somos
espiãs de sua tia,”
Meredith interpretou. “Elena, você deveria perceber que não é
isso. Você não pode confiar
na gente mesmo?”
“Eu não sei. Eu posso?”
“Sim, pois somos suas amigas.” Antes que Elena pudesse se mover,
Meredith pulou da
cama e fechou a porta. Então ele se virou para encarar Elena.
“Agora, pelo menos uma vez
na sua vida, me ouça, sua pequena idiota. É verdade que nós não
sabemos o que pensar
sobre Stefan. Mas, você não vê, é tudo sua culpa. Desde que você e
ele ficaram juntos, você
tem excluído a gente. Coisas têm acontecido que você não tem
contado para nós. Ou pelo
menos não tem contado toda a história. Mas apesar disso, apesar de
tudo, nós ainda
confiamos em você. Nós ainda nos preocupamos com você. Nós ainda
estamos do seu lado,
Elena, e queremos te ajudar. E se você não vê isso, então você é
uma idiota.”
Lentamente, Elena olhou do escuro e intenso rosto de Meredith para
o pálido de Bonnie.
Bonnie inclinou a cabeça afirmativamente.
“É verdade,” ela disse, piscando forte como se para conter as
lágrimas. “Mesmo se você
não goste de nós, ainda gostamos de você.”
Elena sentiu seus próprios olhos se enchendo de lágrimas e sua
expressão severa se
enrugar. Então Bonnie estava fora da cama, e elas estavam todas se
abraçando, e Elena
descobriu que não podia deter as lágrimas que escorriam pelo seu
rosto.
“Desculpem-me se eu não tenho falado com vocês,” ela disse. “Eu
sei que vocês não
entendem, e eu não posso nem explicar porque eu não posso contar
tudo. Eu apenas não
posso. Mas tem uma coisa que eu posso conta a vocês.” Elena
recuou, enxugando suas
bochechas, e olhos para elas seriamente. “Não importa o quanto as
evidências contra Stefan
parecem ruins, ele não matou o Sr. Tanner. Eu sei que não, porque
eu sei quem matou. E é
a mesma pessoa que atacou Vickie, e o velho embaixo da ponte. E—”
Ela parou e pensou
por um momento. “—e, oh, Bonnie, eu acho que ele matou Yangtze,
também.”
“Yangtze?” Os olhos de Bonnie alargaram-se. “Mas por que ele
mataria um cachorro?”
“Eu não sei, mas ele estava lá naquela noite, na sua casa. E ele
estava... bravo. Desculpeme,
Bonnie.”
Bonnie sacudiu sua cabeça confusamente. Meredith disse, “ Por que
você não conta para a
polícia?”
A risada de Elena foi ligeiramente histérica. “Eu não posso. Não é
algo que eles possam
enfrentar. E isto é outra coisa que eu não posso explicar. Vocês
disseram que ainda confiam
em mim; bem, vocês terão apenas que confiar em mim sobre isto.”
Bonnie e Meredith olharam uma para a outra, então para a colcha,
onde os dedos nervosos
de Elena estavam retirando fios do bordado. Finalmente, Meredith
disse, “Tudo bem. No
que nós podemos ajudar?”
“Eu não sei. Nada, a menos que...” Elena parou e olhou para
Bonnie. “A menos que,” ela
disse, numa voz diferente, “ você possa me ajudar a achar Stefan.”
Os olhos castanhos de Bonnie estavam genuinamente perplexos. “Eu?
Mas o que eu posso
fazer?” Então, com a inspiração de Meredith, ela disse, “Oh. Oh.”
“Você sabia onde eu estava no dia em que eu fui para o cemitério,”
falou Elena. “E você até
previu que Stefan estava vindo para a escola.”
“Eu pensei que você não acreditasse em toda essa coisa psíquica,”
disse Bonnie fracamente.
“Eu aprendi uma coisa ou duas desde então. Em todo o caso, eu
estou disposta a acreditar
em qualquer coisa se isto ajuda a achar Stefan. Se houver alguma
chance realmente, isto irá
ajudar.
Bonnie foi se arqueando, como se tentasse fazer sua já minúscula
forma a menor possível.
“Elena, você não entende,” ela disse infeliz. “Eu não sou
treinada; não é algo que eu possa
controlar. E—e não é um jogo, não mais. Quanto mais você usa estes
poderes, mais eles
usam você. Eventualmente, eles podem acabar usando você toda hora,
você querendo ou
não. É perigoso.”
Elena levantou-se e andou até a cômoda com espelho de madeira de
cerejeira, olhando para
ela sem realmente ver. Enfim, ela se virou.
“Você está certa, não é um jogo. E eu acredito em você sobre o
quanto perigoso isto pode
ser. Mas não é um jogo para Stefan, também. Bonnie, eu acho que
ele está lá fora, em
algum lugar, terrivelmente ferido. E não há ninguém para ajudá-lo;
ninguém nem ao menos
procurando por ele, exceto seus inimigos. Ele pode estar morrendo
agora mesmo. Ele—ele
pode até estar...” Sua garganta fechou. Ela curvou sua cabeça
sobre a cômoda e fez a si
mesma tomar um longo suspiro, tentando firmar-se. Quando ela olhou
para cima, ela viu
que Meredith estava olhando para Bonnie.
Bonnie endireitou seus ombros, postando-se o mais alto que podia.
Seu queixo levantado e
sua boca imobilizada. E nos seus olhos normalmente castanho, uma
luz sinistra brilhou
quando eles encontraram os de Elena.
“Nós precisamos de uma vela,” foi tudo o que ela disse.
O fósforo raspou e jogou faíscas na escuridão, e então a chama da
vela queimou forte e
clara. Ela emprestou um brilho dourado a face pálida de Bonnie
enquanto ela se curvava
sobre a vela.
“Eu irei precisar que ambas me ajudem a focar,” ela disse. “Olhem
para a chama, e pensem
sobre Stefan. Imaginem ele nas suas mentes. Não importa o que
aconteça, continuem a
olhar para a chama. E não importa o que vocês façam, não falem
nada.”
Elena inclinou a cabeça concordando, e então o único som no cômodo
era de respiração
suave. A chama cintilava e dançava, jogando desenhos* (patterns)
de luz sobre as três
garotas sentadas de pernas cruzadas em volta. Bonnie, com os olhos
fechados, respirava
profundamente e lentamente, como alguém se deixando levar pelo
sono.
Stefan, pensou Elena, olhando para a vela, tentando derramar todo
o seu desejo dentro do
pensamento. Ela o criou em sua mente, usando todos os seu
sentidos, conjurando ele para
ela. A aspereza de seu suéter de lã embaixo de sua bochecha, o
cheiro de sua jaqueta de
couro, a força de seus braços em volta dela. Oh, Stefan...
Os cílios de Bonnie vibraram e sua respiração acelerou, como uma
pessoa dormindo e
tendo pesadelos. Elena resolutamente manteve seus olhos na chama,
mas quando Bonnie
quebrou o silêncio um arrepio percorreu a sua espinha.
Primeiro, era apenas um gemido, o som de alguém em sofrimento.
Então, enquanto Bonnie
atirava sua cabeça para trás, sua respiração vindo em curtas
rajadas, tornou-se palavras.
“Sozinho...” ela diz e parou. As unhas de Elena afundaram em sua
mão. “Sozinho... no
escuro,” falou Bonnie. Sua voz estava distante e torturada.
Teve outro silêncio, e então Bonnie começou a falar rapidamente.
“Está escuro e frio. E estou sozinho. Há alguma coisa atrás de
mim... pontuda e dura.
Pedras. Elas costumavam me machucar—mas não agora. Eu estou sem
sensibilidade, por
causa do frio. Muito frio...” Bonnie se mexeu, como se para se
afastar de alguma coisa, e
então ela riu, uma risada medonha quase como um soluço. “Isso é...
engraçado. Eu nunca
pensei que eu gostaria tanto de ver o Sol. Mas é sempre escuro
aqui. E frio. Água até o meu
pescoço, como gelo. Isto é engraçado também. Água em todo o
lugar—e eu morrendo de
sede. Tanta sede... dói...”
Elena sentiu algo apertado em volta de seu coração. Bonnie estava
dentro dos pensamentos
de Stefan, e o que sabe o que ela poderia descobrir lá? Stefan,
diga-nos onde você está, ela
pensou desesperadamente. Olhe em volta; diga-nos o que você vê.
“Sede. Eu preciso de... vida?” A voz de Bonnie estava duvidosa,
como se não estivesse
certa de como transcrever algum conceito. “Estou fraco. Ele disse
que eu sempre serei o
mais fraco. Ele é forte... um matador. Mas isto é o que eu sou
também. Eu matei Katherine;
talvez eu mereça morrer. Por que apenas não deixar?...”
“Não!” disse Elena antes que ela pudesse parar a si mesma. Neste
momento, ela se
esqueceu de tudo menos o sofrimento de Stefan. “Stefan—“
“Elena!” Meredith gritou abruptamente no mesmo momento. Mas a
cabeça de Bonnie caiu
para frente, o fluxo de palavras cortado. Horrorizada, Elena
percebeu o que tinha feito.
“Bonnie, você está bem? Você pode achá-lo de novo? Eu não
queria...”
A cabeça de Bonnie se levantou. Seus olhos estavam abertos agora,
mas eles não olhavam
nem para a vela nem para Elena. Eles observavam mais à frente,
inexpressíveis. Quando ela
falou, sua voz estava distorcida, e o coração de Elena parou. Não
era a voz de Bonnie, mas
era uma voz que Elena reconhecia. Ela ouviu a mesma vindo dos
lábios de Bonnie uma vez
antes, no cemitério.
“Elena,” a voz disse, “não vá para a ponte. É a Morte, Elena. Sua
morte está esperando lá.”
Então Bonnie caiu para frente.
Elena segurou os ombros dela e sacudiu “Bonnie!” ela quase gritou.
“Bonnie!”
“O que... oh, não. Deixe.” A voz de Bonnie estava fraca e abalada,
mas era a sua voz.
Ainda dobrada, ela colocou uma mão na sua testa.
“Bonnie, você está bem?”
“Eu acho... sim. Mas foi tão estranho.” O tom de sua voz elevou-se
e ela olhou para cima,
piscando. “O que foi isso, Elena, sobre ser um matador?”
“Você lembra-se disto?”
“Eu me lembro de tudo. Eu não posso descrever isto, foi terrível.
Mas o que isto significa?”
“Nada,” disse Elena. “Ele estava alucinando, é tudo.”
Meredith se intrometeu. “Ele? Então você realmente acha que ela
sintonizou em Stefan?”
Elena balançou a cabeça em sinal de positivo, seus olhos violentos
e ardentes enquanto ela
olhava para longe. “Sim. Eu acho que era Stefan. Tinha que ser. E
eu acho que ela até
mesmo contou-nos onde ele está. Embaixo da Ponte Wickery, na
água.”
__________________________
Capítulo Três
Bonnie encarou-a. “Eu não me lembro de nada sobre a ponte. Não
parecia como se fosse
uma ponte.”
“Mas você disse, no final. Eu pensei que você se lembrasse...” A
voz de Elena se perdeu.
“Você não lembra esta parte,” ela disse insipidamente. Não era uma
pergunta.
“Eu me lembro de estar sozinho, em algum lugar gelado e escuro, e
sentindo-me fraca... e
com sede. Ou era com fome? Eu não sei, mas eu precisava de...
alguma coisa. E eu quase
queria morrer. E então você me acordou.”
Elena e Meredith trocaram olhares. “E depois disso,” Elena disse
para Bonnie, “você disse
mais uma coisa, em uma voz estranha. Você disse para não ir à
ponte.”
“Ela disse para você não ir à ponte.” Meredith corrigiu. “Você em
particular, Elena. Ela
disse que Morte estava esperando.”
“Eu não me importo com o que está esperando,” disse Elena. “Se lá
é onde Stefan está, é
para lá que estou indo.”
“Então é para lá que nos todas estamos indo,” disse Meredith.
Elena hesitou. “Eu não posso pedir para vocês fazerem isto,” ela
disse devagar. “Lá pode
ter perigo—de um tipo que vocês não conhecem. Pode ser melhor eu
ir sozinha.”
“Você esta brincando?” Bonnie disse, esticando o seu queixo. “Nós
amamos perigo. Eu
quero ser jovem e bonita na minha sepultura, lembra?”
“Não,” disse Elena rapidamente. “Você foi quem disse que não era
um jogo.”
“E não é para Stefan também,” Meredith as lembrou. “Não estamos
fazendo muito bem
para ele paradas aqui.”
Elena já estava tirando o seu quimono, movendo-se até o closet. “É
melhor nos
agasalharmos. Peguem qualquer coisa que você quiserem para se
manterem quente,” ela
disse.
Quando elas estavam mais ou menos vestidas para o tempo, Elena
virou-se para a porta.
Então ela parou.
“Robert,” ela disse. “Não tem como passarmos por ele para a porta
da frente, mesmo se ele
estiver dormindo.”
Simultaneamente, as três viraram-se para a janela.
“Oh, maravilhoso,” disse Bonnie.
Enquanto elas escalavam o marmeleiro, Elena percebeu que tinha
parado de nevar. Mas o
ar frio na sua bochecha a fez lembrar-se das palavras de Damon. O
inverno é uma estação
rancorosa, ela pensou, ela tremeu.
Todas as luzes da casa estavam apagadas, incluindo as da sala de
estar. Robert já devia ter
ido dormir. Mesmo assim, Elena prendeu sua respiração enquanto
elas rastejavam pelas
janelas escuras. O carro de Meredith estava um pouco mais para
baixo na rua. No último
minuto, Elena decidiu pegar uma corda, e ela abriu silenciosamente
a porta de trás para a
garagem. Havia uma rápida correnteza no Riacho Drowning, e
atravessar seria perigoso.
O caminho até o final da cidade foi tenso. Enquanto elas passavam
pelos arredores da
floresta, Elena se lembrou da maneira que as folhas caíram nela no
cemitério.
Particularmente folha de carvalho.
“Bonnie, as folhas de carvalho tem algum significado especial? Sua
avó falou alguma vez
sobre elas?”
“Bem, elas são sagradas para os Druidas. Todas as árvores são, mas
os carvalhos são os
mais sagrados. Eles acham que o espírito das árvores deu a eles
poderes.”
Elena digeriu isto em silêncio. Quando elas alcançaram a ponte e
saíram do carro, ela deu
um olhar inquieto para os carvalhos no lado direito da estrada.
Mas a noite estava clara e
estranhamente calma, e nenhuma brisa agitou as folhas secas
deixadas nos galhos.
“Procurem por um corvo,” ela disse para Bonnie e Meredith.
“Um corvo?” Meredith disse agudamente. “Como o corvo do lado de
fora da casa de
Bonnie na noite em que Yangtze morreu?”
“Nesta noite Yangtze foi morto. Sim.” Elena se aproximou das águas
escuras do Riacho
Drowning com os batimentos acelerados. Tirando o seu nome, não era
uma enseada, mas
sim um rio de forte correnteza com bancos de argila vermelha
nativa. Acima dela
encontrava-se a Ponte Wickery, uma estrutura de madeira construída
à quase um século
atrás. Uma vez, tinha sido forte o suficiente para suportar
vagões; agora era apenas uma
passarela que ninguém usado, pois estava muito fora de caminho.
Era um lugar inútil,
solitário e hostil, Elena pensou. Aqui e ali havia porções de neve
na terra.
Apesar das palavras bravas mais cedo, Bonnie estava andando para
trás. “Lembra da última
vez que cruzamos essa ponte?” Ela disse.
Muito bem, Elena pensou. Na última vez que elas cruzaram a ponte,
elas estavam sendo
perseguidas por... alguma coisa...do cemitério. Ou alguém, ela
pensou.
“Nós não vamos atravessar ainda,” ela disse. “Primeiro temos que
olhar embaixo, deste
lado”
Os faróis do carro iluminaram apenas uma pequena porção da margem
embaixo da ponte.
Enquanto Elena saia do caminho estreito de luz, ela sentiu uma
vibração nauseante de
pressentimento. Morte estava esperando, a voz disse. Estava a
Morte aí embaixo?
Seus pés escorregaram nas pedras úmidas e cheias de limo. Tudo o
que ela podia ouvir era
a pressa da água, e seu eco oco vindo da ponte sobre sua cabeça.
E, embora ela tenha
forçado sua visão, tudo o que ela pode ver no escuro foi à margem
bruta e os cavaletes de
madeira da ponte.
“Stefan?” ela murmurou, e ela estava quase feliz que o barulho da
água cobriu sua voz. Ela
se sentiu como uma pessoa chamando “quem está ai?” para uma casa
vazia, ainda com
medo do que poderia responder.
“Isto não está certo,” disse Bonnie atrás dela.
“O que você quer dizer?”
Bonnie estava olhando em volta, agitando sua cabeça ligeiramente,
seu corpo tenso de
concentração. “Só parece errado. Eu não—bem, por uma coisa eu não
ouvi o rio antes. Eu
não podia ouvir nada realmente, apenas o silêncio morto.”
O coração de Elena caiu com desânimo. Parte dela sabia que Bonnie
estava certa, que
Stefan não estava neste lugar selvagem e solitário. Mas parte dela
estava muita assustada
para ouvir.
“Temos que ter certeza,” ela disse através do aperto em seu peito,
e ela moveu-se mais para
dentro da escuridão, sentindo o seu caminho em frente, pó não
poder ver. Mas no final ela
teve que admitir que não havia nenhum sinal que alguma pessoa
tivesse estado
recentemente aqui. Nenhum sinal de uma cabeça escura na água,
também. Ela limpou as
mãos frias e enlameadas no seu jeans.
“Nós podemos checar o outro lado da ponte,” disse Meredith, e
Elena concordou
mecanicamente. Mas ela não precisa olhar a expressão no rosto de
Bonnie para saber o que
elas achariam. Este era o lugar errado.
“Vamos apenas sair daqui,” ela disse, escalando através da
vegetação para a cunha de luz
além da ponte. Assim que tinha alcançado isto, Elena congelou.
Bonnie engasgou. “Oh, Deus—“
“Volte,” sibilou Meredith. “Até a margem.”
Uma figura preta foi claramente representada contra os faróis do
carro acima. Elena,
olhando com o coração batendo descontroladamente, não podia dizer
nada sobre isto além
de que era um macho. A face estava na escuridão, mas ela teve um
sentimento terrível.
Estava se movendo até elas.
Abaixando-se rapidamente para ficar fora de vista, Elena encolheu-se
contra a margem
lamacenta embaixo da ponte, empresando a si própria o máximo que
podia.
Elas não podiam ver nada daqui, mas de repente houve um ruído de
passos pesados na
ponte. Mal ousando respirar, elas aderiram-se uma a outra, as
faces para cima. Os passos
pesados rangeram através das tábuas de madeira, movendo-se para
longe delas.
Por favor, deixe-o continuar indo, pensou Elena. Oh, por favor...
Ela afundou seus dentes nos lábios, e então Bonnie choramingou
suavemente, sua mão
gelada agarrando a de Elena. Os passos estavam retornando.
Eu deveria ir lá, Elena pensou. Sou eu quem ele quer, não elas.
Foi isso o que ele disse. Eu
deveria ir lá e enfrentá-lo, e talvez ele deixe Bonnie e Meredith
irem. Mas a raiva
impetuosa que tinha sustentado-a esta manhã estava em cinzas
agora. Com toda a sua força
de vontade, ela não poderia soltar sua mão da de Bonnie, não
poderia se separar.
Os passos soaram logo acima delas. Então houve um silêncio,
seguido por um som de algo
escorregando na margem.
Não, pensou Elena, seu corpo carregado com medo. Ele estava
descendo. Bonnie lamentou
e enterrou sua cabeça contra os ombros de Elena, e Elena sentiu
todos os seus músculos
tensos enquanto ela via o movimento—pé, pernas— aparecendo da
escuridão. Não...
“O que vocês estão fazendo aqui?”
A mente de Elena recusou-se a processar esta informação de
primeira. Ela estava em pânico
ainda, e ela quase gritou enquanto Matt deu outro passo para a
margem, fitando para baixo
da ponte.
“Elena? O que você está fazendo?” ele disse de novo.
Bonnie levantou a cabeça. A respiração de Meredith explodiu em
alívio. Elena se sentiu
como se seus joelhos fossem ceder.
“Matt”, ela disse. Foi tudo o que ela pode reproduzir.
Bonnie foi mais eloqüente. “O que você acha que você está fazendo?
Ela disse em tons
elevados. “Tentando nos dar um ataque do coração? O que você está
fazendo aqui fora a
está hora à noite?”
Matt colocou uma mão no seu bolso, trocando rapidamente. Enquanto
elas emergiam
debaixo da ponte, ele olhou para fora além do rio. “Eu segui
vocês.”
“Você o que?” disse Elena.
Relutante, ele se balançou para encarar ela. “Eu segui vocês,” ele
repetiu, seus ombros
tensos. “Eu percebi que você encontraria uma maneira de enganar
sua tia e sair de novo.
Então eu sentei no meu carro do outro lado da rua e observei a sua
casa. Certo o suficiente,
vocês três desceram pela janela. Então eu segui vocês até aqui.
Elena não sabia o que falar. Ela estava furiosa, é claro, ele
tinha provavelmente deito isto só
para manter sua promessa com Stefan. Mas o pensamento de Matt
sentado lá fora no seu
velho e batido Ford, provavelmente congelando até a morte e sem
suprimento... Isto deu a
ela uma estranha angústia que ela não queria prolongar.
Ele estava olhando para o rio novamente. Ela se aproximou dele e
falou calmamente.
“Desculpe-me, Matt,” ela disse. “Sobre como eu te tratei em casa,
e—e sobre—” Ela
procurou atrapalhadamente por um minuto e então desistiu. Sobre
tudo, ela pensou
desesperançada.
“Bem, desculpe-me por assustar vocês ainda pouco.” Ele se virou veloz
para encará-la,
como se isso resolvesse a questão. “Agora vocês podem, por favor,
me contar o que vocês
pensavam que estavam fazendo?”
“Bonnie pensava que Stefan poderia estar aqui.”
“Bonnie não,” disse Bonnie. “Bonnie disse logo que era o lugar
errado. Nós estávamos
procurando por um lugar quieto, sem barulho, e fechado. E me
senti... cercada.” Ela
explicou para Matt.
Matt olhou para ela cuidadosamente, como se ele pudesse morder.
“Certamente você
sentiu,” ele disse.
“Havia pedras em volta de mim, mas não como as pedras desse rio.”
“Uh, não, é claro que não eram.” Ele olhou pelo canto dos olhos
para Meredith, que teve
pena dele.
“Bonnie teve uma visão,” ela disse.
Matt recuou um pouco, e Elena pode ver seu perfil nos faróis. Pela
sua expressão, ela
poderia dizer que ele não sabia se fugia ou se as levava para o
manicômio mais próximo.
"Não é uma brincadeira." ela disse. "Bonnie é
psíquica, Matt. Eu sei que eu sempre disse
que não acreditava este tipo de coisa, mas eu estava errada. Você
não sabe o quanto errada.
Nesta noite, ela—ela sincronizou na mente de Stefan de alguma
forma e teve um relança de
onde ele está.
Matt deu um longo suspiro. "Eu vejo. Okay..."
"Não me proteja! Eu não sou burra, Matt, e eu estou te
falando que é verdade. Ela estava lá,
com Stefan; ela sabia de coisas que apenas ele saberia. E ela viu
o lugar em que ele está
aprisionado."
"Aprisionado," disse Bonnie. "É isso. Não era
definitivamente algo aberto como um rio.
Mas havia água, água até o meu pescoço. O pescoço dele. E paredes
de pedra em volta,
coberta com musgo espesso. A água era gelada e cheirava mal
também.
"Mas o que você viu?" Elena disse.
"Nada. Era como se estivesse cega. De alguma forma eu sabia
que se houvesse até mesmo
o mais fraco raio de luz eu seria capa de ver, mas eu não pude.
Estava negro como um
túmulo."
"Como um túmulo..." Um fino arrepio passou por Elena.
Ela pensou sobre a igreja
arruinada acima do cemitério. Havia um túmulo lá, um túmulo que
ela pensou ter se aberto
uma vez.
"Mas um túmulo não seria tão molhado," Meredith falou.
"Não... mas eu não tenho idéia nenhuma de onde isto pode ser
então," Bonnie disse. "Stefan
não estava realmente em seu juízo perfeito; ele estava tão fraco e
tão machucado. E com
tanta sede—"
"Elena abriu a boca para parar Bonnie de continuar, mas no
mesmo momento Matt
interrompeu.
"Eu vou dizer com o que isto parece para mim," ele
disse.
As três garotas olharam para ele, ligeiramente separado do grupo
como se fosse um
ouvinte. Elas quase tinham se esquecido dele.
"Poço?" disse Elena.
"Exatamente," ele disse. "Quero dizer, isto parece
com um poço."
Elena piscou, excitação agitando-se nela. "Bonnie?"
"Poderia ser," disse Bonnie lentamente. "O tamanho,
as paredes e tudo estariam certas. Mas
um poço é aberto; eu seria capaz de ver as estrelas."
"Não se estivesse coberto," disse Matt. "Muitas das
fazendas antigas por aqui têm poços
que não são mais usados, e alguns fazendeiros cobrem eles para ter
certeza que crianças
pequenas não caiam. Meus avôs fazem isto."
Elena não podia conter sua agitação mais. "Pode ser isto. Tem
que ser isto... Bonnie,
lembre-se, você disse que é sempre escuro lá."
"Sim, e tinha uma sensação de subsolo." Bonnie estava
agitada, também, mas Meredith
interrompeu com uma pergunta seca.
"Quantos poços você acha que existe em Fell's Church,
Matt?"
"Dúzias, provavelmente," ele disse. "Mas cobertos?
Não tantos. E se você esta sugerindo
que alguém jogou Stefan nele, então não pode ser um lugar onde
pessoas possam ver isto.
Provavelmente algum lugar abandonado..."
"E o carro dele foi encontrado nesta rota," disse Elena.
"O velho lugar dos Francher," disse Matt.
Todos olharam de um para o outro. A casa da fazenda dos Francher
tinha sido arruinada e
abandonada por mais tempo que alguém podia lembrar. Encontrava-se
no meio da floresta,
e a mesma tinha se apossado dela há quase um século atrás.
“Vamos lá,” adicionou Matt simplesmente.
“Elena colocou uma mão no seu braço. “Você acredita—?”
Ele olhou para longe por um momento. “Eu não sei em que
acreditar,” ele disse por fim.
“Mas eu estou indo.”
Eles se separaram e pegaram ambos os carros, Matt com Bonnie na
frente, e Meredith
seguindo com Elena. Matt pegou uma pequena e em desuso estradinha
para dentro da
floresta até ela desaparecer.
“A partir daqui a gente anda,” ele disse.
Elena estava feliz por ter pensado em trazer uma corda; eles
precisariam dela se Stefan
estivesse mesmo no poço dos Francher. E se ele não estivesse...
Ela não se deixaria pensar sobre isto.
Era difícil seguir pelo meio da floresta, especialmente no escuro.
A vegetação rasteira era
espessa, e os galhos mortos chegavam a arranhar eles. Mariposas se
agitavam em volta
deles, roçando na bochecha de Elena com asas invisíveis.
Eventualmente, eles chegaram a uma clareira. As fundações da velha
casa podiam ser
vistas, construções de pedra amarradas ao chão, agora, por ervas
daninhas e espinheiros. Na
maior parte, a chaminé estava ainda intacta, com, com lugares ocos
onde o concreto havia
mantido junto uma vez, como um monumento em desintegração.
“O poço deve ser em algum lugar lá atrás,” Matt disse.
Foi Meredith que encontrou o poço e chamou os outros. Eles se
reuniram em volta e
olharam para a planície, blocos quadrados de pedra quase no nível
do solo.
Matt parou e examinou a sujeira e as ervas daninhas em volta. “Foi
movido recentemente,”
ele disse.
Foi neste momento que o coração de Elena começou a bater
fervorosamente. Ela podia o
sentir ecoando na sua garganta e nas pontas dos seus dedos. “Vamos
tirar isto,” ela disse
numa voz mal acima de um sussurro.
A laje de pedra era tão pesada que Matt nem podia deslocá-la.
Finalmente todos os quatro
puxaram, empurrando-se de encontro com o chão dela, até que, com
um gemido, o bloco se
moveu uma fração de polegada. Uma vez que havia uma minúscula
abertura entre a pedra e
o poço, Matt usou um galho morto para erguer como uma alavanca,
alargando a abertura.
Então eles todos puxaram de novo.
Quando houve uma abertura larga o suficiente para sua cabeça e
ombros, Elena curvou-se,
olhando para dentro. Ela estava quase amedrontada para confiar.
“Stefan?”
Os segundos depois, pairando sobre esta abertura escura, olhando
para baixo para a
escuridão, ouvindo apenas os ecos dos seixos agitados pelo
movimento dela, foram
agonizantes. Então, incrivelmente, houve outro som.
“Quem—? Elena?”
“Oh, Stefan!” O alívio a fez ficar fora de si. “Sim! Estou aqui,
estamos aqui, e vamos tirá-lo
daí. Você está bem? Você está machucado?” A única coisa que parou
ela de tombar a si
mesma no poço foi Matt pegando-a por trás. “Stefan, segure-se, nós
temos uma corda.
Diga-me que você está bem.”
Houve um fraco, quase irreconhecível som, mas Elena soube o que
era. Uma risada. A voz
de Stefan estava abatida, mas inteligível. “Eu—já estive melhor,”
ele disse. “Mas eu estou
—vivo. Quem está com você?”
“Sou eu. Matt,” disse Matt libertando Elena. Ele se curvou para o
buraco. Elena, quase
delirando de euforia, notou que ele estava com um olhar
ligeiramente atordoado. “E
Meredith e Bonnie, que vai dobrar algumas colheres para nós
depois. Eu vou atirar uma
corda para você... Aí está, a não ser que Bonnie possa levitar
você para fora.” Ainda de
joelhos, ele se virou para olhar para Bonnie.
Ela deu um tabefe no topo da cabeça dele. “Não brinque sobre isto!
Traga ele para cima!”
“Sim, senhora (ma’am),” disse Matt, um pouco tonto. “Aqui, Stefan.
Você terá que amarrar
isto em volta de você.”
“Sim,” disse Stefan. Ele não podia argumentar sobre seus dedos
insensíveis por causa do
frio ou se eles conseguiriam ou não transportar o seu peso para
cima. Não havia outra
maneira.
“Não!” A voz estava fraca e rouca, e tinha vindo da figura sem
força que Elena embalava.
Ela sentiu Stefan se encolher, sentiu ele lentamente levantar a
cabeça. Seus olhos verdes
fixos nos dela, e ela viu urgência neles.
“Sem... médicos.” Aqueles olhos queimaram nos olhos dela.
“Prometa... Elena.”
Os próprios olhos de Elena arderam e sua visão embaçou. “Eu
prometo,” ela murmurou.
Então ela sentiu o que quer que estivesse mantendo ele consciente,
a corrente de pura força
de vontade e determinação, entrar em colapso. Ele caiu nos braços
dela, inconsciente.
__________________________________________
Capítulo Quatro
“Mas ele tem que ir ver um médico. Ele parece estar morrendo!”
disse Bonnie.
“Ele não pode. Eu não posso explicar agora. Vamos simplesmente
levá-lo para casa, certo?
Ele está molhado e congelando aqui. Então nós discutimos isso.”
O trabalho de levar Stefan pela floresta foi o bastante para
ocupar as mentes de todo mundo
por um tempo.
Ele permaneceu inconsciente, e quando eles finalmente o deitaram
no banco traseiro do
carro do Matt estavam todos machucados e exaustos, além de estarem
molhados do contato
com as roupas encharcadas dele. Elena segurou sua cabeça no seu
colo enquanto eles
dirigiam até a pensão. Meredith e Bonnie seguiram.
“Eu estou vendo luzes acesas,” Matt disse, parando na frente da
grande construção em
vermelho-ferrugem. “Ela deve estar acordada. Mas a porta está
provavelmente trancada.”
Elena gentilmente levantou a cabeça de Stefan e deslizou para fora
do carro, e viu uma das
janelas na casa ficar mais clara quando a cortina foi puxada de
lado. Então ela viu uma
cabeça e ombros aparecerem na janela, olhando para baixo.
“Sra. Flowers!” ela chamou, acenando. “É a Elena Gilbert, Sra.
Flowers. Nós achamos o
Stefan, e nós precisamos entrar!”
A imagem na janela não se moveu ou de qualquer outra maneira
reconheceu suas palavras.
Ainda assim, por sua postura, Elena pôde dizer que ela ainda
estava olhando para eles.
“Sra. Flowers, nós estamos com o Stefan," ela chamou
novamente, gesticulando para o
interior iluminado do carro. “Por favor!”
"Elena! Já está destrancada!” A voz de Bonnie flutuou até ela
da varanda da frente,
distraindo Elena da imagem na janela. Quando ela olhou de volta
para cima, ela viu que as
cortinas tinham voltado ao lugar, e então a luz no quarto de cima
foi apagada.
Era estranho, mas ela não teve tempo para decifrar isso. Ela e
Meredith ajudaram Matt a
levantar Stefan e carregarem-no até os degraus da frente.
Lá dentro, a casa estava escura e quieta. Elena direcionou os
outros pela escada que ficava
do lado oposto a porta, e para o patamar do segundo andar. Dali
eles foram para um quarto,
e Elena fez com que Bonnie abrisse a porta que parecia com um
closet. Ela revelava outra
escada, muito escura e estreita.
“Quem deixaria a sua – porta da frente destrancada – depois de
todo que aconteceu
recentemente?” Matt resmungou enquanto eles rebocavam sua carga
inconsciente. “Ela
deve ser louca.”
“Ela é louca,” Bonnie
disse de cima, empurrando a porta no alto da escada para abrir. “Na
última vez que estivemos aqui ela falou sobre a coisa mais
estranha–” Sua voz quebrou
com uma ofegação.
“O que foi?” disse Elena. Mas a medida em que eles alcançavam o
piso do quarto de
Stefan, ela viu por si mesma.
Ela tinha se esquecido da condição em que o quarto estivera na
última vez que ela o vira.
Baús cheios de roupas estavam de pé os deitados de lados, como se
tivessem sido jogados
por alguma mão gigante de uma parede à outra. Seus conteúdos
estavam espalhados no
chão, junto com artigos sobre cômodas e mesas. A mobília estava
virada de cabeça para
baixo, e uma janela estava quebrada, permitindo que um vento
gelado soprasse. Havia
apenas uma luminária acesa, em um canto, e sombras grotescas
teciam-se contra o teto. “O
que aconteceu?” disse Matt.
Elena não respondeu até que eles tinham esticado Stefan na cama.
“Eu não sei com
certeza,” ela disse, e isso era verdade, embora muito pouco. “Mas
já estava desse jeito
ontem a noite. Matt, você me ajuda? Ele precisa se secar.”
“Eu vou achar outra luminária,” disse Meredith, masElena falou
rapidamente.
“Não, nós podemos ver direito. Por que você não tenta acender a
lareira?”
Caindo de um dos báus abertos estava um manto de tecido felpudo de
alguma cor escura.
Elena pegou-o, e ela e Matt começaram a tirar as roupas molhadas e
coladas de Stefan. Ela
conseguiu tirar seu suéter, mas uma olhada em seu pescoço foi o
bastante para congelá-la
no lugar.
“Matt, você poderia – você poderia me dar aquela toalha?”
Assim que ele se virou, ela puxou o suéter por sobre a cabeça de
Stefan e rapidamente
enrolou a manta ao seu redor. Quando Matt se virou e lhe entregou
a toalha, ela a envolveu
ao redor da garganta de Stefan como um cachecol. Sua pulsação
estava acelerando, sua
mente trabalhando furiosamente.
Não era de se espantar que ele estivesse tão fraco, tão
inconsciente. Ah, Deus. Ela tinha que
examiná-lo, ver o quão ruim estava. Mas como ela poderia, com Matt
e as outras aqui?
“Eu vou buscar um médico,” Matt disse em uma voz forçada, seus
olhos no rosto de Stefan.
“Ele precisa de ajuda, Elena.”
Elena entrou em pânico. “Matt, não... por favor. Ele – ele tem
medo de médicos. Eu não sei
o que aconteceria se você trouxesse um aqui.” Novamente, era a
verdade, se não toda a
verdade. Ela teve uma idéia do que poderia ajudar Stefan, mas ela
não poderia fazer isso
com os outros ali. Ela se inclinou por sobre Stefan, esfregando as
mãos dele entre as delas,
tentando pensar.
O que ela poderia fazer? Proteger o segredo de Stefan ao custo de
sua vida? Ou traí-lo para
poder salvá-lo? Iria salvá-lo contar a Matt e Bonnie e Meredith? Ela olhou para seus
amigos, tentando imaginar as respostas deles se eles descobrissem
a verdade sobre Stefan
Salvatore.
Não era bom. Ela não podia arriscar. O choque e horror da
descoberta quase deixou a
própria Elena vacilante com loucura. Se ela, que amava Stefan,
estivera pronta para correr
dele gritando, o que esses três fariam? E então havia o
assassinato do Sr. Tanner. Se eles
soubessem o que Stefan era, eles seriam capazes de acreditar que
ele era inocente? Ou, no
fundo de seus corações, ele sempre iriam suspeitar dele?
Elena fechou seus olhos. Era perigoso demais. Meredith e Bonnie e
Matt eram seus amigos,
mas isso era uma coisa que ela não podia dividir com eles. Em todo
o mundo, não havia
ninguém em quem ela pudesse confiar esse segredo. Ela teria que
mantê-lo sozinha.
Ela se indireitou e olhou para Matt. “Ele tem medo de médicos, mas
uma enfermeira talvez
não tenha problema.” Ela se virou para onde Bonnie e Meredith
estavam ajoelhadas perante
a lareira. “Bonnie, e quanto a sua irmã?”
"Mary?" Bonnie olhou para seu relógio. “Ela está com o
turno noturno na clínica essa
semana, mas ela provavelmente já está em casa. Só–”
“Então é isso. Matt, vá com Bonnie e peça a Mary para vir aqui e
dar uma olhada no Stefan.
Se ela achar que ele precisa de um médico, eu não irei mais
discutir.”
Matt hesitou, então exalou severamente. “Está certo. Eu ainda acho
que você está errada,
mas – vamos, Bonnie. Vamos quebrar algumas leis de trânsito.”
Enquanto eles saiam pela porta, Meredith permaneceu de pé ao lado
da lareira, observando
Elena com firmes olhos negros.
Elena forçou a si mesma encontrar-los. “Meredith... eu acho que
todos vocês deviam ir.”
“Você acha?” Aqueles olhos negros permaneceram nela firmemente,
como se tentando
penetrar e ler sua mente. Mas Meredith não fez nenhuma outra
pergunta. Após um
momento ela acenou, e seguiu Matt e Bonnie sem uma palavra.
Quando Elena ouviu a porta no fim da escada fechar, ela
afobadamente endireitou uma
luminária que estava deitada de ponta cabeça ao lado da cama e a
ligou.
Agora, por fim, ela podia avaliar os ferimentos do Stefan.
Sua cor parecia pior do que antes; ele estava literalmente quase
tão branco quanto os
lençois debaixo dele. Seus lábios estavam brancos, também, e Elena
de repente pensou em
Thomas Fell, o fundador de Fell’s Church. Ou, ao invés, na estátua
de Thomas Fell, deitada
ao lado de sua esposa em uma tampa de pedra na tumba deles. Stefan
estava da cor daquele
mármore.
Os cortes e arranhões em suas mãos eram de um roxo lívido, mas
eles não estavam mais
sangrando. Ela gentilmente virou a cabeça dele para olhar seu
pescoço.
E ali estava. Ela tocou o lado de seu próprio pescoço
automaticamente, como se para
verificar a semelhança. Mas as marcas de Stefan não eram furos
pequenos. Elas eram
rasgos profundos e selvagens na carne. Ele parecia que tinha sido
espancado por algum
animal que havia tentado despedaçar sua garganta.
Raiva incandescente queimou por Elena de novo. E com isso, ódio.
Ela percebeu que
apesar de seu nojo e fúria, ela não havia realmente odiado Damon
antes. Não realmente.
Mas agora... agora, ela odiava . Ela o detestava com uma intensidade de emoções que
nunca sentira por ninguém em sua vida. Ela queria machucá-lo,
fazê-lo pagar. Se ela tivesse
uma estaca de madeira no momento, ela teria martelado-a no coração
de Damon sem
arrependimento.
Mas agora ela tinha que pensar em Stefan. Ela estava tão
terrivelmente quieto. Essa era
coisa mais difícil de suportar, a falta de propósito ou
resistência em seu corpo, o vazio.
Era isso. Era como se ele tivesse demitido-se dessa forma e a
deixado com um vaso vazio.
"Stefan!" Sacudí-lo não adiantou nada. Com uma mão no
centro de seu peito frio, ela
tentou detectar um batimento. Se tivesse um, era fraco demais para
sentir.
Fique calma, Elena, ela disse à si mesma, afastando a parte de sua
mente que queria entrar
em pânico. Essa parte estava dizendo, “E se ele estiver morto? E
se ele realmente estiver
morto, e nada que você possa fazer irá salvá-lo?”
Espiando pela sala, ela viu a janela quebrada. Cacos de vidro
estavam no chão debaixo
dela. Ela foi até lá e pegou um, notando como brilhava na luz do
fogo. Uma coisa linda,
com uma ponta como a de uma lâmina, ela pensou. Então,
deliberadamente, entrando de
cabeça, ela cortou seu dedo com ele.
A dor a fez arfar. Após um instante, o sangue começou a fluir do
corte, pingando pelo seu
dedo como cera de um castiçal. Rapidamente, ela se ajoelhou ao
lado de Stefan e colocou
seu dedo nos lábios dele.
Com sua outra mão, ela prendeu a mão indiferente dele, sentindo a
dureza do anel de prata
que ele usava. Ela mesma imóvel como uma estátua, ajoelhou-se ali
e esperou.
Ela quase perdeu o primeiro minúsculo relampejo de resposta. Seus
olhos estavam fixos no
rosto dele, e ela capturou o minuto em que seu peito começou a se
erguer somente na sua
visão periférica. Mas então os lábios abaixo de seu dedo tremerem
e se separaram
ligeiramente, e ele engoliu automaticamente.
“É isso,” Elena sussurrou. “Vamos, Stefan.”
Os cílios dele se agitaram, e com uma clara alegria ela sentiu os
dedos dele retornarem a
pressão dos dela. Ele engoliu novamente.
“Sim.” Ela esperou até que os olhos dele piscassem e lentamente
abrissem antes de se
sentar.
Então ela apalpou com uma mão a gola alta de seu suéter,
deixando-o de fora do caminho.
Aqueles olhos verdes estavam estupefatos e pesados, mas tão
teimosos como ela os
conhecia. “Não,” Stefan disse, sua voz um sussurro rachado.
“Você tem que fazer, Stefan. Os outros estão voltando e trazendo
uma enfermeira com eles.
Eu tive que concordar com isso. E se você não estiver bem o
bastante para convencê-la que
não precisa de um hospital...” Ela deixou a sentença inacabada.
Ela mesma não sabia o que
um médico ou um técnico de laboratório achariam ao examinar
Stefan. Mas ela sabia que
ele sabia, e isso o faria ficar assustado.
Mas Stefan só pareceu mais obstinado, virando seu rosto para longe
dela. “Não posso,” ele
sussurrou. “É perigoso demais. Já tomei... demais… noite
passada."
Poderia ter sido na noite passada? Parecia há um ano. “Isso irá me
matar?” ela perguntou.
“Stefan, me responda! Isso irá me matar?"
“Não...” Sua voz estava mal-humorada. “Mas–”
“Então você tem que fazer isso. Não discuta comigo!” Inclinando-se
sobre ele, segurando
sua cabeça junto à dela, Elena pode sentir a sua necessidade dominante.
Ela ficou impressionada que ele estava até mesmo tentando
resistir. Era como um homem
faminto em frente a um banquete, incapaz de tirar seus olhos dos
pratos fumegantes, mas se
recusando a comer.
“Não,” Stefan disse de novo, e Elena sentiu uma onda de frustração
passar por ela. Ele era a
única pessoa que já conhecera que era tão teimosa quanto ela.
“Sim. E se você não cooperar eu vou cortar outra coisa, como o meu
pulso.” Ela estivera
pressionando seu dedo no lençol para parar o sangue; agora ela o
segurava na direção dele.
As pupilas dele dilataram, seus lábios se separaram. “Demais... já
foi,” ele murmurou, mas
seu olhar permaneceu no dedo dela, na clara gota de sangue na
ponta. “E eu não posso...
controlar...”
“Está tudo bem,” ela sussurrou. Ela passou o dedo pelos lábios
dele novamente, sentindo-os
abrir para recebê-lo; então, ela se inclinou por sobre ele e
fechou seus olhos.
Sua boca estava fria e seca enquanto tocava a garganta dela. Sua
mão prendeu a parte de
trás do pescoço dela enquanto os seus lábios procuravam os dois
furinhos que já estavam lá.
Elena forçou-se a não recuar da picada breve da dor. Então ela
sorriu.
Antes, ela tinha sentido a necessidade agonizante dele, sua fome
impulsora. Agora, pelo
laço que eles compartilhavam, ela sentia somente uma poderosa
alegria e satisfação.
Profunda satisfação a medida que a fome era gradualmente aliviada.
Seu próprio prazer vinha de dar, de saber que estava sustentando
Stefan com sua própria
vida. Ela podia sentir a força fluindo por ele.
Em tempo, ela sentiu a intensidade da necessidade diminuir. Ainda
assim, isso não queria
dizer que ela se fora, e ela não pôde entender quando Stefan
tentou empurrá-la para longe.
“É o bastante,” ele rangeu, forçando os ombros dela para cima.
Elena abriu seus olhos, seu
prazer sonhador quebrado. Os próprios olhos dele estavam verdes
como folhas de
mandrágora, e em seu rosto ela viu a fome feroz de um predador.
“Não é o bastante. Você ainda está fraco–”
“É o bastante para você.” Ele a empurrou de novo, e ela viu algo como desespero brilhar
naqueles olhos verdes. “Elena, se eu tomar muito mais, você irá
começar a mudar. E se
você não se afastar, se você não se afastar de mim agora...”
Elena retirou-se do pé da cama. Ela o observou se sentar e se
ajustar ao manto escuro. Na
luz da luminária, ela viu que sua pele tinha recuperado alguma
cor, um rubor leve
revestindo sua palidez. O cabelo dele estava secando em mar
baderneiro de ondas escuras.
“Eu senti sua falta,” ela disse suavemente. Alívio palpitou por
ela de repente, uma dor que
era quase tão ruim quanto o medo e a tensão foram. Stefan estava
vivo; ele estava falando
com ela. Tudo ia ficar bem afinal.
“Elena...” Os olhos deles se encontraram e ela foi presa por um
fogo verde.
Inconscientemente, ela se moveu na direção dele, e então parou
quando ela riu alto.
“Eu nunca te vi desse jeito antes,” ele disse, e ela olhou para
baixo para si mesma. Seus
sapatos e jeans estavam encrostados com lama vermelha, que estava
também
generosamente untada no resto dela. Sua jaqueta estava rasgada e
estava vazando seu
enchimento. Ela não tinha dúvida de que seu rosto estava manchado
e sujo, e ela sabia que
seu cabelo estava embaraçado e desordenado. Elena Gilbert, a
imaculada fashionista da
Robert E. Lee, estava uma bagunça.
“Eu gosto,” Stefan disse, e dessa vez ela riu com ele.
Eles ainda estavam rindo quando a porta abriu. Elena se endureceu
alertamente, puxando
sua gola rulê, olhando ao redor do quarto por alguma evidência que
pudesse traí-los. Stefan
sentou-se mais reto e lambeu seus lábios.
“Ele está melhor!” Bonnie celebrou enquanto entrava no quarto e
via Stefan.
Matt e Meredith estavam logo atrás dela, seus rostos iluminados
com surpresa e prazer. A
quarta pessoa que entrou era só um pouco mais velha que Bonnie,
mas ela tinha um ar
refrescante de autoridade que camuflava sua juventude. Mary
McCullough foi diretamente
à seu paciente e alcançou seu pulso.
“Então é você que tem medo de médicos,” ela disse.
Stefan pareceu desconcertado por um momento; então, ele se
recuperou. “É um tipo de
fobia infantil,” ele disse, soando embaraçado. Ele olhou para o
lado para Elena, que sorria
nervosamente e dava um pequenino aceno. “De qualquer jeito, eu não
preciso de um agora,
como pode ver.”
“Por que não me deixa julgar isso? Seu pulso está bem. De fato,
está surpreendentemente
lento, até mesmo para um atleta. Eu não acho que você está com
hipotermia, mas ainda está
gelado. Vamos tirar a sua temperatura.”
“Não, eu realmente não acho que isso seja necessário.” A voz de
Stefan estava baixa,
calma. Elena tinha ouvido ele usar aquele voz antes, e ela sabia o
que ele estava tentando
fazer. Mas Mary não tomou conhecimento algum.
“Abra, por favor.”
“Aqui, eu faço,” disse Elena rapidamente, esticando a mão para
pegar o termômetro de
Mary.
De algum jeito, quando ela o fez, o pequeno tubo de vidro escapou
de sua mão. Ele caiu no
chão de madeira e quebrou em diversos pedaços. Er, sinto muito!
“Não importa,” Stefan disse. “Estou me sentindo muito melhor do
que estava, e eu estou
ficando mais quente.”
Mary reparou na bagunça no chão, então olhou ao redor do quarto,
percebendo seu estado
pilhado. “Está certo,” ela exigiu, virando-se com as mãos no
quadril.
“O que está acontecendo aqui?”
Stefan nem ao menos piscou. “Nada demais. A Sra. Flowers é
simplesmente uma dona de
casa terrível,” ele disse, olhando-na diretamente nos olhos.
Elena queria riri, e ela viu que Mary queria, também. A garota
mais velha fez uma careta e
cruzou seus braços no peito ao invés. “Suponho que é inútil
esperar uma resposta direta,”
ela disse. “E está claro que você não está perigosamente doente.
Eu não posso forçá-lo a ir
para a clínica. Mas eu veementemente sugiro que você faça um
checkup amanhã.”
“Obrigado,” disse Stefan, o que, Elena notou, não era o mesmo que
concordar.
“Elena, você está com cara de que precisa de um médico,” disse Bonnie. “Você
está branca
como um fantasma.”
“Eu só estou cansada,” Elena disse. “Foi um longo dia.”
“Meu conselho é ir para casa e deitar-se – e ficar lá,” Mary
disse. “Você não está anêmica,
está?”
Elena resistiu ao impulso de colocar uma mão em sua bochecha. Ela
estava tão pálida?
“Não, eu só estou cansada,” ela repetiu. “Nós podemos ir para casa
agora, se Stefan estiver
bem.”
Ele concordou tranquilizadoramente, a mensagem em seus olhos
somente para ela. “Dê-nos
um minuto, sim?” ele disse para Mary e os outros, e eles recuaram
para a escada.
“Tchau. Cuide de si mesmo,” Elena disse em voz alta enquanto o
abraçava. Ela sussurrou,
“Por que você não usou os seus Poderes em Mary?”
“Eu usei,” ele disse carrancudamente no ouvido dela. “Ou pelo
menos eu tentei. Eu ainda
devo estar fraco. Não se preocupe; passará.
“É claro, passará,” disse Elena, mas seu estômago embrulhou. “Tem
certeza que deve ficar
sozinha, contudo? E se–”
“Eu vou ficar bem. Você é quem não deveria ficar sozinha.” A voz
de Stefan estava suave
mas urgente. “Elena, eu não tive uma chance de alertá-la. Você
estava certa sobre Damon
estar em Fell’s Church.”
“Eu sei. Ele fez isso com você, não fez?” Elena não mencionou que
ela fora procurar por
ele.
“Eu – não me lembro. Mas ele é perigosos. Mantenha Bonnie e
Meredith com você hoje a
noite, Elena. Eu não quero você sozinha. E tenha certeza de que
ninguém convide um
estranho para a sua casa.”
“Nós estamos indo direto para a cama,” Elena prometeu, sorrindo
para ele. “Nós não
iremos convidar ninguém.”
“Tenha certeza disso.” Não havia nenhuma petulância em seu tom,
ela concordou
lentamente.
“Eu entendo, Stefan. Nós teremos cuidado.”
“Bom.” Eles se beijaram, um mero encostar de lábios, mas suas mãos
unidas se separaram
reluntatemente. “Diga aos outros ‘obrigado’,” ele disse.
“Eu direi.”
Os cinco se reagruparam do lado de fora da pensão, Matt
oferecendo-se para levar Mary e
para casa para que Bonnie e Meredith pudessem voltar com Elena.
Mary claramente ainda
estava suspeita sobre os acontecimentos da noite, e Elena não
podia culpá-la. Ela também
não podia pensar. Ela estava cansada demais.
“Ele disse para dizer ‘obrigado’ a todos vocês,” ela se lembrou
depois de Matt ter partido.
“Ele... não tem de quê,” Bonnie disse, dividindo as palavras com
um bocejo enorme
enquanto Meredith abria a porta do carro para ela. Meredith não
disse nada. Ela estivera
muito quieta desde que deixara Elena sozinha com Stefan.Bonnie riu
repentinamente.
“Uma coisa que todos esquecemos,” ela disse. “A profecia.”
“Que profecia?” disse Elena.
“Sobre a ponte. Aquela que você disse. Bem, você foi para a ponte
e a Morte não estava
esperando lá afinal de contas. Talvez você entendeu mal as
palavras.”
“Não,” disse Meredith. “Nós ouvimos as palavras corretamente.”
“Bem, então, talvez seja outra ponte. Ou... hmmm…” Bonnie
aninhou-se em seu casaco,
fechando seus olhos, e não se incomodou em terminar.
Mas a mente de Elena completou a sentença por ela. Ou outra hora.Uma coruja piou do
lado de fora enquanto Meredith ligava o carro.
_____________
Capítulo Cinco
_____________
2 de Novembro, Sábado
Querido Diário,
Esta manhã eu acordei e me senti tão estranha. Eu não sei como
descrever isto. Por um
lado, eu estava tão fraca que quando eu tentei me levantar meus músculos
não me
suportaram. Mas por outro lado eu me sentia... agradável. Tão
confortável, tão relaxada.
Como se eu flutuasse numa cama de luz dourada. Eu não me importava
se eu nunca mais
me mexesse de novo.
Então eu me lembrei de Stefan, e eu tentei me levantar, mas tia
Judith me colocou de volta
na cama. Ela disse que Bonnie e Meredith tinham saído horas atrás,
e que eu estava
dormindo tão profundamente que eles não puderem me acordar. Ela
disse que eu
precisava de um descanso.
Então aqui estou. Tia Judith ligou a TV, mas eu não quero saber de
ver TV. Eu prefiro
deitar aqui e escrever, ou só deitar aqui.
Estou esperando que Stefan me ligue. Ele me disse que iria. Ou
talvez não. Eu não consigo
me lembrar. Quando ele ligar eu tenho que...
3 de Novembro, Domingo (10:30 p.m.)
Eu acabei de ler o que eu escrevi ontem e eu estou chocada. O que
estava errado comigo?
Eu parei no meio de uma frase, e eu nem lembro o que eu ia dizer.
E eu não expliquei
sobre o meu novo diário ou qualquer coisa. Eu deveria estar completamente
drogada.
De qualquer forma, este é o começo oficial do meu novo diário. Eu
comprei este livro em
branco na drogaria. Não é tão bonito quanto o outro, mas vai ter
que servir. Eu já perdi as
esperanças de ver o meu velho de novo. Quem quer que tenha roubado
ele, não vai trazer
de volta. Mas quando eu penso em alguém lendo ele, todos os meus
mais profundos
pensamentos e meus sentimentos sobre Stefan, eu quero matar esta
pessoa. Enquanto
simultaneamente eu quero morrer de humilhação.
Eu não estou com vergonha sobre como eu me sinto em relação à
Stefan. Mas isto é
privado. E há coisas lá, sobre como é quando ele me beija, me
abraça, que eu sei que ele
não iria querer que ninguém lesse.
É claro, não tinha nada sobre o segredo dele lá. Eu não tinha
descoberto ainda. Só a
partir daquele dia eu realmente o entendi, e nós ficamos juntos,
realmente juntos,
finalmente. Agora somos parte um do outro. Eu sinto como se
estivesse esperando por ele
a minha vida inteira.
Talvez você pense que eu seja terrível por amar ele, considerando
o que ele é. Ele pode ser
violento, e eu sei que há coisas no seu passado que ele tem
vergonha. Mas ele nunca
poderia ser violento em relação a mim, e o passado está acabado.
Ele tem tanta culpa e ele
tem tantas feridas dentro de si. Eu quero curá-lo.
Eu não sei o que acontecerá agora; eu estou apenas tão feliz que
ele esteja salvo. Eu fui
para a pensão hoje e descobri que a polícia esteve lá ontem.
Stefan ainda estava fraco e
não pode usar os seus Poderes para se livrar deles, mas eles não o
acusaram de nada.
Apenas perguntaram algumas coisas. Stefan disse que eles agiram
amigavelmente, o que
me deixou com suspeitas. Todas as perguntas se resumiram realmente
sobre: onde você
estava na noite em que o velho homem foi atacado embaixo da ponte,
e na noite em que
Vickie Bennet foi atacada nas ruínas da igreja, e na noite em que
o Sr. Tanner foi morto na
escola?
Eles não têm nenhuma evidência contra ele. Então os crimes
começaram assim que ele
veio para Fell’s Church, então o quê? Isto não é prova de nada.
Então ele discutiu com o
Sr Tanner naquela noite. De novo, então o quê? Todo mundo discuti
com o Sr. Tanner.
Então ele desaparece depois que o corpo do Sr. Tanner foi achado.
Ele está de volta
agora, e está bem claro que ele mesmo foi atacado, pela mesma
pessoa que cometeu os
outros crimes. Mary contou a polícia sobre a condição em que ele
estava. E se eles viessem
perguntar para nós, Matt e Bonnie e Meredith e eu podemos
testemunhar como
encontramos ele. Não havia nenhum caso contra ele realmente.
Stefan e eu conversamos sobre isto, e sobre outras coisas. Era tão
bom estar com ele de
novo, mesmo se ele parecesse pálido e cansado. Ele ainda não
lembrava como a noite de
quinta terminou, mas a maior parte disto foi exatamente como
suspeitei. Stefan saiu para
encontrar Damon na noite de quinta depois que ele me levou para
casa. Eles discutiram.
Stefan acabou quase morto em um poço. Não precisa ser um gênio
para descobrir o que
aconteceu entre isto.
Eu ainda não contei para ele que saí procurando por Damon no
cemitério sexta-feira de
manhã. Eu suponho que seja melhor fazer isto amanhã. Eu sei que
ele vai ficar com raiva,
especialmente quando ele ouvir o que Damon falou para mim.
Bem, isto é tudo. Estou cansada. Este diário vai ser bem
escondido, por razões óbvias.
Elena parou e olhou para a última linha da página. Então ela
acrescentou:
P.S. Quem será nosso novo professor de história européia?
Ele guardou o diário sob o colchão e desligou a luz.
Elena andou pelo corredor em um vácuo curioso. Na escola, ela era
normalmente recheada
de saudações de todos os lados; era “olá, Elena,” atrás de “olá,
Elena,” para qualquer lugar
que ela fosse. Mas hoje os olhos deslizavam para longe
furtivamente quando ela se
aproximava, ou as pessoas de repente ficaram muito ocupadas
fazendo coisas que
requeriam que eles mantivessem as costas para ela. Isto aconteceu
durante todo o dia.
Ela parou no caminho para a porta da sala de história européia.
Havia alguns alunos já
sentados, e no quadro estava um estranho.
Ele parecia quase como um estudante. Tinha um cabelo cor de areia,
um pouco longo, e a
estrutura de um atleta. No quadro ele tinha escrito “Alaric K.
Saltzman.” Quando ele se
virou, Elena viu que ele também tinha um sorriso de menino.
Elena continuou sorrindo enquanto Elena se sentava e outros
estudantes entravam. Stefan
estava entre eles, e seus olhos encontraram os de Elena enquanto
ele sentava do lado dela,
mas eles não conversaram. Ninguém estava falando. A sala estava
mortalmente silenciosa.
Bonnie se sentou no outro lado de Elena. Matt estava distante há
apenas algumas carteiras,
mas ele estava olhando diretamente para frente.
As duas últimas pessoas a entrarem foram Caroline Forbes e Tyler
Smallwood. Eles
andaram juntos, e Elena não gostou da expressão na face de Caroline.
Ela conhecia aqueles
olhos semelhantes aos de gatos e aqueles estreitos olhos verdes
bem demais. A beleza de
Tyler, ou melhor, suas feições carnudas estavam brilhando de
satisfação. A descoloração
embaixo de seus olhos causada pelos punhos de Stefan já tinha
quase desaparecido.
“Okay, para começar, por que não colocamos todas essas cadeiras em
um círculo?”
A atenção de Elena voltou-se para o estranho na frente da sala.
Ele ainda estava sorrindo.
“Vamos lá, vamos fazer isto. Desta forma podemos todos ver o rosto
de cada um enquanto
falamos,” ele disse.
Silenciosamente, os alunos obedeceram. O estranho não sentou na
cadeira do Sr. Tanner;
em vez disso, ele puxou uma cadeira para o círculo e sentou-se de
frente para as costas da
cadeira*.
*Não sabia como escrever, mas se não
entenderem, é como na imagem.
http://wwwdelivery.superstock.com/WI/223/1612/PreviewComp/SuperStock_1612R-
20662.jpg
“Agora,” ele disse. “Eu sei que vocês todos devem estar curiosos
sobre mim. Meu nome
está no quadro: Alaric K. Saltzman. Mas quero que vocês me chamem
de Alaric. Eu
contarei para vocês um pouco mais de mim depois, mas primeiro eu
quero dar a vocês a
chance de falarem.
“Hoje é provavelmente um dia difícil para a maioria de vocês.
Alguém que vocês gostavam
se foi, e isto deve ser doloroso. Eu quero dar a vocês a chance
para se abrirem e
compartilharem estes sentimentos comigo e com seus colegas de
classe. Eu quero que
vocês tentem entrar em contato com a dor. Então poderemos começar
a construir nossa
própria relação na verdade. Agora quem gostaria de ser o
primeiro?”
Eles olharam para ele. Ninguém moveu mais que um cílio.
“Bem, vamos ver... que tal você?” Ainda sorrindo, ele gesticulou
encorajadoramente para
uma garota bonita e loira. “Diga-nos seu nome e como você se sente
sobre o que
aconteceu.”
Perturbada, a garota se levantou. “Meu nome é Sue Carson, e,
uh...” Ele tomou um longo
suspiro e continuou obstinada. “E eu estou com medo. Porque seja
quem for este maníaco,
ele ainda está à solta. E, na próxima vez, pode ser eu.” Ela se
sentou.
“Obrigado, Sue. Estou certo que muitos dos seus colegas
compartilham sua preocupação.
Agora, estou certo de que alguns de vocês estavam na verdade lá
quando a tragédia
aconteceu?”
Carteiras rangeram enquanto os estudantes moveram-se desconfortáveis.
Mas Tyler Smallwood levantou-se, seus lábios se retraindo de
fortes dentes branco em um
sorriso.
“A maioria de nós estava lá,” ele disse, e seus olhos cintilaram
em Stefan. Elena pode ver
outras pessoas seguindo o seu olhar. “Eu cheguei lá logo depois
que Bonnie descobriu o
corpo. E o que eu sinto é preocupação para com a comunidade. Há um
assassino perigoso
nas ruas, e até agora ninguém fez nada para Pará-lo. E—” Ele
parou. Elena não tinha
certeza de como, mas ela sentiu que Caroline tinha sinalizado para
ele fazer isto. Caroline
jogou seu reluzente cabelo castanho-avermelhado para trás e
recruzou suas longas pernas
enquanto Tyler tomava seu lugar novamente.
“Okay, obrigado. Então a maioria de você estava lá. Isto faz as
coisas duas vezes mais
difíceis. Podemos ouvir a pessoa que realmente achou o corpo?
Bonnie está aqui?” Ele
olhou em volta.
“Bonnie levantou sua mão lentamente, então se postou em pé. “Eu acho que eu descobri o
corpo,” ela disse. “Quero dizer, eu fui a primeira pessoa que
soube que ele estava realmente
morto, não apenas fingindo.”
Alaric Saltzman olhou ligeiramente alarmado. “Não apenas fingindo?
Ele costumava fingir
estar morto?” Houve risadas abafadas, e ele lançou aquele
sorrisinho de garoto novamente.
Elena se virou e olhou de relance para Stefan, que estava com as
sobrancelhas franzidas.
“Não—não,” disse Bonnie. “Veja, ele era um sacrifício. Na Casa
Assombrada. Então ele
estava coberto com sangue de qualquer forme, mas era sangue de
mentira. E isto foi
parcialmente minha culpa, porque ele não queria colocá-lo, e eu
disse que ele tinha que
colocar. Era para ele ser um Cadáver Sangrento. Mas ele dizia que
era muito sujo, e
continuou até que Stefan veio e discutiu com ele—” Ela parou.
“Quero dizer, nós falamos
com ele e ele finalmente aceitou em fazer isto, e então a Casa
Assombrada começou. E um
pouco depois eu percebi que ele não estava levantando e assustando
as crianças como ele
deveria fazer, e eu fui até lá e perguntei a ele o que havia de
errado. E ele não me
respondeu. Ele apenas—ele apenas continuou olhando fixamente para
o teto. E então eu
toquei nele—foi terrível. A cabeça dele apenas meio que caiu
pesadamente...” A voz de
Bonnie tremulou e desistiu. Ela engoliu.
Elena se levantou, assim como Stefan, Matt e algumas outras pessoas.
Elena alcançou
Bonnie.
“Bonnie, está tudo bem. Bonnie, não; está tudo bem.”
“E sangue se espalhou por minhas mãos. Tinha sangue por todo o
lugar, tanto sangue...”
Ela fungou histericamente.
“Okay, tempo esgotado,” Alaric Saltzman falou. “Desculpe-me; eu
não queria afligir você
tanto assim. Mas eu acho que você precisa trabalhar estes
sentimentos em algum momento
no futuro. Está claro que isto foi uma experiência bem
devastadora.”
Ele se levantou e andou compassadamente pelo centro do círculo,
suas mãos abrindo e
fechando nervosas. Bonnie ainda estava fungando levemente.
“Eu sei,” ele disse, o sorriso de menino voltando com força total.
“Eu gostaria que a nossa
relação aluno-professor tivesse um bom começo, longe de toda esta
atmosfera. Que tal se
todos vocês viessem para minha casa hoje à noite, e nós podemos
conversar
informalmente? Talvez só para conhecer uns aos outros, talvez
falar sobre o que aconteceu.
Vocês podem até trazer um amigo se quiserem. Que tal?”
Passaram aproximadamente trinta segundos apenas com os eles se
olhando fixamente.
Então alguém disse, “Sua casa?”
“Sim... Oh, esqueci. Que estupidez minha. Estou na casa dos
Ramsey, na Avenida
Magnolia.” Ele escreveu o endereço no quadro. “Os Ramseys são
amigos meus, e eles me
emprestaram a casa enquanto eles estão de férias. Eu vim de
Charlottesville, e o diretor me
ligou na sexta para perguntar-me se eu poderia substituir. Eu
pulei de cabeça na chance.
Este é meu primeiro emprego de verdade como professor.”
“Oh, isto explica,” sussurrou Elena.
“Explica?” falou Stefan.
“De qualquer forma, o que vocês acham? É um plano?” Alaric
Saltzman olhou em volta
para eles.
Ninguém teve um coração para recusar. Houve diversos “sins” e
“claros”.
“Ótimo, então está marcado. Eu providenciarei os petiscos e refrescos,
e nós vamos todos
conhecer uns aos outros. Oh, e por falar nisto...” Ele abriu um
caderno de notas e olhou
rapidamente. “Nesta aula, participação vai valer a metade de sua
nota final.” Ele olhou de
relance para cima e sorriu. “Vocês podem ir agora.”
“Que nervo o dele,” alguém murmurou enquanto Elena saiu. Bonnie
estava atrás dela, mas
a voz de Alaric Saltzman a chamou de volta.
“Os alunos que compartilharam conosco poderiam ficar para trás por
um minuto?
Stefan teve que ir também. “É melhor eu checar o treino de
futebol,” ele disse.
“Provavelmente foi cancelado, mas é melhor eu ter certeza.”
Elena estava interessada. “Se não foi cancelado, você acha que
está disposto para ir?”
“Eu ficarei bem,” ele disse evasivamente. Mas ela notou que o
rosto dele ainda parecia
contraído, e ele se moveu como se estivesse com dor. “Encontro
você nos armários,” ele
disse.
Ela assentiu. Quando ela chegou aos armários, ela viu Caroline
falando com duas outras
garotas. Três pares de olhos seguiram todos os movimentos de Elena
enquanto ela guardava
os seus livros, mas quando Elena olhou de relance, dois deles
olharam para longe de
repente. Apenas Caroline continuou olhando para ela, com a cabeça
ligeiramente ereta
enquanto ela sussurrava para as outras garotas.
Elena já tinha tido o suficiente. Fechando o seu armário, ela
andou diretamente até o grupo.
“Olá, Becky; olá, Sheila,” ela disse. Então, com forte ênfase:
“Olá, Caroline.”
Becky e Sheila murmuraram “olá” e adicionaram alguma coisa sobre
terem que ir. Elena
nem se virou para vê-las escapulindo. Ela manteve seus olhos nos
de Caroline.
“O que está acontecendo?” ela mandou.
“Acontecendo?” Caroline obviamente estava curtindo isto, tentando
prolongar o máximo
possível. “Acontecendo com quem?”
“Com você, Caroline. Com todo mundo. Não finja que você não está
envolvida em alguma
coisa, porque eu sei que está. As pessoas têm me evitado todo o
dia como se eu tivesse uma
praga, e você está parecendo como se tivesse ganhado na loteria. O
que você fez?”
A expressão de inquérito inocente de Caroline caiu e ela abriu um
sorriso felino. “Eu te
disse que quando a escola começasse as coisas seriam diferentes
este ano, Elena,” ela disse.
“Eu te alertei que sua hora no trono iria acabar. Mas não é meu feito. O que está
acontecendo é simplesmente um seleção natural. A lei da natureza.”
“Bem, vamos dizer que namorar um assassino pode atrapalhar a sua
vida social.”
O peito de Elena se apertou como se Caroline tivesse batido nela.
Por um momento, o
desejo de bater em Caroline foi quase irresistível. Então, com o
sangue pulsando nas suas
orelhas, ela disse por dentes cerrados. “Isto não é verdade.
Stefan não fez nada. A polícia o
questionou, e ele estava limpo.”
Caroline deu de ombros. Seu sorriso estava agora paternalista.
“Elena, eu conheço você
desde o jardim de infância,” ela disse, “então eu vou te dar um
conselho pela consideração
dos velhos tempos: largue Stefan. Se você fizer isto agora você
evitará ser uma completa
leprosa social. Se não você também pode comprar um sininho para
tocar na rua.”
A raiva prendeu Elena como refém enquanto Caroline se virou e
tomou seu rumo, seu
cabelo castanho-avermelhado movendo-se como líquido sob as luzes.
Então Elena
encontrou sua própria língua.
“Caroline.” A outra garota se virou. “Você vai para a festa na casa
dos Ramseys hoje à
noite?”
“Eu suponho que sim. Por quê?”
“Porque eu estarei lá. Com Stefan. Vejo você na floresta.” Desta
vez foi Elena quem se
virou.
A dignidade de sua saída foi ligeiramente perturbada quando ela
viu uma esbelta,
sombreada figura na extremidade final do corredor. O paço dela
vacilou por um instante,
mas quando ela se aproximou ela reconheceu Stefan.
Ela sabia que o sorriso que ela deu para ele pareceu forçado, e
ele olhou rapidamente de
volta até os armários enquanto eles andavam lado a lado para fora
da escola.
“Então o treino de futebol foi cancelado?” ela disse.
Ele confirmou. “O que foi tudo isso?” ele disse calmamente.
“Nada. Eu perguntei para Caroline se ela iria para a festa de hoje
à noite.” Elena curvou sua
cabeça para trás para olhar o cinza e horrendo céu.
“E isto era sobre o que vocês estavam conversando?”
Ela lembrou o que ele tinha contado para ela no seu quarto. Ele
podia ver melhor que um
humano, e ouvir melhor também. Bem o bastante para pegar palavras
faladas a 40 pés de
distância?
“Sim,” ela disse provocante, ainda inspecionando as nuvens.
“E foi isto que fez você ficar com tanta raiva?”
“Sim” ela disse novamente, no mesmo tom.
Ela podia sentir os olhos dele em cima dela. “Elena, isto não é
verdade.”
“Bom, se você lê mentes, você não precisa me fazer perguntas,
precisa?”
Eles estavam encarando um ao outro agora. Stefan estava tenso, sua
boca fixada em uma
linha desagradável. “Você sabe que eu não faria isto. Mas eu
pensei que você era tão séria
sobre honestidade em relações.”
“Tudo bem. Caroline estava mostrando sua usual e megera
personalidade e soltando sua
boca sobre o assassinato. Então o quê? Por que você se importa?”
“Porque,” disse Stefan simplesmente e brutalmente, “ela pode estar
certa. Não sobre o
assassinato, mas sobre você. Sobre você e eu. Eu deveria ter
percebido que isto poderia
acontecer. Não é só ela, é? Eu tenho sentido hostilidade e medo
durante todo o dia, mas eu
estava muito cansado para tentar e analisar isto. Eles acham que
eu sou o assassino e eles
estão descontando isto em você.”
“O que eles acham não importa! Eles estão errados, e eles vão
perceber por fim. Então tudo
ficará da forma que era antes.”
Um sorriso melancólico apareceu no canto da boca de Stefan. “Você
realmente acredita
nisto, não é?” Ele olhou para longe, e sua face se enrijeceu. “E
se eles não perceberem? E
se isto apenas se tornar pior?”
“O que você está dizendo?”
“Pode ser melhor...” Stefan tomou um longo suspiro e continuou,
cuidadosamente. “Pode
ser melhor se nós não nos vermos mais por enquanto. Se ele acharem
que nós não estamos
mias juntos, eles vão deixar você em paz.”
Ela o encarou. “E você acha que poderia fazer isto? Não me ver ou
falar comigo por seja lá
quanto tempo?”
“Se for necessário—sim. Poderíamos fingir que nós tivéssemos
terminado.” Seu maxilar
estava imóvel.
Elena olhou fixamente por outro momento. Então ela circulou em
volta dele e se moveu
para mais perto, tão perto que eles estavam quase se tocando. Ele
teve que olhar para baixo
para ela, os olhos dele apenas algumas polegadas dos dela.
“Há,” ela disse, “apenas uma forma de eu anunciar para o resto da
escola que nós
terminamos. E esta é se você me dizer que não me ama e que não
quer me ver. Diga-me
isto, Stefan, agora mesmo. Diga-me que você não quer ficar comigo
nunca mais.
Ele tinha parado de respirar. Ele a encarou, aqueles olhos verdes
estriados como os de um
gato em tons de esmeralda e malaquita* e azevinho.
“Diga,” ela falou para ele.
“Diga-me o quanto você pode seguir sem mim, Stefan. Diga-me
—”
Ela nunca terminou a frase. A mesma foi cortada quando os lábios
dele desceram nos dela.
______________
Capítulo Seis
Stefan sentou-se na sala de estar dos Gilbert, concordando
educadamente com o que quer
que tia Judith estivesse dizendo. A mulher mais velha estava
desconfortável recebendo-o
aqui; você não precisava ler mentes para saber disso. Mas ela
estava tentando, e portanto
Stefan estava tentando, também. Ele queria que Elena fosse feliz.
Elena. Mesmo quando ele não estava olhando para ela, ele estava
mais consciente dela do
que de qualquer outra coisa na sala. Sua presença viva batia
contra a pele dele como a luz
solar contra pálpebras fechadas. Quando ele realmente deixava-se
virar para encará-la, era
um doce choque a todos os seus sentidos.
Ele a amava tanto. Ele não mais a via como Katherine; ele tinha
quase se esquecido o
quanto ela parecia com a garota morta. Em todo caso, havia tantas
diferenças. Elena tinha o
mesmo pálido cabelo dourado e a pele cremosa, os mesmos traços
delicados de Katherine,
mas aí a semelhança acabava. Os olhos dela, parecendo violeta na
luz do fogo agora mas
normalmente um azul tão escuro quanto lapis lazuli, não eram
tímidos nem infantis como
os de Katherine tinham sido. Ao contrário, eles eram janelas para
sua alma, que brilhava
como uma chama ávida por trás deles. Elena era Elena, e sua imagem
tinha substituído o
gentil fantasma de Katherine no coração dele.
Mas sua própria força fazia do amor deles perigoso. Ele não fora
capaz de resistir a ela na
semana passada quando ela oferecera à ele seu sangue. A verdade é
que ele poderia ter
morrido sem ele, mas tinha sido cedo demais para a segurança da
própria Elena. Pela
centésima vez, seus olhos se moveram pelo rosto de Elena,
procurando pelos sinais
reveladores da mudança. Aquela pele cremosa estava um pouco mais
pálida? A expressão
dela estava ligeiramente mais distante?
Eles teriam que tomar cuidado de agora em diante. Ele teria que
tomar mais cuidado.
Ter certeza de se alimentar regularmente, satisfazer-se com
animais, para que não fosse
tentado.
Nunca deixar a necessidade ficar forte demais. Agora que ele
pensou nisso, ele estava com
fome agora. A dor seca, a queimação, estava se espalhando pelo seu
maxilar superior,
sussurrando por suas veias e vasos capilares. Ele deveria estar na
floresta – os sentidos
alertas para capturar o mais ligeirar crepitar de ramos secos, os
músculos prontos para a
caça – não aqui perto do fogo observando o traçado de veias azuis
pálidas na garganta de
Elena.
Aquela garganta delgada virou-se enquanto Elena olhava para ele.
“Você quer ir àquela festa hoje a noite? Nós podemos pegar o carro
da tia Judith,” ela disse.
“Mas você deve ficar para o jantar primeiro,” disse tia Judith
rapidamente.
“Nós podemos pegar algo no caminho.” Elena quis dizer que eles
poderiam pegar algo para
ela, Stefan pensou. Ele mesmo podia mastigar e engolir comida
comum se tivesse que,
apesar de não fazer bem algum a ele, e ele há muito tinha perdido
gosto por isso. Não, os...
apetites… dele eram mais particulares agora, ele pensou. E se eles
fossem para essa festa,
isso significaria mais horas antes que ele pudesse se alimentar.
Mas ele concordou em
acordo com Elena.
“Se você quiser,” ele disse.
Ela queria; ela estava certa disso. Ele tinha visto isso desde o
começo. “Tudo bem então, é
melhor eu me trocar.”
Ele a seguiu até a base da escada. “Use algo com uma gola alta. Um
suéter,” ele disse à ela
numa voz baixa demais para ser conduzida.
Ela espiou para a entrada, para a sala de estar vazia, e disse,
“Está tudo bem. Eles já estão
quase curados. Viu?” Ela puxou seu colarinho rendado para baixo,
girando sua cabeça para
um lado.
Stefan encarou, hipnotizado, as duas marcas redondas na pele
belamente granulada. Elas
eram de uma cor muito leve e translúcida de burgundy, como um
vinho muito aguado. Ele
endireitou seus dentes e forçou seus olhos a se afastarem. Olhar
por muito mais tempo para
isso o enlouqueceria.
“Não foi isso que eu quis dizer,” ele disse bruscamente.
O brilhante véu de seu cabelo caiu sobre as marcas novamente,
escondendo-as. “Ah.”
“Entre!”
Enquanto eles o faziam, entrando na sala, as conversas pararam.
Elena olhou para os rostos
virados na direção deles, para os olhos curiosos e furtivos e para
as expressões
desconfiadas. Não o tipo de olhares que ela estava acostumada a
receber quando fazia uma
entrada.
Fora outro estudante que abrira a porta para eles; Alaric Saltzman
não estava a vista. Mas
Caroline estava, sentada em um banquinho de bar, que mostrava da
melhor maneira suas
pernas. Ela lançou um olhar zombeteiro a Elena e então fez alguma
observação para o
garoto a sua direita. Ele riu.
Elena pôde sentir seu sorriso começar a ficar dolorida, enquanto
um rubor arrastava-se na
direção de seu rosto. Então uma voz familiar chegou a ela.
"Elena, Stefan! Aqui.”
Grata, ela avistou Bonnie sentada com Meredith e Ed Goff em um
sofá de dois lugares no
canto. Ela e Stefan sentaram-se em um pufê grande oposto a eles, e
ela ouviu as conversas
recomeçarem ao redor da sala.
Por um acordo tácito, ninguém mencionou a estranheza da chegada de
Elena e Stefan.
Elena estava determinada a fingir que tudo estava como de costume.
E Bonnie e Meredith estavam apoiando-na. “Você está ótima,” disse
Bonnie calorosamente.
“Eu simplesmente amo esse suéter vermelho.”
“Ela está bonita mesmo. Não está, Ed?” disse Meredith, e Ed,
parecendo vagamente
assustado, concordou.
“Então a sua sala foi convidada para isso, também,” Elena disse
para Meredith. “Eu achei
que fosse talvez só o sétimo período.”
“Eu não sei se convidada é a palavra,” respondeu Meredith secamente. “Considerando que
a participação é metade da nossa nota.”
“Você acha que ele estava falando sério sobre isso? Ele não pode
estar falando sério,”
interpos Ed.
Elena deu de ombros. “Ele pareceu estar falando sério para mim.
Onde está o Ray?” ela
perguntou a Bonnie.
"Ray? Ah, Ray. Eu não sei, por aí em algum lugar, creio. Tem
um monte de gente aqui.”
Isso era verdade. A sala de estar dos Ramsey estava lotada, e pelo
que Elena podia ver a
multidão fluía até a sala de jantar, no salão da frente, e
provavelmente até a cozinha
também. Cotovelos ficavam encostando no cabelo de Elena enquanto
as pessoas circulavam
atrás dela.
“O que o Saltzman queria com você depois da aula?” Stefan estava
dizendo.
“Alaric,” Bonnie corrigiu recatadamente. “Ele quer que a gente
chame-o de Alaric. Ah, ele
só estava sendo gentil. Ele se sentiu mal por ter me feito reviver
uma experiência tão
agonizante. Ele não sabia exatamente como o Sr. Tanner morreu, e
ele não tinha percebido
que eu era tão sensível.
É claro, ele próprio é incrivelmente sensível, então ele entende
como é. Ele é aquariano.”
“Como ascendente de Lua em cantadas,” disse Meredith baixinho.
“Bonnie você não
acredita nesse lixo, acredita? Ele é um professor; ele não devia
estar fazendo isso com
estudantes.”
“Ele não estava fazendo nada! Ele disse exatamente a mesma coisa
para Tyler e Sue
Carson. Ele disse que deveríamos formar um grupo de apoio um para
o outro ou escrever
uma composição sobre aquela noite para extravasar nossos
sentimentos. Ele disse que
adolescentes são muito impressionaveis e que ele não queria que a
tragédia tivesse um
impacto lastimável em nossas vidas.”
“Ah, Deus,” disse Ed, e Stefan transformou uma risada em tosse.
Ele não estava divertindose,
porém, e sua pergunta à Bonnie não fora mera curiosidade. Elena
sabia; ela podia sentir
isso irradiando dele. Stefan sentia-se em relação a Alaric
Saltzman do jeito que a maioria
das pessoas nessa sala sentiam-se em relação a Stefan. Cautela e
desconfiança.
“Foi estranho, ele agindo como se a festa fosse uma idéia espontânea da
nossa sala,” ela
disse, respondendo inconscientemente às palavras não ditas de
Stefan, “quando obviamente
fora planejado.”
“O que é mais estranho é a idéia de que a escola fosse contratar
um professor sem dizer à
ele como o professor anterior morreu,” disse Stefan. “Todo mundo
estava falando disso;
devia estar nos jornais.”
“Mas não todos os detalhes,” disse Bonnie firmemente. “De fato, há
coisas que a polícia
ainda não revelou, porque eles acham que irá ajudá-los a pegar o
assassino. Por exemplo,”
ela abaixou sua voz, “você sabe o que a Mary disse? O Dr. Feinberg
estava falando com o
cara que fez a autópsia, o examinador médico. E ele disse que não
havia nenhum sangue
sobrando no corpo. Nem uma gota.”
Elena sentiu um vento gelado assoprar através dela, como se ela
estivesse de pé novamente
no cemitério. Ela não conseguia falar. Mas Ed disse, “Onde que foi
parar?”
“Bem, por todo o chão, eu creio,” disse Bonnie calmamente. “Por
todo o altar e tudo. É isso
que a polícia está investigando agora. Mas não é comum um cadáver
não ter nenhum
sangue sobrando; geralmente, tem um pouco que se assenta na parte
debaixo do corpo.
Livor mortis, é o nome. Parecem grandes machucados roxos. O que
foi?”
“Sua incrível sensibilidade vai me fazer vomitar,” disse Meredith
em uma voz estrangulada.
“Podemos falar sobre outra coisa?”
“Não foi você que estava com sangue por tudo,” Bonnie começou, mas
Stefan a
interrompeu.
“Os investigadores chegaram a alguma conclusão pelo que eles
aprenderam? Ele estão mais
próximos de encontrar o assassino?”
“Eu não sei,” disse Bonnie, e então ela se iluminou. “É isso
mesmo, Elena, você disse que
sabia–”
“Cala a boca, Bonnie,” disse Elena desesperadamente. Se tivesse um
lugar para não se
discutir isso, era uma sala lotada cercada por pessoas que odiavam
Stefan.
Os olhos de Bonnie se arregalaram, e então ela acenou,
aquietando-se.
Elena não conseguia relaxar, contudo. Stefan não tinha matado o
Sr. Tanner, e mesmo
assim a mesma evidência que levaria a Damon poderia tão facilmente
levar a ele. E iria
levar a ele, porque ninguém além dela e Stefan sabia da existência
de Damon. Ele estava lá
fora, em algum lugar, nas sombras. Esperando por sua próxima
vítima. Talvez esperando
por Stefan – ou por ela.
“Eu estou com calor,” ela disse abruptamente. “Eu acho que vou ver
que tipo de refrescos e
petiscos Alaric providenciou.”
Stefan começou a se levantar, mas Elena acenou para permanecer
sentado. Ele não seria útil
para batatas fritas e ponche. E ela queria ficar sozinha por
alguns minutos, estar se
movendo invés de sentada, acalmar-se.
Estar com Meredith e Bonnie tinha lhe dado uma sensação falsa de
segurança. Deixandoas,
ela foi novamente confrontada com olhares de esguelha e costas
viradas repentinamente.
Dessa vez isso a deixou nervosa. Ela moveu-se pela multidão com
insolência deliberada,
segurando qualquer olhar que ela acidentalmente capturasse. Eu já
sou notória, ela pensou.
Posso muito bem ser insolente, também.
Ela estava faminta. Na sala de jantar dos Ramsey alguém tinha
providenciado algum tipo
de petisco que parecia surpreendentemente bom. Elena pegou um
prato de papel e colocou
alguns palitinhos de cenoura nele, ignorando as pessoas ao redor
da mesa branqueada de
carvalho. Ela não ia falar com eles a não ser que eles falassem
primeiro. Ela deu sua
atenção total aos refrescos e petiscos, inclinando-se sobre as
pessoas para selecionar
triângulos de queijo e bolachas Ritz, esticando a mão na frente
deles para puxar uvas,
olhando ostentosamente para cima e para baixo para toda a exibição
para ver se tinha algo
que ela tinha deixado escapar.
Ela foi bem sucedida em rebater a atenção de todos, algo que ela
sabia sem levantar seus
olhos. Ela mordeu delicadamente um palitinho de pão, segurando-o
entre seus dentes como
um lápis, e virou-se da mesa.
“Importa-se se eu der uma mordida?”
Choque estalando fez seus olhos se abrirem e congelou sua
respiração. Sua mente
comprimiu-se, recusando-se a reconhecer o que estava acontecendo,
e deixando-a indefesa,
vulnerável, ao encarar isso. Mas apesar do pensamento racional ter
desaparecido, seus
sentidos continuaram a gravar cruelmente: olhos escuros dominando
seu campo de visão,
um sopro de algum tipo de colônia nas narinas dela, dois dedos
longos inclinando seu
queixo para cima. Damon inclinou-se, e, impecavel e precisamente,
mordeu a outra ponta
do palitinho de pão.
Naquele momento, os lábios deles estavam apenas a alguns
centímetros de distância. Ele
estava inclinando-se para uma segunda mordida antes que a sanidade
mental de Elena
reativasse o bastante para jogá-la para trás, sua mão agarrando a
ponta do pão crocrante e
jogando-o para longe. Ele o pegou no meio do ar, uma amostra
virtuosa de reflexo.
Os olhos dele ainda estavam nos dela. Elena inspirou por fim e
abriu sua boca; ela não teve
certeza do porque. Para gritar, provavelmente. Para alertar todas
essas pessoas para correr
para a noite. Seu coração estava golpeando como um martinete, sua
visão embaçada.
“Pronto, pronto.” Ele tomou o prato dela e de algum modo pegou seu
pulso.
Ele estava segurando-o levemente, do jeito que Mary tinha sentido
a pulsação de Stefan.
Enquanto ela continuava a encarar e arfar, ele o acariciou com seu
dedão, como se
confortando-a. “Pronto. Está tudo bem.”
O que você está fazendo aqui? ela pensou. A cena ao seu redor parecia assustadoramente
clara e artificial. Era como um daqueles pesadelos onde tudo é
comum, exatamente como a
vida, então de repente algo grotesco acontecia. Ele ia matar a
todos.
"Elena? Você está bem?” Sue Carson estava falando com ela,
segurando seus ombros.
“Eu acho que ela se engasgou com algo,” Damon disse, soltando o
pulso de Elena. “Mas
ela está bem agora. Por que não nos apresenta?”
Ele ia matar a todos...
“Elena, esse é Damon, hm...” Sue esticou uma mão como se pedindo
desculpa, e Damon
terminou por ela.
"Smith." Ele levantou um copo de papel na direção de
Elena. "La vita."
“O que você está fazendo aqui?” ela sussurrou.
“Ele é um universitário,” Sue voluntariou-se, quando tornou-se
aparente que Damon não ia
responder. “Da – Universidade da Virginia, não é? William and Mary*?”
* William and Mary é como é conhecida coloquialmente a Faculdade de William &
Mary
na Virginia (The College of William & Mary in
Virginia).
“Entre outros lugares,” Damon disse, ainda olhando para Elena. Ele
não tinha olhado para
Sue nenhuma vez. “Eu gosto de viajar.”
O mundo tinha novamente voltado ao lugar ao redor de Elena, mas
era um mundo
assustador.
Havia pessoas de todos os lados, observando essa troca com
fascinação, impedindo-a de
falar livremente. Mas eles também estavam deixando-a a salvo. Por
qualquer razão, Damon
estava jogando um jogo, e fingindo ser um deles. E enquanto a
mascarada continuava, ele
não faria nada a ela na frente de uma multidão... ela esperava.
Um jogo. Mas ele estava fazendo as regras. Ele estava aqui na sala
de jantar dos Ramsey
jogando com ela.
“Ele só está aqui por alguns dias,” Sue continuava
proveitosamente. “Visitando – amigos,
foi o que disse? Ou parentes?”
“Sim,” disse Damon.
“Você tem sorte de ser capaz de ir embora quando quiser,” Elena
disse. Ela não sabia o que
a estava possuindo, fazê-la tentar e desmascará-lo.
“Sorte tem muito pouco a ver com isso,” disse Damon. “Você gosta
de dançar?”
“No que está se formando?”
Ele sorriu para ela. “Folclore americano. Você sabia, por exemplo,
que uma verruga no
pescoço significa que você será rica? Se importa se eu checar?”
“Eu me importo.” A voz veio de trás de Elena. Era clara e fria e
silenciosa.
Elena tinha escutado Stefan falar nesse tom somente uma vez:
quando ele tinha encontrado
Tyler tentando atacá-la no cemitério. Os dedos de Damon
aquietaram-se na garganta dela,
e, libertada do feitiço dele, ela recuou.
“Mas você importa?” ele disse.
Os dois se encararam sob a fraca e vacilante luz amarela do
candelabro de latão.
Elena estava ciente de camadas de seus próprios pensamentos, como
um parfait. Todos
estavam encarando; isso devia ser melhor que filmes... Eu não
percebi que Stefan era mais
alto… Ali estão Bonnie e Meredith se peguntando o que está
havendo... Stefan está nervoso
mas ele ainda está fraco, ainda está machucado... Se ele atacar
Damon agora, ele perderá...
E na frente de todas essas pessoas. Seus pensamentos fizeram um
barulho hesitante quando
tudo se encaixou. Era por isso que Damon estava aqui, para fazer
Stefan atacá-lo,
aparentemente não provocado. Não importava o que acontecesse
depois disso, ele ganharia.
Se Stefan o empurrasse, isso simplesmente seria mais prova da
“tendência violenta” de
Stefan. Mais evidência para os acusadores do Stefan. E se Stefan
perdesse a luta...
Isso significaria sua vida, pensou Elena. Ah, Stefan, ele está tão
mais forte agora; por favor
não faça isso. Não caia no jogo dele.
Ele quer te matar; ele só está procurando uma oportunidade.
Ela fez seus membros moverem-se, apesar deles estaram rígidos e
desajeitados como os de
uma marionete.
“Stefan,” ela disse, pegando sua mão fria na dela, “vamos para
casa.”
Ela podia sentir a tensão no corpo dele, como uma corrente
elétrica correndo por baixo de
sua pele. Nesse momento, ele estava completamente focado em Damon,
e a luz nos olhos
dele era como fogo refletindo em uma lâmina de adaga. Ela não o
reconhecia nesse
temperamente, não o conhecia. Ele a assustava.
“Stefan,” ela disse, chamando-o como se estivesse perdida na neblina e
não pudesse achálo.
“Stefan, por favor.”
E lentamente, lentamente, ela sentiu ele responder. Ela escutou
ele respirar e sentiu seu
corpo sair do estado de alerta, entrando em algum nível mais baixo
de energia. A
concentração mortal de sua mente foi divergida e ele olhou para
ela, e a viu.
“Está certo,” ele disse suavemente, olhando-a nos olhos. “Vamos.”
Ela manteve suas mãos nele enquanto eles se viravam, uma apertando
a mão dele, a outra
enfiada dentro do braço dele. Por completa força de vontade, ela
conseguiu não olhar por
sobre seu ombro enquanto eles se afastavam, mas a pele nas costas
dela latejava e rastejava
como se esperando a apunhalação de uma faca.
Ao invés disso, ela ouviu a baixa voz irônica de Damon: “E você
ouviu que beijar uma
garota ruiva cura herpes?” E então a risada escandalosa e lisonjeada
de Bonnie.
No caminho da saída, finalmente eles encontraram seu anfitrião.
“Indo embora tão cedo?” Alaric disse. “Mas eu nem tive a chance de
falar com vocês
ainda.”
Ele parecia tanto ávido quanto repreensivo, como um cachorro que
sabe perfeitamente bem
que não vai sair para passear mas se sacode de qualquer jeito.
Elena sentiu preocupação
florescer em seu estômago por ele e por todos os outros na casa.
Ela e Stefan estavam
deixando-os com Damon.
Ela teria simplesmente que esperar para que sua avaliação mais
cedo estivesse certa e ele
quisesse continuar a mascarada. Nesse momento ela tinha mais o que
fazer tirando Stefan
daqui antes que ele mudasse de idéia.
“Não estou me sentindo muito bem,” ela disse enquanto pegava sua
bolsa onde estava no
pufê. “Sinto muito.” Ela aumentou a pressão no braço de Stefan.
Não precisaria de muito
para fazê-lo virar e dirigir-se para a sala de jantar nesse
momento.
“Eu sinto muito,” disse Alaric. “Tchau.”
Eles estavam no solado da porta antes que ela visse a tirinha de
papel violeta presa no bolso
lateral de sua bolsa. Ela a puxou e desdebrou quase por reflexo,
sua mente em outras coisas.
Havia uma escrita nela, comum e em negrito e desconhecida. Só três
linhas. Ela as leu a
sentiu o mundo balançar. Isso era demais; ela não conseguia lidar
com mais nada.
“O que foi?” disse Stefan.
“Nada.” Ela colocou o pedaço de papel de volta no bolso lateral,
empurrando-o com seus
dedos. “Não é nada, Stefan. Vamos para fora.”
Eles foram para fora para a chuva.
_____________
Capítulo Sete
Da próxima vez,” disse Stefan calmamente, “eu não vou embora.”
Elena sabia o que isso significava, e isso a aterrorizou. Mas bem
agora suas emoções
haviam se aquietado, e ela não quis discutir.
“Ele estava lá,” ela disse. “Dentro de uma casa ordinária cheia de
gente ordinária,
simplesmente como se tivesse todo o direito de estar. Eu não
pensei que ele ousaria.”
“Por que não?” Stefan disse brevemente, amargamente. “Eu estava lá
em uma casa
ordinária cheia de gente ordinária, simplesmente como se eu
tivesse todo o direito de estar.”
“Eu não quis dizer isso. É só que a única outra vez que eu o vi em
público foi na Casa
Assombrada quando ele estava usando máscara e fantasia, e estava
escuro. Antes disso foi
sempre em algum lugar deserto, como o ginásio naquela noite que eu
estava sozinha, ou o
cemitério...”
Ela soube assim que disse a última parte que foi um erro. Ela
ainda não tinha contado a
Stefan sobre ter ido encontrar Damon três dias atrás. No banco do
motorista, ele congelou.
“Ou no cemitério?”
“Sim... Eu me referi àquele dia que Bonnie e Meredith e eu fomos
perseguidas. Eu estou
supondo que deve ter sido Damon quem nos perseguiu. E o lugar
estava deserto a não ser
por nós três.”
Por que ela estava mentindo para ele? Porque, uma pequena voz em
sua cabeça respondeu
sinistramente que, caso contrário, ele podia surtar*. Sabendo o que Damon disse a ela, o
que ele havia prometido que estava reservado, podia ser o tudo o
que era necessário para
levar Stefan ao seu limite.
*(a palavra aqui é snap, que significa: tentar
morder, quebrar com estalo, tirar um
instantâneo; mas achei que nenhuma delas faria muito sentido).
Eu jamais poderei contar a ele, ela percebeu com um solavanco
enjoativo. Não sobre aquele
dia ou sobre qualquer coisa que Damon fizer no futuro. Se ele lutar
com Damon, ele morre.
Então ele nunca irá saber, ela prometeu a si mesma. Não importa o
que eu tenha que fazer,
eu vou mantê-los fora de uma luta um com o outro por mim. Não
importa o que.
Por um momento, apreensão a tomou.
Quinhentos anos atrás, Katherine havia tentado mantê-los fora de
uma luta, e tinha
conseguido apenas força-los em uma luta mortal. Mas ela não cometeria o mesmo erro,
Elena disse a si mesma ferozmente. Os métodos de Katherine haviam
sido estúpidos e
infantis. Quem mais além de uma estúpida criança se mataria na
esperança de que os dois
rivais pela a mão dela se tornassem amigos? Tinha sido o pior erro
de todo o triste caso. Por
causa disso, a rivalidade entre Stefan e Damon tinha virado ódio
implacável. Além do mais,
Stefan havia vivido com a sua culpa desde então; ele culpou a si
mesmo pela estupidez e
fraqueza de Katherine.
Procurando por um outro assunto, ela disse: “Você acha que alguém
o convidou?”
“Obviamente, já que ele estava lá.”
“Então é verdade sobre – Pessoas como você. Vocês têm que ser
convidados. Mas Damon
foi ao ginásio sem um convite.”
“Isso é porque o ginásio não é uma residência para moradia. Esse é
o critério. Não importa
se é uma casa ou uma tenda ou um apartamento em cima de um
armazém. Se humanos
vivos comem e dormem lá, nós precisamos ser convidados a entrar”.
“Mas eu não convidei você para a minha casa.”
“Sim, você convidou. Aquela primeira noite, quando eu te levei
para casa, você empurrou a
porta para abrir e inclinou a cabeça para mim. Não precisa ser um
convite verbal. Se há
intenção, é o suficiente. E a pessoa que está convidando você não
precisa ser alguém que
realmente vive na casa. Qualquer humano pode fazer.”
Elena estava pensando. “E quanto a uma casa flutuante?”
“Mesma coisa. Embora água corrente possa ser um obstáculo por si
só. Para alguns de nós,
é quase impossível cruzar.”
Elena teve uma súbita visão dela e Meredith e Bonnie correndo pela
ponte Wickery. Porque
de algum jeito ela soube que se elas chegassem ao outro lado do
rio elas estariam salvas de
o que quer que fosse que estivesse atrás delas.
“Então é por isso,” Ela sussurrou. Isso ainda não explicava como ela soube, no
entanto. Foi
como se o conhecimento tivesse sido posto em sua cabeça vindo de
outra fonte externa.
Então ela percebeu algo.
“Você me levou através da ponte. Você pode atravessar água
corrente.”
“Isso é porque eu sou fraco,” ele disse categoricamente, sem
nenhuma emoção. “É irônico,
mas quanto mais fortes são seus Poderes, mais você é afetado por
certas limitações. Quando
mais você permanece no escuro, mais as regras da escuridão se
vinculam a você.”
“Quais outras regras existem?” Disse Elena. Ela estava começando a
ver o vislumbre de um
plano. Ou pelo menos da esperança de um plano.
Stefan olhou para ela. “Sim,” ele disse, “Eu acho que já passou da
hora de você saber.
Quanto mais você souber sobre Damon, mais chances você terá de se
proteger.”
De me proteger? Talvez Stefan soubesse mais do que ela imaginava.
Mas quando ele virou
o carro em uma rua lateral e estacionou, ela apenas disse: “Ok. Eu
devo estocar alho?”
Ele riu. “Só se você quiser ser impopular. Há certas plantas, no
entanto, que podem ajudar
você. Como verbena.* É uma erva que supostamente protege você contra encantos, e pode
manter sua mente clara mesmo se alguém estiver usando Poderes
contra você. As pessoas
costumam usa-las em volta do pescoço. Bonnie amaria isso; era
sagrado para os Druidas.”
“Verbena,” disse Elena,
provando a não familiar palavra. “O que mais?”
“Luz forte, ou luz do sol direta, pode ser muito dolorosa. Você
perceberá a mudança do
tempo.”
“Eu percebi,” disse Elena depois de uma batida. “Você quer dizer
que Damon está fazendo
isso?”
“Ele deve estar. É preciso poderes enormes para controlar os
elementos, mas isso facilita
para ele andar na luz do dia. Enquanto ele mantém nublado, ele nem
sequer precisa
proteger os olhos.”
“E nem você,” Elena disse, “E quanto a — bem, cruzes e outras
coisas?”
“Não tem efeito,” Disse Stefan. “A não ser que a pessoa
segurando-a acredite que é uma
proteção, isso pode fortalecer a força de vontade delas de
resistir enormemente.”
“Uh... Balas de prata?”
Stefan riu uma risada curta de novo. “Estas são para lobisomens.
Pelo que eu ouvi dizer
eles não gostam de prata em qualquer forma. Umas estaca de madeira
no coração é ainda o
método mais aprovado para a minha espécie. Têm outros meios que
são mais ou menos
efetivos, no entanto: queima, decapitação, impulsionar pregos
através das têmporas. Ou, o
melhor de todos—”
“Stefan!” O solitário, amargo sorriso em sua face a desanimou. “E
quanto à se transformar
em animais?” Ela disse. “Antes, você disse que com Poder
suficiente você podia fazer isso.
Se Damon pode ser qualquer animal de que ele goste, como vamos
reconhecê-lo?”
“Não qualquer animal de que ele goste. Ele é limitado a um animal,
ou no máximo dois.
Mesmo com os Poderes dele eu não acho que ele pudesse sustentar
nada mais que isso”
“Então nós continuamos procurando por um corvo.”
“Certo. Você pode ser capaz de dizer se ele está por perto,
também, olhando animais
regulares. Eles geralmente não reagem muito bem a nós; eles sentem
que nós somos
caçadores.”
“Yangtze ficou latindo para o corvo. Foi como se ele soubesse que
tinha algo errado
naquilo.” Elena lembrou. “Ah... Stefan,” ela adicionou em um tom
diferente com um novo
pensamento atingindo-a, “E quando aos espelhos? Eu não lembro de
já ter visto você em
um.”
Por um momento ele não respondeu. Então ele disse, “Lendas dizem
que os espelhos
refletem a alma da pessoa que o está olhando. Por isso pessoas
antigas têm medo dos
espelhos; elas têm medo que suas almas sejam aprisionadas e
roubadas. Minha espécie
supostamente não tem reflexo – porque nós não temos alma.”
Lentamente, ele estendeu o
braço para o espelho do retrovisor e o inclinou para baixo,
ajustando-o de modo que Elena
pudesse olhá-lo. No vidro prateado, ela viu seus olhos, perdidos,
assombrados e
infinitamente tristes.
Não havia nada a fazer a não ser segurá-lo, e Elena o fez. “Eu te
amo,” ela sussurrou. Era o
único conforto que ela podia dar a ele. Era tudo o que eles tinham.
Os braços de Stefan apertaram em volta dela; sua face estava
enterrada em seus cabelos.
“Você é o espelho,” ele sussurrou de volta.
Foi bom sentir ele relaxar, a tensão fluindo para fora de seu
corpo enquanto calor e conforto
fluíam para dentro. Ela estava confortável, também, uma sensação
de paz penetrando-na,
rodeando-a. Foi tão bom que ela esqueceu de perguntar a ele o que
ele quis dizer até que
eles estavam na frente da porta de sua casa, se despedindo.
“Eu sou o espelho?” ela disse então, olhando para ele.
“Você roubou minha alma,” ele disse. “Tranque a porta atrás de si,
e não a abra de novo
essa noite.” E então ele tinha ido.
“Elena, graças aos céus,” disse tia Judith. Quando Elena olhou
para ela, ela acrescentou,
“Bonnie ligou da festa. Ela disse que você saiu inesperadamente, e
quando você não voltou
para casa eu fiquei preocupada.”
“Eu e Stefan fomos dar uma volta.” Elena não gostou da expressão
no rosto de sua tia
quando ela disse isso. “Algum problema?”
“Não, não. É só que...” Tia Judith não sabia como terminar a
frase. “Elena, eu me pergunto
se poderia ser uma boa idéia... não continuar a passar tanto tempo
com Stefan.”
Elena ficou quieta. “Você, também?”
“Não é que eu acredite nos boatos,” Tia Judith assegurou a ela.
“Mas, para o seu próprio
bem, poderia ser melhor ficar a uma certa distância dele, para...
—”
“Largá-lo? Abandoná-lo porque as pessoas estão espalhando rumores
sobre ele? Manter-me
longe da sujeira no caso de alguma coisa cair sobre mim?” A cólera
libertou-se, e as
palavras se acumularam na garganta de Elena, tudo tentando sair de
uma só vez. “Não, eu
não acho que é uma boa idéia, tia Judith. E se fosse
sobre Robert que nós estivéssemos
falando, você não acharia também. Ou talvez sim!”
“Elena, eu não vou admitir você falando comigo nesse tom—”
“Eu acabei, de qualquer jeito!” Elena gritou, e subiu às cegas
pelas escadas. Ela conseguiu
conter as lagrimas até estar no seu próprio quarto com a porta
trancada. Então ela caiu na
cama e chorou.
Ela levantou-se arrastando um tempo depois para ligar para Bonnie.
Bonnie estava excitada
e volúvel. O que diabos Elena queria dizer, se alguma coisa
inesperada tinha acontecido
depois que ela e Stefan saíram? A coisa inesperada foi eles
saírem! Não, aquele garoto
novo, Damon, não tinha dito nada sobre Stefan posteriormente; ele
apenas ficou lá por um
tempo e depois desapareceu. Não, Bonnie não tinha visto se ele
saiu com alguém. Por quê?
Elena estava com ciúmes? Sim, isso era pra ser uma brincadeira.
Mas, sério, ele era
deslumbrante, não era? Quase mais deslumbrante que Stefan, isso
supondo que você gosta
de cabelos e olhos escuros. Claro, se você gosta de cabelos mais
claros e olhos cor de
avelã...
Elena imediatamente deduziu que os olhos de Alaric Saltzman eram
cor de avelã.
Ela desligou o telefone por fim e só então lembrou do bilhete que
ela encontrou em sua
bolsa. Ela devia ter perguntado à Bonnie se alguém tinha estado
perto de sua bolsa
enquanto ela estava na sala de jantar. Mas também, Bonnie e
Meredith tinham estado na
sala de jantar parte do tempo também. Alguém deve ter colocado lá
então.
A visão do papel violeta a fez sentir gosto de estanho na boca.
Ela mal podia suportar olhálo.
Mas agora que ela estava sozinha ela tinha que desdobrá-lo e lê-lo novamente, o tempo
todo esperando que a essa altura as palavras pudessem estar
diferentes, que ela pudesse
estar errada antes.
Mas elas não estavam diferentes. A nítida, clara letra maiúscula
destacou-se contra o pálido
fundo como se elas fossem dez vezes maiores.
Eu quero tocá-lo. Mais do que qualquer garoto que eu já conheci. E
eu sei que ele quer
isto, também, mas ele está se segurando.
As palavras dela. Do seu diário. O que havia sido roubado.
No dia seguinte Meredith e Bonnie tocaram sua campainha.
“Stefan me ligou ontem à noite,” disse Meredith. “Ele disse que
queria estar certo de que
você não iria andando sozinha para a escola. Ele não irá à escola
hoje, então ele perguntou
se eu e Bonnie podíamos vir aqui e ir com você.”
“Te escoltar,” disse Bonnie, que claramente estava de bom humor.
“Acompanhar você. Eu
acho que é terrivelmente doce da parte dele ser tão protetor.”
“Ele provavelmente é de aquário, também.” Disse Meredith. “Vamos,
Elena, antes que eu a
mate para fazê-la se calar sobre Alaric.”
Elena andou em silêncio, imaginando o que Stefan estava fazendo
que o deteve de ir à
escola. Ela se sentiu vulnerável e exposta hoje, como se sua pele
estivesse ao avesso. Um
daqueles dias em que ela estava pronta para chorar por qualquer
motivo.
Sobre o quadro de avisos estava um pedaço de papel violeta.
Ela deveria saber. No fundo ela tinha sabido. O ladrão não estava satisfeito com
deixar ela
saber que suas palavras privadas tinham sido lidas. Ele a estava
mostrando que isso podia
vir a público.
Ela rasgou o bilhete para fora do quadro e o amassou, mas não
antes de ter vislumbrado as
palavras. De relance elas foram gravadas em seu cérebro.
Eu sinto como se alguém o tivesse ferido terrivelmente no passado
e ele nunca tivesse
superado isso. Mas eu também acho que há algo de que ele tem medo,
algum segredo que
ele tema que eu descubra.
“Elena, o que é isto? Qual é o problema? Elena volte aqui!”
Bonnie e Meredith a seguiram até o banheiro feminino, onde ela
parou perto da lixeira,
rasgando o papel em pedaços microscópicos, respirando como se ela
tivesse acabado de
correr uma corrida. Elas se olharam e em seguida viraram para
examinar os boxes do
banheiro.
“Ok,” Meredith disse ruidosamente, “privilégios dos veteranos.
Você!” Ela deu um soco na
única porta fechada, “Saia.”
Um farfalhar, e então uma primeiranista perplexa apareceu. “Mas eu
ainda nem—”
“Sai. Fora,” Bonnie ordenou, “E você,” ela disse para a garota lavando as mãos,
“Saia daqui
e tenha certeza de que ninguém entre aqui.”
“Mas por quê? O que vocês—”
“Anda, criança. Se alguém passar por aquela porta nós a
responsabilizaremos.”
Quando a porta estava de novo fechada, elas se viraram para Elena.
“Ok, isso é um assalto,” disse Meredith, “Vamos, Elena. Entregue.”
Elena rasgou o ultimo minúsculo pedaço de papel, surpreendida
entre gargalhadas e
lágrimas. Ela quis dizer-lhes tudo, mas ela não pôde. Ela resolveu
por dizer a elas sobre o
diário.
Elas ficaram tão bravas, tão indignadas, como ela estava.
“Tem que ter sido alguém na festa,” Meredith disse então, uma vez
que cada uma delas
tinha expressado sua opinião sobre a personalidade do ladrão,
moralidade, e o provável
destino pós-vida. “Mas qualquer um pode ter feito isso. Eu não
lembro de ninguém em
particular perto da sua bolsa, mas aquela sala estava cheia de
gente, e pode ter acontecido
sem eu perceber.”
“Mas por que alguém iria querer fazer isso?” Bonnie colocou. “A
não ser que... Elena, na
noite em que nós encontramos Stefan você estava insinuando algumas
coisas. Você disse
que você achava que sabia quem era o assassino.”
“Eu não acho que eu sei; eu sei. Mas se você está perguntado se isso pode estar
conectado,
eu não tenho certeza. Eu acho que pode estar. A mesma pessoa pode
ter feito isto.”
Bonnie estava horrorizada. “Mas isso significa que o assassino é
um estudante da escola!”
Quando Elena sacudiu a cabeça, ela prosseguiu. “As únicas pessoas
que estavam na festa
que não eram estudantes eram aquele garoto novo e Alaric.” Sua
expressão mudou. “Alaric
não matou o Sr. Tanner! Ele nem estava em Fell’s Church.”
“Eu sei. Alaric não fez isso.” Ela tinha ido longe demais para
parar agora; Bonnie e
Meredith já sabiam demais. “Damon matou.”
“O garoto era o assassino? O garoto que me beijou?”
“Bonnie, calma.” Como sempre, a histeria de outras pessoas fez
Elena se sentir mais
controlada. “Sim, ele é o assassino, e nós três devemos ficar
alertas contra ele. É por isso
que eu estou contando a vocês. Nunca, nunca o convidem para ir às
suas casas.”
Elena parou, observando as faces das suas amigas. Elas estavam
olhando fixo para ela, e
por um momento ela teve um revoltante sentimento de que elas não
tinham acreditado nela.
Que elas estavam questionando sua sanidade.
Mas tudo o que Meredith perguntou, numa voz até imparcial foi:
“Você tem certeza disso?”
“Sim. Eu tenho certeza. Ele é o assassino e quem colocou Stefan no
poço, e ele pode ir
atrás de uma de nós da próxima vez. E eu não sei se há um modo de
pará-lo.”
“Bem, então,” disse Meredith, erguendo as sobrancelhas. “Não
surpreende que você e
Stefan estivessem com tanta pressa para sair da festa.”
Caroline deu a Elena um sorriso afetado na cafeteria. Mas Elena
mal notou.
Uma coisa ela percebeu logo, no entanto. Vickie Bennett estava lá.
Vickie não tinha ido para a escola desde a noite em que Matt e
Bonnie e Meredith a haviam
encontrado errante na estrada, delirando sobre neblina e olhos e
alguma coisa terrível no
cemitério. Os médicos que a examinaram posteriormente disseram que
não havia nada
muito ruim com o seu psicológico, mas ela ainda não tinha
retornado à escola Robert E.
Lee. As pessoas sussurravam sobre psicólogos e os remédios que
eles estavam tentando.
Ela não parecia louca, no entanto, Elena pensou. Ela parecia
pálida e moderada e com um
tipo de amassado em suas roupas. E quando Elena passou por ela e
ela a olhou, seus olhos
eram como os de filhotes assustados.
Foi estranho sentar numa mesa semi-vazia com somente Bonnie e
Meredith como
companhia. Geralmente as pessoas ficavam apertadas para pegar
lugares ao redor delas três.
“Nós não terminamos de conversar esta manhã,” Meredith disse.
“Pegue algo para comer, e
então nós vamos descobrir o que fazer com esses bilhetes.”
“Eu não estou com fome,” disse Elena categoricamente. “E o que nós
podemos fazer? Se
for Damon, não há como pará-lo. Confiem em mim, não é um caso para
polícia. É por isso
que eu não disse a eles que ele é o assassino. Não há nenhuma
prova, além disso, eles
nunca iriam... Bonnie, você não está ouvindo.”
“Desculpa,” disse Bonnie, que estava olhando para trás da orelha
esquerda de Elena. “Mas
algo estranho está acontecendo logo ali.”
Elena virou. Vickie Bennett estava de pé na frente da cafeteria,
mas ela já não parecia
amassada e moderada. Ela estava olhando em volta da sala com um
sorriso malicioso e
avaliativo sorriso.
“Bem, ela não parece normal, mas eu não diria que ela está
parecendo estranha,
exatamente.” Meredith disse. Então ela adicionou, “Espere um
minuto.”
Vickie estava desabotoando seu casaquinho. Mas era o modo como ela estava fazendo
isso... Com deliberados e pequenos movimentos rápidos de seus
dedos, tudo enquanto
olhava em volta com aquele sorriso secreto — era estranho. Quando
o ultimo botão estava
desabotoado, ela pegou o pulôver delicadamente entre o dedo
indicador e o polegar e
deslizou para baixo ao longo de um braço, e depois do outro. Ela
jogou o pulôver no chão.
“Estranha é a palavra,” confirmou Meredith.
Estudantes passando na frente Vickie com bandejas carregadas deram
uma olhadela para
ela com curiosidade e então olharam para trás, para seus ombros,
quando já tinham
passado. Eles não pararam de andar exatamente, no entanto, até ela
tirar seus sapatos.
Ele fez isso graciosamente, pegando o calcanhar de um na ponta dos
pés do outro e tirando.
E então ela tirou o segundo.
“Ela não pode continuar isso,” Bonnie murmurou, quando os dedos de
Vickie moveram-se
para o botão de imitação de pérola na sua blusa de seda branca.
Cabeças estavam virando; as pessoas estavam cutucando uns aos
outros e gesticulando. Em
volta de Vickie um pequeno grupo tinha se recolhido, permanecendo
longe o suficiente que
eles não interferiram na visão de ninguém.
A blusa de seda branca foi tirada, tremulando como um fantasma no
chão.
Vickie estava vestindo um sutiã rendado de branco ‘sujo’ por
baixo.
Não tinha nenhum barulho na cafeteria exceto alguns sussurros.
Ninguém estava comendo.
O grupo em volta de Vickie tinha ficado mais largo.
Vickie sorriu recatadamente e começou a desabotoar a fivela em sua
cintura. Sua saia
pregueada caiu no chão. Ela saiu de dentro dela e a empurrou para
o lado com o seu pé.
Alguém levantou no fundo da cafeteria e cantou: “Tira! Tira!” Outras vozes se juntaram.
“Ninguém vai pará-la?” Revoltou-se Bonnie.
Elena levantou-se. A última vez que ela estivera perto de Vickie a
garota gritara e a
expulsara. Mas agora, quando ela chegou mais perto, Vickie lhe deu
um sorriso
conspiratório. Seus lábios se moveram, mas Elena não pôde entender
o que ela estava
dizendo acima da cantoria.
“Vamos, Vickie. Vamos,” ela disse.
O cabelo castanho claro de Vickie balançou e ela deslizou a alça
de seu sutiã.
Elena abaixou-se para pegar o casaquinho e embrulhou-o em volta
dos ombros delgados da
menina. Quando ela o fez, quando ela tocou Vickie, aqueles olhos
semi-cerrados abriram
como os de um filhote assustado de novo. Vickie a fitou
selvagemente, como se ela tivesse
acabado de despertar de um sonho. Ela olhou para baixo para si
mesma e sua expressão se
tornou desacreditada. Pondo seu casaquinho em volta dela mais
apertado, ela recuou,
tremendo.
A sala estava silenciosa novamente.
“Está tudo bem,” disse Elena, acalmando-a. “Vamos.”
Ao som de sua voz, Vickie pulou como se tivesse sido tocada por um
arame farpado. Ela
olhou fixo para Elena, e então explodiu em gritos.
“Você é uma deles! Eu vi você! Você é má!”
Ela virou e correu descalça para fora da cafeteria, deixando Elena
atordoada.
______________
Capítulo Oito
“Sabe o que é estranho sobre o que a Vickie fez na escola? Quer
dizer, fora todas as coisas
óbvias,” Bonnie disse, lambendo cobertura de chocolate de seus
dedos.
“O quê?” disse Elena tediosamente.
“Bem, a maneira como ela terminou, em seu sutiã. Ela parecia
exatamente como estava
quando nós a encontramos na estrada, só que então ela estava toda
arranhada, também.”
“Arranhões de gatos, nós achamos,” disse Meredith, terminando a
última mordida de seu
bolo. Ela parecia estar em um dos seus humores quietos e pensativos;
nesse momento ela
estava observando Elena de perto. “Mas isso não parece muito
provável.”
Elena olhou diretamente de volta para ela. “Talvez ela tenha caído
em alguns arbustos,” ela
disse.
“Agora, se vocês terminaram de comer, querem ver o primeiro
bilhete?”
Elas deixaram seus pratos na pia e subiram a escada para o quarto
de Elena. Elena sentiu-se
corando enquanto as outras meninas liam a nota. Bonnie e Meredith
eram suas melhores
amigas, talvez suas únicas amigas agora. Ela tinha lido passagens
de seu diário para elas
antes. Mas isso era diferente. Era a sensação mais humilhante que
ela já tinha sentido.
“Bem?” ela disse para Meredith.
“A pessoa que escrevey isso tem um metro e oitenta, anda mancando
ligeiramente, e usa
um bigode falso,” Meredith entoou. “Desculpa,” ela acrescentou,
vendo o rosto de Elena.
“Não é engraçado. Na verdade, não há muito o que seguir, tem? A
escrita parece a de um
garoto, mas o papel parece feminino.”
“E o negócio todo tem um tipo de toque feminino,” interpôes
Bonnie, balançando
ligeiramente na cama de Elena.
“Bem, tem,” ela disse defensivamente. “Citar pedacinhos dos seu
diário de volta para você
é o tipo de coisa que uma mulher pensaria. Homens não ligam para
diários.”
“Você só não quer que seja o Damon,” disse Meredith. “Eu achei que
você ficaria mais
preocupada com ele sendo um assassino psicótico do que um ladrão
de diário.”
“Eu não sei; assassinos são meio românticos. Imagine você morrendo
com as mãos dele ao
redor da sua garganta. Ele estrangularia a vida de você, e a
última coisa que você veria seria
o rosto dele.” Colocando suas próprias mãos na garganta, Bonnie
arfou e expirou
tragicamente, acabando drapejada na cama. “Ele pode me ter a hora
que quiser,” ela disse,
os olhos ainda fechados.
Estava nos lábios de Elena dizer, “Você não entende, isso é sério,” mas ao invés ela bufou.
“Ah, Deus,” ela disse, e correu até a janela. O dia estava úmido e
sufocante, e a janela fora
aberta. Lá fora nos galhos esqueléticos de um marmeleiro estava um
corvo.
Elena jogou o caixilho para baixo tão forte que o vidro chacoalhou
e trincou. O corvo olhou
para ela através da vidraça tremeluzente com olhos de obsidiana.
Arco-íris brilharam na sua
suave plumagem preta.
“Por que você disse isso?” ela disse, virando-se para Bonnie.
“Ei, não tem ninguém lá fora,” disse Meredith gentilmente. “A não
ser que você conte os
pássaros.”
Elena deu as costas para elas. A árvore estava vazia agora.
“Sinto muito,” disse Bonnie em uma voz baixa, depois de um
momento. “É só que nem
parece real as vezes, mesmo o Sr. Tanner estar morto não parece
real. E Damon pareceu...
bem, excitante. Mas perigoso. Eu posso acreditar que ele é
perigoso.”
“E além do mais, ele não apertaria a sua garganta; ele cortaria,”
Meredith disse. “Ou pelo
menos foi o que ele fez com o Tanner. Mas o velho debaixo da ponta
teve sua garganta
aberta, como se algum animal tivesse feito isso.” Meredith
procurou Elena por
esclarecimento. “Damon não tem um animal, tem?”
“Não. Eu não sei.” De repente, Elena sentiu-se muito cansada. Ela
estava preocupada com
Bonnie, sobre as consequências dessas palavras tolas.
“Eu posso fazer qualquer coisa com você, com você e com aqueles
que ama,” ela lembrou.
O que Damon faria agora? Ela não o entendia. Ele estava diferente
toda vez que eles se
encontravam. No ginásio ele estava zombeteiro, rindo dela. Mas da
próxima vez ela juraria
que ele estava sério, citando poesia para ela, tentando fazer com
que ela fosse com ele. Na
semana passada, com o gelado vento do cemitério fustigando ao
redor dele, ele fora
ameaçador, cruel. E debaixo de suas palavras zombeteiras na noite
passada, ela sentiu a
mesma ameaça. Ela não conseguia prever o que ele faria a seguir.
Mas, o que quer que acontecesse, ela tinha que proteger Bonnie e
Meredith dele.
Especialmente já que ela não conseguia avisá-las propriamente. E o
que Stefan estava
aprontando? Ela precisava dele agora, mais do que tudo. Onde estava ele?
Começou nessa manhã.
“Deixa eu entender isso,” Matt disse, inclinando-se contra o corpo
cicatrizado de seu velho
Ford sedã quando Stefan aproximou-se dele antes da escola.
“Você quer emprestar o meu carro.”
“Sim,” Stefan disse.
“E a razão pela qual você quer emprestá-lo é flores. Você quer
pegar algumas flores para
Elena.”
“Sim.”
“E essas flores em particular, essas flores que você simplesmente
tem que conseguir, não
crescem por aqui.”
“Talvez elas cresçam. Mas a estação da florescência é bem para o
norte. E o gelo teria
acabado com elas de qualquer jeito.”
“Então você quer ir para o sul – quão sul você não sabe - para
achar algumas dessas flores
que você simplesmente tem que dar para Elena.”
“Ou pelo menos algumas das plantas,” Stefan disse. “Eu preferia
ter as flores de verdade,
contudo.”
“E já que a polícia ainda tem o seu carro, você quer emprestar o
meu, por quanto tempo
demorar até você chegar ao sul e achar essas flores que você
simplesmente tem que dar
para Elena.”
“Eu imaginei que dirigir é o jeito menos evidente de deixar a
cidade,” Stefan explicou. “Eu
não quero a polícia me seguindo.”
“Ah hã. E é por isso que você quer o meu carro.”
“Sim. Você vai me dá-lo?”
“Se eu vou dar meu carro pro cara que roubou a minha namorada e
agora quer dar um
passeio no sul para dar para ela algum tipo especial de flor que
ela simplesmente tem que
ter? Você está louco?” Matt, que estivera encarando os telhados
das casas de madeira do
outro lado da rua, virou por fim para olhar para Stefan. Seus
olhos azuis, geralmente alegres
e diretos, estavam cheios de total descrédito, e coroados por
sobrancelhas tortas e
enrugadas.
Stefan desviou o olhar. Ele devia ter sabido. Depois de tudo que
Matt já tinha feito por ele,
esperar mais era ridículo. Especialmente esses dias, quando as
pessoas hesitavam ao som de
seus passos e evitavam seus olhos quando ele chegava perto.
Esperar Matt, que tinha as melhores razões para se ressentir dele,
fazer tal favor sem
explicação, na base somente da fé, realmente era insano.
“Não, eu não estou louco,” ele disse silenciosamente, e virou-se
para ir.
“Nem eu,” Matt tinha dito. “E eu teria que ser louco para dar o
meu carro para você. Diabos
que não. Eu vou com você.”
No momento em que Stefan havia se virado de novo, Matt estava
olhando para o carro ao
invés dele, seu lábio inferior para frente em um beicinho
desconfiado e criterioso.
“Afinal de contas,” ele disse, esfregando o vinil descascado do
teto, “você pode arranhar a
pintura ou algo assim.”
Elena colocou o telefone de volta no gancho. Alguém estava na pensão, porque alguém
ficava atendendo quando o telefone tocava, mas depois só havia
silêncio e então o clique
desligando. Ela suspeitou que fosse a Sra. Flowers, mas isso não
dizia a ela nada sobre
onde Stefan estava. Instintivamente, ela queria ir com ele. Mas
estava escuro lá fora, e
Stefan tinha avisado-a especificamente para não sair no escuro,
especialmente não em
algum lugar perto do cemitério ou da floresta. A pensão era perto
de ambos.
“Sem resposta?” disse Meredith quando Elena voltou e sentou na
cama.
“Ela fica desligando na minha cara,” Elena disse, e resmungou algo
em voz baixa.
“Você disse que ela é uma fruta?”
“Não, mas rima com isso,” disse Elena.
“Olha,” disse Bonnie, sentando-se. “Se Stefan for ligar, ele vai
ligar para cá. Não há razão
para você vir e passar a noite comigo.”
Havia uma razão, apesar de Elena não conseguir
explicá-la nem para si mesma. Afinal de
contas, Damon tinha beijado Bonnie na festa de Alaric Saltzman.
Era culpa de Elena que
Bonnie estava em perigo em primeiro lugar. De algum jeito ela
sentia que se pelo menos
estivesse no cenário, ela poderia ser capaz de proteger a Bonnie.
“Minha mãe e meu pai e Mary estão todos em casa,” Bonnie
persistiu. “E nós trancamos
nossas portas e janelas e tudo desde que o Sr. Tanner foi
assassinado. Esse final de semana
papai pôs até mesmo fechaduras extras. Eu não vejo o que você pode fazer.”
Elena também não. Mas ela ia do mesmo jeito.
Ela deixou uma mensagem para Stefan com a tia Judith, dizendo a
ele onde ela estava.
Ainda havia uma restrição restando entre ela e sua tia. E ainda
haveria, Elena pensou, até
que tia Judith mudasse de idéia sobre Stefan.
Na casa de Bonnie, ela ficou com um quarto que pertencera a uma
das irmãs de Bonnie que
estava agora na faculdade.
A primeira coisa que ela fez foi checar a janela. Estava fechada e
trancada, e não havia
nada fora na qual alguém conseguisse escalar, com um cano de
drenagem ou uma árvore.
Tão discretamente quanto possível, ela também checou o quarto de
Bonnie e os outros em
que conseguiu entrar. Bonnie estava certa; eles estavam todos bem
fechados de dentro.
Nada de fora podia entrar.
Ela ficou deitada na cama por um tempão naquela noite, encarando o
teto, incapaz de
dormir. Ela ficou lembrando de Vickie sonhadoramente fazendo um
striptease na cantina.
O que tinha de errado com a garota? Ela se lembraria de perguntar
isso a Stefan na próxima
vez que ela o visse.
Pensamentos sobre Stefan era agradáveis, mesmo com todas as coisas
terríveis que tinham
acontecido ultimamente.
Elena sorriu na escuridão, deixando sua mente vagar. Algum dia
todo essa importunação
iria acabar, e ela e Stefan poderia planejar uma vida juntos. É
claro, ele na verdade não
tinha falado nada sobre isso, mas a própria Elena tinha certeza.
Ela ia se casar com Stefan,
ou com ninguém. E Stefan ia se casar com ninguém além dela...
A transição para o sonho foi tão suave e gradual que ela
dificilmente notou. Mas ela sabia,
de algum jeito, que ela estava sonhando. Era como se um pedacinho dela estivesse de lado
e observando o sonho como uma peça.
Ela estava sentada em um longo corredor, que estava coberto por
espelhos em um lado e
janelas no outro. Ela estava esperando por alguma coisa. Então ela
viu um tremor de
movimento, e Stefan estava de pé do lado de fora da janela. Seu
rosto estava pálido e seus
olhos estavam magoados e nervosos. Ela foi até a janela, mas ela
não conseguia ouvir o que
ele estava dizendo por causa do vidro. Em uma mão, ele estava
segurando um livro com
uma capa de veludo azul, e ele ficava gesticulando para ele e
perguntando algo para ela.
Então ele derrubou o livro e se virou.
“Stefan, não vá! Não me deixe!" ela gritou. Seus dedos se
achataram alvamente no vidro.
Então ela notou que havia um caixilho de um lado da janela e ela
abriu, chamando-o. Mas
ele tinha desaparecido e lá fora ela viu apenas uma névoa branca
serpenteando.
Desconsolada, ela deu as costas a janela e começou a andar pelo
corredor.
Sua própria imagem brilhou em espelho atrás de espelho enquanto
ela passava por eles.
Então algo em um dos reflexos chamou sua atenção.
Os olhos eram os seus, mas havia um novo olhar neles, um olhar
predator e dissimulado.
Os olhos de Vickie estavam daquele jeito quando ela estava se
despindo. E havia algo
perturbador e faminto em seu sorriso.
Enquanto ela observava, parada de pé, a imagem de repente girou
continuamente, como se
estivesse dançando. O horror lavou Elena. Ela começou a correr
pelo corredor, mas agora
todos os reflexos tinha vida própria, dançando, chamando ela,
rindo dela. Juso quando ela
pensou que seu coração e pulmões fossem explodir de terror, ela
alcançou o final do
corredor e abriu a porta de supetão.
Ela estava de pé em uma sala ampla e bonita. O eminente teto era
talhado complexamente e
incrustado de ouro; as portas eram foliadas com mármore branco.
Estátuas clássicas
estavam de pé em nichos pelas paredes. Elena nunca tinha visto uma
sala com tanto
esplendor, mas ela sabia onde estava. Na Itália da Renascença,
quando Stefan estava vivo.
Ela olhou para si mesma e viu que estava usando um vestido como
aquele que ela tinha
feito para o Dia das Bruxas, o vestido de baile da Renascença azul
gelo.
Mas esse vestido era de um profundo vermelho rubi, e ao redor de
sua cintura ela usava
uma corrente fina com pedras vermelhas brilhantes. As mesmas
pedras estavam em seu
cabelo. Quando ela se moveu, a seda brilhou como chamas na luz de
cem tochas.
Bem no final da sala, dois enormes portas abriram para dentro. Uma
figura apareceu entre
elas. Andou na direção dela, e ela viu que era um jovem vestido em
roupas da Renascença,
uma roupa justa com meias e com um colete de pele animal apertado.
Stefan! Ela foi na direção dele avidamente, sentindo o peso de seu
vestido balançando em
sua cintura. Mas quando ela chegou mais perto ela parou, inalando
rapidamente. Era
Damon.
Ele continuou andando na direção dela, confiante, casual. Ele
estava sorrindo, um sorriso
de desafio. Alcançando-a, ele colocou uma mão em cima de seu
coração e saudou-a. Então
ele estendeu a mão para ela como se estivesse desafiando-a a
pegá-la.
“Você gosta de dançar?” ele disse. Exceto que seus lábios não se
moveram. A voz estava na
mente dela.
Seu medo foi drenado, e ela riu. O que estava errado com ela, para
já ter tido medo dele?
Eles se entendiam muito bem. Mas ao invés de pegar a mão dele, ela
virou de costas, a seda
de seu vestido virando atrás dela. Ela moveu-se levemente na
direção de uma das estátuas
perto da parede, não olhando para trás para ver se ele estava
seguindo-a. Ela sabia que ele
iria. Ela fingiu estar absorta na estátua, esquivando-se novamente
bem quando ele a
alcançou, mordendo seu lábio para segurar a risada. Ela se sentiu
maravilhosa agora, tão
viva, tão linda. Perigoso? É claro, esse jogo era perigoso.
Mas ela sempre gostou do perigo.
Da próxima vez que ele chegou perto dela, ela olhou
provocantemente para ele enquanto se
virava. Ele estendeu a mão, mas pegou apenas a corrente de pedras
na cintura dela. Ele
soltou-a rapidamente, e, olhando para trás, ela viu que a moldura
de uma das pedras tinha
cortado-o.
A gota de sangue no dedo dele era exatamente da cor do vestido. Os
olhos dele
relampejaram para os lados dela, e seus lábios se curvaram num
sorriso derrisório enquanto
ele levantava o dedo machucado. Você não ousaria, aqueles olhos
diziam.
Ah, eu não ousaria? Elena disse a ele com seus próprios olhos.
Ousadamente, ela tomou a
mão dele e a segurou por um momento, provocando-o. Então ela levou
o dedo aos seus
lábios.
Depois de alguns instantes, ela o soltou e olhou para ele. “Eu gosto de dançar,” ela disse, e
descobriu que, como ele, ela podia falar com sua mente. Era uma
sensação eletrizante. Ela
moveu-se para o centro da sala e esperou.
Ele a seguiu, gracioso como uma besta caçando. Os dedos dele
estavam quentes e duros
quando seguraram os dela.
Havia música, apesar dela esvair-se e soar muito distante. Damon
colocou sua outra mão na
cintura dela. Ela podia sentir o calor de seus dedos lá, a
pressão. Ela pegou sua saia, e eles
começaram a dançar.
Era adorável, como voar, e seu corpo sabia todos os movimentos a
fazer. Eles dançavam
continuamente ao redor da sala vazia, num momento perfeito,
juntos.
Ele estava rindo para dela, seus olhos escuros brilhando com
alegria. Ela se sentiu tão
bonita; tão envenenada e alerta e pronta para tudo. Ela não
conseguia se lembrar de quando
se divertira tanto.
Gradualmente, contudo, seu sorriso dissipou, e a dança deles ficou
lenta. Por fim ela ficou
sem se mover no círculos dos braços dele. Os olhos escuros dele
não estavam mais
divertidos, mas ferozes e esquentados. Ela olhou para ele
sobriamente, sem medo. E então
pela primeira vez ela sentiu como se estivesse sonhando; ela sentiu-se
ligeiramente tonta e
muito lânguida e fraca.
O quarto ao redor dela estava borrando. Ela conseguia ver apenas
seus olhos, e eles a
estavam fazendo se sentir mais e mais sonolenta.
Ela permitiu que seus próprios olhos se fechassem parcialmente,
sua cabeça cair para trás.
Ela suspirou.
Ela podia sentir o olhar dele agora, nos lábios dela, em sua garganta. Ela sorriu
para si
mesma e deixou seus olhos fecharam completamente.
Ele estava segurando o peso dela agora, impedindo-a de cair. Ela
sentiu os lábios dele na
pele do pescoço dela, pelando quente como se ele estivesse com
febre. Então ela sentiu a
picada, como a injeção de duas agulhas. Acabou rapidamente,
contudo, e ela relaxou ao
prazer de ter seu sangue drenado.
Ela lembrou dessa sensação, da sensação de flutuar numa cama de
uma luz dourada. Uma
languidez deliciosa infiltrou-se por todos os seus membros. Ela se
sentiu sonolenta, como
se fosse muito problemático se mover. Ela nem mesmo queria se
afastar; ela sentiu-se bem
demais.
Os dedos dela estava descansando no cabelo dele, prendendo a cabeça
dele a dela.
Preguiçosamente, ela moveu-os pelos suaves fios de cabelo escuro.
O cabelo dele era como
seda, quente e vivo debaixo dos dedos dela. Quando ela abriu seus
olhos um pouquinho, ela
viu que ele refletia arco-íris na luz de vela. Vermelho e azul e
roxo, bem como – bem como
as penas…
E então tudo desmoronou. Houve uma dor repentina em sua garganta,
como se sua alma
estivesse sendo arrancada dela. Ela estava empurrando Damon,
arranhando-o, tentando
forçá-lo a se afastar. Gritos ecoaraam nos ouvidos dela. Damon
estava lutando com ela,
mas não era Damon; era um corvo. Asas enormes batiam contra ela,
batendo no ar.
Os olhos dela estavam abertos. Ela estava acordada e gritando. O
salão se fora, e ela estava
em um quarto escurecido. Mas o pesadelo tinha seguido-a. Mesmo
quando ela alcançava a
luz, vinha até ela novamente, asas batendo em seu rosto, um bico
afiado mergulhando até
ela.
Elena golpeou-o, uma mão lançando-se para proteger seus olhos. Ela
ainda estava gritando.
Ela não conseguia fugir disso, aquelas asas terríveis continuavam
batendo freneticamente,
com um som como o de mil maços de cartas sendo embaralhados ao
mesmo tempo.
A porta abriu de supetão, e ela ouviu gritos. O corpo quente e
pesado de um corvo golpeoua
e seus gritos ficaram mais altos. Então alguém estava puxando-a
para fora da cama, e ela
estava sendo protegida atrás do pai de Bonnie. Ele tinha uma
vassoura e ele estava batendo
no pássaro com ela.
Bonnie estava de pé na entrada da porta. Elena correu para seus
braços. O pai de Bonnie
estava gritando, e então veio a pancada de uma janela.
“Está fora,” o Sr. McCullough disse, respirando com dificuldade.
Mary e a Sra. McCullough estavam do lado de fora do corredor,
cobertas por roupões.
“Você está machucada,” a Sra. McCullough disse para Elena em
espanto. “O nojentinho te
bicou.”
“Estou bem,” Elena disse, roçando uma mancha de sangue no rosto
dela. Ela estava
tremendo tanto que seus joelhos estavam prestes a ceder.
“Como isso entrou?” disse Bonnie.
O Sr. McCullough estava inspecionando a janela. “Você não devia
ter deixado aberta,” ele
disse. “E por que você quis tirar as trancas?”
“Eu não tirei,” Elena gritou.
“Estava destrancada e aberta quando eu ouvi você gritando e
entrei,” o pai de Bonnie disse.
“Eu não sei quem mais poderia ter aberto exceto você.”
Elena engoliu seus protestos. Hesitantemente, cautelosamente, ela
moveu-se para a janela.
Ele estava certo; as trancas foram desparafusadas. E só poderia
ter sido feito de dentro.
“Talvez você seja sonâmbula,” disse Bonnie, guiando Elena para
longe da janele enquanto
o Sr. McCullough começou a colocar as trancas de volta.
“É melhor limparmos você.”
Sonâmbula. De repente o sonho inteiro inundou Elena. O corredor de
espelhos, e o salão, e
Damon. Dançando com Damon. Ela se soltou do aperto de Bonnie.
“Eu faço isso sozinha,” ela disse, ouvindo sua própria voz tremer
na beira da histeria.
“Não – sério – eu quero.” Ela escapou para o banheiro e ficou de
pé com suas costas para a
porta fechada, tentando respirar.
A última coisa que ela queria fazer era olhar no espelho. Mas por
fim, lentamente, ela
aproximou do em cima da pia, tremendo enquanto via a margem de seu
reflexo, movendo
centímetro a centímetro até que estava emoldurada na superfície
prateada.
Sua imagem encarou de volta, um pálido fantasmagórico, com olhos
que pareciam
machucados e assustados.
Havia sombras profundas debaixo deles e manchas de sangue em seu
rosto.
Lentamente, ela virou sua cabeça ligeiramente e levantou seu
cabelo. Ela quase chorou alto
quando ela viu o que estava por baixo.
Dois machucadinhos, frescos e abertos na pele de seu pescoço.
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Capítulo Nove
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-Sei que vou lamentar ter perguntado – disse Matt, tirando os
olhos avermelhados fixos na
estrada para Stefan sentado no assento do passageiro junto a ele.
– Mas, pode me dizer por
que queremos esta super-especial, não disponível localmente, erva
daninha semi-tropical
para Elena?
Stefan olhou o assento posterior, onde repousavam os resultados da
busca através de sebes
e zonas herbáceas. As plantas, com seus talos verdes ramificados e
suas pequenas folhas
dentadas, elas se pareciam com ervas daninhas mais do que qualquer
coisa. Os secos restos
de flores nos extremos dos talos eram quase invisíveis, e ninguém
podia fingir se quer que
os brotos eram decorativos.
-E se eu dissesse que podem ser usadas para produzir um colírio
totalmente natural? –
sugeriu depois de um momento de reflexão. – Ou um chá de ervas?
-Por que? Estava pensando em dizer algo parecido?
-Na realidade, não.
-Bem. Porque se fosse, eu provavelmente ti derrubaria com um soco.
Sem olhar realmente para Matt, Stefan sorriu. Havia algo novo que
se agitava em seu
interior, algo que não fazia sentido durante quase cinco séculos,
exceto com Elena.
Aceitação. Cordialidade e amizade compartilhadas com outro ser
humano que não conhecia
a verdade sobre ele mas que confiava nele de qualquer forma. Não
estava seguro se
merecia, mas não podia negar o que significava para ele. Quase se
sentia... humano outra
vez.
Elena contemplou fixamente a imagem no espelho. Não havia sido um
sonho. Não por
completo. As feridas no pescoço lhe provavam. E agora que as havia
visto, advertiu-lhe a
sensação de tontura, de letargia.
Era sua culpa. Havia se preocupado tanto em advertir Bonnie e
Meredith de que não
convidassem conhecidos a entrar em suas casas... E havia se
esquecido que ela mesma
havia convidado Damon a entrar na casa de Bonnie. Tinha feito
naquela noite em que havia
organizado o jantar silencioso na mesa de Bonnie e gritada para a
escuridão: “Entra”.
E o convite iria se manter para sempre. Ele podia regressar a
qualquer momento se
quisesse, inclusive agora. Especialmente agora, que ela estava
frágil e poderia ser
hipnotizada facilmente para que voltasse a abrir a janela.
Saiu cambaleante do banheiro, passando junto a Bonnie no caminho
ao quarto de hospedes.
Agarrou sua bolsa e começou a botar suas coisas nela.
-Elena, não pode sair assim!
-Não posso ficar aqui – respondeu ela.
Passou uma olhada no quarto procurando os sapatos, os descobriu
perto da cama e foi até
eles. Então se deteve, com um som abafado. Descansando sobre as
roupas havia uma
solitária pluma negra. Era enorme, horrivelmente enorme e real e
sólida, com um grosso
cunho de aspecto ceroso. Resultava quase obcena descansando ali
sobre os brancos lençóis
de percal.
Uma sensação de náusea se apoderou de Elena, que virou sua cabeça.
Não podia respirar.
-Ok, ok – disse Bonnie – Se se sente assim, farei papai leva-la
para sua casa.
-Você também tem que vir.
A Elena acabara de vir a mente que Bonnie não estava mais segura
naquela casa do que ela
estava. “Você e seus entes queridos”, recordou, e girou para pegar
o braço da amiga.
-Tem que vir. Preciso de você comigo.
E no final ela foi. Os McCullough pensavam que estava histérica,
que reagiu de forma
exagerada, que possivelmente estava com uma crise nervosa. Mas
finalmente cederam. O
Sr. McCoullough levou ela e Bonnie em seu carro para a casa dos
Gilbert, onde, sentindose
igual um ladrão, abriu a porta com a chave e deslizou para o
interior para não acordar
ninguém.
Inclusive aqui, Elena não podia dormir, e permaneceu acordada ao
lado de Bonnie, que
respirava pausadamente, olhando em direção da janela do quarto. No
exterior, as ramas do
galho chicoteavam contra o vidro, mas nada mais se moveu até o
amanhecer.
Foi então que olhou o carro. Havia reconhecido o sibilante som do
motor de Matt em
qualquer parte. Alarmada, foi na ponta dos pés até a janela e
olhou fora a quietude Alba de
outro dia nublado. Logo correu escada abaixo e abriu a porta
principal.
-Stefan!
Em toda a sua vida, nunca tinha se alegrado tanto em ver alguém.
Se abraçou a ele antes de
que pudesse fechar a porta do carro. Ele balançou para trás pela
força do impacto, e ela
pôde perceber sua surpresa. No geral, ela não era tão intensa em
público.
-Hey! – disse ele, devolvendo o abraço com suavidade – Eu também
me alegro, mas não
esmague as flores.
-Flores?
Se afastou para olhar o que ele segurava; então, olhou-o no rosto.
Logo depois a Matt, que
emergia do outro lado do carro. O rosto de Stefan estava pálido e
emaciado; o de Matt
esgotado pelo cansaço e com os olhos avermelhados.
-Será melhor que entre – disse por fim, desconcertada. – Os dois
estão com um aspecto
horrível.
-É verbena – explicou Stefan mais tarde.
Elena e ele estavam sentados na mesa da cozinha. Através do vão
aberto da porta, podia ver
Matt estendido no sofá da sala de estar, roncando com suavidade.
Se deixou cair ali depois
de três tigelas de cereal. Tia Judith, Bonnie e Margareth seguiam
no andar de cima,
dormindo, mas Stefan manteve a voz baixa mesmo assim.
-Lembra do que eu disse sobre ela? – perguntou.
-Disse que ajuda a manter a mente clara inclusive quando alguém
está usando o Poder para
influenciar.
Elena se sentiu orgulhosa da firmeza que soou sua voz.
-Correto. E essa é uma das coisas que Damon podia tentar. Pode
usar o poder da sua mente
inclusive à distancia, e pode fazer tanto se estiver acordada como
se estiver dormindo.
As lágrimas inundaram os olhos da garota, e ela os baixou para
ocultá-las, contemplando os
largos e finos talos os restos secos das diminutas flores lilás
nas pontas.
-Dormindo? – perguntou, temendo que nesse momento sua voz não
estivesse tão firme.
-Sim; poderia influenciar para que saia da casa, digamos, ou para
que o deixe entrar. Mas a
verbena deve impedi-lo.
Stefan parecia cansado mas satisfeito consigo mesmo.
“Ah, Stefan, se você soubesse”, pensou Elena. O presente havia
chegado com uma noite de
atraso. Apesar de todos os esforços, uma lagrima caiu, gotejando
sobre as folhas verdes.
-Elena! – sua voz soou sobresaltada – O que aconteceu? Me conta.
Tentava olhar seu rosto, mas ela inclinou a cabeça, pressionando-a
contra seu ombro. Ele a
rodeou com seus braços, sem tentar obriga-la a levantar outra vez.
-Conte-me – repetiu em voz baixa.
Era o momento. Se ia contar alguma vez, devia ser agora. Sentia a
garganta ardente e
inflamada, e desejava deixar as palavras que levava dentro sair.
Mas não podia. “Não importa o que aconteça, não permitirei que
briguem por mim”,
pensou.
-É só que... estava preocupada contigo – conseguiu dizer. – Não
sabia onde tinha ido ou
quando ia voltar.
-Devia ter ti contado. Mas, isso é tudo? Não há nada mais que a
esteja transtornando?
-Isso é tudo.
Agora tinha que conseguir que Bonnie jurasse manter segredo sobre
o corvo. Por que uma
mentira sempre levava a outra?
-Que devemos fazer com a verbena? – perguntou sentando-se para
trás.
-Mostrarei esta noite. Uma vez que tenha extraído o azeite das
sementes, pode esfregar na
pele ou adicionar na água da banheira. E pode colocar as folhas
secas na bolsa e leva-la
com você ou coloca-la embaixo da almofada pela noite.
-Será melhor que dê a Bonnie e Meredith. Precisarão de proteção.
Ele assentiu.
-Por agora... – rompeu um galho e depositou na mão de Elena –
Limite-se a levar isto ao
colégio com você. Vou voltar a pousada para extrair o azeite –
Calou um instante e logo
disse: - Elena...
-Sim?
-Se creese que iria servir de algo, eu iria. Não exporia você a
Damon. Mas não creio que ele
iria me seguir se eu fosse, não mais. Creio que poderia ficar...
devido a você.
-Nem pense em ir embora – disse ela com ferocidade, alcançando os
olhos dele. – Stefan,
isso é a única coisa que eu não poderia suportar. Promete que não
fará, prometa-me.
-Não ti deixarei sozinha com ele – replicou Stefan, que não era
exatamente o mesmo.
Mas não servia de nada insistir mais.
Em vez disso, ele ajudou a acordar Matt e os acompanhou até a
porta. Então, com um talo
de verbena seca na mão, subiu as escadas e se preparou para ir
para o colégio.
Bonnie bocejou sem parar durante o café e realmente não acabou de
despertar até que
estivessem na rua, andando para o colégio com uma brisa fresca as
golpeando no rosto. Ia
ser um dia frio.
-Tive um sonho muito estranho esta noite – disse Bonnie.
O coração de Elena deu um pulo. Já havia colocado um galhinho
dentro da mochila da
amiga, bem no fundo, onde Bonnie não podia vê-lo. Mas se Damon
havia chegadoa te
Bonnie na noite anterior...
-Sobre o que? – inquiriu, se apoiando.
-Sobre você. A vi de pé embaixo de uma arvore e o vento soprava.
Por algum motivo, tinha
medo e não queria se aproximar mais de mim. Parecia... diferente.
Muito pálida, mas quase
resplandecia. E então um corvo desceu voando da arvore, e você
alongou o braço e o
agarrou no ar. Foi tão rápida que parecia incrível. E continuava a
olhar para mim, com essa
expressão rara. Sorria, mas o sorriso me fez ter vontade de fugir.
E logo retorceu o pescoço
do corvo e este morreu.
Elena que havia escutado aquilo com crescente horror, respondeu:
-É um sonho repugnante.
-É, não é? – disse Bonnie com serenidade. – Me pergunto o que
significa. Os Corvos são
pássaros de mau agouro nas lendas. Podem predizer a morte.
-Provavelmente sabia o quão transtornada que estava depois de
encontrar aquele corvo no
quarto.
-Sim – disse Bonnie – Exceto por uma coisa. Tive o sonho antes de
que nos despertassem
com os gritos.
Esse dia, na hora do almoço, havia outro pedaço de papel violeta
no mural de comunicados.
Este, não obstante, limitava-se a dizer: OLHE NOS ANUNCIOS
PESSOAIS.
-Que anúncios pessoais? – perguntou Bonnie.
Meredith que se aproximava naquele momento com um exemplar Wildcat
Weekly, o jornal
da escola, proporcionou a resposta.
-Viram isso? – inquiriu.
Estava na sessão pessoal, completamente anônimo, sem titulo nem
assinatura. “Não suporto
a idéia de ti perder. Mas ele está sempre tão infeliz com alguma
coisa, e se ele não disser o
que é, se ele não confiar em mim o suficiente, eu não vejo
esperança para nós.”
Ao ler, Elena sentiu um estalo de energia nova por cima de todo
cansaço. Deus, como
odiava quem estava fazendo aquilo. Ela se imaginou batendo neles,
apunhalando-os,
contemplando como cairiam. E logo, vividamente, imaginou algo
mais. Agarrar por trás
dos cabelos do ladrão e afundar os dentes na garganta indefesa.
Foi uma visão estranha e
inquietante, mas por um momento pareceu quase real.
Ela notou que Meredith e Bonnie olhavam para ela.
-Bem? – disse, sentindo-se ligeiramente incomoda.
-Me dei conta de que não escutava – suspirou Bonnie. – Acabo de
dizer que continua sem
parecer obra de Da... obra do assassino. Não creio que um
assassino possa ser tão
mesquinho.
-Por mais que eu odeie concordar com ela; ela está certa – disse
Meredith. – Isso cheira a
alguém sorrateiro. Alguém que guarda rancor de modo pessoal e
realmente quer fazer você
sofrer.
Havia acumulado saliva na boca de Elena, e ela a tragou.
-Também alguém que esteja familiarizado com o colégio. Tiveram que
preencher um
formulário para pôr uma mensagem pessoal em uma das aulas de
jornalismo – disse.
-E alguém que sabia que tinha um diário, supondo que o roubaram de
propósito. Talvez
estava em uma das tuas aulas aquele dia que trouxeste para o
colégio. Lembra? Quando o
Sr. Tanner quase o pegou – acrescentou Bonnie.
-A Srta. Halpern conseguiu pagá-lo; inclusive leu uma parte em voz
alta, algo sobre Stefan.
Isso foi justo depois que Stefan e eu começamos a sair. Espera um
minuto. Essa noite em
sua casa, quando roubaram o diário, quanto tempo estiveste fora da
sala?
-Só uns poucos minutos. Yangtze havia deixado de latir, e foi até
a porta para deixa-lo
entrar, e... – Bonnie apertou os lábios e se deu de ombros.
-Assim que o ladrão tinha estado familiarizado com a casa – disse
Meredith rapidamente -;
ou ele ou ela, não haviam entrado, pegou o diário e saiu antes que
voltássemos. Muito bem,
então, estamos procurando alguém sorrateiro e cruel que
provavelmente está nas suas aulas,
Elena, e que provavelmente está familiarizado com a casa de
Bonnie. Alguém que tem algo
pessoal contra você e não parará até ti prejudicar... Ah, meu
Deus!
As três olharam fixamente.
-Tem que ser – murmurou Bonnie – Tem que ser.
-Somos tão estúpidas! Tínhamos que ter visto logo – disse
Meredith.
Para Elena significou a repentina compreensão de que toda a ira
que havia sentido antes
não era nada comparada com a ira que era capaz de sentir. A chama
de uma vela comparada
com o sol.
-Caroline – disse, e apertou os dentes com tanta força que a
mandíbula doeu.
Caroline. Naquele instante Elena realmente se sentiu capaz de
matar a garota de olhos
verdes. E tinha saído correndo para tentar faze-lo se Bonnie e
Meredith não a tivessem
detido.
-Depois da aula – disse Meredith com firmeza -, quando podermos
leva-la a algum lugar
privado. Espere só isso, Elena.
Mas quando foram para o refeitório, Elena reparou na cabeça de
cabelos castanho
avermelhado que desaparecia pelo corredor de arte e musica. E
recordou algo que Stefan
havia dito tempos atrás naquele mesmo ano, sobre que Caroline o
levava a aula de
fotografia na hora do almoço. Para ter intimidade, dissera
Caroline.
-Vocês duas continuem; esqueci algo – disse enquanto Bonnie e
Meredith tinham comida
em suas bandejas do refeitório.
Logo fingiu está surda enquanto saia rapidamente e retrocedia até
a ala de arte.
Todas as salas estavam escuras, mas a porta da sala de fotografia
não estava fechada com
chave. Algo fez Elena girar a maçaneta com cautela e se moveu
silenciosamente ao estar lá
dentro, no lugar de entrar de uma vez para iniciar uma briga como
havia planejado.
Caroline estava ali dentro? Se estava, o que estava fazendo na
escuridão sozinha?
No principio, a sala parecia estar vazia. Logo, Elena olhou o
murmúrio de vozes que saiam
de um pequeno oco situado ao fundo e viu que a porta do quarto
escuro estava entreaberta.
Em silêncio, furtivamente, se encaminhou até encontrar o outro
lado da entrada, e o
murmúrio de sons se transformaram em palavras.
-Mas como podemos estar seguros de que será ela a quem escolheram?
– Aquela era
Caroline.
-Meu pai está no conselho escolar. A escolheram, está certo – E
aquela era a voz de Tyler
Smallwood, cujo padre era advogado e estava em todos os conselhos
que existiam. – Além
do mais, quem mais podia ser? – prosseguiu ele. – O Espírito de
Fell’s Church supõe ser
inteligente, além de ter um bom tipo.
-E pensa que eu não sou inteligente?
-Eu disse isso? Olha, se quer que seja você que desfile vestida de
branco no Dia do
Fundador, ótimo. Mas se quer ver como tiram Stefan Salvatore da
cidade devido o
testemunho do diário de sua própria namorada...
-Mas por que esperar tanto tempo?
A voz de Tyler soou impaciente.
-Porque desse modo arruinará também os festejos. A festa dos Fell.
Por que eles tinham que
levar o crédito de haver fundado a cidade? Os Smallwood estavam
aqui primeiro.
-Ah, quem se importa quem fundou a cidade? Tudo o que eu quero é
ver Elena humilhada
perante todo o colégio.
-E a Salvatore.
O puro ódio e malicia da voz de Tyler fizeram Elena enlouquecer.
-Terá sorte se não acabar pendurada em uma árvore. Tem certeza que
as provas estão aí?
-Quantas vezes tenho que dizer? Primeiro, disse que ela perdeu a
fita dois de setembro no
cemitério. Logo depois, disse que Stefan a recolheu esse dia e a
guardou. A ponte Wickery
está justo ao lado do cemitério. Isso significa que Stefan estava
perto da ponte no dia dois
de setembro, na noite que atacaram o velho. Todo mundo sabe que
estava perto quando os
ataques a Vicky e a Tanner. O que quer mais?
-Jamais se sustentaria em um júri. Talvez devêssemos conseguir
alguma prova que o
comprometesse. Como perguntar a Sr. Flowers a que horas chegou em
casa naquela noite.
-Ah, quem se importa? A maioria das pessoas já o considera
culpado. O diário fala de
algum grande segredo que ocultava de todos. O pessoal captará a
idéia.
-O guarda em um lugar seguro?
-Não, Tyler, o guardo na mesa do café. Até que ponto acha que sou
estúpida?
-O bastante estúpida para enviar a Elena notas que a põe sob aviso
– olhou o papel do
jornal. – Olha isto, é incrível. E tem que parar agora. E se ela
deduzir quem o tem?
-O que fará, chamar a policia?
-Ainda quero que fique quieta. Espere até o Dia do Fundador, então
verá como se derrete a
princesa de gelo.
-E direi ciao (tchau em italiano) a Stefan. Tyler... ninguém vai
machuca-lo realmente, não
é?
-Quem se importa? – Tyler imitou o tom que ela havia usado antes –
Você deixou isso para
mim e meus amigos, Caroline. Limite-se a fazer sua parte, de
acordo?
A voz de Caroline desceu até se converter em um sussurro gutural.
-Me convença.
Depois de uma pausa, Tyler lançou uma risada.
Escutou o som de roupas e um suspiro. Elena girou e escapou da sala
tão silenciosamente
como havia entrado.
Foi para o seguinte corredor e logo se apoiou contra os armários
que havia ali, tentando
pensar.
Era quase demais para absorver tudo de uma vez. Caroline, que em
uma ocasião tinha sido
sua amiga, a havia traído e queria vê-la humilhada perante todo o
colégio. Tyler que sempre
parecia mais um imbecil que uma ameaça autentica, planejava
conseguir que tirassem
Stefan da cidade... ou o matassem. E o pior era que estavam usando
o próprio diário de
Elena para fazer tudo isso.
Agora compreendia o inicio do sonho da noite anterior. Havia tido
um sonho parecido no
dia anterior que descobriu que Stefan havia desaparecido. Em ambos
os casos, Stefan a
havia olhado com olhos enraivecidos e acusadores, e logo depois
havia jogado um livro em
seus pés e lhe havia dado as costas.
Não era um livro. Era seu diário. Diário que continha provas que
podiam ser fatais para
Stefan. Em três ocasiões pessoas tinham sido atacadas em Fell’s
Church, e nas três ocasiões
Stefan havia estado na cena do crime. O que isso podia parecer
para a cidade, a policia?
E não existia um modo de contar a verdade. Supondo que ela
dissesse:
“Stefan não é culpado. É seu irmão Damon, que o odeia e sabe o
quanto que Stefan odeia a
idéia de ferir e matar. E que tem seguido Stefan por todas as
partes e atacado gente para que
Stefan pensasse que talvez tivesse sido ele que o fizera, para
enlouquece-lo. E que está aqui
na cidade, em alguma parte, o busquem no cemitério ou no bosque.
Mas, ah, não procurem
somente um garoto bem afeiçoado, porque poderia ser um corvo no
momento”.
“A propósito, ele é um vampiro”.
Nem sequer ela acreditava. Soava absurdo.
Uma pulsada no lado do seu pescoço a recordou que era absurda a
historia, na realidade. Se
sentia estranha hoje, quase como se estivesse doente. Era mais que
simplesmente a tensão e
a falta de sono. Se sentia ligeiramente enjoada, e em algumas
ocasiões o solo parecia
esponjoso, cedendo embaixo dos seus pés e logo voltando a
recuperar sua posição. Eram
sintomas de gripe, exceto que tinha certeza de que não tinha
nenhum vírus em sua corrente
sanguínea.
Culpa de Damon, outra vez. Tudo era culpa de Damon, exceto o
diário. Não tinha ninguém
a quem culpar por isso, a não ser ela mesma. Se ao menos não
tivesse escrito sobre Stefan,
se ao menos não tivesse levado o diário para o colégio. Se ao
menos não o tivesse deixado
na sala de Bonnie. Se ao menos, se ao menos...
Naquele momento, tudo que importava era que tinha que recupera-lo.
______________
Capítulo Dez
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Soou a sineta. Não havia tempo para voltar ao refeitório e
informar a Bonnie e Meredith.
Elena foi a sua próxima aula, passando pelos rostos indiferentes e
os olhares hostis que
estavam se transformando em familiares demais por esses dias.
Foi difícil, na aula de história, não olhar fixamente para
Caroline, não deixar que Caroline
soubesse o que sabia. Alaric perguntou por Matt e Stefan, que
estavam ausentes pelo
segundo dia consecutivo, e Elena se deu de ombros, sentindo-se
desprotegida e exposta.
Não confiava naquele homem de sorriso juvenil e olhos avelã e sua
ânsia de informação
sobre a morte do Sr. Tanner. E Bonnie, que se limitava a
contemplar a Alaric
espiritualmente, não servia de nenhuma ajuda.
Depois da aula, ela captou um pedaço da conversa de Sue Carson.
-...está de férias da faculdade..., não lembro exatamente de
onde...
Elena já estava cansada de manter um discreto silêncio. Girou de
volta e falou diretamente
com Sue e a garota com quem ela falava, interrompendo-as sem ser
convidada na
discussão.
-Se eu fosse você – disse a Sue -, manteria distancia de Damon.
Falo sério.
Houve uma risada sobresaltada e embarassada. Sue era uma das
poucas pessoas do colégio
que não tinha evitado Elena, e agora parecia querer tê-lo feito.
-Quer dizer – disse a outra garota em tom vacilante – que ele
também ti pertence? Ou...
O riso da própria Elena foi discordante.
-Quero dizer que é perigoso – respondeu. – E não estou brincando.
Se limitaram a olha-la, e Elena guardou a violência de ter que
responder girando os
calcanhares e se distanciando. Escolheu a Bonnie no grupo
extra-escolar de seguidores de
Alaric e se encaminhou ao armário de Meredith.
-Aonde vamos? Pensávamos que íamos falar com Caroline.
-Agora não – respondeu Elena – Espere até que cheguemos em casa.
Então direi o motivo.
-Não posso acreditar – disse Bonnie uma hora mais tarde – Quero
dizer, acredito, mas não
posso acreditar. Não de Caroline.
-É Tyler – disse Elena – Foi ele que teve o grande plano. Depois
dizem que os homens não
se interessam por diários.
-Na verdade, devíamos agradecer – comentou Meredith – Graças a ele
pelo menos temos
até o Dia do Fundador para fazer alguma coisa. Por que vai ser no
Dia do Fundador, Elena?
-Tyler tem algo contra os Fell.
-Mas estão todos mortos – disse Bonnie.
-Bom, isso não parece importante para Tyler.Lembro que ele também
falou dele no
cemitério quando olhávamos a tumba dele. Ele acha que roubaram de
seus antepassados o
lugar que lhes corresponde como fundadores da cidade, ou algo
assim.
-Elena – disse Meredith em tom sério -, tem alguma coisa mais que
possa prejudicar
Stefan? Além da coisa do velho, quero dizer.
-Não é o suficiente?
Com aqueles olhos firmes e escuros fixos nela, Elena sentiu o
desconforto de um molestar
em suas costas. O que Meredith estava perguntando?
-Suficiente para tirar Stefan da cidade, como eles disseram –
concordou Bonnie.
-Suficiente para que recuperemos o diário que Caroline tem em seu
poder – disse Elena. –
A única questão é como.
-Caroline disse que tinha escondido em algum lugar seguro. Isso
provavelmente significa
sua casa. – Meredith mordeu o lábio pensativamente. – Ela só tem
esse irmão que está na
oitava, não é? E sua mãe trabalha, mas vai comprar na Roanoke com
assiduidade. Eles tem
empregada?
-Por que? – disse Bonnie. – O que isso importa?
-Bom, não queremos que entre ninguém enquanto roubamos a casa.
-Enquanto o que? – A voz de Bonnie se lançou em um agudo guincho.
– Não pode está
falando sério!
-O que sugere que possamos fazer, simplesmente sentar e esperar
até o Dia do Fundador e
deixar que ela leia o diário para toda a cidade? Ela roubou da sua
casa. Simplesmente temos
que traze-lo de volta – respondeu Meredith com exasperante
tranqüilidade.
-Nos pegarão. Nos expulsarão do colégio..., se é que não vamos
acabar na cadeia. –Bonnie
virou a cabeça para Elena em atitude suplicante. – Diga, Elena.
-Bom...
Honestamente, a perspectiva intranqüilizava um pouco Elena. Não
era tanto a idéia da
expulsão, ou inclusive a cadeia, como a idéia de ser pega. O rosto
altivo da Sra. Forbes
flutuou ante seus olhos, cheio de justificada indignação. Logo
mudou para o de Caroline,
rindo com rancor enquanto sua mãe apontava com o dedo acusador
para Elena.
Além do mais, parecia tal... violação entrar na casa de alguém
quando não tinha ninguém
ali para remexer suas coisas. Odiaria que alguém lhe fizesse isso.
Entretanto, já haviam feito. Caroline violado a casa de Bonnie, e
naquele momento teve em
suas mãos a coisa mais íntima de Elena.
-Vamos fazer – disse Elena em voz pausada – Mas faremos com
cuidado.
-Não podemos conversar? – inquiriu Bonnie com tom débil, passando
os olhos do rosto
decidido de Meredith para o de Elena.
-Não há nada o que conversar. Você vem – a indicou Meredith. –
Você prometeu –
acrescentou quando Bonnie tomou ar para voltar a discutir, e
levantou seu dedo indicador.
-O juramento de sangue foi só para ajudar Elena a conquistar
Stefan! – exclamou Bonnie.
-Pense de novo – disse Meredith. – Você jurou que faria qualquer
coisa que Elena pedisse
em relação a Stefan. Não havia nada sobre um limite de tempo ou
sobre “só até que Elena o
consiga”.
Bonnie ficou boquiaberta. Olhou para Elena que quase sorria
diferente dela.
-Está certo – respondeu ela, solenemente – E você mesma disse
“jurar solenemente com
sangue significa que mantenha sua promessa aconteça o que
acontecer”.
Bonnie fechou a boca e ergueu o queixo.
-Ok – replicou com tom sombrio. – Agora estou obrigada durante a
minha vida a fazer o
que Elena quiser que eu faça em relação a Stefan. Maravilhoso.
-Está é a ultima coisa que eu ti pedirei – disse Elena. – Eu
prometo. Juro que...
-Não diga isso! – interveio Meredith, repentinamente séria. – Não
diga isso, Elena. Poderá
lamentar mais tarde.
-Agora você também está se afeiçoando com as profecias? – inquiriu
Elena, e logo
perguntou: - Então, como vamos conseguir a chave da casa de
Caroline durante uma hora
pelo menos?
Sábado, 9 de novembro
Querido diário:
Sinto por ter passado tanto tempo. Ultimamente tenho estado ou
ocupada demais ou
deprimida demais – ou ambas as coisas – para escrever.
Além do mais, com tudo o que aconteceu, tenho quase um medo de ter
um diário. Mas
preciso de alguém a quem recorrer, por que justamente agora não
existe um só ser
humano, uma só pessoa na Terra, a quem eu não esteja ocultando
algo.
Bonnie e Meredith não podem saber a verdade sobre Stefan. Stefan
não pode saber a
verdade sobre Damon. Tia Judith não pode saber nada de nada.
Bonnie e Meredith sabem
sobre Caroline estar com o diário; Stefan, não. Stefan sabe da
verbena que uso todo dia
agora; Bonnie e Meredith, não. Inclusive que suas bolsas estão
repletas dela. Uma boa
coisa: parece funcionar, ou ao menos não voltei a andar sonâmbula
pela noite. Mas seria
uma mentira dizer que não tenho sonhado com Damon. Aparece em
todos os meus
pesadelos.
Minha vida está cheia de mentiras nesse momento, e preciso de
alguém com quem possa
ser totalmente honesta. Vou esconder o diário embaixo da tabua
solta do closet, de modo
que ninguém o encontre, ainda que eu morra e esvaziem meu quarto.
Além do mais algum
dos netos de Margareth brincará ali dentro algum dia e vai
levantar a tábua e tira-lo, mas
até então, ninguém. Este diário é meu último segredo.
Não sei porque penso na morte e em morrer. Essa é a mania de
Bonnie; é ela que seria
romântico. Eu sei o que realmente é: não houve nada de romântico
quando mamãe e papai
morreram. Simplesmente, as piores sensações do mundo. Quero viver
por muito tempo,
casar com Stefan e ser feliz. E não há motivo para que não possa,
uma vez que todos esses
problemas fiquem para trás.
Exceto que há vezes em que me assusto e acredito nisso. E há
coisas que não deveriam me
importar, mas que preocupam. Como por que Stefan ainda leva o anel
de Katherine
pendurado no pescoço, embora eu saiba que me ama. Como por que
nunca disse que me
ama, apesar de que eu saiba que sim.
Não importa. Tudo sairá bem. Tem que sair bem. Então estaremos
juntos e seremos felizes.
Não há motivos para que não sejamos. Não há motivos para que não
sejamos. Não há
motivo.
Elena deixou de escrever, tentando manter as letras da página
centradas. Mas só se
bagunçavam mais, e fechou o livro antes que uma lágrima acusadora
pudesse cair sobre a
tinta. Foi até o closet, levantou a tábua solta com uma lima para
unhas e colocou o diário
debaixo.
Levava a lima de unhas no bolso uma semana mais tarde, quando as
três, Bonnie, Meredith
e ela, se detiveram ante a porta dos fundos da casa de Caroline.
-Depressa! – sibilou Bonnie desesperada, passando os olhos no
pátio como se esperasse que
algo saltasse entre elas. – Vamos, Meredith!
-Pronto – disse Meredith quando a chave encaixou por fim
corretamente na fechadura com
a lingüeta e a maçaneta cedeu com o giro de seus dedos. – Estamos
dentro.
-Tem certeza que não estão em casa? Elena, e se voltarem cedo? Por
que não podemos
fazer isso outro dia, ao menos?
-Bonnie, quer entrar de uma vez? Já falamos sobre isso. A
empregada está sempre aqui
durante o dia. E não voltarão cedo hoje, ao menos que alguém passe
mal em Chez Louis.
Agora vamos! – disse Elena.
-Ninguém ousaria ficar doente no jantar de aniversario do Sr.
Forbes – disse Meredith com
tom consolador a Bonnie enquanto a menor das meninas entrava. –
Estamos a salvo.
-Se tem dinheiro o suficiente para ir a restaurantes caros, era de
se pensar que deixariam
umas luzes acesas – replicou Bonnie, negando-se a se deixar consolar.
Em si, Elena se deu uma razão para isso. Parecia estranho e
desconcertante vagar pela casa
de outra pessoa na escuridão, e seu coração martelou
asfixiantemente enquanto subiam as
escadas. Sua palma, que se fechava na lanterna do chaveiro que
mostrava o caminho, estava
úmido e escorregadio. Mas alem de todos os sintomas de pânico, sua
mente continuava
funcionando friamente, quase com indiferença.
-Tem que está em seu quarto – disse.
A janela de Caroline dava para a rua, o que significava que tinham
que ser mais cuidadosas
ainda para que não vissem nenhuma luz ali. Elena balançou o
diminuto feixe da lanterna de
um lado para o outro com a sensação de desalento. Uma coisa era
planejar revistar o quarto
de alguém, imaginar mentalmente a revisão eficiente e metódica das
gavetas, e outra era
está realmente ali de pé, rodeada pelo que parecia um milhão de
lugares para esconder algo,
e sentir medo de tocar em alguma coisa e Caroline perceber que
estava mexido.
As outras duas garotas também estavam totalmente imóveis.
-Talvez devêssemos ir para casa – sugeriu Bonnie em voz baixa.
Meredith não a contradisse.
-Temos que tentar. Ao menos tentar – disse Elena, ouvindo o quão
oca e baixa que soava
sua voz.
Abriu com cuidado uma gaveta de uma cômoda alta e passou a luz por
cima dos delicados
montes de roupas intimas. Uns instantes de busca entre eles
bastaram para comprovar que
não havia nada parecido com livro. Colocou os montinhos de volta e
fechou a gaveta. Logo
depois soltou o ar.
-Não é tão difícil – disse – O que precisamos é dividir o quarto e
revista-lo, cada gaveta,
cada móvel, cada objeto bastante grande para esconder um diário.
Ela assinalou o closet e a primeira coisa que fez foi apalpar as
tabuas do chão com sua lima
de unha. Mas as tabuas de Caroline pareciam estar todas bem
pregadas e as paredes do
armário embutido soaram sólidas. Procurando entre as roupas de
Caroline, encontrou varias
coisas que ela havia deixado a outra garota no ano anterior. Se
sentiu tentada a leva-las
mas, é claro, que não podia. Examinou os sapatos e os bolsos de
Caroline, mas nada
revelaram, inclusive quando arrastou uma cadeira até ali para
investigar a estante superior
do closet.
Meredith estava sentada no chão examinando um monte de animais de
pelúcia que haviam
sido relegados junto a outras recordações infantis. A garota
passou os largos e sensíveis
dedos sobre cada um procurando fendas no material. Quando chegou a
um poodle fofo, se
deteve.
-Eu lhe dei isso – murmurou. – Acho que em seu décimo aniversario.
Pensava que o tinha
jogado fora.
Elena não pode ver seus olhos, a própria lanterna de Meredith
estava dirigida para o poodle.
Mas soube como a amiga se sentiu.
-Tentei fazer as pazes com ela – disse em voz baixa – Eu tentei,
Meredith, na Casa Maldita.
Mas praticamente me disse que jamais me perdoaria por lhe tirar
Stefan. Eu desejei que as
coisas fossem diferentes, mas ela não quis deixar que elas fossem.
-E agora é guerra.
-E agora é guerra – disse Elena, categórica e contundente.
Observou enquanto Meredith deixava o poodle em um lado e pegava o
próximo animal;
depois voltou para sua própria revista.
Mas não teve melhor sorte na penteadeira do que no closet. E a
cada minuto que transcorria
se sentia mais inquieta, com mais certeza de que estavam a ponto
de escutar um carro
chegando na entrada de acesso dos Forbes.
-Não serve de nada – disse Meredith por fim, apalpando debaixo do
colchão de Caroline. –
Deve ter escondido... Espera. Há algo aqui. Sinto um canto.
Elena e Bonnie a olharam fixamente dos lados opostos do quarto,
momentaneamente
paralisadas.
-Achei. Elena, é um diário!
O alivio descendeu como uma exalação através de Elena e fez que se
sentisse como um
pedaço de papel enrugado que alisam e estiram. Podia voltar a se
mover. Respirar era
maravilhoso. Ela sabia, sabia todo o tempo que nada realmente
terrível podia acontecer
com Stefan. A vida não podia ser tão cruel, não com Elena Gilbert.
Todos estavam a salvo
agora.
A voz de Meredith soou perplexa.
-É um diário. Mas é verde e não azul. É o diário errado.
-Que?
Elena lhe arrancou o pequeno caderno e dirigiu sua lanterna sobre
ele, tentando converter o
verde esmeralda em azul safira. Não funcionou. Aquele diário era
quase exatamente como
o seu, mas não era o seu.
-É o de Caroline – disse estupidamente, ainda sem querer acreditar.
Bonnie e Meredith se empoleiraram junto a ela. Todas olhavam o
livro fechado e se
olharam.
-Pode haver pistas – disse Elena devagar.
-É muito justo – concordou Meredith.
Mas foi Bonnie quem realmente tomou o diário e abriu.
Elena esquadrinhou por cima do seu ombro a letra pontiaguda e
inclinada para trás de
Caroline, tão diferente das maiúsculas de notas violetas. Ao
principio seus olhos não
conseguiram focar bem mas logo um nome lhe saltou a vista: Elena.
-Espera, o que é isso?
Bonnie, que era a única que realmente estava em uma posição que
permitia ler mais de uma
ou duas palavras, permaneceu em silêncio um momento, movendo os
lábios.Logo depois
suspirou.
-Escuta isso – disse e leu –: Elena é a pessoa mais egoísta que já
conheci. Todo mundo
pensa que é equilibrada, mas é certo que seja só frieza. Dá nojo o
modo como as pessoas
babam por ela, sem pensar que ela jamais se importa com nada nem
ninguém que não seja
Elena.
-Caroline disse isso? Olha quem fala!
Elena sentiu seu rosto ardendo. Era praticamente o que Matt disse
quando ela ia atrás de
Stefan.
-Vamos, tem mais - disse Meredith, dando tapinhas em Bonnie, que
prosseguiu em tom
ofendido.
-“Bonnie está quase igual de impossível esses dias, sempre
tentando se fazer de importante.
A ultima é fingir que é médium para que a gente a note. Se
realmente fosse médium,
descobriria que Elena só a está usando”.
Houve uma pausa embaraçosa e logo Elena disse:
-Isso é tudo?
-Não, há algo sobre Meredith: Meredith não faz nada para detê-lo.
Na verdade, Meredith
não faz nada a não ser observar. É como se não pudesse atuar; só
pudesse reagir as coisas.
Alem do mais, ouvi meus pais falarem sobre sua família..., não me
surpreende que ela
nunca os mencione”. O que significa isso?
Meredith não se moveu e Elena via unicamente seu pescoço e seu
queixo na tênue luz. A
garota falou em voz baixa e firme.
-Não importa. Continue olhando, Bonnie, procure algo sobre o
diário de Elena.
-Procure por volta de dezoito de outubro. Foi quando o roubaram –
indicou Elena, deixando
de lado suas perguntas; já que as faria a Meredith.
Não tinha nenhuma anotação para dezoito de outubro nem o fim de
semana seguinte.
Nenhuma delas mencionava o diário.
-Bom, então é isso – disse Meredith sentando-se atrás. – Este
livro não serve. A menos que
queiramos chantagea-la com ele.Você sabe, algo como que não
mostremos o seu e ela não
mostra o seu.
Era uma idéia tentadora, mas Bonnie detectou uma falha.
-Não há nada ruim sobre Caroline aqui; não são mais que queixas
sobre outras pessoas.
Principalmente nós. Aposto que encantaria Caroline que fosse lido
em voz alta no colégio.
Animaria seu dia.
-Então, o que faremos com ele?
-Devolve-lo a seu lugar – respondeu Elena com a voz cansada.
Passou a luz da lanterna pelo quarto, que a seus olhos parecia
estar repleto de sutis
diferenças em comparação com a que tinham encontrado.
-Simplesmente teremos que continuar fingindo que não sabemos que
ela tem meu diário e
esperar outra oportunidade.
-Concordo – disse Bonnie, mas continuou olhando o livro dando
risadas soltas de vez em
quando e uma bufada ou um sibilar indignados. – Quer ouvir isso? –
exclamou.
-Não há tempo – disse Elena.
Havia dito algo mais, mas nesse momento Meredith falou e seu tom
exigiu a imediata
atenção de todo mundo.
-Um carro.
Foi só um segundo para determinar que o veículo estava na entrada
de acesso dos Forbes.
Os olhos e a boca de Bonnie estavam abertos e redondos e a garota
parecia paralisada
ajoelhada junto a cama.
-Anda! Vamos – disse Elena tirando-lhe o diário – Apaga as
lanternas e sai pela porta dos
fundos.
Já se moviam, Meredith estando a frente de Bonnie. Elena se deixou
cair de joelhos e
levantou o lençol da cama até o colchão de Caroline. Com a outra
mão empurrou o diário
para frente, encaixando-o entre o colchão e a parte que circundava
a parte baixa da cama.
As molas finalmente recobertas se cravavam no braço que estava
abaixo, ainda pior era o
peso do colchão que caia em cima. Deu ao livro mais alguns
empurrões com os dedos e
logo extraiu o braço debaixo do colchão, estirando o lençol para
deixa-lo como estava.
Deu uma olhada frenética de novo no quarto enquanto saia; não
havia tempo para arrumar
mais nada. Enquanto descia veloz e em silêncio as escadas, olhou a
chave da porta
principal.
Logo em seguida foi uma espécie de pega-pega espantoso. Elena
sabia que não a estavam
perseguindo deliberadamente, mas a família Forbes parecia decidida
a esquadrinhar sua
casa. Regressou por onde havia vindo enquanto luzes e vozes se
materializavam no
vestíbulo se dirigindo para as escadas. Foi até o interior da
ultima entrada do corredor
abaixo, e eles pareciam segui-la. Cruzaram o hall; estavam justo
ante o quarto principal.
Girou em direção ao banheiro, mas viu acender a luz de repente por
baixo da porta fechada,
cortando a fugida.
Estava atrapalhada. Os pais de Caroline podiam entrar a qualquer
momento. Viu as portas
envidraçadas que davam para a varanda e tomou sua decisão nesse
instante.
Fora o ar era fresco e sua respiração arquejante resultava
ligeiramente invisível. Uma luz
amarela surgiu do quarto onde estava e se agachou a esquerda
mantendo-se fora do
caminho. Logo, o som que estava temendo se escutou com terrível
claridade: o deslize da
maçaneta da porta, seguida por um ondular de cortinas produzido ao
abrir as portas
envidraçadas.
Olhou ao redor freneticamente. A distância era grande demais para
saltar e não havia nada
que a segurasse na descida. Isso deixava só o telhado, mas não
havia nada para subir.
Contudo, algum instinto a fez tentar e já estava sobre o corrimão
da varanda, procurando no
tato algum lugar para subir quando uma sombra apareceu entre as
vaporosas cortinas. Uma
mão a separou, uma figura começou a sair e então Elena sentiu que
algo agarrava com força
sua mão fechando-se no seu pulso e içando-a para o alto. Deu um
impulso automaticamente
com os pés e se encontrou no telhado de telhas de madeira.
Enquanto tentava tranqüilizar a
irregular respiração, olhou adiante agradecida para ver quem era
seu salvador... e ficou
gelada.
_______________
Capítulo Onze
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“O nome é Salvatore. Como em Salvador”, ele disse. Tinha um breve
flash de dentes
brancos na escuridão.
Elena olhou para baixo. A tapeçaria pendurada no telhado
obscurecia a varanda, mas ela
podia ouvir uma mistura de sons lá embaixo. Mas eles não eram sons
de uma perseguição, e
não havia sinais de que as palavras de seus companheiros haviam
sido escutadas por acaso.
Um minuto depois ela ouviu as portas de vidro se fecharem.
“Eu pensei que era Smith,” ela disse, ainda olhando para baixo na
escuridão.
Damon sorriu. Era um sorriso terrivelmente envolvente, sem a
amargura do de Stefan. A
fez pensar na luz de arco-íris na pena do corvo.
Apesar de tudo, ela não era tola. Encantador como parecia, Damon
era perigoso como
quase além da imaginação. Esse gracioso, longínquo corpo era dez
vezes mais forte do que
o de um humano. Aqueles olhos escuros preguiçosos eram adaptados
para ver
perfeitamente à noite. A mão de dedos longos que a tinha puxado
para o telhado podiam se
mover com uma rapidez impossível. E, mais perturbador que tudo,
sua mente era a mente
de um assassino. Um predador.
Ela podia sentir isso abaixo da superfície dele. Ele era diferente
de um humano. Ele tinha
vivido tanto tempo caçando e matando que ele tinha esquecido
qualquer outro meio de
viver. E ele apreciava isso, não combatendo sua natureza como
Stefan combateu, mas se
vangloriando dela. Ele não tinha moral nem consciência, e ela
estava aprisionada aqui com
ele no meio na noite.
Ela se acomodou sobre o calcanhar, pronta para pular a qualquer
minuto. Ela devia estar
brava com ele agora, depois do que ele tinha feito com ela no
sonho. Ela estava, mas não
havia nada expressando isso. Ele sabia o quão furiosa ela devia
estar, e ele apenas riria dela
se ela dissesse isso para ele.
Ela o assistiu quietamente, intensamente, esperando pelo seu
próximo movimento.
Porém, ele não se moveu. Aquelas mãos podiam disparar tão
rapidamente quanto uma
cobre imóvel repousada nos seus joelhos. Sua expressão a lembrou
do modo como ele a
tinha olhado uma vez antes. A primeira vez que eles tinham se
encontrado ela tinha visto o
mesmo prudente, relutante respeito em seus olhos – exceto que
naquela vez tinha tido
também surpresa neles. Agora não tinha nenhuma.
“Você não vai gritar comigo? Ou desmaiar?” Ele disse, como se lhe
oferecendo opções
padrões.
Elena ainda estava assistindo ele. Ele era muito mais forte do que
ela, e mais rápido, mas se
ela precisasse, ela pensou, ela podia chegar à borda do telhado
antes dele a alcançar. Eram
dez metros de queda se ela perdesse a varanda, mas ela podia
decidir correr o risco. Tudo
dependia de Damon.
“Eu não desmaio,” ela disse brevemente. “E por que eu deveria
gritar com você? Nós
estávamos jogando um jogo. Eu fui estúpida aquela noite e por isso
eu perdi. Você me
avisou no cemitério sobre as consequencias”.
Os lábios dele se separaram em um fôlego rápido e ele olhou para
longe. “Eu posso
simplesmente ter que te fazer minha Rainha das Sombras”, ele falou
e, praticamente
falando consigo mesmo, ele continuou. “Eu já tive muitas
companheiras, garota, tão jovens
quanto você e mulheres que eram as mais bonitas da Europa. Mas
você é a que eu quero ao
meu lado. No poder, fazendo o que quisermos quando quisermos.
Temidos e adorados por
todos, as almas mais fracas. Isso seria tão ruim?”
“Eu sou uma das almas mais fracas,” Elena disse. “E você e eu
somos inimigos, Damon.
Nós não podemos nunca ser outra coisa”.
“Você tem certeza?” Ele olhou para ela, e ela pôde sentir a força
da mente dele quando
tocou a dela, como o atrito daqueles dedos longos. Mas não havia
vertigem, nem
sentimento de fraqueza ou de sucumbir. Naquela tarde ela tinha
ficado de molho por um
longo tempo, como ela sempre havia feito nesses dias, numa
banheira quente salpicada com
verbena.
Os olhos de Damon lampejaram com entendimento, mas ele se recompôs
com graça. “O
que você está fazendo aqui?” Ele falou casualmente.
Foi estranho, mas ela não sentiu necessidade de mentir para ele.
“Caroline pegou algo que
me pertence. Um diário. Eu vim pagá-lo de volta”.
Um novo olhar tremulou em seus olhos negros. “Indubitavelmente
para proteger meu irmão
imprestável de algum jeito” disse ele, contrariado.
“Stefan não está envolvido nisso!”
“Oh, não está?” Ela ficou com medo de que ele tivesse entendido
maus do que ela
tencionava. “Estranho, ele parece estar sempre envolvido quando
tem confusão. Ele cria
problemas. Agora, se ele estivesse fora do filme...”
Elena falou firmemente. “Se você machucar Stefan de novo eu vou
fazer você se
arrepender. Eu acharei um jeito de fazer você desejar não ter
feito isso, Damon. Eu juro.”
“Eu vejo. Bem, então eu vou ter simplesmente que trabalhar em
você, não é?”
Elena não disse nada. Ela tinha se auto encurralado, concordando
em jogar esse jogo mortal
deve de novo. Ela olhou para longe.
“Eu vou ter você no final, você sabe”, ele falou suavemente. Essa
era a voz que ele usou na
festa, quando disse, “Devagar, devagar”. Não havia zombaria ou
malícia agora; ele estava
simplesmente declarando um fato. “Custe o que custar, como sua
gente diz – é uma linda
frase – você será minha antes que a próxima nevasca caia”.
Elena tentou dissimular o frio que sentir, mas ela sabia que ele
viu de qualquer jeito.
“Bom” ele disse. “Você tem alguma sensatez, você tem razão em ter
medo de mim; eu sou
a coisa mais perigosa que você provavelmente vai encontrar na sua
vida, mas agora eu
tenho uma proposta de negocio para você.”
“Uma proposta de negócio?”
“Exatamente. Você veio aqui para pegar um diário. Mas você não o
pegou.” Ele indicou as
mãos vazias dela. “Você fracassou, não é?” Quando Elena não
respondeu, ele continuou.
“E já que você não quer meu irmão envolvido, ele não pode ter
ajudar. Mas eu posso. E eu
vou.”
“Você vai?”
“É claro. Por um preço.”
Elena o fitou. Sangue flamejou em seu rosto. Quando ela conseguiu
colocar as palavras
para fora, elas vieram somente como um murmúrio.
“Que – preço?”
um sorriso cintilou fora da escuridão. “Alguns minutos do seu
tempo, Elena. Algumas
goras do seu sangue. Mais ou menos uma hora gasta comigo,
sozinhos.”
“Seu...” Elena não conseguiu achar a palavra certa. Todos os
adjetivos que ela conhecia
eram muito suaves.
“Eu vou ter isso de qualquer jeito, no final,” ele disse em um tom
sensato. “Se você for
honesta, vai admitir isso para você mesma. A última vez não foi a
última. Por que não
aceita isso?” A voz dele caiu para um timbra quente, íntimo.
“Lembre-se...”
“Eu preferiria cortar minha garganta,” ela disse.
“Um pensamento intrigante. Mas eu posso fazer isso se um jeito
muito mais agradável.”
Ele estava rindo dela. De algum jeito, acima de todo o resto, hoje
isso era demais. “Você é
nojento, você sabe disso” ela disse. “Você é nojento”. Ela estava
tremendo agora, e não
conseguia respirar. “Eu morreria antes de me entregar a você. Eu
preferiria...”
Ela não estava certa do que a fez fazer isso. Quando ela estava
com Damon um pouco de
instinto tomava conta dela. E naquele momento, ela sentiu que
preferiria arriscar qualquer
coisa a vê-lo vencer desta vez. Ela percebeu, com metade de sua
mente, que ele estava
sentado, relaxando, apreciando o rumo que seu jogo estava tomando.
A outra metade da
mente dela estava calculando o quanto o telhado ultrapassava a
varanda.
“Eu preferiria fazer isso,” ela disse, e se arremessou de lado.
Ela estava certa; ele estava fora de guarda e não pôde se mexer
rápido o suficiente para
pará-la. Ela sentiu espaço livre embaixo de seus pés e percebeu
que a varanda era mais para
trás do que ela havia pensado. Ela ia falhar.
Mas ela não tinha contado com Damon. Sua mão se lançou, não rápida
o suficiente para
mantê-la no telhado, mas fazendo-a parar de cair mais. Era como se
o peso dela não fosse
nada para ele. Reflexivamente, Elena agarrou a borda do telhado e
tentou dar um impulso
com o joelho.
A voz dele estava furiosa. “ Sua pequena tola! Se você está tão
ansiosa para conhecer a
morte eu posso lhe apresenta-la eu mesmo.”
“Me larga,” disse Elena entre dentes. Alguém sairia para aquela
varanda a qualquer
segundo, ela estava certa disso. “Me larga.”
“Aqui e agora?” Olhando dentro daqueles insondáveis olhos pretos,
ela percebeu que ele
estava sério. Se ela dissesse que sim ele a largaria.
“Seria um jeito rápido de acabar as coisas, não seria?” ela disse.
Seu coração estava
batendo de medo, mas ela se recusou a deixa-lo ver isso.
“Mas um desperdício”. Com um movimento, ele a puxou para a
segurança. Para ele. Seus
braços se apertaram em volta dela, a pressionando para a dureza
magra de seu corpo, e de
repente Elena não pôde ver nada. Ela estava envolvida. Então ela
sentiu aqueles músculos
planos se recolhendo como os de um gato, e eles dois se lançaram
no espaço.
Ela estava caindo. Ela não podia fazer nada a não ser agarrar-se a
ele como a única coisa
sólida no apressado mundo em volta dela. E então ele pousou,
felino, absorvendo o impacto
facilmente.
Stefan tinha feito algo similar uma vez. Mas Stefan não a tinha
segurado dessa maneira,
confusamente perto, com os seus lábios quase em contato com os
dela.
“Pense sobre minha proposta,” ele disse.
Ela não pôde se mover ou desviar o olhar. E dessa vez ela sabia
que não era nenhum Poder
que ele estava usando, mas simplesmente a louca atração entre eles.
Era inútil negar isso; o
corpo dela respondia ao dele. Ela podia sentir a respiração dele
em seus lábios.
“Eu não preciso de você para nada,” ela disse a ele.
ela pensou que ele iria beija-la depois, mas ele não o fez. Acima
deles tinha um som de
portas de vidro se abrindo e uma voz furiosa na varanda. “Hey! O
que está acontecendo?
Tem alguém aí fora?”
“Dessa vez eu te fiz um favor,” Damon disse, muito suave, ainda
segurando ela. “Dá
próxima vez eu vou cobrar.”
Ela não poderia ter virado sua cabeça para longe. Se ele a tivesse
beijado, ela teria deixado.
Mas de repente a dureza de seus braços se dissolveram em volta
dela e o rosto dele pareceu
um borrão. Era como se a escuridão o estivesse levando para dentro
dela. As asas pretas
capturaram e bateram o ar e um enorme corvo estava se afastando.
Alguma coisa, um livro ou um sapato, foi arremessado depois pela
varanda. Perdeu-se no
quintal.
“Malditos pássaros!” disse a voz da senhora Forbes acima. “Eles
devem estar construindo
ninhos no telhado.”
Tremendo, com os seus braços apertados em volta dela, Elena se
lançou na escuridão até
que ela estivesse de volta dentro.
Ela encontrou Meredith e Bonnie agachadas no portão. “O que te fez
demorar tanto?”
Bonnie sussurrou. “Nós pensamos que você tinha sido pega!”.
“Eu quase fui. Eu tive que ficar até que estivesse segura.” Elena
estava tão acostumada a
mentir sobre Damon que ela fazia isso agora sem um esforço
consciente. “Vamos para
casa,” ela sussurrou. “Não há nada mais que nós possamos fazer”.
Quando elas estavam na porta de Elena, Meredith disse, “São só
duas semanas até o Dia do
Fundador.”
“Eu sei.” Por um momento a proposta de Damon nadou na mente de
Elena. Mas ela sacudiu
a cabeça para limpa-la. “Eu vou pensar em alguma coisa” ela disse.
Ela não tinha pensado em nada até o próximo dia de escola. O fato
encorajador era que
Caroline não parecia ter percebido nada de errado em seu quarto –
mas era tudo o que
Elena podia encontrar de encorajador. Teve uma assembléia naquela
manhã, na qual foi
anunciada que a escola tinha escolhido Elena como a estudante para
representar “A
Primavera de Fell’s Church”. Durante todo o discurso do diretor
sobre isso, o sorriso de
Caroline tinha brilhado distante, triunfante e malicioso.
Elena tentou ignora-lo. Ela fez o melhor que pôde para ignorar is
insultos e as ofensas que
vieram em seqüência à assembléia, mas não foi fácil. Não foi nada
fácil, e teve dias que ela
pensava que bateria em alguém ou simplesmente começaria a gritar,
mas ela rapidamente se
controlava.
Aquela tarde, esperando pela aula de história do sexto período
para poder sair, Elena
estudou Tyler Smallwood. Desde que voltou para a escola, ele não
tinha destinado a ela
nem uma palavra diretamente. Ele sorriu tão obscenamente como
Caroline durante o
anúncio do diretor. Agora, como tivesse capturado a visão de Elena
permanecendo sozinha,
ele empurrou Dick Carter com o cotovelo.
“O que é aquilo?” Ele disse. “Uma flor de parede?”
Stefan, onde você está? Pensou Elena. Mas ela sabia a resposta
para isso. na metade da
frente da escola, na aula de astronomia.
Dick abriu a boca para dizer algo, mas então sua expressão mudou.
Ele estava olhando para
além de Elena, para o corredor sul. Elena virou e viu Vickie.
Vickie e Dick tinham ficado juntos antes do baile. Elena supôs que
eles ainda estavam. Mas
Dick olhou incerto, como se ele não estivesse certo do que esperar
da garota que estava se
movendo rumo a ele.
Tinha algo estranho sobre o rosto de Vickie, sobre o jeito de ela
andar. Ela estava se
movendo como se seus pés não tocassem o chão. Seus olhos estavam
dilatados e
sonhadores.
“Oi,” Disse Dick timidamente, e ele se pôs de frente para ela.
Vickie passou por ele sem
olhar e foi em direção a Tyler. Elena assistiu o que aconteceu
depois com um crescente
desassossego. Isso devia ser engraçado, mas não era.
Começou com Tyler olhando um pouco perplexo. Depois Vickie colocou
uma mão no peito
dele. Tyler sorriu, mas tinha um olhar forçado em relação a isso.
Vickie deslizou sua mão
para dentro na jaqueta dele. O sorriso de Tyler oscilou. Vickie
pôs sua outra mão no peito
dele. Tyler olhou para Dick.
“Hey, Vickie, vá com calma,” disse Dick precipitadamente, mas ele
não chegou mais perto.
Vickie deslizou suas duas mãos para cima, tirando a jaqueta de
Tyler de seus ombros. Ele
tentou manear os ombros e coloca-la de volta sem deixar seus
livros ou parecer muito
preocupado. Ele não conseguiu. Os dedos de Vickie penetraram
embaixo da sua camisa.
“Pare com isso. Você vai pará-la?” Disse Tyler a Dick. Ele estava
em apuros.
“Hey, Vickie, pare. Não faça isso”. Mas Dick manteve uma distância
segura. Tyler lançou a
ele um olhar fulminante e tentou afastar Vickie.
Um barulho tinha começado. De inicio parecia se uma freqüência
quase muito baixa para
um humano ouvir, mas ficou mais e mais alto. Um rosnado, sinistramente
ameaçador, que
gelou a espinha de Elena. Tyler estava olhando admirado com
descrença, e ela logo
percebeu isso. O som estava vindo de Vickie.
Então tudo aconteceu de uma vez. Tyler estava no chão com os
dentes de Vickie a
centímetros da garganta de Tyler e tentando mordê-la. Elena, com
todas as brigas
esquecidas, estava tentando ajudar Dick a tira-la de lá. Tyler
estava uivando. A porta da
sala de história foi aberta e Alaric estava gritando.
“Não a machuquem! Sejam cuidadosos! É epilepsia, nós apenas
precisamos mantê-la
deitada agora!”.
Os dentes de Vickie tentaram morder de novo quando ele alcançou
uma mão no combate. A
esguia garota era mais forte do que todos eles juntos, e eles
estavam perdendo o controle
sobre ela. Eles não seriam capazes de controlar-la por muito mais
tempo. Foi com grande
alivio que Elena ouviu uma voz familiar sobre seu ombro.
“Vickie, calma. Está tudo bem. Apenas relaxe agora.”
Com stefan prendendo os braços de Vickie e conversando com ela de
modo calmante,
Elena ousou afrouxar o seu próprio aperto. E pareceu, a principio,
que a estratégia de Stefan
estava funcionando. Os dedos de Vickie afrouxaram, e eles puderam
desliza-los para fora
de Tyler. Como Stefan continuou falando com ela, ela ficou mole e
seus olhos se fecharam.
“Muito bom. Você está se sentindo cansada agora. É bom ir dormir.”
Mai então, abruptamente, parou de funcionar, e fosse qual fosse o
Poder que Stefan estava
exercendo sobre ela estava quebrado. Os olhos de Vickie se
abriram, e eles perfuraram sem
nenhuma semelhança com os olhos de filhote assustado que Elena
tinha visto na cafeteria.
Eles estavam fulgurantes com intensa fúria. Ela rosnou para Stefan
e estourou lutando com
a força renovada.
Precisou de cinco ou seis deles para controla-la enquanto alguém
chamava a polícia. Elena
permaneceu onde ela estava, conversando com Vickie, de vez em
quando berrando com ela,
até a polícia chegar. Nada disso fez bem algum.
Então ela andou para trás e viu a multidão de expectadores pela
primeira vez. Bonnie estava
na frente da fila, fitando boquiaberta. Assim como Caroline.
“O que aconteceu?” disse Bonnie quando os oficiais carregaram
Vickie para longe.
Elena, ofegando suavemente, tirou uma mecha de cabelo dos seus
olhos. “Ela ficou louca e
tentou despir Tyler.”
Bonnie franziu os lábios. “Bem, ela teria que estar louca para
querer, não é?” E ela lançou
um sorriso tolo sobre os ombros diretamente para Caroline.
Os joelhos de Elena estavam moles e suas mãos estavam tremendo.
Ela sentiu um braço
envolvê-la, e ela apoiou-se contra Stefan gratamente. Então ela
olhou para cima para ele.
“Epilepsia?” Ela disse com descrente desdém.
Ele estava olhando fixo para o lado sul atrás de Vickie. Alaric
Saltzman, ainda gritando
instruções, estava aparentemente indo com ela. O grupo virou no
corredor seguinte.
“Eu acho que a turma acabou de ser dispensada,” Stefan disse.
“Vamos”.
Eles andaram para a pensão em silêncio, cada um perdido em
pensamentos. Elena franziu a
testa, e muitas vezes lançou olhares para Stefan, mas não foi até
que eles estavam sozinhos
no quarto dele que ela falou.
“Stefan, o que é tudo isso? O que está acontecendo com Vickie?”
“É o que eu estava me perguntando. Só há uma explicação na qual eu
posso pensar, e é que
ela ainda está sob ataque.”
“Você quer dizer que Damon ainda está – Oh, meu Deus! Oh, Stefan,
eu devia ter dado a
ela um pouco de verbena. Eu devia ter percebido...”
“Não teria feito nenhuma diferença acredite em mim.” Ela tinha
virado para a porta como
se para ir atrás de Vickie naquele minuto, mas ele a puxou de
volta gentilmente. “Algumas
pessoas são mais facilmente influenciadas que outras, Elena.
Vickie nunca foi muito forte.
Pertence a ele, agora.”
Lentamente, Elena sentou. “Então ninguém pode fazer nada? Mas,
Stefan, ela vai ficar –
como você e Damon?”
“Isso depende.” Seu tom era desolado. “Isso não é só uma questão
de quanto sangue ela
perde. Ela precisa do sangue dele nas suas veias fazer a
transformação completa. De outro
modo, ela vai apenas terminar como o Sr. Tanner. Drenada, usada.
Morta.”
Elena tomou um longo fôlego. Tinha algo mais que ela queria
perguntar a ele sobre isso,
algo que ela queria perguntar a ele a um longo tempo. “Stefan,
quando você conversou com
Vickie lá, eu pensei que estava funcionando. Você estava usando
seus Poderes nela, não
estava?”
“Sim.”
“Mas então ela simplesmente enlouqueceu de novo. O que eu quero
dizer... Stefan, você
está bem, não está? Seus Poderes voltaram?”
Ele não respondeu. Mas isso era resposta o suficiente para ela.
“Stefan, por que você não
me contou? Qual é o problema?” Ela foi até ele e se ajoelhou para
que ele tivesse que olhar
para ela.
“Está me levando um tempo para recuperar, isso é tudo. Não se
preocupe com isso.”
“Eu estou preocupada. Não há nada que nós possamos fazer?”
“Não,” ele disse. Mas seus olhos fecharam.
Compreensão inundou Elena. “Oh,” Ela sussurrou, sentando de novo.
Então ela se estendeu
para ele de novo, tentando pegar suas mãos. “Stefan, me escuta –“
“Elena, não. Você não vê? É perigoso, perigoso para nós dois, mas
especialmente para
você. Isso podia lhe matar, ou pior.”
“Só se você perder o controle,” ela disse. “E você não vai. Me
beija.”
“Não,” disse Stefan novamente. Ele adicionou, menos rudemente, “Eu
vou sair para caçar
essa noite assim que escurecer.”
“É a mesma coisa?” Ela disse. Ela sabia que não era. Era sangue
humano que dava Poderes.
“Oh, Stefan, por favor; você não vê que eu quero? Você não quer?”
“Não é justo,” Ele disse, seus olhos torturados. “Você sabe que
não é, Elena. Você sabe o
quanto –“ Ele se virou para longe dela novamente, suas mãos
cerradas em punhos.
“Mas por que não? Stefan, eu preciso...” Ela não podia terminar.
Ela não podia explicar
para ele o que ela precisava; era uma necessidade de conexão com
ele, de proximidade. Ela
precisava lembrar o que era estar com ele, limpar sua memória
dança com Damon em seu
sonho e dos braços de Damon apertados em volta dela. “Eu preciso
de nós dois juntos
novamente,” Ela sussurrou.
Stefan ainda estava longe, e ele sacudiu a cabeça.
“Tudo bem,” Elena sussurrou, mas ela sentiu uma onda de tristeza e
medo como derrota
penetrar nos seus ossos. O maior medo era por Stefan, que estava
vulnerável sem seus
Poderes, vulnerável o suficiente que podia ser ferido pelos
ordinários cidadãos de Fell’s
Church. Mas parte do medo era por ela mesma.
_____________
Capítulo Doze
_____________
Uma voz falou enquanto Elena pegava uma lata da prateleira da
loja.
“Molho de oxicoco, já?”
Elena olhou para cima. “Oi, Matt. Sim, tia Judith gosta de fazer
uma prévia no domingo
antes do Dia de Ação de Graças, lembra?
Se ela pratica, tem menos chance de fazer algo horrível.”
“Como esquecer de comprar o molho de oxicoco até que sejam quinze
minutos antes do
jantar?”
“Até que sejam cinco minutos antes do jantar,” disse Elena,
consultando seu relógio, e Matt
riu.
Era um som gostoso, e um que Elena não ouvia há muito. Ela
moveu-se em direção ao
caixa, mas depois de ter pago por sua compra ela hesitou, olhando
para trás.
Matt estava parado ao lado da prateleira das revistas,
aparentemente absorto, mas havia
algo na inclinação de seus ombros que a fez querer ir até ele.
Ela deu um cutucão na revista. “O que você vai fazer no jantar?” ela disse.
Quando ele olhou incertamente em direção a frente da loja, ela
acrescentou, “Bonnie está
esperando no carro; ela estará lá.” Fora isso é só a família. E
Robert, é claro; ele deve estar
lá a essa hora.” Ela quis dizer que Stefan não estava indo. Ela
ainda não estava certa de
como as coisas estavam entre Matt e Stefan esses dias. Pelo menos
eles falavam um com o
outro.
“Estou evitando perguntas diretas hoje a noite; mamãe não está se
sentindo muito bem,” ele
disse. Mas então, como se para mudar de assunto, ele continuou,
“Onde está Meredith?”
“Com a família dela, visitando alguns parentes ou algo assim.”
Elena foi vaga porque a
própria Meredith fora vaga; ela raramente falava sobre sua
família. “Então o que acha?
Quer se arriscar com a comida da tia Judith?”
“Pelos bons e velhos tempos?”
“Pelos bons e velhos amigos,” disse Elena após um momento de hesitação, e sorriu para
ele.
Ele pestanejou e desviou o olhar. “Como eu posso recusar um
convite desses?” ele disse em
uma voz estranhamente atenuada. Mas quando ele colocou a revista
de volta e a seguiu para
fora ele estava sorrindo, também.
Bonnie o cumprimentou alegremente, e quando chegaram em casa tia
Judith pareceu
satisfeita por vê-lo entrar na cozinha.
“O jantar está quase pronto,” ela disse, tomando a sacola de
compras de Elena. “Robert
chegou há alguns minutos. Por que vocês não vão direto para a sala
de jantar? Ah, e pegue
outra cadeira, Elena. Com Matt são sete.”
“Seis, tia Judith,” disse Elena, divertida. “Você e Robert, eu e
Margaret, Matt e Bonnie.”
“Sim, querida, mas Robert trouxe um convidado, também. Eles já
estão sentados.”
Elena registrou as palavras enquanto entrava na sala de jantar,
mas houve um atraso
instantâneo antes de sua mente reagir a elas. Mesmo assim, ela sabia; passando por aquela
porta, de algum jeito ela sabia o que estava esperando por ela.
Robert estava lá, ocupando-se com uma garrafa de vinho branco e
parecendo jovial.
E sentado na mesa, no lado mais distante do enfeite de outono e
das altas velas acesas,
estava Damon.
Elena percebeu que ela parara de se mover quando Bonnie deu um
encontrão com ela por
trás. Daí ela forçou suas pernas a se moverem. Sua mente não
estava tão obediente; ela
permaneceu congelada.
“Ah, Elena,” Robert disse, estendendo uma mão. “Essa é Elena, a
garota de quem eu estava
te falando,” ele disse para Damon. “Elena, esse é Damon... hã…”
“Smith,” disse Damon.
“Ah, sim. Ele é da minha alma mater*, William and Mary, e eu simplesmente esbarrei
nele
do lado de fora da farmácia.
* universidade ou faculdade onde uma pessoa
estudou
Já que ele estava procurando algum lugar para comer, eu o convidei
para cá para uma
refeição caseira. Damon, esses são alguns amigos da Elena, Matt e
Bonnie.”
“Oi,” disse Matt. Bonnie simplesmente encarou-o; então, ela moveu
olhos enormes para
Elena.
Elena estava tentando se segurar. Ela não sabia se berrava,
marchava para fora da sala, ou
jogava o copo de vinho que Robert estava servindo na cara de Damon.
Ela ficou nervosa
demais, no momento, para ficar assustada.
Matt foi trazer uma cadeira da sala de estar. Elena ficou curiosa
com a aceitação casual dele
com Damon, e então percebeu que ele não estivera na festa de
Alaric. Ele não sabia o que
tinha acontecido entre Stefan e o “visitante da faculdade.”
Bonnie, contudo, parecia pronta para entrar em pânico. Ela estava
olhando para Elena
suplicantemente.
Damon tinha ficado de pé e estava afastando uma cadeira para ela.
Antes que Elena pudesse bolar uma resposta, ela escutou a vozinha
aguda de Margaret na
entrada.
“Matt, você quer ver a minha gatinha? Tia Judith disse que eu
posso ficar com ela. Eu vou
chamá-la de Bola de Neve.”
Elena se virou, excitada com uma ideia.
“Ela é bonitinha,” Matt estava dizendo gentilmente, inclinando-se
sobre o pequeno
amontoado de pelo branco nos braços de Margaret. Ele ficou
assustado quando Elena
agarrou sem cerimônia a gatinha debaixo de seu nariz.
“Aqui, Margaret, vamos mostrar a sua gatinha pro amigo do Robert,”
ela disse, e enfiou o
pacote fofinho na cara de Damon, fazendo tudo exceto jogá-la nele.
O pandemônio se seguiu. Bola de Neve inchou duas vezes o seu
tamanho normal quando
seu pelo eriçou. Ela fez um barulho como água derrubada em uma
frigideira em brasas e
então ela rosnou, cuspiu e arranhou Elena, golpeou Damon, e
ricocheteou nas paredes antes
de escapar da sala.
Por um instante, Elena teve a satisfação de ver os olhos negros
noturnos de Damon
ligeiramente mais arregalados que o normal.
Então as pálpebras se abaixaram, cobrindo-as novamente, e Elena
virou-se para encarar a
reação dos outros ocupantes da sala.
Margaret estava justamente abrndo sua boca para um gemido de
máquina a vapor. Robert
estava tentando evitar isso, empurrando-a para fora para achar a
gata. Bonnie estava com
suas costas pressionadas contra a parede, parecendo desesperada.
Matt e tia Judith, que
estavam espiando da cozinha, pareciam simplesmente chocados.
“Acho que você não leva jeito com animais,” ela disse para Damon,
e tomou seu lugar na
mesa.
Ela acenou para Bonnie, que relutantemente se descascou da parede
e correu para seu
próprio assento antes que Damon pudesse tocar a cadeira. Os olhos
castanhos de Bonnie
deslizaram seguindo-o enquanto ele se sentava.
Após alguns minutos, Robert reapareceu com uma Margaret manchada
de lágrimas e
franziu a testa severamente para Elena. Matt empurrou sua própria
cadeira em silêncio
apesar de suas sobrancelhas estarem no cabelo.
Enquanto tia Judith chegava e a refeição começava, Elena olhou
para cima e para baixo na
mesa.
Uma neblina brilhante pareceu deitar-se sobre tudo, e ela teve uma
sensação de irrealidade,
mas a própria cena quase parecia inacreditavelmente benéfica, como
algo saído de um
comercial. Simplesmente sua família comum sentada para comer peru,
ela pensou. Uma tia
solteirona ligeiramente confusa, preocupada que as ervilhas
ficassem moles e os pãezinhos
queimassem, um confortável futuro tio, uma sobrinha adolescente de
cabelo dourado e sua
irmãzinha de cabelos claríssimos. Um garoto comum de olhos azuis,
uma amiga com
vivacidade, um lindo vampiro passando as batatas-doce. Uma típica
família americana.
Bonnie passou a primeira metade da refeição telegrafando mensagens
do tipo "O que eu
faço?" para Elena com seus olhos. Mas quando tudo que Elena
telegrafava de volta era
“Nada,” ela aparentemente decidiu abandonar-se ao seu destino. Ela
começou a comer.
Elena não tinha idéia do que fazer. Ficar presa desse jeito era um
insulto, uma humilhação,
e Damon sabia disso. Ele tinha encantado tia Judith e Robert,
contudo, com elogios sobre a
refeição e uma conversa leve sobre William and Mary. Até mesmo
Margaret estava
sorrindo para ele agora, e logo Bonnie entraria nessa.
“Fell’s Church estará tendo a celebração do Dia do Fundador semana
que vem,” tia Judith
informou Damon, suas magras bochechas levemente rosas.
“Seria tão bom se você pudesse voltar para isso.”
“Eu gostaria,” disse Damon afavelmente.
Tia Judith pareceu satisfeita. “E esse ano Elena fará uma grande
participação nele. Ela foi
escolhida para representar o Espírito de Fell’s Church."
“Você deve estar orgulhosa dela,” disse Damon.
“Ah, estamos,” tia Judith disse. “Então você tentará vir?”
Elena interrompeu, passando manteiga em um paõzinho furiosamente.
“Eu escutei
novidades sobre Vickie,” ela disse. “Você se lembra, a garota que
foi atacada.” Ela olhou
apontando para Damon.
Houve um curto silêncio. Então Damon disse, “Receio que não a
conheço.”
“Ah, tenho certeza que conhece. Mais ou menos a minha altura,
olhos castanhos, cabelo
castanho claro... de qualquer jeito, ela está piorando.”
“Ah, céus,” disse tia Judith.
“Sim, aparentemente os médicos não conseguem entender. Ela
simplesmente fica pior e
pior, como se o ataque ainda estivesse acontecendo.” Elena manteve
seus olhos no rosto de
Damon enquanto falava, mas ele mostrou apenas um interesse cortês.
“Coma mais
recheio,” ela terminou, empurrando uma tigela para ele.
“Não, obrigado. Eu quero mais disso, contudo.” Ele levantou uma
colher cheia de molho de
oxicoco gelatinoso até uma das velas para que a luz brilhasse por
ela. “É uma cor tão
tentadora.”
Bonnie, como o resto das pessoas a mesa, olhou para a vela quando
ele fez isso.
Mas Elena notou que ela não olhou para baixo novamente. Ela
continuou olhando para as
chamas dançantes, e lentamente qualquer expressão desapareceu de
seu rosto.
Ah, não, pensou Elena, um latejar de preocupação arrepiando seus
membros. Ela tinha visto
aquele olhar antes. Ela tentou conseguir a atenção de Bonnie, mas
a outra garota parecia
não ver nada além da vela.
“... e então as crianças do ensino básico fazem uma cerimônia
sobre a história da cidade,”
tia Judith estava dizendo para Damon. “Mas a cerimônia de
encerramento é feita por
estudantes mais velhos. Elena, quantos veteranos vão fazer a
leitura esse ano?”
“Só três.” Elena teve que se virar para se dirigir a sua tia, e
foi enquanto ela estava olhando
para o rosto sorridente da tia Judith que ela ouviu a voz.
“Morte.”
Tia Judith arfou. Robert parou com seu garfo a meia caminho de sua
boca. Elena desejou,
selvagem e absolutamente sem esperança, por Meredith.
“Morte,” disse a voz novamente. “A morte está nessa casa.”
Elena olhou ao redor da mesa e viu que não havia ninguém para
ajudá-la. Todos estavam
encarando Bonnie, imóveis como as pessoas em uma fotografia.
A própria Bonnie estava encarando a chama da vela. Seu rosto
estava vazio, seus olhos
arregalados, como eles tinham sido antes quando essa voz falava
por ela. Agora, esses
olhos incapazes de ver se viraram na direção de Elena. “A sua
morta,” a voz disse. “Sua
morte está esperando, Elena. É–”
Bonnie pareceu engasgar. Depois ela inclinou-se para frente e
quase pousou em seu prato.
Houve uma paralisia instantânea, e então todos se moveram. Robert
levantou-se e puxou
Bonnie pelos ombros, levantando-a. A pele de Bonnie tinha ficado
branca-azulada, seus
olhos estavam fechados. Tia Judith agitou-se ao redor dela, dando
tapinhas em seu rosto
com um guardanapo úmido. Damon observou com olhos pensativos e
estreitos.
“Ela está bem,” Robert disse, olhando para cima com alívio óbvio.
“Eu acho que ela
simplesmente desmaiou. Deve ter sido algum tipo de ataque
histérico.” Mas Elena não
respirou novamente até Bonnie abrir olhos grogues e perguntar o
que todos estavam
encarando.
Colocou um fim efetivo no jantar. Robert insistiu que Bonnie fosse
levada de volta para
casa direto, e na atividade que se seguiu Elena encontrou tempo
para sussurrar palavras
para Damon.
“Caia fora!”
Ele ergueu suas sobrancelhas. “O quê?”
“Eu disse, caia fora! Agora! Vá. Ou eu contarei a eles que você é
o assassino.”
Ele pareceu acusativo. “Você não acha que um convidado merece um
pouco mais de
consideração?” ele disse, mas com a expressão dela ele deu de
ombros e sorriu.
“Obrigado por me convidar para jantar,” ele disse em voz alta para
tia Judith, que estava
andando por ele carregando um cobertor para o carro.
“Espero que posso retribuir o favor algum dia.”
Para Elena ele acrescentou, “Te vejo.”
Bem, isso foi esperto o bastante, Elena pensou, enquanto Robert
dirigia com um Matt
lúgubre e uma Bonnie sonolenta. Tia Judith estava no telefone com
a Sra. McCullough.
“Eu não sei o que essas garotas tem, tampouco,” ela disse.
“Primeiro Vickie, agora
Bonnie... e Elena não tem sido ela mesma ultimamente…”
Enquanto tia Judith falava e Margaret procurava pela sumida Bola
de Neve, Elena
marchava.
Ela iria ter que ligar para Stefan. Era tudo que se tinha a fazer.
Ela não estava preocupada
com Bonnie; nas outras vezes que isso tinha acontecido não pareceu
ter feito um dano
permanente. E Damon tinha coisas melhores a fazer do que assediar
os amigos de Elena
hoje a noite.
Ele estava vindo aqui, para coletar o “favor” que ele tinha feito
a ela. Ela sabia sem dúvida
que era esse o significado de suas palavras finais. E isso
significava que ela teria que contar
a Stefan tudo, porque ela precisava dele hoje a noite, precisava
de sua proteção.
Só que, o que Stefan podia fazer? Apesar de todos seus pedidos e
discussões da semana
passada, ele tinha se recusado a tomar o sangue dela. Ele insistia
que seus Poderes
voltariam sem ele, mas Elena sabia que ele ainda estava vulnerável
agora. Mesmo se Stefan
estivesse aqui, ele conseguiria parar Damon? Conseguiria ele fazer
isso sem ele mesmo ser
morto?
A casa de Bonnie não era um refúgio. E Meredith tinha ido embora.
Não havia ninguém
para ajudá-la, ninguém em quem pudesse confiar. Mas o pensamento
de esperar aqui
sozinha hoje a noite, sabendo que Damon estava vindo, era
insuportável.
Ela ouviu tia Judith desligar o telefone. Automaticamente, ela se
moveu na direção da
cozinha, o número de Stefan correndo em sua mente. Então ela
parou, e lentamente virouse
para olhar para a sala de estar que ela tinha acabado de deixar.
Ela olhou para do chão para as janelas do teto e para a lareira
elaborada com suas lindas
curvas moldadas. Essa sala era parte da casa original, aquela que
fora quase queimada
completamente na Guerra da Secessão. Seu próprio quarto era bem
acima.
Uma luz notável estava começando a surgir. Elena olhou para a
moldura ao redor do teto,
onde ela se juntava a sala de jantar mais moderna. Então ela quase
correu em direção a
escada, seu coração batendo rápido.
“Tia Judith?” Sua tia parou na escada. “Tia Judith, me diga uma
coisa.
Damon entrou na sala de estar?”
“O quê!” Tia Judith pestanejou para ela com distração.
“Robert levou Damon na sala de estar? Por favor pense, tia Judith!
Eu preciso saber.”
“Ora, não, eu acho que não. Não, ele não levou. Eles entraram e
foram diretamente para a
sala de jantar. Elena, o que diabos?...” Essa última foi quando
Elena jogou seus braços
impulsivamente ao redor dela e a abraçou.
“Desculpa, tia Judith. Eu simplesmente estou feliz,” disse Elena.
Sorrindo, ela se virou para
descer as escadas.
“Bem, eu estou feliz que alguém está feliz, depois de como o jantar saiu. Apesar de que
aquele garoto bacana, Damon, pareceu ter se divertido. Sabe,
Elena, ele pareceu bem
impressionado com você, apesar do jeito como você estava agindo.”
Elena virou-se. “Então?”
“Bem, eu só achei que você poderia dar-lhe uma chance, só isso. Eu
achei que ele era bem
agradável. O tipo de jovem que eu gostaria de ver por aqui.”
Elena revirou os olhos por um momento, então engoliu para impedir
a risada histérica de
escapar.
Sua tia estava sugerindo que ela ficasse com Damon ao invés de
Stefan... porque Damon
era mais seguro. O tipo de jovem bacana que minha tia gostaria.
“Tia Judith,” ela começou,
arfando, mas então ela percebeu que era inútil. Ela balançou sua
cabeça mudamente,
jogando suas mãos para cima em defesa, e observou sua tia subir as
escadas.
Geralmente Elena dormia com sua porta fechada. Mas hoje a noite
ela a deixou aberta e
deitou na cama olhando para o corredor escuro. De vez em quando
ela olhava para os
números luminosos do relógio na cabeceira ao lado dela.
Não havia perigo dela cair no sono. Enquanto os minutos
engatinhavam, ela quase começou
a desejar que conseguisse. O tempo movia-se com uma lentidão
agonizante. Onze horas...
onze e meia… meia noite. Uma da manhã. Uma e meia. Duas.
As 2:10 ela ouviu um som.
Ela escutou, ainda deitada em sua casa, o fraco sussurro de
barulho escada abaixo. Ela sabia
que ele iria encontrar um jeito de entrar se quisesse. Se Damon
estivesse determinado,
nenhuma tranca o manteria de fora.
Música do sonho que ela tivera naquela noite na casa da Bonnie
tocou em sua mente, um
punhado de notas plangentes e ressonantes. Acordou sentimentos
estranhos nela. Ela
própria quase em um atordoamente ou sonho, ela levantou-se e foi
para o solado da porta.
O corredor estava escuro, mas seus olhos tiveram um longo tempo
para se ajustarem. Ela
conseguia ver a silhueta escura subindo a escada. Quando alcançou
o topo ela viu o reflexo
rápido e mortal de seu sorriso.
Ela esperou, sem sorrir, até que ele a alcançasse e ficasse de
frente para ela, com somente
um metro de chão de madeira entre eles. A casa estava
completamente silenciosa. Do outro
lado do corredor Margaret dormia; no final da passagem, tia Judith
deitava-se coberta por
sonhos, alheia ao que estava acontecendo fora de sua porta.
Damon não disse nada, mas ele olhou para ela, seus olhos tomando a
grande camisola
branca com uma gola alta e de laço.
Elena tinha escolhido-a porque era a mais modesta que ela possuia,
mas Damon
obviamente achou-a atraente. Ela se forçou a permanecer quieta,
mas sua boca estava seca e
seu coração estava golpeando vagarosamente.
Agora era hora. Em mais um minuto ela saberia.
Ela recuou, sem uma palavra ou gesto de convite, deixando a
entrada vazia.
Ela viu a chama rápida nos olhos abismáveis dele, e observou ele
vir avidamente na direção
dela.
E observou ele parar.
Ele ficou simplesmente fora do quarto dela, claramente
desconcertado. Ele tentou
novamente dar um passo para frente mas ele não conseguiu. Algo
parecia estar impedindoo
de se mover mais. Em seu rosto, surpresa cedeu lugar para
perplexidade e então raiva.
Ele olhou para cima, seus olhos varrendo a padieira, escaneando o
teto dos dois lados do
solado da porta. Então, quando a percepção total o acertou, seus
lábios se separaram de seus
dentes em um rosnado animal.
Salva dos dois lados da entrada, Elena riu suavemente. Tinha
funcionado.
“Meu quarto e a sala de estar abaixo são tudo o que sobrou da casa
antiga,” ela disse para
ele. “E, é claro era uma residência diferença. Uma a qual você não está convidado, e nunca
será.”
Seu peito estava pesando com raiva, suas narinas dilatadas, seus
olhos selvagens. Ondas de
raiva negra emanavam dele. Ele olhou como se fosse rasgar as
paredes com suas mãos, que
estavam torcendo e apertando com fúria.
Triunfo e alívio fizeram Elena ficar volúvel. “É melhor você ir
agora,” ela disse. “Não tem
nada aqui para você.”
Por mais um minuto aqueles olhos ameaçadores queimaram os dela, e
então Damon virouse.
Mas ele não foi para a escada. Ao invés, ele deu um passo para o
outro lado do corredor
e colocou sua mão na porta do quarto de Margaret.
Elena foi para frente antes de saber o que estava fazendo. Ela
parou na entrada, segurando a
armação ornamentada, sua própria respiração saindo dificilmente.
A cabeça dele girou rapidamente e ele sorriu para ela, um sorriso
lento e cruel. Ele girou a
maçaneta ligeiramente sem olhar para ela. Seus olhos, como
piscinas de ébano líquido,
permaneceram em Elena.
“Sua escolha,” ele disse.
Elena ficou muito quieta, sentindo como se todo o inverno
estivesse dentro dela. Margaret
era apenas um bebê. Ele não podia estar falando sério; ninguém
podia ser tão monstro para
machucar uma criança de quatro anos.
Mas não havia pista de suavidez ou compaixão no rosto de Damon.
Ele era um caçador,
assassino, e os fracos eram sua caça. Ela lembrou-se do rosnado
animal apavorante que
havia transfigurado seus lindos traços, e ela sabia que ela nunca
poderia deixar Margaret
com ele.
Tudo parecia estar acontecendo em câmera lenta. Ela viu a mão de
Damon na maçaneta; ela
viu aqueles olhos sem misericórdia. Ela estava andando pela
entrada, deixando para trás o
único lugar seguro que ela conhecia.
A morte estava na casa, Bonnie tinha dito. E agora Elena tinha ido
encontrar a Morte de
livre e espontânea vontade. Ela curvou sua cabeça para esconder
lágrimas impotentes que
vieram aos seus olhos. Estava acabado. Damon tinha vencido.
Ela não olhou para cima para ver ele avançar nela. Mas ela sentiu
o ar rodopiar ao redor
dela, fazendo-a tremer. E então ela foi envolvida em uma escuridão
suave e sem fim, que
enrolou ao seu redor como as asas de um grande pássaro.
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Capítulo Treze
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Elena se remexeu e abriu as pesadas pálpebras. Via luz ao redor
das bordas das cortinas.
Era difícil se mexer, assim permaneceu ali deitada sobre a cama e
tentou recompor o que
havia acontecido na noite anterior.
Damon. Damon havia aparecido ali e tinha ameaçado Margareth. E
portanto Elena foi a ele.
Ele havia ganhado.
Mas, por que não havia terminado? Elena lançou uma mão lânguida
para tocar o lado do
seu pescoço, já sabendo o que iria encontrar. Sim, estava ali:
duas pequenas punções ternas
e sensíveis a pressão.
Apesar de tudo, ela continuava viva. Havia parado antes de levar a
cabo sua promessa. Por
que?
Suas recordações das ultimas horas eram confusas e apagadas.
Unicamente alguns
fragmentos pareciam claros. Os olhos de Damon sob ela, enchendo
todo seu mundo. A
aguda pontada em sua garganta. E então Damon abrindo sua camisa, o
sangue de Damon
brotando de um pequeno corte em seu pescoço.
Então lhe havia feito beber seu sangue. Se havia feito era mais
correto porque ela não
lembrava de ter resistido ou sentido alguma repugnância. Portanto,
o havia desejado.
Mas não estava morta, nem se quer seriamente debilitada. Não a
havia transformado em
vampira. E isso era o que ela não compreendia.
Ele carecia de moral e consciência, recordou. De modo que certamente
não havia sido
misericórdia que o havia parado. “Provavelmente só quer aumentar o
jogo, ti fazer sofrer
mais antes de ti matar. Ou ainda pior, quer que seja como Vickie,
com um pé no mundo das
sombras e outro no da luz. De forma a enlouquece-la pouco a
pouco.”
Uma coisa era certa: ela não se deixaria enganar pensando que era
bondade sua. Damon não
era capaz de demonstrar bondade. E nem de se preocupar com ninguém
que não fosse ele
mesmo.
Tirando os lençóis, se levantou da cama. Olhou tia Judith passando
pelo corredor. Era
segunda de manhã e tinha que se preparar para ir a escola.
Quarta, 27 de novembro
Querido diário
De nada serve fingir que não estou assustada, porque estou. Amanhã
é o dia de Ação de
Graças e dois dias depois o Dia do Fundador. E ainda não encontrei
um modo de deter
Caroline e Tyler.
Não sei o que fazer. Se não posso recuperar meu diário das mãos de
Caroline, ela vai lê-lo
na frente de todo mundo. Terá a oportunidade perfeita, é uma dos
três alunos elegidos
para ler poesia durante a cerimônia de clausura. Elegida pelo
conselho escolar, do qual o
pai de Tyler é um dos membros, podia adiciona-la. Me pergunto o
que ele pensará quando
isso terminar.
Mas, o que importa? A menos que me ocorra um plano, quando tudo
isso terminar, para
mim tudo já não terá importância. E Stefan terá ido, expulso da
cidade pelos bons
cidadãos de Fell’s Church. Ou estará morto, se não recuperar
alguns dos seus Poderes. E
se ele morresse, eu também morreria. É simples assim.
O que significa que terei que armar um modo de conseguir o diário.
Tenho que conseguilo.
Mas não posso.
Eu sei que ele está esperando para que eu lhe diga. Há um modo de
conseguir meu diário
e o modo é Damon. Tudo que preciso é aceitar seu preço.
Mas você não pode entender o quanto isso me assusta. Não só porque
Damon me assusta
mas sim porque tenho medo do que acontecerá se eu e ele estivermos
juntos outra vez.
Tenho medo do que aconteça a mim... a mim e a Stefan.
Não posso continuar falando disso. É muito perturbador. Me sinto
tão confusa e perdida e
só... Não há a quem eu possa recorrer ou alguém para falar.
Ninguém que possa realmente
compreender.
O que vou fazer?
Quinta, 28 de novembro, 11:30 da noite
Querido diário
As coisas parecem mais claras hoje, talvez porque eu tenha chegado
a uma decisão. É uma
decisão que me horroriza, mas é melhor do que a única alternativa
que me ocorre.
Vou contar tudo a Stefan.
É a única coisa que posso fazer agora. O Dia do Fundador é no
sábado e não me ocorre
nenhum outro plano. Mas talvez Stefan possa faze-lo, se
compreender o quão desesperada
é esta situação. Vou passar o dia na pousada amanhã e quando eu
chegar vou contar tudo
que deveria ter-lhe contado desde o inicio.
Tudo. Sobre Damon também.
Não sei o que dirá. Continuo recordando seu rosto em meus sonhos.
O modo como me
olhava, com tal amargura e repulsa. Não como se me amasse. Se me
olhar assim amanhã...
Ah, estou assustada. Meu estômago está revirando. Apenas pude
provar a cena de Ação de
Graças... e não posso ficar quieta. Sinto como se fosse me despedaçar
em milhares de
pedaços. Dormir esta noite? HA.
Por favor, faça que Stefan compreenda. Por favor, faça com que ele
me perdoe.
O mais engraçado é que eu queria me transformar em uma pessoa
melhor por ele. Queria
ser digna de seu amor. E agora, quando ele descobrir como eu
estava mentindo, o que
pensará de mim? Acreditará quando eu disser que só tentava
protege-lo? Voltará a confiar
em mim alguma vez?
Amanhã saberei. Deus, tomara que tudo termine logo. Não sei como
viverei até então.
Elena escapou de casa sem dizer para tia Judith aonde ia. Estava
cansada de mentiras, mas
não queria enfrentar a bagunça que inevitavelmente que provocaria
se dissesse que ia a casa
de Stefan. Desde que Damon tinha ido jantar, tia Judith tinha
estado falando nele, lançando
sutis indiretas em todas as conversas. E Robert era quase igual a
ela. Elena as vezes
pensava que ele incitava sua tia.
Pressionou com força a campainha da pousada. Onde estava a Sra.
Flowers esses dias?
Quando a porta finalmente se abriu, Stefan estava do outro lado.
Estava vestido para sair, com a gola da jaqueta levantado.
-Pensei que podíamos dar um passeio – disse ele.
-Não.
Elena se mostrou firme. Não foi capaz de lhe mostrar um sorriso
real, de modo que deixou
de tentar. Lhe disse:
-Vamos para cima, Stefan, por favor? Há algo que temos que
conversar.
A olhou com surpresa e algo devia está aparecendo em seu rosto,
pois sua expressão se
aquietou e ficou sombria gradualmente. Aspirou profundamente e
assentiu. Sem uma
palavra, virou e foi para seu quarto.
Os baús e as cômodas e estantes fazia tempo que havia sido
colocadas em seus respectivos
lugares. Mas Elena sentiu como se se desse conta disso pela
primeira vez. Por algum
motivo, pensou na primeira noite que havia estado ali, quando
Stefan a salvou do
repugnante abraço de Tyler. Seus olhos recorreram os objetos da
penteadeira: os florines de
ouro do século XV, a adaga de cabo de marfim, o pequeno cofre de
ferro com a tampa de
dobradiça. Ela havia tentado abri-lo na primeira noite e ele o
havia fechado em um golpe.
Deu a volta, Stefan estava de pé junto a janela, recortado contra
o retângulo de céu cinza e
deprimente. Cada dia daquela semana havia sido nublado e com
neblina e este não era uma
exceção. A expressão de Stefan reproduzia o tempo que fazia do lado
de fora.
-Bem – disse ele com a voz pausada -, do que temos que falar.
Houve um ultimo momento para escolher e então Elena tomou uma
decisão. Esticou uma
mão até o pequeno cofre de ferro e o abriu.
No interior, um objeto de seda cor de abricó com uma luz apagada.
Sua fita de cabelo. Lhe
trouxe a memória o verão, os dias de verão que pareciam
impossivelmente longes naquele
momento. A levantou e a ofereceu a Stefan.
-Sobre isto – disse.
Ele havia dado um passo a frente quando ela tocou o cofre, mas
agora pareceu perplexo e
surpreso.
-Sobre isso?
-Sim, porque eu sabia que estava aí, Stefan. Descobri há muito
tempo, um dia em que você
deixou o quarto por poucos minutos. Não sei por que tinha que
saber o que tinha dentro,
mas não pude evitar. Assim que encontrei a fita. E então... – se
deteve e tomou fôlego –
Então escrevi sobre isso no meu diário.
Stefan parecia cada vez mais perplexo, como se aquilo não fosse o
que estava esperando.
Elena procurou desesperadamente as palavras corretas.
-Escrevi porque pensei que era uma prova de que eu era importante
para você desde
sempre, o suficiente para pega-la e guarda-la. Jamais pensei que
podia ser prova de nada
mais.
Então de improviso começou a falar com toda a pressa. Contou como
havia levado seu
diário para a casa de Bonnie, como o haviam roubado.Falou sobre as
notas que recebia,
sobre como havia compreendido que Caroline que as enviava. E logo,
se afastando,
passando a fita entre os dedos nervosos uma e outra vez, falou do
plano de Caroline e
Tyler.
Sua voz quase sumiu no final.
-Tenho estado tão assustada desde então... – murmurou, com os
olhos na fita – Assustada
de que se enoje de mim. Assustada pelo que vão fazer. Simplesmente
assustada. Tentei
recuperar o diário, Stefan, inclusive fui a casa de Caroline. Mas
ela o tem muito bem
escondido. E pensei e pensei, e não me ocorre nenhum modo de
impedir que ela o leia. –
Por fim, levantou os olhos para olha-lo. – Sinto muito.
-Tem motivos para sentir! – disse ele sobresaltando-a com sua
veemência.
Elena sentiu que seu rosto se empalideceu. Mas Stefan continuava
falando.
-Devia sentir por ter me escondido algo assim quando eu podia ter
ajudado, Elena. Por que
simplesmente não me contou?
-Porque é tudo culpa minha. E tive um sonho... – tentou descrever
o aspecto dele nos
sonhos, a amargura, a acusação em seus olhos – Eu acho que
morreria se realmente me
olhasse daquele jeito – concluiu com abatimento.
Mas a expressão de Stefan ao olha-la naquele momento era uma
combinação de alivio e
assombro.
-Então é isso – disse, quase em um sussurro para si mesmo. – Isso
é o que tem inquietado
você.
Elena abriu a boca mas não falou.
-Sabia que algo não ia bem, sabia que me escondia algo. Mas
pensei... – sacudiu a cabeça e
um sorriso tendencioso assomou em seus lábios. – Não importa
agora. Não queria invadir
sua intimidade. Nem sequer queria perguntar. E todo esse tempo
estava preocupada em me
proteger.
A língua de Elena estava pregada no céu da boca. As palavras
também pareciam atoladas.
“Há mais”, pensou, mas não podia dizer, não quando os olhos de
Stefan tinham aquela
olhada, não quando todo seu rosto estava iluminado.
-Quando disse que tínhamos que falar hoje, pensei que havia mudado
de idéia sobre mim –
disse com simplicidade, sem auto compaixão. – E não a teria
culpado. Mas, na verdade... –
voltou a sacudir a cabeça – Elena – disse, e então ela estava em
seus braços.
Era tão prazeroso estar ali, tão como devia ser... Nem se quer se
deu conta de quão mal que
haviam estado as coisas entre eles até aquele momento, em que tudo
que estava mal havia
desaparecido. Isso era o que ela recordava, o que havia sentido na
primeira noite gloriosa
quando Stefan a havia abraçado. Toda a doçura e ternura do mundo
surgindo entre eles.
Estava em casa, no lugar em que pertencia. No lugar em que sempre
pertenceu.
Todo o resto estava esquecido.
Como havia acontecido no principio, Elena sentiu como se quase
pudesse ler os
pensamentos de Stefan. Estavam conectados, era um parte do outro.
Seus corações batiam
no mesmo ritmo.
Só precisava de uma coisa para ser completo. Elena sabia, e
colocou os cabelos para trás,
esticando as mãos para trás para afasta-los do pescoço. E dessa
vez Stefan não protestou e
nem impediu. No lugar da rejeição irradiava uma profunda
aceitação... e uma intensa
necessidade.
Sentimentos de amor e deleite, de reconhecimento, a invadiram e
com um jubilo incrédulo
notou que os sentimentos provinham dele. Por um momento se viu
através de seus olhos e
percebeu o quanto ela importava a ele. Podia ter sido aterrador
ela não ter sentido um
sentimento igual e profundo se desenvolvendo nele.
Não sentiu dor quando os dentes perfuraram seu pescoço. E nem
sequer lhe ocorreu que o
havia oferecido sem pensar o lado sem marcas... apesar de que as
feridas que Damon havia
deixado já haviam curado.
Se apertou contra ele quando tentou alçar a cabeça. Mas Stefan se
mostrou inflexível e
finalmente ela teve que deixa-lo ir. Ainda a abraçando, ele tateou
em cima da penteadeira
em busca da afinada adaga de cabo de marfim e com um rápido
movimento deixou fluir seu
próprio sangue.
Quando os joelhos de Elena começaram a dobrar, ele a sentou na
cama. E então se
limitaram a permanecer abraçados, sem ter consciência da hora ou
de qualquer outra coisa.
Elena sentia que só Stefan e ela importavam.
-Eu amo você – disse ele em voz baixa.
No inicio, Elena, em sua agradável nebulosa, simplesmente aceitou
as palavras. Logo, com
um calafrio de doçura, reparou em que ele havia dito.
A amava. Sabia disso desde sempre, mas ele jamais havia dito
antes.
-Eu amo você, Stefan – murmurou de volta.
Se surpreendeu quando ele se removeu e se afastou ligeiramente,
até que viu o que fazia.
Introduzindo a mão no interior do suéter, Stefan tirou o cordão
que levava no pescoço
desde que ela o conhecia. No cordão havia um anel de ouro,
lindamente forjado e com um
lápis-lázuli pendurado.
O anel de Katherine. Enquanto Elena observava, ele puxou o cordão
e o abriu, retirando o
delicado aro de ouro.
-Quando Katherine morreu – disse -, pensei que jamais pudesse amar
mais alguém. Ainda
sabendo que ela queria que eu amasse, estava certo que isso jamais
aconteceria. Mas me
equivoquei.
Vacilou um momento e logo seguiu:
-Conservei o anel porque era um símbolo dela. Para poder tê-la
sempre em meu coração.
Mas agora eu quero que seja um símbolo de algo mais. – De novo
vacilou, parecendo quase
temeroso de encontrar os olhos de Elena. – Considerando o modo em
que estão as coisas,
não tenho nenhum direito de lhe pedir isso. Mas, Elena...
Lutou durante uns poucos minutos e logo se deu por vencido, seus
olhos travando-se com
os dela silenciosamente.
Elena foi incapaz de falar. Não podia respirar. Mas Stefan mal
interpretou o silêncio. A
esperança em seus olhos morreu e abaixou a cabeça.
-Tem razão – disse. – É impossível. Simplesmente, existem muitas
dificuldades... devido a
mim. Pelo que sou. Ninguém como você deveria estar atada a alguém
como eu. Nem sequer
deveria ter sugerido...
-Stefan! – disse Elena. – Stefan, quer se calar por um momento...
-...esqueça o que eu disse...
-Stefan! – disse ela. – Stefan, olhe para mim.
Lentamente, ele obedeceu, levantando a cabeça. A olhou nos olhos e
a amarga auto-censura
se desvaneceu em seu rosto para ser envolvia em uma expressão que
a fez ficar sem alento.
Então, ainda muito devagar, pegou a mão que ela o tendia.
Pausadamente, enquanto ambos
observavam, deslizou o anel em seu dedo.
Encaixou como se tivesse sido feito para ela. O ouro cintilou
suntuosamente na luz e o
lápis-lázuli brilhou com um azul vibrante como um lago
transparente rodeado de neve
virgem.
-Teremos que guardar segredo por um tempo – disse ela escutando o
tremor da sua voz. –
Tia Judith terá um ataque se souber que me comprometi antes de me
graduar. Mas
completarei dezoito anos no próximo verão e então não poderá nos
deter.
-Elena, está certa de que é isso que você quer? Não será fácil
viver comigo. Sempre serei
diferente de você não importa o quanto eu tente. Se quiser mudar
de idéia...
-Enquanto me ame, jamais mudarei de idéia.
Voltou a toma-la em seus braços e a paz e a satisfação a
envolveram. Mas ainda existia um
temor que corroia os limites de sua consciência.
-Stefan, sobre amanhã..., se Caroline e Tyler levarem a cabo seus
planos, não importará.
-Então simplesmente teremos que nos assegurar de que não possam
faze-lo. Se Bonnie e
Meredith quiserem me ajudar, eu acho que posso armar um modo de
obter o diário de
Coraline. Mas mesmo que não possa, não vou fugir. Não vou
deixa-la, Elena, vou ficar e
lutar.
-Mas machucarão você. Stefan, Não posso suportar isso.
-E eu não posso deixar você. Está decidido. Deixe que eu me
preocupo com o resto,
encontrarei um modo. E se não fizer..., bom, aconteça o que
acontecer, ficarei do seu lado.
Estaremos juntos.
-Estaremos juntos – repetiu Elena e apoiou a cabeça em seu ombro,
feliz de deixar de
pensar por um momento e simplesmente ser.
Sexta, 29 de novembro
Querido diário
É tarde, mas não conseguia dormir. Não pareço precisar de dormir
tanto como
acostumava.
Bom, amanhã é o dia.
Falamos com Bonnie e Meredith esta noite. O plano de Stefan é o
mais simples. A questão
é que não importa onde Caroline tenha escondido o diário, tem que
tira-lo amanhã para
leva-lo com ela: nossas leituras são as ultimas coisas da agenda e
ela tem que estar no
desfile e resto dos atos que acontecem antes, portanto terá que
esconder o diário em
alguma parte durante esse tempo. De modo que se vigiarmos desde o
momento em que saia
de casa até que suba no cenário, temos que ver aonde ela o põe. E
posto que nem sequer
sabe que suspeitamos, não estará de guarda.
Então é quando pegaremos.
O motivo pelo qual o plano funcionará é que todo mundo no programa
irá vestido de
época. A Sra. Grimesby,a bibliotecária, nos ajudará a colocar as
roupas do século XIX
antes do desfile, e não podemos levar nada que não seja parte do
traje. Nem bolsas, nem
mochilas. Nem diários! Caroline terá que deixa-lo em alguma parte
em algum momento.
Vamos nos revezar para vigia-la. Bonnie a esperará fora de sua
casa e verá o que
Caroline leva quando sair. Eu a vigiarei quando for se vestir na
casa da Sra. Grimesby.
Então enquanto está no desfile, Stefan e Meredith na casa ou no
carro dos Forbes, se for
lá onde está... farão sua parte.
Não vejo como posso falhar. E não posso dizer o quão melhor me
sinto. É tão agradável
poder compartilhar esse problema com Stefan... Aprendi minha
lição: nunca mais voltarei
a esconder coisas dele.
Usarei meu anel amanhã. Se a Sra. Grimesby perguntar sobre ele,
lhe direi que é mais
antigo que o século XIX, que é do Renascimento italiano. Gostarei
de ver sua cara quando
eu lhe disser isso.
Será melhor que eu tente dormir um pouco. Espero que não sonhe.
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Capítulo Quatorze
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Bonnie tremeu enquanto aguardava na frente da alta casa vitoriana.
O ar estava gelado essa
manhã e ainda que fosse quase oito da manhã, o sol ainda não
saíra. O céu era uma espessa
massa de nuvens cinzas e brancas que criavam uma penumbra
fantasmal abaixo delas.
Havia começado a dar pisadas no chão e a friccionar as mãos quando
a porta dos Forbes se
abriu. Bonnie retrocedeu um pouco para atrás dos arbustos que
constituíam seu esconderijo
e observou como a família ia até o carro. O Sr. Forbes não levava
mais do que uma câmera,
a Sra. Forbes tinha uma bolsa e uma cadeira montável, Daniel
Forbes, o irmão pequeno de
Caroline carregava outra cadeira. E Caroline...
Bonnie se inclinou para frente, sua respiração acelerando em
satisfação. Caroline estava
vestida com um jeans e um suéter pesado e levava uma espécie de
bolsa branca fechado
com um cordão. Não era muito grande, mas era o bastante para
conter um pequeno diário.
Reconfortada com o triunfo, Bonnie aguardou atrás do matagal até
que o carro se afastasse.
Logo depois foi até a esquina da rua Thrush com Hawthorne Drive.
-Ali está, tia Judith. Na esquina.
O carro diminuiu até parar e Bonnie deslizou no assento junto a
Elena.
-Ela leva uma bolsa branca fechada com um cordão – murmurou no
ouvido de Elena
enquanto tia Judith voltava a arrancar.
Um formigamento de entusiasmo percorreu Elena, que apertou a mão
da amiga.
-Estupendo – suspirou. – Agora vemos se ela o leva para a casa da
Sra. Grimesby. Se não,
dizemos a Meredith que está no carro.
Bonnie assentiu e apertou a mão de Elena.
Chegaram a casa da Sra. Grimesby a tempo de ver Caroline entrar
com a bolsa branca
pendurada no braço. Bonnie e Elena se olharam. Agora era Elena que
tinha que ver onde
Caroline a deixava no interior da casa.
-Ficarei aqui também, Srta. Gilbert – disse Bonnie enquanto Elena
saltava do carro.
Ela aguardaria no exterior com Meredith até que Elena pudesse
dizer onde estava a bolsa. O
importante era não deixar que Caroline suspeitasse de nada
diferente.
A Sra. Grimesby que foi quem abriu a porta para Elena, era a
bibliotecária de Fell’s Church
e sua casa quase parecia uma biblioteca. Havia livros por todas as
partes e livros
amontoados no chão. Também era a guardiã dos artefatos históricos
de Fell’s Church,
incluindo roupas que estavam conservadas desde os primeiros tempos
da cidade.
Naquele momento na casa, ressoavam vozes juvenis e os quartos
estavam cheios de
estudantes em diversas fases de nudez. A Sra. Grimesby sempre
supervisionava as roupas
do espetáculo histórico. Elena estava a ponto de pedir que a
colocassem no mesmo quarto
que Caroline, mas não foi necessário. A Sra. Grimesby a fez
entrar.
Caroline que estava com as roupas intimas da ultima moda, dedicou
a Elena o que sem
duvida devia ser um olhar indiferente, mas Elena detectou o
malicioso deleite oculto nela e
manteve os olhos nos montes de peças de roupas que a Sra. Grimesby
estava recolhendo da
cama.
-Aqui está, Elena. Uma das nossas peças mais primorosamente
conservadas... e toda ela é
autentica, inclusive as faixas. Acreditamos que este vestido
pertenceu a Honoria Fell.
-É bonito – disse Elena enquanto a Sra. Grimesby sacudia as pregas
do fino material
branco. – De que é feito?
-Muselina de Moravia e gaze de seda. Posto que hoje faz bastante
frio, pode levar esta
jaqueta de veludo por cima.
A bibliotecária indicou uma peça de roupa cor de rosa cinzento que
descansava no respaldo
de uma cadeira.
Elena dirigiu uma olhada secreta a Caroline enquanto começava a se
trocar. Sim, ali estava
a bolsa, aos pés de Caroline. Considerou a idéia de balançar-se
sobre ele, mas a Sra.
Grimesby ainda estava no quarto.
O vestido de musselina era muito simples e o material vaporoso
estava com o cinto muito
alto, abaixo os seios com uma fita rosa pálida. As mangas
ligeiramente fofas terminavam
atadas em uma fita de mesma cor. A moda havia sido bastante
folgada no principio do
século XIX e ficavam bem em uma garota do século XX, ao menos se
essa fosse magra.
Elena sorriu quando a Sra. Grimesby as conduziu a um espelho.
-Realmente pertenceu a Honoria Fell? – perguntou pensando na
imagem de mármore
daquela dama que jazia em sua tumba da igreja em ruínas.
-Essa é a historia, pelo menos – disse a Sra. Grimesby. – Menciona
um vestido assim em
seu diário, de modo que estamos bastante certos.
-Escrevia um diário – sobresaltou-se Elena.
-Ah sim. O tenho na vitrine da sala de estar, o mostrarei quando
sairmos. Agora, a jaqueta...
Ora, o que é isto?
Algo violeta caiu no chão quando Elena levantou a jaqueta.
A garota sentiu como sua expressão se congelava. Pegou a nota
antes que a Sra. Grimesby
pudesse inclinar-se até ela e o tirou em uma olhada.
Uma linha. Recordou tê-la escrito em seu diário no dia 4 de
setembro, o primeiro dia de
aula. Só que após tê-la escrito a havia riscado. Aquelas palavras
não estavam riscadas
agora, estavam bem traçadas e claras.
“Algo horrível irá acontecer hoje”.
Elena apenas pode se conter para não ir para cima de Caroline e
passar a nota em seu rosto.
Mas isso estragaria tudo. Se obrigou a permanecer tranqüila
enquanto amassava a pequena
tira de papel e a jogava na lixeira.
-Não é mais do que lixo – disse e se virou novamente para a
mulher, com os ombros muito
tensos.
Caroline não disse nada, mas Elena sentiu aqueles olhos verdes
triunfarem sobre a sua
pessoa.
“Espera e verá – pensou. – Espera até que eu consiga recuperar
esse diário. O queimarei e
logo eu e você teremos uma conversa”.
A Sra. Grimesby ela disse:
-Estou pronta.
-Eu também – disse Caroline em um tom de voz recatado.
Elena adotou um olhar frio e indiferente enquanto contemplava o
vestido da outra garota. O
traje verde pálido de Caroline com largas fitas verdes e brancas
não era tão bonito quanto o
seu.
-Maravilhoso. Vocês, garotas, vão na frente e aguardem seus
veículos. Ah, Caroline, não
esqueça sua reticula (espécie de bolsa reticulada).
-Não esquecerei – respondeu, sorrindo e esticou o braço para pegar
a bolsa aos seus pés
fechada com um cordão.
Foi uma sorte que naquela posição na pudesse ver o rosto de Elena,
porque naquele instante
sua indiferença se fez por completo. Elena ficou olhando-a
atônita, enquanto Caroline
começava a atar a bolsa em sua cintura.
Seu assombro não passou despercebido pela Sra. Griemsby.
-Isso é um reticulo, o antepassado da nossa moderna bolsa feminina
– explicou com
amabilidade a mulher. – As senhoras guardavam suas luvas e leques
neles. Caroline passou
por aqui e o levou no inicio da semana para reparar uns bordados
que faltavam miçangas...
que foi muita consideração de sua parte.
-Estou certa disso – conseguiu dizer Elena com a voz afogada.
Tinha que sair dali ou algo horrível aconteceria naquele mesmo
momento. Ia gritar ou atirar
Caroline no chão ou explodir.
-Preciso de um pouco de ar fresco – disse.
Saiu disparada do quarto e da casa, irrompendo na rua.
Bonnie e Meredith aguardavam no carro de Meredith. O coração de
Elena martelava de um
modo estranho enquanto andava até ele e se inclinava sobre a
janela.
-Foi mais rápida que nós – disse me voz baixa. – Essa bolsa é
parte do seu traje e vai levalo
com ela o dia todo.
Bonnie e Meredith arregalaram os olhos primeiro para olha-la e
logo para olhar uma a
outra.
-Mas... então, o que vamos fazer? – perguntou Bonnie.
-Não sei – com angustiada consternação, Elena foi plenamente
consciente do fim. – Não
sei!
-Ainda podemos vigia-la. Além do mais ela tirará a bolsa quando
for almoçar ou algo...
Mas a voz de Meredith soou oca. Todas sabiam a verdade, se disse
Elena, e a verdade era
que não havia esperança. Tinham perdido.
Bonnie deu uma olhada no retrovisor e logo se retorceu em seu
assento.
-É a sua carruagem.
Elena olhou. Dois cavalos brancos vinham pela rua puxando uma
carruagem elegantemente
renovada. As rodas da carruagem levavam grinaldas de papel crepom
entrelaçadas nelas, os
assentos estavam decorados com samambaias e uma grande faixa na
lateral proclamava: O
Espírito de Fell’s Church.
Elena só teve tempo de uma mensagem desesperada.
-Vigie ela – disse. – E se em algum momento tiver um instante em
que estiver só...
Então teve que ir.
Mas durante aquela larga e terrível manhã não houve nunca um
momento em que Caroline
estivesse só. Esteve rodeada por uma multidão de espectadores.
Para Elena, o desfile foi uma total tortura. Permaneceu sentada na
carruagem junto ao
prefeito e sua esposa, tentando sorrir, tentando parecer normal.
Mas o angustioso temor era
como um peso esmagador em seu peito.
Em algum lugar na frente, entre as bandas, grupos uniformizados e
conversíveis que
desfilavam, estava Caroline. Elena havia se esquecido de averiguar
em que carruagem ela
estava. A carruagem da escola, talvez; uma grande maioria das
crianças pequenas estariam
nessa.
Não importava. Onde for que Caroline estivesse, estava a vista de
meia cidade.
O almoço que seguiu o desfile foi celebrado no refeitório da
escola secundaria e Elena se
viu presa em uma mesa com o prefeito Dawley e sua esposa. Caroline
estava numa mesa
próxima. Elena podia ver a brilhante parte posterior de sua
cabeleira caju. E sentado ao seu
lado, inclinado-se posessivamente sobre ela, estava Tyler
Smallwood.
Elena estava em uma posição perfeita para ver o pequeno drama que
teve lugar mais ou
menos a metade do almoço. Seu coração foi a boca quando viu Stefan
que, com expressão
indiferente, passava junto a mesa de Caroline.
Falou com Caroline. Elena observou, esquecendo inclusive de
brincar com a comida intacta
no prato. Mas o que veio fez sua alma cair em seus pés. Caroline
balançou a cabeça,
respondeu brevemente e logo regressou a sua comida. E Tyler se
levantou pesadamente, o
rosto avermelhado quando fez um gesto enraivecido. Não voltou a
sentar-se até que Stefan
se afastasse.
Stefan olhou em direção a Elena ao caminhar e em um momento seus
olhos se encontraram
em muda comunicação.
Não havia nada que ele pudesse fazer, então. Mesmo se seus Poderes
tivessem voltado,
Tyler o manteria longe de Caroline. O esmagador peso oprimiu os
pulmões de Elena de tal
modo que apenas pode respirar.
Depois disso, se limitou a permanecer sentada, presa do abatimento
e do desespero até que
alguém lhe deu um tapinha e lhe indicou que era hora de ir para os
bastidores.
Escutou quase com indiferença o discurso de boas vindas do
prefeito Dawley, que falou
sobre os “duros momentos” que Fell’s Church havia enfrentado
recentemente e sobre o
espírito de comunidade que os sustentou nos últimos meses. Depois
entregaram os prêmios,
por erudição, proezas atléticas, serviços a comunidade... Matt
subiu para receber o de Atleta
Masculino Excepcional do Ano e Elena viu que ele a olhava com
curiosidade.
Logo teve lugar a representação histórica. As crianças da escola
elemental riram, deram
tropeções e esqueceram suas falas enquanto representavam as cenas
desde a fundação de
Fell’s Church até a Guerra de Secessão. Elena contemplou sem
assimilar nada daquilo.
Desde a noite anterior estava se sentindo ligeiramente enjoada e
com tremores e naquele
momento se sentia como se estivesse gripando. Sua mente que
geralmente estava repleta de
planos e cálculos, estava vazia. Não conseguia pensar. Quase nem
se importava.
A representação terminou com uma centelha de flashes e tumultuosos
aplausos. Quando o
ultimo soldado confederado abandonou o palco, o prefeito Dawley
pediu silêncio.
-E agora – disse -, os alunos que fizeram a cerimônia de clausura.
Por favor, mostre seu
reconhecimento ao Espírito de Independência, ao Espírito de
Fidelidade, ao Espírito de
Fell’s Church!
Os aplausos foram ainda mais estrondosos. Elena se colocou de pé
junto a John Clifford, o
inteligente aluno do ultimo ano que havia sido elegido para
representar o Espírito de
Independência. Ao lado de John estava Caroline. De um jeito
distante, quase apático, Elena
notou que Caroline parecia esplendida: a cabeça inclinada para
trás, os olhos chamativos, as
bochechas rosadas.
John avançou primeiro, ajustando os óculos e o microfone antes de
ler o grosso livro
marrom situado sobre o átrio. Oficialmente, os alunos do ultimo
ano eram livres para
escolher suas próprias seleções. Na pratica, quase sempre liam
algo das obras de M.C.
Marsh, o único poeta que Fell’s Church produziu.
Durante toda a leitura de John, Caroline tratou de olha-lo.
Sorriu, sacudiu os cabelos,
suspendeu o reticulo que carregava na cintura. Seus dedos
acariciaram amorosamente a
bolsa e Elena se encontrou olhando fixamente, hipnotizada,
memorizando cada miçanga.
John fez uma reverência e voltou a seu posto ao lado de Elena.
Caroline ergueu os ombros e
avançou como uma modelo até o átrio.
Nesse momento os aplausos se misturam com assovios. Mas Caroline
não sorriu; havia
adotado um ar de trágica responsabilidade. Com o delicioso sentido
do momento aguardou
até que a sala ficasse em perfeito silêncio para falar.
-Minha intenção era ler um poema de M.C.Marsh hoje – disse perante
o atento silêncio -,
mas não vou ler. Por que ler isso – levantou o volume de poesia do
século XIX – quando há
algo muito mais... relevante... em um livro que tive a casualidade
de encontrar?
“Que deu a casualidade de roubar, quer dizer”, pensou Elena. Seus
olhos buscaram entre os
rostos da multidão e localizou Stefan. Estava de pé no fundo, com
Bonnie e Meredith
postadas uma a cada lado como se o protegessem. Então Elena
reparou em algo mais.
Tyler, junto a Dick e varios outros garotos, estavam de pé poucos
metros mais atrás. Os
garotos eram de mais idade que os secundaristas e pareciam rudes e
eram cinco.
“Viu”, pensou Elena, voltando a encontrar os olhos de Stefan.
Desejou que compreendesse
o que dizia. “Viu, Stefan; por favor, vá embora antes de que
aconteça. Vá agora!”
De um modo muito leve, quase imperceptível, Stefan negou com a
cabeça.
Os dedos de Caroline submergiram na bolsa como se não pudesse mais
esperar.
-O que vou ler é sobre Fell’s Church de hoje, não há cem ou
duzentos anos – dizia,
consumindo-se em uma espécie de exultação febril. - É importante
agora, porque trata de
alguém que vive na cidade conosco. Na verdade, ele está aqui,
nesse local.
Tyler devia ter escrito o discurso, decidiu Elena. O mês anterior,
no ginásio, havia mostrado
um dom único para esse tipo de coisa. “Ah Stefan, ah Stefan, estou
assustada...” seus
pensamentos se transformaram em incoerências quando Caroline
afundou a mão na bolsa.
-Eu acho que irão compreender a que me refiro quando escutem –
disse e com um rápido
gesto extraiu um livro coberto de veludo e o levantou
teatralmente. – Acredito que
explicará muito do que tem acontecido em Fell’s Church
recentemente.
Respirando rápida e superficialmente passou os olhos do auditório
ao livro.
Elena quase desmaiou quando Caroline tirou o diário. Brilhantes
centelhas percorreram nas
bordas de sua visão e o enjôo rugiu, pronto para arrebatar Elena,
e então ela notou algo.
Deviam ser seus olhos. As luzes do cenário e os flashes sem duvida
a haviam deslumbrado.
Ela se sentia a ponto de desmaiar; não se surpreendia em absoluto
que não pudesse ver a
claridade.
O livro que Caroline tinha nas mãos parecia verde e não azul.
“Devo está ficando louca... ou isto é um sonho... ou talvez um
truque de luzes. Mas, olhe a
cara de Caroline!”
Caroline com a boca abrindo e fechando-se, contemplava fixamente o
livro de veludo.
Parecia ter esquecido completamente o público. Girou o diário uma
e outra vez entre as
mãos, olhando para todos os lados. Seus movimentos se tornarem
frenéticos. Introduziu
violentamente uma mão no reticulo como se de algum modo esperasse
encontrar algo mais
nele. Então passou uma olhada enlouquecida pelo cenário, como se o
que buscasse pudesse
ter caído no chão.
O público murmurava, se impacientava. O prefeito Dawley e o
diretor da escola secundaria
intercambiaram olhadas de desaprovação com os lábios apertados.
Não encontrando nada no chão, Caroline voltou a olhar com firmeza
o pequeno livro. Mas
naquele momento o contemplava como se fosse um escorpião. Com um
repentino gesto, o
abriu violentamente e o olhou por dentro, como se sua ultima
esperança fosse que só a capa
tivesse mudado e que as palavras em seu interior pudessem ser de
Elena.
Então levantou devagar os olhos do livro e os dirigiu a lotada
sala.
Havia voltado a fazer silêncio e o momento se prolongou enquanto
todos os olhos
permaneciam fixos na garota de vestido verde pálido. Com um
sorriso inarticulado,
Caroline girou seus calcanhares. Bateu em Elena ao passar. Seu
rosto era uma máscara de
raiva e ódio.
Com delicadeza, com a sensação de flutuar, Elena se inclinou para
recolher aquilo com que
Caroline tentara golpeá-la.
O diário de Caroline.
Havia atividade atrás de Elena enquanto as pessoas corriam atrás
de Caroline e em sua
frente também. A medida que o publico irrompia em comentários,
discussões e dispustas,
Elena localizou Stefan. Seu aspecto parecia como se a alegria o
inundasse, mas também
parecia tão perplexo quanto Elena. Bonnie e Meredith davam a mesma
impressão. Quando
os olhos de Stefan cruzaram com os dela, Elena sentiu uma onda de
gratidão e alegria, mas
sua emoção predominante era a admiração.
Era um milagre. Além de toda a esperança, eles haviam sido
resgatados. Haviam sido
salvos.
E então seus olhos distinguiram outra cabeça escura na multidão.
Damon estava encostado... não, recostado..., na parede norte. Seus
lábios estavam curvados
em um meio sorriso e seus olhos se travavam com os de Elena
descaradamente.
O prefeito Dawley estava naquele momento junto a ela, indo para
frente dela, acalmando a
multidão, tentando restaurar a ordem. Não servia de nada. Elena
leu sua seleção com a voz
distraída a um grupo de pessoas que conversavam sem prestar a
menor atenção; não tinha
nem idéia de que palavras pronunciava. De vez em quando olhava
Damon.
Escutou um aplauso disperso e distraído quando finalizou e o
prefeito anunciou o resto dos
acontecimentos para aquela tarde. E logo tudo terminou e Elena
ficou livre para ir.
Flutuou fora do cenário sem a mínima idéia de onde ia, mas suas
pernas a transportaram
para a parede norte. A cabeça de Damon desapareceu pela porta
lateral e ela o seguiu.
O ar do pátio parecia deliciosamente fresco atrás da abarrotada
sala e as nuvens do céu
eram prateadas e arredondadas. Damon a esperava.
Os passos de Elena perderam velocidade, mas não pararam. Avançou
até ficar somente a
trinta centímetros dele, esquadrinhando seu rosto com os olhos.
Houve um longo momento de silêncio e então ela falou.
-Por que?
-Pensava que estava mais interessada em como. – Apalpou sua
jaqueta significamente. –
Fui convidado a tomar café esta manhã, depois de iniciar uma
relação com eles semana
passada.
-Mas, por que?
Se deu de ombros e durante um instante algo como consternação
apareceu fugazmente em
suas lindas feições desenhadas. A Elena pareceu que ele mesmo
soubesse o motivo... ou
não queria admitir.
-Para meus próprios propósitos – respondeu.
-Não acredito – Algo estava crescendo entre eles, algo que
assustava Elena com seu poder.
– Não acredito que essa seja a razão em absoluto.
Um brilho perigoso apareceu naqueles olhos escuros.
-Não me pressione, Elena.
Ela se aproximou mais, tanto que quase o tocava, e o olhou.
-Eu acho – disse – que talvez precise que eu ti pressione.
Seu rosto estava só a alguns centímetros do dela e Elena jamais
soube o que podia ter
acontecido se naquele momento uma voz não os interrompesse.
-No fim você conseguiu vir! Fico tão feliz!
Era tia Judith. Elena sentiu como se a transladaram a toda
velocidade de um mundo para
outro. Piscou com uma sensação de vertigem, voltando a soltar o ar
que não havia notado
que o prendia.
-E conseguiu ouvir Elena – prosseguiu tia Judith alegremente – Foi
muito bem, Elena, mas
não sei o que aconteceu a Caroline.Todas as garotas dessa cidade
estão agindo como
enfeitiçadas ultimamente.
-Os nervos - sugeriu Damon, com o rosto cuidadosamente solene.
Elena sentiu o impulso de rir tontamente e logo uma onda de
irritação. Tudo bem se sentir
agradecida a Damon por tê-los salvo, mas se não fosse pelo Damon,
não havia existido o
problema. Damon havia cometido os crimes que Caroline queria
culpar Stefan.
-E onde está Stefan? – disse, dando voz a seu seguinte pensamento.
Podia ver Bonnie e Meredith sós.
O rosto de tia Judith mostrou desaprovação.
-Não o vi – disse com tom sucinto e logo sorriu carinhosamente. –
Mas tenho uma idéia:
por que não vem jantar conosco, Damon? Então, talvez você e Elena
possam...
-Pára! – disse Elena a Damon, que se mostrou educadamente
inquisitivo.
-O que? – inquiriu tia Judith.
-Pára! – repetiu Elena a Damon. – Você sabe o que. Pare agora!
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Capítulo Quinze
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“Elena, você está sendo grossa!” Tia Judith raramente ficava
nervosa, mas ela estava
nervosa agora.
“Você está velha demais para esse tipo de comportamento.”
“Não é grosseria! Você não entende–”
“Eu entendo perfeitamente. Você está agindo do mesmo jeito que
agiu quando Damon veio
jantar. Não acha que um convidado merece um pouco mais de
consideração?”
Frustração fluiu por Elena. “Você nem sabe sobre o que está
falando,” ela disse. Isso era
demais. Ouvir as palavras de Damon vindas dos lábios da tia
Judith... era insuportável.
"Elena!" Um rubor matizado estava subindo pelas
bochechas da tia Judith. “Estou chocada
com você! E eu tenho que dizer que esse comportamento infantil só começou depois de
você sair com aquele garoto."
“Ah, ‘aquele garoto’.” Elena olhou para Damon.
“Sim, aquele garoto!” Tia Judith respondeu. “Desde que você ficou
louca por ele você tem
agido como uma pessoa diferente. Irresponsável, reservada – e
desafiadora! Ele está sendo
uma má influência desde o começo, e eu não vou mais tolerar isso.”
“Ah, sério?” Elena sentia como se estivesse falando com Damon e
tia Judith ao mesmo
tempo, e ela olhou para frente e para trás entre os dois. Todas as
emoções que ela estivera
sufocando nos últimos dias – nas últimas semanas, nos meses desde
que Stefan tinha
entrado na vida dela – estavam agitando-se. Era como um grande
maremoto dentro dela,
sobre o qual ela não tinha controle algum.
Ela percebeu que estava tremenedo. “Bem, é uma pena, porque você
vai ter que tolerar isso.
Eu nunca vou abrir mão do Stefan, não por ninguém. Certamente não por você!” Essa
última fora para Damon, mas a tia Judith arfou.
“Já chega!” Robert retrucou. Ele tinha aparecido com Margaret, e
seu rosto estava obscuro.
“Mocinha, se é assim que esse garoto encoraja você a falar com a
sua tia–”
“Ele não é ‘aquele garoto’!” Elena recuou outro passo, para que
pudesse encarar todos.
Ela estava fazendo um espetáculo, todos no pátio estavam olhando.
Mas ela não ligava. Ela
esteve mantendo uma tampa em seus sentimentos por tanto tempo,
empurrando toda a
ansiedade e o medo e a raiva onde não seriam vistos. Toda a
preocupação sobre Stefan,
todo o medo de Damon, toda a vergonha e humilhação que sofria na
escola, ela tinha
enterrado profundamente. Mas agora estava voltando. Tudo, de uma
só vez, em um
redemoinho de violência impossível. Seu coração estava golpeando
loucamente; seus
ouvidos soando.
Ela sentia que nada importava exceto machucar as pessoas que
estavam a sua frente,
mostrar tudo a elas.
“Ele não é ‘aquele garoto’,” ela disse novamente, sua voz
mortalmente gelada. “Ele é
Stefan e ele é tudo para mim. E acontece que eu estou noiva dele.”
“Ah, não seja ridícula!” Robert trovejou. Foi a última gota.
“Isso é ridículo?” Ela ergueu sua mão, seu anel na direção deles.
“Nós vamos nos casar!”
“Você não vai se casar,” Robert começou. Todos estavam furiosos. Damon
agarrou a mão
dela e encarou o anel, então virou abruptamente e caminhou para
longe, cada passo cheio
de selvageria mal dominada. Robert estava balbuciando em
exasperação. Tia Judith estava
fumegando.
“Elena, eu te proíbo absolutamente–”
“Você não é minha mãe!” Elena gritou. Lágrimas estavam tentando se forçar para fora dos
olhos dela. Ela precisava fugir, ficar sozinha, ficar com alguém
que a amasse. “Se Stefan
perguntar, eu estarei na pensão!” ela acrescentou, e escapou pela
multidão.
Ela meio que esperava que Bonnie ou Meredith a seguisse, mas ela
ficou feliz por elas não
terem-no feito.
O estacionamente estava cheio de carros mas quase vazio de
pessoas. A maioria das
famílias ia ficar para as atividades da tarde. Mas um Ford sedan
acabado estava estacionado
perto, e uma figura familiar estava destrancando a porta.
"Matt! Você está indo embora?” Ela tomou sua decisão
instantaneamente. Estava frio
demais para andar até a pensão.
“Hã? Não, eu tenho que ajudar o Treinador Lyman a desmontar as
mesas. Eu só estou
colocando isso de lado.” Ele jogou a placa de Atleta Excepcional
no assento dianteiro. “Ei,
você está bem?” Os olhos dele se arregalaram ao ver o rosto dela.
“Sim–não. Eu ficarei se puder sair daqui. Olha, posso pegar o seu
carro? Só por um
instantinho?”
“Bem... claro, mas… já sei, por que você não me deixa te levar? Eu
vou dizer ao Treinador
Lyman.”
“Não! Eu só quero ficar sozinha… Ah, por favor não faça
perguntas.” Ela quase apanhou as
chaves da mão dele. “Eu trarei de volta em breve, prometo. Ou
Stefan trará.
Se você vir Stefan, diga a ele que eu estou na pensão. E
obrigada.” Ela bateu a porta nos
protestos dele e colocou o motor para funcionar, saindo com um
encontro de marchas
porque ela não estava acostumada ao câmbio manual. Ela o deixou de
pé lá encarando-a.
Ela dirigiu sem realmente ver ou ouvir nada do lado de fora,
chorando, presa em seu
próprio tornado giratório de emoções. Ela e Stefan iriam fugir...
Eles iriam casar em
segredo… Eles mostrariam a todos. Ela nunca colocaria os pés em
Fell’s Church
novamente.
E então tia Judith se arrependeria. Então Robert veria o quão
errado ele estivera. Mas Elena
nunca perdoaria-os. Nunca.
Quanto a própria Elena, ela não precisava de ninguém. Ela
certamente não precisava de um
velho colégio Robert E. Lee estúpido, de onde você podia ir de
mega-popular para pária
social em um dia só por amar a pessoa errada. Ela não precisava de
família, ou de amigos,
tampouco...
Diminuindo para cruzar a entrada espiralada da pensão, Elena
sentiu seus pensamentos
diminuírem, também.
Bem... ela não estava brava com seus amigos. Bonnie e Meredith não
tinham feito nada. Ou
Matt. Matt era bacana. De fato, ela talvez não precisasse dele mas
seu carro veio em boa
hora.
Apesar de si mesma, Elena sentiu uma risada abafada subir em sua
garganta. Pobre Matt.
As pessoas estavam sempre emprestando seu dinossauro metálico que
ele chamava de
carro. Ele devia achar que ela e Stefan eram birutas.
A risada deixou escorregar mais algumas lágrimas e ela sentou e as
limpou, balançando sua
cabeça. Ah, Deus, como as coisas ficaram desse jeito? Que dia. Ela
deveria estar tendo uma
festa da vitória porque tinha superado Caroline, e ao invés ela
estava chorando sozinha no
carro de Matt.
Caroline tinha parecido muito engraçada, contudo. O corpo de Elena sacolejou
gentilmente
com gargalhadas ligeiramente histéricas. Ah, o olhar no rosto
dela. É melhor que alguém
tenho o vídeo disso.
Por fim os soluços e risadas acalmaram-se e Elena sentiu um banho
de cansaço. Ela se
inclinou contra o volante tentando não pensar em nada por um
tempo, e então ela saiu do
carro.
Ela entraria e esperaria por Stefan, e ambos iriam voltar e lidar
com a bagunça que ela
fizera.
Iria exigir muito limpeza, ela pensou desgastadamente. Pobre tia
Judith. Elena tinha gritado
com ela na frente de metade da cidade.
Por que ela tinha se deixado ficar tão chateada? Mas suas emoções
ainda estavam perto da
superfície, como ela tinha achado quando a porta da pensão estava
trancada e ninguém
atendia a campainha.
Ah, maravilha, ela pensou, seus olhos pinicando novamente. A Sra.
Flowers tinha ido na
celebração do Dia do Fundador, também. E agora Elena tinha a
escolha de sentar no carro
ou ficar de pé aqui na tormenta.
Era a primeira vez que ela notava o clima, mas quando ela notou
ela olhou ao redor em
alarme.
O dia tinha começado nublado e gelado, mas agora havia uma neblina
flutuando junto ao
chão, como se soprada dos campos ao redor. As nuvens não estavam
simplesmente
serpenteando, elas estavam fervilhando. E o vento estava ficando
mais forte.
Ele gemia pelos galhos das árvores de carvalho, rasgando as folhas
que sobravam e
mandando-as para baixo como uma ducha. O som estava crescendo
regularmente agora,
não simplesmente um gemido mas um rosnado.
E havia outra coisa. Uma coisa que vinha não só do vento, mas do
próprio ar, ou do espaço
ao redor do ar. Uma sensação de pressão, de ameaça, de alguma
força inimaginável. Estava
reunindo poder, aproximando-se, fechando o cerco.
Elen girou para encarar as árvores de carvalho.
Havia muitas de pé atrás da casa, e mais além, sangrando na
floresta. E além havia o rio e o
cemitério.
Algo... estava lá for a. Algo... muito ruim…
“Não,” sussurrou Elena. Ela não conseguia ver, mas ela conseguia
sentir, como alguma
grande forma elevando-se para ficar sobre ela, apagando o céu. Ela
sentiu a maldade, o
ódio, a fúria animal.
Sede de sangue. Stefan tinha usado a palavra, mas ela não tinha
entendido. Agora ela sentia
essa sede de sangue... focada nela.
“Não!”
Mais e mais, estava se elevando sobre ela. Ela ainda não conseguia
ver nada, mas era como
se grandes asas se abrissem, esticando-se para tocar o horizonte
de ambos os lados. Algo
com um Poder além da compreensão... e queria matar…
“Não!” Ela correu para o carro bem quando aquilo inclinou-se e
mergulhou para ela. Suas
mãos rasparam na maçaneta, e ela lutou freneticamente com as
chaves. O vento estava
gritando, berrando, rasgando no cabelo dela. Gelo arenoso gotejou
nos olhos dela, cegandoa,
mas então a chave virou e ela deu um sacolejo para abrir a porta.
Salva! Ela fechou a porta novamente e golpeou a tranca com seu
punho.
Então ela se jogou pelo assento para checar as trancas do outro
lado.
O vento rugia com mil vozes do lado de fora. O carro começou a
balançar.
“Pare com isso! Damon, pare com isso!” Seu diminuto choro estava
perdido na cacofonia.
Ela colocou suas mãos no painel como se para equilibrar o carro e
ele balançou mais forte,
gelo atirando-se contra ele.
Então ela viu algo. A janela traseiro estava nublando-se, mas ela
conseguia discernir a
forma através dela. Pareciua com algum grande pássaro feito de
névoa ou neve, mas os
contornos estavam turvos. Tudo que ela sabia era que tinha enormes
asas envolventes... e
que estava indo na direção dela.
Coloque a chave na ignição. Coloque! Agora vá! A mente dele estava
jogando ordens nela.
O antigo Ford ofegou e os pneus gritaram mais alto que o vento
enquanto ela caía fora. E a
forma atrás dela a seguiu, ficando maior e maior no espelho
retrovisor.
Vá para a cidade, vá até Stefan! Vá! Vá! Mas a medida que ela
entrava na Estrada Old
Creek, virando a esquerda, os pneus travando, um raio de luz
dividiu o céu.
Se ela já não estivesse escorregando e freiando, a árvore teria
caído em cima dela.
Como era de se esperar, o impacto violento chacoalhou o carro como
um terremoto,
errando o parachoque dianteiro por centímetros. A árvore era uma
massa de galhos pesados
e levantados, seu tronco bloqueando o caminho de volta para a
cidade completamente.
Ela estava presa. Sua única rota para casa fora cortada. Ela
estava sozinha, não havia
escapatória desse terrível Poder...
Poder. Era isso; essa era a chave. “Quanto mais fortes
são seus Poderes são, mais as regras
da escuridão se vinculam a você.”
Água corrente!
Colocando o carro em marcha ré, ela o virou e então golpeou ele
para frente.
A forma branca voou e desceu, errando-a por tão pouco quanto a
árvore tinha, e então ela
estava acelerando pela Estrada Old Creek na pior parte da
tempestade.
Ainda estava atrás dela. Só um pensamento golpeava o cérebro de
Elena agora. Ela tinha
que cruzar a água corrente, deixar essa coisa para trás.
Houve mais explosões de raios, e ela olhou outras árvores caindo,
mas ela desviou ao redor
delas. Não podia estar longe agora. Ela conseguia ver o rio
relampejando no seu lado
esquerdo através da tempestade de gelo. Então ela viu a ponte.
Estava lá; ela conseguira chegar! Uma rajada jogou chuva com neve
no para-brisa, mas
com o próximo golpe do limpador de para-brisa ela conseguiu ver
fugazmente de novo. Era
isso, a curva devia estar por aqui.
O carro recuou e derrapou na estrutura de madeira. Elena sentiu as
rodas agarrarem plantas
escorregadias e então sentiu elas travarem. Desesperadamente, ela
tentou virar com a
derrapagem, mas ela não conseguia ver e não havia espaço.
E então ela estava batendo no parapeito, a madeira podre da
passarela cedendo sobre o peso
que não mais conseguia suportar.
Houve uma sensação doentia de giro, de cair, e então o carro
atingiu a água.
Elena ouviu gritos, mas eles não pareciam estar conectados aos
dela. O rio subiu ao seu
redor e tudo estava barulhento e confuso e dolorido. Um vidro
quebrou a medida que era
acertado por escombros, e então outro. Água escuro jorrou ao seu
redor, junto com vidro
como gelo. Ela estava engolfada. Ela não conseguia ver; ela não
conseguia sair.
E ela não conseguia respirar. Ela estava perdida nesse tumulto
infernal, e não havia ar.
Ela tinha que respirar. Ela tinha que
sair daqui...
“Stefan, me ajude!” ela gritou.
Mas seu grito não fez som algum. Ao invés, a água gelada
apressou-se em seus pulmões,
invadindo-a. Ela lutou contra ela, mas era forte demais para ela.
Suas lutas tornaram-se
mais selvagens, mais descoordenadas, e então elas pararam.
Então tudo ficou quieto.
Bonnie e Meredith estava caçando pelo perímetro da escola
impacientemente.
Elas tinham visto Stefan vir por aqui, mais ou menos coagido por
Tyler e seus novos
amigos.
Elas tinham começado a seguí-lo, mas então o negócio com Elena
começou. E então Matt
as informou que ela tinha se mandado. Então ela foram atrás de
Stefan de novo, mas
ninguém estava aqui fora. Não havia nem mesmo nenhum prédio com
exceção de um
solitário de um barracão Quonset.
“E agora vem vindo uma tempestade!” Meredith disse. “Escute o
vento! Eu acho que vai
chover.”
“Ou nevar!” Bonnie estremeceu. “Onde eles foram?”
“Eu não ligo; eu só quero ir para baixo de um telhado. Lá vem!”
Meredith arfou quando a
primeira camada de chuva gelada a acertou, e ela e Bonnie correram
para o abrigo mais
próximo – o barracão Quonset.
E foi lá que elas encontraram Stefan. A porta estava entreaberta,
e quando Bonnie olhou
para dentro ela horrorizou-se.
“Tyler tem um esquadrão de valentões!” ela sibilou. “Olhe lá!”
Stefan tinha um semicírculo de caras entre ele e a porta. Caroline
estava no canto.
“Ele deve estar com ele! Ele o tomou de algum jeito; eu sei que
ele o fez!” ela estava
dizendo.
“Tomou o quê?” disse Meredith, audivelmente. Todos viraram na
direção delas.
O rosto de Caroline contorceu-se quando ela as viu na entrada e
Tyler rangeu os dentes.
“Caiam fora.” Ele disse. “Você não quer se envolver nisso.”
Meredith ignorou-o. “Stefan, posso falar com você?”
“Em um minuto. Você vai responder a pergunta dela? Tomou o quê?”
Stefan estava
concentrando-se em Tyler, totalmente focado.
“Claro, eu responderei a pergunta dela. Logo depois de responder a
sua.” A mão carnuda de
Tyler espancou seu punho e ele deu um passo para frente. “Você vai
virar comida de
cachorro, Salvatore.”
Vários dos caras durões deram risada.
Bonnie abriu sua boca para dizer, “Vamos cair fora daqui.” Mas o que ela realmente disse
foi, “A ponte.”
Foi estranho o bastante para fazer todos olharem para ela.
“O quê?” disse Stefan.
“A ponte,” disse Bonnie novamente, sem querer dizê-lo. Seus olhos
inflaram, alarmados.
Ela conseguia ouvir a voz vindo de sua garganta, mas ela não
possuia controle sobre ela. E
então ela sentiu seus olhos ficarem arregalados e sua boca abrir e
ela teve sua própria voz
de volta. “A ponte, ah, meu Deus, a ponte! É onde Elena está!
Stefan, você tem que salvála...
Ah, depressa!”
“Bonnie, tem certeza?”
“Sim, ah, Deus... é onde ela foi. Ela está se afogando! Depressa!” Onde de grossa
escuridão vieram para cima de Bonnie. mas ela não podia desmaiar
agora; eles tinha que
chegar até Elena.
Stefan e Meredith hesitaram um minuto, e então Stefan passou pelo
esquadrão de valentões,
repelindo-os como lencinhos de papel. Eles correram a toda
velocidade pelo campo em
direção ao estacionamento, puxando Bonnie atrás. Tyler foi atrás
deles, mas parou quando a
força total do vento o atingiu.
“Por que ela sairia nessa tempestade?” Stefan gritou quando eles
lançaram-se sobre o carro
de Meredith.
“Ela estava chateada; Matt diz que ela disparou no carro dele,”
Meredith arfou novamente
na comparativa quietute do interior.
Ela foi embora rápido e virou-se para o vento, acelerando
perigosamente. “Ela disse que
estava indo para a pensão.”
“Não, ela está na ponte! Meredith, dirija mais rápido! Ah, Deus,
nós vamos chegar tarde
demais!" Lágrimas estavam escorrendo pelo rosto de Bonnie.
Meredith atrapalhou-se. O carro oscilou, esmurrado pelo vento e
pela chuva com neve. Por
todo esse pesadelo de corrida Bonnie soluçou, seus dedos agarrando
o assento na sua frente.
O aviso agudo de Stefan impediu Meredith de bater de frente na
árvore. Eles se
amontoaram para fora e foram imediatamente chicoteados e punidos
pelo vento.
“É grande demais para mover! Nós teremos que andar,” Stefan
gritou.
É claro que era grande demais para mover, Bonnie pensou, já
lutando com os galhos. Era
uma árvore de carvalho totalmente desenvolvida. Mas uma vez do
outro lado, a ventania
gelada apagou todo pensamento de sua cabeça.
Em minutos ela estava amortecida, e a estrada parecia continuar
por horas. Eles tentaram
correr mas o vento batia neles de volta. Eles mal conseguiam
enxergar; se não fosse por
Stefan, elas teriam ido para a margem do rio. Bonnie começou a
contorcer-se
embriagadamente. Ela estava pronta para cair no chão quando ela
ouviu Stefan gritando lá
da frente.
O braço de Meredith ao redor dela se apertou, e ambas dispararam
numa corrida trôpega.
Mas a medida que elas chegavam perto da ponte o que elas viram fizeram-nas
parar.
“Ah, meu Deus... Elena!” gritou Bonnie. A Ponte Wickery era uma
massa de borracha
despedaçada. O parapeito de um lado tinha sumido e o teto tinha
cedido lugar como se um
punho gigante tivesse esmagado-o. Embaixo, a água escura agitou-se
em uma pilha doentia
de escombros. Parte dos escombros, inteiramente debaixo d’água
exceto pelos fárois, era o
carro de Matt.
Meredith estava gritando, também, mas ela estava gritando para
Stefan. “Não! Você não
pode ir aí embaixo!”
Ele nem ao menos olhou para trás. Ele mergulhou da beirada, e a
água se fechou em cima
de sua cabeça.
Mais tarde, a memória de Bonnie da próxima hora ficaria
misericordiosamente turva. Ela
lembrava-se de esperar por Stefan enquanto a tempestade enraivecia
sem parar. Ela
lembrava-se que ela estava mais do que preocupada na hora que uma
figura encurvada
moveu-se para fora da água. Ela lembrava-se de sentir nenhuma
decepção, só um luto vasto
e escancarado, enquanto ela viu a coisa frouxa que Stefan deitava
na estrada.
E ela se lembrou do rosto de Stefan.
Ela lembrava-se de como ele aparentava enquanto eles tentavam
fazer algo por Elena. Só
que não era realmente Elena deitada ali, era uma boneca de cera
com os traços de Elena.
Não era nada que já estivera vivo e certamente não estava vivo
agora. Bonnie achou que
parecia bobo continuar cutucando e espetando ela desse jeito,
tentando tirar água de seus
pulmões e tudo mais. Bonecas de cera não respiravam.
Ela lembrava-se do rosto de Stefan quando ele finalmente desistiu.
Quando Meredith lutou
com ele e gritou com ele, dizendo algo sobre mais de uma hora sem
ar, e danos cerebrais.
As palavras filtraram em Bonnie, mas seu significado não. Ela só
achou estranho que
enquanto Meredith e Stefan estavam gritando um com o outro ambos
estavam chorando.
Stefan parou de chorar depois disso. Ele só ficou sentado lá
segurando a boneca Elena.
Meredith gritou um pouco mais, mas ele não escutou ela. Ele só
sentou. E Bonnie nunca
esqueceria sua expressão.
E então algo chamuscou em Bonnie, trazendo-a de volta a vida,
acordando-a para o terror.
Ela agarrou Meredith e encarou ao seu redor pela fonte. Algo
ruim... algo terrível estava
vindo. Estava quase aqui.
Stefan parecia sentir isso, também. Ele estava alerta, duro, como
um lobo sentindo um
cheiro.
“O que foi?” berrou Meredith. “O que tem de errado com você?”
“Vocês tem que ir!” Stefan ficou de pé, ainda segurando a forma
frouxa em seus braços.
“Caiam fora daqui!”
“O que você quer dizer? Nós não podemos deixá-lo–
“Sim, vocês podem! Caiam fora daqui! Bonnie, tire ela daqui!”
Ninguém nunca tinha dito a Bonnie para cuidar de outra pessoa
antes. As pessoas estavam
sempre cuidando dela. Mas agora ela agarrou o braço de Meredith e começava a puxar.
Stefan estava certo. Não havia nada que elas pudessem fazer por
Elena, e se elas ficassem o
que quer que tivesse pego-a iria pegá-las.
"Stefan!" Meredith gritou enquanto era arrastada
inexplicavelmente.
“Eu a colocarei debaixo das árvores. Dos salgueiros, não dos
carvalhos,” ele disse depois
delas.
Por que ele nos diria isso agora? Bonnie se perguntou em alguma
parte profunda de sua
mente que não estava tomada por medo e pela tempestade.
A resposta era simples, e sua mente prontamente devolveu para ela.
Porque ele não ia ficar
por perto para lhes contar depois.
________
Capítulo Dezesseis
________
Há muito tempo, nas ruas laterais escuras de Florença, morrendo de
fome, assustado, e
exausto, Stefan tinha feito um voto a si mesmo.
Diversos votos, de fato, sobre usar os Poderes que ele sentia
dentro de si, e sobre como
tratar as criaturas fracas, falhas, mas ainda humanas ao seu
redor.
Agora ele ia quebrar todos eles.
Ele tinha beijado a fria testa de Elena e a deitado debaixo de uma
árvore de carvalho. Ele
voltaria aqui, se pudesse, para se juntar a ela, depois.
Como ele pensara, a onda de Poder tinha ignorado Bonnie e Meredith
e seguido ele, mas
tinha recuado novamente, e agora estava retirada, esperando.
Ele não a deixaria esperar muito.
Livre do peso do corpo de Elena, ele partiu em um galope de
predador na estrada vazia. A
chuva de neve gelada e o vento não o incomodavam muito. Seus
sentidos de predador
perfuraram ele.
Ele os ligou todos na tarefa de localizar a presa que ele queria.
Nada de pensar em Elena
agora. Depois, quando isso tivesse acabado.
Tyler e seus amigos ainda estavam no barracão Quonset. Ótimo. Eles
nunca souberam o
que estava vindo quando a janela explodiu com pedaços de virdro
voando e a tempestade
soprou adentro.
Stefan queria matar quando ele agarrou Tyler pelo pescoço e
afundou suas presa nele. Essa
tinha sido uma de suas regras, não matar, e ele queria quebrá-la.
Mais um dos valentões foi até ele antes que ele tivesse acabado de
drenar o sangue de
Tyler.
O cara não estava tentando proteger seu líder caído, só escapar.
Foi seu azar que sua rota o
levou pelo caminho de Stefan. Stefan jogou-o no chão e espremeu a
nova veia avidamente.
O gosto quente de cobre reviveu-o, aqueceu-o, fluiu por ele como
fogo. Fez ele querer
mais.
Poder. Vida. Eles tinham isso; ele precisava disso. Com o tumulto
glorioso da força que
vinha com o que ele já tinha bebido, ele os aturdiou facilmente.
Então ele moveu de um
para o outro, bebendo profundamente e jogando-os para longe. Eram
como latas em um
pacote de seis unidades.
Ele estava no último quando ele viu Caroline aconchegando-se no
canto.
Sua boca estava pingando enquanto ele levantava sua cabeça para
olhar para ela. Aqueles
olhos verdes, geralmente tão estreitos, mostravam o branco a toda
volta como os de um
cavalo assustado.
Os lábios dela eram borrões pálidos enquanto ela balbuciava
pedidos mudos.
Ele a puxou de pé pelo cinto verde em sua cintura. Ela estava
gemendo, seus olhos rolando
em seus buracos. Ele contorceu sua mão no cabelo castanho dela
para posicionar a garganta
exposta onde ele a queria. Sua cabeça recuou para atacar – e
Caroline gritou e ficou frouxa.
Ele a derrubou. Ele tinha tido o bastante de qualquer jeito. Ele
estava explodindo com
sangue, como um carrapato superalimentado. Ele nunca tinha se
sentido tão forte, tão
carregado com poder elemental.
Agora era hora do Damon.
Ele saiu do barracão Quonset do mesmo jeito que tinha entrado. Mas
não em forma
humana. Um falcão predador levantou voo da janela e girou no céu.
A nova forma era maravihosa. Forte... e cruel. E seus olhos eram
aguçados. Levavam-no
onde ele queria, espiando sob as árvores de carvalho da floresta.
Ele estava procurando por
uma clareira em particular.
Ele a achou. O vento bateu nele mas ele girou em espiral para
baixo, como um grito
fúnebre de desafio.
Damon, em forma humana abaixo, lançou suas mãos para cima para
cobrir seu rosto
quando o falcão mergulhou na direção dele.
Stefan arrancou tiras sangrentas dos braços dele e ouviu o grito
de resposta de dor e raiva
de Damon.
Eu não sou mais o seu irmãozinho fraco. Ele mandou o pensamento para Damon com uma
explosão impressionante de Poder. E dessa vez eu vim pelo seu sangue.
Ele sentiu o efeito do ódio de Damon, mas a voz em sua mente era
zombateira.
Então esse é o agradecimento que eu consigo por salvar você e sua
noiva?
As asas de Stefan se dobraram e ele mergulhou novamente, seu mundo
todo estreitado por
um objetivo.
Matar. Ele foi na direção dos olhos de Damon, e o graveto que
Damon tinha pego zuniu ao
lado de seu novo corpo. Suas garras rasgaram a bochecha de Damon e
o sangue de Damon
correu. Ótimo.
Você não devia ter me deixado viver, ele disse a Damon. Você
devia ter matado nós dois de
uma só vez.
Eu ficarei feliz de corrigir o erro! Damon estava despreparado antes, mas agora Stefan
podia sentir ele extraindo seu Poder, se armando, ficando pronto. Mas primeiro você deve
me dizer quem eu matei dessa vez.
O cérebro do falcão não conseguia lidar com o tumulto de emoções
que a pergunta
zombeteira convocava. Gritando sem palavras, ele mergulhou na
direção de Damon
novamente, mas dessa vez o pesado graveto o acertou. Ferido, uma
asa pendendo, o falcão
caiu atrás das costas de Damon.
Stefan mudou para sua própria forma de uma só vez, sentindo a dor
de um braço quebrado.
Antes que Damon pudesse se virar, ele o agarrou, os dedos de sua
mão boa afundando no
pescoço de seu irmão e girando-o.
Quando ele falou, foi quase gentilmente.
“Elena,” ele disse, sussurrando, e foi para a garganta de Damon.
Estava escuro, e muito frio, e alguém estava ferido. Alguém
precisava de ajuda.
Mas ela estava terrivelmente cansada.
As pálpebras de Elena sacudiram-se e abriram e isso acabou com a
escuridão. Quanto ao
frio... ela estava gelada até os ossos, congelando, tremendo até a
medula. E não era para
menos; havia gelo a toda sua volta.
Em algum lugar, bem profundamente, ela sabia que havia mais que
isso.
O que tinha acontecido? Ela estivera em casa, dormindo – não, esse
era o Dia do Fundador.
Ela estava na lanchonete, no placo.
O rosto de alguém parecera engraçado.
Era demais para se lidar; ela não conseguia pensar. Rostos sem
corpos flutuavam perante
seus olhos, fragmentos de sentenças soaram em seus ouvidos. Ela
estava muito confusa.
E tão cansada.
É melhor voltar a dormir então. O gelo não era tão ruim assim. Ela
começou a se deitar, e
então os choros chegaram até ela.
Ela os ouviu, não com seus ouvidos, mas com sua mente. Choros de
raiva e de dor.
Alguém estava muito infeliz.
Ela sentou-se muito quieta, tentando entender tudo.
Houve um tiritar de movimento na beirada de sua visão. Um esquilo.
Ela conseguia cheirálo,
o que era estranho porque ela nunca tinha cheirado um esquilo
antes. Ele encarou-a com
um olho preto brilhante e então correu para o salgueiro. Elena
percebeu que o tentara
agarrar somente quando ela levantou as mãos vazios com suas unhas
afundando na casca de
árvore.
Agora, isso era ridículo. Por que diabos ela iria querer um esquilo? Ela ficou perplexa
por
um momento, então deitou-se, exausta.
Os choros continuavam ainda.
Ela tentou cobrir suas orelhas, mas isso não adiantou em nada para
bloqueá-los. Alguém
estava ferido, e infeliz, e lutando. Era isso. Havia uma luta
acontecendo.
Certo. Ela tinha descoberto isso. Agora ela podia dormir.
Ela não conseguia, contudo. Os choros chamavam-na, puxavam-na na
direção deles. Ela
sentiu uma necessidade irresistível de seguí-los até sua fonte.
E então ela podia dormir. Depois que ela visse... ele.
Ah, sim, estava voltando agora. Ela lembrava dele. Ele era aquele que a entendia, que a
amava.
Ele era aquele com quem ela queria viver para sempre.
O rosto dele aparecia nas névoas em sua mente. Ela o considerou
amável. Certo, então. Por
ele ela levantaria e andaria por essa chuva de neve
ridícula até que ela encontrasse a clareira
certa. Até que ela pudesse se juntar a ele. Então eles ficariam
juntos.
Só pensar nele parecia aquecê-la. Havia um fogo dentro dele que
poucas pessoas
conseguiam ver. Ela via isso, contudo. Era como o fogo dentro
dela.
Ele parecia estar em algum tipo de confusão no momento. Pelo
menos, havia muitos gritos.
Ela estava perto o bastante para escutar com suas orelhas tão bem
quanto com sua mente
agora.
Lá, além daquela velha árvore de carvalho. Era de onde o barulho
estava vindo. Ele estava
lá, com seus olhos pretos e insondáveis, e seu sorriso secreto. E
ele precisava da ajuda dela.
Ela o ajudaria.
Sacudindo cristais de gelo de seu cabelo, Elena entrou na clareira
na floresta.

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